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128 Ciencia do comportarento alimentar the complete psycholealeal works of Sp ‘und Freud. London: The Hogarth Prest, mer BF. About behaslorisn, New Yerk nop 1974, 122.Carey Ni Tho epigenatcs eavakiton: how 123. Francis RC. Epigene shapes our genes, New Yorke WW Novton Company, 201 6 Por que comemos 0 que comemos? Catalina Serrano, Jéssica Moraes, César Moraes, Liane Dahés e Marle Alvarenga Sey O que voce vai verlaprender neste capttulo: + Conceitos de escolha alimentar « seus determinantes. + Os que so © como 0s conceitos de liking ¢ wanting se conectam aos porqués de cemermos 6 que comemos. + Definigdes de motivacées para camer @ estudos sobre doterminantes de escolhs slimentar. + Compreensio das motivagdes pelo ponto de vista da analse do comportamento, ‘ncluindo definigdes de operacdo motivadora,fatores antecedents, respostas & consequancias. ‘Apés discutirmos 0 modelo multicausal de explicagao do comportamento edo ‘que esta sendo considerado neste livro como comportamento alimentar (cay ‘alos 1 2), oleitor esté apto a discutir de forma mais pormenorizada as razies ‘que nos mover em diregio as nossas escolhas alimentares. Nos capitulos 2 4 apontamos © quanto os determinantes de escotha e consumo alimentar tem sido estudados sob o vies do que se come, e nao dos demais aspectos - como, onde etc. Apesar de uma diversidade de disciplinas cientificas se ocupar dessas ‘quest6es, cada qual produz dados a partir dos construictos tipicos de sua érea, ificultando a comunicacéo entre os diferentes saberes. 180 Ciencia do comportamentoaimertar Ainda, antes de tratarmos dos conceitos de escelha alimentar, determinan- tes motivagdes para comer, vale pontuar que este capitulo se fundamenta em. uma perspectiva que parte do individuo como agente de escotha, com bases tedricas da psicologis, embora entendamos que, além dos aspectos que di cutiremos aqui, existem ainda determinantes politicos, comerciaise sociocul- turais, especificos dos ambientes em que os individuos estio inseridos, que ‘competem com 0 poder de escolha alimentar foco da nossa discussdo neste capitulo. dividual, mas que ndo serio ESCOLHAS ALIMENTARES € SEUS DETERMINANTES Quando se pensa nas razdes para comer ou no comer algo, em determinado contexto, 0 primeiro conceito tedrico que precisa ser definido & 0 de escolha alimentar. Conforme\Rozin’ (p.19),'a escolha alimentar (especificamente fo- cando 0 momento em que ela ocorre) ¢ “apenas um passo em uma série de comportamentos organizados na busca por comida’. A definigao de escolha « alimentar descrita pelo autor é bast wada com a definigao de escolhia proposta por Rachlin’ que a considera como o momento de selecso em si, dentre alternativas apresentadas 20s individuos (veremos mais no capitulo 9). Seja pela definigao de Rozin, seja pelas consideragbes de Rachlin,’ a escolha alimentar 6 a “coroagio” de um processo em curso que envolve uma série de ‘comportamentos organizados para buscar a comida. Assim, 0 contexto do co- ‘mer nao é apenas restrito a0 momento da escotha em si - por exemplo, em uma situagio de aquisigao de uma comida dentre outras possiveis seja em uma {eira ou em um supermercado ~, mas conta com uma série de comportamentos em torno daquele momento, a saber: 0 preparar (que envolve processos culindé- ros); 0 servir (como se organiza o ambiente e a apresentagao dos alimentos); comer de fato (que envolve 0 consumo alimentar, a mastigasio); 0 compar- tilhar (repartir a comida com os outros, pensando nos presentes na refeigio ‘ou mesmo naqueles que a receberao somente depois); 0 armazenar (como so armazenados e protegidos) e o limpar (comportamento necessério e comum, durante fases como a preparacéo). O repertério de escolhas alimentares 6 to 108808 vidas a ponto de chegarmos a fazer selegdes dentre di- de comida até mais de 200 vezes por dia.®* A Figura Lilustra a interagdo da série desses comportamentos, CAPITULO 6 Por que comemos ove comemes? 131 FIGURA1 Tipos @interagGes de comportamentos alimentares envolvides no provesso de escotha alimenta Fonte: Soba & iso racagSo are As diversas escolhias alimentares cotidianas, por sua vez, sto moldadas por vvirios determinantes. Conner'® definia determinantes de escolha alimentar - (08 quais seriam as varidveis independentes (VI) antecedentes e consequentes discutidas no capitulo 2 ~ como “fatores que vio afetar as escolhas alimentares, gerando efeitos nos pensamentos e sentimentos individuais”, Utilizando a di visio proposta por Jaeger et al," discorremas sobre o tema no livro Nutrifito comportamental, focando os determinantes relacionadas aos alimentos, como sabor, aparéncia, valor nutricional etc; 05 relacionados ao “comedor”: psicol6- ‘icos, biologicos, antropolégicos e