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Diagnóstico e Terapias Analíticas
Diagnóstico e Terapias Analíticas
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4
DIAGNÓSTICO CLÍNICO........................................................................................... 7
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE ........................................................................... 7
CONHECENDO MAIS SOBRE DIAGNÓSTICO PSICANALÍTICO ......................... 10
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 40
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NOSSA HISTÓRIA
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Introdução
Diferente da clínica médica, a clínica psicanalítica apresenta uma acepção
muito peculiar do diagnóstico. Esse não é realizado de maneira objetiva e direta, ou
seja, de acordo com o conjunto de sintomas definindo imediatamente a doença ou
distúrbio. Como perspectiva clínica, a atuação profissional do psicanalista, não se
vale de roteiros previamente definidos a serem seguidos. Os roteiros
fenomenológicos que orientarão a investigação devem ser estabelecidos dentro do
espaço analítico, a partir da condição de transferência, para determinar a direção do
tratamento. A precipitação em estabelecer o diagnóstico, sob o risco de rotular o
paciente em uma patologia, pode empobrecer, em muito, a escuta, ao torná-la
hipersensível a certas falas do sujeito e/ou surda a outras (COUTINHO, 2007).
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indivíduo, mas se perde o sujeito. Assim, aponta três razões para o uso do
diagnóstico; inicialmente para troca de ideias, ou, apresentação do caso. Uma
segunda considera, também, conhecer o estilo do analisante, onde verifica-se se
sua demanda se adequa a um tratamento psicanalítico. Por fim, caso o estilo seja
adequado, encaminhar o cliente para condução do tratamento.
Segundo Santiago (2011), para que o sintoma represente alguma coisa para
o sujeito, é preciso que o mesmo adquira um sentido (frequentemente de incomodo
ou desprazer) para o analisando. Para promover tal sentido o analista pode ocupar
o lugar de intérprete do sintoma. Entretanto sua oferta não deve restringir-se a uma
nomeação. O analista deve possibilitar ao sujeito Diagnóstico clínico x diagnóstico
em psicanálise: a importância da escuta na construção do diagnóstico diferencial 52
Revista Bionorte, v. 4, n. 1, fev. 2015. que lhe traz um sintoma, enquanto uma
formação do inconsciente que faz com que o mesmo tropece, a chance da palavra o
levantar. Neste caso, não deveria haver chance de se apresentar pelo silêncio, que
aliena o sujeito e o transforma em pura determinação.
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entrevista, através das angústias, ansiedades e defesas que surgirão na
comunicação (ABEL, 2013; SANTIAGO, 1984).
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TIPOS DE DIAGNÓSTICOS
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Quando se fala em diagnóstico, reporta-se à utilização de um termo da área
médica. Cabe ao profissional estabelecer um diagnóstico, utilizando-se de técnicas
e instrumentos que permitam um exame direto, observável, objetivando determinar
a natureza da afecção e localizá-la a nível nosológico (ROMARO, 1999).
Existem sintomas que são comuns para diversas doenças. Essa similaridade
em determinadas síndromes pode gerar confusão. Nesses casos, há necessidade
de um diagnóstico diferencial. Contudo esse não pode ser apenas normativo, pois
servirá para escolher o tratamento mais apropriado à condição clínica do
sujeito/paciente (ADRADOS, 2004). Posto isso, apresenta-se a definição de
diagnóstico em psicanálise. Tal visa expor as diferenças e similaridades presentes
no processo de trabalho do clínico.
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE
O diagnóstico estrutural em psicanálise é instrumento essencial à prática
clínica. Ainda que, a experiência cotidiana, não raramente, desafie os psicanalistas
com conjunto de sintomas que parecem não permitir enquadramento claro em
alguma estrutura. Isso faz com que se torne desnecessário fechar um diagnóstico
estrutural precocemente (COUTINHO, 2007).
