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Ecomuseu Como Elementos Estruturantes
Ecomuseu Como Elementos Estruturantes
Palavras-chave: valorização patrimonial, Palabras clave: valoración patrimonial, Keywords: valuation of heritage,
ecomuseu, identidade cultural, marketing ecomuseo, identidad cultural, marketing ecomuseum, cultural identity, territorial
territorial, turismo cultural. territorial, turismo cultural. marketing, cultural tourism.
* Endereço postal: Av. João Naves de Ávila, 2121 - Santa Mônica, 38408-100 Uberlândia - MG, Brasil.
Correio eletrônico: aspedros@gmail.com
CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | Vol. 23, n.º 2, jul.-dic. de 2014 | ISSN 0121-215X (impreso) · 2256-5442 (en línea) | BOGOTÁ, COLOMBIA | PP. 203-219
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P aisagem cultural
Desenvolvimento
Organização e
endógeno
P atri mônio A rq u e o ló g i c o promoção de eventos
P at rimôni o C ult u r a l
s us t ent abi l i dade do terr i t óri o Marketing territorial
EC OMUSE U
Promotor turístico
penedos estão associados lendas5 perdidas em tempos possuem uma relação interpretativa e informativa ape-
imemoriais, enquanto outros se encontram associados nas entendível na conjuntura em que se desenvolveram.
a memórias mais recentes como os Pedralhos (povoação Referimo-nos, nomeadamente, aos valores das culturas
de Vila da Ponte), onde escreviam o nome dos emigran- tradicionais inerentes em cada região, de modo a que
tes que partiam para o Brasil, alguns dos quais nunca se assegure a transmissão de uma herança, cuja con-
mais regressaram à terra mater (Dias Baptista 2006). tinuidade e constante enriquecimento contribuíram e
Para além das formas de relevo e da geodiversidade contribuem para unir as gerações, a fim de promover e
são ainda preocupações dos ecomuseus a inventariação dignificar a pessoa humana, o que possibilita a demo-
e a conservação da fauna e flora específicas dessa re- cratização da cultura, entendida como esteio da iden-
gião. Podem e devem promover projetos que procurem tidade cultural de um povo ou de povos (Pereiro 2006;
conhecer e identificar todas as espécies, endógenas ou Rodríguez Becerra 1997; Stoffle 2000; Vecco 2007).
não, que caracterizam o ambiente da região do ecomu- Por conseguinte, interessa-nos, no quadro deste
seu. Este tipo de conhecimento é importante no senti- Projeto museográfico, não só o patrimônio imóvel (sítios
do de manter as condições ambientais de forma que as arqueológicos e construções de cariz e monumentali-
próprias espécies se mantenham nos seus ambientes e dade diversa), mas também o móvel (objetos de diversa
possam assegurar a sua reprodução e, como tal, a con- ordem que pode ir de obras de arte a objetos de uso co-
tinuidade desta e contribuir, assim, para a manutenção mum, utilizados pelas diferentes sociedades) e o ima-
da biodiversidade. terial (memórias, tradições, usos e costumes, maneiras
Podemos citar como exemplo o ecomuseu da Ilha de ser, estar e fazer...).
Grande (Brasil), onde a sua criação “[...] gerou nume- O patrimônio imóvel entendido como o conjunto
rosos produtos científicos e tecnológicos: análises cli- de sítios arqueológicos ao qual podemos associar todos
matológicas e meteorológicas, estudos atmosféricos, os edifícios que pela sua história, arquitetura e monu-
pesquisas sobre espécies em extinção ou não classifica- mentalidade, quer sejam de ordem militar, civil ou re-
das, levantamentos de resíduos poluidores, pesquisas ligiosa, se mostrem importantes para a compreensão
no campo da biotecnologia e da reprodução genética” e definição da identidade do território e do povo que
(Santos Myriam 2005). nele habita (Criado Boado 1999). Eles podem contar a
evolução da ocupação do espaço em que se inserem e
Promover a valorização do patrimônio os contextos sociais, civilizacionais, culturais e econô-
cultural nas suas diversas vertentes micos em que foram construídos. Daí a importância da
Se concebermos como patrimônio cultural, todos os sua inventariação numa base de dados georeferenciada
bens que se representam como testemunhos, ou seja, e do seu estudo por diferentes especialistas de forma a
entendidos como portadores de valores civilizacionais que se produza informação para posterior divulgação,
ou de ordem cultural considerados de interesse socio- mas também que induza a sua conservação e valori-
cultural relevante, então, devem ser objeto de especial zação. É a história e a identidade de um povo e de um
proteção e valorização. Consideramos, assim, como território que estamos a valorar. Os ecomuseus podem
bens de interesse cultural relevante aqueles que refle- dar um forte contributo na sua inventariação e serem
tem valores de memória, antiguidade, autenticidade, os principais protagonistas e interessados na descober-
originalidade, raridade, singularidade ou exemplarida- ta, conservação e valorização.