socioecondmicos ¢ socioculturais.” Alguns ‘outros modelos tém sido classicamente propostos relacionando diferentes de- terminantes das escolhas alimentares, que compreendem desde determinantes, ‘ais centrados nas perspectivas do individuo se comportando em seu ambien- te até aqueles mals centrados na consideragao do ambiente em si como objeto de investigacao, conforme Sobal e Bisogni? (capitulo 4). Em todos esses modelos citados ha, recorrentemente ¢ em algum nivel, uma diviséo dos determinantes da escolha alimentar entre os relacionados ao individuo ¢ 08 relacionados ao ambiente, ou, ainda, entre os determinantes psi- coldgicos © 08 biolégicos, sempre com uma perspectiva de diviséo entre os de~ terminantes que sio de “fora” e aqueles determinantes que sio de “dentro” Hi, Portanto, inerente a essas perspectivas, uma compreensio dualista ~ descrita zo capitulo 2 ~ da escolha alimentar, como se houvesse uma separagio entre ‘os determinantes mentais (Le,, de “dentro”, do individuo) e 0s determinantes _ ge Segundo essa perspectiva m 132. Clancia do comportamento aimertar «de “fora”, do ambiente). Essa perspectiva exerce importantes pa- péis histéricos para o campo, dentre eles o da didética, j& que facilitou e faci- lita ~ sobretudo para o piblico leigo, como os pacientes ~ a compreensio da ampla gama de determinantes do comportamento e das escolhas alimentares. No entanto, tal perspectiva muitas vezes no aurxilia na explicagso plena do ‘comportamento nem de sua mudanca, pois essa consideracio dualista concebe «a existéncia de uma entidade abstrata e aquilo que & da “mente, de um lugar que “nio sei ao certo © que é, entéo eu nao explico bem e nem atuo sobre”). Compreendemos, entéo, conforme jé descrito, que considerar 0 comportamento alimentar como um fendmeno monista é uma perspectiva que auxilia muito mais, tanto na descrigiio como nas abordagens de mudanga de comportamento alimentar, jé que assim passamos a compreender melhor a es- colha e seus determinant 1 nosso repertorio de comportamento nao deriva de uma experiencia por vezes “interior” e por vezes “exterior”, uma vez.que néo é possivel haver uma sem a outra."* A experiéncia em seus vitios . desde o celular até 0 muscular (Le, daquilo que é obser- vado a olho nu), 56 acontece por haver a continuidade entre os niveis (que os ualistas chamariam de interior e exterior), ou seja, estamos felando de um ‘mando nico, neutro e despido de dualidades." Sem tais dualidades admite se eno que as experiéncias entre pessoa e mundo sto uma coisa 86. Assim, aquilo que conecta pessoa e mundo pode ser esclarecido ¢ trabalhado com, ‘mais chances de sermos efetivos. Desse modo, trazemos todo o histérico de avaliagao dos determinantes da escolha alimentat, mesmo com as concepgées dualistas, pois mesmo elas sio relevantes & constituigdo do campo. No entanto, compreendemos ser impor- tante a perspectiva dos determinantes como sendo biopsicossocioculturais, em ‘uma tentativa de trazer um termo com panorama mais proxime do nionismo sobre o qual temos nos debrucado. Adentrando em outros exemplos de modelos para avaliagéo dos deter- sninantes da escolha alimentar, mais recentemente, foi desenvolvido, em co- Taboragao com pesquisadores de mais de 20 paises, um modelo dos fatores determinantes da alimentagao chamado DONE" (Determinants Of Nutrition ‘and Eating)’ ~ determinantes da alimentagao e nutrigio. Um ponto bastan- CAPITULO 6 Porque comemes que comemes? 133, te interessante desse modelo é o fato de sua natureza estrutural ser dintimi- «a, isto é cle foi desenhado para ter sua estrutura atualizada por especialistas ‘que podem continuamente adicionar novos determinantes e classificagdes. Os determinantes nese modelo podem ser flexivelmente classiticados, fltrados « visualizados. Um resumo da estrutura desse modelo € colocada em.uma re- visto sistematica conduzida por Symmank et al. com base na qual é possivel ‘dentificar os quatro macroniveis que influenciam as escolhas alimentares:in~ terpessoal, ambiental ¢ politico (Figura 2). Estes fatores podem ser pensados em niveis mais distais -0s fatores ambientais e politicos - e em niveis, ‘mais proximais — interpessoais e individuais. Biol6gico Demogrifico Psi ico Cutturat Igividvat —_Interpessoat Situacional Produte ‘Ambiental Paltice Ineistria Intermediirioimacro Governo ee FIGURA2 Representacio simplicads dos princ {em branca) da estrutura do modelo (framework Fonte: Symmank et.” tradugte tive, ) } Heer iveis (em cinza) e suas categorias IONE. ‘Como se observa na Figura 2, cada um dos principais niveis tem suas ca- tegorias. Estas, por sua vez, aprescntam no modelo completo subcategorias, que incluem detalhados exemplos de fatores. Dentro do nivel individual, por exemplo, na categoria biolégico sdo colocados fatores como fungao cerebral, fungdo oral, antropometria, percepgio sensorial, saide fisica e caracteristicas do sono, Dentro da satide fisica sto colocados determinantes como estado de satide ¢ de saide fisica, uso de medicamentos, doencas exénicas, fragilidade e nivel de intensidade de cuidados necessérios. Para ilustras, apresentamos a seguir a categoria psicologico com todos os determinanteslistados (atéa data de acesso) na visualizagao interativa dos dados no site do DONE. SSeS ee esse eee er 134 Cléncia do comportementoalimentar CAPITULO 6 Por que comemot o que comemes? 