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CURSO DE CAPACITAÇÃO DE MULTIPLICADORES EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA - MÓDULO VII

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Energias Alternativas

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CURSO DE CAPACITAÇÃO DE MULTIPLICADORES EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA - MÓDULO VII

Índice

7.1. PERSPECTIVAS ATUAIS E FUTURAS DA ENERGIA 5

7.2. CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES ENERGÉTICAS 6

7.3. ENERGIA EÓLICA 6

7.3.1. Introdução 6

7.3.2. Localização Adequada 7

7.3.2.1. Intensidades de Vento 7

7.3.3. Potência Eólica 12

7.3.4. Turbinas Eólicas e sua Classificação Geral 14

7.3.5. Geradores Usados em Energia Eólica 17

7.3.6. Armazenamento da Energia Eólica 18

7.3.6.1. Armazenamento em Baterias 18

7.3.6.2. Armazenamento Hidráulico 18

7.3.7. Análise dos Sistemas de Pequeno Porte 21

7.4. ENERGIA SOLAR 22

7.4.1. Introdução 22

7.4.2. O Efeito Fotovoltaico 23

7.4.3. A Energia Solar 24

7.4.4. Aquecimento de Água por Energia Solar 25

7.4.5. Aquecimento de Água para Uso Doméstico 27

7.4.6. Aplicações da Energia Solar Fotovoltaica 28

7.4.6.1. Iluminação Residencial 28

7.4.6.2. Iluminação Pública 28

7.4.6.3. Campismo 29

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7.4.6.4. Sinalizador Estroboscópico 29

7.4.6.5. Iluminação de Embarcações Fluviais e Marítimas 29

7.4.6.6. Cerca Elétrica 29

7.4.6.7. Telecomunicações 30

7.4.6.8. Suprimento de Água e Sistemas de Microirrigação 31

7.4.6.9. Suprimento de Energia Elétrica 32

7.4.7. Análise Econômica do Uso da Energia Solar 32

7.5. CÉLULAS A COMBUSTÍVEL 34

7.5.1. Histórico das Células a Combustível 34

7.5.2. Esquema Básico de uma Célula a Combustível 346

7.5.3. Vantagens da Célula a Combustível 37

7.5.4. Desempenho das Células a Combustível 39

7.6. BIOMASSA E BIOGÁS 40

7.6.1. Introdução 40

7.6.2. O Biogás 40

7.6.3. A Biomassa 41

7.6.4. Formação Biológica do Biogás 42

7.6.5. Características do Biodigestor 43

7.6.6. Construção do Biodigestor 44

7.6.7. Geração de Eletricidade Usando Biogás 45

7.7. ENERGIA HIDROELÉTRICA 47

7.7.1. Introdução 47

7.7.2. Determinação da Potência Aproveitável 49

7.7.3. Levantamentos Topográficos Expeditos 49

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7.7.3.1. Medição Simples de Desníveis 49

7.7.3.2. Medição Expedita da Vazão de um Curso de Água 51

7.7.4. Unidade Geradora 53

7.7.5. Rodas de Água 54

7.7.6. Turbinas 56

7.7.7. Obras Civis 56

7.8. BIBLIOGRAFIA 57

CRÉDITOS 58

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Nesse Módulo abordaremos alguns tópicos sobre energias alternativas e sua aplicações, com objetivo
direcionado aos microaproveitamentos possíveis com as tecnologias disponíveis.

7.1. Perspectivas Atuais e Futuras da Energia

A utilização de energia cresceu de uma maneira muito lenta ao longo da história da humanidade até o
século XIX mas, no século XX, principalmente a partir da década de 1940, período da Segunda Guerra
Mundial, a avidez por energia tornou seu consumo exponencial.

Em termos mundiais praticamente se esgotou a possibilidade de ampliação da hidroeletricidade; o


petróleo, que levou mais de quatrocentos milhões de anos para ser formado, será todo consumido nos
próximos cinqüenta anos, com exceção do obtido na Arábia Saudita e no Kuwait. Mas o pior é que 90%
da energia mundial tem sido consumida por apenas 30% da população. Isso quer dizer que muito mais
energia tem que ser produzida para satisfazer exigências mínimas da maioria dos países menos
desenvolvidos, mesmo que adotem modelos de consumo energético menos perdulários do que o das
nações do Primeiro Mundo. Nações do primeiro mundo, com Alemanha e Estados Unidos, vem
buscando alterar a matriz energética de seus países para que num futuro não muito distante não ocorra
uma crise energética grave.

Apesar dessas fontes tradicionais (petróleo e hidroeletricidade) estarem se esgotando, para um futuro
muito distante, não se pode falar de crise energética mas, sim, de crise do modelo de planejamento
energético de muitos países. Um exemplo claro é a situação do Brasil em 2.001, onde por falta de
estratégia e um modelo adequado o sistema entrou em crise energética e paralisa o setor produtivo do
país.

A solução para buscar um futuro mais tranqüilo é a inclusão na matriz energética de fontes renováveis
de energia e que não sejam concentradoras, ou seja, o aumento cada vez maior de geração distribuída e
utilização de sistemas de co-geração e tri-geração.

O físico inglês Freeman Dyson, lançou a idéia que no futuro teremos dois tipos de energia, a “cinzenta” e
a “verde”. A “energia cinzenta” é quando for produzida por máquinas complexas, onde considera até
mesmo o sol como uma máquina térmica, enquanto a “energia verde” é aquela obtida da biomassa, mas
sem cortar as plantas. A obtenção dessa biomassa seria através da transformação das mesmas para a
produção direta de álcool etílico, de uma maneira semelhante a produção de borracha pelas
seringueiras.

O Brasil possui todas as condições para ter um abastecimento permanente de combustíveis a partir da
biomassa, tanto líquido como sólidos e gasosos, que podem substituir todos os derivados de petróleo. A
transformação da biomassa em energia já provou ser tecnicamente viável, como demonstrou o

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Proálcool, e sua viabilidade econômica depende de um melhor planejamento para incluir, por exemplo,
uma produção simultânea de alimentos.

7.2. Classificação das Fontes Energéticas

Encontramos várias condições para a classificação das fontes de energia na literatura, porém a que
predomina após a crise do petróleo é aquela separa em fontes renováveis e não-renováveis.

Na Tabela Módulo 01, demonstra as fontes de energia classificadas de acordo suas propriedades de
transformação.

A biomassa está inclusa como fonte de energia potencial química devido à maneira como é transformada
em energia útil (trabalho), sendo que poderia ser classificada como energia solar por causa do modo
como é produzida.

7.3. Energia Eólica

7.3.1. Introdução

Sabe-se que o fator energético é muito importante para a continuidade e o desenvolvimento de uma
sociedade. É também de conhecimento geral a vulnerabilidade dos atuais mecanismos de suprimento de
energia, baseados em recursos não renováveis como carvão, petróleo e outros, cujo esgotamento das
reservas naturais provocaria um colapso na sociedade atual.

Fatores como o alto custo de geração das hidroelétricas e termoelétricas, o atendimento de cargas
remotas, em que a rede de transmissão é antieconômica, a inexistência de rios ou outros recursos
hídricos em proximidades energeticamente aproveitáveis e a forma de energia renovável e não poluente
impulsionam fortemente, nos dias de hoje, projetos e estudos sobre a utilização da energia eólica, bem
como de equipamentos e de máquinas necessários para seu melhor aproveitamento.

No Brasil, particularmente em regiões de grande potencial eólico, como no Nordeste e no litoral das
regiões Sul e Sudeste, essa energia poderia ser até utilizada como a única forma de aproveitamento
alternativo. Nos estados do Nordeste brasileiro, com escassos recursos hidroelétricos, a geração eólica
aliada à solar apresentam-se como alternativas poderosas para o abastecimento de energia. Salienta-se
que o potencial eólico brasileiro é avaliado em 63 milhões de MWh/ano, uma apreciável quantidade de
energia que não pode ser descartada.

Apesar de a energia eólica ser derivada da energia solar, originada pela distribuição de diferentes
concentrações de temperatura em áreas distintas do planeta, ela vai ser tratada, neste estudo, mais por
suas características mecânicas do que pela sua origem. No local onde está instalada a microcentral, a

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movimentação das massas de ar daí resultante é que será considerada como causa da energia
mecânica para movimentação do aerogerador.

7.3.2. Localização Adequada

O melhor local para a instalação de turbinas eólicas é a linha divisória de águas, isto é, a crista das
serras e morros, pois a direção de maior potencial é a perpendicular à direção da crista. Caso contrário,
com a direção predominante paralela à crista, as turbinas serão prejudicadas pelo efeito da interferência
de umas sobre as outras.

Para selecionar o local ideal para colocação de turbinas eólicas, é preciso observar a existência de vento
suficiente que possibilite a extração de energia numa potência desejada. São observadas características
básicas, como:

• intensidades de vento na região;


• topografia;
• finalidade da energia gerada;
• facilidades de acesso.

7.3.2.1. Intensidades de vento

Observam-se regiões onde a potência do vento assume valores consideráveis, de modo a possibilitar a
2
geração econômica de energia, determinada em função da potência do vento dada em W/m . Em nosso
País, as maiores centrais eólicas estão localizadas próximas à costa, por estarem aí localizadas as
maiores intensidades de vento (ver Tabela 7.3.1). Assim mesmo, nas regiões de serra e descampados,
como no pampa gaúcho, também é possível encontrar intensidades razoáveis de vento para geração
eólica.

Dependendo do porte do projeto da microcentral eólica desejada, lança-se mão, principalmente, das
fontes de informações descritas a seguir.

a) Carta de isovento ou meteorológica

São cartas meteorológicas que mostram curvas isoventos, que são as linhas de mesma intensidade de
velocidade média do vento. Apesar de importantes, essas cartas são insuficientes para uma análise
completa do local, pois as estações meteorológicas, com seus levantamentos de dados, não visam
unicamente à determinação da potencialidade do vento para aproveitamento da energia eólica. Logo, a
escolha final do local só poderá ser feita após um conveniente levantamento no próprio local.

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Tabela 7.3.1 - Principais centrais eólicas no Brasil


Localização da Central Forma de Abastecimento
Santa Vitória do Palmar (RS) Turbina de 300 kW para reduzir consumo de óleo diesel com os
Projeto Paiol maiores ventos do mundo
Curitiba (PR) 3 turbinas instaladas
Projeto Ventar
Gouvêa (MG) O mais antigo parque 4 turbinas a 30 m de altura atendem 1.500 residências
eólico do Brasil
Fazenda Eólica do Morro do Chapéu Para injeção de 1.200 kW de potência elétrica na rede
Morro do Cruzeiro (AL) Minicentral de 600 kW para aproveitar baixas intensidades de
vento desde 5,5 m/s
São Luis (MA) Central de 30 MW
Fernando de Noronha (PE) Acionamento de uma central mista eólica-diesel
Praia de Mucuripe, Fortaleza (CE) Aerogeradores de 300 kW abastecem 3.000 casas de 2
dormitórios
Joanes (PA) – (CEPEL) Central mista com 4 turbinas eólicas, um painel solar e geradores
diesel

A Figura 7.3.1 mostra uma curva típica de distribuição da velocidade do vento. Essa distribuição pode
ser mensal ou anual. É determinada por barras de números de ocorrência, ou percentual de ocorrência,
por certo período para cada faixa de velocidade do vento, durante um prazo de tempo bastante amplo,
no mínimo de cinco anos. Observa-se que a variação do vento relaciona-se com a variação do clima da
região. No Rio Grande do Sul, o verão caracteriza-se como uma estação de pouco vento, e o inverno,
como uma estação de ocorrência de ventos mais fortes.

Figura 7.3.1. Distribuição das Velocidades do Vento.

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Períodos em que a velocidade do vento atinge valores inferiores a 3 m/s são denominados "períodos de
calmaria", e a potência torna-se muito baixa para extração de energia. Nesse caso, o sistema pode ficar
parado, o que representa um ponto importante a ser levado em conta na fase de projeto da geração de
energia, principalmente em sistemas isolados. Para as microcentrais, os períodos de calmaria
determinarão o tempo necessário para o armazenamento de energia.

Conforme é discutido a seguir, a distribuição de potência varia de acordo com a intensidade do vento e
com o coeficiente de potência. Uma curva típica de distribuição da potência assume uma forma como a
vista na Figura 7.3.2.

Locais com alta velocidade de vento apresentam poucos períodos de calmaria, por isso não necessitam
de muitos requisitos para armazenamento. Mas locais com ventos apenas moderadamente altos
apresentam longos períodos de calmaria. Períodos de ventos com altas velocidades podem causar
problemas estruturais no sistema ou na turbina.

Figura 7.3.2. Distribuição de Potência.

b) Análise por Visualização

Se o lugar a ser estudado não estiver próximo a estações meteorológicas, a avaliação pode ser feita
observando-se as árvores existentes no local. O seu nível de deformação serve como um bom indicador
da velocidade dos ventos na região.

A intensidade do vento aumenta com a altura. Logo, árvores de maior envergadura são atingidas por
ventos mais intensos, o que pode prejudicar o seu crescimento. Então, pelos níveis de deformação das
árvores, classifica-se a intensidade dos ventos como de:

• Escovar: quando os galhos estão a sotavento (lado para onde vai o vento), especialmente na
ausência de folhas; ocorre quando os ventos são fracos;
• bandeira: os galhos ficam a sotavento, ficando o tronco estático, na sua posição original, livre ao
barlavento, ou seja, lado de onde sopra o vento;

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• deitar: o vento é forte o bastante para produzir deformações permanentes no tronco e galhos;
• tosquiar. o vento é sempre forte, a ponto de quebrar os galhos, dando a impressão de que foram
cortados de maneira uniforme;
• tapete de árvores: a força do vento é tão forte, que limita o crescimento das árvores a alguns
centímetros do solo, dando a impressão de que formam um tapete de árvores.

