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ZILMA M. RAMOS DE OLIVEIRA (Org.) Cyrce M. R. Junqueira de Andrade * Gabriel de Andrade Junqueira Filho * Mara I. Campos de Carvalho Marcia R. Bonagamba Rubiano * Maristela Angotti Maria das Gragas Fleury * Maria Lucia de A. Machado Marlene Fagundes Carvalho Gongalves EDUCACAO INFANTIL: muitos olhares AC. ANN EBS ss S 2: edicao INV 05 UF. M.G.- BIBLIOTECA UNIVERSITARIA yd A ITAA NAO DANIFIQUE ESTA ETIQUETA GS sion Organizagao do Espaco em Instituigdes Pré-Escolares Mara I. Campos de Carvalho Marcia R. Bonagamba Rubiano* Recentemente tem havido um reconhecimento crescente da importancia de componentes do ambiente sobre o desenvolvimento da crianga (David & Weinstein, 1987; Wachs & Camli, 1991), Entretanto, as caracteristicas fisicas de um ambiente geralmente sao negligenciadas no planejamento de ambientes infantis coletivos, sejam eles creches, escolas, hospitais, exceto pelas recomendacdes Berais de que esses ambientes devem ser ricos ¢ estimuladores, Inclusive em estudos sobre desenvolvimento da crianga este fato também ocorre, revelando assim um ponto de vista que considera 8 Componentes fisicos do ambiente como um cenério sem grande importancia, Weinstein & Mignano (1993), comentando especificamente sobre sala de aula, dizem que, a menos que ela se tome muito quente ou muito fria, muito populosa ou barulhenta, geralmente é ida simplesmente como um cenério, ou pano de fundo, para interagdo. Contudo, a organizagio da sala de aula tem influéncia sobre os usuarios determinando em parte o modo como professores * Ambas as autoras so da Faculdade de Filosofia, Citncias e Letras de Ribeiro Preto-USP, 107 e comportam, Desta for em, pensam ¢ Xt rma, uy «alunos Sener adoso do ambiente fisico € parte integranie ye planejament™ ejo do ensino em sala de aula, um bom mane) ‘ lles autores, qualquer ambiente construido exere; ara ag eu ar ar greto como indireto, ou simbélico, sobre os indi ee imei instincia, fatores fisicos podem influenciar viduos. Na prt Sepomaen9, facilitando certas atividades © obstruindo outray competimplo, em uma sala de aula tradicional, geralmente ay Piteinas sio dispostas em filas, 0 que pode ditetamente afetar a farticipasao dos estudantes em uma discussio geral, porque hg Pirvuldades de se ouvir € ver todas as pessoas. Outro exemplo € {ado pela auséncia de passagem ou caminhos claros para uma nea de atividade, 0 que em geral resulta na subutilizac3o da ineana, Por outro lado, caracteristicas fisicas do ambiente comu- icam mensagens simbolicas sobre a intencdo e valores das pessoas que 0 controlam. No exemplo acima da sala de aula tradicional, indiretamente a disposigo das carteiras envia mensagens aos alunos sobre a expectativa que se tem em relagio aos seus comportamentos, ou seja, € esperada a nio-ocorréncia de interagio entre eles; aquela disposigao foi provavelmente planejada para inibir a discussao entre os estudantes. Pretendemos aqui auxiliar o leitor a reconhecer como aspectos fisicos do ambiente exercem impacto sobre os comportamentos de seus usudrios e como o educador pode organizar ambientes em Fungo dos objetivos que pretende atingir. Para isto focalizaremos: 4) as fungdes que a organizacao do ambiente pode exercer tendo em vista 0 desenvolvimento infantil; b) as relagdes entre certas concepedes de desenvolvimento e a organizacio do espaco educa- ional; c) pesquisas que realizamos apontando a influéncia da ‘organizagao espacial na interagio e brincadeira de criangas em creche © d) a experiéncia de assessoria em uma das creches estudadas, 1, Fungées da organizagao do ambiente — eral. 0s ambientes infantis tém sido pobremente plane- * Pols geralmente sdo orientados para atender as necessidades 108 do adulto e/ou do grupo como um todo, desconsiderando as sidades proprias das criangas, principalmente em instituigdes onde se restringe muito © desenvolvimento da identidade pessoal. Seja qual for o tipo de instituigdo-escola, pré-escola, creche, hospital ela geralmente € caracterizada por um alto grau de controle € organizagio externa, de rotina de comportamentos ¢ de limitagdes de oportunidades para escolha pessoal (Proshunsky & Fabian, 1987). Privacidade, intimidade e escolha sio colocados de lado em favor de cooperagio, competigao e trabalho disciplinado (Kennedy, 1991). ne David & Weinstein (1987) afirmam que todos os ambientes construidos para criangas deveriam atender a cinco fungbes relativas a0 desenvolvimento infantil, no sentido de promover: identidade pessoal, desenvolvimento de competéncia, oportunidades para cres- cimento, sensagio de seguranga e confianga, bem como oportuni- dades para contato social e privacidade. A seguir, cada uma dessas fungdes seré descrita resumidamente. 