de, bem como outros bens imateriais que constituam Podemos voltar a citar como exemplo o ecomuseu
parcelas estruturantes da identidade e da memória co- do Barroso, que, para além de incentivar diversos tra-
letiva de um povo ou de uma região (Bérard e Marche- balhos de escavações arqueológicas, tem contribuído
nay 2004; Jorge 2005). para o conhecimento da arquitetura religiosa e civil da
Finalmente, é ainda preciso considerar a existência sua área de atuação. Inventariou e estudou diversos as-
de bens culturais que terão de ser entendidos nos res- pectos da arquitetura popular da região, nomeadamen-
pectivos contextos, já que pelo seu valor testemunhal te: canastros, moinhos, fornos comunitários, fontes,
pisões, lagares, entre outros edifícios de produção agrí-
cola que, certamente, contribuem para o reencontro
5 A Casa dos Mouros (Morgade), o Altar da Moura (Frades-
Cambezes) são exemplos de penedos associados a lendas de com a identidade cultural local. De fato tem vindo a ser
mouros na região do Alto Barroso (Dias Baptista 2006). construída uma base de dados, que procura organizar e
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sistematizar todo o conhecimento que existe sobre esse dos visitantes (Ecomuseu de Barroso s. d.). Desenvolve,
tipo de aspectos no território abarcado pelo referido ainda, outras atividades nas quais se inclui as exposições
ecomuseu (Ecomuseu de Barroso s. d.). temporárias cujos temas fortes se reportam à identida-
Mais do que repositórios de utensílios, os ecomu- de do Barroso, o que contribui para que o ecomuseu seja
seus pretendem reconstituir ambientes por meio da visto como um espaço sempre disponível para artesãos e
utilização de tecnologias inovadoras que possibilitem artistas da região divulgarem as suas obras.
a interação entre sistemas de vídeos, imagens compu- Os polos ecomuseológicos que funcionam em rede
tadorizadas, Sistemas de Informação Geográfica, entre com o Centro Interpretativo em Montalegre (sede), são
outros, que têm como objetivo tornarem-se focos de neste momento três que se localizam em aldeias sele-
polarização de atividades no espaço geográfico em que cionadas pelo seu valor, quer ao nível do patrimônio
se inserem, em interação com a população local, o que natural quer ao nível de valores culturais:
contribuiria, assim, para a dinamização cultural e so- a) O polo de Tourém tem como temáticas “[...] o Boi
cioeconômica (Bellaigue 1989; Chagas 2000). do Povo, as relações com a vizinha Espanha, o Couto mis-
O Ecomuseu do Barroso é um bom exemplo de or- to, o sistema de regadio, o castelo da Piconha, o contra-
ganização de patrimônio imóvel que utiliza diferentes bando, os modos de produção local, as alfaias agrícolas”
tipos de conceitos distribuídos geograficamente pelo (Ecomuseu de Barroso s. d.).
seu espaço de atuação. Assim é formado por um núcleo b) Em Pitões da Júnias escolheram-se temáticas como
principal, que constituiu a sua sede, e por vários “polos [...] o pastoreio em regime extensivo, a vezeira, a tece-
ecomuseológicos” que se localizam em localidades es- lagem, os abrigos de pastores, a agricultura de Montanha,
trategicamente situadas de forma a responder diferen- os modos de produção local/alfaias agrícolas, o patrimó-
tes objetivos (figura 2). nio etnográfico, o fumeiro, a aldeia velha de Juríz, o mos-
teiro de Pitões, o Parque Nacional da Peneda-Gerês e o
Património Natural. (Pitões da Júnias s. d.)
c) Na freguesia do Salto o polo encontra-se vocacio-
Tourém
nado para uma museologia mais local com especial inci-
dência na área etnográfica, estando previsto em termos
futuros o seu desenvolvimento aproveitando a questão
da exploração mineira associada à extração de volfrâmio
Sede Outros nas minas da Borralha.
Salto
Montalegre futuros...
Finalmente todos os polos procuram dinamizar
outro tipo de atividades que diversifique a sua oferta
cultural, ao funcionar também como local de venda de
Pitões produtos artesanais.
das Junias Muitas das tradições culturais que se mantêm vivas
resvalam na ancestralidade e constituem o patrimônio
Figura 2. Organização do ecomuseu de Montalegre (Portugal) e a (i)material das comunidades. Sentimo-nos tentados a
relação entre a sede e os diferentes pólos. afirmar como Barbuy (1995a), que elas são elemento
Dados: Ecomuseu de Barroso s. d. enzimático, ativo sobre o presente e/ou sobre o futu-
ro. De fato, o patrimônio imaterial pode ser conside-
Assim, o edifício sede pretende ser um espaço público rado, provavelmente, “o ponto central da filosofia dos
onde se oferece ao visitante a experiência dos sentidos ecomuseus: a afirmação, através da memória, de uma
que poderá usufruir no Alto Barroso: o som dos carros identidade cultural, que permitiria dar um rumo mais
de bois, as imagens que nem sempre se captam na rea- legítimo ao presente; tornaria mais claro, para uma co-
lidade, o cheiro e o sabor dos bons produtos da região, letividade, que caminhos tomar” (Barbuy 1995a).
o toque do grão de cereal a passar entre os dedos que A riqueza e a singularidade dos usos e costumes,
depois se transforma em farinha. Desse modo, recria crenças, superstições, ritos e rituais, que se mantêm
nas diversas salas sensações por meio de sons, cheiros, vivos numa determinada região, faz com que nasça e
imagens e sabores, num desafio contínuo à imaginação renasça um patrimônio de transmissão oral inesgotável
e com ele se mantenha uma vastíssima componente o patrimônio cultural é fundamental “no processo de
lexical específica expressiva e peculiar que mantém formação de subjetividades individuais e coletivas”
vivo o imaginário de um povo quantas vezes associa- (Gonçalves 2005, 27).
