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REGULAMENTO DA REVISTA “DIREITO E JUSTICA” Artgo 19 1. A Faculdade de Droito da Unversidade Caen Pocuguesa¢responséve pela publearto peiica de uma avs denominada “Dolo oJustca— Revita da Faculdade de Orete da Unveridade Calica Portuguesa ‘2A Rosia const propiedado da Facuiace artigo 2° ‘A Revista tom por abjectvo contre para a eval da bela jwidlea portuguesa, beseada em critrios igor elertiico# nepiraca nos valores personals # Sgta05 1, ARevsta acoherdessonciaknente rabsnos de Gocertes © alinoe dos Cursos de iat a cargo da Faculte ve Oveto da Universidade Cattca Portuguesa, a undonarem om Lisboa @ a0 Port. "2 Noma porepectva de iiermlo casio, 2 Revista poder, Somtudo, publear wabalhos de owas possoas @ naitulgoee ‘Artigo 4° ‘Sto xg da Revista: © Conselho Onertador, 0 Doctor @.@ Conselho de Recaccéo ‘tiga 5° 1.0 Consaho Orentador&formado polos professores dos cursos de Usboa @ do Porto, da Facuisade do Oveito da Unwersidade Cale, 2" Compete aos menbvos do Consetio Orertar. 2) Detne as onemtacdes gorass que dever30 presi aos trabatnos de pubicagao da Revista 2) Contour com srapahos para publeagae na Roveta. {¢} Defi, em colaboragao com Conselho de Redactéo, citrios de qualidade cletiea dos originals para publican Aigo 6 1. O Director da Revita sort 0 Dracor da Famuidade de Dito. 2 Compete ao Doro’ da Flevsta coordenar os Wabalhos da sua pubicacto, adoptands todas as rovcdnolas nocessaas, nomeadamonte: “2) Nome os membros do Consofo de R 2} Promaver a ealaboraca do compe Gocante da Faouicado no fornecimento dos orgiais necessiros & pubscagh rel da Rewstaeaslecooraro» Fabs deduce dsros de pubhoogso: ") Detorninar a everivalromunerardo des vabaos pubcados, bem assim coro das trsfasespecicas ‘2} Fara tragem de Revista e dos seus evertuaissuplemertos, ber assim como onimero de separates dos vabahos neta iondos, fer ora ronda eRe: née, leas opm. © rector da Revsta podert delegn todas ou eigumas das suas competincias nos membros co Conseine de Redaozo, podendo abu a um ou alguns doe membros do referdo Conseho detorminadas arta spoctcas, ond em conta a nocsssdae Se © de Redacro huncora’ como equpe e a defer um “ordenado Gas san actividades seers 2st te rt cn x at ee og gant Sten eet et srt suliiiemeueieas ues SGeiks Mamma tava eae eee eee aa Antigo 8* [As deisies de carkctrfnancoiro que se relacionem com o orgamento da Facute o a aprovagdo do orgamento da Revista, quando exist, so da compettncia da Dracqao ca Faculdade, DIREITO E JUSTICA Vou VIII Tomo? 1994 3 7 35 45 119 au 263 319 Editorial Artigos Jorge Miranda, Constituigdo e Processo Civi! Germano Marques da Silva, Bufos, infiltrados, provocadores ¢ arrependidos Diaulas CostaRibeiro,A agdo penalno direito brasileiro José Carlos Brando Proenga, Do dever de guarda do depositério e de outros detentores precarios: Ambito e funcdo, critério de apreciagiio da culpa ¢ impossibilidade de restituicao José Lobo Moutinho, A aplicagao da lei penal no tempo segundo o Direito portugués Fatima Gomes, Garantia bancdria auténoma a primeira solicitagao Henrique Salinas Monteiro, Critérios de distingao entre a anulabilidade e a nulidade das delibe- ragdes sociais no Cédigo das Sociedades Comerciais Jurisprudéncia Tribunal Constitucional Federal alemio, Da constitucionalidade do Tratado de Maastricht sobre a Unido Europeia Varia Paulo Sérgio Pinto de Albuquerque, Sobre a desis- téncia de queiva no crime de emissdo de cheque sem proviso 6 RETO EJUSTIGA Siglas A.e.P.— Archiv fr die civilistische Praxis AG.B.G.—GesetsfrrRegelung des Rechis der Ailgemeinen Geschifisbedingungen (lei alemf, de 9 de Dezembro de 1976, que institu o regime das condigBes gers do contrate) B.GB.—Birgerliches Gesetcbuch (C6digo Civil Alemio) BMJ. ~ Boletim do Ministério da Justiga C.C.