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Material de Apoio da Disciplina de Direito Civil VI – Direito das Famílias

Profª Luciane de Freitas

DO DIREITO PATRIMONIAL
DO REGIME DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES

1. Regime de bens é o estatuto que regula as relações patrimoniais decorrentes do


casamento. Possui o propósito de regular a titularidade e a administração dos bens do casal
produzindo efeitos entre si e perante terceiros.
A matéria é regulada nos arts. 1.639 a 1688, do CC/02. Quatro são os regimes de bens:
Comunhão Parcial, Comunhão Universal, Participação Final nos Aquestos e o regime de Separação
de Bens (que se subdivide em dois tipos: Separação Legal e Convencional).
 O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento (art. 1.639,
§1ª)
 O art. 1.640 determina que o regime legal (ou supletório) de bens do casamento é a comunhão
parcial e será aplicado ao casamento na hipótese de omissão de vontade dos nubentes.
Também deve ser aplicado nos casos de vícios que conduzam à nulidade do pacto antenupcial.

2. Princípios norteadores do regime de bens

2.1. Princípio da Livre estipulação (autonomia privada): É lícito aos nubentes, antes de celebrado o
casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver (art. 1.639).
 Ou seja, os cônjuges são livres para escolher o regime de bens que melhor atende seus
interesses, bem como fazer combinações entre eles, criando um regime misto.

Contudo, a liberdade de pactuar não é ABSOLUTA, uma vez que o pacto não pode conter
cláusulas que violem as normas de ordem pública a respeito da matéria. Ademais, o art. 1.641
prevê a imposição legal de Separação obrigatória de bens.

Exceção ao princípio da autonomia privada


 Salvo nos casos de comunhão parcial de bens e regime de separação obrigatória, a opção por
outro regime de bens requer a celebração de Pacto Antenupcial, realizada mediante escritura
pública anterior ao casamento, consoante determinação do art. 1.653 do CC/02 .

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2.2. Princípio da indivisibilidade do regime de bens: o regime de bens é único para ambos os
cônjuges, diante da isonomia constitucional entre marido e mulher.
 Exceção: o princípio da indivisibilidade é excepcionado na hipótese de casamento nulo ou
anulável em que apenas um dos cônjuges agiu de boa-fé. Nessas hipóteses, o regime de bens é
aplicado de forma diferente para cada um dos cônjuges. O regime de bens beneficiará o
cônjuge que agiu de boa-fé (Casamento putativo, art. 1.561, CC).

2.3. Princípio da variedade de regime de bens: O Código Civil consagra quatro possibilidades de
regimes de bens aos nubentes, podendo inclusive adotar um regime misto (ex: os cônjuges optam
pela separação de determinados bens e a comunhão quanto aos demais).
 No silêncio das partes, prevalecerá o regime da comunhão parcial, que é o regime legal ou
supletivo (art. 1.640, caput, do CC).

2.4. Princípio da mutabilidade justificada: O art. 1.639, § 2.º, do Código Civil, possibilita a alteração
do regime de bens, mediante autorização judicial, em pedido motivado de ambos os nubentes,
apurada a procedência das razões invocadas e desde que ressalvados os direitos de terceiros. Ver
Art. 734 CPC/2015.
 Enunciado 113 do CJF: “É admissível a alteração do regime de bens entre os cônjuges, quando
então o pedido, devidamente motivado e assinado por ambos os cônjuges, será objeto de
autorização judicial, com ressalva dos direitos de terceiros, inclusive dos entes públicos, após
perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza, exigida ampla publicidade”.
 Enunciado 262 da III Jornada de Direito Civil: A obrigatoriedade da separação de bens nas
hipóteses previstas nos incs. I e III do art. 1.641 do Código Civil não impede a alteração do
regime, desde que superada a causa que o impôs.
 Ou seja, o regime de bens só não será mutável na hipótese de separação obrigatória em razão
do casamento de pessoa maior de 70 (setenta) anos.