do às contradições/interconexões entre o profano e o A ocupação histórica de um território pode ser am-
sagrado. plamente documentada por vestígios arqueológicos e
Assim, a própria linguagem usada pelo povo pode por diversos tipos de patrimônio (imóvel, móvel e ima-
refletir muitas das características civilizacionais desta terial) que denunciam a presença sucessiva de diversos
região. Segundo Gonçalves, povos e culturas nessa região, o que resulta num pro-
o grau de cultura intelectual de um povo manifesta-se cesso multissecular de apropriação do espaço, expresso
logo pelo estudo da língua porque ela é a expressão do na sua organização funcional e na implementação de
pensamento e é, por isso, a melhor chave para entrar no estratégias de exploração do potencial produtivo do
campo psíquico e moral dos povos. […] Mas a língua, evo- meio biogeofísico. Esse processo deu origem a uma pro-
lucionando com o povo, é um documento para a recons- gressiva transformação e modelação da paisagem, que
tituição desse povo, aparecendo nela mais do que simples hoje se apresenta como um patrimônio ecossociológi-
factos históricos: o progresso espiritual de uma socieda- co, culturalmente construído (Pedrosa e Pereira 2009a,
de. (Gonçalves 2008, 12) 2009b).
De fato, as paisagens culturais refletem a apli-
A identidade cultural de uma região advém das ca- cação secular de técnicas sustentáveis de uso do solo,
racterísticas geográficas, do seu relacionamento ou não adaptadas às características naturais dos territórios
com outros espaços geográficos —muitas vezes o iso- que servem de suporte às comunidades humanas e às
lamento reforça a identidade cultural (Pedrosa e Perei- atividades antrópicas. Têm de ser entendidas como
ra 2012)— e das especificidades do clima e dos solos, construções socioambientais e culturais resultantes de
que moldaram as (sobre)vivências dos seus habitantes. determinados contextos de tempo e de espaço e, como
Perante os constrangimentos e os, por vezes, parcos tal, estão em contínua mudança e evolução. Assim, as
recursos, foi necessário criar mecanismos que permiti- teses que postulam uma preservação das paisagens cul-
ram às comunidades rurais (sobre)viver. Nas áreas mais turais, tal e qual como as conhecemos evidenciam um
isoladas de Portugal, por exemplo, criaram formas de modelo conservacionista obsoleto e, como tal, desajus-
cooperação e formas de regulamentação coletiva, vul- tado de uma visão dinâmica dos sistemas ambientais
garmente denominadas como “hábitos comunitários” e antrópicos. Entendemos, assim, que é importante
(Dias 1993; Fontes 1992; Polanah 1992; Ribeiro 1997; pensar a paisagem cultural sempre no seu sentido evo-
Taborda [1932] 2011) que desenvolviam uma interação lutivo, já que sempre se constituíram organicamente
e uma regulação na comunidade que levava à autossu- devendo-se a sua gênese e desenvolvimento à interação
ficiência desta. Diante de um ambiente hostil, a “união entre o meio ambiente natural e os fatores condicio-
faz a força”: mais do que cada um por si, foi necessário nantes de ordem social, econômica, administrativa e/
a força do coletivo, a cooperação, a entreajuda, a soli- ou religiosa. Elas podem constituir-se como uma he-
dariedade, para garantir a sobrevivência e reprodução rança cultural do passado, mas terão de ser entendidas
dos agregados domésticos que seguem a lógica de que como paisagens vivas e dinâmicas que detêm um papel
“o pouco bem repartido, dá para todos” (Câmara Muni- social ativo associado a um modo de vida em evolução,
cipal de Boticas s. d.). que se mantém arreigado a valores tradicionais (cultu-
Deste modo, o patrimônio cultural funciona como rais) considerados fundamentais pela comunidade (Al-
uma “coleção querida e bem quista” (Saladino 2010), ves 2001; Domingues 2001; Salgueiro 2001).
e encontra uma forte ressonância nas comunidades
(Gonçalves 2007), ou seja, funciona como extensão de O ecomuseu como potenciador
seus proprietários, que atinge “um universo mais am- de desenvolvimento local e regional
plo, para além das fronteiras formais, [e que tem] o
poder de evocar no expectador as forças culturais com- Defendemos, então, que os ecomuseus podem contri-
plexas e dinâmicas das quais ele emergiu e das quais ele buir para uma gestão integrada do patrimônio cultural
é, para o expectador, o representante” (Geenblat apud na sua área de influência, ou seja, deverão assumir a
Gonçalves 2005: 19). No entanto, de qualquer modo, coordenação entre todos os agentes institucionais de
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base territorial, tais como os municípios, a adminis- dos, recuperando-se o patrimônio em si, mas também,
tração central, os mecenas, as associações culturais e as técnicas construtivas tradicionais quase sempre bem
instituições científicas, as empresas de serviços e dos integradas nas ambiências locais. Constitui, por vezes,
empreendedores interessados em desenvolver ativida- uma aprendizagem importante nas áreas da arquitetu-
des dentro da área que preconizem uma planificação ra, engenharia e/ou áreas ambientais.
