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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


DEPARTAMENTE DE OCEANOGRAFIA E ECOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA

MARIANE SILVA COUTINHO

DIVERSIDADE DA MACROFAUNA BENTÔNICA DE


PRAIAS ARENOSAS NA APA COSTA DAS ALGAS-ES,
BRASIL

VITÓRIA
2013
MARIANE SILVA COUTINHO

DIVERSIDADE DA MACROFAUNA BENTÔNICA DE


PRAIAS ARENOSAS NA APA COSTA DAS ALGAS-ES,
BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de
Oceanografia e Ecologia da Universidade
Federal do Espírito Santo, como requisito
parcial para obtenção do grau de bacharel
em Oceanografia.
Orientador: Prof. Dr. Angelo Fraga
Bernardino.

VITÓRIA
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E ECOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA

MARIANE SILVA COUTINHO

DIVERSIDADE DA MACROFAUNA BENTÔNICA DE


PRAIAS ARENOSAS NA APA COSTA DAS ALGAS-ES,
BRASIL

COMISSÃO EXAMINADORA

___________________________________________
Prof. Dr. Angelo Fraga Bernardino
ORIENTADOR – UFES/DOC

___________________________________________
Prof. Jean Christophe Joyeux
EXAMINADOR INTERNO – UFES/DOC

___________________________________________
Ms. Lucas Barreto
EXAMINADOR EXTERNO
DIVERSIDADE DA MACROFAUNA BENTÔNICA DE PRAIAS ARENOSAS NA
APA COSTA DAS ALGAS-ES, BRASIL

Por

Mariane Silva Coutinho

Submetido como requisito parcial para a obtenção de grau de

Oceanógrafo

na

Universidade Federal do Espírito Santo

Abril de 2013

© Mariane Silva Coutinho

Por meio deste, o autor confere ao Colegiado do Curso de Oceanografia e ao


Departamento de Oceanografia e Ecologia da UFES permissão para reproduzir e
distribuir cópias parciais ou totais deste documento de trabalho de conclusão de curso
para fins não comerciais.

Assinatura da autora...................................................................................................
Curso de graduação em Oceanografia
Universidade Federal do Espírito Santo
23 de Abril de 2013

Certificado por............................................................................................................
Prof. Dr. Angelo Fraga Bernardino
Orientador

Certificado por ...........................................................................................................


Prof. Jean Christophe Joyeux
Examinador Interno - DOC/UFES

Certificado por ...........................................................................................................


Ms. Lucas Barreto
Examinador Externo

Aceito por ..................................................................................................................


Angelo Fraga Bernardino
Prof. Adjunto/Coordenador do Curso de Oceanografia
Universidade Federal do Espírito Santo
CCHN/DOC/UFES
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, pois sem sua força nunca teria chegado até
aqui.

Aos meus pais, que não mediram esforços para que meus sonhos fossem
realizados, sempre permanecendo ao meu lado e apoiando em todas as decisões,
inclusive na de ir para longe de casa.

A minha irmã, que apesar de toda implicância, sempre esteve disposta a ajudar e
aguentou a maior parte das minhas crises de estresse. A minha avó, sempre com
palavras animadoras e fazendo meus doces preferidos. A Fabrícia e Edvaldo, que
me acolheram como uma filha e sempre me socorrendo nos momentos de
desespero.

Ao meu orientador pela orientação e pelo esforço físico nas coletas. A todos os
integrantes do LabBentos e aos não integrantes que de uma forma ou de outra me
ajudaram durante o projeto.

Aos professores, sempre dispostos a passar conhecimento, contribuindo para


minha formação profissional.

Aos amigos que fiz na UFES muito obrigada pelos momentos de diversão,
congressos, estudos na madrugada e desespero conjunto antes das provas. Aos
amigos de fora da UFES, que mesmo longe e não presente no dia a dia, também
tiveram sua contribuição nessa caminhada. Não citarei nomes porque além de
serem um tanto bom, não correrei riscos de esquecer algum.

A UFES pela bolsa de iniciação científica para a realização do projeto.


RESUMO

Praias arenosas são ambientes de transição entre continentes e oceanos com


grande importância ecológica e econômica, que abrigam uma extensa
biodiversidade de organismos bentônicos. Mudanças na estrutura populacional e
dinâmica da fauna bentônica podem auxiliar na avaliação do estado ecológico de
praias, e contribuir no planejamento, gerenciamento e monitoramento ambiental de
regiões costeiras. Com amostragens de macrofauna e sedimento em duas praias,
este estudo objetivou obter uma base de dados sobre a macrofauna de praias em
uma porção do litoral do Espírito Santo, de forma a fornecer subsídios para futuras
avaliações quanto ao estado de conservação e representatividade espacial das
comunidades. Os grupos mais abundantes foram os poliquetas e crustáceos, que
respondem estruturalmente aos padrões de morfodinamismo e granulometria
praiais. As praias apresentaram uma composição faunística distinta, mas não
apresentam diferenças significativas locais entre faixas (20-500 m). A classe
granulométrica mais abundante foi a de areia fina que é uma influência na
composição da macrofauna, junto com a incidência de ondas.

Palavras chave: Diversidade. Bentos. Poliquetas.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema de mapa geológico da região de Santa Cruz, próxima às praias


da área de estudo. ............................................................................................... 14

Figura 2 - Parte do setor 3A, de Barra do Riacho a Ponta de Tubarão, ES. Legenda:
II – Meso unidade morfológica; a – Cordão litorâneo largo; III – Unidade
Morfodinâmica; b – Praia refletiva; c – Praia intermediária; E – Exposto; SE – Semi-
exposto. ← - Retrogradação. ............................................................................... 16

Figura 3- Delineamento amostral da praia. ......................................................... 18

Figura 4 - Classificação do sedimento de acordo com a Escala de Wentworth. . 19

Figura 5 – Esboço do equipamento, proposto por Emery (1961), utilizado para medir
perfis de praia....................................................................................................... 21

Figura 6 – Perfil Topográfico realizado para a praia de Putiri............................... 23

Figura 7 – Perfil Topográfico realizado para a praia dos Quinze.......................... 23

Figura 8 – Comparação das classes granulométricas, por Wentworth (Suguio,


1973), das Praias de Putiri e Dos Quinze. ........................................................... 24

Figura 9 - Análise PCA para granulometria. Legenda: PU: Praia de Putiri. 15: Praia
dos Quinze. .......................................................................................................... 24

Figura 10 – Porcentagem média de matéria orgânica encontrada nas praias de


Putiri e Dos Quinze. ............................................................................................. 25

Figura 11 – Porcentagem média de umidade nas praias de Putiri e dos Quinze. 25


Figura 12 – Abundância relativa dos grupos mais encontrados em ambas as praias.
Legenda: PR15- Praia dos Quinze; Put- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa 2;
Fx3- Faixa 3. ........................................................................................................ 26

Figura 13 – Abundância relativa dos poliquetas encontrados em ambas as praias.


