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FICHA TÉCNICA

ESCUTEM O SUICIDA
Autores:
Aristide Contente, Caveira Capoeira & Palmira AG
Digitalização e organização:
Editora Letras d´Ouro
Ilustração de capa:
Aristide Contente
Correção ortográfica:
Dr. Venâncio de Jesus Pascoal & Fanciis Pintal
ISBN:
978-989-536-708-5
Cuito, Rua Cidade de Luanda
AGRADECIMENTOS

Aos nossos amigos e familiares, ao Professor Venâncio de


Jesus Pascoal, ao Senhor Feliciano Veríssimo, ao Poeta
Franciis Pintal e Isaias Quipaca Zua.
DEDICATÓRIA

Aos que querem ser ouvidos e aos que precisam ouvir.


PREFÁCIO
Queremos que agora, penses em um quadro
pintado, não com cores vivas. Queremos que
penses em uma única cor, sem libido para
qualquer satisfação da vida…sem cenário para
criar e se desfazeres de pensamentos,
angústias, medos e sensações mais estranhas
que possas sentir agora. Queremos que tenhas
agora outro cenário: gritos, e outras vezes o
silêncio. Choro e apertos de mãos que nunca
sentes. Ou as tuas pálpebras dizendo que nada
está bem, e a tua alma tentando vir à tona
procurando um dia de descanso.
Escutem o suicida, traz consigo a
responsabilidade coletiva, carrega poemas
caracterizado pela sensibilidade humana e
apelativa sobre como encaramos uma
realidade que outrora fora estranha para nós.
As suas páginas são vivenciadas em cada
linha, versos e estrofes que são revestidos de
ambientes que possivelmente podes ter
contacto a eles.
Pulsos, sangues, lâminas, cordas, cigarros.
Este livro, é típico para quem está disposto a
estender a mão, dizer sim, para a compreensão
das diferentes manifestações das emoções
humanas. Quebrando o círculo vicioso da
dependência e as raízes não desenvolvidas da
cura que é a boa comunicação. É ainda, um
campo de concentração para as mais diversas
e variadas formas de entender a mente
humana, o vínculo de ligação de como
encaramos o mundo, as pessoas nele e tudo
que acaba tendo ligação connosco enquanto
sentimos e somos constituídos por cada átomo,
cada célula, e os diferentes nervos em nossos
corpos que transmitem-nos a boa parte da
informação sobre o nosso estado.

“Isaías Zua”
Poeta, escritor e romancista.
AUTORES:
“Não seja o motivo da sua morte e nem da morte de
alguém” (dos Milagres, 2023)
Fala-me de seus medos
Suas dores, seus segredos
Fala-me da depressão
Aquela que dá cabo da sua emoção.

Fala-me dos transtornos


Que te chamam lentamente
Dos cânticos noturnos
Que te tornam diferente

Fala-me dos monstros


Que vivem em sua mente
Fale daqueles que lhe tiram o sono
E te deixam doente

Carente
De personalidade
Descrente
Por não creres em estabilidade

Fala-me da lâmina sua má amiga


Que te acaricia com cortes
Finge que te alivia
Porém te leva a morte

Não respiras socorro


Não falas dos teus incómodos
Dá sua força fraca
E da estampada marca

Liberte-se do peso da sociedade


Essa que nada faz
Só vê suas iniquidades
E com nada se satisfaz

Dê o melhor de si
Seja tu
Ou seja eu
Seja alguém ou seja o isqueiro
Estou de ouvidos, sou seu amigo.
Sorri, preferi fingir
Caí, preferiram rir
Oh! Povo pouco hospitaleiro
Riam e não viam lágrimas de desespero
O Suicida falou (…)
Vocês não o entenderam

Me cortei
Disseram ser frescura
Africano não sofre depressão
Isso é coisa dos tugas

Então me calei
Não adianta, falei
Chamaram-me egoísta
Foste, por que não pediste ajuda?
Lembrei
Cada lágrima que eu derramei
Era eu pedindo socorro
A vocês eu clamei
Me ignoraram
Me chamaram tolo

Não aguentei, não por ser fraco.


Não aguentei por muito ser julgado.
Pela família ser desprezado
Na rua pouco escutado
Amigos eu não tinha ao meu lado;

E fora, os terrores do passado me


atormentavam
Meu sofrimento era latente
Eu mostrava não estar bem
Até tinha um jeito diferente;
Mas vocês julgaram e falaram: você não é
gente
E o pior, é que isso vinha de quem se dizia
crente
Então na minha mudança fui ficando
descrente.

