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Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte - Maio/2023

História da Igreja Primitiva: Uma análise da estrutura


organizacional da igreja cristã de Jerusalém entre os anos 35 a
100 d.C.
Fernando Guedes Corrêa Tadeu

Resumo
A igreja de Jerusalém foi o ponto de nascimento de toda a igreja cristã. Nela vemos o início do
trabalho apostólico, as primeiras conversões e também o início da perseguição promovida pela
liderança judaica. Estudar a história da igreja de Jerusalém no primeiro século é um trabalho
árduo e também recompensador. Nesse artigo vemos como a igreja de Jerusalém nasce, se
desenvolve e toma forma organizacional e começa a criar sua estrutura eclesiástica e também
como ela enfrentou as perseguições e desafios. Para isso foram consultados os principais livros
de história da igreja disponíveis e também os pais apostólicos que nos deixaram preciosos
relatos no primeiro e segundo séculos. Esse artigo esclarece a maneira como os primeiros
cristãos cuidaram da administração da igreja e como os apóstolos iniciaram o trabalho de
liderança da primeira comunidade cristã.

Palavras Chave
História da igreja, Igreja primitiva, Apóstolos, Jerusalém, Pais apostólicos, estrutura, organização
Introdução
Investigar a história da Igreja Primitiva é um tema fascinante e crucial para entender as origens
e desenvolvimento do cristianismo. O recorte histórico desse trabalho está entre os anos 35 a
100 d.C. e nesse contexto, a Igreja cristã de Jerusalém ocupa um lugar de destaque, por ser o
local onde apóstolos começaram a primeira comunidade cristã da história, após o
acontecimento de pentecostes. Com o objetivo de compreender melhor a estrutura
organizacional dessa igreja durante seus primeiros anos, os desafios, as lideranças e os primeiros
este artigo propõe uma análise cuidadosa dos registros bíblicos e históricos disponíveis, a fim de
investigar as características e dinâmicas que moldaram essa comunidade entre os anos 35 e 100
d.C. Serão examinados aspectos como liderança, culto, vida comunitária, concílios e relações
com outras comunidades, visando a oferecer uma visão mais clara e aprofundada da Igreja de
Jerusalém e de seu papel na história do cristianismo. Para isso, no primeiro capítulo será
realizada uma análise dos precedentes históricos que levaram a aquilo que chamamos de
plenitude dos tempos, o segundo capítulo apresenta o início da igreja de Jerusalém em
pentecostes e o ministério apostólico, no terceiro capítulo nosso foco será a estrutura da igreja
de Jerusalém e seu desenvolvimento organizacional. Por fim, será apresentada a conclusão
desta pesquisa e sua relevância prática para a igreja atual.

1. A Plenitude dos tempos: os precedentes históricos e culturais para o


nascimento da igreja cristã
A igreja cristã nasce naquilo que os teólogos denominam de “Plenitude dos tempos”, esse
período histórico é marcado pela ação soberana de Deus preparando e moldando o mundo e as
situações políticas, culturais e religiosas para a vinda do Messias no tempo certo em que o
mundo estava preparado para a propagação do evangelho. Três povos são cruciais para esse
ambiente propício para o início da igreja: os romanos, os gregos e os judeu.

Em Gálatas 4.4, Paulo chama a atenção para era histórica da preparação


providencial que antecedeu a vinda de Cristo à terra em forma humana:
“Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu filho...” Marcos
também indica que a vinda de Cristo aconteceu quando tudo já estava
preparado na terra (Mc 1.15). Na maioria das discussões sobre esse
assunto, esquece-se que não apenas os judeus, mas também os gregos e
os romanos, contribuíram para a preparação religiosa para a vinda de
Cristo. Os gregos e romanos ajudaram a levar o desenvolvimento histórico
até o ponto em que Cristo pudesse exercer o impacto máximo sobre a
história de uma forma até então impossível. 1