Legenda: PR15- Praia dos Quinze; PRPU- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa
2; Fx3- Faixa 3. .................................................................................................... 27

Figura 14: Abundância relativa dos outros grupos encontrados em ambas as praias.
Legenda: PR15- Praia dos Quinze; Put- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa 2;
Fx3- Faixa 3. ........................................................................................................ 28

Figura 15 – Índice de riqueza de espécies encontradas nas Praias de Putiri e Dos


Quinze. Legenda: PR15- Praia dos Quinze; PRPU- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1;
Fx2- Faixa 2; Fx3- Faixa 3.................................................................................... 31

Figura 16 – Índice de Pielou das espécies encontradas nas Praias de Putiri e Dos
Quinze. Legenda: PR15- Praia dos Quinze; PU- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2-
Faixa 2; Fx3- Faixa 3. ........................................................................................... 31

Figura 17 – Índice de Shannon das espécies encontradas nas Praias de Putiri e


Dos Quinze. Legenda: PR15- Praia dos Quinze; PU- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1;
Fx2- Faixa 2; Fx3- Faixa 3.................................................................................... 31

Figura 18 – Gráfico Multi-Dimensional Scaling (MDS) das praias de Putiri e dos


Quinze, evidenciando os transectos. Legenda: PR15- Praia dos Quinze; PRPU-
Praia de Putiri. ...................................................................................................... 32

Figura 19 - Gráfico do tipo cluster das praias de Putiri e dos Quinze. Legenda:
PR15- Praia dos Quinze; PRPU- Praia de Putiri. ................................................. 32

Figura 20 - Curva de rarefação das Praias de Putiri e dos Quinze. Legenda: PR15-
Praia dos Quinze; PRPU- Praia de Putiri. ............................................................ 33
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados abióticos coletados durante o campo nas Praias de Putiri e Dos
Quinze. 22

Tabela 2- Densidade de cada faixa das praias de Putiri e dos Quinze. 26

Tabela 3- Ranking dos 5 morfotipos mais encontrados nas Praias de Putiri e Dos
Quinze e a média da abundância relativa de cada morfotipo. 28

Tabela 4 - Ranking dos morfotipos encontrados nas Praias de Putiri e Dos Quinze
e a média da abundância relativa de cada morfotipo. 29

Tabela 5 – Análise SIMPER da Praia dos Quinze com os 10 morfotipos mais


contribuintes. 33

Tabela 6 - Análise SIMPER da Praia de Putiri com os 10 morfotipos mais


contribuintes. 34

Tabela 7 – Ranking de dissimilaridade entre as praias de Putiri e Dos Quinze com


os 10 morfotipos mais contribuintes. 34
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10

2 OBJETIVO ........................................................................................................ 11

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 11

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 12

3 EMBASAMENTO TEÓRICO............................................................................. 12

3.1 PRAIS ARENOSAS ........................................................................................ 12

3.2 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA ................................................................ 13

3.3 ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................ 15

3.4 A FAUNA BENTÔNICA .................................................................................. 16

3.5 ADAPTAÇÕES À VIDA DE PRAIAS ARENOSAS ......................................... 17

4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 18

5 RESULTADOS .................................................................................................. 22

5.1 ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................ 22

5.2 CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA ................................................... 23

5.3 ESTRUTURA DA MACROFAUNA ................................................................. 26

6 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 35

7 CONCLUSÃO ................................................................................................... 37

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 39


10

1 INTRODUÇÃO

Praias arenosas são ambientes de transição entre continentes e oceanos, e possuem


grande importância ecológica e econômica, sendo hábitat de uma diversa biota
terrestre e marinha (Alongi, 1998; McLachlan & Erasmus, 1983). Dentre a extensa
biodiversidade existente em praias, organismos bentônicos que vivem enterrados nos
sedimentos estão entre os mais diversos e são representados tipicamente por
anelídeos poliquetas, moluscos e crustáceos (McLachlan & Brown, 2006).

Estes organismos se distribuem ao longo das praias de acordo com forçantes


hidrodinâmicas, químicas e biológicas; e dessa forma são distribuídos
diferencialmente em manchas e zonas praiais (McLachlan & Brown, 2006). Essas
manchas ocorrem através de separação passiva pelas ondas e swash, pela
concentração em áreas com maior disponibilidade de alimento, por variações
marcantes dos padrões abióticos ao longo de um perfil praial e por agregações
biológicas (Defeo & McLachlan, 2005; McLachlan & Brown, 2006). Praias do tipo
dissipativas, onde os grãos são mais finos, a inclinação é menor e a energia das ondas
é maior tendem a possuir um maior número de espécies, maior abundância e maior
biomassa do que praias refletivas. O primeiro tipo de praia também possui condições
favoráveis ao recrutamento larval (Defeo & McLachlan, 2005).

Alterações ambientais de origem antrópica podem ter um efeito significativo sobre a


biodiversidade em praias e sobre o funcionamento destes ambientes frente às
mudanças climáticas globais. Por serem sistemas com ampla complexidade físico-
química, os organismos bentônicos, além de serem dominantes no ambiente, são
sensíveis à perturbações, sendo portanto, uma ferramenta útil para monitorar a
conservação destas áreas (Barros, 2001; Veloso et al., 1997, Veloso et al., 2008;
Yong; Lim, 2009).

Animais de praias arenosas precisam ter adaptações diferenciadas em relação a


animais de outros habitats marinhos, pois eles são dependentes do hidrodinamismo
da praia, estando sujeitos a instabilidade do substrato e a ação de ondas. A mobilidade
deve ser rápida e eficiente, para que possam construir as tocas e manterem suas
posições na praia, e não serem varridos pelas ondas e espraiamento. A combinação
11

de um elevado grau de mobilidade e respostas aos estímulos ambientais levou a um


desenvolvimento de relógios endógenos adaptados a variação das marés durante a
noite e o dia, maximizando recursos alimentares e atenuando a predação (McLachlan
& Brown, 2006).

Mudanças na estrutura populacional e dinâmica da fauna bentônica em praias podem


fornecer uma rápida avaliação do estado ecológico destes ecossistemas. Frente à
criação da APA Costa das Algas no município de Aracruz-ES, espera-se que os
ecossistemas ali existentes apresentem altos níveis de preservação da biodiversidade
local, de processos ecológicos regulados pela biota e que atuem como eventuais
repositórios de espécies para regiões adjacentes. Porém, para atuar como repositório
de espécies e assegurar que os ecossistemas sob proteção sejam representativos
regionalmente, áreas de proteção ambiental devem ser avaliadas e monitoradas
criteriosamente (McLachlan & Brown, 2006; Veloso et al., 2008).

A partir do estudo de duas praias localizadas dentro de uma área de proteção


ambiental federal, pretende-se obter uma base de dados inédita a partir do
levantamento da biodiversidade existente, fornecendo subsídios para sua avaliação
quanto ao estado de conservação e representatividade espacial de suas
comunidades, através do teste das seguinte hipótese:

1. A biodiversidade bentônica de praias arenosas está associada aos regimes


morfodinâmicos locais e regionais.

2 OBJETIVO

2.1 OBJETIVO GERAL

Este estudo procura avaliar a biodiversidade local e regional (0,1 m – 10 km’s) da


macrofauna em duas praias arenosas dentro da APA Costa das Algas localizada no
município de Aracruz-ES.
12

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) determinar a estrutura da macrofauna (riqueza, composição, diversidade e


abundância) em cada praia para a construção de uma base de dados.
b) comparar a estrutura bentônica entre as praias, para verificar eventuais diferenças
espaciais e a resposta a elas.
c) estudar o regime morfodinâmico através do levantamento de dados de onda,
inclinação do perfil praial e granulometria para avaliar a interferência na estrutura da
comunidade.