Despi a alma
Despi minha pele
Esfreguei-me na lama
Afoguei-me na tese:

"O Africano é forte


E de depressão! Não morre"

E essa tua face


Triste e morta
Desesperançada
Pesada
Pelos clicks nas costas
É um parágrafo da sua história
Então, se as cicatrizes
Não foram suficientes
Então falhei
Aristide Elias Esperança Contente ou simplesmente Aristide
Contente, nascido ao 04 de Março de 2001, natural de Cuito,
Província do Bié. Escritor, Poeta, Compositor, designer gráfico,
decorador, formador profissional, informático e professor de
formação. Vem a fascinar pessoas com os seus escritos há três
anos e desde lá, já conta com 4 livros lançados de formas
independente e em nome de editoras como: CONTOS &
EMOÇÕES (Cuito-Bié), EDITORIALISTA E HUMANIDADE DAS
LETRAS (ambas de Luanda). É atualmente CEO da Editora
Letras d´Ouro e membro da comunidade de artistas DIZWI.
Tem a vida como sua maior fonte de inspiração.

- Fiz da mente um útero para nascer poesias.


Poetiza-me Ó! Doce dor
Faça-me conhecer os teus escritos
sua voz, o teu estilo
E o teu lado conotativo

Poetiza-me!
Com versos e prosas
Com o teu cheiro noturno à rosas
E com esse ser estranho que amo

Poetiza-me!
Até abraçar o que não vejo
Até, doar-me aos percevejos
Por causa da intolerância dos erros
E medos meus

Toca-me com o teu ser frio


E banha-me sem águas
Faça-me ver todas as vidas que vivi
Numa só vida
Mas, não toque nas mágoas
Peço-te:
Venha encantar os meus dias
Traga-me fotografias
De quando achava que nunca seria ferido
E aquelas, que os cacos só rasgavam a pele e
não a alma

Seja o doce dos meus amargos


A direção dos meus ensaios
O plano dos meus míseros centavos
O passado, e o presente denotativo
Seja o vento
Em direção ao meu caminho
Seja a chuva
Em minha terra seca

Ó! Dor, doce dor


Com voz de poeta acolhedor
Oi amigos
Faz tempo que não nos falamos
Que não saímos juntos
Tempo que não ligo

Faz tempo que desejo estar sozinho


Vivo ou morto, tanto faz
Rejeitei os anjos
E abracei o estranho
Para ter paz

Depois da morte dos meus pais


Mudei
Não superei, e como superar?
Disse que enterrei
Que me conformei
Mas como me conformar?
Na verdade
Escavei a dor
E hoje encontro-me dentro dela
Sei que isso me matou

Porque não me ouço


Não me sinto
Sofro e ainda minto
Janelas e porta fechadas
Luzes apagadas
Quarto à minha pele, escura
Abraço-me inseguramente

Pele despida
Alma cansada
Lágrimas ficaram artistas
Compositam minha desgraça

Por isso choro

Choro em mim
Choro por mim
Pelo presente
E choro pelo fim
Que desconheço
Mas a desejo.
Há 5 anos
Falavas fora das escritas
Sentias
Tinhas planos
E por eles, davas a vida

Havia em ti sorriso
A maior das artes
Tinhas consigo
No corpo, na alma e no céu
Pintado nos teus olhos

Vias no espelho
A dança do seu reflexo
Sobre cada conquista
Sobre cada Victória

Tinhas um nome
Já foste enorme
Mas, quem tu és agora?
- Eu sou...
Parte das flores
Das dores que sinto
Parte dos designs que pinto

Com cada lágrima


Que no chão se torna argila
Com cada parte do meu corpo
Que desconhece a alegria

Eu mudei
Tornei-me prisioneiro
Não foi o que sonhei
Mas, tudo é passageiro

Só não sei...
Se esse lado passa
Ou permanece
Se Deus se ausenta ou me alcança
Nessa noite. Para não partir longe d'Ele.
Talvez viver não seja ter vida
Talvez não seja sentir
Não seja absolutamente nada
Além de partir

Sem cura
Sem Ternura nenhuma
Sem saber se é pura
A essência do céu e o do inferno

