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Jefferson Mainardes

ALFABETIZAÇÃO
,
E PRÁTICA
PEDAGOGICA: trajetórias & vivências

Editora CRV
Curitiba - Brasil
2021
126

ZAMBRANO LEAL, A. Philippe Meirieu: de la pedagogía por objetivos a CAPÍTULO 7


la pedagogía diferenciada. Revista Educación y Pedagogía, Medellín, v. 26,
n. 67-68, p. 150-161,jan./dez. 2014.
AUTOENTREVISTA 67
ZAMB~NO LEAL, A. Un modelo de formación de docentes en la obra y
pensatmento pedagógico de Philippe Meirieu. Educere - la Revista Vene- este livro, indico que a alfabetização tem sido uma das minhas áreas
zoelana de Educación, Venezuela, v. 9, n. 29, p. 145-158, abr./jun. 2005. de atuação em toda a minha trajetória profissional. No entanto, ela
está estreitamente relacionada ao meu desenvolvimento como pro-
fessor e pesquisador. Com o objetivo de articular as minhas vivências na
área da alfabetização com as demais áreas de atuação e de pesquisa, tive a
ideia de estruturar esta autoentrevista. Ela não tem a finalidade de autorreco-
nhecimento ou autoelogio, nem mesmo a intenção de colocar-me como um
exemplo ou modelo de pesquisador bem-sucedido. Tudo o que pude realizar
até agora tornou-se possível por ter recebido muitos aportes e condições de
trabalho que permitiram o desenvolvimento de pesquisas, as quais resultaram
em publicações. O aspecto mais importante do meu trabalho é o meu com-
promisso com as escolas, com os/as professores/as, com os/as estudantes em
processo de formação (licenciatura), alunos/as das escolas dos anos iniciais
do Ensino Fundamental e com os movimentos de luta pela educação pública.
Com esta autoentrevista, apresento uma síntese do meu pensamento atual e
algumas reflexões inacabadas, visto que acredito que as verdades são relativas
e estamos sempre em processo de coconstituição.

Em 2019, você completou 30 anos da publicação do seu relato de


experiência- Prêmio do Ministério da Educação. Como tem sido esse
processo de escrita e de publicação?

JM -Tem sido um trabalho contínuo e desafiador, um aprendizado per-


manente. Embora possamos fazer cursos, buscarmos alguma formação como
autores/as, creio que se trata de um processo pessoal de autoenfrentamento e
permanente autossuperação. Nem sempre fico satisfeito com meus escritos.
Vejo-os como ensaios e tentativas, com o desejo e a esperança de que os futu-
ros textos sejam melhores. Com alguns de meus textos, tenho uma afinidade
maior entre eles, os textos dos Capítulos 2 e 3 deste livro. Coincidente-
mente, ambos estão relacionados à minha autovivência e autoexperimenta-
ção. Talvez por ter escrito sobre vivências pessoais, eu veja neles algumas
expectativas de que possam ser úteis. No entanto, essa avaliação deve ser feita
pelos leitores. Com relação ao relato de experiência (MAINARDES, 1989),

67 Inspirei-me na entrevista de Maria do Rosário Longo Mortatti, publicada em 2010 (MORTATTI, 201 O) e
que foi incluida como posfácio da 3a edição (revista e ampliada) do livro "Em sobressaltos: formação de
professora" (MAGNANI, 2019).
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costumo refletir que a escrita (e a publicação) de um relato de experiência a proposta do EEPE tem sido bastante útil para os pe~quisa~or~s de Polí~ica
sobre alfabetização, ainda na fase inicial da minha carreira profissional, foi Educacional e de outros campos. A formulação pnncipal foi feita por Cesar
um evento altamente significativo em minha trajetória e marcou a assunção Tello (2012), mas tivemos oportunidades de revisitar essa formulação em um
de um compromisso com a alfabetização. Assim, sempre compreendi o meu outro artigo (TELLO; MAINARDES, 2015b). Esses conceitos foram muito
trabalho como professor e pesquisador como algo que envolve uma prática, úteis para superar lacunas que identificava nas minhas próprias pesquisas.
uma ação transformadora no mundo. Vejo essas questões como um crescendo. Desde 2009 e, posteriormente, nas
discussões que fizemos na Red Latinoamericana de Estudios Teóricos y Episte-
Quais foram as principais perspectivas teórico-epistemológicas que mológicos em Política Educativa (ReLePe), partimos de questões bem iniciais
têm influenciado as suas pesquisas e as suas produções? sobre referenciais teóricos na pesquisa em Política Educacional e, ao longo
do tempo, pudemos avançar nas discussões. Esse crescendo inclui pensar
mais amplamente a perspectiva ético-ontoepistemológica e suas implicações.