135 A Figura 3 deixa claro que, ao se pensar mesmo em determinantes de uma >) $ 8, | 86 categoria, pertecente a s6 um nivel descrito na literatura, uma lista imensa : g B phe de determinantes pode ser levantada, B, embora muitos desses determinantes . ose gg es sejam parte de tum repertério comportamental desde © nascimento, muitos . ig ge Bo ige, outros vio sendo aprendidos e modificados, tornando o sistema dé“escolha 8 £3 zee 428 alimentaraltamente adaptativo situacional, inimico e mais complexo ~ 0 que bshg B82ns3 demanda, assim, um othar interdisciplin 7 Eifi2) 238282 Koster” ao escrever sobre a diversidade dos determinantes para a escolha ‘alimentar sob a perspectiva da psicologia, discute como as abordagens verda- deiramente interdisciplinares ainda sao escassas eafrma que, apesar do muime- ro crescente de publicagées, ha pouco progresso metodolégico e muita repe-"” ‘igo de pesquisas monodisciplinares. Segunda 0 autor, pouco se consideram insights fundamentais como 0 raciocfnio intuitivo e a “natureza inconsciente”, ‘© que, em termos monistas, poderiamos compreender como a natureza auto- ‘matica de nosso pensar, ou seja, o pensar com pouco ou neahum esforco, ot sem conseguir descrever sua origem.!” No entanto, esses componentes exercem também um grande impacto na maioria das nossas tomadas de decisis e es- colhas ¢ naturalmente desempenham um forte (se nao um dos maiores) papéis ‘os comportamentos relacionados i comida. Destaca-se ainda que comportamentos do passado e 0 estabelecimento de Percepede de side Fisica Preocupages com sadde + MativagSes pare comer sauivel Valores perso Tego de partonaiede Perstabdotemparimt fT Aneatna ronnie = Humor e NS ewes Cometic de mide autoeficicia Distregio eo comer 3 i /abitos também determinam nossas escolhas alimentares pot uma série de abode i aprendizados, que necessariamente envolverdo citcunstincias de releigio ¢ i gees a8 a ‘que nos geram ow um afeto prazeroso oa um interesse especifico (Le, 0 que oarieel [ge : z poderiamos popularmente denominar como aquilo que nos “motiva’). Ou | gis BE fe i seja, comemos tanto por “gostar” de certas comidas ~ que exploraremos mais aes om Conhecmentealimenins) —( Cogngdes), !-- | Riakrdt apes deze Conacinert rion 1 Heiss ates olla go que se core ploraremos como “wanting”. FIGURA3 Subcategories e exemplos de determinantes da categoria psicolégico, nivel individval proposto no framework DONE. Fonte: hprlinwetun’kenttanedoDONE! seezz0 em 2119/2020) Stok eta? 3 a e ge ¢ B2 fee —— g ass ze BEES. DE QUE MANEIRA O GOSTAR E O QUERER (LIKING E : (3 2838 2 523 Egegy WANTING) DETERMINAM E INFLUENCIAM AS ESCOLHAS. | 3 bated 22 = Seog ALIMENTARES? : S basestsels S238 Pbpiass lie adbe2 bastante especificas - que nao se equiparam a forma como nds os usamos.em | | aeSe ei sb eee s : conversas coloquiais, Sabendo disso, “gostat” c “querer” podem ser entendi- dos inicialmente como emogdes bésicas que mio ocortem necessariamente a partir de atos conscientes efou planejados, sendo muitas delas parte de processos automiticos ou involuntérios de pensamento.” Assim, o “gostar” (Le, liking) diz respeito a experiéncia subjetiva de prazer que temos (mesmo ‘sem ser Voluntiria) na refeigdo (seja ela qual for), a partir das consequen- cias decorrentes da comida e do contexto que a cerca {ver consequéncias no capitulo 2), Jao “querer” (ie., wanting) diz respeito a um interesse ou “desejo” (em termos coloquiais) de obter a consequéncia reforcadora da comida naquele exato momento. Quando os pesquisadores falam sobre 0 querer, referem-se a um evento comportamental imediato ¢ decorrente es- pecificamente daquela circunstancia que esté sendo analisada, motivo pelo «qual a literatura tende a descrever esse processo como umn aptendizado “por \centivos” (ie, com mecanismos de fancionamento que envolvem tanto as relagdes pavlovianas como as relagdes operantes que explicamos no capitulo 2). O querer, portanto, esta mais sujeito as pistas do ambiente antecedente, ‘ou seja, a0s gatilhos que nos levam a antecipar o interesse ou “desejo” por uma comida," que, apesar de muito proeminentes para 0 querer, estio presentes também no gostar.” Entdo eu posso gostar de uma musse de chocolate com