Fiquemos na incerteza
E se
Tal incerteza for a certeza
De que
Viver não seja ter vida
Talvez eu morra hoje
Talvez eu reze para que me perdoem
Caso seja errado
Ser diferente.
Meu rosto é choro
Meu rosto é tristeza
Meu viver é morto
Meu ser é sem vida

Meu sentir é inexistente


Minha voz não se ouve
Ouvem-se as cicatrizes

Isso não é só poesia


Não são só letras
Sou eu nelas
Grafitado

Não é só poesia
É dor sentida
Sem dores
É nela onde me plantei
Não é só poesia
São lutas vencidas
Feridas sem cura
São artes e solidão profunda
Toco-me sem me sentir
Sinto-me sem me tocar
Ouço-me sem falar
E falo sem me ouvir

Sinto que sou quando não


E quando não sinto, sou
Muitas vezes Eufemo
Poucas vezes dísfemo

Matei-me sem morrer


Morri sem me matar
Porque nem todos os cortes
Faziam-me sangrar
E se nem todos os cortes me faziam sangrar
Cortei-me ainda mais

Tirei o Eu de mim
Pus o estranho
Porque nunca fui eu
Dentro de mim
Se não mais um estranho

Amarrado ao desespero
E sobretudo indefinido
Pensem
Que alguém está sempre sorrindo
Que alguém está ultrapassando tudo
Que não precisa de amigos
Porque multiplica-se a cada segundo

Pensem
Que todos são
Fortes
Que nunca perderam o norte
Que nunca estão no chão

Que todos esses cortes


Não passam de ilusão
Essa falta de não sentir vida em cima da vida
Não passa de um momento de decepção
Pensem
Que essas lágrimas não dizem nada
Que ninguém foi de preto pintado a alma
Era frescura
Na altura
Incrível moldura
Analgésico para a cura
Das ausências

Simples tristeza
Simples medo
Parte da natureza
Humana
Simples choros
Simples tédio
Pela vida

O que pensava
Nunca foi
O que nunca pensei
Sempre foi
Cárcere, prisão
Sem identificação
Conheci quando me perdi
Quando já havia sombras em mim
Quando pus fim
Ao que seria

E o que temia
Apareceu
O que não disse nas minhas eufemias
Em mim envelheceu

Socorro!
Se não me ouve a terra
Ouça-me Ho céu.
...
...
...
...

...
...
...

...
...
...
...

...
...
Essas são as minhas
Últimas palavras
Palmira Nalunda Chilongafeca, nascida aos 06 de Maio de
2003, natural do Huambo, município do Bailundo.
Começou a escrever aos 13 anos de idade, mas
profissionalmente em 2020 durante o período de
confinamento, Já conta com um livro lançado, isto em 2021, o
mesmo foi publicado pela Fada Editora. Participou das
Coletâneas: 28 Amores Pintado de Esperança (Mukongo
Magazine). & Fadistas (Fada Editora)
Tem como sua fonte de inspiração Fernando Pessoa e Augusto
Cury.
Atualmente é a chefe de Marketing da Editora Letras d´Ouro.
Antes que eu parta
Fale que me amas
Independentemente de suas falhas
Você em mim acreditavas

Antes que eu parta


Certifique-se que tens o meu perdão
Pois, em breve estarei a 7 palmas do chão
Deixarei de viver por conta da ansiedade e
depressão.

Antes que eu parta


Lembre-se, o quanto erraste comigo
Não soubeste ajudar
Foste mal amigo

Antes que eu parta.


Saiba que os loucos também amam
Sofrem e lágrimas derramam
Somos humanos, temos alma

Antes que eu parta


Saiba que não foi pouca a minha dor
A depressão me abraçou
Mas foi a sua ignorância quem me matou.
Não sou demente
Não tenho frescura
Vivo descontente
Agora a depressão me assusta

Ouvi-me quem quiser…

Sou um jovem carente


Precisando de atenção
Não me chames doente
Quero sua compreensão

Sei que sou o chato


O fraco
O que vive chorando nos cantos
E vive reclamando
Se puder me ajude
É que isso me confunde
Preciso de orientação
Antes que a depressão me afunde

Ouvi-me quem quiser.


