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Superior Tribunal de Justiça

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.424.404 - SP (2013/0230570-3)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


EMBARGANTE : MORRO AZUL CONSTRUCOES E COMERCIO LTDA
ADVOGADOS : CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG E OUTRO(S) -
DF008282
PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE E OUTRO(S) -
DF003333
JAIRO AZEVEDO FILHO - SP094023
RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118
JAIRA ROBERTA AZEVEDO CARVALHO E OUTRO(S) - SP117669
EMBARGADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTERES. : MUNICÍPIO DE IRACEMÁPOLIS
ADVOGADO : FABRÍCIO TADEU NARDO E OUTRO(S) - SP198438
EMENTA

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL


CIVIL. AGRAVO INTERNO. DESNECESSIDADE DE IMPUGNAÇÃO DE
TODOS OS CAPÍTULOS AUTÔNOMOS E/OU INDEPENDENTES DA
DECISÃO MONOCRÁTICA AGRAVADA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA
182/STJ.
1. A regra da dialeticidade — ônus do recorrente de apresentar os
fundamentos de sua irresignação — constitui reflexo do princípio
constitucional do contraditório e da necessária interação dialógica entre as
partes e o magistrado, revelando-se como a outra face da vedação do
arbítrio, pois, se o juiz não pode decidir sem fundamentar, "a parte não
pode criticar sem explicar" (DOTTI, Rogéria. Todo defeito na
fundamentação do recurso constitui vício insanável? Impugnação
específica, dialeticidade e o retorno da jurisprudência defensiva. In: NERY
JUNIOR, Nelson; ALVIM, Teresa Arruda; OLIVEIRA, Pedro Miranda de
[coord.]. Aspectos polêmicos dos recursos cíveis e assuntos afins.
Volume 14 [livro eletrônico]. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018).
2. Tal dever de fundamentação da pretensão de reforma do provimento
jurisdicional constitui requisito extrínseco de admissibilidade dos recursos,
que se enquadra na exigência de regularidade formal.
3. Nada obstante, via de regra, é possível eleger, em consonância com o
interesse recursal, quais questões jurídicas — autônomas e
independentes — serão objeto da insurgência, nos termos do artigo 1.002
do CPC de 2015. Assim, "considera-se total o recurso que abrange 'todo
o conteúdo impugnável da decisão recorrida', porque toda ela pode não
ser impugnável; e parcial o recurso que, por abstenção exclusiva do
recorrente, 'não compreenda a totalidade do conteúdo impugnável da
decisão'" (ASSIS, Araken de. Manual dos recursos [livro eletrônico]. 4. ed.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021).
4. O citado dispositivo legal — aplicável a todos os recursos — somente
deve ser afastado quando há expressa e específica norma em sentido
contrário, tal como ocorre com o agravo contra decisão denegatória de
admissibilidade do recurso especial, tendo em vista o mandamento
insculpido no artigo 253, parágrafo único, inciso II, alínea "a", do RISTJ,
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segundo o qual compete ao relator não conhecer do agravo "que não
tenha impugnado especificamente todos os fundamentos da decisão
recorrida".
5. Sobre a aludida modalidade de recurso — agravo do artigo 544 do CPC
de 1973, atualmente disciplinado pelo artigo 1.042 do CPC de 2015 —, a
Corte Especial fixou a orientação no sentido de ser inafastável o dever do
recorrente de impugnar especificamente todos os fundamentos que
levaram à inadmissão do apelo extremo, não se podendo falar, na
hipótese, em decisão cindível em capítulos autônomos e independentes
(EAREsps 701.404/SC, 746.775/PR e 831.326/SP, relator Ministro João
Otávio de Noronha, relator para acórdão Ministro Luis Felipe Salomão,
Corte Especial, julgado em 19.9.2018, DJe 30.11.2018).
6. Como se constata, essa orientação jurisprudencial se restringe ao
Agravo em Recurso Especial (AREsp) — ante a incindibilidade da
conclusão exarada no juízo prévio negativo de admissibilidade do apelo
extremo —, não alcançando, portanto, o Agravo Interno no Recurso
Especial (AgInt no REsp) nem o Agravo Interno no Agravo em Recurso
Especial (AgInt no AREsp), haja vista a possibilidade, em tese, de a
decisão singular do relator ser decomposta em "capítulos", vale dizer
unidades elementares e autônomas do dispositivo contido no provimento
jurisdicional objeto do recurso.
7. A autonomia dos capítulos da sentença — lato sensu — apresenta dois
significados: (i) o da possibilidade de cada parcela do petitum ser objeto
de um processo separado, sendo meramente circunstancial a junção de
várias pretensões em um único processo; e (ii) o da regência de cada
pedido por pressupostos próprios, "que não se confundem
necessariamente nem por inteiro com os pressupostos dos demais"
(DINAMARCO, Cândido Rangel. Capítulos de sentença. São Paulo: 2002,
Malheiros, pp. 43-44).
8. O renomado autor aponta, ainda, a possibilidade de a decisão judicial
conter "capítulos independentes" e "capítulos dependentes". Nessa
perspectiva, destaca que a dependência entre capítulos sentenciais se
configura: (i) quando constatada relação de prejudicialidade entre duas
pretensões, de modo que o julgamento de uma delas (prejudicial)
determinará o teor do julgamento da outra (prejudicada); e (ii) entre o
capítulo portador do julgamento do mérito e aquele que decidiu sobre a
sua admissibilidade (DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., pp. 44-46).
9. Diante desse contexto normativo e doutrinário, deve prevalecer a
jurisprudência desta Corte no sentido de que a ausência de impugnação,
no agravo interno, de capítulo autônomo e/ou independente da decisão
monocrática do relator — proferida ao apreciar recurso especial ou agravo
em recurso especial — apenas acarreta a preclusão da matéria não
impugnada, não atraindo a incidência da Súmula 182 do STJ.
10. Ressalte-se, contudo, o dever da parte de refutar "em tantos quantos
forem os motivos autonomamente considerados" para manter os
capítulos decisórios objeto do agravo interno total ou parcial (AgInt no
AREsp 895.746/SP, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, julgado em 9.8.2016, DJe 19.8.2016).
11. Embargos de divergência providos para afastar a aplicação da Súmula
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182/STJ em relação ao agravo interno, que deve ser reapreciado pela
Primeira Turma desta colenda Corte.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Corte Especial do


Superior Tribunal de Justiça acordam, por unanimidade, conhecer dos embargos de
divergência e dar-lhes provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Benedito Gonçalves, Raul Araújo, Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti,
Sérgio Kukina, Nancy Andrighi, Laurita Vaz e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, João Otávio de
Noronha, Humberto Martins, Maria Thereza de Assis Moura, Og Fernandes e Mauro Campbell
Marques.
Licenciado o Sr. Ministro Felix Fischer.
Convocado o Sr. Ministro Sérgio Kukina.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Jorge Mussi.
Esteve presente e dispensou a sustentação oral o Dr. Ronei Ribeiro dos
Santos, pela embargante.

Brasília (DF), 20 de outubro de 2021(Data do Julgamento)

MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


Relator

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EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.424.404 - SP (2013/0230570-3)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
EMBARGANTE : MORRO AZUL CONSTRUCOES E COMERCIO LTDA
ADVOGADOS : CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG E OUTRO(S) -
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PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE E OUTRO(S) -
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JAIRO AZEVEDO FILHO - SP094023
RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118
JAIRA ROBERTA AZEVEDO CARVALHO E OUTRO(S) - SP117669
EMBARGADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTERES. : MUNICÍPIO DE IRACEMÁPOLIS
ADVOGADO : FABRÍCIO TADEU NARDO E OUTRO(S) - SP198438

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

1. Cuida-se de embargos de divergência interpostos por Morro Azul


Construções e Comércio Ltda. em face do acórdão da Primeira Turma que não conheceu do
agravo interno da ora insurgente, nos termos da seguinte ementa:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. NÃO
IMPUGNAÇÃO AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA
182/STJ.
1. A ausência de impugnação específica aos fundamentos da decisão
agravada impõe o não conhecimento do recurso. Incidência da Súmula
182/STJ.
2. Agravo interno não conhecido.