estratégica, integradora de planos específicos (Teixeira A estratégia de divulgação deve, ainda, fomentar a
2005). quantidade e averiguar a qualidade dos equipamentos/
Nesse sentido, atrevemo-nos a afirmar que os eco- sítios histórico-arqueológicos passíveis de ser visitados,
museus devem coordenar a política do patrimônio com garantia de sustentabilidade das suas condições de
cultural da área onde se inserem articulando e com- preservação. Pressupõe-se, assim, a promoção do des-
patibilizando o património cultural com as restantes envolvimento de redes regionais e transregionais de
políticas que se dirigem a idênticos ou conexos inte- valorização do patrimônio através da implementação
resses públicos e privados, em especial as políticas de de circuitos temáticos de base regional, e do fomento
ordenamento do território, de ambiente, de educação e de ações obrigatórias de prevenção, salvaguarda e va-
formação, de apoio à criação cultural e de turismo (Tei- loração, o que reforça a valorização integrada das sub-
xeira 2005). Desta forma, terá um papel importante nas regiões e territórios, bem como da sua coesão territorial.
definições de ações estratégicas que contribuirão para o Finalmente pressupõe-se que os ecomuseus na sua
desenvolvimento da região. estratégia de divulgação devem aperfeiçoar os circuitos
de informação, de conhecimento e de comunicação. É
O ecomuseu e a divulgação cada vez mais importante o desenvolvimento das redes
dos recursos endógenos de comunicação de modo que flua a sua circulação e se
Após a inventariação dos patrimônio ou patrimô- consiga a promoção do ecomuseu e da região onde este
nios, é necessário ações que visem a sua promoção de se insere.
forma que sejam divulgados para que seja reconhecido
o seu valor como elemento de originalidade, diferen- O ecomuseu e a mobilização e
ciação e afirmação de identidade e memória da região. envolvimento da população local
Essa valorização deve contribuir para fomentar a com- A importância da mobilização da população local
petitividade e a diversificação das atividades locais na construção do projeto museológico é o objetivo pri-
numa lógica de promoção do respeito pelas tradições mordial já que o ecomuseu é entendido como a própria
culturais. A concretização destes objetivos relaciona-se comunidade em si e a sua relação com o território, tra-
com a já referida criação da base de dados, sempre que duzida no seu modelo de ocupação o qual determina
possível georeferenciada, aquando da inventariação do as caraterísticas identitárias da paisagem cultural. A
patrimônio e que deve interagir com outras bases de população local tem de entender o projeto, para o qual
dados regionais, nacionais ou mesmo internacionais tem de ser mobilizada, mas, ao mesmo tempo, tem de
de forma que fique disponível para todos os públicos se mobilizar a si própria, de forma a encarar a sua parti-
interessados. Isso implica um trabalho sistemático, que cipação como uma condição fundamental de salvaguar-
deve e pode ser coordenado pelo ecomuseu, no sentido da de todo o acervo ecomuseológico, da qual faz parte.
de reorganizar acervos, atualizá-los ou criar novas ba- Do grau da sua participação e envolvência irá resultar a
ses de dados que tenham em vista a promoção da sua vitalidade e a capacidade do projeto se autossustentar.
rentabilização quando conjugada com outros sistemas Assim, decorrerão novos desafios cuja finalidade será
de cadastro e inventário. uma maior qualificação da população e, como tal, do
Mas a estratégia de divulgação também implica a de- seu próprio nível de vida resultantes da viabilização de
finição de políticas regionais ou locais de conservação e atividades do foro econômico de que resultará também
restauro do diferente tipo de patrimônio (monumen- na sustentabilidade do território.
tos religiosos, civis ou militares, sítios arqueológicos...) O envolvimento da população deve processar-se a
de forma que a sua valorização seja eficaz no desen- diversos níveis e pode ser extremamente diversificada.
volvimento da região. Um dos patrimônios que mais Por exemplo, as funções elementares de conservação
se pode valorizar por meio da ação dos ecomuseus é o do acervo e de interpretação devem extravasar as pró-
patrimônio rural e dos diversos sistemas a ele associa- prias “paredes” do ecomuseu e estimular uma atitude
participativa nas pessoas e nas instituições locais e para a diversificação da base econômica do espaço geo-
suscitar nelas o sentido de pertença ao seu território. gráfico do ecomuseu e para a promoção do conheci-
Daqui podem resultar vários tipos de ações como, por mento e dos valores culturais.
exemplo, promover a articulação Patrimônio/Educação
de forma a estimular o envolvimento e participação O ecomuseu na organização e promoção
dos cidadãos na preservação dos bens patrimoniais, ao de diferentes tipos de eventos
assumir o patrimônio como elemento formativo e ins- A organização e a promoção de diversos tipos de
trumento privilegiado de diálogo com o meio. Implica, eventos por parte do ecomuseu terá de fazer parte da
então, reforçar e solicitar o interesse público desde a sua estratégia baseados nos seguintes princípios: a) nos
idade escolar, para a importância da herança patrimo- valores naturais e culturais endógenos da região; b) no
nial de forma a estabelecer uma forte e eficaz ligação envolvimento da população local e das forças vivas do
entre Escola/Patrimônio/Meio Ambiente. território; c) na manutenção de alguns eventos como
Uma outra perspectiva que pode levar ao envolvi- pontos-chave e de identidade da região, mas ao mes-
mento da população passa pela promoção de ações for- mo tempo levando ao aparecimento de outros de modo
mativas com vista à valorização de recursos humanos que a diversificação seja um ponto de diferenciação e de
no âmbito de áreas tradicionais cujas profissões poderão novidade; d) atingir públicos-alvo diversificados a fim
estar em extinção, mas que poderão ser recuperadas no- de atingir o maior número de indivíduos interessados
meadamente: a) formação de indivíduos nas técnicas em visitar o território de abrangência do museu ou de
de execução de diversas formas de artesanato, o que participar nos eventos que aí são promovidos.