Menino Malandro
De boa aparência
E por todas desejado
Por fora jovem alto-confiante
Bem lá dentro
Sem alma, um morto andante

Depressão é sua outra face


Realidade que até sua Mãe desconhece
Bipolar este jovem
Oh! Gente minha
Por favor não me sufoquem

Duas caras tenho


Uma disfarça o medo
Outra rende-se ao desespero
Meu sorriso realça euforia
No fundo dos meus olhos vê-se à melancolia.
Já quis morrer
Para com minha ausência
Magoar quem outrora me fez sofrer

Quis desaparecer
E deixar a culpa da minha partida lhe corroer
Que ele me visse a padecer
E perante a mim
Ver seu rosto entristecer

Já quis morrer
Com dor no coração, tentei suicidar-me
Já que minha existência não o fazia mudar
Então com minha morte lhe quis presentear
Sim, já quis morrer
Por ele eu já quis padecer.
Vejo-me sufocada
Toda trémula e assustada
Com dor, minha garganta rasgava
Choro da alma

Vivo uma vida de incertezas


Lágrimas caem demostrando tristeza
Minha vida espelha frieza

Choro sem vaidade


Grito inconformada
Só quero a verdade
E ser amada

Todos vêem, ninguém ajuda


Eles apenas me culpam
Com sua ignorância tornam-me surda e muda
Chorei, gritei e cansei.
O suicida falou
Vocês não o ouviram
Para vocês suplicou
Dele se riram

De Frescura
À depressão profunda
Foi se tornando cada vez mais confusa
(mente)
Nossas palavras não foram grande ajuda

Elas foram piores que a espada inimiga


Mataram o seu psicológico
Foram deixando ele cada vez mais louco
A lâmina que o feria, tornou-se sua melhor
amiga
Julgaram-no, causaram- no feridas
Tiraram - no aos poucos a vida

Fizeram- no acreditar que não existia


depressão
Foram vocês os escultores de seu caixão.
Na escuridão da noite
Soa em mim o grito da alma doente
As vozes malditas ecoam novamente

Inocente me vejo chorando


Desse demónio, hoje sou escravo
A depressão minha prisão, meu palácio

Mate-se!
Elas dizem…
És inútil
Ao suicídio me conduzem

No adormecer do homem
A lâmina ganha vida
Parece mentira
Os cortes que ela me faz aliviam
Atormentam a minha mente
Sou psicopata!
Para muitos, o demente.
Escrevi poemas recheados de dor
Por conta da culpa que até hoje a mim corrói
A cada estrofe, uma parte minha se constrói
Nesse processo sou o eterno sofredor

Partilhei mensagens com o mundo


Não as souberam ler
Gritei que ia cada vez mais fundo
Apegado as convecções fui obrigado a
conviver

E quando morri
Suas lágrimas não paravam de cair
Se me tivessem ajudado
Talvez eu ainda hoje estivesse a sorrir.
A cada crise, a depressão abafava
A cada grito, minha garganta despedaçava
Doía tanto
Que preferi ficar calado.

Serei hoje apenas uma lembrança


Do jovem que sempre viveu sem esperança
Serei hoje vosso castigo
Por me desprezarem
E não serem bons amigos.

OBS: Inspirado no livro “A carta do além” de

Daniel Said.
Aquele sorriso eloquente
Que agrada a toda gente
Esconde uma mente débil

Lágrimas não fazem meu tipo


Prefiro risos
Decide não mais lacrimejar
Invés disso vou dar Cachinadas

Risadas de tristeza
Dor e fraquezas
Risos que escondem minha profunda dor lenta

Sorrisos rasgados
Choros ofuscados
Sorrindo eu escondo
Dores com que todos os dias eu me defronto
Dou risadas
Sociedade tem-me como palhaça
Não sabem que com isso escondo minha
alma
Que há muito tempo está cansada
E cheia de mágoas

“Para quê chorar se posso rir”


Não é querer atenção

É que a depressão já me consome a um


tempão

Não é fuleiragem

Ouçam-me homens

Que só julgam

Vossa empatia facilita meu processo de cura

É que desacreditei em mim por causa do


vosso olhar

Para vocês é fácil falar, amam criticar

Não é sobre querer ser o mocinho da fita

É que vossa incredulidade é descomunal

Como pode alguém ser tão indiferente diante


de tal situação
A melancolia profunda como a depressão não
é algo normal

Não é que eu queira confusão

É que na passividade vocês nunca ouvirão

Enquanto esperamos, nossas dores só


aumentam

Quando um morre, aí vocês comentam.