calda de frutas ver ‘melhas, uma vez que a experimento ou mesmo quando me recorde daguele sabor uma ver vivenciado, Por outro lado, posso querer a musse de chocolate apenas por antecipar um interesse ou “desejo” por ela porque virias pistas do ambiente me predispdem a esse desejo (eg., tem pessoas ao meu lado comen- do, vi na televisdo uma propaganda, ouvi uma histéria que me lembrou da russe etc.). Esse querer pode acontecer mesmo que eu nem goste tanto de musse, ou nem tenha 0 experimentado ao longo da vida. Sabe quando voce vai a um rodizio de pizzas ¢ jf esté completamente saciado mas, no final, 29 ho da sobremesa (com uma musse, pot exemplo! “abre um espaco” para comer mais esse alimento? Hé ai uma grande participagio do {guerer, que ficou proeminente a partir de uma série de pistas daquele ambiente (Le, carrinho de sobremesa, pessoas A volta comendo ete.). Ao falar de querer € gostar, estamos falando necessariamente do componente nio homeostitico {que envolve nosso apetite e naturalmente o comportamento alimentar, compo- nente este que se relacionard com nossos mecanismos homeostéticas, podendo, até sobrep6-los®™ ~ conforme o capitulo 5. Entio, ao falar de querer e gostar, estamos falando de mecanismos cere- especificos e bastante particulares para cada um desses fendmenos, que bi envolvem também processos in ntarios, ja que a ocorréncia de ambos se comemas? 137 FULOS Porque comemos a4 4d em areas cerebrais especificas denominadas subcortieais, tais como 0 nti- cleo accumbens ¢ o tronco cere involuntérios, 2 que envolvem emogies e sentimentos ‘Como ocorrem o gostar e o querer a partir de nosso sistema cerebral? As sinalizagdes cerebrais a partir do sistema opioide, que envolvem neuro- transmissores geradores de relaxamento tais como as endorfinas e as encefa- linas, sio bastante importantes para que estabelecamos 0 nosso gostar. Temos opiiceos liberados no cérebro, por exemplo, a0 experimentar 0 sabor doce * © que explica por que 0 agticar pode aliviar a dor, sendo as vezes usado como analgésico quando bebés passam por procedimentos médicos leves, como uma vacinagio Quando as pessoas recebem bloqueadores desse sistema, tendem a gostar menos da comida que comem.” E, se investigarmos as areas especificas do gostar, veremos que sio especificas a0 micleo parabraquial do tronco cere- Drab e partes do miicleo accumbens. © querer esta envolvido com as sinalizagées cerebrais dopaminérgicas que ocorrem no sistema mesolimbico do cérebro, incluindo, portanto, © neuro transmissor dopamina, que participa dos processos de geracao de n0s80s inte- esses, daquilo que nos é apetitivo ~ ver capitulos 2 e 5 ~e do que popularmente chamamos de “process motivacionais’ Em conjunto, so estruturas e fun- ‘ses de nosso sistema de recompensa, Emboraa dopamina esteja frequentemente associada no imagindrio popu- lar 20s sentimentos de prazer a sinalizagio de dopamina nio esta relacionada ‘to gostar que discutimos antes.” Hé estudos que demonstram que, em circuns- tancias com elevagio da dopamaina, 0 querer (e suas regides cerebrais) é mai Proeminente que o gostar;" e, sempre que a sinalizacao dessa dopat alterada, as respostas de querer (e nao do gostar) dos individuos ¢ alterada. Pode até soar estranho que voce possa querer certa comida sem gostar tanto dela assim, Apesar de querer e gostar estarem frequentemente juntos (“quero ‘aquilo de que gosto”), hi circunstincias em que um pode estar separado do ‘outro, ume vez que representam instancias neurais independentes, Assim, um ‘querer exacerbado pode estar presente ou em condigées patolégicas, ou com ‘uso de drogas de abuso. No caso da comida, um querer exagerado estaria ligado a uma resposta de comer desinibido,” ou seja, um comer em exagero po- xém particularmente decorrente de uma “falta” muito grande que foi promo 138 Ciencia do comportamento aimentar vida ~ por exemplo, nas circunstincias de restrigao alimentar acentuada (ie, nas dietas restritivas), © que direcionaria o querer até mesmo as comidas que no sio “gostadas”®*-, cendrio que sera retomado em nossas discussdes sobre _existir ou nao vicio em comida, no capitulo 14, Ou seja, o estado interno (e.g, estabelecido pelo jejum, pela necessidade de | energia e de nutrientes) pode afetar nossas respostas tanto de querer como de _gostar, o que é razoavel pensar ao resgatarmos as discussdes a respeito da inte- Tagao entre sistemas homeostaticos e nao homeostaticos de controle de nosso _apetite (capitulo 5). "> Em resumo, podemos dizer que o interesse especifico (querer) de buscar ‘uma comida esté imerso em um ambiente repleto de pistas que lhe predis- pdem a querer, sendo tudo mediado pela dopamina. Também (ressalvando nossas excegdes acima), a comida pode ser algo de que vocé goste a partir de suas experiéncias