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Em toda prática clínica é usual procurar estabelecer correlações entre a
especificidade dos sintomas e a identificação de um diagnóstico. Entretanto para a
psicanálise a única técnica de investigação reconhecida é a escuta. É no dizer que
algo da estrutura do sujeito é localizável. É com este algo que se conta para
construir o diagnóstico (DOR, 1994).
Embora a análise se inicie com a associação livre, Freud observou que, dado
à diversidade psíquica encontrada nos pacientes e pensando no êxito do
tratamento, o mesmo deve iniciar-se com algumas entrevistas preliminares. Este
período inicial inclui um intervalo temporal de sessões prévias ao início da análise
propriamente dita. As entrevistas preliminares objetivam então, segundo Freud
(1912/1996), transformar a queixa em sintoma, possibilitar o diagnóstico diferencial,
sobretudo entre neurose e psicose, permitir ao analista conhecer o caso, avaliar se
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seria apropriado, ou não, tomá-lo em análise, e, por fim, estabelecer a transferência
(instrumento de condução do tratamento).
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CONHECENDO MAIS SOBRE DIAGNÓSTICO PSICANALÍTICO
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A clínica psicanalítica, portanto, tem sua especificidade no tocante ao
diagnóstico clínico. Temos que a clínica psicanalítica tem uma acepção muito
peculiar do que seja o diagnóstico. Ele não é realizado de maneira objetiva, ou seja,
a pessoa tem tais sintomas, então, tem tal doença ou distúrbio. Ele não aponta
simples e diretamente a interpretação analítica a ser feita, ou seja, o diagnóstico (tal
doença) não dá, prontamente, sustentação para a atuação do profissional (tal
medicamento, p.ex.).
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desvendada. A cura do sintoma virá como um desdobramento do próprio processo
analítico (PRISZKULNIK, 2000, p. 7).
O DIAGNÓSTICO EM FREUD
A importância do diagnóstico em Freud é patente na bem-humorada história
de um médico da sua cidade natal, que diagnosticava sempre os pacientes como
enfeitiçados. Diagnóstico que era recebido por todos, para surpresa de Freud, com
contentamento (Freud, 1933/1997, Conf. 34).
No entanto, nessa tarefa constata que é muito difícil obter uma visão clara de
um caso de neurose antes de tê-lo submetido a uma análise minuciosa uma análise
que, na verdade, só pode ser efetuada pelo uso do método de Breuer; mas a
decisão sobre o diagnóstico e a forma de terapia a ser adotada tem de ser tomada
antes de se chegar a qualquer conhecimento assim minucioso do caso. (Breuer &
Freud, 1893-1895/1997, Cap. 4, Parte 1).
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conhecimento das determinantes dos sintomas. Diferentemente do que em geral
ocorre no campo médico, onde diagnóstico e procedimento terapêutico se dão em
momentos distintos, sendo que a definição do diagnóstico (método) precede e indica
a intervenção mais adequada (técnica).
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Frente às dificuldades na definição de um diagnóstico prévio ao tratamento,
para selecionar os casos de histeria, que poderiam ser tratados pelo método
catártico, Freud adota o diagnóstico provisório, que se baseava nos sintomas típicos
da histeria. Entretanto, veio a aplicar o tratamento também a outros quadros, como
os obsessivos, obtendo resultados terapêuticos e ampliando com isso o âmbito do
método (Breuer & Freud, 1893-1895/1997, Cap. 4, Parte 1).
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concebendo o sonho como uma psicose breve, útil, e que cede à função normal
(Freud, 1940/1997, Capítulo 4; Freud, 1900/1997, Cap. 7, Parte C).