JM Esta pergunta é altamente complexa. Na minha formação inicial,
no curso de Pedagogia, e mesmo no Mestrado, tive poucas oportunidades para
estudar e refletir sobre perspectivas epistemológicas, de modo a relacioná-las Neste novo livro, você incluiu a lista de suas publicações, de 1989 a
com as pesquisas e as publicações. Talvez, por isso, sempre trabalhei com 2021. Em sua opinião, quais são as principais contribuições do seu
autores de diversas perspectivas teóricas. Há uma vantagem nesse aspecto que trabalho?
foi o fato de não ter me fechado em uma única perspectiva epistemológica
antes de experimentar diferentes possibilidades. De modo geral, sempre tive JM Não é simples afirmar que há contribuições e quais são elas. Seria
mais afinidade com teorias relacionadas ao realismo, principalmente àquelas mais adequado, parece-me, interrogar os leitores ou, ainda, explorar o possível
de natureza crítica. Em uma primeira fase, que vai até o início do Doutorado, impacto nas pesquisas e no mundo social. Contudo, se é possível responder a
no Institute of Edtfcation - University of London, em 2001, as principais essa questão, eu diria que as principais contribuições giram em torno de ~rês
influências foram Alvaro Vieira Pinto, Georges Snyders, Vygotsky, Wallon e eixos: os trabalhos sobre escola em ciclos, alfabetização e prática pedagógica;
uma série de autores que me auxiliaram na análise de questões mais específicas os estudos epistemológicos de Política Educacional; e a metapesquisa. O
da política de organização da escolaridade em ciclos, alfabetização, prática primeiro eixo inclui os livros de 2007 e 2009 68 , bem como o Projeto Diferen-
pedagógica etc., tais como: Luiz Antônio Cunha, Magda Soares, Luiz Carlos ciação (Capítulo 5 deste livro). São estudos relacionados à teoria e à prática
de Freitas. Durante o Doutorado (PhD), no Institute ofEducation, tive a opor- da escola organizada em ciclos e serviram de base para algumas inserções ein
tunidade de aprofundar estudos da teoria de Bernstein, dos trabalhos de Ste- redes de ensino e escolas, assim como de cursos, palestras etc. O segundo eixo
phen J. Ball, principalmente da abordagem do ciclo de políticas, e realizar um refere-se aos trabalhos que tratam de questões epistemológicas da pesquisa
estudo inicial das questões epistemológicas. Em minhas pesquisas, de modo em Política Educacional, em especial, os seguintes textos: Tello e Mainar-
geral, tenho utilizado mais de uma teoria, e, algumas vezes, teorias de perspec- des (2015a, 2015b), Mainardes e Tello (2016), Mainardes (2017, 2018a).
tivas epistemológicas distintas, mas, sempre que possível, busco explicitar as O terceiro eixo refere-se à metapesquisa no campo da Política Educacional
vinculações epistemológicas e justificar o papel de cada uma delas na pesquisa, (MAINARDES, 2018b, 2021).
o que configura uma teorização mais pluralista. O Capítulo 3 deste livro é um
exemplo da tentativa de explicitação dos pressupostos que orientavam minhas Em uma pergunta anterior, você fez menção a um "crescendo" que
análises. Em minha concepção, como pesquisador de políticas educacionais, inclui pensar sobre a perspectiva ético-ontoepistemológica. Poderia
é difícil separar as políticas das práticas, e isso demanda um esforço maior explicar esse conceito?
para buscar compreender as duas questões como articuladas e entrelaçadas.
Nos últimos anos, com a colaboração de César Tello e Jorge Gorostiaga, tive JM O crescendo que citei se refere ao ponto de partida das discussões
a oportunidade de aprofundar estudos de natureza epistemológica e, também, que geraram a criação da ReLePe, em 2010. Iniciamos as discussões corr~ a
de pensar novos conceitos relacionados à essa questão. Um desses conceitos preocupação de que muitos pesquisadores não explicitavam o seu referencial
foi o Enfoque das Epistemologias da Política Educacional (EEPE) e seus três
elementos: perspectiva epistemológica, posicionamento epistemológico e 68 Reinterpretando os Ciclos de Aprendizagem (MAINARDES, 2007) e Escola em ciclos: fundamentos e
enfoque epistemetodológico. A partir de feedbacks recebidos, considero que debates (MAINARDES, 2009), publicados pela Editora Cortez.