e que lhe gere prazer ao comer, sendo tudo isso me- diado pelo sistema opioide (com endorfinas ¢ encefalinas) - Figura 4. B preciso lembrar também que, quando comecamos a comer, as respostas de querer e de gostar mudario conforme comemos, e esse processo influenciard ‘0 quarito comemos. Essa mudanga nas respostas dependerd da experiéncia sensorial em questio, bem como dos efeitos de assimilacao dos nutrientes no alimento* ~ estes tiltimos tratando-se mais dos controles de curto prazo ligados ao nosso componente homeostatico de regulagko do apetite. Toda essa discussio torna bastante evidente que em grande parte das vezes, apesar soas dizerem que estio com “fome’, podem estar relatando um ter- :ruido socioculturalmente,*' que, muito longe de se resumir a uma implicagao do jejum, pode, na verdade, representar outros fendmenos, tais como 0 gostar ¢ 0 querer. Sao, portanto, diversos os “porqués” que determinam a forma como as pes- soas comem 0 que comem, © que passa por processos cerebrais muito finos que integram o individuo ao ambiente em que vive. Por isso, para melhor com- preensio desses porqués torna-se imprescindivel o levantamento das seguintes perguntas: 1) Quem é a pessoa que est comendo? 2) Em que ambiente ela come? 3) Que comida? Com todos esses elementos se intercambiando e en- volvendo estimulos, interesses, motivagées e/ou experiéncias. Assim a propria pergunta “Por que comemos aquilo que comemos?” ja simplifica de alguma forma a questio central das pesquisas sobre as escolhas alimentares, podendo até ser ampliada para “Por que comemos 0 que comemos, na guantidade que. comemos, quando comemos, com quem comemos € onde comemos?”, CAPITULO 6 Per que comamee oque comemo:? 139 Sabor (palatabilidade) UKING (*GOSTAR") Liking: hhedénico nantes nde homeastiticos de nosso comportamento Fonte: adeptada de Reichlt et al?2 E, jd que trouxemos 0 termo “motivagio’ o que scriam essas “motivagbes” a partir do que é comumente trazido na literatura da escotha alimentar? Adian- tamos que, em geral as discussGes sobre motivaso no campo das teorias com- ortamentais dominantes aplicadas & alimentacao tem base bastante dualista, conforme mencionamos anteriormente. No entanto, além de termos 0 intuito de apresentar uma compreensio monista para os comportamentos alimenta- res, gostarfamos de também registrar o que e como é a investigagio recorrente ro campo da ciéncia do comportamento alimentar, j4 que perspectivas dessas investigagdes tém seu papel, sobretudo didatico, como destacamos acima. MOTIVAGOES PARA COMER & A motivagao para comer é colocada na literatura como a “catisa que impulsiona nossa ago de escolher comer ou nao determinado alimento/comida’y ou seja, 140. Ciencia do comportainente alimentar CAPITULO 6 Porque comemot a que comemor? 141 sdo eventos - diversos, miltiplos e ndo necessariamente correlacionados entre orem antes das respostas de escolhia alimentar, regulando o padréo, de escolha.*™ Nesse sentido, 0 querer, discutido anteriormente, poderia ser compreendido como uma motivagao. As motivagbes para comer tém estrelta relacdo com os determinantes de escolha alimentar ~ embora sejam termos diferentes, e embora nem toda motivasao se traduza diretamente em escolha. Os termos “motivagées para comer” (eating motivation), “motivos para comer” (eating motives) e “motivos para as escolhas alimentares” (food choi ce motives) sio os mais comumente usados em estudos sobre as motivasies para comer, embora muito mais em estudos da psicologia e bem menos fre quentes que termos como “escolha alimentar” e “determinantes de escolha alimentar” ~ a exemplo de trabalhios com desenvolvimento de escalas para avaliar as motivagbes para comer: e de escalas para avaliar motivos para comer alimentos palatavels.” Por serem grandes responséveis pelas escolhas alimentares, as motivagoes para comer séo também associedas 20 consumo alimentar. Motivos telacio nados & saiide e a sustentabilidade ambiental, por exemplo, estdo fortemente relacionados ao consumo de dictas plant-based. Diferentes estudos tém se proposto a entender melhor a5 motivagdes para comer de grupos e popula Ges." No Brasil, participantes de duas cidades socioeconomicamente tas (Sio Luis ~ MA e Sao Caetano do Sul - SP) relataram como preditores mai relevantes para suas escothas alimentares motivos relacionados ao prazer e a0 contexto social, como o comer tradicional e a sociabilidade.