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Um dia, um sujeito passou pela praça e resolveu brincar com os dois

briguentos. GET Gurgel do Amaral – Círculo de leitura – Prof. Else Emrich


Chegou perto de um deles e disse:
— Gostei muito da música. Vou deixar com você vinte reais mas é para Chegando lá nas matas, o marido viu uma cumbuca de ouro, e, como era em
dividir entre os dois. terras do compadre rico, o pobre não a quis levar para a casa, e foi dizer ao
Falou mas não deixou nenhum dinheiro com ninguém. outro que em suas matas havia aquela riqueza. O rico ficou logo todo agitado, e
Os dois cegos continuaram tocando, agora felizes da vida. não quis que o compadre trabalhasse mais nas suas terras. Quando o pobre se
Quando a música acabou, o que cantava falou: retirou, o outro largou-se com a sua mulher para as matas a ver a grande
riqueza.
E a conversa virou briga. João pegou o pandeiro e atirou tentando acertar
Chico. Chico agarrou a viola e atirou tentando acertar João. Ouvindo isso, Chico pensou que João tivesse puxado uma faca. João pensou
Foi quando o tal sujeito, que continuava ali perto, gritou: a mesma coisa.
— Não! Cuidado! Para! Com faca não! Os dois briguentos então deram um salto, cada um para um lado, e saíram
correndo, tropeçando, capengando e gritando socorro. Dizem que estão correndo
até hoje.
O ricaço gritava então: “Ó compadre, abra a porta!” Ao que o outro
respondia: “Deixe-me, que os marimbondos estão me matando!” E assim ficou o
O compadre assim fez, e o rico, chegando perto da janela, atirou a casa de
pobre rico, e o rico ridículo.
marimbondos dentro da casa do amigo, e gritou: “Fecha a janela, compadre!”
Mas os marimbondos bateram no chão, transformaram-se em moedas de ouro,
— Ô João, passa prá cá a metade dos vinte reais que o moço deu pra gente. e o pobre chamou a mulher e os filhos para as ajuntar.
O outro ficou surpreso:
— Que é isso Chico? O moço deu o dinheiro foi pra você!
O cantador não gostou: Os dois eram cegos. Um chamava Chico e o outro João. O primeiro era
— Deixe de ser besta João e me dê logo essa grana. cantador e tocava viola. O segundo acompanhava no tambor, no pandeiro e no
Mas o cego de nome Chico já se enfezou: chocalho. Todos os dias, os dois iam para a praça perto da igreja, sentavam na
— Que besta coisa nenhuma! Tá me estranhando, safado? Querendo me calçada e tocavam para ganhar uma esmolinha. Todos os dias os dois brigavam.
passar a perna? — Ô Chico, vê se canta direito homem! Larga a mão de ser desafinado!
E o outro: — E você que não consegue nem entrar no ritmo!
— Passar a perna eu? Safado é você que tá mentindo pra ficar com o — Acerta o tom dessa maldita viola, desgramado!
dinheiro todo! — Êta tamborzinho mal tocado!
— Cala a boca, bocoió de mola!
— Bocoió é a mãe, cego lazarento!
Dois cegos briguentos A cumbuca de ouro e os marimbondos
Havia dois homens, um rico e outro pobre, que gostavam de pregar peças
Chegando lá, o que achou foi uma grande casa de marimbondos; meteu-a um ao outro. Foi o compadre pobre à casa do rico pedir um pedaço de terra para
numa mochila e tomou o caminho do mocambo do pobre, e logo que o avistou fazer uma roça. O rico, para fazer graça ao outro, lhe deu a pior terra que tinha.
foi gritando: “Ó compadre, fecha as portas, e deixa somente uma banda da Logo que o pobre teve o sim, foi para a casa dizer à mulher, e foram ambos ver
janela aberta!” o terreno.

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