1
Cairns, Earle E. O cristianismo através dos séculos - história da Igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 2008.
p. 31.
A igreja nasce e se desenvolve em um período de dominação do império romano, tempo em
que o povo de Israel e quase todo o mundo conhecido estava debaixo do julgo de Roma e suas
leis. O ambiente cultural era fortemente influenciado pelo pensamento helenista difundido
pelas conquistas de Alexandre o Grande, que levou a cultura grega para todos os territórios que
dominou em sua campanha militar. Por fim o Cristo nasce como judeu, povo da aliança de Deus
e que recebeu a revelação divina registrada nos livros do Antigo Testamento. Podemos resumir
que Deus conduz e governa a história para a Plenitude dos tempos primariamente por meio de
romanos, gregos e judeus. Para uma melhor compreensão veremos como esses povos
contribuíram para a formação desse período.

1.1. Romanos
a. Estradas: Os romanos desenvolveram e construíram um excelente sistema de estradas
que ligavam todas as partes do império. As estradas eram pavimentadas e protegidas
pelas legiões romanas, o que favorecia as viagens, dando mais velocidade e segurança
para o transito de pessoas pelo império romano.
b. Unificação dos povos: Unidade política e cultural promovida pelo império romano
também foi um fator determinante para a disseminação do evangelho. No período
anterior ao império romano o mundo antigo era divido em tribos, clãs e cidades estado
que na maioria das vezes estavam em guerra uns com os outros, o que gerava um clima
de tensão e instabilidade para qualquer um que quisesse percorrer uma determinada
região para propagar suas ideias. As conquistas romanas traziam estabilidade e o
exército mantinha a paz no território conquistado, que ficou conhecida como “Pax
romana”.
c. Jurisprudência e organização romana: o império romano e suas conquistas geraram não
apenas estabilidade territorial, mas também geraram estabilidade política e legal. A lei
romana com sua ênfase na dignidade do indivíduo e no direito de defesa e de justiça
dava aos homens um sentido de unidade e organização nunca antes vista.
1.2. Gregos
a. A língua: O grego era a língua universal do império. O grego coine que era a língua do
povo, foi usado pelos cristãos para alcançarem pessoas de todas as partes do império.
b. A filosofia: a filosofia grega era pautada pela busca da verdade e do transcendente. O
pensamento filosófico grego abre caminho para o cristianismo ao desmontar as antigas
religiões que cegavam o entendimento das pessoas da época. O sentido de
transcendência e de buscar a verdade e algo maior que o ser humano com quem se
relacionar, abriu o coração dos gregos em busca de um Deus relacional. Porém a filosofia
não era capaz de satisfazer as necessidades espirituais do homem. A filosofia havia
criado um campo fértil de pessoas famintas por um Deus que apenas no cristianismo se
podia encontrar. A fé cristã era a verdade e resposta para as indagações dos filósofos a
respeito do sentido da vida.
c. O povo grego: o povo grego também contribuiu para preparar o mundo a aceitar a nova
religião cristã. A filosofia tinha destruído a fé politeísta dos antigos gregos e a substituiu
pela racionalidade. Porém a filosofia logo cai em declínio por não conseguir responder
as questões fundamentais da existência humana. Deste modo o sistema filosófico grego
destrói as antigas religiões politeístas e ao mesmo tempo demonstra a incapacidade de
a razão humana alcançar Deus. As religiões de mistério familiarizaram as pessoas com o
conceito de queda e redenção. Então quando o cristianismo surge as pessoas se
mostram mais receptivas a uma religião que oferecia uma perspectiva espiritual para a
vida.
1.3. Judeus
a. Monoteísmo: O judaísmo era diametralmente oposto as religiões pagãs, pois afirmava
haver apenas um único Deus verdadeiro. Após o retorno do cativeiro babilônico os
judeus não caíram mais em idolatria. A diáspora espalhou sinagogas por toda área
mediterrânea e preparou o caminho para receber a pregação do evangelho.
b. Esperança messiânica: A fé judaica tinha uma forte esperança na vinda de um messias
que estabeleceria a justiça na terra. A expectativa de um messias tinha sido popularizada
no mundo romano a partir da fé judaica.
c. A sinagoga: No exílio babilônico e com a ausência do templo, os judeus começaram a se
reunir em um local chamado de sinagoga para a leitura e ensino da lei de Deus. As
sinagogas rapidamente se espalharam e serviram como ponto de pregação do
cristianismo no início da igreja. Paulo e os apóstolos utilizaram muito as sinagogas para
pregar o evangelho nas cidades que visitavam.
2. O Pentecoste: o início da igreja em Jerusalém e o trabalho apostólico
A Igreja de Jerusalém foi fundada logo após a Ascensão de Jesus Cristo, quando os apóstolos
receberam o Espírito Santo no Pentecostes. Os primeiros cristãos, liderados pelos apóstolos
Pedro e Tiago, se reuniam em casas para oração e comunhão. A história da igreja de Jerusalém
nos Pais da Igreja é marcada por perseguições e conflitos. A partir do século II, a igreja passou a
ser liderada por bispos, que foram sucessivamente perseguidos pelas autoridades romanas. Em
70 d.C., Jerusalém foi destruída pelos romanos, levando a uma grande dispersão dos cristãos da
região. Mesmo assim, a igreja de Jerusalém continuou a existir e a se desenvolver.
2.1. O Evento de pentecostes

