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A Luz na Escuridão

Elisete Duarte

Copyright © 2015 por Elisete Duarte

Todos os direitos reservados.


1ª Edição

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra sem a autorização


prévia do autor.

Todos os personagens desta obra são fictícios.

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera


coincidência.

Barueri - SP
— Não, não e não! — gritei impaciente. Como
poderia aceitar a sugestão daquele homem lindo

sussurrando ao meu ouvido, um desconhecido.

— Por favor, me escuta, eu sou a sua única opção.

— O hálito quente penetrou nos meus ouvidos,

confundindo meu cérebro e minha razão. Suas mãos

seguraram em meu ombro e seu nariz mergulhou para a

curva do meu pescoço aspirando meu perfume e me

fazendo estremecer. Delirei em total rendição a um


sentimento intenso ao qual eu não tinha controle algum. —

Vem comigo, por favor.

Balancei a cabeça em negação, como seria possível


abandonar tudo, aliás, é uma vida inteira... Mas que vida?

Nada me lembrava...
— Não insiste, por favor — respondi mesmo assim,

embora com o coração apertado no peito.

Aquele rosto perfeito, marcante, de maxilares

fortes, queixo quadrado e olhos expressivos em tons de


cinza, ansiosos brilhavam tentando me convencer. Era a

coisa mais sedutora do mundo. Suas mãos escorregaram a

minha cintura segurando forte impedindo-me de cair no

abismo logo atrás de mim, podia sentir meu corpo

inclinando no vazio.

— Por que não? — Ele perguntou com sua voz


rouca e profunda que me fez fechar os olhos, ouvia as

batidas fortes do meu coração.

Balancei a cabeça confusa fazendo-me a mesma

pergunta. Por que não? Sinto-me puxada àquele abismo, a


um medo que me abraça, um medo ao qual não
compreendo e não sei de onde vem, a angústia bate com
força em meu coração amedrontando-me. Olhei em seus
olhos, eu não o conheço, então por que ele me traz

segurança e calma sobrepondo todo aquele sentimento

ruim? A sua presença me transmite paz interior, algo

bom... Uma oferta tentadora, ele queria evitar que eu

caísse no abismo ao qual acreditava que seria a minha

única saída... Fechei meus olhos com a sua oferta, quando

a voz irritante que me acompanhava gritou dentro da


minha cabeça. "Não... você não pode ir com ele. Siga em

frente, você já está quase lá, falta pouco. Não vai escutar
este homem, ele mente para você.".

— Eu não posso decidir por você — disse o


homem paciente. — A decisão é sua, mas lembre-se: você

pode lutar e determinar um futuro brilhante, ou pode dar


crédito à voz do engano que grita na sua cabeça e se
deixar cair no abismo.

— Quem é você afinal? — perguntei.

Ele abriu um lindo sorriso.

— Alguém que estende a mão para você e quero te

dizer que às vezes nos esquecemos da força que há dentro

de nós e nos tornamos escravos daquilo que nos assusta,

como se fosse mais forte do que nós. Mas nada, nada

mesmo, é capaz de enfraquecer um coração forte, valente.

Nunca ouviu o ditado: "Que Deus nunca dá um fardo


maior do que podemos carregar?".

Suas palavras tocavam fundo em meu coração e

meus olhos se explodiram em lágrimas... Deitei a cabeça

em seu peito e ele deitou sua cabeça sobre a minha,


chorei...
— Se quiser, pode vir comigo, ou pode cair, a

decisão é sua, só sua... Comigo vai ter a sua chance, um


futuro promissor, como nunca sonhou antes — finalizou o

homem.

— Está me propondo uma oportunidade? —

murmurei entre as lágrimas enquanto uma de suas mãos

vai a minha cabeça deslizando sobre os meus cabelos.

— Uma imensa oportunidade, tudo que a vida pode


lhe proporcionar.

"Não seja idiota... não caia nesta.", a voz irritante


gritou na minha cabeça novamente.

O homem se afastou e olhou-me diretamente nos

olhos e sorriu gentilmente.

— Eu poderia fortalecer o seu coração, ajudá-la


nesta sua caminhada, vai encontrar seu caminho e ser
feliz, pode acreditar... É só dizer que sim... — falou de um
jeito como se soubesse da voz do contra gritando na minha

cabeça. Olhei em seus olhos quase me convencendo a ir

com ele. — Coragem... existe um futuro brilhante

esperando você, deseje-o — implorou o homem. Comecei

a rir e a chorar ao mesmo tempo, decidida, convencida de

que era isso que eu queria, uma nova oportunidade e ele

me oferecia tudo aquilo.

Comecei a sentir pontadas em meu coração, uma

dor dilacerante no peito, sem conseguir respirar. Neste


instante as suas mãos que me protegiam se soltaram, meu

corpo inclinou ainda mais para o abismo, estremeci.


Suspirei alto, estendendo minha mão em direção a ele

pedindo a sua ajuda, sabia que cair era o mesmo que


morrer, eu não queria mais morrer. Aquele homem lindo
sorriu orgulhoso e começou a dissolver com o vento e
desapareceu.

Senti uma onda de força me dominando e uma


vontade incontrolável de lutar por mim. "Eu não vou

cair.", então fechei os olhos e num impulso joguei meu

corpo para frente.

— Ela voltou, ela voltou! — ouvi distante uma voz


masculina e algo pressionando meu peito. — Graças a

Deus, ela está de volta.

Abri meus olhos devagar, a dor em meu peito era

dilacerante e sobre mim havia médicos e enfermeiras


debruçados, tentando me ressuscitar. Virei minha cabeça

para o lado, meus pais choravam com as mãos no vidro,


numa mistura de dor e felicidade. Comecei a chorar
revivendo toda a minha vida, os motivos covardes que me
levaram àquele hospital.

Quando percebi a tristeza já havia dominado meu

coração e crescia a cada dia sem que eu prestasse


atenção. E a depressão veio tomando posse, então fui me

afastando dos meus amigos, da faculdade, da minha

família, tudo... E cheguei ao limite quando a vida perdeu o

seu sentido, era como se eu não pertencesse a este mundo.

E a maldita voz irritante na minha cabeça, desde que


adoeci, me incentivava a desistir da vida, até o dia que eu

desisti.

O anjo de Deus que me segurou para eu não cair


estava certo, o fardo nunca foi pesado, eu que me

acovardei e desisti de mim, mas isso nunca mais vai

acontecer, nunca mais vou desistir de mim, fechei meus


ouvidos para a voz do mal. Eu pertenço sim a este mundo

e nasci para servi-lo. E é isso que tenho feito, dou o


melhor de mim, não na perfeição, mas faço o que está ao

meu alcance. Aprendi a prestar atenção às pequenas

coisas da vida, a respeitar as diferenças e que o pouco é

muito, em gestos simples como este é que encontrei a

verdadeira felicidade.

Eu entendi que "só depende de mim.", sempre só

depende de nós.

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