3 EMBASAMENTO TEÓRICO

3.1 PRAIS ARENOSAS

Praias arenosas dominam a linha de costa, sendo um dos principais locais de


recreação do homem e o sustento de muitas economias costeiras pelo mundo,
possuindo um alto valor para a sociedade (Bascom, 1980; Schlacher et al.. 2007).
Este tipo de praia parece conter somente pilhas de areia, mas pelo contrário, podem
suportar uma imensa variedade de biodiversidade como os invertebrados, que devido
ao pequeno tamanho nem sempre são incluídos nos levantamentos de diversidade
(Schlacher et al., 2007). Também são fornecedoras de serviços ecológicos como
reciclagem de nutrientes, suporte da pesca costeira, fornecimento de habitats críticos
para forrageamento e nidificação, além da capacidade única de filtração de grandes
volumes de água do mar (McLachlan & Brown, 2006; McLachlan, 1989; Schlacher et
al., 2007).

Os valores e funções ecológicas de praias são frequentemente percebidos como


secundários em relação ao seu valor econômico. Uma possível razão seria que o
estudo ecológico de praias está emergindo somente agora e muitos princípios amplos
em ecologia de praias têm sido articulados recentemente (Defeo & Gómez, 2005;
Defeo & McLachlan, 2005; McLachlan & Dorvlo, 2005). Por exemplo, animais de
praias arenosas expõem uma gama de adaptações únicas para esta alta dinâmica,
13

ambientes tridimensionais, incluindo mobilidade e habilidade para cavar tocas,


comportamento rítmico, mecanismos avançados de sensoriamento e orientação
(Brown & McLachlan, 1990; Scapini et al., 1997; Brown, 1996). Com isso, a
similaridade, composição, diversidade e abundância das comunidades de fauna em
praias, geralmente são mais controladas por fatores físicos (clima de ondas,
propriedades do sedimento) do que por interações biológicas (McLachlan & Dorvlo,
2005).

As praias são consideradas armadilhas em um “estreitamento costeiro”, de um lado


estão cercadas pela urbanização e de outro, as mudanças ocorrida no mar, causadas
pelo clima, que ditam a sua dinâmica. Enquanto irrestritas, são resilientes, mudando
o formato e extensão naturalmente em resposta as tempestades e variações no clima
de ondas e correntes. Mas com as modificações antrópicas na zona costeira essa
flexibilidade foi severamente limitada (Nordstrom, 2000). Apesar de possuírem
vantagens únicas para sociedade, estas praias estão ameaçadas caso não ocorra
mudanças para sua conservação. Seu valor ecológico está em risco ao se tratar praias
arenosas como pilhas de areia desprovidas de vida. O prejuízo pode ter ramificações
na forma de danos irreversíveis a cruciais para as funções do ecossistema, perda da
biodiversidade e destruição de habitats críticos para espécies em extinção (McLachlan
& Brown, 2006; Schlacher et al., 2007).

3.2 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA

As condições geológicas e climáticas influenciam nos processos morfodinâmicos que


por sua vez irão interferir na evolução da região costeira (Albino et al., 2001). A
abundância do sedimento e as propriedades físicas dos grãos, como densidade,
tamanho, natureza e forma, são forçantes que determinam o transporte final do
sedimento em um ambiente, junto com o balanço sedimentar, que é constituído pelas
perdas e ganhos dentro de um sistema costeiro. Essas características, assim como a
fisiografia da costa são controladas pela evolução geológica. Enquanto que as
condições climáticas e oceanográficas são determinantes da dinâmica costeira, ao
controlar a energia dos agentes. Com essas informações, conclui-se que o processo
de ajustamento mútuo da topografia com a hidrodinâmica costeira envolvida no
14

transporte de sedimento definem a morfodinâmica costeira e a tipologia das praias


(Albino et al., 2001).

Os depósitos quaternários fazem parte da formação do Estado do Espírito Santo.


Esses depósitos são divididos em duas unidades geomorfológicas distintas e de
acordo com esta unidade, a região costeira do estado pode ser dividida em três
setores: o litoral norte, o litoral central e o litoral sul. A área de estudo deste trabalho,
encontra-se no primeiro setor, o do litoral norte, que vai do limite com o estado da
Bahia até a entrada da baía de Vitória, onde depósitos quaternários são delimitados
pela Formação Barreiras (Martin et al., 1996). Martin et al. (1996) fez uma outra
classificação para o litoral capixaba baseada somente nos depósitos quaternários e
dividida em seis setores. Para esta classificação a área de estudo encontra-se no
setor 3, que se estende de Barra do Riacho até a entrada da baía de Vitória, onde os
depósitos quaternários aos pés das falésias da Formação Barreiras, são poucos
desenvolvidos. Contudo ao longo de alguns vales de desembocadura de rios como
Piraquê, Piraquê Mirim e Reis Magos, estes depósitos estão mais extensivamente
distribuídos (Martin et al., 1996). A Erro! Fonte de referência não encontrada.
abaixo mostra a região de Santa Cruz, próxima às praias da área de estudo.

Figura 1 - Esquema de mapa geológico da região de Santa Cruz, próxima às praias da área de estudo.

Fonte: Albino, 1999.


15

3.3 ÁREA DE ESTUDO

As praias de Putiri e Dos Quinze, pertencem ao município de Aracruz, ES. Encontram-


se localizadas dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas, entre os
municípios da Serra, Fundão e Aracruz. Esta unidade de conservação tem como um
dos objetivos a proteção da biodiversidade costeira no estado, pois inclui
ecossistemas que suportam espécies residentes e migratórias que utilizam a área
para alimentação, reprodução e abrigo (IBAMA, acesso em 21 jun. 2012).

No setor 3 proposto por Martin et al. (1996), há um fraco desenvolvimento dos


depósitos quaternários no sopé das falésias da Formação Barreiras, podendo
encontrar locais onde estas se encontram diretamente com a praia. Próximo as
desembocaduras dos Rios Piraquê, Piraquê-Mirim e Reis Magos estes depósitos
estão mais bem desenvolvidos, enquanto que nas proximidades de Vitória são pouco
desenvolvidos. O pouco desenvolvimento das planícies costeiras neste setor,
principalmente em algumas partes como próximo a Vitória, pode ser explicado pelo
pequeno aporte de sedimentos fluviais, pois não existe nenhuma bacia hidrográfica
significativa, e pela vulnerabilidade abrasiva dos sedimentos marinhos (Albino, et al.,
2006).

Na plataforma continental interna e na antepraia são constatados terraços de abrasão


que dissipam a energia das ondas incidentes, reduzindo a amplitude de variação da
altura de ondas, resultando em uma pequena variação topográfica sazonal dos perfis
praiais. Esta feição também atua como armadilha para retenção de sedimento na
antepraia. De acordo com Albino (2001) a composição das areias é
predominantemente bioclástica, mesmo nas épocas chuvosas, onde o aporte de
sedimentos fluviais é maior.

As praias de Putiri dos Quinze são praias que apresentam uma retrogradação devido
ao pequeno aporte fluvial e vulnerabilidade abrasiva das areias carbonáticas, sendo
caracterizadas quanto ao grau de exposição como expostas e semi-expostas. Quanto
a classificação morfológica é formada pela meso unidade de cordão litorâneo largo,
enquanto que sua morfodinâmica é de praias refletivas (Albino et al., 2006).
16

Figura 2 - Parte do setor 3A, de Barra do Riacho a Ponta de Tubarão, ES. Legenda: II – Meso unidade
morfológica; a – Cordão litorâneo largo; III – Unidade Morfodinâmica; b – Praia refletiva; c – Praia
intermediária; E – Exposto; SE – Semi-exposto. ← - Retrogradação.