fomenta a própria inovação, nomeadamente a nível de As ações a desenvolver terão de articular, integrar e
design; b) formação de pessoas na área de técnicas de dar coerência global às diferentes situações existentes
execução e restauro de diversos tipos de patrimônio; c) na região, de modo que a valorização dos patrimônios
formação no âmbito gastronômico de forma a preservar natural e cultural seja corretamente utilizada por parte
o os sabores tradicionais, mas ao mesmo tempo promo- de agentes locais, públicos ou privados. As ações terão
ver a inovação e permitir uma profissionalização no âm- de procurar sempre ter em consideração a salvaguarda
bito da restauração e atendimento de públicos diversos; das marcas identificadoras da paisagem cultural.
d) formação profissional no âmbito de novas profissões Uma das vertentes advém da rentabilização e in-
relacionados com o uso de novas tecnologias e a sua ren- serção dos diferentes recursos naturais, numa com-
tabilização no âmbito do ecomuseu. ponente lúdica e desportiva, que obrigatoriamente se
A participação da população local nas diversas ativi- terá de fazer, mas cuja utilização terá de passar sem-
dades que o ecomuseu pode organizar e/ou coordenar pre pelo sentido de respeito, conservação e sustenta-
é um dos modos de promover a cidadania de forma a bilidade. Uma outra vertente pode incluir a promoção
quebrar as inércias instaladas, principalmente quando dos elementos patrimoniais e práticas rurais, como por
coincidem com território econômico e socialmente de- exemplo, os sistemas integrados de exploração agríco-
primidos. Pode ser uma das formas de rentabilizar as la, atividades econômicas artesanais, técnicas tradicio-
forças dinâmicas da região que contribuem para uma nais, modos e rituais da vida das populações, de forma
maior coesão social do território onde se insere o eco- a salvaguardar os elementos definidores de paisagem
museu, ao criar espaços de forte autonomia e desenvol- regional e de os integrar nas novas dinâmicas de desen-
ver capacidades individuais e coletivas que permitam o volvimento rural, nem sempre associadas unicamente
desenvolvimento de estratégias de reforço da autoesti- às atividades agropastoris. É a procura da pluriativi-
ma das populações. dade no mundo rural sem desvirtuar a sua identidade
Só com uma forte participação e interação com a (Ellis 2000; Pinto-Correia 2004).
população local se pode promover e consolidar a ar- O fomento de eventos científicos de forma a arti-
ticulação Patrimônio/Ambiente e Desenvolvimento cular o trinômio Patrimônio/Educação e Investigação
Sustentável que vise alargar e diversificar o acesso ao pode revelar-se importante, não apenas para apro-
patrimônio levando de uma forma coordenada o fo- fundar o conhecimento científico sobre patrimônio
mento de aproveitamentos alternativos que contri- e valores culturais, mas também para implementar
buam também para a sua sustentabilidade. Só desta sistemas de avaliação da qualidade dos equipamen-
forma se está a contribuir, numa perspectiva futura tos associados ao patrimônio natural e cultural. Pode,
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ainda, fomentar a criação de Centros de Investigação e objetivos comuns, podem obter grandes benefícios se
Excelência que potenciem linhas orientadoras de inves- souberem organizar-se e definir uma estratégia co-
tigação sobre o território nos seus mais diversos aspec- mum, de forma a maximizar os recursos frequente-
tos de forma a ancorar o desenvolvimento sustentável mente escassos, além de rentabilizar os benefícios que
com base no conhecimento científico. podem trazer para o território. A definição da estraté-
gia pressupõe “[...] um conhecimento das especificida-
O ecomuseu e o marketing territorial des do território e das suas populações, dos aspectos
Se entendermos que o marketing corresponde a únicos a preservar (sobretudo ao nível do ambiente e
uma orientação de planeamento e gestão, de todo um da cultura) e das capacidades e potencialidades existen-
processo sistemático que se inicia por definições estra- tes e por explorar [...]” (Kastenholz 2008:3).
tégicas, nomeadamente pela clara definição do merca- A participação dos ecomuseus no desenvolvimento
do-alvo e do posicionamento que se pretende atingir de uma estratégia de desenvolvimento endógeno do te-
neste mercado face a propostas da concorrência, ele rritório em que se insere deverá contribuir e responder
deve refletir um compromisso entre a rentabilidade das aos imperativos das gerações atuais sem comprometer
organizações e a procura da melhoria da qualidade de a possibilidade de satisfazer as mesmas necessidades,
vida das pessoas. Nesse sentido, deve associar um con- ou outras, das gerações futuras, uma vez que se enten-
junto de técnicas e ferramentas disponíveis para atin- de que o desenvolvimento econômico, coesão social,
gir os objetivos a que se propõe na sua estratégia inicial integridade cultural e proteção do ambiente são inter-
(Benko 2000; Correia e Brito 2009; Fonseca 2006; Kas- dependentes e indissociáveis.