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DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO: SINTOMA TÍPICO E SINTOMA
INDIVIDUAL
Freud expõe que a psicanálise leva em conta a forma do sintoma, mas
valoriza principalmente o conteúdo deste, supondo que o conteúdo diz respeito à
experiência do sujeito, isto é, que o sintoma tem sentido (Freud, 1916-17/1997,
Conf. 17). Pressuposto que define o propósito de uma psicanálise como desvendar
o sentido do sintoma (Freud, 1916-17/1997, Conf. 18), que engloba suas origens e
seus objetivos: Temos incluído duas coisas como “sentido” de um sintoma: o seu “e
onde” e seu “para quê” ou sua “finalidade” ou seja, as impressões e experiências
das quais surgiu e as intenções a que serve. Assim, o “de onde” de um sintoma se
reduz a impressões que vieram do exterior, que uma vez foram necessariamente
conscientes e podem, a partir daí, ter-se tornado inconscientes através do
esquecimento. O “para quê” de um sintoma, seu propósito, no entanto, é
invariavelmente um processo endopsíquico, que possivelmente teria sido
consciente, no início, mas pode igualmente não ter sido jamais consciente e ter
permanecido no inconsciente desde o início. (Freud, 1916-17/1997, Conf. 18).
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pessoas na rua, ao passo que um outro apenas sai se existem muitas. (Freud,
1916-17/1997, Conf. 17).
A questão que fica em aberto para Freud é a da origem dos sintomas típicos,
mais numerosos que os individuais. Que ele propõe estar em conexão com a
experiência do que é comum aos seres humanos, como também a possibilidade de
ser decorrente da alteração do psiquismo devida ao quadro. Algo que, em sua
opinião, estaria para além do alcance da análise, ao menos no momento em que
escreve esse texto, a uma distância de mais de vinte anos dos Estudos sobre a
histeria (1893-1895/1997).
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DIAGNÓSTICO EM LACAN
O objetivo de Lacan quanto ao diagnóstico diz respeito fundamentalmente,
como em Freud, ao julgamento da adequação do candidato ao tratamento, ou seja,
ao método psicanalítico. Nesse juízo, entram em causa, da mesma maneira que em
Freud, questões referentes ao funcionamento psíquico e ao caráter do candidato.
É possível, tal como propõe Leite (2000, p. 35), a clínica de Lacan ser
distinguida em dois modelos: primeiramente, um modelo estrutural, onde continua
presente a nosografia freudiana composta por Neurose, Perversão e Psicose, e,
posteriormente, um modelo borromeano em que as estruturas são subordinadas ao
modo de enlaçamento dos registros Real, Simbólico e Imaginário, as três dimensões
da experiência que comparecem no termo abreviado R.S.I.
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entanto, tem valor não somente pela forma, mas, como solução de compromisso,
revelar a posição do sujeito ao desejo e à angústia (Lacan, 1962-1963/2004, p.
324), que resultam na posição do sujeito ao sintoma. Defesas características a cada
estrutura (Lacan, 1938/2001, p. 71) e nomeadas por Freud como recalque
(Verdrängung), negação (Verneinung) e rejeição (Verwerfung), sendo esta última
ressaltada na psicose e nomeada como forclusion por Lacan (1955-1956/1981, pp.
94-102). Defesas que cristalizam estruturas psíquicas, isto é, modos de ser. A
distinção entre neurose e psicose é feita pela presença ou não da função paterna,
ou seja, o destino do Nom-du-Père (Lacan, 1957-1958/1998).
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seu gabinete (Lacan, 1975, para. 13). Mas o sintoma não é suficiente para a entrada
em análise, pois é preciso que o sujeito, após dirigir a questão ao analista, passe a
questionar a si mesmo. Portanto é fundamental a posição do sujeito frente ao
sintoma, isto é, que se implique em relação ao próprio sofrimento, para que seja
tratável pela psicanálise, ou seja, é condição necessária para uma análise que se
constitua o sintoma psicanalítico, tal como propõe Lacan (1962-1963/2004, pp. 324-
326).
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conta, como decisivo para o tratamento, a possibilidade da instalação da
transferência ao sujeito suposto saber, verificada pela posição do sujeito frente ao
sintoma.