1, Promover identidade pessoal. A personalizagao de espacos € objetos é elemento crucial no desenvolvimento da identidade pessoal — no nos vemos como individuos soltos no espago, em um vacuo, mas como individuos que vivem em determinado momento hist6rico-social, morando em certos lugares € possuindo certos objetos. Dessa mancira, a identidade pessoal esté intrinsecamente ligada & nogdo de identidade de lugar, que consiste de cognicdes cumu- lativas — pensamentos, memérias, crengas, valores, idéias, prefe- réncias e significados — sobre 0 mundo no qual a pessoa vive. Certos espagos € lugares, por serem familiares, prdprios, steis, sobre os quais podemos (er controle, favorecemn a integridade do sentido de si. Todos nés temos memérias bem vividas de lugares favoritos de nossa infancia. Quando visitamos nossa escola ou a casa onde crescemos, geralmente sentimos nostalgia e entio véem & nossa lembranga varias experigncias significativas de nossa vida, acompanhadas por um sentimento profundo de ligagdo afetiva a determinados lugares © espacos (Proshansky & Fabian, 1987). Levando em conta essas consideracées, € altamente recomen- dado que ambientes institucionais oferecam oportunidade para as criangas desenvolverem sua individualidade, permitindo-Ihes ter % 109 ces. pros objets, personaizar $64 ESPH60 &, sempre gue pocsivel, partcipar nas decisbes sobre a Organizaeio do mesmy, >. Promover 0 desenvolvimento de competéncia, © de ser competente bésico no ser humano e, provavelmente, mate mais inenso na ctianga, a qual se v8 constantemente envolvige fom novas tarefas ¢ desafios. Dessa maneira, © ambiente infanra deve ser planjado para dar oportunidade as criangas desenvolveresy dominio e controle sobre seu habitat, fornecendo instalagdes fisiene convenientes para que as criangas satisfagam suas necessidades tomar agua, pegar roupas ¢ toalhas, acender e apagar Iuzes, ter facil acesso a prateleiras © estantes com materiais, a mesas « cadeiras — sem assisténcia constante, desejo Ademais, pistas ambientais como a presenca de tipos espe- citicos de barteiras, delimitando sub-dreas dentro de um cémodo, também colaboram para o desenvolvimento de competéncia, pois torna mais facil & crianga planejar e executar atividades, com maior concentragao e menos interrupgdes. A presenca de caminhos, ligando reas dentro de uma mesma sala, também contribuem para o planejamento € execugio de atividades pelas criangas, Como bem apontado por Weinstein e Mignano (1993), os caminhos para o bebedouro, para apontador de lépis, para 0 lixo, para as sacolas de roupa, para a caixa de brinquedos, para as estantes, devem ser claramente visiveis e cuidadosamente planejados para evitar con- gestionamento ¢ distrago, e nao devem passar por dreas de trabalho, ou de atividades de outras criangas, para evitar distragdo e/ou interrupgao das atividades, 3. Promover oportunidades para crescimento. A oportuni- dade para explorar ambientes ricos e variados geralmente esti associada ao desenvolvimento cognitivo, social e motor. As carac- teristicas de responsividade, complexidade e variedade dos objetos manimados tém sido relacionadas ao desenvolvimento. Para tornar um ambiente mais rico e variado, Olds (1987) suBerido que os ambientes devem oferecer oportunidades pata “eM0s corporais © para estimulagdo dos. sentidos. tunic tevimentos Corporais. Os ambientes devem fornecet opor tem movi 10 Je * Para as criangas andarem, correrem, subirem, descere™ _ € pularem com seguranga, permitindo-Ihes tentar, falhar e tentar novamente, Especialmente durante 0 periodo sens6rio-motor (trés primeiros anos de vida), um ambiente ideal deveria oferecer opor- tunidades freqtientes para a crianga aprender a se mover e a controlar 0 préprio corpo no espaco, convidando a movimentos tais como: sentar, balangar 0 proprio corpo, engatinhar, saltar, correr, subir, pular, agarrar-se, pendurar-se, curvar-se e virar-se. Os seguintes materiais so sugeridos para o desenvolvimento dessas habilidades motoras globais: colchonetes de espuma, de ar e de ‘Agua; almofadas de diferentes tamanhos e texturas; balangos baixo: traves baixas para pendurar-se e balancar-se; escadas baixas; es. truturas de madeira, com cerca de 30 cm de altura por 8 cm de largura, para subir e engatinhar; rampas e escorregadores baixos; cadeiras de diversos tipos. +Estimulagao dos sentidos. Os drgios dos sentidos, para funcionarem, devem receber estimulagio do ambiente externo. Por exemplo, mudangas na corrente de ar revelam odores que nao seriam detectados em ambientes estiticos ¢ fechados. Os sentidos funcionam com base em movimentos ambientais. Mudangas sutis € moderadas de estimulagao ocorrem freqiientemente no mundo natural, tais como a presenga de brisas, 6 agradével som de um iacho, os odores de drvores e flores. Estas variagdes moderadas de estimulagao sensorial ajudam a manter niveis otimos de viva- cidade mental e fisica, € promovem sentimentos de conforto e atitudes descontraidas. As criangas devem experienciar diretamente essas variagdes existentes na natureza. Dessa maneira, tem sido recomendado prioritariamente 0 desenvolvimento de atividades em espagos abertos. E espacos internos, especialmente os destinados @ criangas pequenas, devem se abrir, sempre que possfvel, para reas externas cobertas € néo-cobertas. Como nem sempre possivel a ocorréncia de atividades em areas externas, é de suma importancia a presenga de elementos naturais dentro de interiores, tais como Janelas que permitam iluminagao natural ¢ a entrada de sol, a visio do céu, de drvores e passarinhos, a presenga de vasos com plantas e flores. ‘A variagdo de estimulagio deve ser procurada em todos 