Opostos embargos de declaração, foram rejeitados pelos seguintes


fundamentos:
[...]
No caso, verifica-se que a decisão monocrática de fls. 3.744-3.746 não
conheceu do recurso especial aos seguintes fundamentos: (a) inexistência
de violação do art. 535 do CPC/1973; (b) necessidade de reexame do
conjunto fático-probatório dos autos, nos termos da Súmula n. 7/STJ; (c)
não ocorrência de inépcia da exordial; e (d) incidência do óbice contido na
Súmula n. 284/STF, ante a deficiência no cotejo analítico.
No entanto, o ora embargante, no agravo interno às fls. 3.759-3.779,
não impugnou, especificamente, os fundamentos concernentes a
não ocorrência de inépcia da exordial e à aplicação da Súmula n.
284/STF, em virtude da deficiência no cotejo analítico.
Dessa forma, o acórdão embargado decidiu a controvérsia ao
assentar a aplicação da Súmula 182/STJ ao caso vertente (o que
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sequer possibilitou o conhecimento do recurso) (fls. 3.794-3.797),
fato que revela a intenção de rediscussão indevida do mérito, pois o
ora embargante pretende demonstrar a inaplicabilidade do referido
enunciado sumular.
Saliente-se, por oportuno, que no julgamento do EAREsp 746.775/PR,
ocorrido no dia 19/9/2018, DJe 30/11/2018, a Corte Especial decidiu
que o recorrente deve impugnar especificamente todos os
fundamentos da decisão agravada, sob pena de não conhecimento
do apelo por aplicação do óbice da Súmula 182/STJ.
Assim, evidencia-se não ter ocorrido falta de clareza, insuficiência de
fundamentação ou erro material a ensejar esclarecimento ou
complementação do que já decidido.

Em suas razões, a embargante aponta divergência entre o supracitado acórdão


e arestos da Segunda e Terceira Turmas quanto à incidência da Súmula 182/STJ em caso
de agravo interno quando este não impugna todos os capítulos autônomos da decisão
monocrática que apreciou o recurso especial. Eis as ementas dos paradigmas:
PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
AGRAVO REGIMENTAL. CAPÍTULOS AUTÔNOMOS. IMPUGNAÇÃO
PARCIAL. CABIMENTO. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 182/STJ.
DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. DESCABIMENTO. SÚMULA 381/STJ.
NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA
DESTE STJ. COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS. JUSTIÇA GRATUITA.
POSSIBILIDADE.
1. Inaplicabilidade da Súmula 182/STJ ao agravo regimental que
impugna capítulos autônomos da decisão monocrática. Preclusão
quanto aos capítulos não impugnados.
[...]
8. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS PARA CONHECER DO
AGRAVO REGIMENTAL E NEGAR-LHE PROVIMENTO. (EDcl no AgRg no
Ag 890.243/RS, Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira
Turma, julgado em 27.11.2012, DJe 04.12.2012)
---------------------------------------------------------------
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CAPÍTULOS
AUTÔNOMOS. IMPUGNAÇÃO PARCIAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA 182 DO
STJ. INAPLICABILIDADE. AÇÃO DE RESOLUÇÃO DE CONTRATO.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SÚMULA N. 284 DO STF. APRECIAÇÃO
EQUITATIVA. REVISÃO DE FATOS. SÚMULA N. 7 DO STJ. TERMO INICIAL
DA CORREÇÃO MONETÁRIA. MATÉRIA PRECLUSA. FUNDAMENTO DA
DECISÃO AGRAVADA INATACADO. JUROS DE MORA. INOVAÇÃO
RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE.
1. A impugnação, no agravo regimental, de capítulos autônomos da
decisão recorrida apenas induz preclusão das matérias não
impugnadas, mas não impede o conhecimento do recurso,
afastando-se a incidência da Súmula n. 182 do STJ.
[...]
4. A ausência de impugnação do fundamento da decisão agravada alusivo
ao termo inicial da correção monetária torna preclusa a matéria.
5. Não se admite que a parte, em agravo regimental, inove na
argumentação, trazendo questões não aduzidas no recurso especial.
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6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1.382.619/PI, Relator
Ministro João Otávio de Noronha, Terceira Turma, julgado em 6.10.2015,
DJe 9.10.2015)
---------------------------------------------------------------
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONVERSÃO EM
ESPECIAL. (AgRg no AgRg no Ag 1.161.747/SP, Relator Ministro Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 16.12.2010, DJe 2.3.2011)