Fonte: Albino et. al., 2006

O clima da região é caracterizado por chuvas tropicais de verão e durante o outono e


inverno a estação seca, mas devido às massas polares que aturam durante o período
de seca pode ocorrer precipitações frontais de descargas. Os ventos de maior
frequência são provenientes de leste-nordeste, associados aos ventos alísios que
sopram durante a maior parte do ano. Enquanto que os de maior intensidade são de
sudeste, que estão relacionados as frentes frias que chegam frequentemente a costa
do estado. E a temperatura média anual é em torno de 22°C, sendo a mínima 15°C e
a máxima entre 28° e 30°C. O padrão de ventos influencia na direção das ondas, que
são principalmente de nordeste, mas também há ocorrências de sudeste. Este último
padrão, apesar de ser menos frequente, possui ondas com maior energia que o
primeiro, pois estas estão associadas com a entrada de frente fria (Albino et al.,2006).
De acordo com a Diretoria de Hidrografia Nacional, DHN, a amplitude de maré do
litoral do Espírito Santo varia de 1,40 a 1,50 m, portanto, é caracterizado como um
litoral de micromaré (< 2).

3.4 A FAUNA BENTÔNICA

Praias arenosas possuem representantes da maioria dos filos de invertebrados


marinhos, sendo a macrofauna bentônica a mais conhecida. A macrofauna (> 0,5 mm)
e a meiofauna (0,5 – 0,063 mm) são ecologicamente distintas, mas não são separadas
17

por critérios filogenéticos, portanto, pode ocorrer casos de uma única família ter
representantes larvais na meiofauna e representantes adultos na macrofauna. Muitos
gêneros da macrofauna são tipicamente de zona entre-marés, mas existem outros
característicos de bancos de areia, lama ou estuários, sendo menos encontrados em
praias arenosas abertas (McLachlan & Brown, 2006).

Um dos filos mais importantes e abundante são os annelida, sendo composto


principalmente pela classe polychaeta e subclasse oligochaeta. Os poliquetas são
abundantes tanto na macrofauna quanto na meiofauna, encontrando numerosas
famílias e gêneros, costumam dominar o sublitoral em areias relativamente abrigadas.
Já os oligochaetas são mais comumente encontrados na meiofauna, mas também
podem ocorrer na macrofauna, já que a diferença entre estes grupos está no tamanho
dos organismos. O filo molusca é tipicamente representado pelas classes bivalvia e
gastropoda. E por último o filo arthropoda, no caso de espécies marinhas
representado por crustáceos, que também possui representantes de várias ordens
como isopodas e amphipodas, que são comumente encontrados no supralitoral
(McLachlan & Brown, 2006).

3.5 ADAPTAÇÕES À VIDA DE PRAIAS ARENOSAS

Animais de praias arenosas necessitam ter adaptações especiais, que os distinguem


dos outros animais de outros habitats marinhos, pois estão sujeitos a instabilidade do
substrato juntamente com a ação de ondas. Com isso, eles desenvolveram o
comportamento de se enterrarem no sedimento, muito comum em animais que
habitam sedimento inconsolidado. Esta habilidade deve ser rápida e poderosa,
principalmente nas praias arenosas de alta energia, para que o animal não seja levado
pelas ondas e espraiamento, o que requer um alto grau de mobilidade da fauna,
implicando em uma necessidade de mecanismos capazes de manter a sua posição
ou de recuperá-la. Em praias mais abrigadas, particularmente de lama, são
necessárias adaptações respiratórias para tolerar a baixa concentração de oxigênio,
especialmente durante o período de maré vazante. Já para praias arenosas de alta
energia, essa concentração de oxigênio é elevada para profundidades de um metro
18

ou pouco mais abaixo na superfície da areia, o que não leva ao risco de ocorrer hipóxia
(McLachlan & Brown, 2006).

4 MATERIAIS E MÉTODOS

A coleta foi realizada durante o mês de julho de 2011 nas Praias de Putiri (19°54'20"S,
40°5'54"W) e dos Quinze (19°53′45.6″S 40°05′31.3″W), localizadas em Aracruz-ES.
Cada praia foi dividida em três faixas (Fx1, Fx2 e Fx3), separadas por 20-30 metros e
cada uma contendo três transectos aleatórios (TR1, TR2 E TR3 (Figura 3- Delineamento
amostral da praia.Figura 3). Cada transecto foi amostrado em 8-9 pontos distribuídos a
cada 4 metros na faixa entre-marés entre a linha d’água (maré baixa de sizígia) e a
restinga, totalizando 149 amostras. Para evitar a autocorrelação espacial entre os 8-9
pontos amostrais de cada transecto, este será considerado como uma unidade
amostral, ou seja, cada faixa irá possuir 3 réplicas. A macrofauna foi amostrada nos
20 cm superficiais com um corer (tubo de PVC de 20 cm de diâmetro), e amostragens
de sedimento para análises granulométricas e matéria orgânica foram realizadas em
um transecto por faixa, utilizando-se um corer de 7 cm de diâmetro e 10 cm de
profundidade (5 cm superficiais para matéria orgânica total).

Figura 3- Delineamento amostral da praia.

As amostras de fauna foram fixadas em formalina à 4%, e elutriadas. O método de


elutriação consiste em colocar a amostra em água corrente, por aproximadamente 10
minutos, em um recipiente que possua um local para água escorrer, misturando o
sedimento para que os organismos se soltem ficando retidos na peneira de malha de
0,5 mm. O sedimento retido na peneira (0,5mm) é triado sob lupa e os organismos
19

encontrados foram identificados no menor nível taxonômico possível, com a ajuda de


chaves de identificação, e os dados organizados em planilhas e tabelas para a
realização das análises estatísticas.

Para a análise de granulometria o sedimento foi lavado com água destilada, o número
de vezes necessárias para a retirada de sal, colocado na estufa à 60°C para secagem
e posteriormente pesado, peneirado a seco e classificado de acordo com a escala de
Wentworth (Suguio, 1973), representada na Figura 4 abaixo.

Figura 4 - Classificação do sedimento de acordo com a Escala de Wentworth.

Fonte: APRH

Para a análise da matéria orgânica as amostras coletadas em campo foram


congeladas até o processamento e analisadas de acordo com métodos rotineiros
(Suguio, 1973). Em laboratório as amostras foram descongeladas e homogeneizadas,
uma parte do sedimento coletado foi pesado (P1) em placa de petri pré-pesada e
identificada. Esta amostra na placa foi para estufa à 60°C por 48h, resfriada até a
temperatura ambiente e pesada novamente (P2) e calculado o conteúdo de água
20

perdido através da diferença entre P2 e P1. Aproximadamente 5g deste sedimento foi


transferido para um cadinho (PSpré), também pré-pesado e identificado, e levado à
calcinação na mufla por 450°C durante 4h. Após a calcinação a amostra foi resfriada
e pesada (PSpós) e o percentual de matéria orgânica (MO) foi calculado através da
fórmula abaixo e conjuntamente foi calculado a perda de umidade do sedimento.

