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Poder Judiciario Justiga do Trabalho Tribunal Regional do Trabalho da 2* Regido Ago Trabalhista - Rito Ordinario 1000625-08.2018.5.02.0001 Processo Judicial Eletrénico Data da Autuagao: 29/05/2018 Valor da causa: R$ 42.000,00 Partes: RECLAMANTE: OSVALDO GOMES DE SA ADVOGADO: MARIO SERGIO FERNANDES DE CARVALHO. RECLAMADO: ATENTO SAO PAULO SERVICOS DE SEGURANCA PATRIMONIAL EIRELI ADVOGADO: CYNTHIA ALVARES DE LIMA. ADVOGADO: CRISTIANE CALVO CASTILHONE PASCHOALIM RECLAMADO: MUNICIPIO DE SAO PAULO Fls:2 MINISTERIO PUBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO - 2" REGIAO RECURSO ORDINARIO - TRI/SP Processo n°: 1000625-08.2018.5.02.0001 (01° Vara do Trabalho de Sao Paulo) Municfpio de Sao Paulo : Osvaldo Gomes de S4 1. Recorrido: Atento Sao Paulo Servicos de Seguranca Patrimonial Eireli STERIO PUI B iO ELATORIO Trata-se de Recurso Ordinario interposto pela 2’ Reclamada objetivando a reforma da R. Sentenga no que concerne a responsabilizagao subsidiria pelas verbas deferidas ao Obreiro. Trata-se de Recurso Ordindrio interposto pelo Reclamante objetivando a reforma da R. Sentenga no que concerne 4 hora noturna, a hora extra, ao intervalo para refeicdéo e descanso, & multa de 1% sobre o valor da causa, 8 indenizacao por litigancia de m4-fé e aos honorérios de sucumbéncia Eo breve relatori IL - ADMISSIBILIDADE Pelo conhecimento dos recursos, por atendidos os pressupostos legais de admissibilidade. II - FUNDAMENTACAO Limitamo-nos a andlise do pedido de reforma da R. Sentenca relativamente a responsabilidade subsididria do ente_ptiblico, tendo em vista que quanto aos demais itens dos recursos néo se vislumbra a existéncia de interesse ptblico a autorizar a emissao de parecer circunstanciado, quer pela natureza da matéria tratada, quer pela qualidade das partes envolvidas na lide; sem prejuizo, contudo, de eventual futura manifestacao ou pedido de vista em sessio de julgamento, se necessério, nos termos do artigo 83 da Lei Complementar n° 75/93. © Responsabilidade subsidiaria Sobre a responsabilidade subsidiéria da reclamada, induvidosa a aplicabilidade da Samula 331, IV, do C. TST. Segundo as diretrizes agora estabelecidas, nao basta simplesmente ter 0 ente piiblico se valido da prestacdo de servios do empregado para que Ihe seja imputada a responsabilidade subsidiaria, devendo-se averiguar em minticias se as 1D. 4246361 - Pag. 1 MINISTERIO PUBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO - 2" REGIAO incorrecdes protagonizadas pelo empregador contratado advieram de falha ou de auséncia de fiscalizacao pelo contratante, 0 ente ptiblico. Situacdo disciplinada, inclusive, na nova redacao da simula retro mencionada, que acrescentou ao texto primitivo os incisos V e VL Prestigiando o que disciplinam o inciso III do artigo 58 e o artigo 67, ambos da Lei 8.666/93, 0 ente pitblico deve exercer com afinco a sua obrigacdo de monitorar e acompanhar se o prestador de servigos que contratou honra os contratos de trabalho dos empregados que mantém, O exercicio rigoroso ¢ obstinado do dever fiscalizatério ¢ 0 minimo que se espera do administrador na geréncia idénea da coisa piiblica. A declaragéo de constitucionalidade do artigo 71, § 1°, da Lei n® 8,666/93 nao impede a fixacao de responsabilidade da Administracdo Publica na terceirizacio, no caso concreto, em decorréncia da andlise das circunstancias e provas, visando a resguardar os princfpios da dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho (CF, art. 1°, incisos III e IV), sendo plenamente compativel com a decisdo do Supremo Tribunal Federal na Acdo Direta de Constitucionalidade n° 16. Novamente invocando as essenciais diretrizes estipuladas por nossa Corte Suprema, no AIRR 1162000320065150046, cujo julgamento em plenario teve vez em 24 de abril de 2013, sendo relator o eminente ministro Luiz Fux, o STF entendeu que, a despeito de o §1° do artigo 71 da Lei 8666/93 tenha sido declarado constitucional, tal circunstancia no afasta a administracao piblica da observancia dos principios constitucionais que lhe so insitos, como o da moralidade ¢ o da legalidade administrativas; a fiscalizagao junto as empresas contratadas, quanto ao cumprimento das obrigagGes trabalhistas respectivas, ¢ indispensdvel. Embora de dificil demonstracdo da culpa in eligendo, pois deve o Estado contratante submeter-se aos rigores da Lei 8.66/93, a modalidade in vigilando deve ser aplicada, sobretudo em homenagem ao principio da protecéo 