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INTRODUÇÃO À MICOLOGIA

Micologia (do grego mykes = fungo e lógos = ciência/estudo) é o ramo da biologia que
estuda os fungos. A micologia engloba o estudo de um grande número de seres
pluricelulares ou unicelulares (microscópicos), sendo os últimos, principalmente os
micro-fungos parasitas, o objecto de estudo em Microbiologia.

MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DOS FUNGOS

1. MORFOLOGIA

Fungos: microrganismos eucarióticos, não fotossintéticos, a maioria são heterotróficos,


aeróbios e imóveis.

Natureza das células:


 Núcleo com membrana nuclear e nucléolo;
 Com organelos citoplasmáticos como as mitocôndrias e retículo endoplasmático;
 Encontram-se geralmente haplóides. O núcleo torna-se diplóide por meio da fusão
nuclear no processo de reprodução sexuada.

As estruturas celulares mais importantes do ponto de vista médico são:


 Cápsula: produzida por alguns fungos; principalmente constituida por polissacáridos.
As cápsulas podem ser antigénicas e anti-fagocíticas.
 Parede celular: disposta imediatamente sobre a membrana citoplasmática. Constituída
por cadeias de polissacáridos como a quitina e celulose designadas microfibrilas que
se encontram entrecruzadas com proteínas e glicoproteinas.
 Membrana citoplasmática: composição similar à das células eucarióticas. Apresenta
uma camada dupla, constituída por lípidos e proteínas juntamente com pequenas
quantidades de carbohidratos. Contrariamente às bactérias (excepto Mycoplasma),
mas de forma similar às células eucarióticas, a membrana dos fungos possui esteróis
(ergosterol e zimosterol).

Os dois principais tipos de fungos são:


 fungos filamentosos (bolores ou micelianos);
 leveduras
Existe um terceiro grupo de fungos designados fungos dimorfos.

Fungos filamentosos (bolores ou micelianos)

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 Formam longos filamentos -hifas- com cerca de 2 a 10 m de diâmetro que a medida
que crescem tornam-se ramificados e entrelaçados constituindo o micélio;
 Reproduzem-se através de esporos sexuados e assexuados;
 Só invadem, em geral, uma região limitada do organismo, e propagam-se a novos
hospedeiros à custa de esporos.
Ex: fungos das tinhas.

Leveduras

 São unicelulares, esféricas ou elipsóides com 3 a 5 m de diâmetro;


 Não formam micélio;
 Reproduzem-se geralmente por gemulação embora possam também reproduzir-se
sexuadamente.
Ex: Candida albicans

Fungos dimorfos

 Desenvolvem-se quer como filamentos quer como leveduras, consoante as condições


do meio.
 A forma miceliana (fase saprófita) observa-se geralmente a 22ºC, nos meios de cultura
ou no solo e a forma de levedura (fase parasita) aparece nos meios a 37ºC e no
organismo animal.
Ex. Blastomyces dermatitidis

1.1. CLASSIFICAÇÃO ESTRUTURAL DOS MICÉLIOS

a) Micélio pluricelular
Constituído por hifas septadas ou tabicadas. Os septos possuem poros através dos quais o
protoplasma pode fluir. É característico da maior parte dos fungos.

b) Micélio cenocítico
Constituído por hifas não tabicadas; o protoplasma pode fluir ininterruptamente ao longo
da extensão da hifa.

c) Pseudomicélio
Típico das leveduras. Quando na gemulação os blastosporos que se formam ficam
aderidos às células progenitoras.

1.2. CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DOS MICÉLIOS

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a) Micélio vegetativo
Cresce em contacto directo com a superfície do meio de cultura ou por baixo do mesmo.
Função: absorver os nutrientes solúveis do meio.

b) Micélio reprodutor ou aéreo


Cresce acima da superfície do meio de cultura.
Função: produzir esporos sexuados e assexuados.

2. FISIOLOGIA DOS FUNGOS

2.1. REQUESITOS GERAIS

 Temperatura: temperatura ambiente, 20-30ºC (fungos patogénicos podem crescer a


37ºC).
 Humidade: necessidades variam consoante a espécie. No geral maior crescimento com
humidade elevada.
 Oxigénio: fungos patogénicos são aeróbios.
 Fonte de energia: oxidação de açúcares, álcoois, proteínas, lípidos e polissacáridos.
 Nitrogénio: pode ser obtido na forma de nitratos, nitritos,, amónia ou nitrogénio
orgânico (aminoácidos). Podem transformar aminoácidos simples em aminoácidos
necessários para a síntese de proteínas. Nos meios de cultura a fonte usual é a peptona.
 Carbono: fonte principal são os carbohidratos, glicose, frutose, manose, etc.
 Concentração hidrogeniónica: crescem melhor em valores de pH entre 5-7. Algumas
espécies crescem em pH menores, por exemplo Aspergillus em pH mais ácidos.
 Luz: papel não muito claro; raios ultravioleta e X têm um efeito inibidor mas não letal.
 Outros: necessidades em potássio, cálcio, ferro, cobre, zinco, fósforo, magnésio, etc.
Alguns fungos necessitam tiamina e biotina.

2.2. FORMAÇÃO DE PIGMENTO

Como produto metabólico e geralmente produzido na presença de manose, dextrose e


levulose. Outros exigem a presença de ferro, cobre e manganês.

2.3. REPRODUÇÃO

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A reprodução dos fungos é feita através de estruturas adaptadas para esse fim, os esporos,
que germinam num processo conhecido como “germ tube”. Os esporos podem ter origem
sexuada ou assexuada.
A reprodução sexuada ocorre por fusão de dois núcleos haplóides seguida de uma divisão
meiótica do núcleo diplóide. Ainda não foi demonstrada a fase sexuada de muitos dos
fungos importantes do ponto de vista médico.
A reprodução assexuada envolve a divisão do núcleo por mitose e é tão eficiente como a
reprodução sexuada.

2.3.1. Esporos sexuados


Resultam da fusão de dois núcleos e como resultado da conjugação há a formação de um
zigoto. Existem três tipos:

a) Zigósporos
Resultam da união entre duas hifas ou partes do fungo diferenciados sexualmente. Os
zigósporos revestem-se de uma parede espessa.
Ex: Zygomycetes

b) Basideósporos
Crescem externamente sobre uma hifa de terminação claviforme chamada basídeo.
Tipicamente formam-se quatro basideósporos de um basídeo.
Ex: Basideomycetes

c) Ascósporos
Esporos que se formam dentro de uma estrutura em forma de saco chamada asco. Os
ascósporos são disseminados para o meio ambiente após a ruptura das paredes do asco.
Ex: Ascomycetes

2.3.2. Esporos assexuados

Formam-se pela fragmentação de hifas, pela gemulação ou extensão de hifas


especializadas. Podem ser diferenciados em dois grupos de acordo com a sua formação:
(A) talósporos e (B) conídias e esporangiósporos.

A. Talósporos

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Formam-se directamente a partir do talo por modificações das hifas ou por gemulação.
Incluem os artrósporos, clamidósporos e blastósporos.

a) Artrósporos
Resultam da fragmentação da hifa em segmentos curtos, rectangulares ou arredondados,
sem muita transformação no tamanho ou forma da célula.
Ex: fungos das tinhas.

b) Clamidósporos
São os esporos mais resistentes dos fungos. Possuem um contorno duplo e citoplasma
mais denso que os filamentos.
Ex: Histoplasma capsulatum

c) Blastósporos
Produzidos por leveduras que se reproduzem por gemulação. Formam-se a partir da
célula progenitora, despreendendo-se para formar um novo organismo.
Ex: Saccharomyces spp

B) Conídias e esporangiosporos
Formam-se por extensão de hifas especializadas.

a) Conídias
Formam-se na extremidade de uma ramificação de uma hifa especializada, o conidióforo.
Existem diferentes tipos de conidióforos:
 os que se ramificam nos extremos tendo no fim de cada ramo conídias que formam
largas cadeias, p.e. Penicillium;
 os que formam uma vesícula coberta de esterigmas donde nascem conídias, p.e.
Aspergillus.

As conídias podem ainda ser classificadas em microconídias (conídias pequenas e


unicelulares, esféricas, ovais ou elipsóides) e em macroconídias (conídias multicelulares).

b) Esporangiósporos
Esporos endógenos contidos numa estrutura chamada esporângeo que se desenvolve na
terminação de uma hifa fértil - esporangióforo.
Ex: Mucor

3. CLASSIFICAÇÃO SISTEMÁTICA DOS FUNGOS

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Baseada em diferentes critérios como a morfologia e na natureza dos esporos sexuados.

Quatro classes de fungos:

1. Zygomycetes: hifas não septadas, esporangiósporos e zigósporos.

2. Ascomycetes: hifas septadas, vários tipos de esporos assexuados principalmente


conídias, artrosporos e clamidosporos. Esporos sexuados os ascósporos.

3. Basidiomycetes: hifas septadas, esporos assexuados como conídias, artrosporos.


Esporos sexuados: basidiósporos.

4. Fungi imperfecti (Deuteromycetes): não possuem uma fase sexuada e não são por isso
incluídos em nenhuma das classes anteriores. Uma grande parte dos fungos patogénicos
pertencem a esta classe. Produzem esporos assexuados como conídias, artrosporos,
clamidosporos e blastosporos.

Principais diferenças entre fungos e bactérias

Características Fungos Bactérias


Estrutura celular Eucarióticas Procarióticas
Composição da parede Quitina e outros Mucopéptido (mureína)
celular polissacáridos
Membrana citoplasmática Possui esteróis Sem esteróis (excepto
Mycoplasmas)
Organelos membranosos Mitocôndrias, retículo Sem mitocôndria e retículo
endoplasmático endoplasmático
Núcleo Verdadeiro, com membrana Sem membrana nuclear
nuclear
Reprodução Sexuada e assexuada Fissão binária

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