% MOperdida = ((PSpré – Pspós) / PSpré) x 100

O perfil topográfico das praias foi determinado através de uma simples técnica
proposta por Emery (1961). Esta técnica utiliza duas balizas de madeira com 1,5
metros de comprimento, posicionados perpendicularmente à linha d’água. A diferença
de altura entre eles, medida em vários pontos, formará o perfil topográfico, como pode
ser visualizado na Figura 5. O estágio morfodinâmico (Ω) das praias será determinado
de acordo com parâmetros granulométricos e hidrodinâmicos (Wright & Short, 1984).
Também conhecido como Parâmetro de Dean, o estágio é aplicado para classificar as
praias, sendo que (Ω>6) indicam praias muito erodidas por ondas e por isso planas,
conhecidas como dissipativas, por outro lado, valores (Ω<1) indicam capacidade
limitada das ondas em erodir, ou seja, praias refletivas, e valores (1< Ω<6) indicam o
estágio intermediário. Este estágio é calculado pela fórmula:

Ω= Hb /W s x T

onde Hb é a altura da onda na arrebentação, T o período de onda e Ws é a velocidade


de decantação da areia da face praial (Wright & Short, 1984). Para o cálculo de W s,
calculou-se o diâmetro mediano da areia através do programa Gradstat V6 (Blott,
2008), que utiliza somente as amostras da zona de espraiamento, e de acordo com
Wiegel (1964) adaptado por Muehe (2001) obtêm-se a velocidade de decantação.
21

Figura 5 – Esboço do equipamento, proposto por Emery (1961), utilizado para medir perfis de praia.

Fonte: Emery (1961).

Em campo também foram coletados dados de temperatura e salinidade com a ajuda


de um multiparâmetro, além de medido o período e a altura de ondas. O período (T)
foi medido com um cronômetro o intervalo de tempo que onze cristas consecutivas
passaram por um ponto fixo e depois dividido por dez. Enquanto que, a altura de ondas
(Hb) foi estimada no momento de quebra, de cinco ondas e depois feita uma média.

As análises estatísticas univariadas (ANOVA), realizadas no primer, foram utilizadas


para descrever a estrutura das comunidades através de parâmetros de abundância,
riqueza, diversidade e equitatividade de espécies (software Primer-E, Clarke & Gorley,
2006). Primeiro foi feito uma transformação de raiz a quarta (Zar, 2010) nos dados de
abundância para posterior análise de similaridade pelo índice de Bray-Curtis. O teste
de permutação ANOSIM (one way) foi utilizado para avaliar a significância das
diferenças entre as praias a partir da análise de agrupamento representada no método
de ordenamento MDS (Masi e Zalmon, 2008). Já a análise através do procedimento
de porcentagem de similaridade (SIMPER) definiu o porcentual de contribuição dos
morfotipos nas praias estudadas. Com os dados de abundância também foram
calculadas as diferenças entre os parâmetros populacionais através do BioEstat
(software BioEstat 5.0). Análises multivariadas foram utilizadas para permitir o
agrupamento multi-espacial das comunidades ao longo dos gradientes físicos e
biológicos nas áreas de estudo (Primer-E V6, Clarke & Gorley, 2006). Análise de
Componentes Principais (PCA) é um dos métodos estatísticos de múltiplas variáveis
mais simples, sendo uma transformação linear ótima, que transforma os dados para
22

um novo sistema de coordenadas de forma que a maior variância por qualquer


projeção dos dados fica ao longo da primeira coordenada e a segunda maior variância
fica ao longo da segunda coordenada, e assim por diante. É um método muito utilizado
para o reconhecimento de padrões.

5 RESULTADOS

5.1 ÁREA DE ESTUDO

Os dados abióticos medidos em campo, como temperatura, salinidade, período de


onda, altura de onda e o estágio morfodinâmico (Ω) de ambas as praias encontram-
se na Erro! Fonte de referência não encontrada.. Ambas as praias estudadas são
classificadas como intermediárias, pois seu estágio morfodinâmico encontra-se 1< Ω
<6 (Wright & Short, 1984). Como pode ser observado o período e a altura de onda de
cada praia possuem valores próximos (7 s e 1,1m; respectivamente). A temperatura
da água variou entre 21 e 24 graus durante as amostragens, e a salinidade média
observada na praia de Putiri foi de 37,2 e na praia dos Quinze 36,3.

Tabela 1 – Dados abióticos coletados durante o campo nas Praias de Putiri e Dos Quinze.

Praia Estação Data Maré T (s) Hb (m) Temp. (oC) Sal. Ω


Putiri Inverno 14/07/11 Quadratura 7,83 1,16 21,9-23,4 36,3-38,1 4,36
Dos Quinze Inverno 15/07/11 Sizígia 7,23 1,19 22,2-23,9 34,9-37,7 4,84

Comparando os perfis nota-se que a praia de Putiri possui uma faixa de areia de maior
comprimento (32m) entre a restinga e a linha d’água que a praia dos Quinze (25m).
Essa diferença de comprimento não apresentou uma diferença significativa na
inclinação, podendo ser devido a diferença de maré durante as amostragens (Figura
6; Erro! Fonte de referência não encontrada.).
23

6
5

Altura (m)
4
3
2
1
0
-5 5 15 25 35
Distância (m)

Figura 6 – Perfil Topográfico realizado para a praia de Putiri.

6
5
Altura (m)

4
3
2
1
0
-5 5 15 25 35
Distância (m)

Figura 7 – Perfil Topográfico realizado para a praia dos Quinze.

5.2 CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA

O tamanho médio dos grãos na praia de Putiri é de areia média (29%) a fina (43%),
com grau de selecionamento baixo (Figura 8). Na praia dos Quinze também ocorreu
uma predominância de areia fina e média (38 e 21%, respectivamente), com um leve
aumento no teor de areia muito grossa e cascalho fino em comparação à praia de
Putiri (Figura 8).
24

100%
Lama
80%
areia muito fina
60%
areia fina

%
40%
areia média
20%
areia grossa
0%
areia muito grossa
Putiri Dos Quinze
Praias cascalho fino

Figura 8 – Comparação das classes granulométricas, por Wentworth (Suguio, 1973), das Praias de
Putiri e Dos Quinze.

A análise de componentes principais (PCA) para granulometria (Figura 9) indica que


a faixa 1 da praia de Putiri e as faixas 2 e 3 da praia dos Quinze estão correlacionados
ao primeiro eixo do PCA, enquanto as outras faixas estão com o segundo eixo. A faixa
1 da praia de Putiri é a maior responsável pela variabilidade dos dados, possuindo a
maior abundância de areia fina (62%). As outras faixas de Putiri possuem uma menor
variabilidade em relação a classificação granulométrica quando comparadas entre si,
sendo que a abundância de areia média (Fx2: 32%; Fx3: 37%) e grossa (Fx2: 21% e
Fx3: 19%) é muito maior do que na faixa 1 (18%; 6%). A faixa 1 da Praia dos Quinze
possui uma maior influência de cascalho fino (4%) e areia muito grossa (10%) do que
a faixa 1 de Putiri (0,1%; 1,5%). Sua variabilidade ao ser comparada com a faixa 3 é
pequena, mas é possível notar que a faixa 3 possui uma maior abundância de areia
grossa (18%) e muito grossa (11%).

Figura 9 - Análise PCA para granulometria. Legenda: PU: Praia de Putiri. 15: Praia dos Quinze.
25

Os sedimentos da praia de Putiri apresentam uma quantidade de matéria orgânica e


umidade similar ao serem comparados com a praia dos Quinze (p>0.05) (Figura 10;
Figura 11). A praia de Putiri apresentou uma maior variabilidade entre suas faixas,
com uma maior abundância de matéria orgânica na faixa 1 e menor na faixa 3,
enquanto que, a praia Dos Quinze apresentou o oposto, a faixa 3 com maior
abundância e a faixa 1 com menor. Esta última praia mostrou um padrão menos
variável entre suas faixas. Em relação a perda de umidade a praia dos Quinze
evidenciou uma menor variabilidade entre suas faixas do que a de Putiri, mas as duas
praias perderam uma maior quantidade de água na faixa 1.

