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Equações Diferenciais B

Aula 02: Método de separação de variáveis

Ronaldo B. Assunção
B.H. 31 de agosto de 2022
UFMG/ICEx/DMAT
Sumário

1. Séries de Fourier e equações diferenciais parciais

2. O método de expansão em autofunções

1
Sumário

Séries de Fourier e equações diferenciais parciais

O método de expansão em autofunções

2
Séries de Fourier

Uma série funcional da forma


a0 +∞
X ³ nπ ´ +∞X ³ nπ ´
f (x) = + an cos x + bn sen x (1)
2 n=1 L n=1 L

é denominada série trigonométrica ou série de Fourier.


As constantes a0 , an e bn com n ∈ N são os coeficientes da série de
Fourier.
Se a série de Fourier (1) for convergente, então sua soma é uma função
periódica com período 2L (ou seja, f é 2L-periódica).
Problema
Dada uma função f (x) que é 2L-periódica, sob quais condições para
f (x) é possível encontrar uma série de Fourier convergente para f (x)?

Esse problema será tratado no final dessa aula e nas aulas seguintes.

3
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais i

As equações diferenciais parciais (EDPs) básicas tratadas neste curso são


descritas suscintamente (no caso de funções de duas variáveis
independentes).
Equação da difusão
A equação diferencial parcial

∂u(x , t) ∂2 u(x , t)
= α2 (2)
∂t ∂x 2
aparece nos processos de propagação do calor, na filtragem de líquidos
ou gases em meios porosos, na teoria das probabilidades, em finanças,
etc. Essa equação pertence à classe das equações parabólicas.

4
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais ii

Algumas soluções da equação da difusão:

1. u(x) = Ax + B;
2. u(x , t) = A(x 2 + 2αt) + B;
3. u(x , t) = A(x 3 + 2αxt) + B;
4. u(x , t) = A(x 4 + 12αx 2 t + 12α2 t 2 ) + B;
P n (2n)(2n − 1) · · · (2n − 2k + 1)
5. u(x , t) = x 2n + kk =
=1
(αt)k x 2n−2k ;
k!
P n (2n + 1)(2n) · · · (2n − 2k + 2)
6. u(x , t) = x 2n+1 + kk ==1
(αt)k x 2n−2k +1 ;
k!
7. u(x , t) = Aexp αµ2 t ± µx + B;
¡ ¢

1 x2
µ ¶
8. u(x , t) = A p exp − + B;
t 4αt
9. u(x , t) = Aexp −αµ2 t cos(µx + B) + C ;
¡ ¢

10. u(x , t) = Aexp −µx cos µx − 2αµ2 t + B + C ;


¡ ¢ ¡ ¢

5
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais iii
x
µ ¶
11. u(x , t) = A erf p + B,
2 αt
em que A, B, CZ e µ são constantes arbitráris n ∈ N é um número natural
2 z
exp −ζ2 dζ denota a função erro.
¡ ¢
e erf(z) := p
π 0

6
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais iv
Equação da onda
A equação diferencial parcial

∂2 u(x , t) ∂2 u(x , t)
= a2 (3)
∂t 2 ∂x 2
aparece nos processos de propagação de ondas transversais em uma
corda, de oscilações longitudinais em uma barra, oscilações elétricas em
um cabo, oscilações torsionais em uma barra, etc. Essa equação
pertence à classe das equações hiperbólicas.

7
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais v

A solução geral da equação da onda é

u(x , t) = φ(x + at) + ψ(x − at)

em que φ(x) e ψ(x) são funções arbitrárias.


Se u(x , t) é solução da equação da onda, então as funções

1. u1 (x , t) = Au(±λx + C1 , ±λt + C2 ) + B;
x − vt t − va−2 x
µ ¶
2. u2 (x , t) = Au q ,q ;
1 − (v /a)2 1 − (v /a)2
x t
µ ¶
3. u3 (x , t) = Au , 2 ;
x − a t x − a2 t 2
2 2 2

também são soluções da equação da onda onde essas funções estiverem


definidas (A, B, C1 , C2 , v e λ são constantes arbitrárias).

8
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais vi
Equação do potencial
A equação diferencial parcial

∂2 u(x , y ) ∂2 u(x , y )
+ =0 (4)
∂x 2 ∂y 2

aparece nos processos envolvendo campos elétricos e magnéticos,


estados térmicos estacionários, em hidrodinâmica, etc. A equação do
potencial também é denominada equação de Laplace. Essa equação
pertence à classe das equações elípticas.