O Pentecoste é considerado o início da igreja em Jerusalém. Nesse dia, o Espírito Santo desceu
sobre os apóstolos reunidos em um cenáculo e eles começaram a falar em línguas estranhas,
atraindo uma multidão de judeus que estavam na cidade para celebrar a festa de Pentecoste.
Pedro aproveitou a oportunidade para pregar a respeito de Jesus Cristo, explicando que Ele
havia sido crucificado, ressuscitado e exaltado à direita de Deus. Muitas pessoas foram tocadas
pela mensagem e se converteram, sendo batizadas naquele mesmo dia.

No Pentecostes, o Espírito foi derramado sobre toda a carne – isto é,


jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres – como Pedro
proclamou no primeiro ser1mão pentecostal (At 2.16-21). O Espírito foi
derramado para tornar os discípulos em testemunhos de Cristo, e Pedro
faz exatamente isso: ele prega a Cristo como o cumprimento do Antigo
Testamento. 2

A partir desse momento, os apóstolos começaram a trabalhar no pastoreio e cuidado da igreja


em Jerusalém. Eles ensinavam a respeito de Jesus Cristo, curavam os enfermos, realizavam
milagres e se dedicavam à oração e ao ensino da Palavra de Deus. A igreja em Jerusalém cresceu
rapidamente, mas também enfrentou desafios. Os líderes religiosos judeus se opunham ao
cristianismo e perseguiam os seguidores de Jesus. Em certo momento, o apóstolo Tiago foi
martirizado e Pedro foi preso. No entanto, a igreja continuou a crescer e a se fortalecer. Os
apóstolos escolheram sete homens para servir como diáconos, a fim de cuidar das necessidades
físicas dos membros da igreja e permitir que os apóstolos se concentrassem na pregação da
Palavra. Além disso, os apóstolos também começaram a se espalhar para outras regiões, levando
a mensagem de Jesus Cristo a outras pessoas. Pedro pregou em Samaria e em Cesareia, e Paulo
se converteu em Damasco e passou a pregar em muitas cidades ao redor do Mediterrâneo. A
história da igreja em Jerusalém no período apostólico foi marcada por um grande fervor religioso
e pela dedicação dos apóstolos em espalhar a mensagem de Jesus Cristo. Seu trabalho plantou
as sementes para o crescimento da igreja em todo o mundo.

