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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

MESTRADO EM DIREITO E PRÁRICA JURÍDICA


ESPECIALIDADE EM DIREITO FINANCEIRO E FISCAL

A ÉTICA E A FRAUDA ACADÉMICA

ANDREIA RODRIGUES SILVA

TRABALHO NO ÂMBITO DA CADEIRA DE INTRODUÇÃO À METODOLOGIA


DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
PROFESSOR DOUTOR MARCO CALDEIRA

LISBOA, 2023
ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3

1. A ÉTICA E FRAUDE NO ENSINO SUPERIOR ...................................................... 4

1.1. CONCEITO ...................................................................................................... 4

1.2. A CONCRETIZAÇÂO..................................................................................... 4

2. A ÉTICA ESTUDANTIL ........................................................................................... 5

3. A ÉTICA DOCENTE ................................................................................................ 7

4. A FRAUDE ............................................................................................................... 8

5. O PLÁGIO ................................................................................................................ 9

6. FORMAS DE PREVENÇÃO .................................................................................. 10

CONCLUSÃO ................................................................................................................. 11

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................. 12

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INTRODUÇÃO

A fraude académica cometida pelos alunos universitários é um problema de ordem


institucional e social com efeitos de veras prejudiciais que se irão refletir no mercado de
trabalho, comprometendo de certa forma a confiança da sociedade nas instituições.

Este trabalho tem por base um pequeno juízo de prognose sobre a ética e fraude académica
na avaliação de conhecimentos em contexto escolar e universitário, salientando os tipos
de ética, nomeadamente a ética docente e a ética estudantil, e as suas implicações ético-
morais, sociais e culturais, e os tipos de fraude, com enfoque para a fraude nos exames e
o plágio.

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1. A ÉTICA E FRAUDE NO ENSINO SUPERIOR

1.1. CONCEITO

A palavra ética do grego “ethiké” ou do latim “ethica”, é o domínio da filosofia que tem
por objetivo o juízo de apreciação que distingue o bem e o mal1. Os princípios éticos
constituem-se como diretrizes pelas quais o homem médio rege o seu comportamento,
tendo em vista uma filosofia moral dignificante. A ética deverá clarificar as noções
fundamentais de liberdade, ação e sociedade, examinando após a distinção entre o bem e
o mal moral, entre a ação correta e outra incorreta.

1.2. A CONCRETIZAÇÂO

Hoje em dia considera-se prática normal e recorrente o dito “copiar” tanto nas instituições
de ensino superior, como no ensino secundário, junto da comunidade estudantil.2 Os
exemplos de fraude académica tornaram-se de tal forma numerosos que quando se fala
neste assunto é quase despercebido e dado como pouco relevante, isto claro, entre
estudantes. A fraude académica, de certa forma contribui para a regulação do
funcionamento do setor de ensino e em particular o ensino superior, em concreto a
reputação institucional.

Contudo, trata-se de um desrespeito das normas e dos códigos que se encontram em vigor
no setor da educação, a fraude tem um custo económico, social e moral muito elevado
que necessita de medidas para impedir a sua prática e evitar que seja desenvolvida.

1
De acordo com Ernst Tugendhat (1999, pp. 14-15), um juízo moral é “[…] um juízo de que um certo
tipo de agir é bom ou mau, e neste sentido, de que algo deve ser permitido ou proibido […]”.
2
Domingues, 2002

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2. A ÉTICA ESTUDANTIL

A ética estudantil indiretamente representa como a universidade e os professores estão ou


não a contribuir para a aprendizagem ética dos estudantes e a sua formação enquanto
pessoas, contudo não podemos apenas ter isso em apreço, pois na maior parte dos casos
os alunos não começam a copiar apenas quando vão para a universidade, mas sim em
épocas escolares anteriores, nomeadamente terceiro ciclo e secundário.3

Numa sociedade em que vários conteúdos estão à distancia de apenas um clic, a tentação
é muita para quando existe uma falta de ideias, falta de tempo, ou simplesmente quando
não existe vontade, pois já outras pessoas abordaram esse tema, crendo que basta fazer
uma pesquisa e copiar o que já foi feito.

Os estudantes que frequentam o ensino superior, principalmente neste século, foram


educados a ser os melhores, a não pensarem nos outros, a fazerem o que for preciso para
atingirem os objetivos com os quais se prenderam a alcançar. Atualmente a sociedade
apela ao sucesso fácil, despreza os perdedores e cultiva a supremacia do ter, eu tenho de
ter algo idêntico a outros para ser bom e me integrar, tenho de alcançar um nível que
possivelmente não tenho capacidade para tal.

Por seu turno, os professores vêm a sua imagem a ser degradada, a perderam autoridade,
e consequentemente os estudantes não têm o mesmo respeito que tinham pelo corpo de
docentes à cerca de 10 anos atrás.

Com a constante evolução, nomeadamente tecnológica, temos visto comummente que os


jovens têm cada vez menos consideração uns pelos outros, e até respeito por eles próprios,
parece inequivocamente que foram perdidas as rédeas da sociedade, passando a viver-se
uma sociedade de cada um por si.