Uma forma alternativa melhorada de estimar-se visualmente a intensidade dos ventos para
microaproveitamentos eólicos pode ser baseada na Tabela 7.3.2, que é uma adaptação arredondada da
Escala Beaufort. Essa escala foi adotada pelo Comitê Internacional de Meteorologia, em 1874, sendo
que os valores dos ventos medidos realmente por anemômetros só foram realizados em 1939.

c)Técnica do Balão

O outro método que pode ser utilizado é a medição da velocidade de um balão.

A partir da determinação das velocidades médias horárias dos ventos na localidade onde vai ser
instalada a microcentral eólica, é importante estabelecer a curva de duração da velocidade dos ventos
para cada hora do dia, todos os dias do ano, num total de 8.760 dados. Essa curva é formada a partir de
pontos marcados em várias faixas de velocidades, de acordo com o número acumulado de horas em que
o vento esteve dentro e acima daquela faixa (ver Figura 7.3.3), por exemplo, entre 10 e 20 km/h.

Figura 7.3.3. Curva de duração da Velocidade dos Ventos.

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Tabela 7.3.2. Estimativa da velocidade dos ventos (escala Beaufort)

Baseados nessa curva e na carga a ser alimentada, é que se pode estabelecer a potência do grupo
turbina-gerador que teria o melhor fator de utilização para as dadas condições de vento da localidade. É
evidente que, quanto maior for o tempo de observação do comportamento do vento na região, mais
adequadamente será projetada a microcentral.

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7.3.3 Potência eólica

De toda a potência do vento, apenas parte dela pode ser extraída para geração de energia, e essa parte
é quantificada pelo coeficiente de potência, Cp, isto é, a relação entre a potência possível de se extrair
do vento e a quantidade total de potência nele contida. O gráfico mostrado na Figura 7.3.4 relaciona o
coeficiente de potência com o fator de velocidade da ponta (tip speed ratio), λ , definida como a relação
da velocidade de ponta do rotor para a velocidade livre do vento para os diferentes comportamentos de
cada tipo de turbina em operação. Em termos quantitativos, o fator de velocidade da ponta é definido
como: λ = ωR / V , sendo ω a velocidade angular do eixo da turbina e R, o comprimento de cada pá.

Figura 7.3.4. Características de saída das Turbinas.

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Segundo Betz, o valor máximo de Cp é 16/27 = 0,5926.A potência da turbina, então, pode ser dada por:
Pt = (Cp x ρ x S x V3) / 2 (em kgm/s)

onde:
ρ = a densidade específica do ar (= 1,2929 kg/m3 a 00C e ao nível do mar);
2
S = a superfície varrida pelas hélices ou pás (m );
V = a velocidade do vento (m/s);
1 kgm/s = 9,81 W.

Na realidade, o valor de ρ pode ser corrigido para a altitude e para a temperatura do local pela seguinte
expressão:
273 Pr
ρ = 1,2929 x
T 760
Pr é a pressão atmosférica (em mm de mercúrio), e T, a temperatura Kelvin absoluta.

0
Nas condições normais (T = 296 K e Pr = 760 mmHg), o valor de ρ é 1,192 kg/m3. A influência da
umidade não será considerada aqui.

Se apenas a altitude, z (em metros), for conhecida, a densidade do ar pode ser estimada por:

ρ = 1,1225 - (1,194 x 10-4)z

O gráfico da Figura 7.3.4 enfatiza a importância de se saber a finalidade para a qual a energia será
usada, a fim de se poder determinar a melhor seleção da forma de extração da potência do vento,
O torque da turbina é dado por:

Tt = ( ρ x S x R x V CT=T) /2 = Pt / ω
2

onde o coeficiente de torque é definido como: CT = Cp/ λ .

2
Se S = 1 m , o potencial máximo de vento pode ser obtido (sem levar em conta as perdas
aerodinâmicas no rotor, as variações de velocidade do vento nos vários pontos da área de captação, o
tipo do rotor, etc.) como sendo:

3 3
P/A = 0,593 x 0,6464 x V = 0,3831 x V
onde:
2
PIA = potência eólica (W/m );
V = velocidade do vento (m/s).

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A potência eólica de um local é diretamente proporcional à distribuição de ocorrência das velocidades,


de maneira que locais distintos, com a mesma velocidade média anual, podem apresentar valores de
potência do vento bem diferentes. A Figura 7.3.3 mostra a forma típica dessa distribuição de ventos para
uma dada localidade.

Um fator de perda de velocidade e, por conseqüência, de potência do vento, são as, construções e
árvores nas cercanias da microcentral eólica. Árvores, barreiras de vento e florestas são obstáculos
porosos em relação ao vento, ao contrário de montanhas e construções feitas pelo homem. Define-se a
porosidade como sendo a relação entre a área aberta e o total da área perpendicular à direção do fluxo
de ar. Elas podem ser expressas como na Tabela 7.3.3.

Tabela 7.3.3. Perdas de velocidade e potência nas cercanias das árvores


Porosidade Perda de: Distâncias na direção contra o vento em
(%) (%) larguras de árvore
5 10 15 20 30
20 Velocidade 16 7 4 3 2
Potência 41 18 12 8 6
40 Velocidade 20 9 6 4 3
Potência 49 25 17 13 9
Altura da região de fluxo turbulento (em alturas de 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
árvore)
Largura da região de fluxo turbulento (em larguras de 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
árvore)

7.3.4. Turbinas Eólicas e sua Classificação Geral

A potência de um aerogerador varia com o cubo da velocidade do vento, isto é, se a sua velocidade
dobrar, a potência aumentará oito vezes. A velocidade do vento, portanto, está diretamente relacionada
com o rendimento do aerogerador, que depende do projeto do rotor de rotação. Como já foi dito, a
rotação é expressa como uma função da velocidade da ponta da pá para a velocidade do vento. Assim,
o ideal seria manter a velocidade do gerador num nível com rendimento sempre alto, o que é impossível
pela natureza dos ventos. Nesse aspecto, o melhor desempenho é apresentado pela hélice de duas pás
(ver Figura 7.3.4), o que leva as grandes centrais a usarem esse tipo de turbina.

Existem quatro faixas de velocidades a serem consideradas. A primeira é de zero até a velocidade
mínima de geração, abaixo da qual a potência gerada vence apenas as perdas por atrito. A segunda
faixa é a de operação normal, mantida por um sistema de controle de posição das pás em relação à
direção de ataque do vento. A terceira faixa, de altos ventos, é controlada para manter uma potência de
saída constante e máxima. Acima dessa faixa, em torno de 30,0 m/s, as pás do rotor são alinhadas na

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direção do vento, para evitar danos mecânicos ao aerogerador.

A configuração mais simples de acionamento da turbina eólica é a que não usa nenhuma forma de
controle e a velocidade da turbina é constante, por estar diretamente conectada à rede pública, que
possui uma freqüência fixa. A potência gerada dessa forma não pode ser controlada, sendo apenas
alterada pela velocidade dos ventos. Como a potência disponível no vento é proporcional ao cubo da sua
velocidade, apenas uma fração dessa energia total poderia ser capturada com ventos extremamente
fortes, e seria antieconômico dimensionar a central para a máxima potência dos ventos. Conclui-se,
portanto, que os benefícios de se incorporar o controle da potência de saída na turbina eólica são o
aumento na captura da energia da natureza e a redução das cargas dinâmicas. Além disso, os atuadores
de velocidade tornam flexível o ajuste do ponto de operação, e as margens de segurança do projeto
podem ser diminuídas.

Ainda hoje, a forma mais comumente usada de controle de velocidade e potência dos aerogeradores é o
controle do ângulo de ataque das pás da turbina, e o gerador pode ser diretamente conectado à rede
pública. Uma outra forma de controle que tem chamado muito a atenção dos pesquisadores, nos últimos
tempos, é o uso de geradores acionados por turbinas com ângulo fixo das pás de ataque e conectados à
rede pública por meio de uma interconexão elétrica do tipo CA/CC/CA, com a qual se tem controle sobre
o fluxo de potência e, portanto, sobre a velocidade da rotação da turbina. Todavia, resta ainda ser
mostrado, ao longo dos anos, que, utilizando-se esse conceito, podem-se regular as variações de
potência de forma razoável com ventos fortes.

As turbinas eólicas são máquinas que extraem energia dos ventos, transformando a energia cinética em
energia mecânica (ver Figura 7.3.5). Essa energia mecânica pode ser usada diretamente como tal ou
transformada em energia elétrica, tanto para uso imediato como para armazenamento. Para ser
transformada em energia elétrica, além das turbinas, necessita-se de equipamentos adicionais, como:

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Figura 7.3.5. Característica de Potência da Turbina com a Rotação e a Velocidade do Vento.

• sistema de alinhamento com a direção de máxima intensidade de vento;


• Torre de sustentação que suporta o sistema de captação e de geração;
• multiplicador de velocidade, necessário às baixas rotações de funcionamento, normalmente
encontradas em turbinas eólicas (até, aproximadamente, 500 rpm), quando se sabe que os
geradores de 60 Hz (padrão em todo o Brasil>, comumente encontrados no mercado com 2
pólos, necessitam de 3.600 rpm, e os de 4 pólos, de 1.800 rpm;
• sistema de controle de tensão e freqüência ou rotação; e transformadores elevadores e
rebaixadores de tensão para compatibilizar as tensões de geração, transmissão e distribuição
com as dos níveis de consumo (geralmente 127/220 Volts ou 220/380 Volts);
• rede elétrica de distribuição de energia para os consumidores;
• sistemas de proteção para sobrecorrente, sobrevelocidade, sobretensão, surtos atmosféricos e
outras formas anômalas de funcionamento.

No tocante às turbinas eólicas ou rotores de alta rotação, essas são as que melhor se adaptam à
geração de eletricidade e apresentam menor custo construtivo. Nos conhecidos carregadores eólicos de
bateria, o catavento resume-se apenas a pares de hélices, acopladas diretamente a um volante de
inércia fixo ao eixo de um dínamo ou gerador com ímãs cerâmicos permanentes no campo de indução.
Não necessita de multiplicador de velocidade. Tanto nessa forma simplificada de acionamento como nas
turbinas mais elaboradas, a eletricidade gerada pode ser utilizada de imediato ou ser armazenada.

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Levando em conta os aspectos gerais, as turbinas podem ser divididas em dois grupos: as de eixo
horizontal e as de eixo vertical, com ou sem acessórios.

As turbinas de eixo horizontal incluem:

• tipo hélice com 1, 2 ou 3 pás;


• tipo múltiplas pás, fazenda ou raiada, as quais podem trabalhar com o vento incidindo pela frente
ou por trás, havendo variações tais como a multirrotor;
• tipo duplas pás opostas, podendo-se usar velas no lugar das pás.

O grupo das turbinas de eixo vertical é subdividido em relação ao princípio de funcionamento: as que
usam arraste ou atrito e as que usam a sustentação ou levantamento. Além dessas, existem turbinas
que incluem os dois tipos.

As turbinas tipo arraste são máquinas cuja superfície efetiva move-se na direção do vento, ou seja,
funcionam com a força de arraste do vento incidindo sobre elas. Destacam-se:

• tipo Savonius: simples ou múltiplas pás, com ou sem excentricidade (quando o eixo de rotação é
ou não deslocado em relação ao eixo que contém o seu centro de gravidade);
• tipo pás, hélices ou remos;
• tipo copo;
• tipo turbina.

As turbinas tipo sustentação são máquinas onde o movimento do rotor ocorre em planos perpendiculares
à direção do vento e trabalham movidas pela sustentação do vento. Entre as turbinas que usam
sustentação estão:

• tipo Darrieus troposkien;


• tipo Darrieus giromill;
• tipo Darrieus triangular;
• tipo turbina.

7.3.5. Geradores usados em energia eólica

Existem vários tipos de geradores que podem ser acoplados às turbinas eólicas: os geradores CC, tipos
paralelo e composto e os CA, em especial, os geradores de indução.

Salienta-se que, para geradores CC paralelo, pequenos incrementos de rotação relacionam-se a


grandes acréscimos na corrente de saída, quando conectados a uma bateria. Casos em que a tensão
nos terminais da bateria permaneça constante, aumentando a rotação nominal em determinada

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porcentagem, a corrente sofre um aumento de "k" vezes o seu valor inicial. Em conseqüência, a potência
também sofre um aumento de "k" vezes o seu valor inicial.

Se a queda de tensão do gerador CC acontecer com maior rapidez do que o aumento de corrente, deve-
se usar, no lugar do gerador CC paralelo, um gerador CC composto de três escovas. Para o gerador
composto, executa-se o projeto de modo que o decréscimo da característica seja na mesma razão do
número de espiras de desmagnetização. Para geradores de três escovas, devido ao aumento da
corrente na bobina, são reduzidos não só a tensão induzida pelas espiras do campo como também o
campo magnético.

Devido às vantagens de funcionar como motor ou gerador e ao baixo custo em relação a outros
geradores, a máquina de indução oferece boas condições para ser empregada em microcentrais eólicas.

7.3.6. Armazenamento da Energia Eólica

Ao contrário da energia hidráulica, que é facilmente armazenável pelo represamento da água em


barragens, a energia eólica necessita de formas de armazenamento nem sempre baratas e/ou eficientes.
As formas mais conhecidas e viáveis são os armazenamentos em baterias, no bombeamento hidráulico,
por injeção na rede e por volantes.

7.3.6.1. Armazenamento em Baterias

Armazenamento da energia eólica em baterias parece ser o tipo mais eficiente e versátil, apesar de ter o
custo elevado e alguns problemas relativos à manutenção.