O DIAGNÓSTICO EM JUNG
Para Jung, o inconsciente, o que nos é desconhecido, não apenas carrega o
que é reprimido, mas traz em si, o campo das potencialidades a serem utilizadas
pelo indivíduo.
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conhecer sem envolvimento. Essas são ideias antigas de um modelo tradicional de
Medicina, e que nada tem a ver com a proposta junguiana.
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mais, a linguagem do que se sabe (consciente) daquilo que não se sabe
(inconsciente).
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A proposta que a Psicologia Analítica faz é da "compreensão do nível pessoal
da psique à luz do conhecimento do nível impessoal. Isto propicia aquele não
envolvimento a partir de dentro, um tipo de pensamento simbólico que é
completamente diferente de ter um pé fora sustentado por um pedestal médico."
(Hillman, 1993, p. 174).
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A questão do particular na análise é retomada por Alves (2000), buscando
avançar para o singular. “Particularidade é algo distinto entre uma série de
elementos, enquanto a singularidade se define a partir de si” (Alves, 2000, p. 3).
Exemplifica o particular, com alguém que faça uma tatuagem, pois mesmo que
inédita, é uma particularidade na série de outros que também fizeram tatuagem. A
partir disso, defende a proposta de que na análise deve-se buscar o singular, sendo
que “o singular é o intransferível, por vezes inexplicável” (Alves, 2000, p. 4).
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VÍDEOS DE APOIO
Sinopse: Vídeo especial com o compilado dos vídeos Shorts do novo curso
"Freud e Lacan – Clínica Psicanalítica". Este curso tem como objetivo percorrer os
conceitos centrais que estruturam a clínica psicanalítica tal como pensada por Freud
e Lacan, como sintoma, repetição, gozo e satisfação. Abordaremos também a
vertente dos operadores clínicos, como transferência, interpretação e ato analítico,
assim como retomaremos a discussão de casos clínicos canônicos, como o caso
Dora, Schreber e Homem dos Ratos, entre outros.
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MATERIAL DE APOIO
O livro abaixo disponibilizado tem 447 páginas. Para ter conhecimento de todo
conteúdo basta acessar a página baixo:
Disponível em:<
https://lotuspsicanalise.com.br/biblioteca/N_McWilliams_Diagnostico_Psicanalitico.p
df>
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REFERÊNCIAS
BREUER, J. & FREUD, S. Studien über Hysterie. In Gesammelte Werke (Vol. 1).
Frankfurt am Main: Fischer Taschenbuch Verlag. (Trabalho original publicado em
1895), 1999.
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COUTINHO, A. H. S. de A. Escutar é preciso, diagnosticar não é preciso.
Reverso, Belo Horizonte, v. 29, n. 54, set. 2007.
41
FREUD, S. (1997). Sobre o início do tratamento: Novas recomendações sobre a
técnica da psicanálise I. In Salomão, E. (Coord.). Edição eletrônica brasileira das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12) . [1 CD-ROM. Versão 1.0.
Não paginado. Parágrafos irregulares]. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original
publicado em 1913)
LACAN, J. (1975). Les écrits techniques de Freud. In Le seminaire (Vol. 1). Paris:
Seuil. (Trabalho original proferido em 1953-1954) , 1975.
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LACAN, J. (2005). Le sinthome. In Le seminaire (Vol. 23). Paris: Seuil. (Trabalho
proferido em 1975-1976), 2005.
LACAN, J. Les psychoses. In Le seminaire (Vol. 3). Paris: Seuil. (Trabalho original
proferido em 1955-1956), 1981.
QUINET, A. As 4+1 Condições de Análise. 10. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2005.
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ROMARO, R. A. O estabelecimento do diagnóstico em psicanálise. Psico-USF,
Bragança Paulista, v. 3, n. 2, p. 23-37, 1999.
SANTIAGO, A. L. Diagnóstico diferencial entre neurose e psicose: uma função
das entrevistas preliminares. Acervo da biblioteca da Escola Brasileira de
Psicanálise.
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