3. Meação: é metade do patrimônio comum do casal,


sobre a qual tem direito cada um dos cônjuges.
O direito à meação decorre do regime de bens
adotado no casamento (ou união estável)
 Compreende sempre a metade dos bens
objeto de comunicação pelo regime de bens.
.

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No regime da Comunhão Universal de Bens (CUB), todos os bens se comunicam, tanto
adquiridos anteriormente como posteriormente ao casamento, salvo cláusulas restritivas.
Na Comunhão Parcial de Bens (CPB), só se comunicam os bens adquiridos após o
casamento, sendo considerados particulares os que foram adquiridos por cada cônjuge, antes de se
casarem.

4. Atos que podem ser praticados pelo cônjuge, independentemente da autorização


do outro e independentemente do regime de bens

Atos relacionados com a administração geral das economias domésticas


e dos bens individuais ou do casal.

Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a
mulher podem livremente:

I – praticar todos os atos de disposição e de administração


necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações
estabelecida no inciso I do art. 1.647  (O casamento não pode restringir a
plena expansão das capacidades, habilidades, aptidões, sonhos e perspectivas
profissionais de cada cônjuge).
II – administrar os bens próprios  (O cônjuge pode administrar os
bens que são de sua exclusividade, ou seja, que não se comunicam em razão do
regime de bens).
III – desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados
ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial.
IV – demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a
invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto
nos incisos III e IV do art. 1.647  (Quando um dos cônjuges não participou na
formação do contrato de fiança e doação, esta omissão dá ensejo para buscar a
rescisão. Da mesma forma, o cônjuge pode pleitear a nulidade da fiança, se
prestada sem o seu consentimento).
V – reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou
transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os
bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver
separado de fato por mais de cinco anos.
VI – praticar todos os atos que não lhes forem vedados
expressamente.

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 Ainda, conforme o art. 1.643 do Código Civil, podem os cônjuges, independentemente
da autorização um do outro:

I – comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica 


(móveis, eletrodomésticos, etc).
II – obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.

 Nos termos do art. 1.644 do Código Civil, as dívidas contraídas em razão desses atos de
economia doméstica obrigam solidariamente ambos os cônjuges.

5. Atos que necessitam da outorga ou vênia conjugal

O art. 1.647 enuncia os atos e negócios que exigem outorga conjugal,


restringindo a autonomia privada
anuência da esposa (vênia/outorga uxória) e da anuência do marido (vênia/ outorga
marital).

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem
autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis  Obs: a vênia conjugal inclui,
também, os bens particulares de cada cônjuge, uma vez que seus frutos integram a
comunhão – se justifica pelo interesse na proteção da casa destinada à moradia da
família, ou aos bens que lhe assegurem estabilidade econômica.
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam
integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem
ou estabelecerem economia separada.

  O objeto da norma restringe-se às doações feitas aos filhos, por ocasião de se casarem, ou
estabelecerem economia separada, tendo em vista o princípio de solidariedade e o dever de colaboração
que devem prestar os pais nos momentos em que se dá a emancipação econômica dos filhos.
A falta da outorga conjugal pode ser suprida pelo juiz, quando o cônjuge não puder concedê-la
ou a denegue de maneira injusta (art. 1.648). E, não havendo suprimento, haverá nulidade relativa
do negócio jurídico (passível de anulação), estando a ação anulatória sujeita a prazo decadencial de
2 ANOS, a contar da dissolução da sociedade conjugal (art. 1.649).
 Enunciado 340 CJF: No regime da comunhão parcial de bens é sempre indispensável a
autorização do cônjuge, ou seu suprimento judicial, para atos de disposição sobre bens imóveis.

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 Exceção: Art. 1.656 do Código Civil: No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação
final nos aquestos, poder-se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que
particulares.

6. Pacto Antenupcial

A adoção do regime que não seja o legal ou supletivo se faz através de um contrato solene,
denominado “Pacto antenupcial”. Deve ser realizado antes do casamento, através de escritura
pública, na qual declaram os cônjuges o regime que adotam, se diverso do legal (podendo inclusive
fazer combinações entre os regimes existentes), bem como as condições ou adendos que resolvem
acrescentar.

Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que
lhes aprouver.

 Considerar as hipóteses em que a lei impõe a adoção do regime obrigatório da Separação de


bens (CC, art. 1.641, incisos I, II e III), .

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

 Não havendo convenção antenupcial, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará entre os cônjuges
o regime da Comunhão parcial (CC, art. 1.640).
 Será nulo o pacto antenupcial se não for formalizado por meio de escritura pública, como
prescreve o artigo 1.653 do Código Civil, e ineficaz se não lhe seguir o casamento.
 É nula a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta de lei (art. 1.655, CC)
 Ex: serão nulas serão as cláusulas que (a) dispensem os consortes do dever de mútua
assistência; (b) prive um dos cônjuges do poder familiar ou de assumir a direção do patrimônio
quando outro estiver em local ignorado; (c) alterem a ordem da vocação hereditária; (d)
ajustem a comunhão de bens, quando o casamento só podia realizar-se pelo regime da
separação; (e) estabeleçam que um dos cônjuges possa vender imóveis sem outorga conjugal.
 Pacto antenupcial que adotar o regime de participação final dos aquestos (exceção)  poder-
se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares. Adotado esse
regime, podem, portanto, os cônjuges convencionar a possibilidade da venda dos bens
particulares, sem a autorização de um ou de outro.
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 O vício em uma cláusula não contamina todo o pacto antenupcial, mantendo-se íntegras as
demais que não contrariam a ordem pública.
 Segundo o art. 1.654 do Código Civil, a eficácia do pacto antenupcial realizado por menor de
idade, fica condicionada à aprovação de seu representante legal, salvo as hipóteses de regime
obrigatório de separação de bens.

7. Regime da Comunhão Parcial de Bens (art. 1658, CC)

Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que


sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos
seguintes.

A regra básica é que se comunicam os bens adquiridos


durante o casamento a título oneroso, isto é, com o produto do trabalho de um ou de ambos.
Excluem-se os bens adquiridos a título gratuito, ou seja, por herança, doação e sub-rogação
(PEREIRA, 2020).

 O regime da Comunhão Parcial de bens é o regime legal ou supletório, ou seja, é o regime que
prevalece se não houver pacto entre os cônjuges, ou sendo este nulo ou ineficaz.
 No caso, existem três patrimônios, o exclusivo de cada cônjuge (bens que possuíam antes do
casamento) e patrimônio comum do casal (adquirido na constância do casamento).
 Esse regime também é o legal no caso de união estável, não havendo convenção em sentido
contrário, nos termos do art. 1.723, CC.

O art. 1.659 do Código Civil estabelece quais são os bens incomunicáveis, e, consequentemente,
excluídos da comunhão:

Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:


I - Os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na
constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar.

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 Nas doações, e mesmo na sucessão testamentária, para que haja comunicação, é necessário o
ato de vontade do doador e do testador, dispondo expressamente nesse sentido. Caso
contrário, quaisquer bens recebidos serão particulares.
 Sub-rogação consiste na substituição de uma coisa por outra, ou seja, a venda de um bem que
possuía antes do casamento para comprar outro.

II - Os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges


em sub-rogação dos bens particulares.

 Trata-se dos bens advindos no decorrer do casamento, excluindo-se da comunhão quando


adquiridos com o produto da venda daqueles existentes antes do casamento, caso de sub-
rogação. Ex: vende-se um bem que o cônjuge tinha quando casou, compra-se outro em negócio
celebrado durante a sociedade conjugal. Logo, continua sendo patrimônio próprio, embora se
altere a espécie do bem.
 Porém, caso o bem sub-rogado seja mais valioso que o alienado, a diferença de valor que não é
coberta com recursos próprios/particulares do cônjuge, passa a integrar o acervo comum.
 Ainda, entram na comunhão os frutos ou rendimentos dos bens doados ou herdados (art.
1.660, V, CC).
III - As obrigações anteriores ao casamento.