0s -zySentidos: cores e formas; musica e vozes; aromas de flores e de um do feitos; oportunidades para provar diferentes sabores, AApesar do tato constituir um dos sentidos mais utilizados po; srnangas até 0 terceiro ano de idade, ele tem sido geralmene nealigenciado em ambientes coletivas. Nestes, 6 oportuno estimuis, © toque oferecendo materiais duros € macios, speros © isos, quentese fries, vibratérios e estaveis, para a crianca ter contate, A estimulagdo dos sentidos também ocorre com variacdo de tamanho de espagos (pequenos e grandes); altura do chao (com elevacies ¢ descidas); altura do teto (panés, treligas, clarabdias); altura de barreiras (paredes, meias-divis6rias, biombos, estantes baixas); Iu. zgares bem claros € menos claros, barulhentos € quietos, aconche. gantes ¢ frios. Estas variagdes, além de impedir 0 desinteresse estimulam a crianga a buscar atividades e niveis de estimulagao apropriados as suas necessidades nos diferentes momentos do dia alimentos se 4, Promover sensacao de_seguranca econfianca. Sentir-se segura ¢ confiante sao aspectos essenciais que permitem a crianca explorar o ambiente; por sua vez, como jé 0 dissemos, a exploracao € crucial para 0 desenvolvimento motor, cognitive € emocional. Por exemplo, variagdes draméticas de estimulago levam a crianga se sentir ameagada e desorientada; dessa maneira, sio sugeridas modificagdes moderadas dos estimulos, seja no nivel do solo, altura do teto, iluminagéio, cores ¢ demais elementos fisicos que possam ontribuir para a percepgdo de um lugar como confortével, inte- Fessante € seguro, Sensacdes téteis também sao importantes para tansmitir seguranga — & medida que caracteristicas fisicas do ambiente convidam ao toque, aumenta a sensagio de seguran¢a, Permitindo 4 crianga explorar © espaco mais. prontamente. 5. Promover oportur dade. Um ambi lades para contato social e privaci- como de obrnee deve ser planejado, tanto em termos de espago de conten 2S disponiveis, para atender ambas as necessidades, dentiode greet & © privacidade. Variar 0 tamanho de 4reas Atividades yr Sm eSPAG0, oferece oportunidade para isolamento, diddicas gu meq eh2S BFUPOS ou de todo o grupo, interacdes acomodar qu: ras. Olds (1987) comenta que Sreas planejadas para Pariciparao ine, Pessoas diminuem o estresse € encorajam a Para expressar ¢ saul: Espacos privados fornecem oportunidade © explorar sentimentos, especialmente os de raiv® 112 angistia e frustragdo, longe do olhar dos outros; servem para a crianga retirar-se, momentaneamente, do ritmo rapido do grupo, ‘ou para um descanso para novas situagdes. Ademais, a presenca de cadeiras pequenas, plataformas, patamares com largos degraus serve tanto para descanso como para observar as atividades que Jo se desenvolvendo. 2. Organizagio do espaco e concepgies de desenvolvimento Os educadores jé esto, em geral, conscientes de como Objetivos, contetidos e métodos educacionais variam em funcao das teorias piscol6gicas e filosofias subjacentes, como apontado por Kolberg & Mayer (1972). Vamos procurar evidenciar como concepgdes sobre 0 desenvolvimento guiam, conscientemente ou ndo, a organizagio de ambientes em instituigdes educacionais. Em creches de Ribeirdo Preto (SP) e regifio, atendendo familias de baixa renda, Secaf Silveira et al. (1987) encontraram: (a) uma média de um adulto para 15 criangas com até trés anos de idade; (b) baixo nivel educacional, falta de treinamento ¢ péssimas con- digdes de trabalho da atendente; (c) precariedade das instalagoes; (d) énfase no atendimento das necessidades basicas, sem preocupacéo com as afetivas, sociais € cognitivas e (e) centralizagao do aten- dimento na atendente, implicando um ritmo acelerado de trabalho para ela, em intimeros momentos de espera para a crianca, pouca ‘oportunidade para interagéo adulto/crianga e nenhuma preocupagao com 0 relacionamento entre criangas. Nestas creches os ambientes geralmente se apresentavam vazios de mobilidrios, equipamentos, enfeites, havendo poucos objetos disponiveis para as criangas. Mesmo em creches com salas bem mobiliadas, observamos as educadoras encostando os méveis nas paredes, ou empilhando-os em um canto, para obter um espago ‘central vazio, sem qualquer empecilho para atividade infantil. Isto Sugere a existéncia de um pressuposto de que criangas pequenas, pelo menos com idade inferior a trés anos, necessitam de um espago amplo, aberto e vazio, possivelmente pela valorizagao de 13 alividades corporais fisicas, envolvendo a exec, de coordenagao motora global. Encostar os moves” pode sugerir também, por parte dos adultos, uma’ diminuir a chance das criangas se machucarem, A despeito de dificuldades econdmicas, ocas escassez de mobilidrio e objetos, tal alitude evidencn > Uma educacional centralizado no adulto, seja um modelo de coe? materno substitutivo ou um modelo escolar. Este modcig itt a erianga, sobretudo a pequena, como sendo incapaz de env e manter-se em atividades, principalmente as compartilhenn os coetineos, sem a mediagio do adulto. Concebe a formate mt crianga através das atividades dirigidas pelo adulto, tanto ay de cuidados fisicos como as educacionais, estas geralmente desenvol vidas em torno de mesinhas com a atendente