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teórico. Logo em seguida, vimos que isso era insuficiente e começamos a que buscam mostrar a indissociabilidade entre ser-saber-fazer (ética, onto-
pensar em termos epistemológicos. Geramos, assim, os três elementos do logia e epistemologia). Como já utilizávamos o termo "epistemetodologia"
EEPE já citados (perspectiva epistemológica, posicionamento epistemoló- para indicar a articulação necessária desses dois elementos, em uma pesquisa
gico e enfoque epistemetodológico ). Mais recentemente, tive contato com as coerente, considero que é possível pensar em uma perspectiva ético-ontoepis-
discussões sobre a perspectiva ético-ontoepistemológica. Essa noção mais temetodológica. Colocar a ética em primeiro plano é fundamental, pois exige
ampla traz importantes contribuições para pensar a pesquisa em Educação. uma reflexão profunda acerca das razões pelas quais estamos pesquisando
Antes de explicar o conceito, ou pelo menos tentar, visto que se refere a algo uma temática específica, com que finalidades, para quem, a favor de quem,
bastante complexo, é importante destacar que se trata de um conceito que me com base em quais valores etc. 70 A ética, no entanto, estende-se após a pes-
foi apresentado por Gregory Luis Rolim Rosa, meu orientando de Doutorado. quisa, nas oportunidades de devolutiva e, essencialmente, nas ações e nas
Eu já havia buscado ampliar as discussões sobre ontologia e, mesmo assim, intervenções que o/a pesquisador/a pode realizar no decorrer de sua atuação
continuava insatisfeito. Nas suas pesquisas, Gregory encontrou o conceito no mundo 71 • Para Stetsenko (2020a, p. 2), não podemos nos dar ao luxo de
de ético-ontoepistemologia e, a partir disso, iniciamos uma rotina de estudos "permanecermos neutros", mas é também míope continuar com críticas que
e reflexões sobre esse conceito. O interessante é que esse conceito permitiu se preocupam em desconstruir o presente e o passado sem oferecer soluções
agregar a questão da ética, com a qual tenho trabalhado de forma mais sistemá- radicais para os problemas e desafios que enfrentamos. A necessidade de
tica, desde 2013. A noção de ético-ontoepistemologia foi cunhada por Karen tais soluções diz respeito não apenas às esferas política e econômica, mas
Barad e refere-se à indissociabilidade da ética, da ontologia e da epistemo- também teóricas e conceituais. A teoria ocupa um papel central contra a mer-
logia quando nos engajamos "na produção de conhecimento científico, nas cantilização global abrangente associada à desregulamentação, competição e
práticas científicas, com o próprio mundo e seus habitantes (humanos e não estratificação. Para ela, os modelos tradicionais de ciência "são pilares indis-
humanos), que o coconstituem" (BARAD, 2007, p. 90, tradução nossa, grifos pensáveis dessas tendências e da própria ordem capitalista global, atendendo
nossos). Foi uma proposta inicial importante, mas que não incluía aspectos aos objetivos de estabelecer e justificar hierarquias e desigualdades sociais.
tais como transformação social, justiça social, ativismo. De modo gral, eles apoiam o status quo, com todos os preconceitos racistas,
Uma outra autora, Anna Stetsenko, em diversos textos ( e.g. STET- heteronormativos e classistas e suas práticas tendenciosas correspondentes"
SENKO, 2018, 2020a, 2021), tem explorado essa noção a partir da pers- (STETSENKO, 2020a, p. 2).
pectiva marxista, associada a outras discussões, tais como: o feminismo, Na perspectiva de Stetsenko, em um sentido mais amplo, a TAS refe-
a pedagogia crítica, as teorias raciais críticas, entre outras. Para Stetsenko re-se às ações transformadoras comprometidas com a justiça social. Em um
(2018, 2020a), a produção de conhecimento é permeada por valores, inte- sentido mais específico, a TAS está relacionada a um trabalho conceitual
resses e dinâmicas de poder. A ético-ontoepistemologia condiciona a pro- sobre realidade, verdade, ética, epistemologia, ontologia. Para Stetsenko
dução do conhecimento como processo propositivo para a transformação (20 17, 2018, 2020a), as ações transformadoras são pensadas com os/as parti c i-
da realidade investigada. A concepção ético-ontoepistemológica surge da pantes durante todo o processo de pesquisa. Talvez, por ser uma pesquisadora
crítica às vertentes que não explicitam posicionamentos, mostrando-se do campo da Psicologia, a qual realiza pesquisas com grupos, ela defenda essa
politicamente indecisas e, portanto, insatisfatórias. Ainda nas formulações
de Stetsenko, há a proposta da Transformative Activist Stance (TAS), que l dessa abordagem tem a ver com"[ ... ] a mudança de uma postura contemplativa para uma postura ativa
poderia ser traduzida como Posicionamento Ativista Transformador (STET- e, na verdade, ativista, na qual saber e fazer são subsumidos e possibilitados pela prática transformadora
SENKO, 2012,2015,2017,2018, 2020'\ 2021) 69 . São ideias impmiantes e (da ação) destinada a alcançar objetivos éticos radicais, como igualdade e justiça" (STETSENKO, 2020a,
p. 3, grilos nossos). É orientada para o futuro e inerentemente ética por completo. Durante a realização da
I pesquisa, com os/ as participantes, é preciso imaginar o futuro e comprometer-se a criá-lo.