2,5
% matéria orgânica

1,5

0,5

0
Putiri Dos Quinze
Praias

Figura 10 – Porcentagem média de matéria orgânica encontrada nas praias de Putiri e Dos Quinze.

20

15
% Umidade

10

0
Putiri Dos Quinze
Praias

Figura 11 – Porcentagem média de umidade nas praias de Putiri e dos Quinze.


26

5.3 ESTRUTURA DA MACROFAUNA

A abundância da macrofauna na Praia de Putiri foi similar à encontrada na praia dos


Quinze (5509,54 ± 604 ind./m2 e 9501 ± 510ind./m2, respectivamente). Foram
observadas pequenas oscilações na abundância da macrofauna entre faixas, de cada
praia, em ambas as praias (Tabela 2) (H= 8,04, p = 1,54). A praia de Putiri apresentou
uma maior densidade na faixa 3, enquanto que a Dos Quinze apresentou na faixa 2.

Tabela 2- Densidade de cada faixa das praias de Putiri e dos Quinze.

Praia/Faixa Densidade (ind./m2)


Put Fx1 1167,73
Put Fx2 1963,91
Put Fx3 2367,30
PR 15 Fx1 2749,46
PR 15 Fx2 3726,11
PR 15 Fx3 3014,86

A classe polychaeta foi a mais abundante em ambas as praias (>76%), seguida pela
ordem isopoda (>13%). Putiri apresentou uma maior abundância de polychaeta e
isopoda em relação a praia Dos Quinze, mas a ordem amphipoda foi mais abundante
na praia Dos Quinze (H= 10,8, p=0,06; Figura 12).

100%
Abundância relativa (%)

80%
60%
Outros
40%
Isopoda
20%
Amphipoda
0%
Polychaeta
Put Fx1Put Fx2Put Fx3 PR 15 PR 15 PR 15
Fx1 Fx2 Fx3
Praias/ Faixa

Figura 12 – Abundância relativa dos grupos mais encontrados em ambas as praias. Legenda: PR15-
Praia dos Quinze; Put- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa 2; Fx3- Faixa 3.

Os polychaetas não identificados foram agrupados em polychaetas indeterminados,


sendo composto por 10 morfotipos diferentes, que juntos foram os mais abundantes
27

dentre os poliquetas. Dentre os polychaetas identificados a nível de família, Spionidae


foi a família mais abundante nas duas praias, com representantes em todas as faixas.
A família Pisionidae também apresentou representantes em todas as faixas (Figura
13).

100%
Polichaetas
90% indeterminados
Spionidae
80%
Pisionidae
Abundância relativa (%)

70%
Phyllodocidae
60%
Opheliidae
50%

40% Lumbrineridae

30% Iospilidae

20% Goniadidae

10% Glyceridae

0% Capitellidae
PRPU Fx1 PRPU Fx2 PRPU Fx3 PR 15 Fx1 PR 15 Fx2 PR 15 Fx3
Praias/Faixa
Figura 13 – Abundância relativa dos poliquetas encontrados em ambas as praias. Legenda: PR15- Praia
dos Quinze; PRPU- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa 2; Fx3- Faixa 3.

Ao analisar os outros grupos encontrados percebe-se a dominância dos isopodas na


duas praias, mas principalmente na praia de Putiri. A alta abundância de anfípodes na
faixa central da praia Dos Quinze (>70%), contribuiu para que essa ordem fosse mais
abundante nesta praia. Uma explicação para isso seria a presença de algas, que foi
observada em maior quantidade do que na praia de Putiri. Os decapodas ocorreram
em toda as faixas de Putiri e somente em uma faixa da praia Dos Quinze.
28

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Put Fx1 Put Fx2 Put Fx3 PR 15 Fx1 PR 15 Fx2 PR 15 Fx3

Isopoda Decapoda Amphipoda Outros Bivalva

Figura 14: Abundância relativa dos outros grupos encontrados em ambas as praias. Legenda: PR15-
Praia dos Quinze; Put- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa 2; Fx3- Faixa 3.

O ranking dos 5 morfotipos mais encontrados nas praias de Putiri e Dos Quinze segue
abaixo de acordo com a abundância média encontrada (Tabela 3). Os polychaetas
indeterminados foram os mais abundantes nas praias, com abundância mínima de
38% na faixa 2 da Praia de Putiri e de 52% na faixa 1 da praia Dos Quinze. Isópodos
cirolanidae foram abundantes em ambas as praias, com 16% para Putiri e 12% para
Dos Quinze. Dentre os polychaetas identificados a família Spionidae e Pisionidae,
foram as mais abundantes. Os spionidae ocorreram em maior quantidade na faixa 1,
com 20% para Putiri e 27% para praia Dos Quinze, enquanto que os pisionidae foi
mais abundante na faixa 2 em Putiri com 20% e na faixa 3 na praia Dos Quinze com
3%. A diferença entre as praias foi na quinta posição do ranking na classe
malacostraca, onde a praia de Putiri apresentou os emeritas como mais abundantes
e a Dos Quinze os talitridaes, a presença desta última família indica a maior
abundância de amphipodas encontradas na praia Dos Quinze.

Tabela 3- Ranking dos 5 morfotipos mais encontrados nas Praias de Putiri e Dos Quinze e a média da
abundância relativa de cada morfotipo.

Média da abundância
Média da abundância
Morfotipo Morfotipo relativa da Praia dos
relativa de Putiri (%)
Quinze (%)
Polychaetas Polychaetas
indeterminados 43,36 indeterminados 60,01
Cirolanidae 16,07 Spionidae 13,10
Spionidae 14,43 Cirolanidae 12,41
Pisionidae 13,80 Pisionidae 2,83
29

Emerita 1,80 Talitridae 2,47

O ranking com todos os morfotipos encontrados nas duas praias foi classificado de
acordo com a abundância de cada um. Foram observados 48 diferentes morfotipos.
Como esperado os poliquetas assumem as primeiras posições

Tabela 4 - Ranking dos morfotipos encontrados nas Praias de Putiri e Dos Quinze e a média da
abundância relativa de cada morfotipos.

Posição Morfotipos Média da abundância relativa


1 Poliqueta sp 5 13,40

2 Poliqueta sp 3 11,53

3 Spionidae sp1 10,88

4 Pisionidae sp1 8,15

5 Cirolanidae sp2 7,48

6 Poliqueta sp 10 7,09

7 Poliqueta sp 6 6,37

8 Cirolanidae sp1 5,54

9 Poliqueta sp 4 4,26
10 Poliqueta sp 9 4,25

11 Poliqueta sp 7 3,23

12 Spionidae sp3 2,74

13 Maxillipiidae sp1 1,50

14 Cirolanidae sp3 1,22

15 Talitridae sp1 1,04

16 Lumbrineridae 0,87

17 Isopoda sp1 0,85

18 Emerita sp1 0,84

19 Poliqueta sp 1 0,80

20 Phyllodocidae sp1 0,66

21 Goniadidae 0,62
22 Melitidae sp1 0,61

23 Talitridae sp4 0,55

24 Oniscidea sp2 0,54

25 Amphipoda sp1 0,51


30

26 Maxillipiidae sp2 0,47

27 Talitridae sp2 0,46

28 Poliqueta sp 8 0,45

29 Glyceridae 0,39

30 Iospilidae 0,36

31 Poliqueta sp 2 0,31

32 Oedicerotidae sp1 0,24

33 Bivalve sp4 0,19


34 Capitellidae 0,17

35 Oniscidea sp1 0,17

36 Pisionidae sp2 0,16

37 Caprellida sp1 0,15

38 Nemertea 0,15

39 Opheliidae 0,12

40 Emerita sp2 0,12

41 Platyhelminthes 0,09

42 Bivalve sp5 0,08

43 Spionidae sp2 0,08

44 Phyllodicidae sp2 0,07

45 Spionidae sp4 0,06

46 Stomatopoda sp1 0,06

47 Oniscidea sp3 0,06

48 Crustáceo sp1 0,05

A riqueza de espécies foi similar entre as faixas amostradas na praia do Putiri e Dos
Quine (Figura 16). A equitatividade e diversidade de espécies também não
apresentaram diferenças significativas entre as faixas e entre as praias estudadas
(Figura 17; Figura 17).
31

Riqueza de espécies
30
20

S
10
0

Praia/Faixa

Figura 15 – Índice de riqueza de espécies encontradas nas Praias de Putiri e Dos Quinze. Legenda:
PR15- Praia dos Quinze; PRPU- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa 2; Fx3- Faixa 3.