9
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais vii

Algumas soluções da equação do potencial,

1. u(x , y ) = Ax + By + C ;
2. u(x , y ) = A x 2 + y 2 + Bxy ;
¡ ¢

3. u(x , y ) = A x 3 − 3xy 2 + B 3x 2 y − y 3 ;
¡ ¢ ¡ ¢

Ax + By
4. u(x , y ) = 2 +C;
x +y2
5. u(x , y ) = exp(±µx)(Acos(µy ) + B sen(µy ));
6. u(x , y ) = (Acos(µx) + B sen(µx))exp(±µy );
7. u(x , y ) = (Asenh(µx) + B cos(µx))(C cos(µy ) + D sen(µy ));
8. u(x , y ) = (Acos(µx) + B sen(µx))(C senh(µy ) + D cosh(µy ));

em que A, B, C , D e µ são constantes arbitrárias.

10
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais viii

As equações da difusão, da onda e do potencial apresentadas


anteriormente envolvem funções de apenas duas variáveis. Temos
também outras versões dessas equações para os casos de mais variáveis.

11
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais ix
Equações da difusão em dimensões 2 e 3
As equações diferenciais parciais (6) e (7) abaixo,

∂u(x , t) ∂2 u(x , t)
= α2 (5)
∂t
à ∂x
2
!
∂u(x , y , t) 2 2
2 ∂ u(x , y , t) ∂ u(x , y , t)
=α + (6)
∂t ∂x 2 ∂y 2
à !
∂u(x , y , z , t) 2 2 2
2 ∂ u(x , y , z , t) ∂ u(x , y , z , t) ∂ u(x , y , z , t)
=α + +
∂t ∂x 2 ∂y 2 ∂z 2
(7)

são generalizações da equação (5) e também são denominadas


equações da difusão.

Todas essas equações pertencem à classe das equações parabólicas.

12
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais x
Equações da onda em dimensões 2 e 3
As equações diferenciais parciais (9) e (10) abaixo,

∂2 u(x , t) ∂2 u(x , t)
= a2 (8)
∂t 2 Ã ∂x
2
!
2
∂ u(x , y , t) 2 ∂2 u(x , y , t)
2 ∂ u(x , y , t)
=a + (9)
∂t 2 ∂x 2 ∂y 2
à !
∂2 u(x , y , z , t) ∂2 u(x , y , z , t) ∂2 u(x , y , z , t) ∂2 u(x , y , z , t)
= a2 + +
∂t 2 ∂x 2 ∂y 2 ∂z 2
(10)

são generalizações da equação (8) e também são denominadas


equações da onda.

Todas essas equações pertencem à classe das equações hiperbólicas.

13
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais xi
Equações do potencial em dimensão 2
A equação diferencial parcial (12) abaixo,

∂2 u(x , y ) ∂2 u(x , y )
+ =0 (11)
∂x 2 ∂y 2
∂2 u(r , θ ) 1 ∂u(r , θ ) 1 ∂u(r , θ )
+ + 2 =0 (12)
∂r 2 r ∂r r ∂θ

é a versão para coordenadas polares da equação cartesiana (11) e


também é denominada equação do potencial.

Todas essas equações pertencem à classe das equações elípticas.

14
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais xii

Algumas soluções da equação do potencial em coordenadas polares,

1. u(r ) = Aln(r ) + B;
2. u(r , θ ) = Ar m + Br −m (C cos(mθ ) + D sen(nθ ))
¡ ¢

em que A, B, C e D são constantes arbitrárias e m ∈ N é um número


inteiro

15
Os tipos básicos de equações diferenciais parciais xiii
Equações do potencial em dimensão 3
As equações diferenciais parciais (13), (14) e (15) abaixo,

∂2 u(x , y , z) ∂2 u(x , y , z) ∂2 u(x , y , z)


+ + =0 (13)
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2
∂2 u(r , θ, z) 1 ∂u(r , θ, z) 1 ∂u(r , θ, z) ∂2 u(r , θ, z)
+ + 2 + =0 (14)
∂r 2 r ∂r r ∂θ ∂z 2
∂2 u(r , θ, φ) 2 ∂u(r , θ, φ) 1 ∂2 u(r , θ, φ)
+ + 2
∂r 2 r ∂r r ∂φ2
1 ∂u(r , θ, φ) 1 ∂2 u(r , θ, φ)
+ 2 + 2 =0 (15)
r tan(φ) ∂φ r sen2 (φ) ∂θ 2

são as versões da equação (11) para coordenadas cartesianas, cilíndricas


e esféricas, respectivamente e também são denominadas equação do
potencial.

Todas essas equações pertencem à classe das equações elípticas.


16
Sumário

Séries de Fourier e equações diferenciais parciais

O método de expansão em autofunções

17
Motivação para séries de Fourier i

Exemplo
Resolver o problema de valor inicial e de fronteira (PVIF)

∂u(x , t) ∂2 u(x , t)
EDP − α2 = 0, 0 < x < L, 0 < t; (16)
∂t ∂x 2
CF u(0, t) = 0, 0 É t; (17)
CF u(L, t) = 0, 0 É t; (18)
CI u(x , 0) = f (x), 0 É x É L. (19)

A equação da difusão (ou equação do calor) é também escrita nas formas


simplificadas
ut (x , t) − α2 uxx (x , t) = 0 ou ut − α2 uxx = 0 ou ut = α2 uxx
em que u(x , t) indica uma função desconhecida que representa a
temperatura no ponto x da barra e no instante t.
18
Motivação para séries de Fourier ii

Procuramos a solução não trivial da equação do calor na forma especial

u(x , t) = X (x)T (t). (20)

As derivadas parciais, uma de primeira ordem em relação à variável


temporal t e outra de segunda ordem em relação à variável espacial x, são

ut (x , t) = X (x)T ′ (t); ux (x , t) = X ′ (x)T (t);


uxx (x , t) = X ′′ (x)T (t).

A substituição dessas derivadas na equação diferencial parcial resulta em

X (x)T ′ (t) − α2 X ′′ (x)T (t) = 0


∴ X (x)T ′ (t) = α2 X ′′ (x)T (t)
X ′′ (x) 1 T ′ (t)
∴ = 2 . (21)
X (x) α T (t)

19
Motivação para séries de Fourier iii

O lado esquerdo X ′′ (x)/X (x) depende apenas da variável espacial x e o


lado direito T ′ (t)/T (t) depende apenas da variável temporal t.
Essa equação somente pode ser verificada se ambos os termos
X ′′ (x)/X (x) e T ′ (t)/T (t) forem constantes.
De fato, se calculamos a derivada parcial ∂/∂x de ambos os lados da
equação deduzimos que

∂ X ′′ (x) ∂ 1 T ′ (t)
µ ¶ µ ¶
= = 0;
∂x X (x) ∂x α2 T (t)

logo, X ′′ (x)/X (x) é constante.


Analogamente, se calculamos a derivada parcial ∂/∂t de ambos os lados
da equação deduzimos que

∂ 1 T ′ (t) ∂ X ′′ (x)
µ ¶ µ ¶
= = 0;
∂t α2 T (t) ∂t X (x)
20
Motivação para séries de Fourier iv

logo, T ′ (t)/(α2 T (t)) é constante.

21
Motivação para séries de Fourier v

Sem perda de generalidade, denotamos a constante por σ, denominada


constante de separação, e escrevemos

X ′′ (x) − σX (x) = 0, (22)


′ 2
T (t) − σα T (t) = 0. (23)

Como consequência da escolha inicial para o formato mais simples da


solução, na forma u(x , t) = X (x)T (t), obtemos a separação das variáveis
da equação diferencial parcial, que se transforma em duas equações
diferenciais ordinárias. Isso justifica o nome dessa estratégia para
resolução do PVIF: método de separação de variáveis.

22
Motivação para séries de Fourier vi

Até essa etapa do problema não consideramos as condições de fronteira e


vamos ver suas consequências quanto à separação de variáveis.

Como u(0, t) = X (0)T (t) = 0 para todo número real 0 É t, devemos ter
X (0) = 0, pois em caso contrário, devemos ter T (t) = 0 para todo número
real 0 É t, o que conduz à solução trivial u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0, que
resolve equação diferencial parcial e as condições de fronteira mas
possivelmente não resolve a condição inicial u(x , 0) = f (x).

Analogamente, como u(L, t) = X (L)T (t) = 0 para todo número real 0 É t,


devemos ter X (L) = 0.

23
Motivação para séries de Fourier vii

Portanto, associado à equação diferencial ordinária na variável espacial x


devemos ter duas condições de fronteira; e a equação diferencial ordinária
na variável temporal t fica sem outras condições associadas,

PVF: X ′′ (x) − σX (x) = 0; X (0) = 0; X (L) = 0; (24)


EDO: T ′ (t) − σα2 T (t) = 0. (25)

A seguir, resolvemos em primeiro lugar a equação diferencial ordinária na


variável x juntamente com suas condições de fronteira, que constituem
um problema de valor de fronteira (PVF); em seguida, resolvemos a
equação diferencial ordinária na variável t.

Para a equação diferencial ordinária na variável espacial, afirmamos que


σ ∈ R, isto é, a constante de separação é um número real.

24
Motivação para séries de Fourier viii

Logo, há três casos essencialmente distintos que devem ser considerados


separadamente de acordo com o sinal da constante de separação σ.

25
Motivação para séries de Fourier ix
Caso 1: A constante de separação é positiva.
Nesse caso escrevemos σ = +λ2 e o problema de valor de fronteira na
variável espacial x escreve-se como

X ′′ (x) − λ2 X (x) = 0; X (0) = 0; X (L) = 0; (26)

Como é usual, procuramos soluções linearmente independentes na forma


de função exponencial. O polinômio característico é

p(r ) = r 2 − λ2

cujas raízes sào reais e distintas, r1 = +λ e r2 = −λ. As correspondentes


soluções são X1 (x) = exp(+λx) e X2 (x) = exp(−λx); a solução geral da
equação diferencial ordinária é

X (x) = AX1 (x) + BX2 (x)


26
Motivação para séries de Fourier x

= Aexp(+λx) + B exp(−λx).

Para verificar as condições de fronteira, devemos substituir os valores


X (0) = 0 e X (L) = 0, isto é,
X (0) = Aexp(+λ · 0) + B exp(−λ · 0) = 0
X (L) = Aexp(+λ · L) + B exp(−λ · L) = 0,
ou, mais simplesmente,
1A + 1B = 0 A=0
½ ½
⇒ (27)
+λL −λL
e A+e B =0 B =0
ou seja, no caso em que a constante de separação é positiva a única
solução do problema de valor de fronteira associado à variável espacial x
é X (x) ≡ 0 e isso implica que u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0 é a solução trivial,
que não nos interessa já que, embora seja solução da equação diferencial
parcial da difusão e das condições de fronteira, possivelmente não resolve
a condição inicial.
27
Motivação para séries de Fourier xi
Caso 2: A constante de separação é nula.
Nesse caso σ = 0 e o problema de valor de fronteira na variável espacial
x escreve-se como

X ′′ (x) − 0X (x) = 0; X (0) = 0; X (L) = 0; (28)

Como é usual, procuramos soluções linearmente independentes na forma


de função exponencial. O polinômio característico é

p(r ) = r 2

cujas raízes sào reais e repetidas, r1 = 0 e r2 = 0. As correspondentes


soluções são X1 (x) = exp(0 · x) = 1 e X2 (x) = x exp(0 · x) = x; a solução
geral da equação diferencial ordinária é

X (x) = AX1 (x) + BX2 (x)

28
Motivação para séries de Fourier xii

= A + Bx .

Para verificar as condições de fronteira, devemos substituir os os valores


X (0) = 0 e X (L) = 0, isto é,
X (0) = A + B · 0 = 0
X (L) = A + B · L = 0,
ou, mais simplesmente,
1A + 0B = 0 A=0
½ ½
⇒ (29)
1A + LB = 0 B =0
ou seja, no caso em que a constante de separação é nula a única solução
do problema de valor de fronteira associado à variável espacial x é
X (x) ≡ 0 e isso implica que u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0 é a solução trivial, que
não nos interessa já que, embora seja solução da equação diferencial
parcial da difusão e das condições de fronteira, possivelmente não resolve
a condição inicial.
29
Motivação para séries de Fourier xiii
Caso 3: A constante de separação é negativa.
Nesse caso escrevemos σ = −λ2 e o problema de valor de fronteira na
variável espacial x escreve-se como

X ′′ (x) + λ2 X (x) = 0; X (0) = 0; X (L) = 0; (30)

Como é usual, procuramos soluções linearmente independentes na forma


de função exponencial. O polinômio característico é

p(r ) = r 2 + λ2

cujas raízes sào complexas conjugadas com a parte real nula, r1 = 0 + λi e


r2 = 0 − λi. As correspondentes soluções são
X1 (x) = exp(0 · x)cos(λx) = cos(λx) e

30
Motivação para séries de Fourier xiv

X2 (x) = exp(0 · x)sen(λx) = sen(λx); a solução geral da equação


diferencial ordinária é

X (x) = AX1 (x) + BX2 (x)


= Acos(λx) + B sen(λx).

Para verificar as condições de fronteira, devemos substituir os os valores


X (0) = 0 e X (L) = 0, isto é,

X (0) = Acos(λ · 0) + B sen(λ · 0) = 0


X (L) = Acos(λ · L) + B sen(λ · L) = 0,

ou, mais simplesmente,


(
1A + 0B = 0
⇒ {A = 0 (31)
cos(λL)A + sen(λL)B = 0

31
Motivação para séries de Fourier xv

e selecionamos B ̸= 0 pois, em caso contrário, obteríamos novamente


apenas a solução trivial X (0) ≡ 0 e, consequentemente, apenas a solução
trivial para a equação da difusão, u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0. Dessa forma,
devemos ter

sen(λL) = 0 ⇒ λ= (n ∈ Z).
L
As correspondentes soluções são da forma
³ nπ ´
X (x) = B sen x (n ∈ Z).
L

Como sen((−nπ/L)x) = − sen((nπ/L)x), sem perda de generalidade


podemos considerar apenas os valores de n ∈ N. Dessa forma,
selecionamos os autovalores λn = nπ/L e as correspondentes autofunções

32
Motivação para séries de Fourier xvi

Xn (x) = Bn sen((nπ/L)x) em que Bn ∈ R são constantes reais arbitrárias


para n ∈ N, isto é,
nπ ³ nπ ´
autovalores: λn = ; autofunções: Xn (x) = Bn sen x . (32)
L L

33
Motivação para séries de Fourier xvii

Agora podemos resolver a equação diferencial ordinária na variável


temporal t para os correspondentes autovalores obtidos previamente.
Como os únicos valores que conduziram a soluções não triviais são
σn = −λ2n = −(nπ/L)2 , a equação torna-se

n 2 π2 2
T ′ (t) + α T (t) = 0 (n ∈ N) (33)
L2
cuja solução é
à !
n2 π2 α2
Tn (t) = Cn exp − t (n ∈ N) (34)
L2

em que Cn ∈ R são constantes reais arbitrárias para n ∈ N.

34
Motivação para séries de Fourier xviii

Podemos agora multiplicar Xn (x) por Tn (t) para obter

un (x , t) = Xn (x)Tn (t)
à à !!
³ ³ nπ ´´ n2 π2 α2
= Bn sen x Cn exp − t
L L2
à !
³ nπ ´ n2 π2 α2
= bn sen x exp − t (35)
L L2

em que bn = Bn Cn para n ∈ N são constantes arbitrárias.

35
Motivação para séries de Fourier xix

Finalmente, podemos agora considerar a condição inicial. Se usamos o


valor t = 0 obtemos

f (x) = un (x , 0)
à !
³ nπ ´ n2 π2 α2
= bn sen x exp − 0
L L2
³ nπ ´
= bn sen x ,
L
que, em geral, não é válida para a maioria das funções f (x) da condição
inicial.

36
Motivação para séries de Fourier xx

Entretanto, isso não significa necessariamente que o método de separação


de variáveis falhe na resolução do problema de valor inicial e de fronteira.
Lembramos que a equação diferencial parcial da difusão,
ut (x , t) − α2 uxx (x , t) = 0, é uma equação linear; e sabemos que para
equações lineares, as combinações lineares finitas de soluções ainda são
soluções da equação. Dessa forma, a solução un (x , t) = Xn (x)Tn (t) pode
ser substituída pela solução
nX
=N
u(x , t) = un (x , t)
n=1
nX
=N
= Xn (x)Tn (t)
n=1
à !
nX
=N n2 π2 α2
³ nπ ´
= bn sen x exp − t
n=1 L L2

37
Motivação para séries de Fourier xxi

em que N ∈ N é um número natural arbitrário.


Nesse caso, se usamos o valor t = 0 obtemos

f (x) = u(x , 0)
à !
nX
=N n2 π2 α2
³ nπ ´
= bn sen x exp − 0
n=1 L L2
nX
=N ³ nπ ´
= bn sen x
n=1 L

em que N ∈ N é uma constante arbitrária.


Como é de se esperar, também na maioria das situações não é possível
em geral encontrar a solução do problema de valor inicial se consideramos
apenas combinações lineares finitas.

38
Motivação para séries de Fourier xxii

Sendo assim, escrevemos a solução com o uso de combinações lineares


infinitas, isto é, procuramos solução como uma série trigonométrica,

+∞
X
u(x , t) = un (x , t)
n=1
+∞
X
= Xn (x)Tn (t)
n=1
à !
+∞
X n2 π2 α2
³ nπ ´
= bn sen x exp − t .
n=1 L L2

39
Motivação para séries de Fourier xxiii

Nessa nova situação, devemos ter

f (x) = u(x , 0)
à !
+∞
X n2 π2 α2
³ nπ ´
= bn sen x exp − 0
n=1 L L2
+∞
X ³ nπ ´
= bn sen x .
n=1 L

40
Motivação para séries de Fourier xxiv

Para que o método de separação de variáveis funcione para a resolução


do problema de valor inicial e de fronteira diversas perguntas devem ser
respondidas, das quais listamos algumas.

1. Podemos representar a função f : [0, L] → R que indica a temperatura


inicial da barra na forma
+∞
X ³ nπ ´
f (x) = bn sen x ?
n=1 L

2. Em caso afirmativo, como determinar os coeficientes bn ∈ R para


n ∈ N?
3. Uma soma infinita, denominada série, pode de fato representar uma
função? Essa soma infinita converge?

41
Motivação para séries de Fourier xxv

4. Se a soma infinita converge para uma função, essa função é solução


da equação da difusão e verifica a condição inicial e as condições de
fronteira? Em outros termos, se representamos a solução na forma
à !
+∞
X n2 π2 α2
³ nπ ´
u(x , t) = bn sen x exp − t ,
n=1 L L2

então podemos encontrar a derivada de u(x , t) em relação à variável


temporal t através da derivação termo a termo da série de u(x , t),
à ! à !
∂u(x , t) +∞
X n2 π2 α2 ³ nπ ´ n2 π2 α2
= bn − sen x exp − t ?
∂t n=1 L2 L L2

42
Motivação para séries de Fourier xxvi

Além disso, podemos encontrar a derivada primeira de u(x , t) em


relação à variável espacial x através da derivação sucessiva termo a
termo da série de u(x , t),
à !
∂u(x , t) +∞
X ³ nπ ´ ³ nπ ´ n2 π2 α2
= bn cos x exp − t ?
∂x n=1 L L L2

E a derivada segunda pode ser calculada de forma similar,


à ! à !
∂2 u(x , t) +∞
X n 2 π2 ³ nπ ´ n2 π2 α2
= bn − 2 sen x exp − t ?
∂x 2 n=1 L L L2

43
Motivação para séries de Fourier xxvii

Se os cálculos acima puderem de fato ser realizados, então a função


à !
+∞
X n2 π2 α2
³ nπ ´
u(x , t) = bn sen x exp − t
n=1 L L2
é solução da equação da difusão. De fato, pelo menos formalmente, isto
é, independentemente das questões de convergência das diversas séries
que aparecem nos cálculos, temos
∂u(x , t) ∂2 u(x , t)
− α2
∂t à ∂x ∂ ! à !
+∞
X n2 π2 α2 ³ nπ ´ n2 π2 α2
= bn − sen x exp − t
n=1 L2 L L2
à ! à !
2
+∞ n 2 π2 ³ nπ ´ n 2 π2
−α
X
bn − 2 sen x exp − 2 t
n=1 L L L
à ! à !
+∞
X n2 π2 α2 ³ nπ ´ n2 π2 α2
=− bn + sen x exp − t
n=1 L2 L L2
44
Motivação para séries de Fourier xxviii
à ! à !
+∞
X n2 π2 α2 ³ nπ ´ n 2 π2
+ bn + 2
sen x exp − 2 t
n=1 L L L
= 0.

Além disso, a função u(x , t) acima definida resolve as condições de


fronteira, pois
à !
+∞
X n2 π2 α2
³ nπ ´
u(0, t) = bn sen 0 exp − t
n=1 L L2
=0
e também à !
+∞
X n2 π2 α2
³ nπ ´
u(L, t) = bn sen L exp − t
n=1 L L2
= 0,

45
Motivação para séries de Fourier xxix

já que sen((nπ/L)0) = 0 e sen((nπ/L)L) = 0 para todo n ∈ N.


Finalmente, resta a questão de determinar os coeficientes bn para n ∈ N
de modo que a condição inicial seja verificada.

As respostas a essas perguntas formam a base da teoria das séries de


Fourier. No que se segue, estudaremos as séries de Fourier e depois
retornaremos ao método de separação de variáveis para resolver
problemas relacionados com a equação da difusão, com a equação da
onda e com a equação do potencial.

Antes, porém, vamos analisar alguns problemas específicos.

46
Algumas condições iniciais específicas i

Exemplo
Resolver o problema de valor inicial e de fronteira

∂u(x , t) ∂2 u(x , t)
EDP − α2 = 0, 0 < x < L, 0 < t;
∂t ∂x 2
CF u(0, t) = 0, 0 É t;
CF u(L, t) = 0, 0 É t;
CI u(x , 0) = f (x), 0 É x É L.

para os casos abaixo indicados.


µ ¶
1. f (x) = 3sen x .
L
π 1 1π π 1 2π π 1 3π
µ ¶ µ ¶ µ ¶
2. f (x) = + 2 sen x − sen x + sen x .
41 L 4 22 L 4 32 L

47
Algumas condições iniciais específicas ii
2022
n=X 400
µ
(2n − 1)π

3. f (x) = sen x .
n=1 (2n − 1)π L
X 4L2 (−1)n+1 + 1 ³ nπ ´
¡ ¢
+∞
4. f (x) = sen x .
n=1 n 3 π3 L

48
Algumas condições iniciais específicas iii

Pela análise realizada previamente, a solução formal da EDP e das


condições de fronteira é
à !
+∞
X ³ nπ ´ n2 π2 α2
u(x , t) = bn sen x exp − t .
n=1 L L2

E se selecionamos o valor t = 0, obtemos

f (x) = u(x , 0)
+∞
X ³ nπ ´
= bn sen x .
n=1 L

Dessa forma, podemos analisar cada caso de acordo com a forma


específica da função que indica a condição inicial u(x , 0) = f (x) e
selecionar convenientemente os coeficientes bn com n ∈ N.

49
Algumas condições iniciais específicas iv

1. Para

µ ¶
f (x) = 3sen x
L
+∞
X ³ nπ ´
= bn sen x
n=1 L
devemos ter

n=1: b1 = 0; u1 (x , t) = 0;
à !
2π 22 π2 α2
µ ¶
n=2: b2 = 3; u2 (x , t) = 3sen x exp − t ;
L L2
n Ê 3 : bn = 0; un (x , t) = 0;

Logo, a solução tem apenas uma parcela,


à !
2π 22 π2 α2
µ ¶
u(x , t) = 3sen x exp − t .
L L2

50
Algumas condições iniciais específicas v

2. Para
π 1 1π π 1 2π π 1 3π
µ ¶ µ ¶ µ ¶
f (x) = + 2 sen x − sen x + sen x
41 L 4 22 L 4 32 L
+∞
X ³ nπ ´
= bn sen x
n=1 L

devemos ter
à !
π 1 π 1 1π 12 π2 α2
µ ¶
n=1: b1 = + ; u1 (x , t) = + sen x exp − t ;
4 12 4 12 L L2
à !
π 1 π 12π 22 π2 α2
µ ¶
n=2: b2 = − ; u2 (x , t) = − 2 sen x exp − t ;
4 22 42 L L2
à !
π 1 π 13π 32 π2 α2
µ ¶
n=3: b3 = + ; u3 (x , t) = + 2 sen x exp − t ;
4 32 43 L L2
n Ê 4 : bn = 0; un (x , t) = 0;

51
Algumas condições iniciais específicas vi

Logo, a solução tem apenas três parcelas,


à !
π 1 1π 12 π2 α2
µ ¶
u(x , t) = + sen x exp − t
4 12 L L2
à !
π 1 2π 22 π2 α2
µ ¶
− sen x exp − t
4 22 L L2
à !
π 1 3π 32 π2 α2
µ ¶
+ sen x exp − t .
4 32 L L2

52
Algumas condições iniciais específicas vii

3. Para
2022
n=X 400 (2n − 1)π
µ ¶
f (x) = sen x
n=1 (2n − 1) π L
+∞
X ³ nπ ´
= bn sen x
n=1 L

devemos ter
400
1 É n É 2022 : b2n−1 = ;
(2n − 1)π
Ã
400 (2n − 1)π (2n − 1)2 π
µ ¶
u2n−1 (x , t) = + sen x exp −
(2n − 1)π L L2
1 É n É 2022 : b2n = 0;
u2n (x , t) = 0;
n Ê 2022 : b2n−1 = 0;

53
Algumas condições iniciais específicas viii

u2n−1 (x , t) = 0;
n Ê 2022 : b2n = 0;
u2n (x , t) = 0.

Logo, a solução é
à !
2022
n=X 400 (2n − 1)π (2n − 1)2 π2 α2
µ ¶
u(x , t) = sen x exp − t .
n=1 (2n − 1)π L L2

54
Algumas condições iniciais específicas ix

4. Para
4L2 (−1)n+1 + 1 ³ nπ ´
¡ ¢
+∞
X
f (x) = sen x
n=1 n π
3 3 L
+∞
X ³ nπ ´
= bn sen x
n=1 L
devemos ter
4L2 (−1)n+1 + 1
¡ ¢
bn = (n ∈ N)
n 3 π3
4L2 (−1)n+1 + 1
à !
³ nπ ´ n2 π2 α2
¡ ¢
un (x , t) = sen x exp − t (n ∈ N).
n 3 π3 L L2
A solução formal, isto é, independente de qualquer análise mais
aprofundada sobre as questões de convergência da série, é
4L2 (−1)n+1 + 1
à !
³ nπ ´ n2 π2 α2
¡ ¢
+∞
X
u(x , t) = sen x exp − t .
n=1 n 3 π3 L L2
55
Gráficos da solução u(x , t) da equação da difusão ut (x , t) −α2 uxx (x , t) = 0
em diversos instantes sucessivos que indicam a difusão do calor em uma
barra com extremidades mantidas a temperaturas nulas.

56
Distribuição da temperatura em uma barra com α2 = 0.05 e L = 1 em
distintos instantes no caso do Exemplo letra (a).

57
Mapa de cores para Exemplo letra (a) em uma barra com α2 = 0.05 e
L = 1. Eixo horizontal: x; eixo vertical: t; com 0 É t É 1.

58
Mapa de cores para Exemplo letra (a) em uma barra com α2 = 0.05 e
L = 1. Eixo horizontal: x; eixo vertical: t; 0 É t É 2.

59
Distribuição da temperatura em uma barra com α2 = 0.05 e L = 1 em
distintos instantes no caso do Exemplo letra (b).

60
Idem, com novos instantes.
Distribuição da temperatura em uma barra com α2 = 0.05 e L = 1 em
distintos instantes no caso do Exemplo letra (b).

61
Mapa de cores para Exemplo letra (b) em uma barra com α2 = 0.05 e
L = 1. Eixo horizontal: x; eixo vertical: t; com 0 É t É 1.

62
Mapa de cores para Exemplo letra (b) em uma barra com α2 = 0.05 e
L = 1. Eixo horizontal: x; eixo vertical: t; 0 É t É 3.

63
Distribuição da temperatura em uma barra com α2 = 0.05 e L = 1 em
distintos instantes no caso do Exemplo letra (c).

64
Idem, com novos instantes.
Distribuição da temperatura em uma barra com α2 = 0.05 e L = 1 em
distintos instantes no caso do Exemplo letra (c).

65
Motivação para séries de Fourier

Exercício: Difusão do calor em uma barra; condições de Neumann


Resolver o problema de valor inicial e de fronteira (PVIF)

∂u(x , t) ∂2 u(x , t)
EDP − α2 = 0, 0 < x < L, 0 < t;
∂t ∂x 2
∂u(0, t)
CF = 0, 0 É t;
∂x
∂u(L, t)
CF = 0, 0 É t;
∂x
CI u(x , 0) = f (x), 0 É x É L.

66
Solução formal do problema

A solução formal do problema, obtida pelo método de separação de


variáveis, é
+∞
X
u(x , t) = un (x , t)
n=1
+∞
X
= Xn (x)Tn (t)
n=1
à !
a0 +∞
X ³ nπ ´ n2 π2 α2
= + an cos x exp − t .
2 n=1 L L2

67
Perguntas? Dúvidas?

67

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