69 O Posicionamento Ativista Transformador (Tránsformactíve Actívíst Stance) é uma abordagem desenvolvida I 70 São também relevantes os trabalhos de Gewirtz e Cribb a respeito da reflexividade ética (GEWIRTZ, 2007;
por Anna Stetsenko sob pressupostos vygotskianos, filosóficos dialéticos e um ethos sociopolítico progressista l GEWIRTZ; CRIBB, 2011 ). Para Gewirtz (2007), a reflexividade ética implica: a) Explicitar os valores éticos
de igualdade e transformação social, que empreende a reavaliação de pressupostos sobre as formas de
ser, fazer e saber dos homens. Esse posicionamento fornece bases para a pesquisa educacional como um I e os princípios que fundamentam nossas análises; b) Justificar esses valores éticos e princípios sempre que
possível ou, ao menos, onde necessário; e c) Refletir sobre as possíveis consequências éticas do nosso
projeto ativo de intervenção no status quo, ao mesmo tempo em que se concentra na criação de condições e trabalho, por exemplo: de que formas nosso trabalho pode prejudicar outras pessoas, legitimar ou intensificar
fornece as ferramentas para a criação de futuros alternativos. Para apreensão prática da TAS, ver Stetsenko condições, políticas, relações de poder ou discursos que não apoiamos e discordamos.
(2014, 2015, 2017, 2020a, 2020b) e Vianna e Stetsenko (2014, 2019). Esta nota de rodapé foi redigida por I 71 Stetsenko e Vianna, em diversos trabalhos, propõem a pesquisa com agenda transformadora, a qual objetiva

l
Gregory Luis Rolim Rosa (2021), doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPG, a contribuir para a criação de um futuro igualitário para os alunos, especialmente àqueles de populações
quem agradeço a autorização para citá-la aqui. Eu complementaria esta nota destacando que a essência desfavorecidas (e.g. VIANNA; STETSENKO, 2014).
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posição. No nosso caso, creio que as alternativas e as propostas de intervenção como já citei no Capítulo 5, penso ser muito relevante a afirmação de Ber-
podem ser construídas com os/as participantes da pesquisa, mas podem ser nstein e Brannen ( 1996) de que uma consequência relevante da pesquisa é
também pensadas, imaginadas, desenvolvidas pelo/a pesquisador/a durante inquietar, desacomodar, desalojar-nos da comodidade e, também, indicar-nos
a análise de dados e as conclusões. caminhos para uma prática mais efetiva. Creio ser quase impossível para
o. aspecto relevante aqui é a compreensão do significado de uma pos- o/a pesquisador/a tàzer isso sozinho/a. Ele/a necessita construir alternativas
tura ativa dentro de nossa área de pesquisa e atuação que, em alguns casos, e propostas de intervenção com a colaboração dos/as participantes, e essa
pode ser a atuação em mais de uma área. Há muitas demandas por ativismo construção pode estender-se para além da pesquisa. Esse foi o caso do pro-
transformador em todas as áreas. Vejo o ativismo transformador como forma jeto Diferenciação (Capítulo 5). Por último, creio que não é suficiente apenas
de coconstmção e de resistência. O posicionamento ativista transformador é constatar a realidade, sem buscar formas de contribuir para transformá-la.
altamente complexo. No meu caso, desde a conclusão do Doutorado, em 2004 Creio que devemos assumir uma postura ética de devolver os resultados,
tenho refletido sobre a importância dos/das pesquisadores/as indicarem impli~ retribuir e contribuir para os contextos nos quais estamos inseridos. Como a
cações prá;ic~s, a partir do processo de pesquisa (com os/as participantes) e pesquisa em Educação é de grande amplitude, talvez seja possível imaginar
de suas. propnas conclusões, em uma espécie de pesquisa propositiva. Tais que algumas pesquisas podem ter mais implicações práticas do que outras.