~ Céilgo Chit C.Com.~ Céidigo Comercial CL. Colectinea de Jurisprudéncia CPC. — Codigo de Processo Civil ED. Brciclopedia del Dirito ELL —1l Foro tliano GL. Giurisprudenca italiana NDA. - Novissimo Digesto Ialiano RD. - Rivista di Dirtto Civile RD.CDO. ~ Rivieea del Dirito Commerciale ¢ del Diritto Generale delle Obbligazoni RDiLav. - Rivist di Dirt del Lavoro RULJ.~ Revista de Legislagdo e de Jurspundéncia RO.A.~ Revista da Ordem dos Advogadios RITD.C. - Réwue Trimesirelle de Droit Civid RIND.P.C. - Rivita Trimestrale di Dirto ¢ Procedura Civile SiL.~ Sctentia luridica SIT. ~ Supremo Tribunal de Justiga VersR. Versicherungsrecht A aplicagio da lei penal no tempo segundo o Direito portugués« José 1.080 Mauro SUMARIO: 1. Evolugio da questio: a) Das crigens & independéacia do Brasil 2b) Da Indepen- déncia do Brasil & actualidade 3. A legislagao vigen- ‘te 4.05 principios que regem a matéia e sua justice G40 5.0 tempus dlic 6. Ambit do problema 7. 0 rinspio dairretroactividede ou tempus regitfacium 8. © principio da retroatividade da ei penal mais favoré vel 8.1. dencrlidades 8.2. A disingao entre sucesso deleispeoaisenovactodaleipenal 83, Apicagodalei aisfavordvelecasojulgado 8.4.Outros aspecton 9. aplicgio no tempo de nova lei sobre prescrigio do procedimento criminal 10, Observagio final * O texto que agora se publica coresponde, com algumas alteragdes, quele que serviu de base & comunicagio apresentada em 20 de Setembro de 1993 nas I Jomadas ‘Luso-Brasleiras de Dieitoe Processo Penal que tiveram ugar na Universidade Catolica Portuguesa, em Lisboa. Ao texto actescentaramse, nfo s6 as correspondentes notas, ‘como ainda, em cursive mais pequeno, alguns desenvolvimentos das questéesaloradas na eomunicagdo e cuja publica¢io nfo pareceu intciramente descabida B DIREITO EUSTIGA 1. Evolugiio da questiio a) Das origens & Independéncia do Brasil {A feliz circunstincia de a presente comunicagdo se fazer no seio de tum encontro luso-brasileiro facilita-me algum tanto a tarefa no que respeita A questi que importa versar em primeiro lugar, ou seja, 3s origens e evolugio da ordem juridica portuguesa na matéria, Basta, quanto aesse aspecto, notarque, comoescreve SILVA FERRAO na ‘Theoria do Direito Penal, oferecida a D. Pedro I Imperador do Brasil, docu~ mentando-se com decreto de 1695, a irretroactividade da lei penal “foi sempre 0 espitito di nossa legislago antes mesmo do regime constitucional™, coisa que nio espanta se nos recordarmos de que assim se passou ainda comalegalidade, de que airretroactividade constitui aspectoou corolério, [Nega-se, por vezes, que © principio tenha tido qualquer consagragio até 20 liberalismo, pelo menos no sentido que veio modemamente a adquitt’. “Analisando a evolugSo histrica do peincfpio da reserva de lei em matéris pe- nal, Vorxen KREY, embora sem deixar de analiser os seus antecedentes, apresenta -0 como um fruto do pensamento juridico iluminista, quer em geral’, quer no que respeita a0s quatro prinefpios em que ele se desdobra, a saber: a proibigdo do Direito consuetudinério’, a xibiclo de retroactividade da lei penal menos favorivel, a proibigo de analogia‘ ea proibigio de les indeterminadas’ * Theoriado Dito Penalapplicadaao Codigo Penal Portuguez.comparado com 2 Codigo do Brazil, Leis Péirias, Codigos e Leis Criminaes dos Povos Antigas € “Modernos, I, Lisbox: Typographia Universal, 1856, pg. 8. A iretroactividade afléra |jfrum alvard de 18 & Setembro de 1521, de D. Manuel, muito embora, 20 que parece, Timitadamente aos factos comegados # acusar (eft. Duarré Nowz. po Liko, Leis xtravagantes,Lishon: Fd. da Fundagio Calouste Gulbenkian, 1987, reprodugio “fac~ simile” daedicdo “princeps” de 1569, fol. 171," O verdadeiro sentido dessealvard io 6 todavia, claro apenas em face do resumo que dele nos dé Dears Nunez po Lako, Certo 6 que se tratava do prablema que hoje dniamos ser de alteragio do regime penal (emo 4e incriminagéo ex novo). * CE. Tanta Betz, Direito Pena, 1,2 Ed, Lisboa: AAFDL, pi. 400 6 Tapa be Canvauio, Sucessio de Leis Penais, Coimbra: Coimbea Ed, 1990, pag. 26. * Keine Sirafe ohne Gesez, BerlinNova lorque: W. de Gruyter, 1983, pig, 12 © Op.cit, pigs Ale segs 5 Op. cit, pags. 54.0 segs. © Op. cit, ples. Te segs (Op. cit, pgs. 87 e segs. AAPLICAGAO DA LELPENAL NO"TEMPO. 