2.2. O trabalho dos Apóstolos

No início da Igreja de Jerusalém, os apóstolos desempenharam um papel crucial na liderança e


orientação da comunidade cristã. Pedro, Tiago e João, em particular, foram considerados líderes
importantes na igreja de Jerusalém e trabalharam juntos para estabelecer e expandir a
comunidade cristã. O trabalho dos apóstolos foi multifacetado e incluiu várias atividades
importantes, tais como:

2
Horton, Michael S. Um caminho melhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 119.
a. Ensino e pregação: os apóstolos ensinaram e pregaram a mensagem de Jesus Cristo,
tanto em Jerusalém como em outras regiões. Eles eram responsáveis por transmitir a
doutrina cristã, explicando as Escrituras e ajudando os novos convertidos a crescer em
sua fé.
b. Milagres e curas: os apóstolos eram conhecidos por realizar milagres e curas, o que
ajudava a fortalecer a fé das pessoas e a atrair novos convertidos. Por exemplo, Pedro
curou um homem que era coxo desde o nascimento (Atos 3:1-10).
c. Estabelecimento de líderes e estruturas: os apóstolos ajudaram a estabelecer líderes e
estruturas dentro da igreja de Jerusalém. Por exemplo, eles escolheram Matias como
sucessor de Judas Iscariotes (Atos 1:15-26) e ordenaram diáconos para ajudar na
distribuição de alimentos e cuidados aos necessitados (Atos 6:1-6).
d. Organização de reuniões e concílios: os apóstolos também organizaram reuniões
importantes, como o Concílio de Jerusalém, que discutiu questões relacionadas à
circuncisão e à lei judaica (Atos 15:1-35). Estas reuniões ajudaram a estabelecer a
doutrina cristã e resolver questões importantes para a comunidade.

Em geral, o trabalho dos apóstolos na igreja de Jerusalém foi fundamental para o crescimento e
estabelecimento da comunidade cristã. Eles trabalharam juntos para transmitir a mensagem de
Jesus Cristo, estabelecer líderes e estruturas, e lidar com questões importantes que surgiram na
comunidade. Seu trabalho estabeleceu as bases para o cristianismo e ajudou a espalhar a
mensagem de Jesus Cristo para o mundo inteiro.

2.3. A perseguição judaica e o martírio de Estevão

A perseguição judaica contra a igreja de Jerusalém ocorreu logo no início do ministério


apostólico. A perseguição foi liderada pelas autoridades judaicas, que consideravam os cristãos
uma ameaça à sua religião e à ordem social. O livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 7, vemos o
relato do martírio de Estêvão, um dos líderes da igreja de Jerusalém. Estêvão foi acusado de
blasfêmia pelas autoridades judaicas por pregar o evangelho de Jesus Cristo. Em seu discurso
final, ele acusou os judeus de sempre resistirem ao Espírito Santo e de terem matado os profetas
e o próprio Jesus Cristo. Isso enfureceu as autoridades judaicas, e Estêvão foi apedrejado até a
morte fora dos muros de Jerusalém. A morte de Estêvão foi o primeiro registro de martírio de
um cristão na história. A morte de Estêvão desencadeou uma perseguição generalizada contra
a igreja de Jerusalém, com muitos cristãos sendo presos e perseguidos pelas autoridades
judaicas. Isso levou muitos cristãos a fugirem de Jerusalém para outras partes da Judeia e para
outras regiões, espalhando o evangelho de Jesus Cristo. No entanto, a perseguição também teve
um efeito positivo na igreja, fortalecendo sua fé e determinação em espalhar o evangelho. A
perseguição também levou à conversão de muitos judeus ao cristianismo, especialmente na
diáspora judaica em outras partes do mundo.

