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Ana Claudia Urban
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná - UFPR; Mestre em Educação
pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG/PR; Licenciou-se em História
pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG/PR.

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e-mail: editora@jurua.com.br

, DA
DIDATICA
ISBN: 978-85-362-3203-4

"'" Brasil: Av. Munhoz da Rocha, 143 - Juvcvê - Fone: (41) 3352-3900
Fax: (41) 3252-1311 CEP: ~0.030-475 - Curitiba - Paraná - Brasil
Europa: Rua General Torres, 1.220 - Loja 15 - Centro Comercial
~
D'Ouro - 4400-096 - Vila Nova de Gaia - Portugal
Contribuições para a
IiDfTOHA

Editor: José Emani de Carvalho Pacheco


Formação de Professores
Urban, Ana Claudia.
U73 Didática da história: contribuições para a formação de
professores.! Ana Claudia Urban.! Curitiba: Juruá, 2011.
206p.

1. Didática. 2. Código Disciplinar. 3. Formação de pro-


fessores. I. Título.

CDD 371.1(22.ed)
CDU 37 Curitiba
fíl6Z Juruá Editora
2010
16 Ana Claudia Urban

Atualmente sou professora de História na Escola Estadual


Alberto R. Valente e professora de Fundamentos e Metodologia do
Ensino de História e 1-1istória da Educação, no ensino superior.

Tive a oportunidade de realizar algumas publicações como: SUMÁRIO


"A Didática da História nos cursos de formação de professores"
(2006) e "Fundamentos do código disciplinar
da Didática da História" (2008), entre outros.
Lista de Siglas ..........................•......................................................................... 19
Junto com a Professora Dr." Maria Auxiliadora M.S. Schmidt
Introdução 21
sou autora da coleção didática "Eu conto História" (2008)
A investigação sobre a Didática da História: contextualizações 21
voltada para o primeiro segmento do ensino fundamental.
A pesquisa 21

E este livro que publico pela Juruá Editora é por certo parte dessa Capítulo I - A constituição de um Código Disciplinar da Didática da
História 29
caminhada e do meu compromisso com o ensino de História.
1.1 Reflexão sobre o conceito de Código Disciplinar 32
1.2 A construção do Código Disciplinar da Didática da História no
Brasil 39
1.2.1 O Código Disciplinar da Didática da História nos manuais
destinados à formação de professores 39
1.2.2 A presença do Código Disciplinar da Didática da História
nas propostas dos cursos de formação de professores 60
O Código Disciplinar da Didática da História na legislação
para cursos de formação de professores 61

Capítulo 2 - A natureza do Código Disciplinar da Didática da História:


os caminhos possíveis 71
2.1 A Didática da História: perspectivas da transposição didática 75
2.2 A Didática da História: perspectivas da educação histórica 83

Capítulo 3 - A presença do Código Disciplinar da Didática da História


em manuais e nas propostas para os cursos de formação de
professores no Brasil e na Espanha 103
3.1 A didática da história nos manuais do Brasil e da Espanha: uma
análise contemporânea 104
3.1.1 No Brasil 104
3.1.2 Na Espanha 112
1,1