7.3.6.2. Armazenamento Hidráulico

O armazenamento hidráulico é obtido com uma bomba conectada ao eixo de saída de uma turbina
eólica, que recalca água a partir de um reservatório no nível do solo até um reservatório colocado a uma
determinada altura em relação ao primeiro. Logo após, a energia potencial armazenada na água é
transformada em energia mecânica, ao passar pela turbina hidráulica (ver Figura 7.3.9). A bomba pode
ser do tipo centrífugo ou alternativo, e o gerador pode ser de corrente alternada ou contínua.

Sendo a altura constante, o torque mínimo, devido à pressão de coluna de água, possui um valor
definido. Portanto, não há bombeamento até que o torque produzido pela turbina atinja o valor mínimo
determinado. O processo inicia quando o vento, com sua velocidade, induz uma rotação à turbina. Com
o aumento do fluxo, aumenta a resistência do sistema. Como a rotação depende do torque gerado pela
velocidade do vento, aumentando-se o torque, aumenta-se a rotação. Já que se trata de sistema flexível,
a turbina pode oferecer alto rendimento, desde que cada parte do sistema seja compatível.

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Exemplo de Cálculo

Uma turbina eólica com potência no eixo Pte = 2 kW fornece energia para o recalque de água a uma
altura H = 10 m através de uma bomba hidráulica com rendimento η bh = 60% e com rendimento do
sistema mecânico de transmissão η tr = 80%.

De toda potência do vento na natureza, apenas uma parcela média pode ser disponível durante um dia
inteiro no local de instalação da central, levando-se em consideração os períodos de boas intensidades
de vento e os períodos de baixas intensidades de vento. Esta média é representada, em termos
efetivos, pelo fator característico do local, Fc, cujo valor típico é em torno de 0,30. Além disso, devem-se
descontar as perdas na turbina eólica que refletem no seu rendimento, geralmente em torno de 0,35.
Assim a potência do vento é dada por:

Pvento = ρxπxR 2 xV vento / 2


3

onde:
ρ 3
= densidade do ar em kg/m ( 1,2929 kg/m )
3

Vvento = velocidade do vento em m/s;


R = comprimento de cada pá da hélice da turbina desde o centro do eixo do rotor até a ponta da
hélice medida em metros.

A potência líquida no eixo da turbina eólica disponível para a bomba hidráulica, por simplicidade, será
considerada, neste exemplo, como sendo:
Pte = η te Pvento = 2,0kW
onde: η te = rendimento da turbina eólica.

A potência da bomba hidráulica, Pbh, é fornecida a partir da potência no rotor da turbina eólica, Pte , e ex
pressa como:
Pbh = η tr Pte

e, então, a vazão média da bomba hidráulica será dada por:

Qbh = Fc xη tr xη bh xPte /( Hxγ )


onde:
η tr = rendimento na transmissão;
η bh = rendimento da bomba hidráulica;
H = altura de recalque entre o reservatório inferior e o superior;
γ = peso específico da água (= 9,81 kg/m ).
3

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Figura 7.3.9 – Regularização da energia eólica com armazenamento hidráulico.

Com os dados do exemplo e a partir da equação para a vazão da bomba hidráulica, tem-se:

Qbh = 0,30x0,80x0,60x2000W/(10x9,81) = 2,936 /s = 10.570 /h

Para que não haja acúmulo médio de água nos reservatórios, é necessário que as vazões médias de
entrada e de saída sejam as mesmas, portanto:

Q bh = Qth

onde Qth é a vazão da turbina hidráulica do grupo gerador. A potência elétrica na saída do grupo
hidrogerador será de:

P = η th xη ge xQbh xHxγ
onde:
hth = rendimento da turbina hidráulica;
η ge = rendimento do gerador elétrico.
ou seja:

3
P = 0,90 x 0,95 x 2,936/s x 10m x 9,81kg/m = 247W

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Para esses valores, se fossem usados os reservatórios comuns de 1.000 l de água com a vazão
calculada de 2,936l/s (isto é, gerando-se 247 WATTS perenemente), ter-se-ia uma autonomia de 5,67
minutos (sem vento). Isso significa manterem-se acesas 4 lâmpadas comuns de 60W permanentemente,
se o vento não estiver por mais de 5 minutos.

7.3.7. Análise dos Sistemas de Pequeno Porte

O rendimento aerodinâmico de uma máquina de tamanho muito pequeno varia, no máximo, entre 40 e
45%, atingindo, na prática, a média de 35%. O rendimento de um gerador de corrente contínua é da
ordem de 55 a 60%. Portanto, o rendimento total de um sistema de pequeno porte (poucas centenas de
Watts) será da ordem de 20%. Uma das principais causas de perdas é a corrente necessária à excitação
do gerador. Nesse caso, aconselha-se utilizar um ímã permanente no campo em lugar de um ímã
eletromagnético.

E possível também eliminar os comutadores em alternadores de seis ou mais pólos pela utilização de
ímãs permanentes. Aconselha-se a utilização de retificadores para carregar baterias.

O gerador deve apresentar tensão e freqüência proporcionais à rotação e, assim, proporcionar uma
regulação da corrente pela reatância indutiva do circuito.

Como no caso das turbinas hidráulicas, o conhecimento de algumas especificações da microcentral


eólica são fundamentais na hora da compra. Entre elas, destacam-se:

• intensidades de vento na região e curva de duração;


• topografia;
• finalidade da energia gerada;
• necessidades presentes e futuras de energia do gerador ou da turbina de acordo com a
capacidade efetiva do local (caso contrário, qualquer especificação torna-se inútil);
• necessidade ou não de válvula de isolamento da turbina;
• especificação do tipo de regulador requerido;
• especificação do gerador:
• tipo: indução, síncrono ou corrente contínua;
• saída elétrica: corrente alternada ou contínua, potência máxima, nível de tensão, número de
fases, freqüência;
• clima: temperatura e umidade;
• modo de operação: manual, automática, semi-automática ou controle remoto;
• operação: isolada ou para injeção na rede; neste último caso, deve existir acordo de venda,
compra ou troca com companhia de energia elétrica;

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• outros equipamentos: painéis de controle, proteção e acionamento, transmissão e


distribuição trifásica ou monofásica;
• localização da casa de máquinas, se houver: distância e dimensões;
• possibilidades de acesso ao local: barco, picada, estradas, trilhos, a pé, inóspito por terra para
transporte de equipamentos e planejamento da manutenção.

7.4. Energia Solar

7.4.1. Introdução

O Sol é uma fonte perene, silenciosa, gratuita e não poluente de energia e é responsável por todas as
formas de vida no planeta. Seu uso pode ser direto ou indireto. A energia solar indireta está relacionada
à energia eólica, à energia hidráulica, à fotossíntese (como forma de energia) e à conversão
microbiológica de matérias orgânicas em combustíveis líquidos.

O uso da energia solar direta refere-se ao aquecimento de água e habitações (doméstica ou comercial),
resfriamento e condicionamento de ar, secagem de produtos agrícolas, destilação (principalmente para a
produção de sal ou salmoura pela evaporação da água do mar) e geração de energia elétrica. Esta
energia solar térmica é apropriada para as regiões do planeta que formam o "cinturão solar", assim
conhecido por fazerem parte daquelas regiões que estejam a 300 ou mais ao norte ou ao sul do
Equador, onde a radiação solar direta é muito alta durante o ano todo.

Existem dois tipos principais de tecnologia para conversão de energia em eletricidade a partir do Sol. O
primeiro deles está relacionado com a transformação da luz solar diretamente em eletricidade, o que é
feito por meio de módulos fotovoltaicos constituídos de células. Tais células solares, geralmente em
forma de películas finas ou bolachas, são dispositivos semicondutores capazes de converter a energia
solar incidente em corrente contínua, com rendimento de algo entre 3 e 25%, com eficiência dependente
da intensidade do espectro de iluminação, da temperatura, do projeto e do material da célula solar. A
célula solar comporta-se como se fosse uma bateria de baixa tensão (em torno de 0,5 V), cuja carga é
continuamente recompletada numa taxa proporcional à iluminação incidente. A conexão série-paralelo
de tais células permite o projeto de painéis solares com altas correntes e tensões (da ordem de
quilovolts). A utilização do armazenamento de energia e os equipamentos de condicionamento da
potência gerada podem constituir-se num sistema completo de abastecimento de energia elétrica. Esta
tecnologia é mais apropriada para aplicações de pequena escala.

O segundo tipo de tecnologia, que se adequa mais para aplicações de grande escala, utiliza a radiação
solar e é a maior fonte de energia renovável, principalmente para as regiões do "cinturão solar"

O maior atrativo dos painéis solares é a inexistência de partes móveis, a lentidão da degradação das
células solares seladas, a flexibilidade na formação e associação dos módulos desde poucos Watts até

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MW e a extrema simplicidade no uso e manutenção. Dentre as fontes alternativas, a energia solar


salienta-se como uma fonte de consideráveis características, tais como: é autônoma, não polui o
ambiente, ou seja, não prejudica nenhum ecossistema, é uma fonte inesgotável e renovável e tem
grande confiabilidade. Porém, o custo de fabricação tem sido, até agora, o maior impedimento para a
sua utilização em massa. A eletrônica de potência tem sido a grande parceira na diversificação do
aproveitamento da energia solar.

Este Módulo fornece as noções mínimas para o aproveitamento da energia solar e também sua
utilização no aquecimento de água ou na produção direta e indireta de energia elétrica como central
energética.

7.4.2. O Efeito Fotovoltaico

Os materiais semicondutores apresentam, no seu espectro de energia eletrônica, faixas de energia


permitida e proibida (o hiato energético). Dentro da faixa permitida, encontram-se as faixas de valência e
de condução, separadas por um hiato energético. Os elétrons ocupam a faixa de valência e podem ser
excitados para a faixa de condução por meio de energia térmica ou pela absorção de fótons com energia
(energia quantizada) maior que o hiato energético. A largura do hiato energético é um parâmetro
característico de cada semicondutor.

Quando um elétron passa de uma faixa para outra, ele deixa em seu lugar uma lacuna que pode ser
considerada, do ponto de vista de transporte de carga, como uma carga positiva. Com o semicondutor
iluminado, o comportamento seria o de uma bateria, ou seja, as cargas acumulariam-se em regiões
opostas da pastilha. Estes elétrons e suas lacunas contribuem para a corrente elétrica, pois, com a
presença do campo elétrico assim formado, essas partículas movimentam-se em sentidos contrários,
uma em relação à outra. Com isso, aparece um potencial eletrostático dentro do material que separa as
cargas positivas das negativas (ver Figura 7.4.1). Se as duas regiões forem conectadas com um fio
externo, haverá circulação de corrente elétrica. Nas células solares feitas de silício cristalino, o campo
elétrico é originado por processos de contaminação controlada e seletiva do material semicondutor.

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Figura 7.4.1. Característica I-V Típica de uma Célula Solar

7.4.3. A Energia Solar

Sabe-se que o Sol tem grande importância para a Terra e que os seus raios gama atingem a órbita
terrestre poucos minutos depois de abandonarem a superfície do Sol, percorrendo, aproximadamente,
150 milhões de quilômetros. A passagem pela atmosfera faz com que a radiação chegue à superfície da
Terra com uma intensidade de potência cerca de 35% menor que a exibida na estratosfera. Num dia
2
claro, a potência luminosa no nível do solo é de, aproximadamente, 1.000 W/m .

O Brasil é privilegiado no seu potencial energético solar, que é em torno de 2.500 MW, cinco vezes maior
que o dos Estados Unidos e vastamente maior que a maioria dos países do primeiro mundo. Assim, são
amplas as possibilidades de aproveitamento energético do Sol, destacando-se o térmico e o fotovoltaico.

O aproveitamento energético térmico do Sol consiste na captação da radiação sob forma de calor, seja
para o aquecimento de fluidos de uso doméstico ou industrial, seja para a transformação do calor em
outra forma de energia. O efeito fotovoltaico consiste na transformação direta de energia radiante em
eletricidade, sem a produção de nenhuma forma de energia intermediária durante a ocorrência do
processo.

Para geração de energia elétrica, a eficiência da célula solar depende do hiato energético, característica

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de cada semicondutor, da qualidade de cada material empregado e da tecnologia de fabricação.


Geralmente, a eficiência da conversão de uma célula solar, ou seja, a relação entre a potência elétrica
gerada e a potência de radiação incidente sobre o condutor, é, comercialmente, da ordem de 10%. Por
exemplo, num dia claro, ao meio-dia, pode ser gerada, num módulo fotovoltaico, uma potência elétrica
2
de 100 WIm .

Os materiais semicondutores mais apropriados para a conversão fotovoltaica são o silício cristalino e o
silício amorfo hidrogenado. Já é possível a fabricação de células solares de silício cristalino, em
laboratório, com até 20% de eficiência de conversão. Como foi dito, as células produzidas
industrialmente apresentam uma faixa de eficiência de 10 a 12%. No caso do silício amorfo hidrogenado,
obtém-se de 10 a 12% de eficiência em laboratório e de 7 a 8% nos módulos produzidos na indústria.
Seu custo de fabricação, porém, é menor que os da célula de silício cristalino.

Sabe-se, por outro lado, que o sistema que emprega silício monocristalino é eficiente, confiável e
durável, mas não barato. As tecnologias mais baratas, como as que empregam o silício policristalino de
menor grau de pureza ou o silício amorfo hidrogenado, deixam a desejar quanto à eficiência e à
durabilidade.

7.4.4. Aquecimento de Água por Energia Solar

Para o aquecimento de água por energia solar, são utilizados coletores planos que convertem a
luminosidade em calor. O funcionamento é dividido em três fases: captação, transferência e acumulação
da energia solar (ver Figura 7.4.2).