propo~Ições pod~m orientar o possível ativismo (transformador) que possa Todas são relevantes, mas acredito que é essencial nos aproximarmos dos
emergtr da pesqmsa e do engajamento em um determinado campo. movimentos de transformação. Devo reconhecer que essa perspectiva não é
hegemônica. Há um intenso debate sobre a questão da problematização e da
Em sua visão, o que fundamenta esta ideia de que as pesquisas podem construção de alternativas no processo de pesquisa. No contexto dos debates
indicar implicações para a prática? sobre a sociologia crítica das políticas educacionais, Savage et a!. (2021, p. 5)
consideram que"[ ... ] o ato inevitavelmente político da pesquisa significa que
JM - Em primeiro lugar, trata-se de uma questão ética. O/a pesquisa- é complicado ver a problematização como forma preferível de crítica à cons-
dor/~ .envolve-se em u:n determinado campo, conta com a colaboração de trução de soluções". Os autores consideram que a problematização deve ser
participantes da pesqmsa, tem a oportunidade de aprofundar estudos sobre vista como parte integrante da formulação crítica de soluções para aqueles que
uma determinada questão ou temática e, portanto, dentro de seus limites optam por engajar-se em tal trabalho, e a formulação de soluções não deveria
pod~ria indicar algumas possibilidades para práticas mais adequadas e, n~ ser vista necessariamente como acrítica (SAVAGE et al., 2021). No entanto,
medi?a do possível~ ajudar a criá-las. Associado a isso, é preciso sempre os mesmos autores consideram que os processos de construção de soluções
refletir sobre a finalidade do trabalho científico: a ciência deve ser posta a são tão limitados quanto os atos de problematização, e igualmente capazes
serviço de propósitos humanos, para uma vida melhor para todos/as, para a de produzir novas possibilidades de pensar e compreender o mundo. Em opo-
constmção da igualdade e da justiça. Meu primeiro contato com essa visão sição, autores como Thompson (20 19) e Ball (2020, 2021) questionam essa
ocorreu em 1990, ao estud~r o livro c;ência e existência: problemasfilosójicos proposta defendida por Savage et a!. (2021 ). Thompson (20 19 apud SAVAGE
da pesquisa cientijica, de Alvaro Vieira Pinto, publicado em 1979 e reeditado et al., 2021) argumenta que o valor da teoria está na articulação de questões
em 2020. A compreensão do significado dessa afirmação, no entanto, só foi e problemas, ao invés de soluções. Ball (2021) questiona o que ele chama de
ocorrer mais tarde, após a conclusão do Doutorado 72 • Em segundo lugar, "tirania das alternativas" e propõe a"[ ... ] perda da inocência, a renúncia de
nosso papel de heróis da nossa própria história, como reveladores de injustiças,
72 Creio que vale a pena citar aqui o trecho no qual Álvaro Viera Pinto esclarece a questão da finalidade do defensores de mudanças radicais e agentes da resistência" (BALL, 2021, p.
trabalho científico: "Imbuído de tal noção, o cientista sabe que sempre trabalha 'para algo', mas esta formu- 5, tradução nossa). Em um outro trabalho, Ball (2020), ao tratar dos "erros
lação exige maior precisão, de sorte a poder ser racionalmente admitida. Dizer 'para algo' seria arriscar-se da sociologia redentora ou desistir da esperança ou desespero", considera
a permanecer ainda preso a um modo abstrato de falar. Na verdade, trabalha sempre 'para alguém', e
que, em virtude dos limites impostos pelo suposto bem da educação, não há
para obter um resultado concreto. Ao ter de responder à pergunta interior: 'Para quem trabalho e para
produzir o quê?' criam-se para a consciência do homem de ciência problemas a que não se pode furtar. espaço para que a educação seja pensada de forma diferente. Desse modo, a
Para que a resposta seja correta faz-se obrigatória uma reflexão mais aprofundada quanto às finalidades crítica é embotada e circunscrita por ciclos de esperança e decepção "[ ... ]
do t.rabalho científico, à apropriação dos produtos que cria, ao efeito social das ideias que gera. Tocamos
aqUI em questões existenciais e éticas fundamentais relativas à pesquisa científica, e que se resumem em de implemento à conquista da verdade pela consciência, de engrandecimento e gozo de pequenas frações
decidir se a ciência deverá ser posta exclusivamente a serviço de propósitos humanos, na plena acepção da humanidade, elites dominantes ou nações poderosas, em detrimento da totalidade restante do gênero
da palavra, ou se continuará a servir de instrumento de alienação do homem, de expropriação do trabalho, humano, submerso no atraso, na ignorância e na miséria". (PINTO, 2020, p. 288, grifas nossos).
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o romantismo é valorizado e o cinismo, abominável" (BALL, 2020, p. 5). do mundo", segundo a qual conflito, sofrimento c disputa são fenômenos
Ball (2020) propõe que, em vez de viver e perpetuar consolos de esperança e inevitáveis da vida social e política que podem nunca ser definitivamente
promessas da razão, em vez de aceitar os imperativos da biopolítica, os soció- superados (BALL, 2020, p. 877).
logos da educação comecem a admitir o absurdo da educação (como propõe
ALLEN, 2017 apud BALL, 2020); devemos, assim, ser contra a educação e Esse debate é complexo, mas, por compromisso ético, considero impor-
não a favor dela. tante indicar que há visões bastante distintas da defesa da pesquisa propositiva
e do posicionamento ativista transformador.