2.4. O concílio de Jerusalém

O Concílio de Jerusalém foi uma reunião crucial da igreja primitiva, realizada por volta do ano
50 d.C. O objetivo do concílio era discutir a questão da circuncisão e a aplicação da lei judaica
aos gentios convertidos ao cristianismo. A questão era se os gentios deveriam ser obrigados a
seguir a lei judaica e se a circuncisão era necessária para a salvação. O concílio contou com a
presença de apóstolos importantes, como Pedro, Tiago e Paulo, bem como de outros líderes da
igreja. A discussão foi intensa, mas finalmente a decisão foi tomada de que a circuncisão não era
necessária para a salvação e que os gentios convertidos não eram obrigados a seguir a lei
judaica. No entanto, foram estabelecidas algumas restrições para os gentios, como evitar a
idolatria, a fornicação e a carne de animais oferecida a ídolos. Esta decisão foi um marco
importante na história da igreja primitiva, pois permitiu que o cristianismo se expandisse para
além do mundo judaico e fosse aberto aos gentios. Além disso, o concílio estabeleceu o princípio
de que a salvação era pela graça através da fé em Jesus Cristo, e não pelas obras da lei. O Concílio
de Jerusalém também estabeleceu um modelo de tomada de decisões dentro da igreja primitiva,
com os líderes da igreja reunindo-se para discutir questões importantes e tomar decisões em
conjunto. Este modelo continuou a ser usado ao longo dos séculos na igreja cristã, com concílios
ecumênicos sendo realizados para discutir questões doutrinárias importantes.

3. A igreja primitiva: a estrutura da igreja de Jerusalém nas escrituras e nos pais


da igreja
A estrutura da igreja de Jerusalém nas Escrituras e nos pais da igreja pode ser observada em
Atos dos Apóstolos e em outras fontes históricas. De acordo com Atos dos Apóstolos, os
primeiros cristãos se reuniam em casas para orar, estudar as Escrituras e partir o pão juntos
(Atos 2:42-46). No entanto, a igreja primitiva também tinha líderes que exerciam autoridade
sobre a comunidade. Os apóstolos eram os principais líderes da igreja e tomavam decisões
importantes, como a escolha de novos líderes e a resolução de conflitos (Atos 6:1-6). Além dos
apóstolos, a igreja primitiva tinha presbíteros (ou anciãos) que eram responsáveis por cuidar da
igreja local. Eles ensinavam as Escrituras, lideravam a oração e a adoração e cuidavam dos
necessitados (Atos 14:23, 20:17; 1 Timóteo 5:17; Tiago 5:14). Também havia diáconos, que eram
responsáveis por servir a igreja em áreas práticas, como cuidar dos necessitados e distribuir
alimentos (Atos 6:1-6; Filipenses 1:1; 1 Timóteo 3:8-13). Os presbíteros e diáconos ainda tinham
um papel importante na igreja. Podemos entender a estrutura da igreja primitiva sendo
composta por líderes como os apóstolos, presbíteros e diáconos, que eram responsáveis por
liderar e cuidar da igreja local. Essa estrutura foi influente na formação da igreja cristã nos
séculos seguintes.

3.1. Eusébio de Cesareia

Eusébio de Cesareia foi um historiador cristão do século IV que escreveu uma obra intitulada
"História Eclesiástica". Nessa obra, ele fala sobre a Igreja de Jerusalém, que é considerada a mais
antiga comunidade cristã. Eusébio descreve como a Igreja de Jerusalém foi fundada pelos
discípulos de Jesus, incluindo Tiago, irmão de Jesus, que se tornou o primeiro bispo de
Jerusalém. Ele também descreve como a igreja floresceu nos primeiros anos do cristianismo,
atraindo muitos convertidos. No entanto, Eusébio também fala sobre as perseguições que a
igreja enfrentou. Ele descreve como o imperador romano Nero, por exemplo, perseguiu e matou
muitos cristãos em Jerusalém. Mais tarde, no século II, a cidade foi sitiada e destruída pelos
romanos, o que levou à dispersão dos cristãos de Jerusalém. Eusébio também relata como a
Igreja de Jerusalém continuou a existir após a destruição da cidade, mas em um contexto muito
diferente. Ele descreve como a igreja se tornou uma pequena comunidade dentro do Império
Romano, sob a liderança de seus bispos. Eusébio também menciona a importância da
peregrinação à Jerusalém, que se tornou um importante centro de culto cristão. No geral, a obra
de Eusébio oferece uma visão valiosa da história da Igreja de Jerusalém e de sua importância no
desenvolvimento do cristianismo primitivo.