Hoje em dia, como já referido, os jovens e qualquer pessoa têm facilidade de acesso a
todo o tipo de informação, estamos perante um ambiente de desmaterialização de
informação, não sendo necessário respeitar o outro ou direitos de autor.

3
Domingues, 2002

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Com isto, os jovens predem-se ao eu sou melhor que o outro, não preciso de ir às aulas
porque o que o professor está a ensinar também eu consigo encontrar na internet, ect.
Neste sentido, os professores enfrentam graves problemas de indisciplina na sala de aula,
má educação, e, por vezes, até bullying, aumentando inclusive a violência nos ambientes
escolares.

Atualmente o que traz uma enorme preocupação e indiretamente inquietação, não é


apenas o dito copiar nos teste e exames, mas sim, falsos atestados médicos, falsos
trabalhos em que se paga a um terceiro para o elaborar. Pelo que, parece existir uma
desresponsabilização a quem comete este tipo de ações, considerando-se uma ação de
caracter menor e de pouca relevância.

Neste sentido, a fraude nos exames e em trabalhos sujeitos a avaliação assume especial
relevância, uma vez que põe em causa o bom nome da instituição ao comprometer a
credibilidade do ensino, sendo que, qualquer tipo de fraude coloca em causa valores
sociais e institucionalmente considerados, tais como, verdade, honestidade,
responsabilidade, confiança, respeito entre outros.

É claro que o plágio e a fraude não existe apenas de agora, mas tendo agora ganho uma
maior visibilidade, sendo que as novas tecnologias vieram ajudar.

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3. A ÉTICA DOCENTE

Uma vez que os docentes são a cara das instituições, e o reflexo do prestígio sobre as
mesmas, estes são o principal garante da ética, pelo que, espera-se deles um exemplo
ligado à ética profissional. Por este motivo, cada vez mais as instituições recorrem à
implementação de códigos de ética ou boas práticas, que regulam os procedimentos que
os docentes devem seguir, em especial a avaliação dos estudantes.

Contudo, a ética a nível da docência tem ainda menos relevância que a estudantil, pois
acha-se que tudo já se encontra regulamentado, não tendo até grande visibilidade de
estudo comparativamente à ética estudantil em muito censurada.

Desta forma, nota-se um desconforto ético entre professores, o que por vezes resulta em
tensões entre o grupo docente e dilemas entre as exigências a que estão adstritos
institucionalmente, desde logo o compromisso social e dever ético e a defesa de valores
como o compromisso, honestidade, retidão, respeito pela integridade e honra dos demais,
existindo deste modo uma discrepância entre os discursos sobre as missões das
universidades e as mudanças efetivas que são sentidas como impostas do exterior.

Com a introdução de códigos e regulamentos internos, as universidades tentam dar


resposta aos desafios que têm aparecido, tentando redefinir as suas missões e os seus
papeis, com impacto direto no trabalho dos docentes.

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4. A FRAUDE

Neste contexto vamos abordar dois tipos de fraude: a fraude levada a cabo pelos
professores ou pelas instituições e a fraude levada a cabo pelos estudantes.

As fraudes levadas a cabo pelos professores e pelas instituições, refletem-se desde logo
quando os professores admitem a exame estudantes que não estão aptos para ou no nível
pretendido, tolerância em relação a fraudes cometidas pelos estudantes, a admissão com
sucesso apesar dos resultados abaixo das normas pré-estabelecidas, e as instituições no
que concerne à admissão de alunos com inscrições irregulares.

Quanto às fraudes nos exames levadas a cabo pelos estudantes, tem subjacente a
comunicação entre uns e outros durante as provas, a utilização de informações ou
documentos não autorizados no decorrer das provas, a utilização de documentos de
carácter pessoal, as designadas cábulas ou através de meios informáticos, em casos mais
drásticos, falar-se-á na substituição da identidade aquando da realização das provas, ou
falsificação dos documentos de identificação.

Neste sentido, a fraude pode ser exercida pelos estudantes, pelos examinadores e pelos
professores.

Sendo que, a fraude, materializada em vários tipos de práticas, tem profundas implicações
éticas, morais, educacionais, escolares, académicas e institucionais.

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5. O PLÁGIO

O que é o plágio? E em que consiste? Estas são algumas das perguntas que nos vem à
cabeça quando nos abordam sobre o assunto. Mas afinal o que é o plágio, até que ponto
eu já fiz plágio, será que tive noção disso? Todas estas questões são válidas e devem ser
esclarecidas.

Neste sentido a universidade de Genebra elaborou uma definição de plágio: “consiste em


inserir, num trabalho académico, formulações, frases, passagens, imagens, ou capítulos
inteiros, bem como ideias ou análises retiradas de trabalhos de outros autores, fazendo-
os passar por seus. O plágio é realizado por parte do autor do trabalho, ora pela
apropriação ativa dos ditos textos ou ideias de outrem, ora pela omissão da referência
correta aos textos ou às ideias de outrem e às suas fontes.” (Universidade de Genebra,
2013).