*' Esses estudos que citamos fazem mengio aos termos “motivos/motivagées’, mas & impor- tante mais uma vez ressaltar que nao ha distingao clara na literatura entre os termos determinantes de escolha alimentar e motivagées para comer/motivos si que para escolha alimentar. MOTIVAGOES COMO PRODUTO DAS INTERAGOES ENTRE INDIVIDUO E AMBIENTE QUE O CERCA: PERSPECTIVAS DA ANALISE DO COMPORTAMENTO Discutiremos agora também a motivagio com enfoque monista, nos termos que J destacamos em varios momentos até aqui, de modo alinhado com a abordagem da anilise do comportamento — perspectiva menos comum (infe- lizmente!) quando avaliamos historicamente as teorias comportamentais do- ‘minantes aplicadas & alimentagdo, Partindo desse panorama, comecemos por definir © que significa motivacio, ou estar motivado, e depois identifiquemos quais sio as relagées do individuo com seu at ante que explicariam 0 que é popularmente (de forma dualista) chamado de motivacio. Pois bem, 0 que caracteriza 0 comportamento de alguém que.est moti- vado? Provavelmente dirfamos haver motivagao quando alguém mostra uma tendéncia a atuar de certo modo, agir prontamente ou se mostrar persisten te diante das dificuldades, ou 20 tentar coisas novas que lhe permitem alcan- ‘gar seus objetivos. Em suma, diriamos que alguém esté motivado quando hi grandes chances de que essa pessoa se expresse no mundo, se comporte. Por exemplo, como saber se alguém estaria motivado a “comer de forma saudavel”? Uma forma de avaliar essa circunstancia seria verificar se essa pessoa come- aria a comer mais frutas e verduras a part das sugestées de um profissional aque Ihe perm’ wentos de acordo com 0 que foi sugerido no planejamento, alimentar construido junto ao profissional. Ou seja, se essa pessoa mostrasse da satide. Ou se faria mudangas em sua roti um adquirir ‘uma tendéncia a expressar tais comportamentos nessas circunstancias, seria dito popularmente que ela esta motivada. Sea motivayae é considerada um componente tio importante para se enga- jar em comportamentos diferentes dos habituais, é compreensivel querer saber qual & a causa da motivacio, ou como ele pode ser trabalhada para aumentar as chances do individuo de fazer coisas novas desafiadoras. Por isso, uma per~ gr € a origem da motivacio? Afinal, se conseguissemos uma resposta clara, poderiamos estender essas condigdes para outras pessoas que estivessem interessadas em aprender um novo repertério de comportamentos e, assim, poderiamos aprender a favorecer a motivagao das outras pessoas, ‘Uma primeira resposta, leiga, poderia ser que alguém faz coisas novas porque as deseja ou porque isso ¢ importante para cla, Mas 0 que a pessoa deseja? Ela deseja aquilo que @ motiva? Perceba que podemos cair em uma explicagéo circular para o que ¢ motivagao, ¢ passamos entio a constatar que a dinica forma de saber se a pessoa tem o tal desejo relatado verbalmente ou se considera importante & observando se ela faz coisas novas e em quais circunstincias.# Assim, 0 “método” para que inevitavelmente emerge € qu stimular a motivacao de alguém seria modificar seus desejos, seu comportamento verbal, © que, em termos de pesquisa e de pritica de atendimento, tem-se demonstrado ser uma abor- dagem pouco proveitosa.**" 142 Giéncin do comportamente a CAPITULO 6 Porque comemos aque comemas? 143 ‘Nossa proposta nao é promover uma ruptura com a consideragio dos fato- res relacionados ou derivados de diferencas individuais (p. ex., personalidade), da histéria do individuo (p. ex., memérias) e do repertério atual de compor- tamentos (p. ex, habilidades culindrias), mas apontar como todos esses fato- res podem influenciar © comportamento alimentar atual e, portanto, devem ser enxergados em conjunto como o motivador do comportamento. Desde a perspectiva do analista do comportamento, as varidveis independentes so 0 ‘motivador do comportamento.”” Essa perspectiva pode oferecer ferramentas de analise ¢ tratamento capa- zes de facilitar a “motivagao" de fato, ou seja, de tornar m de um comportamento ocorter, em vez de levar 0 profissional e o cientista a ma compteensio da motivagao em termos e explicagdes circulares que mais dificultam do que auxiliam as chances de implementacao de certos comporta- mentos alimentares. Por isso, esperamos trazet uma proposta teérico-pritica que favoreca 0 desenvolvimento do repertério comportamental do individuo considerando sua histétia filogenética, ontogenética ¢ cultural. Nesse contexto e para auxiliar nesse processo, a andlise do comportamento considera 0 conceito de “operagdes motivadoras” proposto pata descrever as condigées no ambiente que modificam tanto o valor que atribuimos 3s conse- {quencias possiveis para nossas respostas quanto as chances de nos comportar- mos (ie,, de emitirmos respastas) para obter as consequiéncias recebidas com esses mesmos comportamentos no passado, Umia vez que se identifiquem essas condigdes ambientais, ¢ passe a saber quais estimulos ou respostas levaram a certas consequéncias, teremos maior possibilidade de que o individuo se en- Baje em comportamentos ao operarmos nesses termos, Note que, quando discutimos os conceitos