Devemos procurar revelar sua contingência e tomá-la intolerável, em vez
de tentar melhorá-la. Devemos buscar repensar o educador e a pedagogia Quais as principais implicações da perspectiva ético-ontoepistemológica
não como constituídos por habilidades e saberes, mas como a formação ou, 1wmo você menciona, da perspectiva ético-ontoepistemetodológica?
da subjetividade moral, uma forma de política e uma relação com a ética e
não com a verdade. Isso envolveria um compromisso de promover alunos
JM - É importante destacar que a perspectiva ético-ontoepistemológica
éti~os com uma suspeita saudável do presente, ao mesmo tempo em que
senam capazes de reconhecer suas próprias falibilidades e de colocarem-se pode ser associado a diferentes perspectivas teóricas. Em minha visão, a
acima e contra a estrutura dominante da educação moderna e suas formas primeira implicação é que essa perspectiva nos permite construir pesquisas
carcerárias (BALL, 2020, p. 878, tradução nossa). e publicações mais integradas, pois remete-nos à indissociabilidade entre
a ética, a ontologia e a epistemologia. Eu incluiria a metodologia como um
Ball reconhece que não é fácil abandonar a racionalidade restritiva e abra- quarto elemento. Isso demanda muitas reflexões, muitos cuidados e o exercício
çar "o poder da estranheza" e a inevitabilidade do fracasso- em vez de investir permanente da vigilância epistemológica para verificar se estamos mantendo
no conforto da esperança. Não é fácil"[ ... ] resistir à obscurecedora clareza do uma coerência entre tais elementos. A segunda implicação refere-se à rele-
discurso filosófico racional" (CARROLL, 1982 apud BALL, 2020, p. 877, vância de colocar a ética "em primeiro plano" 73 na pesquisa, nas publicações
tradução nossa) e, assim, tornar nosso presente e nosso passado estranhos para e no nosso posicionamento frente à realidade e às demandas sociais. Para
nós. Isso envolve "um compromisso com a incerteza" (GORDON, 1986 apud Stetsenko (20 17), todos podem dar uma contribuição autêntica para uma
BALL, 2020, p. 877, tradução nossa)- desestabilizar a educação, em vez de sociedade que precisa ser melhorada, mudada e cocriada. No Brasil, temos
perpetuá-Ia·, historicizar o professor e o aluno em vez de contribuir para sua participado (e, de alguma forma, ocupado alguma liderança) das discussões
(re )formulação dentro da pedagogia e da política, reconhecendo que fazemos sobre ética em pesquisa no âmbito da Associação Nacional de Pós-Graduação
parte das relações de poder do Estado em vez de estabelecidas e contra eles. e Pesquisa em Educação (ANPEd). Temos afirmado que a ética em pesquisa
Contudo, "na prática 'normal', a certeza é nossa moeda epistemológica e está presente em todos as fases da pesquisa, desde a formulação do projeto
nosso objetivo disciplinar" (BALL, 2020, p. 877, tradução nossa). Ainda, até a devolutiva ou, ainda, até o "possível ativismo" decorrente do nosso
para Ball (2020), envolvimento na temática da pesquisa e das demandas reais da sociedade.
Nesse aspecto, a submissão do projeto de pesquisa a um Comitê de Ética é
Em vez de oferecer alternativas, um compromisso com a incerteza requer apenas um estágio do compromisso ético. Em boa parte, as questões éticas e os
a exploração e o mapeamento dos limites, e o teste e a ultrapassagem dilemas éticos emergem no relacionamento com os/as participantes no campo
deles sempre que possível um conjunto de múltiplas transgressões que de pesquisa, na análise de dados, bem como na devolutiva, nas publicações,
nos pennitam "perscrutar além dos seus limites, mas também confirmar no possível ativismo. Colocar a ética em primeiro plano significa admitir
a impossibilidade de removê-los" (ALLEN, 1999). Em outras palavras, que todas as ações que realizamos possuem uma dimensão ética e ainda que
uma exploração de heterotopias éticas, reais e irreais, em que a diferença toda pesquisa envolve questões éticas. Para Stetsenko, "a dimensão ética
é afirmada, "uma espécie de contestação simultaneamente mítica e real do torna-se central para as considerações ontológicas, epistemológicas e meto-
espaço em que vivemos". E, como Barry, Osborne e Rose sugerem, isso
dológicas, com um compromisso ativista de reunir todas essas dimensões
não é simplesmente um "exercício intelectual": "Em vez disso, o que está
como elementos de uma única abordagem e lógica" (STETSENKO, 2017,
em jogo é a produção de um certo tipo de experiência, uma reconfiguração
da própria experiência" (BARRY; OSBORNE; ROSE, 1993, p. 6)- que p. 88, tradução nossa). Isso acaneta a necessidade de explicitar as questões
podemos chamar de educação. Além disso, a crítica, nesse sentido, repousa
no oposto da esperança, o que Wenham (2013) chama de "a visão trágica 73 Expressão empregada por Stetsenko (2017, p. 87).