9 No entanto, a grande conclusio do seu estudo é a de que, embora outros fupdamentos Ihe possam ser atribuidos, nareserva de leié“dominante”ocaréeter de direto fundamental ou de direito do homem, de modo que ela sedeixaderivar, afinal, da protecgio da dignidade humana: trata-se de garantir 0 cidado perante um poder punitivo estadual que ilimitadamente poderia prosseguir todas as necessidades politco-criminais, eais ou aparentes, de punibiidade’. stg conclusdo coaduna-se mal coma emporalidade que assinalaao principio, [Na verdade, tal origom ou raiz na dignidade da pessoa humana leva naturalmente & aceitar que, como escreve CavaLto ne Fasxeetta,o prinefpio da legalidade, tendo cembora surgido com mais clareza, nareac¢o do liberalismo 30 Estado absolut (sto 6, serescentamos n6s, numa vicisstude, por assim dizer, inta-iluminist), constitu “expressdo perene de uma exigéncia do Direito”. E parece ser precisamente a essa luz que os afloramentos do principio da legalidade que se podem idemtificar em época anterior 20 alvor do liberalismo'* ‘mostram todo o seu real significado c aleance. Na verdade, pressuposios de um verdadeiroe eficaz principio da legalidade so, por um lado, a vinculagdo a lei ~ e & por isso significativa a negagio de tal principio no Direito romano pés-léssico, com base no principio do César a legibus ‘solutus'* mas ainda, e por outro lado, a vinculagao da lei « requisitos materiais de validade -e sto por isso signficatives, quer o que se passou nalegislago nacional- * Op.cit, pig. 139, > CE, por iltimo, Ligdes de Direito Penal. 1.A Lei Penal ea Teoria do Crime no (Cédigo Penal de 1982,4* 4. LisboalS, Paulo: Ed, Verbo, 1992, pig. $4. Tanbém Tara tr Canvatio expla pela peenidade propria da cignidade hutiaba ex que se funda, a sobrevivéncia do principio dairretoactvidade da ki penelideologiaindividualistaem. ‘que so manifesiou (op. ct, pig. 46). CF. Siva FERRAO, Theoria do Direito Penal, Lisboa: Typographia Universal, 1856, pg. 23 e Cavatso ne Fea, Diveito Penal Portugués. Parte Geral, 1, 2™F., LisbowS. Paulo: Bd. Verbo, pégs. 90 © 108, ¢ Lipdes... cit, pig. 54. Além das fontes citadas nesses autores —das quas os assentos podem hoje verse em CANDIDO MENDES DE ‘Asana, Awiliar Juridico, Lisboa: Ed. da FuadacS0 Calouste Gulbenkian, 1985, reprodusio facsimile da edigio de 1869, Rio de Janeiro: Typographia do Instituto Philomathico,pégs. 244,247 ¢ 254, S6assrn se compreend, de resto, anaturalidade com {que Pascuoal be Mazo Frum (que inclu legalidade na definigde de delito)atesta, ro set tempo, que “Yorn nostrum ignoratcrimen sine lege, quae factum prohibet, et fgnorat etiam poenam mere arbtrariam’” (Institutones Juris Criminals Lasiani, 1, STV, nota cfr, ainda §§ Le XX; da Ea, Coimbra: Typis Academics, 1860, pgs. 15 @ ainda 13 e 26, respectivamente; da traduco em portugues, ft. Boletim do Ministerio da Justia (BMD), pags. 57 ainda 55 ¢ 73, respectivameste). Cf ainda J.C. Panna & Sousa, Primeiraslinhas sobre o processo crimiral, Lisboa: Typografia Rollandiana, 1820, $243, n. ($50), pop. 183, "Vora Kar, op. cit, ngs. 39, 51, 72€82. 