assumindo 0 pape! tradicional do professor e as criangas precisando reportarse 40 adulto para qualquer necessidade, Desde que as criangas requerem diregio ¢ orientagdo quase que constante do adulto, um ambiente com um amplo espago central vazio facilitaria o trabalho do mesmo. Questionamos juntamente com Stambak & Verba (1986) a adequaydo do modelo centralizado no adulto, © qual, infelizmente, tem sido amplamente implementado em creches de varios paises. De acordo com nossa concepcio, a creche constitui um contexto de socializagao de eriangas pequenas, diverso tanto do lar como da escola, sobretudo a tradicional. Neste contexto, um adulto cuida Simultaneamente de varias eriangas, sendo que os parceiros mais 'sponiveis para interago sdo outras criangas, geralmente coetdneos. Considerando a alta proporgdo de eriangas por adulto, comum mas ng aquele modelo toma-se inadequado por, dentre outros Prana loca uma vaga exigéncia de atendimento individualizado Para eat impessvel de ser cumprida. Além disto, ele € seg Pel preeeettl motivacional e/ou desenvolvimental constitute tas ens ag HaMGASEnquanio agentes aivos €enquanto PAR Vv. 1993, petal Hartup, 1987: Oliveira & Rossetti cionamentos com recy '984) referem-se a importincia dos NEOs € com pessoas mais experientes. a vez que servem a diferentes fungdes, requerem competéncias diversas e precisam de condigdes especificas para ocorrerem. Nos relacionamentos verticais, com adultos ou criangas mais velhas, 0s parceiros apresentam discrepincias no grau de compe- téncia social, evidenciando-se relagdes assimétricas. Cabe ao mais experiente perceber e interpretar 0 comportamento do outro, bus- cando responder-the de forma a prover seguranga emocional, pro- tego € oportunidade de desenvolvimento. Este tipo de relaciona- mento favorece a fusio dos parceiros que se complementam funcionando como um sistema nico. Este € 0 relacionamento comum verificado entre crianga-mae ou professora. Porém, em creches 6 comum ver criangas de 3-4 anos assumindo este tipo de relagdo frente aos bebés. Nos relacionamentos horizontais os parceiros possuem nivel semelhante de competéncia ou incompeténcia. Trata-se de relagses imétricas, onde ambos os parceiros so responsiveis por iniciar manter 0s contratos. Cabe a cada um perceber 0 outro € procurar regular seus comportamentos com os dele, Este relacionamento pode ser mais dificil para a crianga pequena, porém favorece a diferenciagdo e a interagdo reciproca de individuos que tm de aprender a reconhecer o outro, diferenciando-se dele. Entre coetineos hd maior oportunidade para as criangas desempenharem varios papéis e inclusive trocarem de papéis entre si, favorecendo a aprendizagem de compartilhar e cooperar. Autores s6cio-interacionistas como Mead, Wallon e Vygotsky (ver Oliveira, 1988, para uma sintese sobre a posicio destes te6ricos) propdem que o desenvolvimento humano ocorre nae através da interagdo social, sendo que nesta interagio a crianga constréi seu conhecimento € a si mesma enquanto sujeito. Apesar de os proponentes das teorias atribufrem maior relevancia d interagao adulto-crianga, autores recentes (e. g. Camaioni, 1980; Carvalho, 1992; Nadel & Baudonniére, 1980; Oliveira & Rossetti-Ferreira, 1993; Stambak & Verba, 1986) tém enfatizado 0 valor desenvol- vimental da relagdo crianca-crianga. Ha mesmo estudos (e.g. Legendre, 1986; Rossetti-Ferreira et al., 1991; Stambak & Verba, 1986) mostrando que, dadas certas condigées, a crianga pequena us & capa de brincar a0 mesmo te do adulto. MPO COM outra sem a Por sua vei i a atividade lidica te twéricos como relevante para 0 desenvo) advoga que, na transigao para © period eet importantes no desenvolvimento psiquico ¢ da transigao para_um nivel mais elevado de vin brincadeira, 0 mundo objetivo expande-se, inchagn wm. Na do mundo ambiental proximo, com os quais acne tM® Abjetos aqueles com 08 quais os adultos operam, mesmo nay Smo niio tenha capacidade fisica para fazé-lo. A atividade tee, ainda entdo a discrepiincia entre a necessidade de asi de oe impossibilidade dela de executar as operagées exignia © # '™ sido destacada pop Muito, Leontiey (ig, ese escola, a trincagee) as mudangay at Preparando o cami 0 Leontie, Vygotsky (1987) propde que a brincadeira cria um, desenvolvimento potencial, na qual a crianga se comporta ale oc 2 al pa la é oe habitual para a ide, além de seu comportament dio Seine tal para rio. Segundo ele, a crianga muito pequena tem suas limitagdes pelas restrigdes situacionais € seu comportamento é em grande parte determinado pelas condigdes existentes no ambiente imediato. Por outro lado, ela tem uma tendéncia a satisfagdo imediata de seus desejos. O brinquedo cria um espago para a realizagdo de desejos, que nao podem ser satisfeitos imediatamente na situacao real, através de situagdes imagindrias de faz-de-conta, que emancipam a crianga das pressdes situacionai A partir das idéias deste te6rico, Howes & Unger (1989) sugerem que criangas de mesma idade, a0 compistitharem uma tuagdo de faz-de-conta, estimulam-se mutuamente para 0 envol- Vimento em comportamentos mais complexos do que aquele da crianga fora do jogo ou em jogo solitério, Em nossa concepgao, a crianga participa