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e as posições ético-políticas em sua relação com às questões conceituais e ativa (e ativista) dos/das pesquisadores/as na construção de alternativas aos
metodológicas" (STETSENKO, 2017, p. 88, tradução nossa). A autora tam- desafios da realidade social e educacional e na participação de movimentos
bém destaca que trazer o ético e o político para o primeiro plano é também e práticas transformadoras. De modo geral, as teorias e os/as autores/as que
uma posição controversa. fundamentam as ideias do livro convergem ou se aproximam desses princí-
A terceira implicação da perspectiva ético-ontoepistemológica refere-se à pios éticos, formando uma coerência entre ética, ontologia e epistemologia. A
necessidade e impotiância de o/a pesquisador/a examinar o ethos sociopolítico produção de textos de natureza teórico-prática, com um estilo de linguagem
(sistema de valores e orientações) em uma dupla dimensão: aquele subjacente que seja acessível a professores/as e estudantes da formação inicial integra
à teoria (ou teorias) ou à perspectiva epistemológica que fundamenta a pes- um compromisso ético com a realidade educacional e com a educação pública
quisa, bem como à sua própria cosmovisão (concepção de homem, mundo,
sociedade, realidade )14, ou melhor, à sua perspectiva ontológica. Nesse exame, Como você vê a questão da organização da escola em ciclos nas redes
o/a pesquisador/a pode avaliar em que medida há uma convergência entre a de ensino na atualidade?
sua cosmovisão e as orientações e valores que são subjacentes à teoria ou à
perspectiva epistemológica assumida pelo/a pesquisador/a. Stetsenko (2020a) JM- A questão da escola em ciclos no Brasil é altamente problemática.
afirma que as perspectivas teóricas, implícita ou explicitamente, diretamente Tenho acompanhado essas questões desde o ano de 1988, portanto há mais
ou não, trazem consigo orientações de caráter ético-político particulares às de 30 anos. As questões relacionadas aos ciclos têm sido pouco debatidas
suas dimensões constitutivas, as quais são adaptadas e derivadas de projetos
com os/as professores/as, apesar de a maioria das redes utilizarem os ciclos
sociopolíticos situados e interessados em determinados padrões de organi-
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, principalmente nos três primeiros
zação da vida social. Esses sistemas de valores e de orientações inerentes
anos dos ciclos há bastante tempo. Parece haver uma falsa ideia de que os/as
às perspectivas teórico-epistemológicas fonnam um ethos sociopolítico que
professores/as já se apropriaram dos fundamentos dos ciclos e de sua prática.
explícita e determina as construções de conhecimento, suas antologias e suas
Na verdade, penso que é essencial retomar permanentemente os fundamentos
epistemologias de forma indissociável. O ethos sociopolítico da pesquisa
dos ciclos, aprofundando aspectos tais como: a aprendizagem como processo
tem em si um caráter ético-ontoepistemológico que é inerente a qualquer
contínuo, a avaliação formativa, a pedagogia diferencjada (diferencia-
tradição teórica, programa de pesquisa ou escola de pensamento. Uma última
ção curricular), as contribuições das práticas sistemáticas significativas na
implicação refere-se à importância (e à necessidade) do engajamento dos/as
pesquisadores/as nas lutas pela transformação social e pela educação. Esse alfabetização, entre outras questões, com o objetivo de instrumentalizar os/as
engajamento pode dar-se de inúmeras formas, seja pelo compromisso com professores/as para uma prática mais efetiva nos ciclos. Tenho tido algumas
qualidade da formação inicial de professores/as e de pesquisadores/as, nos oportunidades de participar de processos de retomada em algumas redes de
projetos de intervenção, bem como na participação de fóruns, movimentos ensino, mas, em alguns casos, são iniciativas pontuais de grupos ou escolas e
sociais, movimentos docentes, entre outros. não das Secretarias de Educação. Tais aspectos parecem importantes tanto na
formação inicial quanto na formação continuada de professores/as. Eu penso
Quais as relações destas questões de natureza ético-ontoepistemológica que as oportunidades de formação precisam ser mais abertas ao debate em
vez da apresentação de verdades absolutas. Faz-se necessário, ainda, avançar
com as temáticas exploradas neste novo livro?
na construção coletiva e democrática das propostas de ciclos, de avaliação,
JM- Este livro trata de vivências pessoais na alfabetização, de pesquisa e da criação de cmTículos e de decisões relacionadas a questões metodológicas.
de proposição de alternativas, principalmente no que se refere à diferenciação
curricular, avaliação formativa e planejamento de situações de ensino nas esco- Qual é o impacto da pandemia no processo de Alfabetização? Como
las organizadas em ciclos. A perspectiva ética está relacionada à defesa do papel enfrentar o desafio no Ensino híbrido e no período pós-pandemia?
da escola como sendo o de garantir a todos/as os/as estudantes a apropriação
do conhecimento da forma mais ampla, exitosa e no menor tempo possível, JM- Essa é uma questão muito relevante para a atualidade. Minha com-
como afirma Klein (2003). Está também relacionada à importância da postura preensão é que o ensino remoto emergencial (ERE) causou um impacto signi-
ficativo em todo o sistema de ensino, da Educação Infantil à Pós-Graduação.