de gostar e querer, ja falamos dessas interagdes, jd que tanto um como o outro sio sistemas comporta- mentais que envolvem pistas ambientais (estimulos particulares), respostas sequéncias particulares a cada ocasiao, Ao trabalharmos as operagies motivadoras, sahendo da existéncia desses conceitos, poderiamos verificar circunstincias levaram a pessoa a comer mais ou menos. Se porque {gosta ou porque quer, ou ambos. Veja ainda que, para esses conceitos, a ma- nipulagio de um evento especitico (e.g., promogio de jejum/restrigio) pode ri modificara forma de nosso querer a comida (ie., wanting), Estamos vendo nnesse caso um exemplo de operacio motivadora, que modifica um evento (c.g. cstimulo ambiental - promosao de jejum) e que gera entiéo maior chan- ce para o comportar-se (no caso, a chance de comer mais). Isso explicaria res as chances © fato de os “fazedores” de dieta crOnicos apresentarem maior ntimero de episédios de comer desinibido (ie., um comer em exagero particularmente apés privagdes alimentares)* a Langthorne e McGill sintetizam a definigao de operagao motivadora afir- mando que “as operagses motivadoras modificam o quanto vacé ‘quer’ algo (o wanting!) e o quiiito voce ‘trabalharia’ para consegui-lo’. © conceito de opera- ‘ges motivadoras tem sido considerado proveitaso na analise das situages em estudos aplicados ¢ no desenvolvimento de tratamentos. Esse conceito funciona como uma ferramenta de andlise, por isso a ideia ‘aqui nao seré istar todos os eventos ou procedimentos que funcionariam para facilitar a motivagdo ou aumentar a chances de um comportamento (ie., de uma resposta), mas sim apresentar que ocasides no ambiente se superpéem aos repertérios e as relacdes pavlovianas e operantes ~ apresentadas no capitulo 2 e que todo esse conjunto deve ser levado em consideragio para entender a diversidade do comportamento alimentar de um tinico individuo. Ao pensarmos em qual evento ambiental torna © comer mais provivel, uma das primeiras respostas que podem surgir é sentir fe Mas, conforme clusive 0 gostar ‘ou querer que apontamos antes). Assim, a privagio de comida que aumenta 0 querer (Le, wanting)” pode ser apresentada como a operagao motivadora mais estudada e usualmente éa primeira a ser listada quando pensamos no contexto da alimentagio, Para uma pessoa com fome qualquer alimento se torna muito valioso, ¢ a pessoa provavelmente se comportaré ativamente para encontrat ¢ ingerir comida (uma vez que tera um querer/wanting aumentado).° Em dife- rentes espécies, incluindo humana, virios comportamentos, como desloca- mento, exploragdo ¢ expresses faciais especificas, sio exibidos sem nenhu ma aprendizagem prévia mediante a privagio de alimento, Isso faz.com que a privacdo de alimento seja um evento filogeneticamente relevante que torna as respostas (i, 0 comportar-se) associadas a procurar, encontrar e consumir comida mais provaveis *" Contudo, nao é apenas 0 estado fisiol6gico de fome (Le, ligado a jejum) que aumenta as chances de busca por comida, Hi muitos eventos que podem destacar os alimentos que serao escolhidos, bem como a forma e a quantidade Pelas quais se dado essas seleges, o que temos procurado delinear por aqui até ento. E ressltamos o impacto robusto das infuéncias socials na alimen- tage sobre nosso comer, que demonstram que tanto a presenca de objetos, informagdes ou a presenca de pessoas nos ambientes de refeicéo podem afetar comegamos a esbocat, essa “Tome” pode ser muitas coisas 1d Ciencia do comportamento alimentar « forma conforme comemos;” se tais influéncias ocorrem associadas as sensa- Ges de fome, as chances do comer aumentam © comer),** mesmo sem fome por jejum.* A aprendizagem por relacées pavlovianas (conforme o capitulo 2) é 0 pro- ‘cess0 comportamental que da conta do mecanismo pelo qual muitos desses estimulos, que no os rela a forma, eventos como o aroma e o aspecto dos ali- mentos, 0 momento do dia, o local (se restaurante ou refeititio), as pessoas presentes, as informa;bes todas transmitidas pelo ambiente, todos sio estimu- los possiveis que podem tornar o comer mais provével, inclusive em momentos de saciedade fisiolégica.