tenholz 2008; Kotler, Haider e Rein 1992). O marketing territorial deve contribuir para a pro-
Nessa perspectiva, jeção da identidade do território, que no caso dos eco-
[...] o Marketing pode ser utilizado também no con- museus deve privilegiar o conceito de paisagem cultural
texto do planeamento e da gestão dos territórios, sejam como marca identitária do território. Ao mesmo tempo
eles aldeias, cidades, regiões, países ou até continentes. deve potenciar novas funções nessa mesma paisagem
Aliás, defende-se que cada território aplica, de forma de modo a diversificar as atividades socioculturais e
mais ou menos consciente, sistemática e adequada, ferra- contribuir, assim, para a própria sustentabilidade das
mentas de marketing, procura atrair residentes, inves- paisagens culturais (Pereira, Silva e Pereira 2008).
tidores e visitantes e criar uma “imagem de marca” que
resulta, de modo indirecto, em mais-valias num conjunto O ecomuseu: um promotor turístico
de áreas de actuação, sejam elas económicas, sociais ou
culturais. (Kastenholz 2008, 3) Advogamos que o ecomuseu pode ser um importante
promotor turístico para o território em que se insere,
Torna-se então necessário definir um produto ou coordenando diversas atividades de forma a potenciar
produtos que permitam a concepção de marca que re- as sinergias endógenas, pois é conhecedor e detentor
force a identidade do território, que englobem a seg- do inventário e do diagnóstico dos potenciais recursos,
mentação do público-alvo e a definição de uma lógica naturais e culturais, a serem utilizados na atividade tu-
de promoção e posicionamento no mercado (Cidrais rística. A organização seletiva da oferta turística pode
1998; Pereira, Silva e Pereira 2008). ser um dos atributos estratégicos claramente relacio-
É neste contexto que os ecomuseus podem ter um nados com a qualidade do produto que se pretende ofe-
contributo fundamental para que se desenvolva uma recer. Mais do que a quantidade, interessa oferecer a
estratégia integrada e sustentável de marketing terri- qualidade, quando queremos promover o turismo dito
torial com base numa conexão de todos os stakeholders cultural. Este aspecto implica a concepção e promoção
(interessados e afetados pelo desenvolvimento local/ de produtos específicos que resultam da interação dos
regional) de forma a tornar possível o desenvolvimen- diferentes agentes sociais, econômicos e culturais se-
to de “redes territoriais”, que reconheçam a relevância diados no território. Finalmente o ecomuseu poderá
dos diversos atores locais e regionais (Kastenholz 2008; ter um papel importante na articulação da agenda cul-
Pedrosa e Barbosa 2012). tural respeitante a esse território. Deve, assim, coor-
Assim, quando os atores locais e/ou regionais re- denar os diversos eventos ao longo do ano, no sentido
conhecem que são uma comunidade de interesses com de otimizar a sua distribuição temporal, que tem como
objetivo evitar sobrecargas ou vazios em determinados põem percursos de exploração de territórios musicais,
períodos, de forma a permitir uma boa resposta de to- de novos olhares sobre paisagens evolutivas ou de rotas
dos os componentes implicados no processo turístico, de sabores gastronômicos regionais (Filho 2008; Man-
desde a hotelaria, restauração promotores turísticos, cini 2007; Pedrosa e Pereira 2008, 2012).
entre outros. Deste modo, respeita-se a Carta de Princípios sobre
Os ecomuseus poderão ser responsáveis pela im- Museus e Turismo Cultural, proposta pelo Internatio-
plementação de um plano de divulgação turística que nal Council of Museums (ICOM), na qual se defendem
privilegie a aplicação das novas tecnologias associadas vários princípios que destacamos: a) a ética no turis-
ao conceito de mobilidade, que crie percursos temáti- mo cultural exige dos agentes atuantes que o visitante
cos de patrimônio cultural, que se deverá articular com combine o conhecimento criativo com a fruição do seu
museus tradicionais, artesanato, paisagens diferencia- tempo livre, o que leva à interação com um contexto
das, parques naturais, restaurantes, rotas gastronômi- social que, embora desconhecido, o convida a participar
cas e de vinhos, percursos pedestres, entre outros, que da vida e saberes locais da comunidade anfitriã; b) o tu-
aproveitem ao máximo todos os recursos de um mes- rismo cultural tem como âncora o patrimônio enquan-
mo território cultural (González 2001). Torna-se im- to parceiro de um conjunto de contribuições de uma
portante a valorização, a divulgação e a animação dos cultura, povo ou comunidade, cujas expressões são o
elementos e espaços patrimoniais que se mostram es- testemunho de sua própria identidade. Esta vinculação
senciais para o desenvolvimento econômico e autoesti- é única e excepcional e constitui um recurso não reno-
ma da população, e justificam a sua preservação, o que vável. O patrimônio cultural não pode constituir-se
contribuiria de forma integrada para a qualificação da como um produto de consumo, nem estabelecer com
região enquanto destino turístico, já que que existe, na o visitante uma relação superficial; c) neste âmbito os
atualidade, uma crescente apetência pelo turismo cul- museus devem promover a participação ativa das co-
tural como complemento de outras atividades (Martins munidades locais, tanto no planeamento e na gestão
e Costa 2009; Ribeiro 2002). patrimonial quanto em todo o processo turístico; d) a
Configuramos, assim, um turismo interpretativo, dinamização e “comercialização” deste turismo basea-
no qual o turista poderá ter uma proatividade parti- do em valores patrimoniais naturais e culturais deverá
cipando na análise e compreensão do território e da promover a rentabilidade não apenas na sua dimensão
paisagem nas suas múltiplas dimensões: ambiental, econômica, mas também, social e ambiental, o que
biogeofísica, histórica e produtiva. A definição de per- contribui, assim para a sustentabilidade dos territórios
cursos de observação é, nesta modalidade turística, (Mattos 2006).