De acordo com a insurgente, a Súmula 182/STJ — retratada na parte final do


inciso III do artigo 932 do CPC de 2015 e no inciso I do parágrafo único do artigo 253 do RISTJ
— não tem aplicação quando, deliberadamente, abandonam-se, no agravo interno, as
questões independentes e autônomas que não são suficientes para sustentar a integralidade
da decisão monocrática que julgou o recurso especial.
Inicialmente, a Presidência indeferiu liminarmente os embargos de divergência
(fls. 3973/5), e, posteriormente, após algumas vicissitudes processuais, a questão da
admissibilidade foi reformada, em 4.3.2020, pela Corte Especial, que determinou o
processamento do reclamo em acórdão assim ementado:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. AGRAVO INTERNO
EM RECURSO ESPECIAL. DISTINÇÃO DO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. DESNECESSIDADE DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DE TODOS
OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA. INAPLICABILIDADE DA
SÚMULA 182 /STJ. DISCUSSÃO ACERCA DE QUESTÃO PROCESSUAL E
INTERPRETAÇÃO DE SÚMULA. PREVISÃO NO CPC/2015. NÃO
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 315/STJ. CABIMENTO DOS EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA.
HISTÓRICO DA DEMANDA
1. Cuida-se de Agravo Interno interposto contra decisão monocrática do
Presidente do STJ que inadmitiu os Embargos de Divergência com base na
Súmula 315/STJ (“Não cabem embargos de divergência no âmbito do
agravo de instrumento que não admite recurso especial”).
2. Os referidos Embargos de Divergência foram interpostos pela agravante
contra acórdão da Primeira Turma do STJ que, dissentindo de outros
precedentes da Corte Especial e da Segunda Turma, não conheceu de
Agravo Interno — manejado contra decisão que conheceu parcialmente de
Recurso Especial e, nessa parte, negou-lhe provimento —, com base em
interpretação equivocada da Súmula 182 do STJ.
NATUREZA DO RECURSO
3. De antemão, imprescindível analisar a natureza do recurso primeiramente
apreciado no STJ, para fins de demonstrar a aplicação da Súmula 182/STJ.
O recurso analisado originariamente pelo STJ não é Agravo de Instrumento,
pois, embora os autos tenham vindo ao STJ como Agravo em Recurso
Especial, o Ministro então Relator — Benedito Gonçalves — determinou a
conversão para Recurso Especial (fl. 3.710, e-STJ), tendo julgado, portanto,
o Recurso Especial (fls. 3.744-3.746, e-STJ).
4. A decisão monocrática no Recurso Especial foi de conhecimento parcial
e, nessa parte (que se refere à tese de existência de omissão e de inépcia
da petição inicial), negou-se provimento ao Recurso Especial. Em relação à
parte não conhecida do Apelo Nobre, incidiram as Súmulas 7/STJ e
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284/STF.
5. Interpôs-se Agravo Interno, do qual a Primeira Turma não conheceu com
base na Súmula 182/STJ. No julgamento colegiado, concluiu-se ser
impossível conhecer do Agravo Interno, por não se ter impugnado a
aplicação da Súmula 284/STF e do entendimento que afastou a tese de
inépcia da petição inicial (fls. 3.793-3.797, e-STJ).
INDEVIDA ADOÇÃO DA SÚMULA 182/STJ
6. Nos acórdãos proferidos pela Primeira Turma, fixou-se a tese, s.m.j.,
merecedora de revisão, de que mesmo questões autônomas, como inépcia
da inicial da ACP e dissídio jurisprudencial, ainda que dissociadas e
independentes do mérito, devem ser objeto de refutação no Agravo Interno
fundado no art. 1.021 do CPC, que ataca o mérito da causa, sob pena de
aplicação da Súmula 182 do STJ. Contudo, tal entendimento conflita com a
posição firmada no STJ de afastar a incidência do citado verbete sumular
nessas hipóteses.
7. Assim, a Súmula 182/STJ foi indevidamente empregada, pois a questão
da necessidade de ataque a todos os fundamentos diz respeito ao Agravo
cabível contra decisão do Tribunal de origem que inadmite o Recurso
Especial. Situação distinta é a dos presentes autos, que se refere ao
Agravo Interno contra decisão do STJ que julgou o Recurso Especial
monocraticamente.
8. Neste último caso, tendo em vista a possibilidade de impugnação parcial,
é plenamente possível, em tese, que a parte se conforme com alguns
capítulos decisórios, optando por recorrer apenas em relação a outros
pontos (por exemplo, a parte pode aceitar a decisão monocrática do
Ministro do STJ que afastou a existência de dissídio jurisprudencial – alínea
“c” —, mas, mesmo assim, interpor Agravo Interno para discutir, pela alínea
“a”, a existência de violação de lei federal). No retromencionado exemplo,
seria indevida a incidência da Súmula 182/STJ (o mais correto seria
conhecer parcialmente do Agravo Interno, isto é, dele não se conheceria em
relação à alínea “c”, por ausência de impugnação, mas ele seria examinado
em relação à alínea “a”).
INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 315/STJ
9. Primeiramente, é certo que a questão sobre a qual recai a divergência
(que gravita em torno da correta interpretação da Súmula 182 do STJ
quando aplicada ao Agravo Interno em Recurso Especial) não se limita ao
exame dos requisitos de admissibilidade do Apelo Nobre. Não,
absolutamente não!
10. O que se busca com os presentes Embargos de Divergência é definir os
limites processuais de incidência da Súmula 182 do STJ nas hipóteses de
interposição do Agravo Interno em Recurso Especial, previsto no art. 1.021
do CPC, sendo certo que o acórdão embargado dissentiu dos paradigmas
indicados quanto à tese.
11. No ponto, o art. 1.043, § 2º, do CPC estabelece que "a divergência que
autoriza a interposição de embargos de divergência pode verificar-se na
aplicação do direito material ou do direito processual", que, no caso em
exame, refere-se à necessidade ou não de impugnação, no Agravo Interno
previsto no art. 1.021 do CPC, de todos os fundamentos da decisão que
negou provimento ao Recurso Especial, quando as questões postas no
apelo extremo são autônomas e independentes.
ADMISSIBILIDADE DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – DISCUSSÃO
DE QUESTÃO PROCESSUAL
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 7 de 5
Superior Tribunal de Justiça
12. Embora a jurisprudência seja pacífica no sentido de que não cabem
Embargos de Divergência em Recurso Especial para discutir regra técnica
de admissibilidade, no presente caso o que se está a decidir é a
interpretação de norma processual, na forma autorizada pelo art. 1.043, §
2º, do CPC.
13. Em emblemático julgamento ocorrido nos EREsp 1.447.624/SP, DJe
11/10/2018, em que se discutia a ocorrência ou não de deserção de
Recurso Especial, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça afastou
a incidência da Súmula 315 do STJ, entendendo que a divergência se dava
na aplicação da norma processual, como no caso em análise. Destaca-se o
voto condutor do acórdão, da lavra da Ministra Maria Thereza de Assis
Moura, que muito bem reflete a hipótese tratada nos presentes autos:
"Diferente é a hipótese, todavia, em que o dissenso se verifica com
relação à própria interpretação de lei federal relativa a regra
processual, como no caso em exame, no qual se discute o conceito
de deserção. Destaque-se, não se trata de reexaminar a
admissibilidade do recurso especial no caso concreto, mas, sim, de
interpretar a norma abstratamente considerada. Desse modo, penso
que não incide o óbice contido no enunciado nº 315 deste Superior
Tribunal de Justiça, com a devida vênia do Ministro Relator".
14. O art. 1.043, § 2º, do CPC/2015 faz expressa referência à possibilidade
de admissão dos Embargos de Divergência para discussão de matéria
eminentemente processual, como é o que temos nesta hipótese.
PRECEDENTES DO STJ
15. São inúmeros os acórdãos da Corte Especial e das Seções admitindo
Embargos de Divergência em Recurso Especial que não julga o mérito da
causa, mas que decide questão processual de forma divergente daquela
decidida nos paradigmas. Nesse sentido: EREsp 1.314.603/PR, Rel. Ministro
Benedito Gonçalves, Corte Especial, DJe 14/12/2015; EREsp 1.303.643/RJ,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Corte Especial, DJe 19/5/2016; EREsp
547.653/RJ, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Corte Especial, DJe
29/3/2011; EREsp 1.114.817/MG, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Corte
Especial, DJe 27/6/2012; EDcl no AgRg nos EREsp 1.019.056/SP, Rel.
Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Corte Especial, DJe 4/8/2015; EAREsp
460.194/PE, Rel. Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, DJe 16/10/2015.
16. Ademais, há precedente da Corte Especial (Relator Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho) que apontou, em caráter excepcional, serem cabíveis
Embargos de Divergência em Recurso Especial quando houver controvérsia
sobre a própria interpretação que se dá à regra técnica de admissibilidade.
Transcreve-se excerto: "Quando a discussão se estabelece sobre a própria
regra de conhecimento, esta evidentemente passível de dissenso a desafiar
também a uniformização de jurisprudência" (EREsp 781.135/DF, Rel.
Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Corte Especial, DJe 20/5/2015).
17. Por isso que os precedentes mencionados na decisão ora agravada —
a maioria deles em Agravo em Recurso Especial (Aglnt nos EAREsp
315.046/SP, Aglnt nos EAg 1.357.322/DF, EAREsp 559.7 66/DF, Aglnt nos
EREsp 1.226.477/RS) e um único em Recurso Especial (EREsp
134.660/SC) — não têm aplicabilidade ao caso em tela, porque em nenhum
deles se decidiu sobre a regra em si de conhecimento do Recurso Especial,
mas se aplicou determinada regra ao caso em comento, o que é, por
óbvio, bem diferente.
COMPROVAÇÃO DA DIVERGÊNCIA QUE LEGITIMA OS PRESENTES
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 8 de 5
Superior Tribunal de Justiça
EMBARGOS
18. Ora, como o fundamento da monocrática foi a aplicação da Súmula
315/STJ, ele deve ser afastado para admitir, em tese, os Embargos de
Divergência em Recurso Especial. Faltaria examinar se existem outros
óbices à sua admissibilidade. Contudo, em juízo provisório, típico da análise
concernente ao seu recebimento, o dissídio parece estar demonstrado.
19. Deveras, na hipótese em disceptação, a agravante bem demonstrou,
nos acórdãos paradigmas, que o Agravo Interno (ou Regimental) que deixa
de impugnar fundamentos autônomos não comporta aplicação da Súmula
182/STJ: a) EDcl no AgRg no Ag 890.243/RS, proferidos pela Terceira
Turma, relativos à inaplicabilidade da Súmula 182/STJ ao Agravo
Regimental em que a parte impugna capítulos autônomos da decisão
monocrática, deixando precluir os capítulos não impugnados; b) AgRg no
REsp 1.382.619/PI, proferido pela Terceira Turma, no sentido de que a
contestação de capítulos autônomos da decisão induz preclusão das
matérias não refutadas, mas não impede o conhecimento do Recurso,
afastando-se a incidência da Súmula 182/STJ; c) AgRg no AgRg no Ag
1.161.747/SP, proferido pela Segunda Turma, referente à inaplicabilidade
da Súmula 182/STJ, quando a decisão recorrida possui capítulos
autônomos e a parte vencida não impugna todos eles, mas, no ponto
enfrentado, combate todos os fundamentos da decisão.
20. O caso se distingue do precedente do Ministro Relator proferido nos
EAREsp 746.775/PR, também da Corte Especial. No supracitado feito foi
registrada, pelo Ministro Mauro Campbell, a ressalva em que se enquadra o
caso ora em apreciação, verbis: "A obrigatoriedade de impugnação de todos
os fundamentos da decisão agravada somente é aplicável na hipótese de
agravo em recurso especial interposto contra a decisão do Tribunal de
origem que não admite o recurso especial, mas tal regra não deve ser
aplicada nas hipóteses de agravo regimental/interno interposto contra
decisões dos Ministros desta Corte Superior. Nas decisões monocráticas
proferidas no âmbito deste Tribunal Superior, inequivocamente, pode ser
reconhecida autonomia de fundamentos ou capítulos decisórios. Em tal
hipótese, o efeito devolutivo do agravo regimental/interno permite ao
julgador decidir estritamente nos limites estabelecidos pelo agravante nos
referidos recursos. Assim, a incidência da Súmula 182/STJ e a expressa
previsão legal contida no art. 1.021, § Io, do CPC/2015, terá incidência nas
hipóteses em que o agravante não apresenta impugnaçâo aos fundamentos
da decisão monocrática do Ministro do STJ ou se houver na decisão
agravada capítulo autônomo impugnado parcialmente, ou seja, não
impugnaçâo de um dos fundamentos sobrepostos no mesmo capítulo. A
interpretação por analogia do dispositivo regimental específico do agravo
em recurso especial no âmbito do agravo interno, considerando a
expressão todos, exigiria do recorrente a impugnaçâo de pontos autônomos
contra os quais não mais existiria interesse da parte em recorrer, o que
contraria a lógica da preclusão processual".
CONCLUSÃO
21. No entendimento do acórdão embargado, não merece conhecimento o
Agravo Interno (art. 1.021 do CPC) quanto ao mérito se a parte interessada,
livre, espontânea e conscientemente, desistir de impugnar matérias
autônomas e secundárias (no caso em julgamento a inépcia da inicial e o
dissídio jurisprudencial), que não guardam relação alguma com a matéria de
fundo do recurso, deixando-as precluir, para se concentrar no cerne da
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questão.
22. Já os acórdãos paradigmas decidiram de forma diametralmente oposta:
"havendo capítulos autônomos na decisão que julgou monocraticamente o
recurso especial, a parte sucumbente pode impugnar somente alguns dos
capítulos, deixando precluir os demais, hipótese em que o regimental deve
ser conhecido em relação aos capítulos impugnados".
23. Pelo exposto, Agravo Interno provido, afastando-se a incidência
da Súmula 315/STJ e determinando-se o processamento dos
Embargos de Divergência em Recurso Especial (mediante intimação
da parte contrária, para apresentar a devida impugnação aos
Embargos).