ativamente em scl desenvolvimento através de suas relagdes com o ambiente, ¢spe cialmente pelas suas interagdes com adultos ¢ demais criances (coetineas ou mais velhas), dentro de um contexto s6cio-histérico expecitico. Ela explora, descobre € inicia agGes em seu ambient; seleciona parceiros, objetos, equipamentos e dreas para a real ago 116 através de seus comportamentos -xvidaes, mand © ambient Se jientar que os COMpor Entretanto, por outro lado, € necessdrio ss Pot tamentos infantis sio influenciados pelo ambiente fornecido pelos tahoe de acordo com seus objetivas pessoas. consiryiios, 60° ranean suas expectativas culturais Flativas aos comporsne (ts pase cenvolvimento infantis. Este nosso ponto de vista baste «ama visdo sistémica de desenvolvimento, que enfaiiza & relagio canal entre pessoa ambiente (Bronfenbrenner, 1979; vores O87, Stokols, 1978; Valsiner, 1987; Wohlwill & Heft 1987) 3. Estudos sobre arranjo espacial 5 entre criangas como to importantes nga para o desenvolvimento infantil, ‘os ambientes podem favorecer ou fe criangas Considerar as interagde quanto as interagdes adulto-cria suscita questées sobre como dificultar a ocorréncia de interagdes, principalmente entr pequenas em ambientes coletivos, tais como em creches Dentre as condigdes ambientais que centre criangas, destaca-se 0 arranjo espacial, que diz respeito 3 maneira como méveis ¢ equipamentos existentes em um local posicionam-se entre si. Embora atualmente alguma atengio esteja sendo dada para a importincia de aspectos espaciats no planejamento de ambientes infantis coletivos (para revisio, ver Weinstein & David, 1987), poucos estudos tém documentado a influéncia nos comportamentos infantis de espagos abertos ¢ fechados, relativos 2 auséncia ou presenga de barreiras na Grea de atividades, parti- cularmente em creches (Legendre, 1983, 1986, 1987, 1989; Moore, 1983, 1987). Legendre (1983, 1986, 1987, 1989) tem realizado estudos em creches francesas sobre 0 papel de diferentes arranjos espactais ‘como suporte para interagao entre criangas de 2 a 3 anos de idade. ‘Suas manipulagdes experimentais implicam a modificagao de areas ‘ou zonas espaciais identificadas na sala habitualmente ocupada pelo grupo de criangas e tém evidenciado a importancia de zonas circunscritas quando presentes em um tipo especifico de arranjo favorecem a interagio 117 espacial. Zonas circunscritas s mitadas pelo menos em tés lados por barreisgs Ta™ME dei Imobiliri, parede, desnivel do solo ete. A earner Xa destas zonas € a sua circunscri¢io ou fechamento, < Pr'0tdia} aspecto topogratico. * POTtaNLO, um Legendre (1983, 1986, 1987) tem descrito ay ; de ‘trés tipos de arranjos espaciais — arranjo semiacrt ties € fechado — € sua interdependéncia com ay ioe aberto interagdes entre 0 € caracterizado ido a crianga uma criangas ¢ entre crianga-adulto. O arranjo semi abert pela presen de Zonas circunseritas, proporcionan visio facil de tcdo 0 campo de agdo, inclui 2 - aio © demas erangas. As erangay, grain (oe de cupam preferencialmente as zonas circunscritas, mesmo eee afastadas do adulto; em tais zonas geralmente ocorrem iene afatvas entre eriangas. Suas aproximagdes do adult ents menos freqiientes, tendem a evocar mais fespostas deste em com- Paragdo com outros arranjos. No arranjo aberto ha austneis vo zomas circunscritas, geralmente havendo um espaco central vane As interagdes entre criangas so raras, as quais tendem a permaneces em volta do adulto, porém ocorrendo pouca interagio com o mesmo. Afora esta tendéncia, as criangas se espalham pela sala, com deslocamentos freqiientes. No arranjo fechado ha a presenga de barreiras fisicas, por exemplo um mével alto, dividindo o local em duas ou mais dreas, impedindo uma visdo total da sala. As riangas tendem a permanecer em volta do adulto, evitando éreas onde a visio do mesmo nio € posstvel, havendo poucas interagoes eure crianges, A partir desias consideragées, salientamos a importincia dos clementos usados na montagem das zonas circunscritas, 08 quais devem permitir ficil contato visual das criangas com o adulto, mesmo quando aquelas se encontram dentro de uma zona circuns- crta. Este € um aspecto primordial para criangas de 2-3 anos, Pols. devido aos cemportamentos de apego, demonstram dependéncia Fisica e psicolégica em relagio ao adulto. O padrdo de desenvol Nimento do apego, descrito por varios autores com amostras de Giferentes culturas, indica que criangas naquela faixa etéria ainda exibem fortes comportamentos de apego, ndo somente com relaga0 118 tal como ie, mas também com relagdo a outras figeas, eae 2 yueadora de creche (Rossetti-Ferreira, 1984: sere ise) Coe § busca de proximidade fisica e/ou piesa a suet seem al, conseqientemente as criancas nd n ss & unl comeeaual comm 0 ada, tal como € observado cm ae sos fechados, como mostrado por Legendre (1983, 1987, . (Os resultados de Legendre sdo relevantes para 0 contexto )s_ resultados cuca estuturado de nossa ereches atendendo populagio de bata reads, tais como aquelas estudadas por Secaf Silveira et al. ( ise) Durante periodos de atividades livres, geralmente se observa vias criangas euidadas por um s6 adulto, em espagos vazios contendo pouco mobilidrio, objetos € equipamentos. Este tipo de an do favorece interaga0, seja entre crianga-adulto ou entre criangas, Sobretudo entre as menores de 3 anos, periodo no qual as habilidades verbai estiio se desenvolvendo. © soci Em nossos estudos (Campos de Carvalho, 1989; Campos de Carvalho & Rossetti-Ferreira, 1993; Campos de Carvalho, Rubiano & Rossetti-Ferreira, 1989; Rubiano, 1990; Rubiano & Rossetti-Fer- reira, 1992; Rubiano & Silva, 1993), temos evidenciado 0 papel do arranjo espacial na ocupago do espaco pelas criangas, nas interagées que elas estabelecem entre si e com o adulto e nas atividades que desenvolvem. . _Utilizando 0 modelo da experimentacio ecolégica (Bronfen- brenner, 1979), modificamos 0 arranjo espacial da érea comumente utilizada durante atividades livres pelo grupo de criangas entre 2-3 anos em duas creches da regiao de Ribeituo Preto (SP), que atendem populagao de baixa renda. Estes dois grupos de criangas © suas respectivas educadoras foram observadas em trés fases: Fase | — arranjo aberto: espago usual, amplo e vazio; Fase I — arranjo aberto: introdugdo de pequenas estantes de madeira na Periferia da area; Fase JW — arranjo semi-aberto: montagem de oe a) eras com as estantes, uma delas: menos estru- coleta de dados foi feita uti poder ioe eae funeionamente acne tzando das cameras fotogricas, com abtdas de 30 agmatie® € conjunto a cada 30 segundos, sendo 3 fotos por camera. Utilizamos também cmeras 119 de video focalizando a érea em torn do ad Ito (a € as zonas circunseritas, na Fase IIL Ws To Ao A anélise da distribuigao espacial d, 0 preferencial das mesmas peas. éreas em toro do adulto (Fase 1), 10 redor das exten zonas circunsertas (Fase Il). A comparagao da dicin entre as fases demonsirou uma reorganizagio a NiFO espaciay espago a cada fase, sendo evidente uma maior toy ee? do eriangas em volta da educadora em arranjos com mann 820. de espacial, especialmente na Fase I, estruturacao, CTiangas most mais estraty OU ocupa. radas: gy A anilise feita através do video mostrou exercido pelas areas constituidas dentro de u; evidenciando urn padrdo de relacionamento e atividedes circunsertas totalmente distinto daquele observad na 82% adulto, Nas zonas circunscritas as eriangas mantiveramor',° associadas, sendo que as associagées foram estabelecida que exclusivamente com coetdneos e 0 principal foco do comper tamento dirigido socialmente foi 0 companheiro. J4 na zone dp adulto, as criangas associaram-se igualmente com a educadere com os coetdneos dirigitam-se socialmente mais para o adulto, © Papel de suporte mM mesmo ambiente se mais IS quase Na zona do adulto, as criangas envolveram-se principalmente em atividades relacionadas ao adulto, tais como observar 0 que ele faz, chamar sua atengdo e receber cuidados, e despenderam ‘menos tempo brincando. Nesta zona, muitas das brincadeiras foram com objetos manejados com agdes culturalmente definidas para os ‘mesmos, configurando o que alguns autores denominam uso candnico dos objetos. Tais brincadeiras ocorreram geralmente de maneira ‘solada, a0 lado da monitora. Segundo Hartup (1983), a proximidade do adulto é um forte estimulo para atrair a atengdo infantil. Assim, na zona do adulto € possivel que a figura da monitora chame muito a atengio das criangas, desviando-as do envolvimento com outros parceiros ou dificultando sua concentragdo em brincadeiras mais imaginativas. Por outro lado, 0 adulto funciona como uma figura de apego para algumas criangas, as quais buscam sua proximidade e atengio, como mostrou Legendre (1983, 1986, 1987, 1989). A area em 120 torno do adulto também parece se constituir em um “porto seguro”, tenguanto se brinca com 0 tinico exemplar disponivel de um objeto. Nas zonas cicunsertas ocorreu o inverso, onde as eriangas yincaram praticamente a metade do tempo, Ax zonas circunscritas predominio de atividades Iiidicas nas zonas circunscritas esti re- lacionado a crianga permanecer associada com coetineos. Essa relagdo foi analisada tomando saliente que as atividades Iddicas foram freqiientemente compartithadas com coetaneos, enquanto as ccriangas usualmente realizavam sozinhas as demais atividades. O envolvimento em temas Iidicos parece, pois, favorecer seqtiéncias mais longas de interagdo (Rubizno & Rossetti-Ferreira, 1992). Assim como Legendre (1686), observamos que as criangas fem nossos estudes ocupavam as zonas circunscritas em pequenos grupos, geralmente em diades, participando conjuntamente de ati- vidades sem a mediagao do adulto. Estas atividades, em geral, eram mais duradouras € estruturadas do que as desenvolvidas em utras dreas nio-circunscritas, Desa maneira, as zonas circunscritas favorecem a promogio € manutencio das interagdes entre criangas pequenas. Em nossa opinido, esta facilitagio ocorre em fungio da diminuigao da probabilidade de interrupgao da atividade por outras ciangas ou pela educadora, 0 que é freqilente em arranjos abertos. Ademais, as zonas circunscritas, fornecendo protegao ou privacidade, favorecem a crianga focalizar sua atengo tanto na atividade que est sendo desenvolvida bem como no comportamento do parceiro, requisitos essenciais para a ocorréncia de interagdo entre coeténeos, sobretudo com idade inferior a 3 