Figura 7.4.2. Aquecimento de Água com Coletores Solares

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Um exemplo bem característico da utilização da energia solar são os coletores planos de aquecimento
de água. Tais coletores são envolvidos por um corpo negro que tem maior índice de absorção de
radiação. O mesmo principio permite o aquecimento de ar em secadores de grãos e sementes, com a
vantagem de que esses sistemas são menos sofisticados, podendo competir com os que usam
combustíveis convencionais. A adoção desse processo ajuda a evitar perdas nos volumes colhidos (de
até 50%) em decorrência do armazenamento deficiente que os expõem à umidade.

A captação é realizada por placas coletoras. Dessa forma, a água fria, proveniente do acumulador,
atinge a base do coletor, onde absorve calor à medida que, por expansão térmica, retorna ao
reservatório. O fluxo de água continua nesse ciclo, e a temperatura eleva-se gradualmente a cada
0
passagem pelo coletor. A geração do vapor de água, numa temperatura média entre 1500 e 200 C, por
meio de energia solar, tem inúmeras aplicações. Em qualquer dos casos, ela pode evitar a queima de
combustíveis fósseis em algumas indústrias, como, por exemplo, a de transformação de alimentos, ou
contribuir para a redução no consumo de eletricidade e gás de cozinha em residências.

Os coletores são formados, basicamente, por uma caixa de material isolante, geralmente de fiberglass e
resinas de poliéster, isolados internamente com lá de vidro fenólica, sobre a qual está um intercambiador
de cobre revestido por um corpo negro. O conjunto é revestido por um vidro de cristal de uns 4 mm de
espessura, perfeitamente isolado com lá de vidro ou silicone.

A unidade de acumulação, geralmente, segue os padrões da AESBRA (Associação Pró-Energia Solar do


Brasil) e, em princípio, tem paredes duplas isolando, rigorosamente, a unidade contra perdas de
temperatura. Alguns módulos comerciais são construídos em aço inoxidável AISI 304 e resinas de
poliéster especiais para água quente, capazes de (ver Figura 7.4.2). Os acumuladores devem ser
0
imunes à resistir a temperaturas de até 280 C e a pressões de 7 atm corrosão para proporcionarem
durabilidade. O perfeito isolamento deve garantir a conservação da água por períodos muito longos.
Uma idéia das dimensões típicas de um coletor solar é apresentada na Figura 7.4.3.

Figura 7.4.3. Dimensões de um Coletor Solar Típico (em centímetros).

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A equação empregada para o planejamento prático de uma placa solar plana é definida por:

Q = FxAx[I (axb ) − Ux(Ti − Ta )]

onde:
Q = energia aproveitada pelo coletor (W);
F = fator de eficiência da remoção de calor do coletor;
2
A = área do coletor (m );
2
1 = relação entre a radiação solar incidente e a absorvida por unidade de superfície do coletor (W/m );
a = coeficiente de transmitância solar das coberturas transparentes;
b = coeficiente de absorção da lâmina do coletor;
0 2
U = coeficiente de perda de energia do coletor (W/ C-m );
0
T1 = temperatura de entrada do fluido ( C);
0
Ta = temperatura ambiente ( C).

O uso de placas solares condutoras implica também na necessidade de se avaliarem as condições


ambientais no local em que vão ser utilizadas, para se evitarem danos e prejuízos. Por exemplo, locais
com vento de alta velocidade podem tornar inviável o uso desse material.

Os coletores são cuidadosamente fabricados, levando em conta as variações na incidência das


radiações, temperatura dos fluidos e temperatura ambiente. A energia aproveitável pelo coletor é
definida por:

QU = AxGxC p x(Ti − T0 )
onde:
G = volume de fluido que passa por unidade de área do coletor;
0
Cp = calor especifico do fluido do coletor (no caso da água, 4.190 J/kg- C);
T0 = temperatura de saída do fluido.

A eficiência instantânea do coletor, η , é definida por:


η = QU / (AxI )

7.4.5. Aquecimento de Água para uso Doméstico

O aquecimento de um volume de água requer uma elevação de temperatura, ou seja, aumento de


energia. Para fins domésticos, essa quantidade de energia relaciona-se aos hábitos particulares de cada
um dos ocupantes da residência. Dados de pesquisas mostram que, em média, cada membro de uma
família requer aproximadamente 100 de água por dia. Mensalmente, a quantidade de energia para
aquecimento de água é estimada por:

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L = NxPx100 x(TW − Tm )xρ W xC p

onde:
N = número de dias por mês;
P = número de pessoas;
Tw = temperatura mínima aceitável para água quente (60'C);
0
Tm = temperatura desejada para água ( C);
ρ W = densidade da água (1,0 kg/ ).

Com essa relação, pode-se prever a quantidade de energia que será gasta em determinado período para
aquecimento de água.

Exemplo

Estimar a média de energia mensal gasta em aquecimento de água em Joules (Watts por segundo) para
0
uma família de 4 pessoas, usando água a uma temperatura ambiente de 11 C.

0 0 0
L = 30dias x 4pessoas x 100 /dia x (60 - 11 ) x 1,0kg/ x 4.190J/kg - C
 

9
L = 2,464 x 10 J

7.4.6. Aplicações da Energia Solar Fotovoltaica

A energia solar fotovoltaica pode ter várias aplicações, entre as quais se pode citar: iluminação
residencial, iluminação pública, campismo, sinalizador estroboscópico, iluminação e sinalização de
embarcações fluviais e marítimas, cercas elétricas, telecomunicações, cabinas telefônicas em lugares
ermos, suprimento de água, conservação de alimentos e medicamentos, controle de pragas e
suprimento abrangente de e ia elétrica.

7.4.6.1. Iluminação Residencial

São fabricadas várias opções para a iluminação residencial. Comercialmente, são disponíveis num
número variado de módulos solares que permitem a iluminação em nível e quantidade adequados para
cada necessidade. São comumente oferecidas luminárias do tipo fluorescente e dulux entre 9 e 22 W
equivalentes às lâmpadas incandescentes de 40 a 100 W.

7.4.6.2. Iluminação Pública

Pode-se obter um bom nível de iluminação em ruas, praças, etc. com a utilização da energia solar. A
energia elétrica é obtida a partir de painéis solares e armazenada num sistema de baterias carregadas
por um controlador de carga.

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7.4.6.3. Campismo

A energia solar é utilizada como fonte prática e econômica na iluminação de áreas de camping,
mantendo a carga do sistema de baterias ou sendo transformada em energia alternada nos padrões de
tensão compatíveis com as mais as facilidades domésticas disponíveis no mercado.

7.4.6.4. Sinalizador Estroboscópico

Os sistemas fotovoltaicos permitem o abastecimento de energia elétrica e a sinalização em locais


remotos. São utilizados na sinalização de advertência em locais de difícil acesso ou onde não há
disponibilidade de rede elétrica. São indicados no auxílio à navegação aérea e marítima, em rodovias ou
na sinalização de torres, antenas, edifícios, etc. Têm sido vastamente empregados no Brasil e em outras
partes do mundo para suprimento de carga em bancos de bateria, em bóias de sinalização portuária,
faróis e balsas oceanográficas. As suas principais vantagens são a pouca necessidade de manutenção,
a confiabilidade e a redução operacional de custos por dispensar visitas técnicas periódicas.

7.4.6.5. Iluminação de Embarcações Fluviais e Marítimas

No caso da iluminação de embarcações fluviais e marítimas, a energia obtida é indicada para


embarcações e outros tipos semelhantes de cargas móveis, onde haja necessidade de um sistema de
energia simples, leve, compacto, eficiente e sem necessidade de combustíveis.

7.4.6.6. Cerca Elétrica

A energia solar pode atuar no confinamento de gado, eliminando a necessidade das trocas de baterias ou instalação
de rede elétrica próximas às pastagens. Mesmo na ausência de luz solar por longos períodos, os sistemas mais
simples podem atingir autonomia de até uma semana.

Para as cercas elétricas, devem ser usados condutores de cobre, sendo o tipo mais indicado os de fio
flexível. Deve ser evitado o uso de bitolas de fio muito finas, pois causam perdas desnecessárias, e de
arames para os fios da cerca, pois esses podem sofrer ferrugem ou oxidação (isolamento).

Os suportes elétricos da cerca podem ser presos diretamente a mourões, com o auxílio de braçadeiras.
É preciso ajustar o sistema para que se tenha o melhor ângulo possível de inclinação para o coletor. A
Tabela 7.4.1 indica as inclinações do coletor solar conforme a latitude terrestre.

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Tabela 7.4.1. Inclinação do Coletor com a Latitude Terrestre


Latitude Ângulo do coletor
(em graus) (em graus)
0-15 15
20 20
25 25
30 35
35 40

A manutenção dos módulos deve ser feita apenas com um pano úmido, sempre com o máximo cuidado.
Devem-se evitar folhas ou depósitos sobre os coletores, pois essas estruturas são muito sensíveis.

As baterias não devem ser instaladas diretamente sobre o solo ou piso, mas colocadas sobre uma base
plástica ou de madeira, ficando livres da umidade e impurezas. Após efetuada a conexão dos bornes da
bateria, seus terminais devem ser recobertos com graxa ou vaselina para evitar sulfatação.

A instalação do sistema elétrico deve ser feita da seguinte forma:


• Providenciar o aterramento do equipamento com uma haste de cobre de, no mínimo, 2 m de
comprimento;
• Conectar o condutor negativo, geralmente de cor preta, com uma garra tipo jacaré, à barra de
aterramento;
• Conectar o outro extremo do cabo negativo de cor preta com o borne negativo da bateria;
• Conectar o condutor negativo do módulo solar ao pólo negativo do equipamento da cerca elétrica;
• Conectar o condutor positivo do módulo solar ao pólo positivo do equipamento;
• Conectar o cabo positivo do equipamento da cerca elétrica ao borne positivo da bateria;
• Conectar o condutor de descarga elétrica do equipamento ao arame galvanizado da cerca
propriamente dita.

7.4.6.7. Telecomunicações

As fontes de energia para telecomunicações são projetadas para fornecer energia com longa autonomia
e, assim, vencer as prolongadas ausências de insolação. Em países mais adiantados, as cabinas
telefônicas, ao longo das rodovias, usam painéis solares para evitar os longos trechos de linhas de
alimentação elétrica. Os sinais telefônicos são enviados via transceptores de rádio, cujos módulos são
supridos por controladores de carga (ver Figura 7.4.4).

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Figura 7.4.4. Sistemas de Telecomunicações com Módulo Solar.

7.4.6.8. Suprimento de Água e Sistemas de Microirrigação

Apesar de seu custo elevado, a energia solar ainda pode ser indicada para zonas rurais, em casos onde
não se disponha de outras formas de energia. Aí, pode-se viabilizar a irrigação ou o abastecimento de
água potável. O conjunto é constituído basicamente por uma bomba e módulos solares para seu
acionamento. Sua característica de vazão é inversamente proporcional à altura de recalque, como em
qualquer sistema convencional de recalque de água. Caso se utilize uma bomba de superfície, a curva
de desempenho é como a mostrada na Figura 7.4.5, onde se observa que a bomba atinge vazões de 5,7
2
/min para 14 m de coluna de água (M.C.A.) de recalque em dias de insolação típicas de 1.000 W/m
(Sol a pino). Para tal, a altura máxima de sucção não deve ultrapassar 1,5 m.

Figura 7.4.6. Característica Pressão x Vazão para Bomba de Água de Superfície.

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Para o exemplo mostrado na Figura 7.4.6, a conexão da bomba de superfície com os módulos solares é
simples, observando-se apenas as polaridades dos componentes para as bombas de água.

Figura 7.4.6. Bomba de Água Tipo Superfície usando Módulos Solares.

Também podem ser utilizadas bombas de imersão, que são fabricadas com aço inoxidável e bronze para
diâmetro externo de até 100 mm. A vazão também é inversamente proporcional à altura de recalque. Por
exemplo, na Figura 7.4.8 para uma vazão de 125 l/h (2,08 l/min), pode-se atingir uma altura de 32 m de
coluna de água. Para maior eficiência desse esquema com painéis solares, utiliza-se um amplificador de
corrente.

7.4.6.9. Suprimento de Energia Elétrica

No Brasil, a energia solar pode fornecer energia elétrica em corrente alternada de 127 V (110 V) ou 220
V em 60 Hz ou, ainda, em corrente contínua de 12 V 24 V ou 48 V Essa energia pode ser utilizada em
pequenos aparelhos eletrodomésticos. A energia disponível é obtida a partir de uma bateria que é
recarregada constantemente com o módulo solar. A carga é alimentada diretamente em corrente
continua ou é transformada, por meio de um inversor de potência do tipo chaveado (comutação forçada),
em corrente alternada senoidal modificada e estabilizada em tensão e freqüência.

7.4.7. Análise Econômica do uso da Energia Solar

Baseados em dados estimativos, percebe-se que, do ponto de vista do usuário, nada é mais econômico
do que o uso de uma ducha ou chuveiro elétrico. Custando em torno de US$ 10.00 a unidade, com um
chuveiro de 3 kW, 365 dias, cinco banhos por dia, numa média de 1/4 hora por banho, haverá um
consumo de aproximadamente 1.369 kWh por ano. Atinge-se, assim, um total de US$ 246.00 em energia
elétrica por ano a uma taxa de US$ 0.18/kWh.