80 DIRETTO BJUSTICA socialist lem en legislagio impostapelas poténcias ocupantes®, quer prspeia problemétic do afloramento do principio da Jegalidade qu se trad na proibigo e indeterminagdo da ei quanto estas das bases, que acabam,afinal,porintegraraexigénciadeuma sujeigi, mais do que lei, ao proprio Direto (como distinto e vineulativo para 0 contesdo da pr6pria lei)", podem os povos peninsuares (€ aqueles com quera entraram em comunidad) ter orgulho mo seu passado que, por influéacia do pensamento cristo eda propria Igej, vai encontrar, em ambos os aspects, a sus ratzes mais remotas a Cédigo Visigéticoc, através del, «Santo lsidoro de Sevilhal®. Isto significa, obviamente,que desde esses remotos tempos o prietpio da legalidade vigorou entre n6s constantemente e em toda a sua plenitude, © Vouxue Kes, op. cit, pgs. 29 ¢ segs. 48 ¢ segs, 65 679 e segs Vouxer Ku, op. ct, pigs. 33 e segs. 47 e sogs.; 64 « segs; 83 €Sops. 096 © sees % Voursr Krav, op. cit, pigs. 80 segs "Nunca édescabido lembrar, com Sexastiko Cruz que “deve tr sido ox juires que serecusavam a apicar as constituigesimperiis, quindoinjustes, mesmo que essa attude lhe acarretasse consequéncias gravissimas, como perda do cargo e até pena de ‘mort 08 que introduziram como termo eruito (eparaisso foram lingoagem populat) Ed, pigs. 144 e segs., que restringe a esse Principio o conteddo da disposigao; Cavauiaeo ne Purnia, Ligdes.. cit, pA. 54 ‘Todavia, oor 0 seu confrunto como § 2, quer a sua colocaso sistemética deixam lugar 1 dividas e por iss0 nfo espanta que da tivesse sido iaterpretada no sentido de que respetaria pura e simplesmente ao processo penal (cf. infra). © 0§3°doart.6°do dig de 1886 acrescentou idénticoprinefpioreletivamente 0s efeitos das penss. | APLICAGAODA LEIPENAL-NO TEMPO 83 3.A legislagao vigente I. Estes principios foram recebidos na Constituicdo actualmente vigente que, sob a epigrafe aplicagao da lei criminal, dispde no seu artigo 29°: “1, Ninguém pode ser sentenciado criminalmente sendio em virtude de lei anterior que declare punfvel a ac¢0 ou omissdo, nem sofrer medida de seguranga cujos pressupostos no estejam fixados em lei anterior. 2, O disposto no nimero anterior no impede a punigZo, nos limites da lei intema, por acgio ou omissio que no momento da sua pritica seja ‘considerada criminosa segundo os prinefpios gerais de direito internacional ‘comummente reconhecidos, 3. Nao podem ser aplicadas penas ou medidas de seguranga que nfo estejam expressamente cominadas em lei anterior. 4, Ninguém pode sofrer pena ou medida de seguranca ou medida de seguranga privativa da liberdade mais grave do que as previstas no ‘momento da conduta, aplicando-se retroactivamente as leis penais de contedido mais favoravel ao erguido.” A redacgdo actual teve origem na revisdo constitucional de 1982 ‘que procedeu a extensio das garantias constitucionais as medidas de seguranga no privativas da liberdade © aos respectivos pressupostos®, TI. 0 Cédigo Penal de 1982 concretizou estes prinefpios (se de forma total ou no € coisa discutida aqui ¢ ali), tendo, nessa tarefa, consagrado solugdes que representam a estratificago de uma longa evolugio jurisprudencial (foi o que suceden relativamente as leis tempordrias ou de emergéncia, que foram objecto do Assento do Su- premo Tribunal de Justiga de 18 de Julho de 1947) ou doutrinal (foi o que sucedeu com 0 problema do tempus delicti®). 4. Os prinefpios que regem a matéria ¢ sua justificagiio Deumaforma geral,doutrinaportuguesadistingue, como rinefpios ‘que regem a aplicagdo da lei penal no tempo, o da irrectroactividade da ® Sobre a questo, cf. Cavauieo ne Feea, Diretto. Lit, pag. 106, % "A excepeto don" I do artigo 6 do Cécigo Penal nic é aplicvel is infracgées revista nas leis de emergtacia”(c!, BMJ, n° 2, pig. 15). * Seguado o Projecto publicado, as solugSes do Cidigo Penal manter-se-fonasua «anunciada reforma (ef. Cédigo Penal. Actas e Projecto da Comisséo de Revisio, Lisbon: ‘(Ministério da Sustiga) Rei dos Livres, 1993, péps. $45 e S46). 