anos, como propde Camaioni (1980). Além disto, por serem delimitadas por estantes baixas, as Zonas circunscritas acabaram por se constituir em superticies de apoio, como mesas, cadeiras ou outros tipos de aparadores comu- ‘mente encontrados em residéncias. Além das estantes, apenas 0 lugar onde a monitora sentava possibilitava um apoio para os objetos ou para © proprio corpo acima do nivel do piso. Desta forma, € possivel supor que as estantes davam mais suporte as brincadeiras (montar casinha, fazer comidinha, deitar 0 nené), a0 Possibilitar a reprodugio de agdes que em nossa cultura sio 121 geralmente desenvolvidas sobre sup. delimitados. Howes e Rubenste também apont in (apy Sa 84 estruturadas. Field (1980) © Mac mats interagdes © jogo de fantasia a ambiente 8 quails se constituem, dentre outros aspectos. em et & com fares elarasseparandoas dye demais reas de atividade: Assim, as. dri a canalizar a corrente de atividade infar sentagio no faz de conta de ativi. comer, tomar conta do nené, as qi conhecidos pelos parceiros, em torn -se_associadas, com possibili reas a Ieulagag eas citeunsertay pay til, possibilitandg q mee tides cotidianas como (or ais funcionam como geet : mas 9 dos quas as criangas sme ; le de constituirem-se nap 4. Organizagio espacial — relato de ui a ma experién de assessoria ae Os estudos aqui relatados € outros desenvolvidos por ross equipe, contribuiram sobremaneira para a elaboragao de uma pro- posta educacional para creches (Oliveira & Rossetti-Ferreira, 1993; Rosseti-Ferreira et al., 1991). De acordo com nossa perspectiva, além do cuidado fisico das criangas, cabe ao adulto a responsa- bilidade pela estruturagao € organizagio continua do ambiente, para favorecer o envolvimento das criangas em atividades e em interagdes com companheiros. Dessa maneira, 0 educador torna-se mais dis- Ponivel para observar as agdes das criancas e para estabelecer um contato mais individualizado com aquelas que perceba necessitarem de uma atengio especial, ou desenvolver alguma atividade com um pequeno subgrupo de criangas. Tendo em vista este novo papel da monitora na creche, Conduzimos um trabalho de assessoria, com énfase na organiza¢i° do espago, em uma das creches onde desenvolvemos a pesquiss. pss 0 término da coleta de dados. O fato de jé frequentarmos # reche por mais de um ano auxiliou sobremaneira nossa aceitagao Por scus profissionais. Mas sobretudo os resultados obtidos com 122 srupo de criangas e a respectiva monitora da propria creche, a re canals. para a intervengdo €-rvito, axa forme ego penal, Passaemos elt sucintamente ao entrada penta ergehe (Campos d& Carvalho, 1990 19906). ‘Como habitual nas creches da regitio de Ribeirio Preto, a mio das salas daquela creche nao propiciava que as criangas mtemente escothessem suas atividades. O espago apresen- fava um arranjo aberto, contend algumas mesinhas ¢ caderas spalhadas pela sala, onde o adulto colocava © mesmo material todo 0 grupo, de acordo com uma rotina pré-planejada de ftividades; os armérios € estantes com materiais eram nao-acessivels as criangas; havia pilha de colchonetes encostados na parede, sendo Somente utilizados no horirio de descanso apos 0 almogo. Durante um semestre foram realizadas reunides mensais com ‘as educadoras e demais funciondrias da creche. Inicialmente foi feita uma apresentagao sobre as caracteristicas da interagio entre ceriangas pequenas e dos dados obtidos no estudo conduzido maquela ‘creche. As possiveis implicagdes pedagdgicas destes dados foram discutidas, em termos: a) da organizagio espacial de um ambiente favorecendo 0 envolvimento conjunto das criangas em atividades, sem a mediagio direta do adulto; ¢ 6) 0 papel do adulto como ‘organizador continuo do ambiente, possibilitando sua atuagio di- retamente junto a crianga como um interlocutor privilegiado. A cada reunido percorriamos todas as salas de atendimento, desde as do bergdrio até as das criangas em idade escolar, por ‘com maior foco nas salas das criangas pré-escolares, sobretudo as de 2a 5 anos. Nestas visitas procuramos levantar com as monitoras ‘os materiais e equipamentos jé existentes nas préprias salas ou na creche, inclusive os nao-disponiveis as criangas, discutindo com. elas as_mudangas possiveis de serem introduzidas. A busca de materiais, © modo como reaproveité-los e onde coloci-los na sala ra iniciativa das proprias funciondrias, realizada entre uma reuniao © a seguinte. Surpreendeu-nos bastante a criatividade do pessoal No rearranjo das salas e em tomo da terceira reunizio j4 eram evidentes os progressos realizados. As discusses baseavam-se Sobretudo na percepcao das educadoras em relagdo as intluéncias 123, das modificagées ambientais por elas realizadas, ty tamento das criangas como em si préprias, ou sean 9° ©OMpor. midade para discussio tanto das necessidades propia tY °POmu. em desenvolvimento, bem como daquelas dos ——. Crianeas Viirias modificagdes foram realizadas, alterando ng © espago dispontvel, como a propria decoragao da n2°, MEME passou a contar, por exemplo, com vasos de flor, #, Mal desenhos das criangas colocados nas patedes. A organin ein Ole® © foi modificada com a montagem de zonas circunscritas snl mente nas salas