 Dois os requisitos necessários para caracterizá-las: a época em que as dívidas foram contraídas
(que deve ser anterior ao casamento); e a finalidade da obrigação, não relacionada ao
casamento, ou seja, a dívida não contribui para o outro cônjuge. Apenas entra na
responsabilidade comum se proveniente de despesas com os aprestos do casamento, ou que se
reverteu em proveito comum.

IV - As obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal.

 Só responde pela reparação dos danos causados pelos atos ilícitos o cônjuge que lhe deu causa.
Não importa a época em que ocorreram tais atos – se antes ou após o casamento.
 Obriga-se somente o cônjuge causador, eis que a responsabilidade pelo ato ilícito é pessoal e,
por isso mesmo, como consequência, pessoal é a dívida resultante dessa responsabilidade.
Contudo, se o dano proporcionou proveito ao patrimônio comum do casal, a indenização será
suportada pela totalidade dos bens.

V - Os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão.

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 Os bens de uso pessoal abrangem todos os apetrechos, objetos, joias, adornos, enfeites, roupas
e até móveis que a pessoa necessita e usa. São utilizados no cotidiano, para a vivência do
indivíduo, não se estendendo ao proveito de outras pessoas, mesmo que familiares. Não são
compartilhados e nem expressam, em geral, um conteúdo econômico elevado. Não incluem
bens que, embora também de uso pessoal, se prestam ao proveito de outros familiares, ou de
terceiros, como os automóveis e máquinas.
 Presume-se que os bens de uso pessoal foram adquiridos com recursos próprios, mas caso
representem investimento do casal, passam a se comunicar. Ex. Joias, roupas, celulares, acervo
de livros, notebook, etc.

VI - Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge.

 O salário, as remunerações em sentido amplo, a aposentadoria, etc.


 FGTS: o STJ estabeleceu que os valores do FGTS recebidos ao longo do casamento entram na
partilha de bens em caso de término da união (vide jurisprudência).
 Não se inclui, como incomunicáveis, os bens adquiridos com os proventos. As aquisições,
mesmo que resultantes dos proventos, integram a comunhão.

VII - As pensões (quantias pagas de forma periódica em virtude da lei, decisão


judicial, ato inter vivos ou causa mortis, visando a subsistência de alguém), meios-
soldos (metade do valor que o Estado paga ao militar reformado), montepios e
outras rendas semelhantes (pensão paga pelo Estado aos herdeiros de funcionário
público falecido).

 Ainda, o art. 1.661 do Código Civil dispõe que são incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver
por título uma causa anterior ao casamento. No caso de bem imóvel adquirido mediante
promessa de compra e venda anterior ao casamento, cuja escritura tenha se dado somente
após a celebração, é bem incomunicável.

O art. 1.660 do Código Civil traz os bens que entram na comunhão, que são comunicáveis:

Art. 1.660. Entram na comunhão:


I - Os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só
em nome de um dos cônjuges.

 O patrimônio comum será formado pelos bens adquiridos ao longo da vida conjugal, ainda que
colocados em nome de apenas um dos cônjuges, pois a lei presume a participação de ambos os
cônjuges na aquisição. Mesmo que o pagamento do bem tenha sido feito exclusivamente por
um deles, pertencerá a ambos de forma igual (50% para cada).

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II - Os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou
despesa anterior.

 Os bens adquiridos por fato eventual entram na comunhão. Assim ocorre com os prêmios
ganhos em loterias, sorteios, disputas e jogos, pois a sorte é considerada um fato eventual.

III - Os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os


cônjuges.

 Segundo já observado, os bens recebidos pelos cônjuges através de doação ou sucessão


classificam-se como próprios ou particulares, não se comunicam. Porém, se o testador ou o
doador atribuir expressamente a liberalidade a ambos os cônjuges, configura-se a comunhão.
Sobressai a vontade de favorecer o conjunto familiar, e não apenas um cônjuge.