84 DiRENTOB USTICA Ieipenal menos avordvel (ou, mais latamente, da aplicagao da lei vigente ‘no momento da prética do facto) e o da retroactividade da lei penal mais favordvel™, Sinteticamente, pode dizer-se que o primeiro principio € geralmente |ustificado no 6 por consideragées derivadas, no fundo, da fungio normativa (valorativa ¢ orientadora) da propria lei (que s6 pode ser regra de valoragao e orientagdo da vida social, cumprida ou culpavelmente violada, se estiver vigente)” mas sobretudo pela necessidade de garantit aaspessoas contra oarbitrio dolegislador®, Por seu turno, aretroactividade % Cfentreoutos, Suva Fino, op. cit I pigs 21 ees, pigs. 11 esegs Caso pa Martaop. cit, pg. esegs.e43e segs; MARKO SOUSA, op. cit, pas. 145 segs; ABEL Pasmaa bo Va, Arnotagdes ao Livro Primeire do Codigo Penal Porague, Pro: Magalhaes & Moniz Ed, pigs. «segs; Lc Lez NavaRwo, ireito Penal, Coiba: Coimbra F., 1932, pgs. 24 e segs; MaxceLL0 CAETAND op. cit pigs. 1420 segs Cava neFanasna, Dirt. Let, pigs. 1 esegs.cLides cin, pgs. 66 ¢ sega; Lomas Rexn, «Aplicada lei penal no tempo e no espaganin ‘AAW, Jornadas de Direito Criminal Lisboa: CE. 1983, pég. 91 segs. Texesa Buna, opct pis. 451 osegs3 Tarane Canvisio,op. cit, ples. 5 esegs. e63eseg8: Ru: Parana, «A rlovinca da lei penal inconsttucional de contedido mais favorvel a0 arguidon, in Revita Portugucta de Ciécia Criminal RPC), (1991), pigs. 60 ees. 16 BrtszA pos Sos, Divito Criminal, (igs coli. por H. Marques), Coimbra Coimbra Bd, 1935, pigs. 185 ¢ 186 e, em pare, também, Eouseno Corsi, Direto (Criminal (club. de Fravassvo Dis),1,Coimbr:Almedina, 1963, pigs. 153 presenta tu sistematizasto um poaco diferent, assentena separazio entre os casos de riaglo fu extingao da mcaminagio eos de alteagao do tee pera 2" formulasosimtticatentadano texto nem sempre corresponde diectamente sos termostlizadss a propésito pela doutina pois, por vezes chama-seepenasaatenso para necessidade de prévia advenéncia do agente (ou, o que é 0 mesmo, para & ossbilidae deo agente nfo patcaro facto seentivesseadverido), que iretamente, Goer em correaeie com os ins das penas. CE, por exemplo, CAERO DA MATTA Op. ey égs. 41 e segs. (expondo s doutrna da escola clssica da qual se distancia); MAwwocoe Sous, op cit, pa. 145; Aaex Pexem. bo VALE, op. cit, pig. 215 Buusza nos Sats, Direito.cit, pgs 185 e186; Cavauavo ne Pai, por Utimo,emigde.. ct, pigs. 65 eseps:Fouianbp Conus, op. cit pigs. 153; Geman Marques Si.va, «Agus notes sobre a corsagrasio dos princpios da lgalidade © da jusdicionalidade na CConstuigéo da Repblica Portuguesa» in AA. VW, Ertdos sobre a Consttuigdo Lishoa: Pewony. 1978, pg. 261; Tiasa Bauza, op. cit, pags. 453 e segs; TARA D6 Canvatat, op it, pgs. 35253; 63 e segs. © 69 © segs: RUM PaaERA, op ct pag, 60. ® Ci. poresemplo, inva Feito, op cit pgs. 21 e segs, que elu arelevncia lo argumento anterior, Baza os Sores, opi, dg. 185; ManceLcoCAETANO, CPi ‘ag. 181, quotende areconhec8o como Unico fundamenta; Eouatoo Couns, p. ct, ‘ag, 153. 158; Sousa bBo, «A li penal na Constuigbo» in AA. VV., Estudos... gs. 249 sos ;Gnstano Manges ba Sava, op. cit, pg. 261; CAVALEiRO DE FERRE, AAPLICAGKO DA LELPENAL NO TEMPO 85 da lei mais favordvel faz-se em segra derivar da necessidade de assegurar ajustificagiodapenano momento da suaaplicagaoeexecugo, mormente cconsiderados os seus fins”, sendo ainda por vezes invocada anecessidade de assegurar a igualdade das pessoas perante a lei®. Todavia, esta diferenga de origem ou de fundamentacdo no obsta ‘a que, por vezes, ambos os principios venham a encontrar um enquadramento comum, seja pela sua unificagdo num principio geral mais vasto (como o da aplicagZo da lei mais favoravel, radicado no prinefpio constitucional da liberdade™), seja, pelo menos (e de modo niio Ligdes. cit, pigs. S4.