Caveira Capoeira é o pseudónimo de Matheus Freitas
Betamelo nascido aos 19/06/2001 no Brasil, cidade de
Campinas São Paulo (região que até hoje reside). Desde sua
infância tinha muita dificuldade com à leitura (tanto que
reprovou no primeiro ano do ensino fundamental). Portanto,
depois da repetência da primeira série, começou a gostar de
ler livros… Foi assim, que surgiu o seu gosto pela leitura mas
seu foco em escrever começou a partir dos 16 anos de idade.
E hoje escreve para abrir à mente da sociedade e do mundo.
Tornou-se membro da Editora Letras d´Ouro e este é o primeiro
livro que participa como autor.
Mais uma vez refém dos pensamentos
Cada letra que escrevo são lamentos
Lamentos por não conseguir ser quem queria
Lamentos por ser imensa minha agonia.

Não ria
Minha dor é real
Ela dói e machuca como se fosse para matar
Já tentei me acostumar
Tentei de tudo
Mas, ela insiste em me procurar
Estou cansado de falar para o mundo

Quando ver alguém sofrendo não julgue


Ajude
Você estará fazendo à diferença
Onde muitos sofrem
E outros dizem:
É falta de crença.
Mais uma vez oprimido
Junto do meu pior inimigo
Junto de meus sentimentos
Minhas poesias, meus lamentos

Estou perdido em meio aos problemas da vida


Ando preocupado em passar as escadas
Sou uma alma, das bem sofridas
Acostumei-me com as caídas

Acostumei-me com as idas


Mesmo assim, vou seguindo minha
caminhada
Pensando que não valho nada.

Que a sociedade me feriu


Que minha mente poluída deixaram
Praticamente me mataram
E ninguém sabe o quanto dói essas feridas
Elas me fazem querer tirar a vida
Mas esqueçam tudo que falei
Esqueçam que me isolei.
As vezes pareço um pobre coitado
Mas só eu sei o que é passar madrugadas
acordado

Muitos acham que minha dor é loucura


Não entendem minha luta
Tento em meio a dor ainda manter a conduta

As vezes muitos culpam Adão e Eva por terem


trazido o pecado ao mundo
Mas os mesmos veem nosso sofrimento e se
fazem de mudos e surdos
A vida é cheia de seus absurdos

E a cada mensagem nova


Uma verdade atona
Da dor que habita em mim
Do meu desejo de fugir
Do medo sem fim
Já não posso fingir

Entre auto mutilações e lâminas


ensanguentadas
Vou percebendo que para muitos sou um
nada

Eu queria que minhas palavras tivessem


poder
Eu queria ter o dom de tirar de todos nós à
vontade de morrer
Olá a todos
Aqui quem escreve é um triste poeta
Que sofre nas madrugadas
Que chora de boca calada

Cada dia que se passa me sinto mais distante


das pessoas
Prefiro as gruas
Em vez das cidades
A velhice nua
Em vez da mocidade

Em meio a turgescência
Mais uma gota, sai em mim mais lágrimas de
tristeza
Então por favor me ajude!
Pegue na minha mão e fale: "Vamos, Lute"
Não me chame de fraco
Pois só estou cansado

Não digas palavras torpes


Sabes que me podem machucar
Se não tens o que falar
Faça-me o favor de se calar.
A vida é complicada
Ontem mal consegui dormir
Estou acostumado a viver assim
A dor vem há anos fazendo parte de mim

Faço rap para abrir a mente


Sei que muitos estão saturados de ouvir nos
meus slam sobre dor
Peço perdão, isso é porque talvez eu nunca
tenha conhecido o amor

Estou caminhando só nessa vida


Tentando sozinho fechar as feridas
Muitos verão o mesmo como forma de chamar
atenção
Outra grande parcela vai achar que sou um
adulto mimado
Não estou ligando
Apenas sei que estou morto por dentro e por
fora vivo
Mas é naquele pique acredito, que meus
orixás me trarão dias de glória.
Sinto-me pior que um foragido
Ando fraco sem rumo
Sentenciado

Energia a se acabar
Não aguento brigar
Sinto-me a me sufocar
Meus transtornos estão a me bloquear
Desfaleço
Vivo horrores

Vezes tem a voz do anjo do meu lado direito


Do diabo ao esquerdo.
E não vou mentir, as vezes tenho escutado
mais a voz do diabo