28 Ana Claudia Urban

do nas análises de ementas e programas de disciplinas do Curso de


Licenciatura em História de seis Universidades Públicas do Paraná,
e também de um curso de formação de professores da Universidade
de Barcelona. Esse estudo proporcionou uma reflexão como as dis-
ciplinas, voltadas para o ensinar e aprender História, estão registra-
das nos respectivos cursos de formação e como sinalizam para ele-
Capítulo 1
mentos constitutivos do código disciplinar da Didática da História.
II O Capítulo 4 - "A forma pela qual alunos acadêmicos A CONSTITUiÇÃO DE UM CÓDIGO
li.,
pensam a Didática da História: limites e possibilidades" - investi-
ga e analisa os elementos do código disciplinar presentes nos sujei- DISCIPLINAR DA DIDÁTICA DA HISTÓRIA
tos envolvidos na pesquisa.
Nos limites impostos pelo contexto, a investigação teve o
objetivo de contribuir para a elucidação de aspectos sobre o código
disciplinar da Didática da História na formação de professores. O
pressuposto fundamental é a necessidade premente de se tomar a Há um debate contemporâneo que envolve a epistemolo-
disciplina Didática da História como uma Didática específica, ex- gia da Didática da História e o presente capítulo intenciona mostrar
plicitando alguns elementos e princípios da natureza do seu código a existência desse debate, ou seja, como se constituiu uma forma de
disciplinar. pensar o ensino e a aprendizagem em História, dando origem e sub-
sidiando a constituição de um código disciplinar específico.
Na área do ensino de História, vários autores vêm sistema-
tizando, nas últimas décadas, investigações e pesquisas que discu-
tem a natureza do ensino e aprendizagem em História.
A existência de grupos de investigação, constituídos no
Brasil e em outros países, evidencia esse debate. Para exemplificar
tais proposições, citam-se a existência, no Brasil, do Laboratório de
Pesquisa em Educação Histórica do Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal do Paraná; na Espanha, do
Grupo de Dighes - Didática da Geografia e da História e outras
iências Sociais - da Universidade de Barcelona; em Portugal, das
pesquisas sobre cognição e aprendizagem em História e Ciências
Sociais e Consciência histórica: teoria e práticas do Departamento
de Metodologias da Educação do Centro de Investigação em Edu-
cação do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do
Minho, em Braga. Esses são alguns dos grupos de pesquisa que,
atualmente, vêm suscitando debates e investigações sobre o ensino
de História, tomando como referência de investigação a episterno-
logia da História.
30 Ana Claudia Urban Didática da História 31

Além dos debates sistematizados pelos grupos de investiga- vas, modos de ensinar e aprender a ensinar, novas metodologias
ção, destacam-se também as produções da Universidade Autônoma de formar-se, tornar-se professor de história. Nesse sentido, esta
de Barcelona, na Espanha, coordenadas por Pagês, que, em suas in- coletânea reúne textos, registros de experiências, pesquisas, re-
vestigações, vem se preocupando com a formação de professores. flexões sobre saberes e práticasformativas em distintos espaços
e contextos internacionais e brasileiros, como os cursos superio-
Segundo o investigador: res de história que formam professores para as últimas séries do
[...] preparar a un profesor o una profesora de historia, ense- ensino fundamental e do ensino médio [...] (p. 8)
har a ensehar historia, consiste en educar a un profesional pa-
A tônica em torno do ensino de História, apesar da diver-
ra que tome decisiones, sepa organizarias y /levarias a Ia prác-
tica, sobre los conocimientos históricos que debe ensehar en
sidade de pesquisas e investigações, foi conquistando espaço e, ao
una aula de un centro determinado. Aprenda que ensehar histo- mesmo tempo, solidificando grupos de investigação que, indubita-
ria en secundaria consiste en preparar aios jóvenes para que vclmente, continuam crescendo em meio ao mundo acadêmico.
se sitúen en su mundo, sepan interpretarlo desde su historici- Oliveira, em pesquisa realizada em 2003, dedica um capí-
dad y quieran intervenir en él conocimiento de causa, quieran tulo da tese Direito do Passado - uma discussão necessária à
ser protagonistas deI devenir histórico. (PAGES, 2004, p. 157) formação do professor às discussões que envolvem a forma pela
Também as investigações realizadas por Mattozzi, da Uni- qual o ensino de História foi "conquistando" espaço como campo
versidade de Bolonha, na Itália, têm a Didática da História como alvo de pesquisa.
de pesquisas e publicações. A esse respeito, Mattozzi afirma que Destaca a investigadora:
La Didáctica de Ia Historia estudia Ias operaciones que están Historicamente, as universidades no Brasil pouco se voltaram
en juego cuando se adquieren los conocimientos históricos y para a questão do ensino. Na pesquisa histórica e sobre ensino
cuando se aprende a usarias y a hacer investigaciones alrede- de História, não foi diferente. O ensino de Historia foi visto, até
dor de Ias cuestiones que se le presentan a quién enseha méto- a década de 1960, como área de formação, não como objeto de
dos y conocimientos. Por eso, Ia didáctica de Ia historia se pesquisa. [...]
puede colocar aI centro deI cuadrilátero en cuyos vértices en- Conseqüência natural desse distanciamento na formação inicial
contramos el saber histórico - el docente - el estudiante - Ias do professor, o ensino também não se configura como objeto de
instrumentos, y dirige Ia atención a tas preguntas fundamenta- pesquisa nos programas de pós-graduação. Afinal, a Academia
les relativas a cada uno de los términos y a cada una de Ias re-
também tem seus temas e objetos de estudo considerados no-
laciones que se pueden establecer entre el/os. (MA TTOZZI,
bres. Um tema, cujo principal profissional é tão desvalorizado
1996, p. I)
socialmente, não poderia ocupar espaços privilegiados nos
No Brasil, o ensino de História e a formação de professo- projetos de pesquisa. [...]
res vêm se constituindo objeto de investigação de diversos grupos e Foi, portanto, pós-década de 1970, que as preocupações com a
investigadores. Destacou-se a publicação organizada por Zamboni formação do professor, do ensino de história e seus correlatos,
e Fonseca, intitulada Espaços de formação do professor de His- passam a fazer parte, como objeto de reflexão, análise e pes-
tória (2008). quisa, de uma forma mais enfática, no universo dos licenciados,
bacharéis e pesquisadores de História, em geral.
Afirmam Zamboni e Fonseca:
A ANPUH espelha o encaminhamento dado pela categoria. A
Nos últimos anos, estamos vivendo no Brasil um processo de re- partir de 1977, é posta a discussão e, nos dois Simpósios se-
visão de criticas, de ampliação e reconhecimento de múltiplos guintes (1979 e 1981), consolidaram-se todas as ações necessá-
lugares, tempos, processos, sujeitos, saberes e práticas formati- rias para incluir no quadro de sócios da entidade professores
32 Ana Claudia Urban Didática da História 33