€ segs, que 0 incl no principio de legalidade e ns fungao de garaatia que este desemponha Tantsa BELEZ, op. ct pigs. 451 0454; Loves ROCA, op. it, pégs. 91 ¢ segs; Castanuzans Nevis, «O principio da legalidade eriminal. O seu ‘problema jridicoe 0 seu criti dogmitico» in AA. VV., Estudos em homenagem ao Prof. Douior Eduardo Correia, Coimbra: Universidade de Coimbra esp. do Boletim dda Faculdade de Dircito), 1984, pigs 322 e segs, que ve no principio uma das smanifestagSes nucleares da fungio de garantia do prinfpio da lepalidade; Tarr De Cava, op. cit, pigs. 38 a 53 © 63 ¢ segs. € 69 e segs, que assinala a esta andamentagio come aoriginiiae essencial ratio do princfio; Rui Pamsiea,op. cit. Pg. 60, enquanto Ibe assinala “gencologicamente” a origem na legalidade e na concepyio (garaatstica) da lei penal como magna charta do delinquent; Frauirs0o Diss, «Crime de emistio de cheque sem provisio» in Colectdnea de Jurisprudéncia (C)), Ano XVIL (1992), pég. 71, enquanto 0 galifice como corolérie do principio da legalidadee firma {que por ele ae pretendom satsfazer as intensificadas exigncias de seguranga e ceteza © Mais uma vez trata de formulacto que se pretende sinttice. Fmregra chama~ -sea tengo para a desnecestidade, inutlidadee njustiga da aplicagao de uma pena jé ‘suprimida ov stemuada, CE, por exemplo, Si.va FexeAo, op. cit Il, pig. 11; CAMRO DA ‘Marva, op. cit, pég. 46 (expoado a doutrina daescolaclissicade qual se distancia; Abst Pour po VaLeop. cit pég.22; Bazza osSantos,op. cit, pg, 186 (masrestritamente |Acliminapo do facto do rtmero das infracpSes, pois defende a pena retroacividade da lei penal que altere a pena); MARCELLO CAETANO, op. cit, pg. 144 (referindo-se apenas _acliminagodo facto do mero das ifracyées); CavaLemo Dé Pennetta, Dieite... Let. pig. 116, eferindo-se apenas & eliminago do facto do mimero des infracgdes; cf. todavia infra) Eovanno Conan, op. cit, pigs. 154 e 157 (ef, todavia, ira): Assento do Supremo Tribunal de Justiga de 19 de Novembro de 1975, que falou em “nfo verticagio atual dos fins das peras” (cf. BMI n° 251 (1975), pig. 78); Texas Beuzza, op. cit, pigs. 651 eargs. nota (516) (eC, todavia, infra; Loves Roc, op. cit, pigs. 94 ‘segs. Tara nt CARVALHO, op ct, pigs. 64.esegs.; Rt PEREIRA op. cit pigs. 61 eSeBS.; Fiousnino Dias, «Crime...» cit, pag. 71. » CE, por example, Rur Paxtsea, op. cit, pégs. 61 e sexs. ¢ «O prinepio da ‘qualdade em Direito Penabv in O Direito, ano 120" (1988), pigs. 134 e segs. Assim, por exemplo, Tra DE CABAL op. ct, pgs. 71 €74-75,apresentando tal prinepio como o resultado de percursos histéricos inversos da inretroactividade da lei penal menos favordvel eda retoactividade da le penal mas favordvel. Emdouizina mais 86 bmeroRssTica radicalmente diferente), pelo reconhecimento de que ambos se acabam por irmanar na sua fungo comum de defesa das pessoas perante 0 Estado ‘ede limitagdio deste quanto ao direito de punir, quer do Estado legislador (emcausana irretroactividade da lei menos favordvel), quer daJurisdigo (em causa na retroactividade da lei mais favoravel)?™. Esta hesitagao de algum modo explica 0 modo variavel pelo qual se procede & coordenagao formal de ambos os princfpios. Embora no sem visfveishesitagdes, essa coordenagdofaz-se ou nos termosemquea fazia literalmente o Cédigo de 1886, ou seje, mediante aindicagio do principio dairretroactividade como principio geral, em face do qual aretroactividade dale, ainda que mais favordvel, aparece formalmente como excep¢o™, ou nos termos em que a faz a Constituigdo e 0 actual Cédigo Penal, ou seja, pura e simplesmente, mediante a sua indicagio diferenciada sem antiga surge, por veees a referécia so (Gnico} principio da no retroactvidade (apenas) dalei penal menos fevorvel (t, por oxemple, Casino oA MaTTA, op. tags. 43 €5685. (expondo s outrine da escola clasica da qua se distancia), MaBNor0 1 SOSA, op. cit, ig, 146 expondos doutrina da escola lisa; Luz Loms NAVARRO, op it, gs. 22 ees Nese sentido, cf Cavassno oa Fist, iret... Ltt, pag. 115.16 sto, porém, mini quanto &questio as Ligds..cit, pies. 66. sg. ** Contra, ef, Rr Pm, op. cit, pig 60.Por sea tur, Tessa BaLizs, apesat de consderar que a reroactividade da Ici mas favordvel no & uma exigéncia oa in Revisit do Ministerio Pablico(RMP),Azo3* (1982), vol. 12, pégs. 76 segs). 