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Entretanto, sob o ponto de vista da companhia de energia elétrica, o uso do chuveiro elétrico pode
tornar-se extremamente dispendioso. Por exemplo, em um condomínio de 40 apartamentos, com três
banheiros por apartamento e 3 kW por chuveiro, haverá necessidade de uma subestação reforçada para
alimentar uma demanda de 360 kW (= 40x3x3), cujo uso se concentra, geralmente, em torno das 18-19
horas de cada dia, e, ainda, uma demanda em horário de ponta da rede pública. Isso, certamente, força
as concessionárias a tomarem providências no sentido de conter a demanda nos horários críticos de
consumo, sob o risco de queda de tensão e possíveis blecautes generalizados.

A normatização, ainda em estudos pelo Programa de Conservação de Energia


(PROCEL/ELETROBRÁS), aponta para profundas conseqüências limitantes no uso do chuveiro elétrico
em novos prédios, certamente sugerindo uma sobretarifa em horário de ponta, visando a forçar o
abandono do uso do chuveiro elétrico. Essa situação poderia ser bastante amenizada se as residências
fossem dotadas de controladores de demanda ou de reservatórios térmicos para armazenamento de
água quente durante as horas de baixa demanda ao longo do dia. Dessa forma, os chuveiros não
necessitariam de tanta potência concentrada num determinado período do dia.

Na visão do poder público, o custo real de cada chuveiro elétrico, pelo qual o usuário paga apenas US$
10.00, é de US$ 5,000.00 por unidade, se for considerado o seu uso em horários de ponta.

Sabe-se que transformação da eletricidade em calor representa uma eficiência reduzidíssima (da ordem
de 5%). Isso se deve aos inúmeros processos pelos quais a eletricidade passa até estar disponível de
forma adequada para o usuário. A eletricidade tem usos mais nobres, como iluminação, acionamento de
motores e outros processos produtivos. Sem prejudicar sensivelmente o conforto da população, a
energia devida ao consumo de eletricidade para chuveiros elétricos poderia ser melhor aproveitada se
fosse colocada à disposição dos segmentos produtivos. Porém, é difícil comparar o custo de um
equipamento que proporciona as vantagens econômicas de absoluta confiabilidade para a sociedade
como um todo, quando o usuário analisa apenas o resultado em kWh do consumo pago pelas tarifas
vigentes. Mesmo assim, a atualização dos preços de energia mostra significativas vantagens para o uso
da energia solar direta para aquecimento de água.

No caso da energia térmica solar, os custos dos investimentos iniciais são altos, sendo que o "campo
solar" absorve em torno de 50% dos custos totais das instalações. Os sistemas térmicos solares,
atualmente em operação comercial, são projetados para integrar a energia solar nas centrais movidas a
combustível fóssil, objetivando a redução das despesas com combustíveis. O fator desmotivante para o
aumento dos investimentos nesta área é ainda o baixo custo e menor escala das centrais movidas a
combustível fóssil (carvão ou óleo).

A realidade tarifária do setor elétrico obrigou a elevação de seus custos para 49 dólares por MW, em
1995, e, provavelmente, para cerca de 100 dólares por MW até o ano 2000, o que é, aproximadamente,
o custo médio em outros países. Dados como esses mostram a grande necessidade do uso da energia

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solar futuramente. Na situação presente, porém, a utilização desse meio requer equipamentos e
tecnologia avançada, o que resulta num empreendimento de custo elevado.

7.5. Células a Combustível

7.5.1. Histórico das Células a Combustível

As células a combustível são dispositivos que convertem a energia química de um combustível e um


oxidante diretamente em energia elétrica. Estes dispositivos apresentam inúmeras vantagens em relação
a tecnologia convencional.

Em 1839, William Grove observou que quando o hidrogênio e oxigênio eram supridos separadamente a
dois eletrodos de platina imersos em solução de ácido sulfúrico, uma corrente elétrica era produzida em
um circuito elétrico externo conectado aos eletrodos.

Siegl foi o primeiro a produzir eletrodos com platina dispersa sobre partículas de carbono, e com esta
experiência surgiram os eletrodos de difusão de gás que são utilizados até o presente no
desenvolvimento das células a combustível.

Eletrólitos fundidos foram, pela primeira vez, usados nesses dispositivos no século XIX. Ostwald teve a
idéia da substituição dos motores térmicos por células eletroquímicas, nas quais se oxidaria o carbono a
CO2 e se reduziria o oxigênio.

Em conseqüência do grande sucesso dos geradores eletromecânicos, o interesse pelos eletroquímicos


ficou em recesso até a Segunda Guerra Mundial, quando se procurou desenvolver fontes de energia
para a tecnologia de satélites. Davtyan publicou resultados sobre células a combustível de eletrólito
sólido para alta temperatura, usando carbonato fundido e células de eletrólito alcalino de alta e baixa
temperaturas.

Os estudos sobre células a combustível continuaram, porém a nível científico com contribuições de
Nernst, Haber, Bauer e outros . Enquanto a maioria dos trabalhos consideravam a utilização do carvão
como combustível, Bauer em 1933 antecipou o que viria a ser o caminho mais eficiente: a utilização dos
gases H2/O2 em uma célula operando em meio alcalino. Nesta época, Francis T. Bacon, um engenheiro
inglês, interessou-se pelo assunto e resolveu partir para a execução de um projeto que levasse as
células a combustível a alguma utilização real . Seu trabalho começou a obter sucesso na década de 50,
com o desenvolvimento dos eletrodos porosos de níquel, que proporcionavam bom rendimento às suas
células alcalinas de alta pressão. Kordesch e Marko, nesta época desenvolveram na Universidade de
Viena, Áustria, estudos semelhantes com eletrodos porosos de carbono e confirmaram a previsão de
Bauer viabilizando a operação das células alcalinas de baixa temperatura e pressão. Enquanto isso, na

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Holanda, G. H. Broens, baseando-se no trabalho do russo O.K. Davtyan lançou as bases para o
desenvolvimento de células de alta temperatura, usando carbonatos fundidos como eletrólito.

Os anos 50 e 60 foram os que proporcionaram melhores condições ao desenvolvimento de novas


tecnologias dentro dos programas espaciais dos países desenvolvidos e os estudos das células a
combustível foram especialmente beneficiados. Esta fase tecnológica assistiu a primeira utilização
prática destes conversores de energia que foi nas naves espaciais, com uma célula a combustível
construída a partir do modelo desenvolvido por Bacon. Esta célula foi responsável pela geração de toda
energia elétrica das naves do projeto Apollo. Estas foram as primeiras demonstrações dos princípios de
funcionamento das células a combustível que até 1930 ainda eram consideradas como mera curiosidade
de laboratório.

Na década de 1970, um impulso maior foi dado com o agravamento do problema energético mundial, em
particular, a crise do petróleo. Esta crise mobilizou a comunidade internacional e, posteriormente, a
preocupação com os níveis alarmantes de poluição ambiental que trouxeram à tona novamente a
conversão eletroquímica de energia. Com isso, as células a combustível que até então tinham
demonstrado excelente desempenho nas missões espaciais mas que pelo seu alto custo
desestimulavam qualquer tentativa de aplicação terrestre, começaram a ser estudadas e vistas como
um sistema viável para aplicações em larga escala por suas vantagens e características. Ainda na
década de 70 as células a combustível demonstraram um excelente desempenho nas missões
espaciais, mas o alto custo desestimulava qualquer tentativa de aplicação terrestre. Para minimizar
esses problemas de custo das célula, tem sido dado outros enfoques tecnológicos, bem como estudos
de materiais que já foram desenvolvidos por projetos financiado pelo governo dos EUA.

Nos EUA os órgãos como NASA, Exército, Força Aérea e Marinha, investiram muito dinheiro em
estudos e desenvolvimento em projetos para a defesa dos EUA ao longo dos anos da chamada Guerra-
Fria. Nestes projetos foram priorizada as áreas de Ciências e Engenharia de Materiais. Com o término
da Guerra-Fria estes materiais tem sido direcionados para outras aplicações e são chamados de
materiais avançados. Assim, alguns destes materiais tem sido testados para uso em células a
combustível .

Após o êxito nos programas espaciais americano, existe um grande interesse em promover aplicações
terrestres da células a combustível como sistemas autônomos de geração de energia elétrica. Em
particular, sistemas de pequeno porte (1-20KW) funcionando com hidrogênio reformado e ar, encontram
suas aplicações na geração de eletricidade em localidades remotas, em veículos elétricos híbridos
associados a baterias secundárias, em veículos pequenos como fonte única e em veículos elétricos de
grande porte (ônibus) ou no fornecimento de energia elétrica doméstica para conjuntos integrados
(hospitais, Shopping Centers, etc.) e para localidades remotas.

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7.5.2. Esquema básico de uma célula a combustível

Teoricamente, vários combustíveis podem ser utilizados, sendo que no estágio atual de
desenvolvimento desta tecnologia, o hidrogênio é o que apresenta o melhor rendimento.

O oxidante utilizado é o oxigênio puro ou do próprio ar atmosférico. Além do reformador, uma


configuração operacional básica de célula a combustível apresenta o módulo principal [Figura 1] onde
ocorre a conversão de energia, e dependendo do caso, um inversor, que transforma a energia elétrica de
corrente contínua em corrente alternada à tensão e freqüência desejada.

Uma célula a combustível consta de dois eletrodos, um positivo, o cátodo e um eletrodo negativo, o
ânodo. Ambos são separados por um eletrólito que transporta os íons. Na medida em que os eletrodos
são supridos com os gases reagentes (hidrogênio para o ânodo e oxigênio ou ar atmosférico para o
cátodo) aparece uma diferença de potencial* entre os mesmos que, a circuito aberto resulta da ordem de
1,0 V.

As reações de redução do oxigênio (RRO) e oxidação do hidrogênio (ROH) ocorrem em potenciais


diferentes, o que proporciona e permite a realização de um trabalho útil pelos elétrons envolvidos desde
que a configuração seja conveniente. Esta configuração na prática, dependerá de vários fatores, tais
como: reagentes usados, temperatura de operação, eletrólito, etc. O hidrogênio utilizado para a
alimentação das células pode ser produzido “in situ” através da reforma do combustível. A Figura 2
mostra também um diagrama de um projeto completo de célula a combustível ácida. O combustível
injetado para a reforma pode ser gás natural, metano, propano, nafta, metanol, etanol, etc.

2e −

- Carga +
Elétrica

Comustível Oxidante

H2 2e − 1 / 2O 2 O2

2 HO − 2e −

2 HO −

1 / 2O2
H2
2H 2O
Produto
2H 2O
eletrólito
H 2O H 2O
ânodo cátodo

Figura 7.5.1. Configuração básica de uma célula a combustível.

Um novo enfoque foi dado desde então a esta tecnologia e sistemas dos mais variados tipos e
tamanhos, tem sido estudados para aplicação em eletrificação de áreas remotas, sistemas de

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emergência, apoio ao sistema público em horários de pico de demanda, veículos elétricos,


telecomunicações, sistemas industriais, etc.

As pesquisas em células a combustível tem sido orientadas ao desempenho de módulos e protótipos,


visando uma variedade muito grande de aplicação que podem ser descritas como:

1) Geração de eletricidade em alta escala;


2) Geração de eletricidade em estações remotas;
3) Utilização de subprodutos em indústrias (cloro-soda);
4) Aplicações em transportes (veículos);
5) Aplicações espaciais.

7.5.3. Vantagens da Célula a Combustível

As vantagens que estes sistemas apresentam descritas a seguir, justificam todo o esforço aplicado em
pesquisa e desenvolvimento.

Elevada Eficiência : a conversão de energia química em energia elétrica na célula não sofre as
limitações do ciclo de Carnot, resultando em elevada eficiência global. Além disso, esta eficiência
mantém-se acima da eficiência da tecnologia convencional para sistemas dimensionados num amplo
espectro de potência.

Modularidade : as células a combustível são totalmente modulares, podem ser construídas em várias
dimensões e configurações (de 100W a vários Megawatts) e ainda podem crescer de acordo com o
aumento da demanda de energia em uma determinada aplicação.

Funcionamento Limpo e Silencioso : o subproduto da conversão de energia numa célula a combustível


depende dos reagentes usados, mas não preocupam, pois seus níveis de contaminação estão sempre
muito abaixo dos rígidos padrões americanos como se pode observar na Tabela 7.5.1.

Rapidez de Resposta : uma célula a combustível é capaz de responder a uma mudança de carga de
vazio a potência total dentro de 1 segundo. Isto só pode ser comparado a outros sistemas eletroquímicos
(pilhas, baterias) ou capacitores.

Flexibilidade no Uso de Combustíveis : uma variedade de combustíveis podem ser utilizados nas células,
mas com a tecnologia existente até o momento somente o hidrogênio apresenta bom rendimento. As
células ácidas (ácido fosfórico como eletrólito ou eletrólito polimérico sólido), podem utilizar diretamente
o hidrogênio produzido por reforma de outros combustíveis. Estes podem ser, etanol, metanol, biogás, os
produtos da gaseificação da madeira ou carvão mineral, além do gás natural ou hidrocarbonetos em
geral. O processo de reforma pode ser realizado no mesmo local de operação da célula, no reformador,

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um equipamento cujo modo de operação permite o funcionamento em conjunto com a célula havendo
inclusive intercâmbio de calor entre eles. Esta opção, apesar de aumentar o volume do sistema, evita
incovenientes de armazenagem e transporte de hidrogênio colaborando com a versatilidade e
segurança.

Grande Capacidade Energética : ao contrário dos outros sistemas eletroquímicos de conversão de


energia, como as baterias primárias, que tem uma vida limitada à utilização dos reagentes nela contidos,
ou com as baterias secundárias, que necessitam periodicamente de recarga, as células a combustível
fornecem energia elétrica enquanto que à elas são fornecidos os reagentes. Portanto sua capacidade
energética está diretamente ligada às quantidades de combustível e oxidante disponíveis.