Talvez esse seja meu defeito


Mas fazer oque?
Ninguém é perfeito
Só sei que está cansativo ter todos esses
conflitos internos
E ainda carregar responsabilidades à peito.
Vida vazia
Cheia de agonias
Muitos pra prejudicar
Poucos para ajudar

Você luta para não chorar, só que a lágrima


escorre e insiste em continuar

A vida parece rosas é bonita porém, cheia de


espinhos
É difícil seguir meu caminho
Insisto em lutar
Mas as ideias suicidas não param de gritar

Tudo dói
Tudo machuca
De forma enorme
Depressão é coisa de gente mole
Por isso já me cortei e me queimei com o
cigarro
Pois é difícil se sentir pior que um inseto
Vezes acho que tudo que estou vivendo
nunca vai passar
Parece que a dor e sofrimento nunca me vão
deixar

Aos prantos de dor


Faço minha reza
E peço a ti Senhor
Que o mal que me atormenta
Venhas de mim tirar.
Hoje estou em total desespero
A N'zambi faço até um apelo
Peço proteção, saúde e menos preocupação
Peço que N'zambi tire a dor que habita em
meu coração

Pois é triste a solidão


Vezes é ruim todos te olharem com desilusão
Isso me envenena
Tento seguir com a mente plena
Mas, não consigo esquecer os problemas

"Tudo vai dar certo" ouvi isso centenas de


vezes
Mas ainda estou aqui dizendo:
"Quero matar-me".
Mas lá no fundo acho que não
Quero apenas sair desse escuro profundo
Elevar-me ao desejo de viver
Deixar de sofrer

Mas sinceramente, acho que até Deus de mim


está cansado
Acho que eu já estou até condenado

Minhas palavras são a pura realidade


Eu escrevo para mostrar que à depressão
existe de verdade
A cada letra que escrevo percebo que vou
perdendo a sanidade

Mas tenho fé nas minhas entidades


E sei que vou vencer essas dificuldades.
Hoje venho escrever novamente
Mostrar o quanto sou indeliquente
Mostrar que a cada dia ando mais carente

Vejo-me nessa longa caminhada descrente


E ausente
Minha mente é doentia
É enorme a agonia
Já pedi para Deus me curar
Já tentei orar e rezar
Mas parece que nesse universo ninguém é
capaz de me escutar

Então vou levando a vida


Carregando bagagens do passado
Crer que um dia alguém vai ajudar
E dessa triste vida de quedas vou poder me
levantar.
Mais uma vez sob efeito de álcool
Sei que estou me auto destruindo, mas não
consigo mais caminhar
Tem sido duro lutar
Tem sido duro já não conseguir chorar

Mas eu tenho fé nos orixás e em mim, e sei


que vou superar tudo de ruim

Aqui tudo é sem nexo ou desconexo


Espero não estar exagerando nos versos
Então, peço humildemente perdão
Pois, maior que meu erro
É minha dor e escuridão.
FIM
VOCABULÁRIO

Eufemismo- redução da gravidade de uma


informação (Eufemo-pessoa com capacidade
de reduzir a gravidade de uma informação);
Disfemo- Contrário de Eufemo;
Tugas- Português ou pessoa nascida em
Portugal;
Fuleiragem- Frescura, apego as convicções;
Cachinadas- Gargalhadas, risadas…
Orixás- entidades de raiz africana.
SOBRE NÓS

Somos a editora Letras de Ouro, criada aos 05 de Março


de 2023 pelo escritor e criador de conteúdos Zaqueu
Máquina. Situada na província do Bié, Município do
Cuito, Bairro Militar. É uma editora maioritariamente de
escritores jovens como: Zaqueu Máquina, Aristide
Contente, Palmira AG, Bernadeth dos Milagres, Américo
Lucas e Feliciano Veríssimo.
Seu principal objetivo é aculturar Angola com a leitura de
livro e tornar a venda de livros acessíveis. Além destes,
existem outros como: potencializar a Província do Bié em
termos de arte, descobrir talentos e lapidá-los, uma vez
que a editora não tem seu foco apenas nos jovens
escritores e poetas. Somos apoiados pela Comunidade
de Artistas DIZWI e pela AJE SUL-BIÉ.
OBRAS DE ESCRITORES DA EDITORA:

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