dos outros níveis de ensino, além de professores universitários. A expressão "Didática da História" não é totalmente nova
(OLIVEIRA, 2003, p. 38, 4l e 48) no ensino de História, como também nas publicações e manuais
voltados a esse ensino. Tanto nos cursos de formação de professo-
A reflexão apresentada denota que a área de ensino de
res como em publicações da área do Ensino de H istória, encontra-
História foi se incorporando ao meio acadêmico, seja por meio dos
ram nomenclaturas variadas em relação às disciplinas voltadas a
cursos de formação de professores ou como objeto de pesquisa de
esse ensino, como: Prática de Ensino, Metodologia do Ensino e
instituições e, como consequência, reconhecida como uma discus-
fundamentos Metodológicos do Ensino de História.
são necessária, principalmente por estar estreitamente vinculada à
formação inicial do professor. Evangelista e Triches, no artigo Ensino de História, Didá-
tica de História, Educação Histórica: alguns dados de pesquisa,
O conjunto de pesquisas e publicações destes e de outros
publicado em 2006, afirmam que a "[...] Didática da História apa-
investigadores evidencia a existência de um debate sobre conheci-
receu timidamente em 2004". (p. 35)
mentos relacionados ao ensino e à aprendizagem em História.
Tal estudo faz um levantamento das pesquisas que vêm
Afirmou-se que há um corpo de conhecimentos voltados
sendo desenvolvidas e que têm como preocupação o ensino de His-
ao ensino e à aprendizagem em História e, além das pesquisas, tais
tória. As autoras não fazem uma análise dos trabalhos realizados,
conhecimentos são evidenciados por meio de manuais direcionados
mas apontam como vêm se constituindo Grupos e Linhas de pes-
à formação de professores, além de publicações em congressos
quisas nas instituições de Ensino do Brasil.
referentes a essa área. Esse conjunto de fontes permite que se as-
sente a presente investigação em um campo de pesquisa que perce- Afirmam as autoras:
be o ensino de História como objeto. Porém, dada a amplitude des- [...] o presente estudo procurou colher informações no site do
ta área, como em todo ato de pesquisa, fez-se opções e, para situar CNPq acerca da pesquisa, no país, em Ensino de História, Di-
as discussões que se desejava realizar, tomou-se o conceito de có- dática da História e Educação Histórica. O predomínio entre
digo disciplinar elaborado por Fernández Cuesta (1998) para anali- 2000 e 2Q04foi de Ensino de História, período em que o censo
sar a constituição de uma forma de pensar o' ensino e a aprendiza- sobre os pesquisadores e as pesquisas está mais bem organiza-
gem em História, que se constitui como um código disciplinar. do. Entretanto, pesquisadores da área vêm registrando os ver-
Nesse sentido, foram registradas reflexões sobre a consti- betes Didática da História e Educação Histórica, tendência
tuição desse código disciplinar, procurando estabelecer um diálogo mais recente. Em termos de GP2, na área Educação, Didática
com a área do ensino de História. da História aparece em 2004 com um grupo apenas, localizado
na UEPG3. Na área de História, o mesmo fenômeno ocorre,
surgindo um GP na UFBA4. Ambas são instituições públicas e
1.1 REFLEXÃO SOBRE O CONCEITO DE CÓDIGO os líderes têm formação tanto na área de Educação quanto na
DISCIPLINAR de História. Isto é, todos são graduados em História, dois têm
mestrado em Educação e um tem doutorado em Educação. Os
Para empreender as reflexões propostas para este capítulo, outros dois têm doutorado em Sociologia e Cinema e Audiovi-
buscou-se, inicialmente, localizar a própria Didática da História na sua/o (EV ANGELISTA; TRICHES, 2006, p. 49)
área do ensino de História, para que, na sequência, tomando o con-
ceito de código disciplinar, fosse analisada a natureza do ensino e
da aprendizagem em História, presente nos manuais voltados à
Grupo de Pesquisa.
formação de professores e nas propostas para os cursos de forma- Universidade Estadual de Ponta Grossa - Paraná Brasil.
ção de professores. Universidade Federal da Bahia - Brasil.
34 Ana Claudia Urban Didática da História 35