No estado atual de desenvolvimento, a classificação e a caracterização das células a combustível é


bastante complexa devido a grande variedade de desenhos e sistemas existentes. A Tabela 3 mostra os
cinco diferentes tipos de célula, que serão descritos adiante em detalhes e onde poderão ser
observadas as vantagens e desvantagens de cada tipo. Estas dependem da aplicação proposta, do
combustível a ser utilizado, dos materiais disponíveis e da infra- estrutura existente.

Tabela 7.5.1. Impacto ambiental das células a combustível.


Padrão Norte-
americano
Combustão à gás Combustão à óleo Combustão à carvão Célula à combustível
(kg/MWh) (kg/MWh) (kg/MWh) (kg/MWh)
Partículados 0,2 0,2 0,2 0,0000045

NOx 0,3 0,5 1,1 0,020-0,028

SOx - 1,2 1,9 0,00036

Fumaça Opacidade 20% Opacidade 20% Opacidade 20% Desprezível

Tabela 7.5.2. Tipos de células a combustível.

Temperatura de
Tipo de Célula Eletrólito Reagentes
Operação (ºC)

ácido fosfórico H3PO4 180-200 H2 de reforma/O2/Ar


R
eletrólito polimérico sólido Nafion 70-100 H2 de reforma/O2/Ar

Alcalina KOH (25-50%) 25-100 H2/O2 puros

carbonatos fundidos K2CO3/Li2CO3 657-700 Gás natural/Carvão

óxido sólido ZrO2/Y2O3 900-1000 Gás natural/Carvão

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7.5.4. Desempenho das Células a Combustível

O rendimento de uma célula a combustível é função da tensão de operação. Tensões mais elevadas
produzem rendimento maior e, menor consumo de combustível (hidrogênio). Para uma dada potência de
saída a escolha fica entre: operar em tensões mais altas, aumentando-se o número de células unitárias
(stacks) com maiores custos de capital, ou operar com densidades maiores de correntes com menos
stacks e maiores custos de combustível

Tabela7.5.3. Valores nominais de uma microcentral comercial


Descrição Especificação
Potência CA de saída 3 kW
Tensão CA de saída 120V
Tensão CC da célula a combustível 42-70V
Temperatura de Operação 60ºC
Vazão nominal de hidrogênio gasoso reformado 100  

Conteúdo de CO reformado <50ppm

Os custos da célula a combustível e do hidrogênio, tanto quanto o rendimento do conjunto de stacks,


determinarão o custo final (R$/MWh) em qualquer caso. O custo poderá ser reduzido se for efetuado o
aproveitamento do calor que é gerado também pela célula a combustível, ou seja, se além da energia
elétrica gerada utilizarmos para efeito útil o calor que produzido pela célula. Na Tabela 7.5.2. podemos
verificar as diferentes temperaturas de operação que podem refletir num maior ou menor aproveitamento
do calor disponível. Os células atuais existentes possuem a possibilidade de se efetuar sistemas de co-
geração (eletricidade e calor) ou tri-geração (eletricidade, calor e frio por sistemas de absorção).

TM
Uma célula a combustível tipo Ácido Fosfórico PC25 ONSI, adquirida pela COPEL, pode fornecer 200
kW de eletricidade e mais 200 kW de energia térmica para o sistema. O rendimento deste sistema é de
76%, sendo que a geração de eletricidade possui um rendimento de 36%. O custo estimado da energia
elétrica gerada depende principalmente do custo do combustível, e se considerar o não aproveitamento
do calor gerado pela célula este custo pode chegar até R$ 540,00 /MWh, ou seja, US$ 220,00 /MWh.

O custo de implantação de um sistema de célula a combustível, o que hoje reflete ainda o custo de
pesquisa, é de até US$ 4.000,00 /kW, sendo que na maioria dos casos as vidas úteis dos principais
componentes são de até 6 anos.

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7.6. Biomassa e Biogás

7.6.1. Introdução

A utilização da biomassa na obtenção de energia representa urna fonte alternativa de grande eficiência
na substituição do petróleo. Na área urbana, além de produzir energia. seu grande benefício é a
utilização de enormes quantidades de lixo orgânico ou de efluentes líquidos, como, por exemplo,
resíduos industriais, esgotos e lixeiras, que deixam de agredir a natureza e podem ser transformados
em combustíveis industriais ou automotivos.

O uso da biomassa e de biodigestores apresenta notável vantagem na área rural, onde as sobras de
resíduos culturais e dejetos de animais podem ser utilizados para obter o biofertilizante, que é o material
orgânico processado no biodigestor usado como adubo. Além deste, pode-se prover a energia
necessária para a iluminação, o aquecimento e a movimentação de motores.

7.6.2. O Biogás

O biogás, também denominado Metano ou Gobar Gás, é o resultado de uma mistura de gases. É um
combustível de grande poder calorífico resultante da fermentação anaeróbica de matérias orgânicas,
chamadas de biomassa. A composição desse gás varia com o tipo de material orgânico utilizado. A sua
composição básica é mostrada na Tabela 7.6.1.

Tabela 7.6.1. Composição provável dos gases combustíveis


60 a 70% Metano (CH4)
30 a 40% Gás Carbônico (CO2)
Traços Nitrogênio (N)
Traços Hidrogênio (H)
Traços Gás Sulfídrico (H2S)

O metano, principal componente do biogás, é um gás incolor, sem cheiro, altamente combustível e,
quando entra em combustão, apresenta uma chama azul-lilás e pequenas manchas vermelhas, não
deixando fuligem e com um mínimo de poluição. O poder calorífico do biogás depende da quantidade de
3
metano na sua composição, podendo chegar de 5.000 a 6.000 Kcal/m .

O biogás pode ser usado para aquecimento de fogões, campânulas, estufas, aquecedores de água,
lampiões, funcionamento de motores e outros aparelhos.

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7.6.3. A Biomassa

Podem ser considerados como biomassa todos os materiais que têm a propriedade de se decomporem
por efeito biológico, ou seja pela ação de bactérias. As biomassas que podem ser decompostas por
bactérias metanogênicas produzem o biogás, dependendo de fatores corno temperatura, pH, relação
carbono/nitrogênio e a qualidade de cada uma. Dentre as matérias orgânicas mais viáveis e acessíveis,
estão:

• dejetos de animais;
• restos culturais;
• aguapé;
• resíduos industriais;
• lixos urbanos;
• algas marinhas,

Os dejetos de animais são facilmente disponíveis entre criadores, são de uso prático e misturam-se
facilmente com a água. Caso haja a decisão de se instalar um biodigestor, o primeiro passo é a
determinação de sua capacidade, observando-se a disponibilidade local de biomassa. Para esse calculo,
basta multiplicar o peso de um animal vivo por 0,019, para saber a quantidade aproximada da produção
de esterco diário.

Os restos culturais produzem, em média, sete vezes mais biogás que os dejetos de animais, mas não
oferecem muita praticidade em relação à coleta, abastecimento e descarregamento em biodigestores
Para esse tipo de biomassa, os biodigestores do tipo intermitente são os mais apropriados. Os restos
culturais não se misturam com a água, por serem mais leves, só imergem após iniciado o processo de
decomposição, quando começa a produção do gás. Se triturados, funcionam em qualquer tipo de
biodigestor, ainda que isso represente gasto de energia e aumento de mão-de-obra. O abastecimento é
feito uma vez a cada 15 ou 20 dias, sendo que o período de fermentação e de produção de biogás leva
de 60 a 120 dias. Culturas com defensivos agrícolas clorados não são utilizados, pois o cloro não
permite o desenvolvimento das bactérias metanogênicas. A Tabela 7.5.2 mostra o volume aproximado
de biogás produzido por restos culturais.

O aguapé em condições favoráveis, produz até 600 kg de matéria seca por hectare por dia oferecendo
excelente produção de biogás. Conforme dados de pesquisas do instituto da Marinha, foram captados
2
de 350 a 410 de biogás por quilograma de aguapé seco. Se cada m de plantação pode produzir; em
3
média, 18 por dia, ou 30.000 m /há. A quantidade de metano chega a 80% em volume, sendo bem
superior a das outras biomassas.

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Tabela 7.5.2. Volume de biogás produzido por restos orgânicos

Biomassa Produção de Biogás Metano (%)


3
(m /ton)

Folhas de girassol 300 58


Palhas de arroz 300 Variável
Palhas de trigo 300 Variável
Palhas de feijão 380 59
Palhas de soja 300 57
Haste de linho 359 59
Folha de parreira 270 Variável
Folha de batateira 270 Variável
Folhas secas de árvore 245 58

A utilização de resíduos industriais é praticamente inexistente no Brasil. Apenas nos casos de


industrialização de frutas, carnes, cereais e álcool, tais biomassas podem ser aproveitadas evitando que
seus resíduos sejam abandonados em rios ou ao ar livre, poluindo o meio ambiente.

O lixo urbano pode ser transformado em fonte de energia se processados em biodigestores. Poderia ser
considerado como um poderoso instrumento de destruição de lixo se fosse associado a um produto
nobre que é a eletricidade.

As algas marinhas representam uma grande opção de matéria prima essencial a produção de biogás.
Estudos feitos no litoral do Rio Grande do Norte comprovam que o biogás produzido a partir delas é de
boa qualidade, caracterizando-se pela ausência de cheiro de gás à base de enxofre apresentando uma
chama azul-clara. Produz, em média 300 /kg de matéria-prima seca, sendo de 60 a 70% do gás
metano. Seu poder calorífico atinge cerca de 6.600 a 7.200 calorias.
7.6.4. Formação Biológica do Biogás

O esterco de animais é uma das biomassas encontradas com relativa facilidade e em quantidades
razoáveis nas propriedades rurais. Assim, obtém-se a formação anaeróbia da biomassa, a partir da
mistura esterco animal-água-resíduos orgânicos, a qual passa por três etapas:

• Na etapa 1 (ou etapa sólida), substâncias como carbohidratos, lipídios e proteínas são atacadas por
bactérias fermentatívas comuns para a produção de ácidos graxos, glicose e aminoácidos.
• Na etapa 2 (ou etapa líquida), as substâncias formadas anteriormente são atacadas pela propion-
bactéria, bactérias acetogênicas e bactérias acidogênicas, formando ácidos orgânicos,
principalmente o propiônico e o acético, ainda formando o dióxido de carbono, acetatos e H2.
• Na etapa 3 (ou etapa gasosa), as bactérias metanogênicas atuam sobre os ácidos orgânicos para
produzir, principalmente, o metano CH4 e o dióxido de carbono, C02 (biogás).

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A última etapa é a mais importante, pois as bactérias requerem cuidados especiais, por serem
responsáveis pela limitação da velocidade da cadeia de reações. Isso se deve, principalmente, à
formação de microbolhas de metano e dióxido de carbono em torno da bactéria metanogênica, isolando-
a com a mistura em digestão. Além disso, necessitam de temperatura e acidez adequadas para a sua
reprodução. A fermentação metanogênica é um processo biológico altamente sensível, envolvendo
muitos rnicroorganismos, como bactérias metanogênicas termofílicas e bactérias metanogênicas
0 0
mesofílicas, que se reproduzem entre 45 e 50 C e 20 e 45 C, respectivamente.

7.6.5. Características do Biodigestor

Existem vários modelos de biodigestores, porém, neste estudo, será abordado um biodigestor de
capacidade mediana do tipo indiano, o qual, atualmente tem sido utilizado como referência para a
maioria das instalações encontradas no Brasil. No modelo indiano, o sistema de produção do biogás é
constituído principalmente pelo digestor e pelo gasômetro. (ver Figura 7.6.1).

Figura 7.6.1. Produção de biogás usando digetores.

O digestor é um reservatório de alvenaria ou de concreto, construído abaixo do nível do solo, onde uma
parede divide-o em duas partes semicilíndricas com a finalidade de reter e dar circulação à biomassa
carregada em um processo de biofertilização. O carregamento do biodigestor é feito pela caixa de
entrada, que pode servir de pré-fermentador. A caixa de entrada comunica-se com o digestor por meio
de um cano que vai até a sua parte inferior. A saída do biofertilizante é feita por outro cano num nível tal
que a quantidade de biomassa que entra é a mesma que sai já na forma de biofertilizante. Deve-se ter
urna caixa ou tanque de recolhimento ou um açude para poder bombear e/ou levar o biofertilizante à
lavoura.

O gasômetro destina-se a armazenar o biogás e dar urna pressão equivalente a seu peso. Geralmente,
são colocados contrapesos junto com o gasômetro para fornecer uma maior tensão na saída. Tais
contrapesos podem ser sacos de areia ou blocos de cimento. O gás será transportado por uma manga
de uma polegada.

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3
Nas dimensões dadas na Figura 7.6.1 o biodigestor produz 6 rn de gás/dia, que correspondem a 8.568
3
kWh (1rn /h 1.428 kWh). O tanque será carregado com 240 de biomassa/dia, dos quais 120 são de
 

água e 120 de esterco bovino. Neste caso, são necessários de 12 a 13 animais adultos bovinos semi-


estabulados.

7.6.6. Construção do Biodigestor

O biodigestor deve estar situado entre o ponto de consumo do gás e o ponto de coleta do esterco, a uma
distância de 20 a 25 m do ponto de consumo. Dá-se preferência a terrenos declivosos para facilitar o
recolhimento e a distribuição do biofertilizante.

O poço do digestor deve ser cilíndrico, com diâmetro um pouco maior que o diâmetro externo do digestor
e com profundidade de 20 a 30 cm menor que a sua altura útil.
Durante a escavação do poço, devem ser feitas duas fendas em sentidos opostos, com inclinação
0
aproximada de 45 para a colocação dos canos de carga e descarga. Caso o terreno seja plano, deve
ser feita uma escavação menos profunda, utilizando-se a terra retirada para formar uma elevação em
torno do digestor, que facilitará o seu carregamento e descarregamento.