92 iREETOB JUSTIGA Esta solugao ¢ dada, por vezes, depois de uma espécie de redugio do problema pois, segundo certos Autores, as dtividas reduzem-se aos casos ‘em que a nova lei, mantendo a incriminabilidade do facto, Ihe altera 0 regime, j4 que, tratando-se de incriminar factos que ni eram puntveis, necessério que os elementos exigidos pela nova lei se verifiquem durante a sua vigencia e tratando-se de eliminagio da incriminago, 0 facto deixa de ser punivel* E mais recentemente, defendeu-se, apds redugio do problema aos casos em que a lei nova é menos favordvel (na base de que se esta é mais favordvel se aplica retroactivamente)®, a aplicagao em princfpio da lei antiga (mais favordvel) a ndo ser que os pressupostos da lei nova (menos favordvel) se tenham verificado completamente na sua viggncia*. A edugtiodo problema, seja numa, eja noutra versio acaba por fazer incorrer ‘em contradigo qualquer das duas opinives. ‘Assim, a primeira afirma que tratando-se de ineriminagHo ex novo, a solugio ‘adar éade que s6 se podem ter em conta.’ factos ocorridos perante a nova lei. Nesta solugio pressupoe-se claramente que se se aplicar a nova lei ao fucto desde 0 seu infcio se esté a fazer uma aplicagao retroactiva, Mas entio o mesmo se passa.com a aplicagto da leimenos favorvel quanto ao regime (nomeadamente,deleiqueagrave ‘a responsabilidade do agente). ‘De algum modo, a segunda peca pelo lado oposto, isto 6, quando afirma que ‘io hi dtivida quando a lei nova é mais favordvel, porque entio hd lugar A sua aplicagio retroactiva, Mas se assim & (e mesmo que se verifiquem no dominio de ‘nova le os seus pressupostos), nfo pode aplicar-se a lei penal menos favorével aos factos ocorridos antes da sua entrada em vigor. ‘Destaverifieago resulta que, para no prescindir da unidade ou unificago de tais crimes, no parece haver outrasolugdo senso a de considerar cometido o facto no momento’em que a execugo comesa, ou melhor, consideré-lo cometido perante aleiantigadesde que na vigéncia destase tenham verificado os elementos necessérios sua aplicagdo independeatemente de virem apersistiroua continuar-se na vigéncia, anova. Isto evidentemente, nao prejudica a aplicabilidade dessanovalei, desde que Neste sentido, ef, por exemplo, CavaLsino pe Franiiea, por dltim, Direto.. eit, pg. 123; Gowns ba Siva, op. cit, pégs. 178 € segs. 'S" Tara De CaRvalio, op. cit, pig, 60. Também Lores Roca procede a semelhante redusio do problema (op cit, pags. 103 © sees.) % Op. cit, pag. 61. [AATLICAGAO DA LT PENAL NO TEMPO 8 mais favorivel”, A solugio sera, assim, exactamente oposta Aqua que esté ‘stabelcida, no n° 2 do artigo 118, cm matéia de prescrigho, 0 que nko deixa de {ogarem eu favor, qo so também opostes as solutes de prinepi estabeleidas 10 antigo 3° enon 1 do artigo 118° IIL. O problema foi ainda levantado relativamente ao concurso de ‘crimes, no no que diz respeito & pena a aplicar a cada crime, mas a0 regime penal do concurso de crimes em si mesmo considerado, sendo resolvido no sentido de que € aplicavel ou o regime da lei antiga ou o da ei nova, dependendo de qual se mostre mais favorével, 6, Ambito do problema Dilucidada aquestio do tempus delicticonvém ainda fazerbreve refe- réneia Aquilo que se deve entender por leinestamatériae, nomeadamente para cbamar a atengo para 0 facto de que as leis interpretativas em