Apresentada impugnação pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, que


aderiu aos argumentos da embargante.
O Ministério Público Federal opinou pelo provimento dos embargos (fls.
4.096-4.104).
É o relatório.

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EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.424.404 - SP (2013/0230570-3)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
EMBARGANTE : MORRO AZUL CONSTRUCOES E COMERCIO LTDA
ADVOGADOS : CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG E OUTRO(S) -
DF008282
PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE E OUTRO(S) -
DF003333
JAIRO AZEVEDO FILHO - SP094023
RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118
JAIRA ROBERTA AZEVEDO CARVALHO E OUTRO(S) - SP117669
EMBARGADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTERES. : MUNICÍPIO DE IRACEMÁPOLIS
ADVOGADO : FABRÍCIO TADEU NARDO E OUTRO(S) - SP198438
EMENTA

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL


CIVIL. AGRAVO INTERNO. DESNECESSIDADE DE IMPUGNAÇÃO DE
TODOS OS CAPÍTULOS AUTÔNOMOS E/OU INDEPENDENTES DA
DECISÃO MONOCRÁTICA AGRAVADA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA
182/STJ.
1. A regra da dialeticidade — ônus do recorrente de apresentar os
fundamentos de sua irresignação — constitui reflexo do princípio
constitucional do contraditório e da necessária interação dialógica entre as
partes e o magistrado, revelando-se como a outra face da vedação do
arbítrio, pois, se o juiz não pode decidir sem fundamentar, "a parte não
pode criticar sem explicar" (DOTTI, Rogéria. Todo defeito na
fundamentação do recurso constitui vício insanável? Impugnação
específica, dialeticidade e o retorno da jurisprudência defensiva. In: NERY
JUNIOR, Nelson; ALVIM, Teresa Arruda; OLIVEIRA, Pedro Miranda de
[coord.]. Aspectos polêmicos dos recursos cíveis e assuntos afins.
Volume 14 [livro eletrônico]. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018).
2. Tal dever de fundamentação da pretensão de reforma do provimento
jurisdicional constitui requisito extrínseco de admissibilidade dos recursos,
que se enquadra na exigência de regularidade formal.
3. Nada obstante, via de regra, é possível eleger, em consonância com o
interesse recursal, quais questões jurídicas — autônomas e
independentes — serão objeto da insurgência, nos termos do artigo 1.002
do CPC de 2015. Assim, "considera-se total o recurso que abrange 'todo
o conteúdo impugnável da decisão recorrida', porque toda ela pode não
ser impugnável; e parcial o recurso que, por abstenção exclusiva do
recorrente, 'não compreenda a totalidade do conteúdo impugnável da
decisão'" (ASSIS, Araken de. Manual dos recursos [livro eletrônico]. 4. ed.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021).
4. O citado dispositivo legal — aplicável a todos os recursos — somente
deve ser afastado quando há expressa e específica norma em sentido
contrário, tal como ocorre com o agravo contra decisão denegatória de
admissibilidade do recurso especial, tendo em vista o mandamento
insculpido no artigo 253, parágrafo único, inciso II, alínea "a", do RISTJ,
segundo o qual compete ao relator não conhecer do agravo "que não
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tenha impugnado especificamente todos os fundamentos da decisão
recorrida".
5. Sobre a aludida modalidade de recurso — agravo do artigo 544 do CPC
de 1973, atualmente disciplinado pelo artigo 1.042 do CPC de 2015 —, a
Corte Especial fixou a orientação no sentido de ser inafastável o dever do
recorrente de impugnar especificamente todos os fundamentos que
levaram à inadmissão do apelo extremo, não se podendo falar, na
hipótese, em decisão cindível em capítulos autônomos e independentes
(EAREsps 701.404/SC, 746.775/PR e 831.326/SP, relator Ministro João
Otávio de Noronha, relator para acórdão Ministro Luis Felipe Salomão,
Corte Especial, julgado em 19.9.2018, DJe 30.11.2018).
6. Como se constata, essa orientação jurisprudencial se restringe ao
Agravo em Recurso Especial (AREsp) — ante a incindibilidade da
conclusão exarada no juízo prévio negativo de admissibilidade do apelo
extremo —, não alcançando, portanto, o Agravo Interno no Recurso
Especial (AgInt no REsp) nem o Agravo Interno no Agravo em Recurso
Especial (AgInt no AREsp), haja vista a possibilidade, em tese, de a
decisão singular do relator ser decomposta em "capítulos", vale dizer
unidades elementares e autônomas do dispositivo contido no provimento
jurisdicional objeto do recurso.
7. A autonomia dos capítulos da sentença — lato sensu — apresenta dois
significados: (i) o da possibilidade de cada parcela do petitum ser objeto
de um processo separado, sendo meramente circunstancial a junção de
várias pretensões em um único processo; e (ii) o da regência de cada
pedido por pressupostos próprios, "que não se confundem
necessariamente nem por inteiro com os pressupostos dos demais"
(DINAMARCO, Cândido Rangel. Capítulos de sentença. São Paulo: 2002,
Malheiros, pp. 43-44).
8. O renomado autor aponta, ainda, a possibilidade de a decisão judicial
conter "capítulos independentes" e "capítulos dependentes". Nessa
perspectiva, destaca que a dependência entre capítulos sentenciais se
configura: (i) quando constatada relação de prejudicialidade entre duas
pretensões, de modo que o julgamento de uma delas (prejudicial)
determinará o teor do julgamento da outra (prejudicada); e (ii) entre o
capítulo portador do julgamento do mérito e aquele que decidiu sobre a
sua admissibilidade (DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., pp. 44-46).
9. Diante desse contexto normativo e doutrinário, deve prevalecer a
jurisprudência desta Corte no sentido de que a ausência de impugnação,
no agravo interno, de capítulo autônomo e/ou independente da decisão
monocrática do relator — proferida ao apreciar recurso especial ou agravo
em recurso especial — apenas acarreta a preclusão da matéria não
impugnada, não atraindo a incidência da Súmula 182 do STJ.
10. Ressalte-se, contudo, o dever da parte de refutar "em tantos quantos
forem os motivos autonomamente considerados" para manter os
capítulos decisórios objeto do agravo interno total ou parcial (AgInt no
AREsp 895.746/SP, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, julgado em 9.8.2016, DJe 19.8.2016).
11. Embargos de divergência providos para afastar a aplicação da Súmula
182/STJ em relação ao agravo interno, que deve ser reapreciado pela
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Primeira Turma desta colenda Corte.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

2. Superado o debate sobre a admissibilidade dos presentes embargos de


divergência, a controvérsia submetida a esta Corte Especial está em definir se a falta de
impugnação, no agravo interno, de capítulo autônomo da decisão monocrática que
aprecia o recurso especial conduz apenas à preclusão da matéria ou configura ofensa
ao princípio da dialeticidade, ensejando o não conhecimento do reclamo, ante a
incidência da Súmula 182/STJ.
No julgamento turmário, o eminente Ministro Benedito Gonçalves proferiu
decisão monocrática conhecendo parcialmente do recurso especial da ora embargante —
interposto com amparo nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional — e, nessa
extensão, negando-lhe provimento, por considerar: (i) não configurada a alegada violação do
artigo 535 do CPC de 1973; (ii) inviável o reexame da efetiva comprovação do elemento
subjetivo do tipo, da existência de dano ao erário público e da proporcionalidade das sanções
aplicadas em face do ato de improbidade administrativa supostamente praticado, em virtude
do óbice da Súmula 7/STJ; (iii) que não há falar em inépcia da inicial da ação civil pública —
que aponta a prática de ato de improbidade administrativa —, tendo em vista a regular
descrição das condutas e a formulação do respectivo pedido condenatório; e (iv) a incidência
da Súmula 284/STF, ante a falta de comprovação da divergência jurisprudencial suscitada no
que diz respeito à negativa de prestação jurisdicional.
No agravo interno, a sociedade empresária apresentou argumentos para
rebater as conclusões do relator acerca: (i) da violação do artigo 535 do CPC de 1973; e (ii)
da incidência da Súmula 7/STJ.
A Primeira Turma não conheceu do reclamo por considerar incidente a Súmula
182/STJ, uma vez não impugnados "os fundamentos referentes à Súmula 284/STF e à não
ocorrência de inépcia da petição inicial".
3. Convém assinalar, de início, que a função nomofilácica das Cortes
Superiores, amparada nos valores da isonomia e da Segurança Jurídica, à luz do artigo 926
do CPC de 2015, impõe aos Tribunais o dever de uniformização de sua jurisprudência,
mantendo-a estável, íntegra e coerente.
Nesse mister, procedendo-se ao exame de julgados desta Corte sobre a
compreensão do ônus de dialeticidade do agravo interno — com base na Súmula 182 e nas
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normas contidas no Regimento Interno do STJ e no CPC de 2015 —, observa-se a existência
de três orientações distintas:
(i) a parte agravante deve infirmar todos os capítulos da decisão singular
do relator, autônomos ou não, mostrando-se inadmissível, por ausência de
dialeticidade, o recurso que não se insurge contra todos eles (AgInt no AREsp
1.616.546/SC, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em
22.6.2020, DJe 29.6.2020; e AgInt no REsp 1.707.858/RJ, relatora Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 1º.4.2019, DJe 3.4.2019);
(ii) a falta de impugnação, no agravo interno, de capítulo autônomo da
decisão recorrida conduz apenas à preclusão da matéria (AgInt no AgInt no REsp
1.877.496/SP, relator Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em 11.10.2021,
DJe 18.10.2021; AgInt no AREsp 1.777.892/MS, relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma,
julgado em 23.8.2021, DJe 26.8.2021; AgInt no AgInt no AREsp 1.556.441/SP, relator
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 19.10.2020, DJe 26.10.2020;
AgInt no REsp 1.519.438/SP, relator Ministro Raul Araújo, relatora para acórdão Ministra
Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 17.12.2019, DJe 16.3.2020; e AgInt no AgInt
no REsp 1.470.616/PR, relator Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em
3.10.2019, DJe 5.10.2021); e
(iii) afasta-se a incidência da Súmula 182/STJ quando, embora o agravo
interno não impugne todos os capítulos da decisão monocrática, a parte recorrente
manifesta, expressamente, a concordância com a solução adotada pelo julgador
acerca de questão independente que não afete a análise do mérito da irresignação
(AgRg no AREsp 361.518/SP, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma,
julgado em 10.8.2021, DJe 16.8.2021; AgInt nos EDcl no AgInt no AREsp 1.701.883/AM,
relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 7.6.2021, DJe 1º.7.2021;
AgInt no REsp 1.845.927/RS, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado
em 24.5.2021, DJe 26.5.2021; AgInt no REsp 1.890.708/SP, relatora Ministra Regina Helena
Costa, Primeira Turma, julgado em 26.10.2020, DJe 29.10.2020; e AgInt no REsp
1.518.882/SC, relator Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 18.2.2019, DJe
21.2.2019).
4. Com efeito, a Súmula 182/STJ possui a seguinte redação: "É inviável o
agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da
decisão agravada."
Como se observa, a redação literal da aludida súmula jurisprudencial enuncia
requisito extrínseco de admissibilidade do agravo regimental em agravo — contra
inadmissão do recurso especial —, o qual foi positivado, de forma mais ampla, com o