O piso do digestor deve suportar toda a carga hidráulica sobre ele, considerando-se dois casos:

• nos poços com fundo de rocha ou terreno muito firmes, pode-se fazer o piso de alvenaria assentado
sobre areia fina;
• nos poços que não apresentam firmeza, o piso deverá ser de concreto, com espessura de 10 a 15
cm.

As paredes exteriores e as paredes divisórias do digestor podem. ser de concreto ou de alvenaria com
tijolos simples, evitando deixa-los mal-assentados ou com fendas por onde possa ocorrer vazamento ou
quebra do digestor. As paredes divisórias tem a finalidade de dirigir o fluxo mássico a ser tratado e de
servir como suporte para o guia do gasômetro. Esta última função necessita de suportes bem resistentes
para agüentar os movimentos do gasômetro. Para tal, recomenda-se levantar paredes duplas ou
divisórias de concreto, deixando-se urna abertura de 40 a 50 cm, onde será chumbado o cano guia do
gasômetro.

A tubulação de carga e descarga do digestor serve para deixar circular a massa a ser tratada. Os canos
serão de PVC com 10 cm de diâmetro e devem ser colocados nas fendas do poço do digestor,
chumbados na parte inferior do poço e fixados no alto da construção das paredes.

O tanque de carga pode servir como tanque de pré-fermentação e/ou tanque onde é feita a mistura do
material. Logo, deve ter volume um pouco maior que o da carga diária e ficar um pouco acima do nível
do líquido do digestor. O tanque de descarga é feito mais com a finalidade de proteger o fluxo de saída.

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Rebocar o digestor é de fundamental importância na sua construção e desempenho. O reboco deve ser
com cimento no traço de 1:6, com areia fina e ter espessura superior a 10 mm. Para acabamento final da
parede do digestor e para garantir a exatidão final da medida do diâmetro, sugere-se que seja usado um
gabarito apoiado no cano de guia central que possa girar livremente em torno deste.

Exemplo de dimensionamento de um biodigestor:

A Figura 7.6.1 apresenta o diagrama esquemático de um biodigestor com capacidade de produção de 6


3
m /dia e com tempo de retenção de 50 dias. Assim, para a produção diária de gás necessita-se de:

• 240 de biomassa por dia;


• tempo de retenção de 50 dias;

3 3 3
total de volume útil: (240 /dia) x 50 dias x (1m /10 ) = 12 m ;
• diâmetro de 2,5 m;
• altura total de 2,85 m;
• altura útil de 2,45 m;

3
volume total de 14 m ;

3
volume de carga de 12 m ;

3
volume do gasômetro de 6,3 m ;
• diâmetro externo do gasômetro de 2,40 m;
• altura central do gasômetro de 1,85 m;
• altura lateral do gasômetro de 1 ,40 m;
• altura da parede divisória de 1,52 m;
• dimensões do tanque de carga: para carregar 300 de biomassa, deve-se ter um tanque de
1 m x 1 m x 0,8 m.

7.6.7. Geração de Eletricidade usando Biogás

Para a instalação de uma microcentral que utilize o biogás como fonte alternativa de energia elétrica
para pequenas potências, é necessário o uso de motores que funcionem à base de gás, os quais serão
acoplados a turbinas e geradores de eletricidade. (ver Figura 7.6.2).

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Figura 7.6.2. Conjunto Gerador de Energia Elétrica usando Biogás

Atualmente, são fabricados motores e turbinas que funcionam a gás para pequenas unidades, ainda que
na grande maioria, estejam apenas na faixa das grandes potências (1,6 a 216 MW). Para o caso de uma
microcentral, podem ser usados motores a álcool e a gasolina adaptados para funcionarem com metano,
sem oferecerem qualquer ameaça ao desempenho do mesmo. A adaptação e feita com a instalação de
um botijão de biogás no lugar do combustível convencional. Para a regulação da passagem do gás é
colocado, próximo ao motor, um dispositivo denominado redutor. O biogás, por ser de fluxo de baixa
pressão, exige uma abertura maior no injetor (com diâmetro de 1,5 a 2 mm). Em síntese, a adaptação de
aparelhos que usem GLP como biogás consiste apenas na troca do injetor ou no aumento do diâmetro
de vazão do biogás que flui para o motor. A Tabela 7.6.6 mostra o consumo médio de biogás para
motores de diversas potências.

Tabela 7.6.6. Consumo médio de biogás por motores

Motor Consumo Médio


3
1,0 HP 0,45 m /h
3
2,0 HP 0,92 m /h
3
5,5 HP 2,24 m /h
3
9,0 HP 3,16 m /h

3
Observando a vazão de 1m /h 1.428 kWh, basta usar uma regra de três simples para determinar o
consumo da potência em kW de cada motor, corno ilustrado, no exemplo abaixo, para um motor de 9
HP.

1m3 / h 1.428kWh
3
=
3,16m / h x

3 3
x = (1.428 kWh x 3,16 m /h) / 1 m /h
x = 4.512,48 kWh

Para ter uma melhor idéia do significado destas quantidades pode-se considerar a energia equivalente
por metro cúbico de biogás para aquecimento de 6.148,98 kcal conforme tabela 7.6.7. A Tabela 7.6.8
mostra a quantidade de biogás usado diariamente para fins domésticos por uma família de cinco ou seis
pessoas.

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Tabela 7.6.7. Equivalentes Energéticos por metro cúbico de Biogás para aquecer 6.148,98 kcal

Combustível Quantidades Equivalentes

Gasolina 0,98 litros


Álcool 1,34 litros
Óleo Cru 0,72 litros
3
Gás Natural 1,50 m
3
Carvão 1,51 m
Eletricidade 2,21 kWh

Tabela 7.6.8. Quantidades domésticas diárias de gás para uma família de 5/6 pessoas

Uso Biogás
3
Cozinha 1,960 m
3
Banheira 0,588 m
3
Chuveiro 0,336 m
3
Refrigeração de Alimentos 2,800 m
3
Iluminação 0,140 m
Gasolina (combustível) 0,500/cv/hora

7.7. ENERGIA HIDROELÉTRICA

7.7.1. Introdução

A grande popularidade da autoprodução de energia elétrica, nos dias de hoje, deve-se ao fato de que,
em grande parte das propriedades rurais passam rios com corredeiras ou quedas de água que podem
ser aproveitadas para obtenção de energia primária. Essa energia é, geralmente, usada para
acionamento de máquinas estacionárias, geração de eletricidade e recalque de água para reservatórios
mais elevados. Para os microaproveitamentos elétricos, podem-se utilizar, ainda, as rodas de água ou,
dependendo da vazão ou queda disponível, as turbinas.

A primeira microcentral hidroelétrica que se tem notícia foi construída na Irlanda do Norte, em 1883, para
fornecer energia para um trem elétrico, a partir de duas turbinas de 52 HP (1 HP = 1 horse power = 746
Watts). Foi antecedida apenas pelo primeiro conjunto turbina-gerador que se conhece, com
aproximadamente 8 HP acionado a partir de uma queda bruta de 10 m de água para atender algumas
lâmpadas com filamento de carvão, em 1882.

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No Brasil, em 1883, foi montado, em Diamantina, um esquema para aproveitamento de energia


hidroelétrica com 12 kW, 2 geradores acionados por roda de água com um desnível de 5 m. Desde
então, a evolução diversificada do setor energético foi prodigiosa e passou a influir em todos os setores
da vida cotidiana. Dentro dessa diversidade, permaneceram, mais do que em nenhuma outra, as várias
modalidades de centrais hidroelétricas.

As centrais hidroelétricas podem ser a fio de água ou com reservatório de acumulação. As hidroelétricas
a fio de água são construídas ao longo do rio ou riacho sem formação de lago para a tomada de água.
Assim, o curso do rio não é alterado, e a sua vazão mínima será igual ou maior que a da potência das
turbinas. O excesso de água deverá ser desviado e, por isso, o aproveitamento do volume de água não é
total. O custo de implantação da obra é menor, com menos impacto ambiental e sem maiores estudos
hidrológicos.

Por outro lado, a implantação de uma microcentral hidroelétrica com reservatório de acumulação requer
levantamentos hidrológico e topográfico para determinar os desníveis do terreno. Esses dados
apresentam grande importância, pois são utilizados diretamente no estabelecimento da vazão do curso
de água para o cálculo da potência a ser produzida pela central. O aproveitamento da água é total. A
obra causa impacto, no meio ambiente, proporcional ao seu tamanho e tem um potencial de geração
maior do que a hidroelétrica de fio de água, compensando o maior investimento de capital. O lago
formado pela acumulação da água pode ser usado para outros fins, como recreação, criação de peixes,
irrigação e urbanismo.

Em qualquer caso, para o projeto das microcentrais hidroelétricas, podem ser úteis dados como:

• disponibilidade local dos materiais necessários à construção da barragem (quando preciso), como
pedras e madeiras;
• disponibilidade de mão-de-obra para a redução de custos;
• distância da rede pública até a central, para possibilitar uma futura interligação à rede de distribuição
por linha monofásica (MRT), bifásica, trifásica ou em Corrente Contínua de Baixa Tensão (CCBT).

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7.7.2. Determinação da Potência Aproveitável

A captação de energia a partir da vazão de grandes rios é uma idéia muito atraente. Contudo, o ânimo
pode arrefecer-se quando for levada em conta a densidade de energia que se pode obter da água
corrente. Veja o caso de uma correnteza de 1,0 m/s, cuja densidade de potência é de aproximadamente
2
500 W/m da seção transversal do rio. Para complicar mais, apenas 60% dessa energia pode ser,
teoricamente, recuperada para a maioria das microcentrais hidroelétricas, e, quase sempre, as máquinas
para aproveitar esse tipo de energia são de fabricação grosseira, cuja eficiência raramente passa dos
2
50%. Isto é, aproveita-se de maneira útil apenas 150 W/m da área interceptada da corrente de água.
Como a potência disponível de uma correnteza é proporcional ao cubo da velocidade, se a velocidade da
2
correnteza fosse 2 m/s, a densidade subiria para 1200 W/m , e assim por diante. Entretanto, tais
velocidades normalmente não são muito comuns nos córregos de onde se extrai energia.

Na prática, a potência aproveitável é a máxima potência que o local escolhido pode oferecer com as
suas características topográficas de desnível e hidrológicas de vazão disponíveis no curso de água. Note
que a potência no eixo da bomba deve ser igual à potência elétrica máxima que poderá ser gerada no
local. Dependendo das dimensões geométricas e do material utilizado nas máquinas e tubulação das
microcentrais, pode-se determinar esta potência elétrica em kW, aproximadamente, por:

P = 6,0 x Q x H
onde:
3
Q = vazão disponível do curso de água, em m /s
H = queda bruta em metros, isto é, a diferença entre o nível de água previsto para o reservatório (açude)
e o nível de água do rio no local da casa de máquinas

A vazão da bomba e a altura manométrica de recalque podem ser calculadas, respectivamente, por:

Qb = 0,75xQ
Hb = 0,55xH

Os métodos usados para os trabalhos de topografia e hidrografia são, geralmente, expeditos, como os
discutidos a seguir.

7.7.3. Levantamentos Topográficos Expeditos

7.7.3.1. Medição Simples de Desníveis

Existem dois métodos muito simples utilizados para a medição da queda natural de água no local do
aproveitamento. Para o primeiro deles, são suficientes apenas um nível de carpinteiro e duas réguas
bem aplainadas, sendo uma de 3 a 4 m e a outra de 2 m de comprimento, pouco flexível e marcada com

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a escala métrica. Coloca-se a ponta inferior da régua menor no nível da água e em posição vertical
(Figura 7.7.1). Depois, coloca-se a régua maior no terreno e controla-se, pelo nível de carpinteiro, a sua
posição horizontal. Mede-se, a seguir, a altura h e marca-se o nível do ponto onde descansa a ponta da
régua maior no terreno. A partir dessa posição, repete-se a operação entre os vários pontos da elevação
a serem determinados, verificando-se todas as diferenças de nível h. A altura de queda total é
determinada pelo somatório das diferenças dos níveis hi, ou seja:

H = h1 + h2 + h3 +...+ hn

Figura 7.7.1. Método das duas Réguas para Medida de Desnível

Para o segundo método, são necessárias duas réguas de cerca de 2 m de comprimento e um tubo
plástico, flexível e transparente, com no mínimo, 1 cm de diâmetro interno e 6 m de comprimento. Para
facilitar a medição, as réguas devem ser marcadas com a escala métrica. Colocam-se as duas réguas
em posição vertical sobre dois pontos quaisquer entre os quais se deseja medir o desnível (Figura 7.7.2).
Com auxílio do tubo plástico flexível e transparente, cheio de água, determinam-se, em cada régua,
pontos de igual nível, criando um plano horizontal de referência. A diferença entre as alturas do terreno
até esse plano sobre os dois pontos dará a diferença total de nível h entre eles.

Figura 7.7.2. Método da Régua para Medida de Desnível

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7.7.3.2. Medição Expedita da Vazão de um Curso de Água

Entre os métodos expeditos para se medir a vazão de uma vala, córrego, riacho ou até de um rio, os
mais simples são os realizados por meio de flutuadores, de vertedores retangulares ou triangulares ou,
ainda, pela medida da variação da resistividade da água entre dois pontos.

a) Medição com Flutuador

Na medição com flutuador, escolhe-se um trecho reto do curso de água cujo leito seja uniforme e onde a
água flua serenamente. Mede-se, então, um comprimento L ao longo de seu curso que, se possível, seja
superior a 10 m, marcando-se o seu início e o seu final. A marcação dos pontos de interesse pode ser
feita com duas cordas amarradas em estacas cravadas nas margens e em posição perpendicular ao eixo
da vala ou do córrego. Em seguida, coloca-se, a alguns metros, a montante do início do trecho escolhido
e, no meio do leito, um flutuador, que pode ser uma garrafa fechada e lastrada com água em 1/3 do seu
volume, para mantê-la na posição vertical. Com um cronômetro, determina-se o tempo, em segundos,
que o flutuador leva para percorrer o trecho escolhido.