3.2. Clemente de Roma

Na sua carta aos Coríntios, Clemente de Roma fala sobre a Igreja de Jerusalém como um exemplo
a ser seguido pelos cristãos de Corinto. Ele destaca o serviço e a humildade da igreja de
Jerusalém, que cuidava dos pobres e necessitados, e encoraja os coríntios a fazerem o mesmo.
Clemente escreve: "Aqueles que, em tempos passados, foram bons exemplos, foram feitos
santos, não para si mesmos, mas para o bem dos outros. Foi assim que a Igreja de Jerusalém,
que era a mais nobre das igrejas e a mais digna de Cristo, demonstrou a verdadeira humildade
servindo aos necessitados, com a mais pronta diligência, tanto aos pobres como aos que sofriam
em outros aspectos". Ele continua: "Não é de admirar, então, se aqueles que foram
perfeitamente santos em tal obra, recebem honra e glória imortal, sendo inscritos no memorial
de nossa memória, sendo eles, em verdade, uma verdadeira inspiração e encorajamento para
nosso próprio esforço". Essa referência de Clemente destaca a importância do serviço cristão e
do cuidado pelos necessitados, e mostra como a Igreja de Jerusalém foi um exemplo disso nos
primeiros anos do cristianismo.
3.3. Didaqué

O Didaqué, também conhecido como Doutrina dos Doze Apóstolos, é um texto cristão antigo do
século I d.C. que contém ensinamentos e instruções sobre a vida cristã e a organização da igreja
primitiva. Esse escrito é um importante documento histórico que fornece informações sobre a
vida e as práticas dos primeiros cristãos. Uma de suas principais ênfases é a vida comunitária
dos cristãos. O texto exorta os cristãos a viverem em amor e unidade uns com os outros,
compartilhando suas posses e cuidando uns dos outros. Sobre isso, lemos o seguinte:
"Compartilhe tudo o que você tiver com o irmão, e não diga que é seu próprio; pois se vocês são
co-herdeiros do que é imortal, como não deveriam ser de coisas perecíveis?" (Capítulo 4,
versículo 8).

O Didaqué também fornece instruções sobre a organização da igreja. Ele descreve a importância
dos apóstolos e profetas, que eram líderes espirituais da igreja, e também fala sobre os
presbíteros e diáconos, que eram responsáveis pela administração da igreja e pelo cuidado dos
membros. O texto enfatiza a importância da disciplina da igreja e da correção dos irmãos que
pecam. Além disso, o Didaqué fornece instruções sobre a celebração da Eucaristia, o batismo e
outras práticas religiosas da igreja. Ele ensina que a Eucaristia deve ser celebrada com pão e
vinho, e que o batismo deve ser realizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

3.4. A queda de Jerusalém nos escritos de Josefo e sua influência na igreja

Flávio Josefo foi um historiador judeu do século I que escreveu extensivamente sobre a história
da Judeia e de Jerusalém. Ele foi uma testemunha ocular da destruição de Jerusalém no ano 70
d.C. pelas forças romanas lideradas pelo general Tito. Josefo descreve em detalhes a queda de
Jerusalém e a destruição do templo. Ele relata que os romanos sitiaram a cidade e cortaram seus
suprimentos de comida e água, o que levou a uma grande fome e sofrimento. Os judeus também
se dividiram em facções rivais, o que enfraqueceu sua defesa. Com isso os romanos finalmente
conseguiram entrar na cidade, incendiando o Templo e destruindo grande parte da cidade. Ele
relata que muitos judeus foram mortos durante a batalha ou morreram de fome e doenças.