No entanto, creio que, para as crianças do 1o ano do Ensino Fundamental (6
74 Nesta questão, baseio-me nas formulações de Sánchez Gamboa (2007).
138 ALFABETIZAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA: trajetórias & vivências 139

anos de idade) e crianças ainda não alfabetizadas, o impacto tem sido muito significativas, independentemente da diversidade de níveis e ritmos
mais forte e intenso, pois a apropriação do sistema de escrita alfabética requer de aprendizagem que caracterizam a sala de aula;
a permanente mediação do/da professora/a ou de adultos mais capazes. Para 5°) A alfabetização como uma responsabilidade coletiva: não seria apro-
que a alfabetização aconteça, a criança precisa ser ensinada, orientada, acom- priado considerar que a responsabilidade para suprir as lacunas na
panhada, desafiada. A mediação pedagógica possui um componente afetivo. aprendizagem dos/as alunos/as geradas pela pandemia seja apenas
Nada substitui o contato com a criança, o olhar, a palavra de estímulo. Pegar dos professores/as e das escolas. Meu posicionamento é que se
na mão para ajudá-la a escrever algo, convidá-la para vir ao quadro, apontar trata de uma questão coletiva e, nesse contexto, são fundamentais
uma palavra com o dedo, ler partilhadamente com ela um pequeno texto, uma as atitudes de cooperação, solidariedade e interassistência. Quem
frase, uma palavra, uma letra. Todas essas ações fazem parte do processo e tiver mais ideias e melhor preparo pode ajudar quem tem menos,
permitirão que, um dia, possam ler e escrever com autonomia, sem ajuda. A formando uma rede de cooperação. As redes de ensino que avança-
conquista dessa autonomia é fundamental na continuidade dos estudos e no rem mais, podem apoiar outras. E, em todos os casos, é sempre bom
seu processo de constituição de sujeito. Em uma live organizada pelo Fórum lembrar que são as crianças que devem ser tomadas como referência
de Estadual de Alfabetização do Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 2020 75, nas decisões e nas alternativas. Da minha parte, desejo colocar-me
tive a oportunidade de apresentar algumas reflexões sobre a alfabetização na ao lado dos/as professores/as, das escolas e das redes de ensino.
pandemia e na pós-pandemia. As principais conclusões da minha contribuição Concordo com o posicionamento de Stetsensko (2020b) de que a
para a questão podem ser sintetizadas nos seguintes pontos: pandemia nos trouxe a mensagem da responsabilidade extraordinária
que temos uns para com os outros e para com o futuro, pois, como
1°) As decisões sobre a retomada e os procedimentos pedagógicos a afirmou Luther King Jr (1965 apud STETSENKO, 2020b, p. 14):
serem priorizados precisam ser debatidos e não somente impostos.
A escola é espaço de produção de currículo, de práticas, de políticas Toda a humanidade está ligada, toda a vida está inter-relacionada e todos
e desconsiderar esse fato pode resultar em decisões autoritárias e nós estamos envolvidos em uma rede inescapável de mutualidade, amar-
muitas vezes totalmente inadequadas para o contexto escolar; rados em uma única vestimenta do destino. O que quer que afete um
diretamente, afeta todos indiretamente. 77 •
2°) As alternativas precisam considerar ações em curto, médio e longo
prazos. A pandemia e o ERE causaram prejuízos significativos nos
processos de aprendizagem dos/das alunos/as e, possivelmente,
levará algum tempo para uma recomposição;
3°) Diagnóstico e planejamento das intervenções: no caso dos/as alunos/
as dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em fase de alfabeti-
zação, haverá necessidade da obtenção do diagnóstico da aprendi-
zagem de cada criança, em busca de ter elementos concretos sobre
o que são capazes de ler, de escrever, de interpretar; identificar as
principais lacunas e as possibilidades de agrupamento dos/as alunos/
as para o planejamento de situações de ensino diferenciadas (dife-
renciação curricular). A diferenciação curricular que é fundamental
para dar conta da diversidade de níveis na sala de aula emerge como
vital no contexto pós-pandemia 76 ;
4°) As práticas sistemáticas significativas na alfabetização: as práticas
sistemáticas podem ser úteis para garantir a aprendizagem contínua
de todos/as os/as alunos/as, por meio de situações de ensino ricas e

75 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OTiqKHiS2Uw. Acesso em: 1Omaio 2021. 77 O texto de Luther King Jr encontra-se disponível em: http://dcollections.oberlin.edu/digital/collection/
76 A respeito da diferenciação curricular, ver o Capítulo 5 deste livro. p15963coll16/id/31. Acesso em: 10 maio 2021.
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ALFABETIZAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA: trajetórias & vivências 141
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