O aumento de casos de fraude e plágio está ligado intrinsecamente à facilidade de acesso


às informações oferecidas pela internet. É de extrema facilidade cometer plágio, muitas
das vezes até de forma indireta, isto é, por uma simples pesquisa, copiar parte de texto
sem citar a autoria do mesmo.

Contudo, também não podemos considerar tudo como sendo plágio, pois a pessoa
humana nasce sem conhecimento, sendo esse conhecimento “regado” e fortalecido ao
longo dos anos com o adquirir da experiência, e muitas vezes o conhecimento é adquirido
a partir da leitura e investigação de obras de autoria diversa.

Pelo que, mostra-se necessário estabelecer limites do que se pode considerar plágio ou
não, em que circunstâncias, limites esses que por ora não se encontram de todo ainda
delimitados, sendo por isso um obstáculo quanto à aplicabilidade de qualquer tipo de
sanção para quem plagiou mesmo que de forma inconsciente.

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6. FORMAS DE PREVENÇÃO

Denota-se cada vez mais a necessidade de pregar às boas práticas comuns, por forma a
combater o plágio e restabelecer a ética. Neste sentido as universidades tentam apresentar
palestras em que se discute o tema, tentam incentivar os alunos a terem um
comportamento no sentido de pensar no próximo e de ajuda mútua, têm ainda por objetivo
regular a vida na universidade, explicando-lhes que existe um código de ética ou conduta,
que tem de ser respeitado por todos, quer alunos, docentes ou funcionários. Por norma
estas atividades acontecem no inicio de cada ano letivo, em muito devido à chegada de
novos alunos, preparando-os para uma realidade completamente distinta da que vinham
habituados no ensino secundário.

Quando às fraudes nas inscrições e até mesmo em momentos de avaliação é necessária a


implementação de mecanismos de vigilância, de verificação de documentos minuciosa,
nomeadamente no que tange a identificações. Por fim para evitar que os alunos usem
cábulas ou outros meios, é necessário a presença de vigilantes dentro da sala, o que por
vezes não é fácil até por falta de meios, devendo incluir-se claro o docente da disciplina,
pois é este que tem contacto recorrente com os seus alunos e os reconhece minimamente.
Contudo, a fraude é cada vez mais facilitada pela tecnologia, exigindo outros tipos de
vigilância.

Neste sentido, nunca haverá um método eficaz que elimine de todo a fraude, mas há
métodos para a atenuar.

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CONCLUSÃO

Como é possível denotar do exposto, a sociedade em que vivemos atualmente está cada
vez mais egocêntrica e vocacionada para cada eu interior, ou seja, o que interessa sou eu,
onde eu consigo chegar, independentemente dos meios que uso para lá chegar, neste
sentido não são apenas as escolas que têm de vocacionar os estudantes, mas também os
pais, que são com eles em casa.

Hoje em dia uma criança, um jovem, passa mais tempo na escola que na própria casa com
sua família, pelo que os docentes têm um papel fundamental na formação da pessoa e nos
seus ideias, contudo estes não fazem isso sozinhos, cabendo aos pais contribuir nesse
sentido.

É cada vez mais necessário implementar disciplinas em que se ensine a viver em


sociedade, em como conviver uns com os outros, pois hoje em dia o que vigora é a
tecnologia, sendo que se for preciso ao invés de falarem uns com outros, estando a poucos
centímetros de distância, mandam mensagens, isto não é de todo bom para o ser humano,
nem para a evolução da sociedade.

Será cada vez menos discutida a ética, pois ao se caminhar na direção que vamos, a
mesma não se mostra necessária.

Sem ética, não será fácil combater outras índoles como o plágio, o copiar, ou usar outros
meios para obtenção de um grau.

A constante evolução, tecnológica principalmente, faz-nos repensar em todos os métodos


até implementados e de que forma se terão de alterar.

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BIBLIOGRAFIA

DOMINGUES, Ivo. Atitudes face ao copianço na Universidade. Sociedade e Cultura, 4,


Cadernos do Noroeste, Série Sociologia, v. 18 (1-2), p. 5-23, 2002.

GOMES, Carlos Alberto. Ética e justiça na avaliação: a fraude e o ‘copianço’ no processo


ensino/aprendizagem, Universidade do Minho, Educação & Linguagem, n.º 17, p. 147-
159, 2011.

ALMEIDA, Filipe; SEIXAS, Ana; GAMA, Paulo; PEIXOTO, Paulo; ESTEVES, Denise.
Fraude e plágio na Universidade: a urgência de uma cultura de integridade no Ensino
Superior, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016. Obtido em 16 de dezembro de
2016 em http://hdl.handle.net/10316.2/38804.

Universidade de Genebra (2013), Plagiat à l’université — L’université se présente-


UNIGE. Obtido em 3 de maio de 2014 em http://www.unige.ch/apropos/politique/
plagiat/edudiants.html.

SARAIVA, Rute. Fraude académica em hogwarts. lições de análise económico-


comportamental para muggles de todas as idades, Faculdade de Direito da Universidade
de Lisboa, RIDB, n.º 4, p. 2301-2361, 2012.

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