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advento do CPC de 2015, cujos artigos 932, inciso III, e 1.021, § 1º, assim preceituam:
Art. 932. Incumbe ao relator:
[...]
III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não
tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão
recorrida;
[...]
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para
o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as
regras do regimento interno do tribunal.
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará
especificadamente os fundamentos da decisão agravada.
[...]

No mesmo diapasão, o Regimento da Casa contém as seguintes regras sobre


o ônus da dialeticidade:
Art. 21-E. São atribuições do Presidente antes da distribuição:
[...]
V - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tiver
impugnado especificamente todos os fundamentos da decisão
recorrida;
[...]
Art. 34. São atribuições do relator:
[...]
XVIII - distribuídos os autos:
a) não conhecer do recurso ou pedido inadmissível, prejudicado ou
daquele que não tiver impugnado especificamente todos os
fundamentos da decisão recorrida;
[...]
Art. 253. O agravo interposto de decisão que não admitiu o recurso especial
obedecerá, no Tribunal de origem, às normas da legislação processual
vigente.
Parágrafo único. Distribuído o agravo e ouvido, se necessário, o
Ministério Público no prazo de cinco dias, o relator poderá:
I - não conhecer do agravo inadmissível, prejudicado ou daquele que
não tenha impugnado especificamente todos os fundamentos da
decisão recorrida;
II - conhecer do agravo para:
a) não conhecer do recurso especial inadmissível, prejudicado ou
daquele que não tenha impugnado especificamente todos os
fundamentos da decisão recorrida;
[...]
Art. 255. O recurso especial será interposto na forma e no prazo
estabelecido na legislação processual vigente e recebido no efeito
devolutivo, salvo quando interposto do julgamento de mérito do incidente de
resolução de demandas repetitivas, hipótese em que terá efeito suspensivo.
[...]
§ 4º Distribuído o recurso, o relator, após vista ao Ministério Público,
se
necessário, pelo prazo de vinte dias, poderá:
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I - não conhecer do recurso especial inadmissível, prejudicado ou que
não
tiver impugnado especificamente os fundamentos da decisão
recorrida;
[...]
Art. 259. Contra decisão proferida por Ministro caberá agravo interno para
que o respectivo órgão colegiado sobre ela se pronuncie, confirmando-a ou
reformando-a.
§ 1º O órgão do Tribunal competente para conhecer do agravo é o que
seria competente para o julgamento do pedido ou recurso.
§ 2º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará
especificadamente os fundamentos da decisão agravada.
[...]

Deveras, "entende-se por impugnação específica a explicitação dos elementos


de fato e as razões de direito que permitam ao órgão ad quem individuar com precisão o error
in iudicando ou o error in procedendo alegados no recurso" (ASSIS, Araken de. Manual dos
recursos [livro eletrônico]. 4. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021).
Tal dever de fundamentação da pretensão de reforma do provimento
jurisdicional constitui requisito extrínseco de admissibilidade dos recursos, que se enquadra
na exigência de regularidade formal.
Com efeito, a regra da dialeticidade — ônus do recorrente de apresentar os
fundamentos de sua irresignação — constitui reflexo do princípio constitucional do
contraditório e da necessária interação dialógica entre as partes e o magistrado, revelando-se
como a outra face da vedação do arbítrio, pois, se o juiz não pode decidir sem fundamentar,
"a parte não pode criticar sem explicar" (DOTTI, Rogéria. Todo defeito na fundamentação do
recurso constitui vício insanável? Impugnação específica, dialeticidade e o retorno da
jurisprudência defensiva. In: NERY JUNIOR, Nelson; ALVIM, Teresa Arruda; OLIVEIRA, Pedro
Miranda de. [coord.]. Aspectos polêmicos dos recursos cíveis e assuntos afins. Volume 14
[livro eletrônico]. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018).
No mesmo diapasão, Araken de Assis assinala:
Sem cotejar as alegações do recurso e a motivação do ato impugnado,
mostrar-se-á impossível ao órgão ad quem avaliar o desacerto do ato, a
existência de vício de juízo (error in iudicando), o vício de procedimento
(error in procedendo) ou o defeito típico que enseja a declaração do
provimento. A motivação do recurso delimita a matéria impugnada (art.
1.013, caput). É essencial, portanto, à predeterminação da extensão
e profundidade do efeito devolutivo. Por outro lado, a falta da
motivação prejudica o contraditório: desconhecendo as razões do
recorrente, o recorrido não pode se opor eficazmente à pretensão
recursal. Daí, a necessidade de o relator abrir o prazo de resposta, a fim
de assegurar o efetivo diálogo das partes, conforme prevê em caso
específico o art. 1.024, § 3.º. (Assis, Araken de. Op. cit.)

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Superior Tribunal de Justiça
Nada obstante, via de regra, é possível eleger, em consonância com o
interesse recursal, quais questões jurídicas — autônomas e independentes — serão
objeto da insurgência, nos termos do artigo 1.002 do CPC de 2015:
Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte.

Assim, "considera-se total o recurso que abrange 'todo o conteúdo impugnável


da decisão recorrida', porque toda ela pode não ser impugnável; e parcial o recurso que,
por abstenção exclusiva do recorrente, 'não compreenda a totalidade do conteúdo
impugnável da decisão'" (ASSIS, Araken de. Op. cit.).
O citado dispositivo — aplicável a todos os recursos — somente deve ser
afastado quando há expressa e específica norma em sentido contrário, tal como ocorre com
o agravo contra decisão denegatória de admissibilidade do recurso especial, tendo em
vista o mandamento insculpido no supracitado artigo 253, parágrafo único, inciso II, alínea
"a", do RISTJ, segundo o qual compete ao relator não conhecer do agravo "que não tenha
impugnado especificamente todos os fundamentos da decisão recorrida".
Sobre a aludida modalidade de recurso — agravo do artigo 544 do CPC de
1973, atualmente disciplinado pelo artigo 1.042 do CPC de 2015 —, a Corte Especial, por
ocasião do julgamento dos EAREsps 701.404/SC, 746.775/PR e 831.326/SP, fixou a
orientação no sentido de ser inafastável o dever do recorrente de impugnar especificamente
todos os fundamentos que levaram à inadmissão do apelo extremo, não se podendo
falar, na hipótese, em decisão cindível em capítulos autônomos e independentes. Confira-se:
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA DE TODOS OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA.
ART. 544, § 4º, I, DO CPC/1973. ENTENDIMENTO RENOVADO PELO
NOVO CPC, ART. 932.
1. No tocante à admissibilidade recursal, é possível ao recorrente a eleição
dos fundamentos objeto de sua insurgência, nos termos do art. 514, II, c/c o
art. 505 do CPC/1973. Tal premissa, contudo, deve ser afastada quando
houver expressa e específica disposição legal em sentido contrário, tal
como ocorria quanto ao agravo contra decisão denegatória de
admissibilidade do recurso especial, tendo em vista o mandamento
insculpido no art. 544, § 4º, I, do CPC, no sentido de que pode o relator
"não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha
atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada" - o que foi
reiterado pelo novel CPC, em seu art. 932.
2. A decisão que não admite o recurso especial tem como escopo
exclusivo a apreciação dos pressupostos de admissibilidade
recursal. Seu dispositivo é único, ainda quando a fundamentação
permita concluir pela presença de uma ou de várias causas
impeditivas do julgamento do mérito recursal, uma vez que registra,
de forma unívoca, apenas a inadmissão do recurso. Não há, pois,
capítulos autônomos nesta decisão.
3. A decomposição do provimento judicial em unidades autônomas
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tem como parâmetro inafastável a sua parte dispositiva, e não a
fundamentação como um elemento autônomo em si mesmo,
ressoando inequívoco, portanto, que a decisão agravada é
incindível e, assim, deve ser impugnada em sua integralidade, nos
exatos termos das disposições legais e regimentais.
4. Outrossim, conquanto não seja questão debatida nos autos, cumpre
registrar que o posicionamento ora perfilhado encontra exceção na hipótese
prevista no art. 1.042, caput, do CPC/2015, que veda o cabimento do
agravo contra decisão do Tribunal a quo que inadmitir o recurso especial,
com base na aplicação do entendimento consagrado no julgamento de
recurso repetitivo, quando então será cabível apenas o agravo interno na
Corte de origem, nos termos do art. 1.030, § 2º, do CPC.
5. Embargos de divergência não providos. (EAREsp's 701.404/SC,
746.775/PR e 831.326/SP, Relator Ministro João Otávio de Noronha, Relator
para Acórdão Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em
19.9.2018, DJe 30.11.2018)

Como se constata, essa orientação jurisprudencial se restringe ao Agravo em


Recurso Especial (AREsp) — ante a incindibilidade da conclusão exarada no juízo prévio
negativo de admissibilidade do apelo extremo —, não alcançando, portanto, o Agravo
Interno no Recurso Especial (AgInt no REsp) nem o Agravo Interno no Agravo em
Recurso Especial (AgInt no AREsp), tendo em vista a possibilidade, em tese, de a decisão
singular do relator ser decomposta em "capítulos", vale dizer unidades elementares e
autônomas do dispositivo contido no provimento jurisdicional objeto do recurso.
Segundo lição de Cândido Rangel Dinamarco, a autonomia dos capítulos da
sentença — lato sensu — apresenta dois significados: (i) o da possibilidade de cada parcela
do petitum ser objeto de um processo separado, sendo meramente circunstancial a junção
de várias pretensões em um único processo; e (ii) o da regência de cada pedido por
pressupostos próprios, "que não se confundem necessariamente nem por inteiro com os
pressupostos dos demais" (DINAMARCO, Cândido Rangel. Capítulos de sentença. São
Paulo: 2002, Malheiros, pp. 43-44).
O renomado autor aponta, ainda, a possibilidade de a decisão judicial conter
"capítulos independentes" e "capítulos dependentes". Nessa perspectiva, destaca que
a dependência entre capítulos sentenciais se configura: (i) quando constatada relação de
prejudicialidade entre duas pretensões, de modo que o julgamento de uma delas
(prejudicial) determinará o teor do julgamento da outra (prejudicada); e (ii) entre o capítulo
portador do julgamento do mérito e aquele que decidiu sobre a sua admissibilidade.
Veja-se:
Outro discurso muito relevante é o que envolve capítulos independentes e
capítulos dependentes, bastante versado pela doutrina especializada. Aos
primeiros aludia Chiovenda, com a assertiva de que há a relação de
dependência entre capítulos sentenciais "quando um não pode
logicamente subsistir se o outro tiver sido negado". Essa
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dependência pode ser vista em todos os casos nos quais se
apresente uma relação de prejudicialidade entre duas pretensões,
de modo que o julgamento de uma delas (prejudicial) determinará o
teor do julgamento da outra (prejudicada) — como sucede quanto
aos juros, que constituem uma obrigação acessória e cuja
existência, por isso, fica a priori excluída quando o principal não for
devido. O mesmo vínculo existe entre os capítulos que dispõem
sobre a pretensão à rescisão contratual e sobre a pretensão à
restituição da coisa que fora objeto do contrato rescindendo,
ficando prejudicada a segunda em caso de rejeição da primeira; o
mesmo, ainda, na demanda de proteção possessória, cumulada com
pedido de indenização, sendo a primeira prejudicial em relação à
segunda.
[...]
Há dependência, também, do capítulo portador do julgamento do
mérito, em relação ao que decide sobre a admissibilidade desse
julgamento: não se chega àquele, caso o julgamento contido neste
seja de teor negativo, isto é, nas hipóteses em que o direito ao
provimento de mérito seja negado.
Há uma relevante diferença conceitual entre os casos de dependência entre
capítulos de mérito e os casos de dependência destes em relação a capítulos
puramente processuais.
Lá, tem-se uma relação de prejudicialidade, pela qual o teor do juízo sobre uma
das pretensões determinará o teor do juízo sobre a outra. Há prejudicialidade
lógica entre duas causas, quando a coerência exige que o pronunciamento
sobre uma delas seja tomado como precedente para o pronunciamento
subsequente; e a prejudicialidade torna-se relevante para o direito quando a isso
se acresce a prejudicialidade jurídica, representada pela igual natureza do juízo
relativo a essas duas causas. Quando o juiz desacolhe a pretensão pelo
principal, ele não deixa de julgar aquela relativa aos juros, mas rejeita-a também
(ambas as decisões são de mérito). O mesmo sucede quando é rejeitada a
pretensão à rescisão contratual ou a possessória, com a consequência de ser
improcedente o pedido de restituição ou o de ressarcimento etc. Diz-se que
nesses casos o segundo pedido ficou prejudicado.
Quando o juiz determina a extinção do processo ou afirma a sua incompetência
absoluta e manda que este seja remetido a outra sede, os capítulos referentes
ao mérito não chegam a ser julgados — diferentemente do que se nas
hipóteses acima, em que o julgamento da causa principal é condicionante do
teor do julgamento da prejudicada. O acolhimento de uma preliminar é
impeditivo do pronunciamento pelo mérito. Ressalva-se: em caso de preliminar
de incompetência absoluta, o julgamento a seu respeito far-se-á em sentença,
como capítulo inicial, se a preliminar for rejeitada; se for acolhida, ter-se-á uma
decisão interlocutória.
Em ambos os grupos de hipóteses existe uma relação de
subordinação, ou condicionamento, entre capítulos de sentença —
seja porque o teor de um deles pode impedir a emissão do outro
(preliminar), seja porque ele pode determinar o teor dos
subsequentes (prejudicados). E, assim como se chamam
dependentes os capítulos assim sujeitos a essas ordens de
influência, denominemos condicionantes os que exercem tais
influências sobre os demais. (DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., pp.
44-46)
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 20 de 5
Superior Tribunal de Justiça

5. Diante de tais premissas normativas e doutrinárias, penso que deve


prevalecer a jurisprudência desta Corte no sentido de que a ausência de impugnação, no
agravo interno, de capítulo autônomo e/ou independente da decisão monocrática do
relator proferida ao apreciar recurso especial ou agravo em recurso especial apenas
acarreta a preclusão da matéria não impugnada, não atraindo a incidência da Súmula
182 do STJ.
Eis as ementas dos julgados — indicadas no início do presente voto — que
retratam a referida orientação:
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - HABILITAÇÃO DE CRÉDITO
- DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO
RECLAMO PARA MAJORAR A VERBA HONORÁRIA. INSURGÊNCIA DO
DEMANDADO.
1. A impugnação, no agravo interno, de capítulos autônomos da
decisão recorrida induz a preclusão das matérias não impugnadas.
[...]
4. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp 1.717.429/RS, relator
Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 23.8.2021, DJe 26.8.2021)
-------------------------------------------------------------------------------
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO DE ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS.
INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 182/STJ À ESPÉCIE. PRAZO
PRESCRICIONAL. QUESTÃO JURÍDICA NÃO APRECIADA PELO TRIBUNAL
ESTADUAL. NECESSIDADE DE RETORNO DOS AUTOS À INSTÂNCIA DE
ORIGEM. TESE DE ALTERAÇÃO DA VERDADE DOS FATOS.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. MATÉRIA NÃO PREQUESTIONADA.
PRETENSÃO DE INCIDÊNCIA DAS PENAS POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
PREJUDICADA. TESE RESIDUAL. ANÁLISE PREJUDICADA. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. [...] não se aplica o enunciado n. 182 da Súmula deste Tribunal às
hipóteses em que o agravante procede à impugnação parcial, no
agravo interno, da decisão atacada, podendo a parte, no
mencionado recurso, insurgir-se apenas contra alguns capítulos
decisórios.
[...]
5. Agravo interno desprovido. (AgInt no AgInt no AREsp 1.556.441/SP,
relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em
19.10.2020, DJe 26.10.2020)
-------------------------------------------------------------------------------
[...] não há falar em incidência da Súmula 182 do STJ, consoante
requerido em contraminuta de agravo interno, tendo em vista que a
Quarta Turma do STJ, no precedente contido no AgInt no REsp
1519438-SP, por maioria, ressalvando o meu entendimento pessoal,
estabeleceu que a ausência de impugnação, no agravo interno, de
capítulo independente da decisão singular de mérito, proferida em
recurso especial - como no presente caso - apenas acarreta a
preclusão da matéria não impugnada, não atraindo a incidência da
Súmula 182 do STJ. (AgInt nos EDcl no REsp 1.773.569/DF, relator
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 21 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 31.8.2020, DJe
9.9.2020)
-------------------------------------------------------------------------------
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO
INTERNO. IMPUGNAÇÃO PARCIAL. POSSIBILIDADE. CPC/2015, ART.
1002. CAPÍTULO NÃO SUFICIENTE PARA SUA MANUTENÇÃO. SÚMULA N.
182/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC/1973.
OCORRÊNCIA. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM. DECISÃO MANTIDA.
1. Apenas a decisão de inadmissão do recurso especial é incindível
em capítulos autônomos, tornando imprescindível a impugnação
específica de todos os seus fundamentos.
2. "A ausência de impugnação, no agravo interno, de capítulo
independente da decisão singular de mérito, proferida em recurso
especial ou agravo, apenas acarreta a preclusão da matéria não
impugnada, não atraindo a incidência da Súmula 182/STJ" (AgInt no
REsp 1519438/SP, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe 16/03/2020).
[...]
5. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AgInt no AREsp
969.514/AM, relator Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado
em 29.6.2020, DJe 1º.7.2020)
-------------------------------------------------------------------------------
AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL. INÍCIO
ANTERIOR E DISSOLUÇÃO POSTERIOR À LEI 9.278/96. BENS
ADQUIRIDOS ONEROSAMENTE ANTES DE SUA VIGÊNCIA. DECISÃO
AGRAVADA. APLICAÇÃO RETROATIVIDADE. FUNDAMENTO ÚNICO E
SUFICIENTE. IMPUGNAÇÃO. SÚMULA 182/STJ. NÃO INCIDÊNCIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA MÍNIMA. SÚMULA 7/STJ.
1. A ausência de impugnação, no agravo interno, de capítulo
independente da decisão singular de mérito, proferida em recurso
especial ou agravo, apenas acarreta a preclusão da matéria não
impugnada, não atraindo a incidência da Súmula 182/STJ.
[...]
7. Agravo interno e recurso especial providos. (AgInt no REsp
1.519.438/SP, relator Ministro Raul Araújo, relatora para acórdão Ministra
Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 17.12.2019, DJe 16.3.2020)
-------------------------------------------------------------------------------
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO
INTERNO RECURSO ESPECIAL. NULIDADE. OMISSÃO VERIFICADA.
DISTINÇÃO ENTRE INSTITUTOS DO CHAMAMENTO AO PROCESSO E DO
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. ARGUMENTO NÃO ANALISADO
NA ORIGEM. AGRAVO INTERNO. IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. SÚMULA
182/STJ. CAPÍTULOS AUTÔNOMOS. NÃO INCIDÊNCIA. FUNDAMENTOS
ESSENCIAIS. INCIDÊNCIA.
1. A decisão agravada reconheceu a omissão por não ter a Corte de origem
se manifestado acerca do instituto do litisconsórcio passivo necessário,
limitando-se a afirmar descabido o chamamento ao processo.
2. Não incide a Súmula 182/STJ (É inviável o agravo do art. 545 do
CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da
decisão agravada) ao agravo interno se a decisão combatida possui
capítulos autônomos e algum deles deixa de ser impugnado, sendo
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 22 de 5
Superior Tribunal de Justiça
viável a apreciação dos demais.
3. A hipótese do agravo interno é diversa daquela do agravo contra
decisão de inadmissibilidade do recurso especial na origem,
porquanto esta, na linha da jurisprudência do STJ, possui capítulo
único, qual seja, o descabimento do especial.
4. Por outro lado, aplica-se a Súmula 182/STJ ao agravo interno que deixa
de contestar especificamente os fundamentos essenciais da decisão
agravada. Hipótese em que a agravante não infirmou a existência da
distinção apontada entre os institutos.
5. Agravo interno não conhecido. (AgInt no AgInt no REsp 1.470.616/PR,
relator Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 3.10.2019, DJe
5.10.2021)
-------------------------------------------------------------------------------
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CAPÍTULOS
AUTÔNOMOS. IMPUGNAÇÃO PARCIAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA 182 DO
STJ. INAPLICABILIDADE. DESAPROPRIAÇÃO. EXECUÇÃO DE
PRECATÓRIO. PRESCRIÇÃO. REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. SÚMULA 7.
1. A impugnação, no Agravo Regimental, de capítulos autônomos da
decisão recorrida apenas induz preclusão das matérias não
impugnadas, mas não impede o conhecimento do recurso, afastando
a incidência da Súmula 182 do STJ.
[...]
3. Agravo Regimental não provido. (AgRg no AREsp 837.454/SP, relator
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 13.12.2016, DJe
19.12.2016)
-------------------------------------------------------------------------------
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CAPÍTULOS
AUTÔNOMOS. IMPUGNAÇÃO PARCIAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA 182 DO
STJ. INAPLICABILIDADE. AÇÃO DE RESOLUÇÃO DE CONTRATO.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SÚMULA N. 284 DO STF. APRECIAÇÃO
EQUITATIVA. REVISÃO DE FATOS. SÚMULA N. 7 DO STJ. TERMO INICIAL
DA CORREÇÃO MONETÁRIA. MATÉRIA PRECLUSA. FUNDAMENTO DA
DECISÃO AGRAVADA INATACADO. JUROS DE MORA. INOVAÇÃO
RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE.
1. A impugnação, no agravo regimental, de capítulos autônomos da
decisão recorrida apenas induz preclusão das matérias não
impugnadas, mas não impede o conhecimento do recurso,
afastando-se a incidência da Súmula n. 182 do STJ.
[...]
6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1.382.619/PI, relator
Ministro João Otávio de Noronha, Terceira Turma, julgado em 6.10.2015,
DJe 9.10.2015)

Deveras, como bem ressaltado em precedente da Segunda Turma, a


interpretação das normas contidas no artigo 1.002 e no § 1º do artigo 1.021 do CPC de 2015
"resulta na conclusão de que a parte recorrente pode impugnar a decisão no todo ou em
parte, mas deve para cada um dos capítulos decisórios impugnados refutá-los em
tantos quantos forem os motivos autonomamente considerados para mantê-los" (AgInt
no AREsp 895.746/SP, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 23 de 5
Superior Tribunal de Justiça
em 9.8.2016, DJe 19.8.2016).
Também merece destaque o seguinte excerto do voto-vista do eminente
Ministro Mauro Campbell Marques proferido por ocasião do julgamento do EAREsp
746.775/PR (relator para Acórdão Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em
19.9.2018, DJe 30.11.2018):
[...] faço uma ressalva de extrema importância para evitar eventuais
equívocos de interpretação na aplicação da tese debatida no presente
processo.
A obrigatoriedade de impugnação de todos os fundamentos da decisão
agravada somente é aplicável na hipótese de agravo em recurso especial
interposto contra a decisão do Tribunal de origem que não admite o recurso
especial, mas tal regra não deve ser aplicada nas hipóteses de
agravo regimental/interno interposto contra decisões dos Ministros
desta Corte Superior.
Nas decisões monocráticas proferidas no âmbito deste Tribunal
Superior, inequivocamente, pode ser reconhecida autonomia de
fundamentos ou capítulos decisórios. Em tal hipótese, o efeito
devolutivo do agravo regimental/interno permite ao julgador decidir
estritamente nos limites estabelecidos pelo agravante nos referidos
recursos.
Assim, a incidência da Súmula 182/STJ e a expressa previsão legal
contida no art. 1.021, § 1º, do CPC/2015, terá incidência nas hipóteses
em que o agravante não apresenta impugnação aos fundamentos da
decisão monocrática do Ministro do STJ ou se houver na decisão
agravada capítulo autônomo impugnado parcialmente, ou seja, não
impugnação de um dos fundamentos sobrepostos no mesmo
capítulo.
A interpretação por analogia do dispositivo regimental específico do
agravo em recurso especial no âmbito do agravo interno,
considerando a expressão todos, exigiria do recorrente a
impugnação de pontos autônomos contra os quais não mais existiria
interesse da parte em recorrer, o que contraria a lógica da
preclusão processual.

