Gênero: Drama
...
Souleymane / FranckKeïta
Boubacar / BoubacarToure
1
Retirado de http://www.imdb.com/title/tt1068646/
Resenha do Filme:
Curiosidades:
1. Introdução:
2
Cf. MORROW, TORRES, 2004. p. 34
sociedade fragmentada da Itália onde ele viveu, que continha uma complexa hierarquia
social, com vários níveis que não se adequavam ao binômio proletário-burguês proposto
por Marx.
O que Gramsci propõe nos seus escritos é a criação de uma nova escola, uma
escola humanística que desenvolvesse a inteligência e as capacidades do aluno, que não
fosse uma mera reprodução de saberes já pré-determinados. Uma escola que fizesse
com que o trabalhador soubesse do lugar dentro da história, que quebrasse com a
dicotomia teoria versus prática. Também deveria ser um lugar em que o aluno pudesse
se expressar e discutir aquilo que foi aprendido, um lugar de dialogo onde o professor
aprende e ensina com o aluno.
"Essas orientações visam a promover a formação de um
intelectual diretamente ligado às massas. Formar dirigentes para dar a
todos a possibilidade de serem dirigentes exige a mudança tanto da
escola quanto da atitude do professor; para que ele possa despertar a
consciência nestes indivíduos, é essencial conhecer seu universo, sua
história, partir da realidade enfrentada por esses alunos, sem deixar de
lado a autonomia e a liberdade de cada um." (GAGNO, Roberta
Ravaglio. FURTADO, Andréa Grarcia. p.4)
De certa forma, o filme Entre os Muros oferece uma quantidade muito grande de
contraexemplos e de razões pelas quais a escola deve ser reformada. Principalmente se
pensarmos no caso da França, país multicultural e cheio de nuances sociais, com suas
desigualdades raciais, como podemos ver no filme, em que a classe se divide claramente
entre três grupos: brancos, negros e árabes. Por outro lado, apesar dessa divisão da
sociedade francesa em grupos divergentes, a educação se baseia em um modelo
autoritário, de imposição de valores e modelos de um grupo historicamente privilegiado
sobre o resto da população. O filme exemplifica isso bem, na cena em que Khoumba
questiona o professor Marin sobre o porquê de ele utilizar para os seus exemplos de
frases somente nomes europeus, manifestadamente ingleses, como “Bill”. Ela, assim
como outros alunos, gostaria de ver frases e textos em francês em que o protagonista
tivesse nomes africanos ou árabes. Ela gostaria de se ver e se identificar nas frases. Mas,
na visão do professor Marin, a pessoa indeterminada que se usa para ilustras frases em
francês é sempre esse “Bill”, sempre um europeu indeterminado que preenche o lugar
de um “homem universal”, de onde provêm todos os valores e exemplos.
Sobre o filme, este se concentra em uma espécie de luta interior do professor
Marin, que tem por missão transmitir um conhecimento acumulado e erudito sobre a
língua francesa para alunos que vivem a língua de uma outra forma, alunos que
consideram o saber livresco disponibilizado pela escola como inútil e irrelevante. O
professor tem esse dilema, de abrir espaço para os alunos, lhes dando voz e discutindo
com eles, mas chegando a um ponto final em que ele, como posição de autoridade, está
correto.
Temos aqui um conflito entre o saber escolar que o professor Marin deve passar
aos alunos, no caso o modo subjuntivo, que entra em conflito com as experiências reais
dos alunos que sabem que isso não lhes diz respeito, que é um saber livresco e que não
condiz com a sua realidade. Isso confirma um pouco aquilo que Gramsci fala sobre o
papel da escola como formadora de dirigentes. O francês ensinado nas escolas é o
francês falado e, sobretudo, lido pelos dirigentes. Os alunos são perspicazes ao
identificar esse tipo de linguagem com o atributo “burguês”, pois o que estão
aprendendo na escola é o tipo de saber útil para se ler romances clássicos ou se redigir
textos jurídicos, mas não se aprende ou se estuda a linguagem ou a comunicação usada
pelos alunos, em sua maioria filhos de dirigidos, pois se considera que o que é falado
pelas classes baixas não é digno de ser estudado na escola e, portanto não vai figurar
entre os tópicos a serem estudados numa aula de francês.
O fato é que o sistema escolar da forma como ele é exibido no filme já incorpora
certas inovações propostas por Gramsci, existe um certo desconforto por parte dos
professores em usar de sua posição hierarquicamente superior para exercer autoridade
sobre os alunos. O conselho de classe com a presença de alunos e certos diálogos
francos entre o professor e os alunos evidenciam essas tentativas tímidas de
horizontalização. No entanto, o papel do professor, como é evidenciado na parte de
transmitir certos conteúdos como o modo subjuntivo já exemplificado, ainda é o de
alguém que detém um conhecimento superior e que deve iluminar os alunos com esse
conhecimento sem que isso tenha qualquer referência com o cotidiano de cada um. A
educação, através do currículo escolar ainda tem a função de moldar um dirigente dentre
do metier, da linguagem e dos saberes que a classe alta julga relevantes e necessários.
Uma reforma da escola poderia começar à partir disso: o que é importante que o aluno
aprenda? Um saber livresco ou algo mais cotidiano?
Referências Bibliográficas:
Filme: