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Trabalho Psicologia Juridica
Trabalho Psicologia Juridica
Bom, falando sobre essa intervenção, quando eu comecei o trabalho algo que
me angustiava muito era que eu via que os profissionais estavam muito
imersos a produção de relatórios (que é importante, esses relatórios que a
gente produz são para avaliação, pro juíz avaliar o desenvolvimento da medida
socioeducativa, mas que eu percebia que tava muito focada no bom
comportamento e no juízo de valor) e as questões de vida, de fazer essas
reflexões/problematizações elas ficavam um pouco perdidas. Então eu construí
uma intervenção que inclusive virou capítulo de um livro (vou buscar pra vocês
darem uma lida) e que nessa intervenção a gente trabalhou passado, presente
e futuro. Tínhamos um atendimento inicial, fazíamos uma espécie de
anamnese, uma entrevista inicial com ele (perguntando vários aspectos da
família, da sociedade, da comunidade, dele individualmente, de saúde, questão
da assistência social, escola) pra gente conhecer ele de maneira geral e
explicava como seria a intervenção. No segundo momento, a gente fazia o
passado, então ali ele contava a história de vida dele (de onde ele lembra até a
chegada dele no serviço socioeducativo) e aí a gente utilizava jornais, revistas,
pintura (uma forma bem lúdica) para que ele pudesse expressar para além da
fala como é que ele se via/como via a história de vida dele, pedi pra ele
construir algo que a gente intitulava “álbum de memórias”. Neste álbum de
memórias ele ia contando da forma como ele quisesse a história de vida dele.
A gente ia fazendo as devidas problematizações, com ele sobre isso. Na etapa
do presente, a gente trabalhou as questões do aqui e agora, como é que ele se
sentia na medida socioeducativa, privado de liberdade, longe da família o que
ele pensava sobre aquele momento que ele tava vivendo e aí a gente construía
algumas frases incompletas que a gente nomeou de “sentenças incompletas”
pra ele ir completando. Essas frases iam depender do adolescente, do
contexto, das coisas que a gente já tinha percebido no primeiro e segundo
atendimento. Mas a ideia central era trabalhar o aqui e agora. No terceiro
atendimento, a gente trabalha o futuro. Aí a gente trabalhava o que ele
pensava sobre o futuro dele. Percebia-se que eles tinham muita dificuldade de
falar sobre mercado de trabalho, sobre profissão, quando eles traziam esse
repertório era um repertório voltado para profissões precarizadas e aí a gente
imprimiu diversas imagens de profissões, tanto profissões formais quanto
profissões mais informais e a gente pedia para eles escolherem três que eles
gostavam e três que eles não gostavam. E aí a gente discutia o porquê deles
escolherem ou não também. Porque a não escolha também é importante para
a gente trabalhar. E não só trabalhávamos isso, a gente construía uma espécie
de passo a passo com ele de que o que ele precisava fazer para que pudesse
chegar até essa profissão. Então a gente ia simbolicamente construindo o
futuro dele junto com ele. Em todas essas intervenções para nós era muito
importante que o adolescente fosse autor, disse o protagonista. Então, não era
eu que ia lá dizer o que ele precisava fazer, era coletiva mesmo. E aí a gente ia
trabalhando questões de risco, de apoio, que ele precisa pedir ajuda, como ele
poderia organizar a rotina dele. A gente tbm ia trazendo uma concretude para
aquele planejamento e no final a gente fazia uma espécie de devolutiva.
Tivemos feedbacks muito positivos, quando eles estavam perto de sair eles
levavam esse planejamento, e aí nosso trabalho já era fazer as devidas
articulações com a rede. Ele dizia que queria ir pra escola tal, então a gente já
entrava em contato com o setor de pedagogia pra gente fazer a articulação
com a escola pra fazer a matrícula para quando ele já saísse.
Laudo
Uma coisa que eu acho muito importante aqui laudo só é feito certo por meio
de uma avaliação psicológica e a avaliação psicológica ela é no caso a perícia
não vamos fazer perícia em todos os contextos da psicologia jurídica
profissional que faz a perícia ele é um profissional específico então ele vai lá se
coloca à disposição do tribunal de justiça ele fica numa lista que tem uma lista
lá de vários profissionais que se cadastram e quando o juiz ele quer uma prova
técnica ele solicita uma perícia certo e aí sim a gente vai construir um aluno
nesses outros contextos a gente faz relatórios multidisciplinar relatório
psicológico tá certo.
DIficuldades de diálogo
Olha, sobre as dificuldades de diálogo, a maior dificuldade que eu vejo ainda é
um pouco da não compreensão do que faz o psicólogo nesse lugar, que às
vezes os operadores do direito, por terem uma visão um pouco do senso
comum, apesar disso já está melhorando bastante, né, porque inclusive em
algumas instituições aqui na UFM, por exemplo, os alunos têm a disciplina de
psicologia jurídica e eu acho que é importante porque isso no direito, certo?
Porque isso vai trazendo uma compreensão maior do que faz o psicólogo, né, e
vai nos ajudando a sair um pouco do senso comum e da superficialidade, mas
pela minha prática profissional a maior dificuldade era essa de compreender o
que nós fazemos, né, então tem algumas solicitações que não nos cabe, como
por exemplo, a gente não pode estar fazendo relatório, como eu já falei, que vai
aferir periculosidade, que vai dar. Diagnósticos que vão determinar o sujeito,
né? Então, esses documentos que são muito padronizados de sim ou não, de
inquirir o sujeito, de criar um provo técnico, isso não é ético da nossa parte, né?
Então, um pouco dessa dificuldade de compreender o que realmente faz o
psicólogo, que eu acho que é um trabalho nosso também, porque às vezes os
próprios pro fúngicos de psicologia não sabem o que vão fazer naquela área e
por ter uma representação social de que os operadores do direito, eles estão
num certo lugar de poder em relação a nós, é possível que alguns profissionais
sejam instrumentalizados por esses profissionais do direito e a gente acaba
desviando funções e acabe cedendo e fazendo coisas que não deveríamos
fazer. Por isso, a importância de estarmos alinhados ao que o Conselho
Federal de Psicologia fala, qualquer dúvida, sempre perguntar ao Conselho,
estar alinhado às orientações e as resoluções do Conselho. O próprio código
de ética para a gente se alinhar bastante a isso.
Referências
https://www.scielo.br/j/estpsi/a/NrH5sNNptd4mdxy6sS9yCMM/?
format=pdf&lang=pt#:~:text=A%20hist%C3%B3ria%20da%20atua
%C3%A7%C3%A3o%20de,por%20meio%20de%20trabalhos%20volunt
%C3%A1rios.
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/psicologia-juridica