fundamental para o estímulo e orientação do olhar in- É neste sentido que defendemos uma perspectiva
terpretativo, o qual fomenta o contato com realidades inovadora dos territórios enquanto produto turístico
em interação que no seu conjunto moldam a identidade e uma visão do turismo como eixo de mobilização de
dos lugares e das regiões (Alcantara 2007; Pedrosa e Pe- atores e dinâmicas de desenvolvimento.
reira 2008). Uma das formas de incrementar e dinamizar a ofer-
Complementar do primeiro, o turismo cultural de- ta turística é o desenvolvimento de roteiros temáticos
verá fomentar a experiência concreta de ambientes que permitam a descoberta de paisagens culturais com
culturais específicos de determinadas regiões ou co- projeção regional, nacional ou internacional, onde de-
munidades, por meio da aproximação aos seus valores, vem ser integrados os valores patrimoniais nos circui-
tradições e estilos de vida, do conhecimento do seu tos e produtos turísticos da região e na sua promoção
patrimônio e das suas artes visuais e decorativas ou, (Mancini 2007; Pedrosa e Pereira 2008, 2009b, 2012;
até mesmo, da participação lúdica nas suas atividades Pereira 2012; Pereira, Silva e Pereira 2008; Santos, Gra-
quotidianas da esfera produtiva, recreativa e religiosa vidão e Cunha 2010).
(Moreira 2010; Pedrosa e Pereira 2012; Pereira e Pedro- Rotas, percursos ou trilhos constituem valiosos
sa 2010; Pérez 2009). guias que orientam a descoberta de um território des-
Finalmente poder-se-á desenvolver um turismo conhecido. A exploração de um espaço geográfico e a
sensorial que esteja situado na esfera da vivência pes- compreensão da sua identidade é um processo que im-
soal do processo de descoberta de um novo espaço, que plica uma relação longa e exigente entre o observador
apreende o território pelos sentidos, em que se pro- e o território. Esse processo de conhecimento requer
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disponibilidade para permanecer, percorrer, ver, chei- emprego, animador de trocas interculturais e, simulta-
rar, sentir, interpretar, relacionar elementos, apreen- neamente, motor da preservação do patrimônio cultu-
der padrões, identificar contrastes (Pedrosa e Pereira ral e da valorização da identidade local (Mattos 2007;
2008). Devido à morosidade e exigência do processo, Saut 2001; Teixeira 2005).
a riqueza e diversidade de uma paisagem permanecem
frequentemente ocultas face ao olhar do turista. É pre- Conclusão
cisamente este o papel desempenhado por uma rota
turística, conduzir e motivar o olhar interpretativo Das características comuns a todos os modelos de eco-
sem, no entanto, condicionar a liberdade de opção e o museus/museus comunitários vigentes atualmente,
interesse pessoal do turista. Nesse sentido, uma rota podemos destacar a importância da participação ativa,
turística não deve restringir-se ao traçar de um dado colaboradora e criadora da população sediada no territó-
trajeto, mas tem que possuir como missão dar visibi- rio, além de realçar a ideia de espaço vivido enquanto mu-
lidade a todas as dimensões da paisagem e contribuir seu. Por outro lado, as ações propostas e desenvolvidas
para a compreensão da interação de fatores que se en- apresentam sempre uma preocupação de se inspirarem
contram na sua gênese. nas especificidades locais de forma a reforçar a identida-
Assim, uma rota deve, ao mesmo tempo, exteriori- de local/regional sempre no sentido de uma apropriação
zar, interiorizar e explicar a paisagem em que se desen- coletiva de patrimônio/coleção (Babo e Guerra 2005;
volve, e ainda relacionar a grandiosidade da natureza, Hubert 1985; Oliveira 2009; Teixeira 2005).