20 trabalhador. Muito embora a contratacdo regular através de licitagéo ptiblica afaste a culpa in eligendo, nao restou demonstrado que 0 ente piblico contratante tenha fiscalizado 0 cumprimento do artigo 71 da Lei n° 8.666/93 pela empresa prestadora dos servicos no que diz respeito a quitacao de todos os encargos trabalhistas, 0 que caracteriza a sua culpa in vigilando e autoriza a responsabilizagdo subsididria, nos termos do item V, da Samula n° 331 do C. Tribunal Superior do Trabalho. Ressalte-se que o proprio artigo 67 da Lei de Licitacdes determina ao administrador a designacao de um representante para acompanhar e fiscalizar a execucdo do contrato, cabendo-lhe exigir a comprovacdo do cumprimento das obrigagdes trabalhistas e previdenciérias sob pena de aplicacao das sancdes legalmente previstas (artigo 87, III e IV). Apenas se fosse excluida a culpa, com a adocao, pelo ente piblico, das cautelas necessérias a fiel execugdo do contrato, seria cabivel a incidéncia literal da regra do artigo 71, § 1°, da Lei n° 8.666/1993, com a exclusio de sua responsabilidade. 1D. 4246361 - Pig. 2 Fis MINISTERIO PUBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO - 2" REGIAO Assim como € legitima a terceirizacdo pela administracao pablica, também o € sua responsabilizacdo por danos que seus agentes venham a causar a terceiros, af se incluindo os danos de natureza trabalhista, responsabilizacao essa expressamente prevista no §6°, do artigo 37, da Constituicao Federal. ‘Nessa perspectiva, a administragao ptiblica nao pode ficar a salvo da responsabilidade decorrente da lesdo aos direitos dos empregados por conduta inidénea da empresa contratada Entendo ser essa a correta interpretagdio do texto do artigo 67 da Lei n° 8,666/1993 em cotejo com o artigo 1°, inciso IIL, e os pertinentes incisos do artigo 7, todos da Constituicéo Federal. Ademais, a protesao ao trabalhador proveniente de norma fundamental supera aquela advinda de Lei Ordinaria. Em virtude de seus préprios contornos, a contratacao terceirizada, reunindo duas empresas ou entes puiblicos, prestadoras e tomadores de servicos, no polo contratante e 0 empregado no polo contratado, revela que ambas as empresas que contratam entre si precisam manter-se higidas e vigilantes no que diz respeito a consecucdo de todas as obrigacdes contratuais, inclusive quanto as obrigacdes trabalhistas, previdencidrias e fiscais, posto que a protecdo conferida pela Constituigdo Federal ao trabalhador esta inserida entre os direitos e garantias fundamentais, nao podendo ser relegada ao mero descumprimento, sob pena de afronta aos artigos constitucionais jé mencionados. ‘A par disso, o 6nus da prova de demonstrar que fiscalizou 0 contrato de prestagdo de servigos terceirizados ¢ do tomador, por tratar-se de fato impeditivo/extintivo do pedido de responsabilidade subsidiéria invocado pelo trabalhador, nos termos do art. 818, da CLT e art. 373, II, do CPC. Entretanto, 0 ente ptiblico ndo trouxe aos autos prova robusta para comprovar uma conduta diligente no acompanhamento das obrigacées sociais. Ademais, cumpre ressaltar a responsabilidade subsidiéria do tomador dos servicos abrange todas as verbas decorrentes da condenacao referentes ao perfodo da prestacdo laboral, nos termos do inciso VI da simula 331 do C.TST. Por fim, tratando-se de responsabilidade subsidiaria, nao tem o ente publico qualquer privilégio relativamente a isengdo de multas e percentual diferenciado de juros. Neste sentido a Orientacao Jurisprudencial n’ 382 da SBDI-1 do TST ea stimula n’ 09 deste Eg. TRT-2" Regio. Entendo ainda que, nao hé que se falar na aplicagdo da limitagao da Simula 363 do TST, eis que na hipétese nao hé pedido de reconhecimento de vinculo com o ente ptiblico tomador dos servicos. Nao se forma vinculo de emprego entre 0 ente piiblico e 0 trabalhador terceirizado, até porque o ingresso no servico pablico depende de concurso. Assim, entendo pela manutencio da R. Sentenca, [Nimero do proceso: 1000525.08,2018 502,000 1D. 4246361 - Pig. 3 Fis:4 Fis:5 MINISTERIO PUBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO - 2" REGIAO Iv - CONCLUSAO Diante do exposto, manifesta-se 0 Ministério Pablico do Trabalho pelo conhecimento e desprovimento do Recurso Ordinario interposto pela 2* Reclamada, nos termos da fundamentacao. Bo parecer. Sao Paulo, 16 de abril de 2019, (assinado digitalmente) VERA LUCIA CARLOS Procuradora do Trabalho 1D. 4246361 - Pag. 4

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