A meu ver, tal exegese encontra reforço naqueles precedentes desta Corte que
pugnam pelo afastamento da aplicação da Súmula 182/STJ, malgrado exijam a renúncia
expressa do agravante sobre a parcela — autônoma e/ou independente — não impugnada:
PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. CORRUPÇÃO ATIVA. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
COLEGIALIDADE. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA N.
182/STJ. INCIDÊNCIA.
[...]
2. Ausente a impugnação específica dos fundamentos da decisão agravada,
não se pode conhecer do agravo regimental, em razão do óbice previsto na
Súmula n. 182 deste Tribunal Superior.
3. "Afasta-se a incidência da Súmula n. 182/STJ quando, embora o
Agravo Interno não impugne todos os fundamentos da decisão
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 24 de 5
Superior Tribunal de Justiça
recorrida, a parte recorrente manifesta, expressamente, a
concordância com a solução alcançada pelo julgador, desde que o
capítulo em relação ao qual a desistência foi manifestada seja
independente e não interfira na análise do mérito da irresignação"
(AgInt no REsp n. 1763006/SP, relatora Ministra REGINA HELENA COSTA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 29/4/2019, DJe 2/5/2019), situação não
ocorrida na hipótese vertente.
4. Agravo regimental não conhecido. (AgRg no AREsp 361.518/SP, relator
Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, julgado em 10.8.2021,
DJe 16.8.2021)
-------------------------------------------------------------------------------
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. POSSIBILIDADE DE EXAME DO MÉRITO DA
IRRESIGNAÇÃO. NÃO APLICAÇÃO DA SÚMULA 182/STJ. ZONA FRANCA
DE MANAUS. BENEFÍCIO FISCAL. ISENÇÃO. PIS E COFINS. VENDA A
PESSOAS FÍSICAS E JURÍDICAS. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, §
4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO.
[...]
2. Afasta-se a incidência da Súmula 182/STJ quando, embora o
Agravo Interno não impugne todos os fundamentos da decisão
recorrida, a parte recorrente manifesta, expressamente, a
concordância com a solução alcançada pelo julgador, desde que o
capítulo em relação ao qual a desistência foi manifestada seja
independente e não interfira na análise do mérito da irresignação.
[...]
5. Agravo Interno não provido. (AgInt nos EDcl no AgInt no AREsp
1.701.883/AM, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado
em 7.6.2021, DJe 1º.7.2021)
-------------------------------------------------------------------------------
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS ADOTADOS NA
DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ. INCIDÊNCIA.
1. A ausência de impugnação específica aos fundamentos da decisão
agravada impõe o não conhecimento do recurso. Incidência da Súmula
182/STJ.
2. Segundo entendimento consolidado na Primeira Turma desta Corte,
admite-se o agravo interno parcial somente quando a parte
expressamente manifesta não só que sua irresignação é direcionada
apenas contra parcela específica da decisão agravada, mas também
que concorda com a solução alcançada pelo julgador na parte não
impugnada, desde que se trate de capítulo independente e não
interfira na análise do mérito da irresignação. Precedentes.
3. Agravo interno não conhecido. (AgInt no REsp 1.845.927/RS, relator
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 24.5.2021, DJe
26.5.2021)
-------------------------------------------------------------------------------
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE.
AGRAVO INTERNO QUE NÃO IMPUGNA TODOS OS FUNDAMENTOS DO
DECISUM. CONCORDÂNCIA EXPRESSA DA PARTE RECORRENTE COM O
CAPÍTULO AUTÔNOMO NÃO IMPUGNADO. POSSIBILIDADE DE EXAME DO
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 25 de 5
Superior Tribunal de Justiça
MÉRITO DA IRRESIGNAÇÃO. NÃO APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 182/STJ.
TRATADO INTERNACIONAL. IRRF. NÃO INCIDÊNCIA. REMESSAS AO
EXTERIOR. PAGAMENTO POR SERVIÇOS SEM TRANSFERÊNCIA DE
TECNOLOGIA. NATUREZA DO VALORES REMETIDOS AO EXTERIOR.
ACÓRDÃO EMBASADO EM PREMISSAS FÁTICAS. REVISÃO SÚMULA N.
7/STJ. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO.
[...]
II - Afasta-se a incidência da Súmula n. 182/STJ quando, embora o
Agravo Interno não impugne todos os fundamentos da decisão
recorrida, a parte recorrente manifesta, expressamente, a
concordância com a solução alcançada pelo julgador, desde que o
capítulo em relação ao qual a desistência foi manifestada seja
independente e não interfira na análise do mérito da irresignação.
[...]
VI - Agravo Interno improvido. (AgInt no REsp 1.890.708/SP, relatora
Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, julgado em 26.10.2020, DJe
29.10.2020)
-------------------------------------------------------------------------------
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. AUSÊNCIA
DE IMPUGNAÇÃO A TODOS OS FUNDAMENTOS ADOTADOS NA DECISÃO
AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ. INCIDÊNCIA.
1. Inviável a apreciação do agravo interno que deixa de atacar,
especificamente e de forma particularizada, os fundamentos da decisão
agravada, incidindo, na espécie, a Súmula 182/STJ.
2. Segundo entendimento consolidado da Primeira Turma desta Corte,
incumbe ao agravante se insurgir contra todos os capítulos
específicos e autônomos da decisão agravada, admitindo-se o
agravo interno parcial nas hipóteses em que há manifestação
expressa de que sua irresignação volta-se somente contra parcela
do julgado, havendo concordância com o restante. [...]
3. Agravo interno não conhecido. (AgInt no REsp 1.518.882/SC, relator
Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 18.2.2019, DJe
21.2.2019)

6. Nesse quadro, afigura-se impositivo o provimento dos presentes embargos


de divergência, devendo ser reformado o acórdão da Primeira Turma que, aplicando a
Súmula 182/STJ, não conheceu do agravo interno, que impugnou, especificamente, os
fundamentos da decisão monocrática acerca: (i) da rejeição da preliminar de negativa de
prestação jurisdicional (violação do artigo 535 do CPC de 1973); e (ii) da incidência da
Súmula 7/STJ impeditiva do reexame da efetiva comprovação do elemento subjetivo do tipo,
da existência de dano ao erário público e da proporcionalidade das sanções aplicadas em
face do ato de improbidade administrativa supostamente praticado.
Na hipótese, a falta de impugnação dos capítulos autônomos
remanescentes constantes da decisão monocrática do relator — atinentes à inépcia da
inicial da ação civil pública e à incidência da Súmula 284/STF no tocante à alegada
divergência jurisprudencial sobre a insuficiência da fundamentação exarada no acórdão

Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 26 de 5
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estadual — tem o condão apenas de conduzir à preclusão dos respectivos temas, uma
vez observado o disposto no artigo 1.002 do CPC de 2015, sem desrespeito ao ônus da
dialeticidade do agravo interno.
7. Ante o exposto, dou provimento aos embargos de divergência para afastar a
aplicação da Súmula 182/STJ em relação ao agravo interno, que deve ser reapreciado pela
Primeira Turma desta colenda Corte.
É como voto.

Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 27 de 5
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2013/0230570-3 PROCESSO ELETRÔNICO EREsp 1.424.404 /


SP

Números Origem: 00015988720098260320 15988720098260320 3200120090015988 412009 990103895827

PAUTA: 20/10/2021 JULGADO: 20/10/2021

Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. LINDÔRA MARIA ARAÚJO
Secretária
Bela. VÂNIA MARIA SOARES ROCHA

AUTUAÇÃO
EMBARGANTE : MORRO AZUL CONSTRUCOES E COMERCIO LTDA
ADVOGADOS : CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG E OUTRO(S) - DF008282
PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE E OUTRO(S) - DF003333
JAIRO AZEVEDO FILHO - SP094023
RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118
JAIRA ROBERTA AZEVEDO CARVALHO E OUTRO(S) - SP117669
EMBARGADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTERES. : MUNICÍPIO DE IRACEMÁPOLIS
ADVOGADO : FABRÍCIO TADEU NARDO E OUTRO(S) - SP198438

ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Contratos


Administrativos

SUSTENTAÇÃO ORAL
Esteve presente, tendo dispensado a sustentação oral, o Dr. Ronei Ribeiro dos Santos, pela
embargante.

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Corte Especial, por unanimidade, conheceu dos embargos de divergência e deu-lhes
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves, Raul Araújo, Paulo de Tarso Sanseverino, Maria
Isabel Gallotti, Sérgio Kukina, Nancy Andrighi, Laurita Vaz e Herman Benjamin votaram com o Sr.
Ministro Relator.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, João Otávio de Noronha,
Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 28 de 5
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Humberto Martins, Maria Thereza de Assis Moura, Og Fernandes e Mauro Campbell Marques.
Licenciado o Sr. Ministro Felix Fischer.
Convocado o Sr. Ministro Sérgio Kukina.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Jorge Mussi.

Documento: 2110279 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/11/2021 Página 29 de 5

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