As áreas das seções transversais, limitadas pelos níveis da água e do fundo da vala ou córrego, devem
ser determinadas, no mínimo, para os pontos inicial e final da medição. Se o comprimento desse trecho
for longo demais, aconselha-se determinar as áreas de uma ou mais seções transversais intermediárias.
A vazão Q é calculada pela fórmula:
Q = (0,8xLxA)/t
onde:
L = comprimento do trecho no qual se quer medir a vazão;
A = média das áreas das seções transversais;
t = tempo de percurso do flutuador medido em segundos;
0,8 = coeficiente médio de correção da velocidade superficial para a velocidade média na seção
de medição.

b) Medição com Vertedor Retangular

O processo de medição com vertedor retangular conduz a resultados mais precisos que o processo com
o flutuador, embora requeira mais trabalho e esteja limitado a casos em que as condições morfológicas
do curso de água permitam a sua realização.

Para tal, barra-se o curso de água com um painel de tábuas que tenha uma abertura central retangular
de área conhecida, suficiente para a passagem de toda a água. A largura do vertedor deve ter de um
meio até dois terços da largura do curso de água. Os cortes de abertura devem ser chanfrados na
direção do fluxo de água. Depois de vedadas todas as fendas do painel tapume e firmado o vertedor,
crava-se uma estaca a montante do mesmo, a um ou dois metros de distância, cuja extremidade

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superior fique no nível em que está a crista do vertedor (parte inferior da abertura). Espera-se até que a
água escoe normalmente através do vertedor e mede-se a altura do nível de água, h, que estiver acima
do topo da estaca. A descarga de água pode ser calculada por:

Q = 1,84x(L - 0,2xh)x h3/2

onde:
L = largura da abertura do vertedor em m (e maior do que 3xh);
h = altura do nível de água acima da crista do vertedor, medida em m, a montante desta, no local onde a
estaca foi cravada.

c) Medição com Vertedor Triangular

Emprega-se um vertedor com abertura triangular em "V" quando as descargas são muito pequenas,
inferiores a 200 l/s, ou quando o córrego tem uma largura reduzida em relação à sua profundidade, não
dando condições para a instalação de um vertedor com seção retangular. Os processos de instalação e
medição para esse tipo de vertedor são os mesmos já apresentados para o vertedor retangular, sendo,
porém, a vazão calculada por:
Q = 1,4xh5/2

onde:
h = altura, em metros, do nível de água acima do vértice inferior do vertedor, medida a montante desse
no local onde foi cravada a estaca.

d) Medição pela Diluição de Sal na Água

A determinação da vazão de água pode ser realizada também por métodos que usam a propriedade da
diluição de sal no curso do rio. No primeiro deles, derrama-se sal na água, de uma só vez, e a variação
da concentração de sal no curso é medida rio abaixo, durante um certo período de tempo. No segundo
método, a solução de sal é derramada na água, a uma determinada taxa, e a concentração é medida rio
abaixo.

Para implementar o primeiro método, necessita-se de aproximadamente 1/3 de quilograma para cada
3 3
décimo da vazão estimada, Q, em m /s. Uma massa de sal, M (kg), a uma taxa de 3 kg/m /s, é
inicialmente dissolvida em um balde de água e derramada no rio de uma só vez. A uns 50 m, ou mais, rio
-1
abaixo, mede-se a resistência e, portanto, a condutividade (Ω ) da água, periodicamente, durante alguns
minutos (5 ou 6 minutos), de tal maneira que se possa construir um gráfico como o da Figura 2.3.
Calcula-se a área, A, sob a curva obtida na figura em Ω e pela conversão de concentração C = µk
-1

(kg/m ) em condutividade, (µ), dada por um fator de escala "k" (kg/m por Ω ) tal como relacionado na
3 3 -1

equação seguinte: Q=M/Axk

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Figura 7.7.3. Curva Típica da Variação da Condutividade num Ponto de um Rio

Outra forma de se medir a vazão de um curso de água, mais ou menos turbulento, até certo ponto
preciso (em torno de 7%), rápido e simples, pode ser feita derramando-se no córrego, gradualmente, sal
3
em alta concentração "C1" (100% medido em kg/m , conforme explicado anteriormente) a uma taxa
constante "q". Isto é, inicialmente, o sal pode ser considerado com uma concentração de 100%, sendo,
então, dispersado em toda a largura da corredeira, a jusante. Num determinado ponto, córrego abaixo, a
mistura estará completa, e a concentração de sal, que passou de "C1" para "C2", é medida indiretamente
pela condutividade da água nesse ponto. A vazão no córrego é, então:

Q = q x (C1/C2) (m3/s)

Para isso, escolhe-se um trecho relativamente longo e reto do rio, de uns 50 m de comprimento, onde se
derrama o sal de cozinha. Com um multiteste comum ou um ôhmmetro (capaz de medir até 0,01 de
Ohm), mede-se a resistividade da água, a jusante do rio, no final do comprimento escolhido para teste.
Lembrar que a resistividade (ou a resistência) é o inverso da condutividade (ou condutância) e esta é
proporcional à concentração de sal. O método baseia-se na idéia de que a concentração de sal no
córrego foi reduzida de "C1" para "C2" e que Q é muito maior do que "q". Se essas duas hipóteses não
forem bastante aproximadas, uma forma mais precisa desta equação deverá ser buscada.

A área transversal média do curso de água é obtida como no caso da medição com o flutuador (ver
Subseção 7.7.3.2).

7.7.4. Unidade Geradora

Unidade geradora é o conjunto formado pela máquina hidráulica primária e pelo gerador, com os
equipamentos complementares principais: regulador (eletromecânico, eletroeletrônico ou eletrônico),
válvula de admissão da água, quadro de comando e volante inercial.

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7.7.5. Rodas de Água

As rodas de água são máquinas bastante primitivas e simples, geralmente construídas de madeira,
podendo as pás serem de chapas de aço. São acionadas por água, em movimento tangencial à roda, e a
água não exerce nenhuma ação de impulsão ou choque sobre as pás, como é o caso das turbinas. O
empuxo da água sobre as pás desenvolve um torque no seu eixo, e a roda gira. Como se pode
depreender, tais máquinas têm porte avantajado, funcionam com velocidades angulares baixas e são de
pouco rendimento, devido às perdas por atrito, turbilhonamento, não-preenchimento completo dos
alcatruzes (ou cubas), etc.

Como, na maioria dos casos, a construção dessas rodas é artesanal, existe uma grande variedade de
modelos. A mais comum delas é denominada roda de alcatruzes de cima, por ser constituída de vasos
fixos, em torno de uma roda, que se enchem de água pela parte superior da máquina (Figura 7.7.4).
Essa roda é também denominada de motor hidráulico de nível ou por gravidade, pois a água acumula-se
em pequenos compartimentos na parte da semi-roda exposta ao fluxo de água. O peso da água provoca
um torque motor no sentido do seu escoamento.

Um segundo tipo é conhecido como roda de alcatruzes de culíssa. Esse modelo aproveita as energias
de posição e cinética. E assim denominado porque a água escoa por um bocal disposto tangencialmente
à roda, e o empuxo da água sobre as pás desenvolve um torque no seu eixo, fazendo-a girar.

Num outro tipo, conhecido como roda de baixo, a água causa seu empuxo na parte de baixo da roda (ver
Figura 7.7.5). Tais rodas podem ser montadas sobre flutuadores e colocadas na corrente de água. Essa
montagem é vantajosa porque acompanha a variação do nível do córrego e mantém um torque quase
constante.

Figura 7.7.4. Roda de Áágua de Alcatruzes de Cima

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As variedades das rodas de água podem então, ser agrupadas como: rodas de alcatruzes de cima ou de
culissa, rodas com pás curvas ou retas e rodas de baixo.

Figura 7.7.5. Roda de Água de Alcatruzes de Baixo

De uma maneira geral, as rodas de água aproveitam o somatório das três formas de energia expressas
pela equação do teorema de Bernouilli, que se mantém constante para uma dada secção e posição na
canalização, expressas por:

onde:

v = velocidade de escoamento em metros por segundo;


g = 9,81m por segundo;
p = pressão da água em quilogramas-força /metro quadrado (considera-se a mesma pressão atmosférica
na entrada e na saída - ∆p = 0,0);
h = altura da água em metros;
P = potência em quilograma-metro por segundo (1 CV = 75 kgm/s = 736 Watts);
3
y = densidade da água em quilogramas por metro cúbico (= 1.000,00 kglm ).

No caso da roda de alcatruzes, a potência efetiva no seu eixo é dada por:

onde:
η = rendimento (valor prático = 0,60);
Hm = altura entre a crista do filete de água no canal de entrada e a do canal da saída.

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Note que o diâmetro da roda de alcatruzes de cima é a altura mínima da queda de água necessária para
movê-la, enquanto a roda de alcatruzes de baixo é adequada para alturas menores de queda, da ordem
do comprimento das pás da roda ou menos.

Deve-se também levar em consideração que as rodas de água possuem uma rotação muito baixa e que,
ao serem usadas para produzir eletricidade, precisam de multiplicadores de velocidade (em torno de
1:20), com algumas perdas na multiplicação da rotação.

A velocidade tangencial da roda de água é, aproximadamente, a da água em movimento no bocal de


entrada da roda sem carga no eixo, ou seja, v = k√ 2gh0 = 4,2√ h0 (de 3 a 3,5 m/s), sendo h0 a altura do
filete médio no canal de admissão de água (de 0,50 a 0,70 m). A energia cinética é desprezível.

As rodas de água apresentam algumas vantagens para a produção de energia elétrica que devem ser
destacadas:

• a sua fabricação e conservação são fáceis;


• o seu funcionamento não é afetado por água suja ou com sólidos em suspensão;
• o seu torque motor é compensado, de certa forma, com o aumento da carga, pois, com a diminuição
da rotação sob carga, os alcatruzes dispõem de mais tempo para o seu enchimento e aumentam o
momento aplicado ao eixo da máquina.

O maior inconveniente das rodas de água é mesmo a baixa velocidade angular de funcionamento,
fazendo com que o gerador tenha de ser acionado por multiplicadores de velocidade com altas taxas de
multiplicação, causando apreciáveis perdas de energia. Um outro inconveniente é a regulação da
velocidade, quando necessária, podendo tornar bastante complicado um sistema de geração de energia
tão simples como esse.

7.7.6. Turbinas

Turbinas são rodas acionadas por algum fluido em movimento, que as faz girar por ação da energia nele
contida, sob forma potencial ou cinética, sobre palhetas, que podem ter diversos formatos. Os princípios
de funcionamento dos diversos tipos usados hoje em dia diferem de acordo com a forma de energia
usada para o seu acionamento.

7.7.7. Obras Civis

As obras civis compreendem: barragem (ou represamento de água), tomada de água (para desviar o rio
de seu curso normal), tubulação de potência, reservatório, tubulação forçada, chaminé de equilíbrio,
casa de máquinas e vertedor (para devolver a água ao seu curso normal). Todas essas instalações
convencionais custam muito dinheiro e requerem um engenheiro civil, bom conhecedor de Mecânica dos

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Solos, Geologia e Estruturas, para realizar o projeto e acompanhar a construção. Portanto, incluir
instalações desnecessárias para microcentrais pode requerer: um especialista, incorrer em gastos para
construir a estrutura, aumentar o tempo até que a usina possa operar e, possivelmente, aumentar os
problemas de manutenção.

Quando forem disponíveis tanto altura de água como vazão para a construção da microcentral, pode não
haver necessidade de uma barragem. A água será essencialmente usada na mesma proporção em que
estiver disponível no rio. Tal sistema é conhecido como "usina a fio de água". Uma porção da vazão do
córrego é desviada para a casa de máquinas e, uma vez aproveitada, é devolvida para o rio. A grande
maioria das microcentrais são a fio de água. Esse conceito parece ser algumas vezes entendido como
se a turbina fosse colocada diretamente no rio como as rodas de água do tipo alcatruzes de baixo, o que
seria o caso especificamente das turbinas de fluxo e não das turbinas a fio de água.

7.8. Bibliografia

[1] FILIPINI, FÁBIO ANTÔNIO. Projeto de Dissertação de Mestrado em Células a Combustível, 2001.
[2] FARRET, FELIX ALBERTO. Aproveitamento de Pequenas Fontes de Energia Elétrica. Editora
UFSM. 1999.
[3] ACIOLI, JOSÉ DE LIMA. Fontes de Energia, 1994

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CRÉDITOS

PROJETO

CURSO DE CAPACITAÇÃO DE MULTIPLICADORES EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA


SETOR RURAL E AGROINDUSTRIAL

COORDENAÇÃO

Ana Maria Kersting Battaglin COPEL Distribuição – DCOD/ASGMK


Jamilton Watanabe Lobo COPEL Distribuição – DCOD/ASGMK

AUTORES

Fábio Antônio Filipini ESCOELECTRIC Ltda.


Satoru Nakamura ESCOELECTRIC Ltda.

REVISÃO

Jamilton Watanabe Lobo COPEL Distribuição – DCOD/ASGMK


Eduardo Jimenez Araque Arpon COPEL Distribuição – DCOD/VGC

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