Direito Penal esto sujeitas aos principios atrés referidos”. E quanto aos assentos?” ‘A identidade material de assento ¢ lei interpretativa conduz a ‘estender a estes a mesma solugdo®. Mas dai retirou TAIPA DE CARVALHO * ace ter sdo nest sentido que evolu a posto de Cavatzno De Fanta, Naverdade, apesarde,emobras anteriores, defender claramenteaaplcabtdede da nova 1ci,oo pressuposto de ques watava do cximesunitsios (por exemplo, Dieito Penal, ligds coli. por). Jardim eL de Freitas, Lisboa: AAPDL, 960-61, pig. 114), parece tet ‘indo posterionnentelterar sua opnéo. Mantendo emboraaafiemactosegundoaqual *admtindo se caret uitrodos crimes continuados permancnes desde que no do- smisio da novalel tena sido cometida parte da conduit, oresliado er anova li ali ‘ela tod one”, pati de cera alr, fala em “osina da inchoate aces Cenla mesmo expressamente gucla afsmagio: “Mas de odaa sorte parece que deve en tender-se qu oinfciodoperfodod tempo a considera coincide com ocome da propria acgZ0 ou omisso, da actividad ciminosa” (tor timo, Direito. Let pi. 123). ** CL Camo na Marea op cit, pop 48; Lots Rota, op. cit, pigs. 105 ese. (qv, perante as divides, afima qu ea a solugdo que melhor satsfz 0 prnpio da aplicagio retactva); Pxuea Tavreno, op. cit, pig 7. > Cavatemo ve PRRRERA, pr timo em Ligdes.. cit, pi. 62; Loves Roc, op cit, pigs 108 segs; Tata ns CARVALHO op. cit pig 273. CE Taras Canvaso, op. cit pig. 278, Tamm éoquese dedz da afrmagio de Cavausno Dt Paxman, Direito.., ch, pgs 64, de que os asentos valem como lei iterpretatva 94 bmsrrozsusniga a consequéncia de que uma vez que o assento é proferido num recurso interposto de uma decisio sobre um determinado caso, a conclusio seria ade que s6 se aplicaria ao caso sub judice se mais favordvel", sendo inconstitucional 0 n° 1 do artigo 445° do Codigo de Proceso Penal quando estabelece que a decisao que resolver 0 conflito tem eficd processo em que 0 recurso foi interposto®, [Nio parece quese pssaesqueser qu precisamenteorecuso.emque oassento 6 fixado€ uma impugragiode uma decisio judicial, destinada, antes de mais, aobtcr ‘sua alteragio on substituigho por osta e, portato, que tem antes de mais em vista a solugéo do caso sub judice. A panicularidade do fundamento (oposigéo de decises) do Ie eta su fialidade prpria de impugnar uma decisto suscitando © reexame da questio por ela resolvda. E que, a ser como 0 Autor pretende,s¢ 0 ecu fosse intexposto, pelo Ministerio Pblico ou pelo assistente, coatra 0 axe uido, el seria simplesmente para fxa5Bo da jurisprudacia,solugSo semelhan- te, portanto,aguela que consagra.n"3 do artigo 47° do Cédigo de Processo Penal, cuja inconstitucionalidade por vilagGo da sepsragio de poderes, ais, ques- tiona®. Além sso, esta doutrinaniose conjuganada bem com aaceitacio, pelo Antor das Tinhas geras de solugo avangadas por Casranwta Neves relativarente a0 problema por este recentemente levantado entre nés, das altrapSes de correntes juispraenciais em matéia pena", a saber: 1°) 0 respeto pelo enquadamento abstracto-legal em que deve basear-s a mediago concretizadoradejuisprudéncia; 2) v Guu de conusragumentayo ous dovisbes que se afasteu da juisprnléacia cstabilizada;"relevoexculpativo doer sobre ailicitude, aseadona jurispradéncia dominante®. ‘Oras asim 6, no se compreende como équeo assento, que tem na sua base uma oposigdo de decssesjuisprudeacias, eem cuja anise se pem cautelas que ‘chegam 0 pontode se repercutirnacomposiao do Tribunaleompetente, no poderd uarboComnai admitsomesmorelativamente A alterapo dos requsitos de punibilidade (cf. Dircito.. lit. pd. 161). “Neste sentido, ef. Rovamave Dias e Costa AxpaADe, «Problemas de especulagso ‘sucesso de leisno conterto dos regimes de progos controlados e declarados» in Revisia

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