Índice de Pielou
1
0,8
0,6
J'

0,4
0,2
0
PR15 FX1PR15 FX2PR15 FX3PRPUFX1 PRPUFX2 PRPUFX3
Praia/Faixa

Figura 16 – Índice de Pielou das espécies encontradas nas Praias de Putiri e Dos Quinze. Legenda:
PR15- Praia dos Quinze; PU- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa 2; Fx3- Faixa 3.

Diversidade
4
3
2
H'

1
0

Praia/Faixa

Figura 17 – Índice de Shannon das espécies encontradas nas Praias de Putiri e Dos Quinze. Legenda:
PR15- Praia dos Quinze; PU- Praia de Putiri; Fx1- Faixa 1; Fx2- Faixa 2; Fx3- Faixa 3.

As análises multivariadas baseadas na composição e abundância de espécies da


macrofauna revelam grande variabilidade entre as réplicas dentro de cada faixa
amostrada em ambas as praias (Figura 18). O círculo verde representa a linha de
32

similaridade mostrando que a maioria das faixas possuem acima de 60% de


similaridade entre si. A faixa 2 da praia dos Quinze encontra-se mais afastada, uma
possível explicação seria a presença dominante de anfípodes nesta faixa, podendo
ser visualizada morfotipos desta ordem no ranking de dissimilaridade (Tabela 7).
Consequentemente, não foram encontradas diferenças espaciais significativas na
macrofauna entre as praias (R= 0,926 e p= 0,1).

Figura 18 – Gráfico Multi-Dimensional Scaling (MDS) das praias de Putiri e dos Quinze, evidenciando
os transectos. Legenda: PR15- Praia dos Quinze; PRPU- Praia de Putiri.

Através da análise de agrupamento (cluster) percebe-se que as praias apresentam


uma similaridade próxima de 50%, não sendo visualizado uma forte diferença entre
as duas praias (Figura 19).

Figura 19 - Gráfico do tipo cluster das praias de Putiri e dos Quinze. Legenda: PR15- Praia dos Quinze;
PRPU- Praia de Putiri.
33

A análise de rarefação de espécies para uma amostra padrão de 100 indivíduos indica
que que existem diferenças locais (entre faixas) na diversidade em ambas as praias,
mas em geral as praias possuem diversidade similar (Figura 20).

30

25

20 PR15FX1

15 PR15FX2

10 PR15FX3
PRPUFX1
5
PRPUFX2
0
ES(49)
ES(1)
ES(7)
ES(13)
ES(19)
ES(25)
ES(31)
ES(37)
ES(43)

ES(55)
ES(61)
ES(67)
ES(73)
ES(79)
ES(85)
ES(91)
ES(97)
PRPUFX3

Número de indivíduos

Figura 20 - Curva de rarefação das Praias de Putiri e dos Quinze. Legenda: PR15- Praia dos Quinze;
PRPU- Praia de Putiri.

A análise SIMPER da praia dos Quinze mostra os 10 morfotipos que mais contribuíram
para a similaridade entre suas amostras, possuindo uma similaridade média de 67,92.
É possível visualizar que mais de 40% desta similaridade é devido aos polychaetas
(Tabela 5).

Tabela 5 – Análise SIMPER da Praia dos Quinze com os 10 morfotipos mais contribuintes.

Morfotipos Média similaridade Contribuição % Contribuição cumulativa %


Polychaeta sp3 5,58 8,22 8,22
Polychaeta sp5 5,46 8,04 16,25
Polychaeta sp10 5,13 7,55 23,80
Polychaeta sp 6 4,59 6,76 30,57
Polychaeta sp9 4,51 6,64 37,20
Polychaeta sp4 4,48 6,60 43,80
Cirolanidae sp1 4,39 6,47 50,27
Spionidae sp1 4,30 6,33 56,60
Cirolanidae sp2 3,74 5,50 62,11
Polychaeta sp7 3,65 5,38 67,49

Já a análise SIMPER da praia de Putiri, com os 10 morfotipos que mais contribuíram


para similaridade entre suas amostras, mostrou uma média de 71,94. É possível
34

visualizar que a maioria dos morfotipos são os mesmos entre as praias, existindo
apenas 2 morfotipos, entre os que mais contribuíram, diferentes nas praias. Nesta
praia, os polychaetas também foram os principais contribuintes, mas os isopodas
tiveram uma maior contribuição do que na praia dos Quinze (Tabela 6).

Tabela 6 - Análise SIMPER da Praia de Putiri com os 10 morfotipos mais contribuintes.

Morfotipos Média similaridade Contribuição % Contribuição acumulada %


Polychaeta sp5 6,05 8,42 8,42
Pisionidae sp1 5,5 7,65 16,06
Polychaeta sp3 5,4 7,5 23,57
Spionidae sp1 5,21 7,25 30,81
Cirolanidae sp2 5,03 7 37,81
Polychaeta sp6 4,65 6,46 44,27
Cirolanidae sp1 4,4 6,12 50,39
Spionidae sp3 4,11 5,72 56,11
Polychaeta sp9 4,1 5,71 61,81
Polychaeta sp7 3,57 4,96 66,78

A análise de dissimilaridade apresentou uma porcentagem de 37,18% entre as praias,


sendo os crustáceos os principais responsáveis por essa diferença.

Tabela 7 – Ranking de dissimilaridade entre as praias de Putiri e Dos Quinze com os 10 morfotipos
mais contribuintes.

Morfotipos Média dissimilaridade Contribuição % Contribuição cumulativa %


Cirolanidae sp3 1,53 4,11 4,11
Iospilidae 1,45 3,91 8,03
Isopoda sp1 1,4 3,77 11,8
Melitidae sp1 1,39 3,74 15,54
Maxillipiidae sp1 1,37 3,68 19,21
Talitridae sp2 1,25 3,37 22,58
Phyllodocidae sp1 1,2 3,22 25,8
Spionidae sp3 1,12 3,01 28,81
Eremita sp1 1,1 2,97 31,78
Poliqueta sp 4 1,1 2,95 34,73
35

6 DISCUSSÃO

As praias de Putiri e Dos Quinze possuem características físico-químicas bem


semelhantes e foram classificadas dentro do mesmo estágio morfodinâmico, o
intermediário. Albino et al. (2006) também encontrou uma tipologia dissipativa a
intermediária nestas praias devido ao pequeno aporte fluvial e a vulnerabilidade
abrasiva das areias carbonáticas. A alta abundância de sedimento fino corrobora a
tendência abrasiva dos grãos carbonáticos, além de ser uma característica comum ao
estágio dissipativo. Os perfis praiais não mostraram uma forte inclinação, o que pode
ser explicado pela baixa permeabilidade da areia fina, pois a cada espraiamento
ocorre a remoção completa da areia, achatando a praia (McLachlan & Brown, 2006),
sendo mais uma semelhança com praias dissipativas. Sedimentos carbonáticos
tendem a ter uma alta taxa de matéria orgânica, como foi encontrado em ambas as
praias, que é elevada em comparação com paias do Parque Estadual da Ilha do
Cardoso em São Paulo, na mesma estação do ano (Cardoso, 2006).