* Retomando a ideia segundo a qual qualquer VI que influencie o com- portamento alimentar pode ser considerado “motivador’, a seguir apre- sentaremos alguns exemplos de como as caracteristicas ¢ as relagies entre antecedentes, respostas © consequéncias ~ os quais trabalhamos no capitulo 2- podem tornar uma forma de comportar-se mais ou menos provavel. A separagdo que quéncias é puramente diditica, com a finalidade de demonstrar como alguns eventos podem influenciar 0 que, quando, o quanto € como comemos. Mas reiteramos que esses fatores se combinam intimamente no mundo real. Na pesquisa, para entender como esses fatores todos contribuem para influen: iar 0 comer, é preciso considerar ainda como a presenga ou auséncia de um ou outro modifica as relacées entre individuo e ambiente que o cerca. Seré que, por exemplo, a presensa de uma embalagem ou embalagens de chocola te abertas a sta frente modifica suas chances de pegar alguihs dos chocolates, que ainda restam na mesa? Si desses exemplos tanto no capitulo 8 como no 11, com os estudos que consi- deram tais influéncias diversas. hd maior “motivagio” para iados ao estado fisiolégico de fome, tornam o lizaremos entre fatores antecedents, respostas e conse- ji se sabe que isso acontece,e veremos mais Antecedentes funcionam e atuam come “motivagio”"? Respostas como as apontadas no etograma (Quadro 1 do capitulo 5), assim como qualquer outro comportamento, ndo acontecem de maneira esponti- nea, “no vicuo”, aleatoriamente. Os eventos ow objetos no ambiente que esto presentes imediatamente antes ou mesmo durante os comportamentos podem. influenciat a probabilidade do que, como, e quanto comer ~ seja por meio de relagbes operantes, seja por meio de relagdes pavlovianas (capitulo 2). Tee CAPITULO 6 Por que comemat o que comemnos? 145 A forma de comer na presenga de pais/cuidadores, por exemplo, pode ser determinada pelas consequéncias que cada um desses adultos proporciona 20s comportamentos de uma ctianga ou adoiescente.** Cada adulto pode reagir de modo diferente 2 forma ¢ & quantidade que as criangas comem, reforgando ‘ou punindo respostas especificas e, dessa forma, influenciando as chances de que a criangas escolham este ou aquele alimento ou ainda a quantidade de co- ‘mida que irio ingerir ~ bem como a maneira de comer quando acompanhado or cada adulto, Por exemplo, uma crianga que passa tempo com a mae e com a av6 pode aprender a comer de formas diferentes na presenga de cada uma delas. Se na preseniga da mie (comparada a presenca da av6) for mais aceito que crianga recuse a comida e a jogue fora, a repeticao desses comportamentos se tornard mais provavel na presenga da mie. Isso ocorre porque as citcuns tancias do comer com a mae sio mais permissivas quando em comparagéo com a presenga da av6. Hé, portanto, uma diferenga nas consequéncias dos comportamentes da crianga a depender do ambiente que a rodeia (ie, sob os cuidados de quem ela se encontra naquele momento), ¢ a crianga aprende a antecipar qual serd a forma “cert a forma que traré mais reforgadores € menos punidores) de comer em cada situagdo. O modo de cada uma das cuidadoras reagit & forma como a erianga come (além de quando, onde etc.) impacta a crianga de maneiras distintas. Fssa € uma forma de aprendizagem que é derivada da experiéncia direta, de ter entrado em contato com a comida ecomas msequréncias cle ingerir um ou outro alimento. : © momento do dia também pode determinar quais alimentos sio mais provivels de serem consumidos, Em um estudo experimental controlado, pessoas puderam comer macarrio no café da manhi e no almoso. Quando ‘esse prato foi apresentado no almogo, os participantes comeram maior quen- ‘idade e comeram também mais répido do que no café da manha.** Esse resul- tado sugere que a familiaridade entre 0 prato servido e o momento do dia (ou scja, comer macartio no almoco, mas nao no café da manha) foi um fator que influenciou 0 comportamento alimentar dos participantes. O estudo também nos permite observar a interagio dos niveis ontogenético e cultural na in- {uéncia sobre o comportamento alimentar, jé que os participantes reportaram, que tinham consumido macartao mais vezes no almogo do que no café da manhi e julgavam que o prato era mais adequado para o almogo. Ou seja, a0 Jongo de suas experiéncias, uma comida foi consumida com mais frequéncia em um horirio especifico do dia ¢ isso, provavelmente, foi devido ao grupo cultural do qual faziam parte. Para esse caso, € importante pontuar, ainda, 146 Cidncis do comportamanto alimentar igdes fornecidas por 'm podem tornar mais provivel 0 comer um XoU ¥, Nesse caso a motivacio ps deviva da experiéncia diteta com o alimento, mas de uma experiéncia com a tegra ou com o emissor dela, ou seja, as pessoas ou informagbes q tem tais regras. Pessoas que descrevem regras adequadas de acordo com as nor- ‘mas vigentes podem se tornar autoridadtes, j& pessoas que descrevern regras que, ‘comer nao transmi sobre as normas sociais transmiti dispersas no ai 1 pessoas como por informagses te de maneira variada e que influenciam nossa alimenta- uma crianga: “se vocé comer muitos doces, val ficar com dor de barriga’ e a crianga de fato passa pela experié desconforto fisico causado pelos doces, as regras fornecidas no futuro por esse mesmo culdador podem ter influéncia importante sobre 0 comportamento da

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