IV - As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge.

 Todas as benfeitorias (necessárias, úteis ou voluptuárias), e assim quaisquer melhoramentos em


bens particulares de um ou outro cônjuge, ingressam na comunhão e passam a pertencer ao
patrimônio comum. Não interessa o montante da contribuição de cada cônjuge no
investimento, pois a partilha envolverá partes iguais.

V - O frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na


constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

 Incluem-se os frutos civis (rendimentos - aluguel) e os naturais (decorrentes da essência da


coisa principal – frutos de uma árvore).
 Igualmente, os aluguéis de um imóvel particular, que o cônjuge já possuía antes do casamento,
pertencem ao casal, deles podendo usufruir igualmente, empregando nas despesas comuns.

Art. 1.662. No regime da comunhão parcial, presumem-se adquiridos na constância


do casamento os bens móveis, quando não se provar que o foram em data
anterior.

 Quanto aos bens móveis, o art. 1.662 do Código Civil impõe a presunção de que foram
adquiridos por esforço comum na constância do casamento. Todavia, essa presunção é relativa
(iuris tantum) e pode ser afastada caso o cônjuge faça prova de que o móvel foi adquirido em
período anterior, gerando a incomunicabilidade.

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8. Regime da Comunhão Universal de Bens (art. 1.667, CC

A regra geral do regime implica na comunicabilidade de todos os bens, anteriores, presentes


e posteriores ao casamento, ainda que adquiridos em nome de um só dos cônjuges. Também se
comunicam os bens recebidos por um ou ambos os cônjuges por herança ou doação.

Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os


bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do
artigo seguinte.

 Até o advento da Lei do Divórcio (Lei 6515/1977) o regime legal no Brasil era o da Comunhão
Universal de bens. Desde então, tal regime é facultativo, ou seja, pode ser adotado pelas partes
mediante pacto antenupcial.
 Na Comunhão Universal, presume-se que os bens ingressam no acervo comum do casal como
se tivessem sido adquiridos igualitariamente pelos cônjuges. Ou seja, cada cônjuge tem direito a
uma metade ideal (meação) sobre todos os bens móveis e imóveis.

Porém, o art. 1.668 do Código Civil traz alguns bens como sendo incomunicáveis:

Art. 1.668. São excluídos da comunhão:


I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-
rogados em seu lugar.

 OBS: Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica
impenhorabilidade e incomunicabilidade.

II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes


de realizada a condição suspensiva.

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Art. 1.951. Pode o testador instituir herdeiros ou legatários, estabelecendo que,
por ocasião de sua morte, a herança ou o legado se transmita ao fiduciário,
resolvendo-se o direito deste, por sua morte, a certo tempo ou sob certa condição,
em favor de outrem, que se qualifica de fideicomissário.

 O fideicomisso é uma forma de substituição testamentária em que o primeiro herdeiro


(fiduciário) pode ser substituído por outro (fideicomissário).

III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com


seus aprestos, ou reverterem em proveito comum.

 Em outros termos, pode-se afirmar que as dívidas anteriores de cada cônjuge são
incomunicáveis, salvo as contraídas para aquisição do imóvel residencial do casal, para a
mobília, para o enxoval, para a festa do casamento, etc.

IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de


incomunicabilidade.

 Nesta situação, o bem doado por um cônjuge ao outro será próprio do donatário (favorecido),
não entrando na comunhão.

V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.


Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: [...]
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

 Cumpre referir que, assim como na comunhão parcial de bens, não se tratam de bens
incomunicáveis aqueles adquiridos com os proventos pessoais de cada cônjuge. As aquisições,
mesmo que resultantes dos proventos, integram a comunhão.
 Conforme o art. 1.669 do Código Civil, os frutos percebidos na constância da união, mesmo que
de bens incomunicáveis, são comuns. Exemplo: o aluguel de bem imóvel incomunicável
alugado.