como patrimônio construído e cultural de elevado va- Nos seus valores estão sempre presentes a defesa,
lor. Deve, então, possibilitar uma multiplicidade de preservação, conservação e valorização do meio am-
panoramas que se articulam com uma forte identidade biente, do patrimônio histórico-cultural, paisagístico,
cultural articulando-se, também, com aspectos com- artístico, linguístico, bem como a realização de ações
plementares, mas importantes, de que salientamos: no sentido de integrar e potenciar os recursos humanos
a) gastronomia de qualidade que tem como base os residentes na área, de sensibilizar para a importância
produtos locais, ao privilegiar, assim, a diferenciação; do respeito dos recursos naturais e dos diferentes tipos
b) hotelaria que sirva em quantidade e em qualidade a de patrimônio, assim como dos valores naturais ao ter
procura —hotéis, casas de turismo de habitação ou de como o objetivo: a) estimular, promover e participar de
turismo rural, agroturismo; d) venda de produtos lo- parceria entre o poder público e as organizações nacio-
cais/regionais com certificados de garantia— produtos nais e internacionais interessadas na conservação dos
certificados (Denominação de Origem Protegida - DOP, recursos e valores naturais; b) promover a investigação
Indicação Geográfica Protegida - IGP, Indicação Geo- em diferentes áreas procurando sempre a sustentabi-
gráfica - IG, Especialidade Regional Garantida - EGP)6, lidade do território e valores patrimoniais e culturais,
que podem abranger desde produtos relacionados com fomentando convênios, ajustes e acordos que visem à
a produção animal (carne, fumados, queijos, mel) ou consecução dos seus objetivos; c) promover e apresen-
vegetal (azeite, castanha, pão), ou então, quando re- tar projetos em educação e o desenvolvimento cultural
lacionados especificamente com a produção de vinho e ambiental, com o objetivo de fomentar os recursos
(Denominação de Origem Controlada - DOC, Indicação humanos; d) divulgar os valores do espaço geográfico
de Proveniência Regulamentada - IPR, Vinho de Quali- em que se insere por meio de eventos e ações diversi-
dade Produzido em Região Determinada - VQPRP). ficadas com o objetivo de valorizar e potencializar os
Assim, o ecomuseu enquanto promotor de turis- diferentes recursos que possui; e) promover o turismo
mo cultural poderá e deverá assumir-se como um dos cultural de forma a desenvolver sinergias no interior do
motores de desenvolvimento local/regional, que se território que levem ao aparecimento de novas ativida-
comporta como um instrumento gerador de riqueza e des que ajudem na sustentabilidade da região, com o
intuito de promover a multifuncionalidade do territó-
6 Veja-se: http://ec.europa.eu/agriculture/quality/door/list. rio em que se insere (Pedrosa e Barbosa 2012).
html?&filter.dossierNumber=&filter.comboName Uma das estratégias possíveis para motivar sus-
=&filterMin.milestone__mask=&filterMin.milestone=
tentabilidade dos territórios e para fomentar o seu
&filterMax.milestone__mask=&filterMax.milestone=
&filter.country=PT&filter.category=&filter.type=PGI desenvolvimento endógeno é o turismo cultural. Este
&filter.status=&recordSelection=all discurso tornou-se cada vez mais forte, fato que se rela-
ciona com vários fatores de que podemos salientar uma permitir que ele assuma um papel motor de diferentes
mercantilização da cultura e a própria necessidade de componentes da realidade da região em que se insere,
criar oportunidades de subsistência e incremento da permite que faça a gestão da diversidade de recursos
economia para certas comunidades ou, mesmo, deter- e de atividades que aí interagem: recursos naturais,
minados países (Saladino 2010). recursos culturais, patrimônio edificado e habitat, sa-
A UNESCO, ao classificar e incentivar a coleção de beres-fazer tradicionais, capacidades de inovação, ati-
patrimônios mundiais, contribuiu para fortalecer este vidades a promover e serviços a prestar.
discurso, quer seja para o patrimônio tangível (monu- O ecomuseu deve assumir-se como um: a) espaço
mentos, sítios arqueológicos ou históricos, paisagens de valorização de recursos e patrimônio; b) espaço de
culturais) que implica a capacidade de o Estado mantê- representação de identidade territorial e cultural; c)
los na sua autenticidade, quer seja para bens de natu- espaço de formação, investigação e experimentação; d)
reza intangível, que para serem reconhecidos enquanto espaço de concertação e cooperação interinstitucional;
tesouros vivos têm de estar necessariamente em risco e) espaço de participação e cidadania e um espaço de
de desaparecimento, o que configura o fim do próprio inovação e de mobilização de novas atividades (Babo e
fazer-viver de determinada cultura. Em ambos os casos, Guerra 2005).
o patrimônio transforma-se num produto diferenciado Ao se tomar por princípios básicos aqueles traça-
a ser consumido por meio do turismo cultural, o que dos em Quebec em 1984 e ter como premissa a ideia
impõe uma reflexão sobre as limitações econômicas so- do museu integral, é cada vez mais evidente o processo
ciais e culturais impostas a alguns segmentos culturais de transição que já vinha acontecendo nos museus, o
para o acesso e consumo desses bens (Saladino 2010). qual trazia para a cena da museologia internacional
Para resumir, podemos deixar ficar como ideia- o conceito “museologia social”, ou seja, a transição
chave, o carácter multidimensional do ecomuseu, o para um museu mais aberto às sociedades huma-
que lhe confere uma natureza exemplar em termos das nas e às relações com o real (Scheiner 2012; Soares e
relações entre patrimônio e desenvolvimento, além de Scheiner 2009).
Excepto que se establezca de otra forma, el contenido de este artículo cuenta con una
licencia Creative Commons “reconocimiento, no comercial y sin obras derivadas”
Colombia 2.5, que puede consultarse en http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/co/
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