McLachlan et al. (1996) sugeriu que a abundância da macrofauna em praias arenosas


do tipo dissipativas é acima de 10.000 ind/m2, a praia Dos Quinze apresentou um valor
bem próximo das praias dissipativas sugeridas pelo autor, enquanto que a praia de
Putiri apresentou uma abundância mais baixa. Como os valores estão abaixo da
abundância considerada para praias dissipativas, mais uma vez, é indicado o estado
intermediário das praias, pois tende a possuir uma densidade menor que a primeira,
possivelmente devido a maior dinâmica existente em praias intermediárias. A
abundância encontrada por Silva et al. (2008) durante o inverno, em uma praia
intermediária do Cassino, RS, ficou abaixo dos 5000 ind./m2, o que é um valor próximo
ao encontrado nas praias de Aracruz, indicando que este padrão está dentro do
esperado para este tipo de praia.

Polychaetas são dominantes em praias dissipativas, enquanto crustáceos são


dominantes em praias refletivas, e ambas as praias estudadas possuíram esses dois
grupos como dominantes, o que pode ser considerada uma resposta ao seu estágio
morfodinâmico intermediário, que favorece a presença dos dois grupos como
principais. Como a abundância de polychaetas foi maior em ambas as praias, conclui-
36

se que as praias possuem uma tendência ao estágio dissipativo (McLachlan & Brown,
2006). A praia de Putiri que apresenta tendência a uma granulometria mais fina e uma
menor ação das ondas, possui uma maior abundância de polychaetas que a praia dos
Quinze. Apesar das praias possuírem o mesmo estágio morfodinâmico é possível
observar uma composição um pouco distinta entre elas, com a praia de Putiri
apresentando dominância dos polychaetas e isopodas, enquanto que a praia dos
Quinze possui dominância de amphipodas, sendo que nesta praia foi observado uma
maior presença de algas. O mau selecionamento dos grãos e a presença de matéria
orgânica, condições encontradas nas duas praias, são favoráveis a uma maior
diversidade de polychaetas, o que corrobora para que esta classe seja a mais
abundante (Villora-Moreno et al. 1991; Villora-Moreno 1997).

O padrão de diversidade encontrado para uma praia intermediária no Cassino, RS,


estudada por Silva et al. (2008), durante o período de inverno foi de H=1, como este
índice leva em consideração a equitatividade, a dominância de poucas espécies tende
a diminuir o seu valor, o que pode ter ocorrido no local. As praias de Putiri e Dos
Quinze apresentaram uma maior equitatividade entre suas espécies, o que explica o
padrão de diversidade ser maior do que o encontrado por Silva et al. (2008). As praias
de Siriúba e Barra Velha, localizadas em São Sebastião, SP, estudadas por Omena e
Amaral (1997) apresentaram um índice de diversidade próxima a dois, bem parecido
com os resultados obtidos neste estudo, o que de acordo com Lana (1984), possui um
alto índice de diversidade devido à complexidade textural, já que as amostras das
duas praias foram classificadas como sedimentos mal selecionados, pois este tipo de
seleção tende a promover uma variedade de microhabitats, aumentando o grau de
heterogeneidade ambiental, consequentemente aumentando a diversidade.

As variáveis físicas do ambiente como ação de ondas, tamanho médio do grão e


inclinação da praia são uma das principais controladoras da diversidade de espécies
(Barros et al., 2001), como ambas as praias apresentaram valores bem similares para
estas variáveis, era de se esperar que a diversidade entre elas também fosse similar.
O padrão de diversidade encontrado pode ser considerado alto ao comparar com o
estudo feito por Amaral et al. (2003) em praias arenosas do Canal de São Sebastião,
que variou de 0,2 a 2. As praias estudadas em Aracruz tiveram uma riqueza entre 36
a 42 morfotipos por praia, parecido com o do sul da Califórnia, 37 espécies para praias
37

intermediárias, encontrado por Dugan et al. (2003), e muito acima do encontrado por
Hacking (1998), em praias intermediárias da Austrália, que foi uma riqueza de 5 a 19
espécies. O resultado encontrado na Califórnia é considerado um índice muito alto em
comparação com outras praias intermediárias do mundo (Dugan et al. (?)), então não
pode ser usado como um resultado de comparação para inferir a qualidade da praia.
Era de se esperar, que o resultado encontrado por Hacking (1998) fosse parecido com
o encontrado nas praias de Putiri e Dos Quinze, pois, tanto as praias da Austrália
quanto as do presente estudo estão em uma mesma zona climática, que deveria
responder aos padrões latitudinais de que a região tropical, na teoria, deveria suportar
uma maior riqueza que praias temperadas (Schlacher et al., 2008).

Os resultados obtidos neste estudo servem como uma base de dados primária sobre
as praias de Putiri e Dos Quinze e também sobre a APA Costa das Algas, que devido
a sua recente criação, ainda não possui estudos sobre seu estado de conservação.
As praias não podem ser consideradas totalmente preservadas devido a presença de
castanheiras, que além de não serem plantas nativas impedem o crescimento da
restinga ao seu redor, e a uma leve urbanização presente. Mas de acordo com os
resultados obtidos neste estudo preliminar os grupos da macrofauna encontrados,
como anfípodes talitrídeos, que são vulneráveis ao pisoteamento, são característicos
de praias preservadas como foi encontrado por Veloso et al. (2006) em praias do Rio
de Janeiro. Também foi observado que estes grupos respondem principalmente ao
estágio morfodinâmico das praias, tornando nossa hipótese, de que a biodiversidade
bentônica de praias arenosas está associada aos regimes morfodinâmicos locais e
regionais, verdadeira já que a fauna respondeu principalmente ao gradiente
morfodinâmico. É possível visualizar que a comunidade bentônica responde de forma
inversa a alguns fatores físicos, o que indica que há outros fatores, provavelmente
químicos-biológicos, influenciando em seus padrões de distribuição.

7 CONCLUSÃO

A macrofauna das praias de Putiri e Dos Quinze é similar a encontrada em outras


praias arenosas do sudeste do país, apresentando similaridade com praias
38

intermediárias. A fauna respondeu aos padrões morfodinâmicos das praias e a alguns


padrões físicos como granulometria e matéria orgânica, a diferença encontrada entre
os grupos, ao comparar as praias, foi devido a diferentes respostas a outros fatores
influenciadores. Por este estudo ter sido feito em uma área de preservação ambiental
de recente criação, os dados obtidos podem servir como uma base para futuros
estudos e monitoramento da qualidade das praias da APA, já que o monitoramento
ambiental que se baseia em respostas das comunidades biológicas às alterações do
ambiente tem se tornado comum e mostrado ser uma ferramenta chave a indicação
de impactos antropogênicos, qualidade da água e dos níveis de perturbação
ecológica.
39

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