9. Regime da Participação Final nos Aquestos (art. 1.672, CC)

Neste caso há união de dois regimes. Na constância do casamento prevalece o regime da


separação de bens, enquanto na extinção do vínculo conjugal prevalece o regime da comunhão
parcial.
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Art. 1.672. No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui
patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da
dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal,
a título oneroso, na constância do casamento.

 O artigo consigna que duas espécies formam o patrimônio próprio: os bens já existentes ao se
formar a sociedade conjugal e aqueles adquiridos durante o casamento, a título gratuito ou
oneroso. Porém, apenas os bens adquiridos onerosamente ingressam na partilha e formam a
meação.
 Enquanto não ocorrer a dissolução da sociedade conjugal, não há o que se falar em patrimônio
comum, ainda que parcial  há uma expectativa de direito, que será constituído no momento
que a sociedade conjugal chegar ao fim. Os cônjuges se comportam como se estivessem
submetidos a regime de separação absoluta.
 Porém, as pessoas casadas pelo regime da separação absoluta (separação convencional), estão
dispensadas de todas as imposições de outorga conjugal referidas no art. 1.647 do Código Civil,
enquanto as casadas pelo regime da participação final nos aquestos não estão dispensadas,
mesmo em se tratando de bens particulares. Há somente a possibilidade prevista no art. 1.656
do Código Civil, que autoriza previsão no pacto antenupcial no sentido de convencionar a livre
disposição dos bens imóveis, desde que particulares, o que implica a não incidência do inciso I
do art. 1.647 do Código Civil.
 O art. 1.673 do Código Civil expressa que integram o patrimônio próprio os bens que cada
cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento
 a administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente alienar,
se forem móveis. Quantos aos bens imóveis, impõe-se a outorga do cônjuge, salvo disposição
expressa em contrário no pacto antenupcial.
 Durante a constância do casamento, os bens adquiridos individualmente pelos cônjuges,
constituem patrimônio próprio, o que distingue este do regime da comunhão parcial, em que
todos os bens adquiridos onerosamente fazem parte do patrimônio comum, a partir do ato de
sua aquisição.
 Conforme o art. 1.679, se algum bem foi adquirido com participação efetiva de ambos os
cônjuges, há condomínio (50% para cada).
 De acordo com o art. 1.674, com a dissolução da sociedade conjugal (separação, divórcio, morte
ou invalidade), apurar-se-á o montante dos aquestos.

Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante


dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios próprios:
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;
III - as dívidas relativas a esses bens.

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Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o
casamento os bens móveis.

 Por sua vez, o parágrafo único, determina traz, quanto aos bens móveis, a presunção (relativa)
de que tenham sido adquiridos durante o casamento, o que implica na inclusão no cálculo dos
aquestos.
 O art. 1.683 traz que os bens são considerados em seus valores, na data da efetiva cessação da
convivência entre os cônjuges.
 Os bens imóveis, segundo o art. 1.681, são de propriedade do cônjuge cujo nome constar no
registro  impugnada a titularidade, caberá ao cônjuge proprietário provar a aquisição regular
dos bens.
 Por fim, o art. 1684 dispõe que, não havendo possibilidade ou conveniência da divisão do
patrimônio, poderá o cônjuge proprietário indenizar o outro, em dinheiro. Havendo
discordância ou impossibilidade desse pagamento, serão alienados judicialmente tantos bens
quantos bastarem.

10. Regime da Separação de Bens

O regime de separação de bens pode ser convencional (originário de pacto antenupcial), ou


obrigatório (imposto pela lei). O Código Civil traz apenas dois dispositivos acerca deste regime:

Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a


administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente
alienar ou gravar de ônus real.

Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal
na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação
em contrário no pacto antenupcial.

10.1 Regime de Separação Convencional de Bens (art. 1.687, CC)

Por meio dela, os cônjuges conservam exclusivamente para si os bens que possuíam quando
do casamento e aqueles que adquirirem na constância da união. Há a completa separação do
patrimônio dos cônjuges, significando a total incomunicabilidade do patrimônio  Regime que
exige pacto antenupcial, via escritura pública.