das criangas menores de 4 anos. Vanier eee de atividades passaram a ficar disponiveis, cujo mobihings esiruturava zonas circunscritas como ndo — dea para atividen’ de lipis e papel, desenho ou colagem; drea para atividade dao € giz; dreas com materiis de sucata, para brincadeiras de earoe de garagem:; érea contendo almofadas, colchonetes e um bance ia automsvel, denominada pela educadora como “canto do pula pul {rea contendo os urinéis, denominada “canto do pinico": dea em geral onde © adulto se localizava, denominada “canto do papinho” A nova organizagio do espago passou a propiciar a escolha de atividades e parceiros pelas criancas, sem mediago direta do adulto, bem como a ocorréncia de atividades por este dirigidas com um pequeno subgrupo de criancas, estando as demais envolvidas em outras atividades. Além de redefinir 0 papel dos adultos, a ova proposta educacional colaborou no replanejamento das ativi- dades de rotina a serem desenvolvidas pelas criangas, reduzindo lanto a extrema rigidez freqiientemente observada, como o longo tempo de espera pelas criangas para serem atendidas, geralmente sem terem nada para fazer. J4 a partir da quinta reunido, as educadoras relataram com entusiasmo as conseqiiéncias positivas das modificagées, relatos esses muito semelhantes aos depoimentos das mesmas em um video realizado algum tempo apés, sobre o qual comentaremos Posteriormente, fee importante apontar que, durante as reunides, sobretudo as ae a Sueodoras traziam dificuldades ou problemas eres dineutge ie mPlementagdo da nova proposta pedagégica. Uma fades freqientemente relatadas dizia respeito ao fato de as 124 intos que propunham atividades ea rigidas pelo adulto (por exemplo, material de recorefcolagemie: fenho; quebra-cabera), Eniretanto, com 0 passar do Iemre Oe felatos evidenciavam que a maioria das criangas wtlizava Oe camtos de atividades, em subgrupos, inclusive os que continham s wateriais pedagégicos, solicitando esponta- criangas nfo escolherem os cal fos assim denominados m neamente ou aceitando 0 auxilio do adulto. ‘Outros temas foram trazidos pelas profissionais as reunides, tais como aprendizagem de escrita e leitura, preconceito racial, presenca quase que exclusiva de mulheres atuando em creches, educagao sexual etc. Ademais, dois videos foram levados as A sugestiio de materiais e atividades para io Iégico-matemitico e outro documen- reunides, um referindo- desenvolvimento do racio x tando um trabalho desenvolvido em uma creche de periferia da cidade de Sio Paulo (Melo et al., 1986). Ainda durante 0 processo de intervencio, as educadoras visitaram a Creche Carochinha — COSEAS-USP-Ribeirio Preto, na qual também a nossa proposta educacional estava na época sendo implementada. Tal creche conta com muito mais recursos e pessoal qualificado do que as creches de periferia, 0 que colabora para 0 alto padriio de qualidade no atendimento oferecido, tendo se transformado em uma creche-mo- delo. Cerea de 2 ou 3 meses apés 0 término das reunides foi realizado 0 video “Tempo de Mudangas na Creche Dom Bosco” (Magalhies & Rossetti-Ferreira, 1987), por uma pessoa que nio havia participado do processo de intervencao. Este video evidencia claramente que a implementagio da nova proposta cducacional Fompeu com o esquema tradicional de atuagio de profissionais de creches, pelo qual o adulto geralmente toma conta e propde a ‘mesma atividade concomitantemente para todo o grupo de criancas, Novamente ficou evidente com 0 trabalho de intervengio que 2 aranjo espn € um dos aspectos do contexto ambiental que re uma cl a ai Pelee cree clara influéncia no padrio de ocupagao do espaco cate crags Consegiientemente, na oportunidade de interagdes las € com 0 a ambéi f desenvolvicag. Ea ps Come também nas atividades por elas especificamenre inbofa Rossos estudos tenham focalizado mais © arranjo espacial, € importante lembrar que outros 125 axpectos do ambiente, (ais como os apontados inci sobre as fungdes dos ambientes, dover ac a0 se planejar ambientes infantis, nee aPresentacao ‘ontemplados Com 0 exposto acreditamos ter auxitiado 6 leitor mais sensivel aos aspectos fisicos dos ambientes ¢ 4 °° ‘mar comunicadas por eles, reconhecendo a necessidade fet ai lade de ine aspectos no planejamento de ambientes infanti uit esse 'S coletivos, **S Bibliografia BRON! NBRENNER, U, The Ecolog) 7 ! E 2y of Huma er Cambridge, Harvard University Press, 1979, ***l@pment CAMAIONI, L. L'tnterazione tra Bambini. Re OMe ini. Roma, Armando Ar- CAMPOS DE CARVALHO, M. I. Arranio Espacial Distriuigao de Criangas de 2-3 Anos pela Area de Atividades Livres em Creches. 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So alunas egressas de escolas de magistério ou de terceiro grau em Humanas, tem idades aproximadas e provém de uma mesma camada social; jé freqiientaram alguns cursos de aperfeigoamento para a pré-escola ce, apesar disto tudo, isto & de tritharem este mesmo caminho, em seu fazer diirio elas apresentavam comportamentos bastante dife- rentes em relagdo a seus alunos. Realmente isto constituia um 80 de mestrado oricatada pelo professor SSP em 1989. sio pela PUC-SP, fundadora € ditetora do 131

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