Josefo também descreve a captura do próprio Templo pelos romanos. Ele relata que os romanos
massacraram os sacerdotes que estavam servindo no Templo e saquearam seus tesouros. O
Templo foi completamente destruído, e os judeus foram expulsos de Jerusalém. A descrição de
Flávio Josefo da destruição de Jerusalém é considerada uma das fontes mais importantes e
detalhadas sobre o evento. Seus relatos são usados por historiadores e estudiosos para
entender as causas e consequências da destruição de Jerusalém e do Templo.
A invasão romana de Jerusalém em 70 d.C. teve um grande impacto na igreja cristã de Jerusalém.
Antes da invasão, a igreja cristã em Jerusalém era uma das maiores e mais influentes
comunidades cristãs do mundo, composta principalmente por judeus convertidos ao
cristianismo. A igreja era liderada pelos apóstolos, incluindo Tiago, irmão de Jesus. Após a
destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos, muitos judeus cristãos fugiram da cidade
ou foram mortos. A liderança da igreja cristã também foi afetada, já que muitos de seus líderes
foram mortos ou dispersos. No entanto, a igreja cristã de Jerusalém não foi completamente
destruída, ela continuou a existir, mas sua liderança mudou. Em vez de ser liderada pelos
apóstolos, a igreja passou a ser liderada por bispos. Os cristãos de Jerusalém também
enfrentaram perseguição sob o governo romano. No entanto, o cristianismo continuou a
crescer, e a igreja cristã de Jerusalém se tornou um importante centro cristão durante a Idade
Média.

Conclusão
Como visto, a igreja de Jerusalém foi fundada após a crucificação de Jesus e a descida do Espírito
Santo sobre os apóstolos no Pentecostes. A liderança da Igreja de Jerusalém durante esse
período ficou a cargo dos Apóstolo, principalmente, Pedro, João e Tiago, o Justo, que era irmão
de Jesus. A Igreja de Jerusalém foi caracterizada por um forte senso de comunidade e por uma
vida de oração e adoração em comum.

No entanto, a Igreja de Jerusalém enfrentou muitos desafios e perseguições durante esse


período. Vimos o relato de Josefo de que, em 70 d.C., a cidade de Jerusalém foi destruída pelos
romanos e muitos cristãos foram mortos ou forçados a fugir. Apesar dessas dificuldades, a Igreja
de Jerusalém continuou a crescer e a espalhar a mensagem do cristianismo. A Igreja de
Jerusalém desempenhou um papel crucial no estabelecimento da doutrina cristã e na resolução
de conflitos entre as diferentes comunidades cristãs, especialmente na relação entre a igreja
gentílica e a igreja judaica.

Podemos concluir que a Igreja de Jerusalém foi a comunidade cristã mais importante e influente
nos primeiros anos do cristianismo, que enfrentou muitos desafios, mas continuou a crescer e a
espalhar a mensagem do evangelho. A Igreja de Jerusalém é um exemplo poderoso de como a
fé pode perseverar mesmo em tempos difíceis, e sua história continua a inspirar e a influenciar
a Igreja Cristã em todo o mundo.
Bibliografia
Bíblia de Estudo de Genebra. 2ª ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil / Cultura Cristã,
2009

Bíblia King James Atualizada (KJA). Edição de Estudo. Rio de Janeiro: Abba Press editora e
Divulgadora Cultural Ltda, 2018

Cairns, Earle E. O cristianismo através dos séculos - história da Igreja cristã. São Paulo: Vida Nova,
2008.

Cesareia, Eusébio de. História Eclesiástica. Tradução de Wolfgang Fischer. São Paulo: Novo
Século, 2002.

Gundry, Robert Horton. Panorama do Noto Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008

Horton, Michael S. Um caminho melhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.

Hurbult, Jesse Lyman. História da igreja cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002.

Josefo, Flávio. História dos Hebreus, de Abraão à queda de Jerusalém. Rio de Janeiro: CPAD,
2004.

Roma, Clemente de. Primeira carta de Clemente aos coríntios – Pais Ante-Nicenos 1 – Os pais
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Shelley, Bruce L. História do Cristianismo: uma obra completa e atual sobre a trajetória da igreja
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