 Contudo, isso não significa que não exista o dever de mútua assistência entre os cônjuges,
inclusive material, como determina o art. 1.688.

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 Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um
dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.
 Ou seja, não haverá a comunicação de qualquer bem, seja anterior ou posterior ao casamento,
cabendo a administração desses bens exclusivamente ao proprietário.
 Considerando que o passivo também integra o regime de separação, não se comunicam os
débitos anteriores ou posteriores ao casamento, pelos quais responde apenas o consorte que
os contraiu.
 Conforme o art. 1.688 do Código Civil, ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as
despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo
estipulação em contrário no pacto antenupcial  onde a contribuição de cada cônjuge pode ser
definida de maneira diversa.
 Segundo a doutrina, tão somente na separação convencional há separação absoluta, sendo livre
a disposição dos bens, sem a necessidade da outorga conjugal, imposta pelo art. 1.647 do
Código Civil.

10.2 Separação de Bens Legal ou Obrigatória (art. 1.641, CC)

Dentro do regime de separação de bens, há hipóteses expressamente previstas de


separação, instituídas, sobretudo, com o escopo de proteger os bens de cada cônjuge em condições
específicas:

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;
II - da pessoa maior de 70 (setenta) anos;
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

 A fim de abrandar a rigidez da lei e ordenar a comunicabilidade patrimonial, o STF pacificou o


entendimento de que os bens havidos na constância do casamento devem se comunicar, com a
edição da Súmula 377: “No regime de separação legal de bens comunicam-se os bens adquiridos
na constância do casamento” (BRASIL, 1964).

 OBS: Enunciado 262 da III Jornada de Direito Civil  A obrigatoriedade da separação de bens
nas hipóteses previstas nos incs. I e III do art. 1.641 do Código Civil não impede a alteração do
regime, desde que superada a causa que o impôs.

Importante!!!

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Profª. Luciane de Freitas
 DIVÓRCIO: No regime de Separação Legal/Obrigatória de bens, comunicam-se os adquiridos na
constância do casamento, desde que comprovado o esforço comum para sua aquisição

No regime de Separação Legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde


que comprovado o esforço comum para sua aquisição. Esse esforço comum não pode ser presumido.
Deve ser comprovado. O regime de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória
de bens) é aquele previsto no art. 1.641 do Código Civil. STJ. 2ª Seção. EREsp 1.623.858-MG, Rel. Min.
Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado em 23/05/2018 (recurso
repetitivo) (Info 628).

A Súmula 377 do STF permanece válida?


 SIM. No entanto, o STJ fez uma releitura do conteúdo da Súmula 377, interpretada da seguinte
forma: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do
casamento”, desde que comprovado o esforço comum para sua aquisição. Nesse sentido: STJ.
4ª Turma. REsp 1.689.152/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017.

 O STJ possui julgados afirmando que essas regras sobre separação legal devem ser aplicadas
também no caso da união estável. Nesse sentido, a Segunda Seção, ressaltou, em releitura da
Súmula 377 do STF, decidiu que, no regime de separação legal, comunicam-se os bens
adquiridos na constância do casamento (ou união estável) desde que comprovado o esforço
comum para a sua aquisição (EREsp 1.623.858).

Separação LEGAL (obrigatória) ≠ Separação ABSOLUTA


Separação LEGAL (obrigatória Separação ABSOLUTA

É aquela prevista nas hipóteses do art. 1.641 É a separação convencional, ou seja, estipulada
do Código Civil. voluntariamente pelas partes (art. 1.687 do
CC).
No regime de separação legal de bens,
comunicam-se os adquiridos na constância do Na separação absoluta (convencional), não há
casamento, desde que comprovado o esforço comunicação dos bens adquiridos na
comum para sua aquisição. constância do casamento. Assim, somente
haverá separação absoluta (incomunicável) na
Aplica-se a Súmula 377 do STF. separação convencional.

Não se aplica a Súmula 377 do STF.

Bom Estudo 
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Profª. Luciane de Freitas

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