Observou-se, no destaque dado pelas investigações reali- assumida nesta investigação com base em um corpo de conheci-
zadas por grupos de pesquisa sobre o Ensino de História e Didática mentos, inseridos num campo de reflexões, o qual leva em conta a
da H istória, que vêm se constituindo e que possuem líderes com relação do ensino e da aprendizagem, tendo na H istória a ciência de
formação distinta, seja na área da História ou em Educação, como referência principal.
fica evidenciado no quadro seguinte: Tendo como categoria de análise o conceito de código dis-
ciplinar, elaborado por Femández Cuesta (1998), procurou-se regis-
trar uma reflexão tendo como referência alguns manuais e algumas
Instituição Área 2004 Líder Formação propostas para os cursos de formação de professores, de acordo com
o seguinte percurso: pesquisa e análise de manuais de formação de
Universidade
professores e propostas para os cursos de formação de professores,
Grupo de Gr.: História
Estadual de Estudo em
Luis pois nesses dois itens encontram-se evidências de uma forma de
Educação Fernando Msc.: Educação
Ponta Grossa Didática da pensar o ensino e a aprendizagem em História, o que, para o citado
Cerri Dr.: Educação
UEPG História autor, são elementos constituintes do seu código disciplinar.
Na análise sistematizada por Fernández Cuesta (1998),
Gr.: História compreendeu-se que a Didática da História possui um conjunto de
Jorge
Luiz B.
Msc.: Ciências conhecimentos que foram historicamente se constituindo e, ao
Sociais mesmo tempo, delimitando o seu espaço por meio de influências de
Nóvoa
Universidade Dr.: Sociologia
Federal
Oficina formas de pensar o ensino e a aprendizagem da História, em dife-
História Cinema- rentes épocas.
da Bahia
História Gr.: História
UFBA Cristiane Dessa forma, formou-se o conceito de código disciplinar,
Msc.: Educação
Carvalho que é assim sistematizado por Fernández Cuesta:
da Nova Dr.: Cinema e
Audiovisual
[...] una tradicián social que se configura histàricarnente y que
se compone de un conjunto de ideas, valores, suposiciones y
Fonte: Evangelista e Triches, 2006, p. 50. rutinas, que legitiman Ia funciôn educativa atribuida a Ia
Historia y que regulan el orden de Ia práctica de su ensehanza.
Assim, percebeu-se que a nomenclatura Didática da Histó- Alberga, pues, Ias especulaciones y retóricas discursivas sobre
ria aparece de forma recente, nos grupos de estudo e de pesquisa su valor educativo, los contenidos de su ensehanza y los
das Instituições de Ensino Superior, com especial destaque no inte- arquetipos de práctica docente, que se suceden en el liempo y
rior dos Programas de Pós-Graduação. que se consideran, dentro de Ia cultura dominante, valiosos y
legítimos. [...] el código disciplinar comprende 10 que se dice
Com base nesses indicativos, se a opção fosse analisar ou
acerca dei valor educativo de Ia Historia, Ia que se regula
estudar aspectos de disciplinas chamadas de "Didática da História",
expresamente como conocimiento histórico y 10 que realmente
haveria um universo bastante restrito, pois se constatou, por meio se enseiia en el marco escolar. Discursos, regulaciones,
de estudo documental ', que, entre seis Universidades Públicas do prácticas y contextos escolares impregnan Ia acción
Paraná, somente três possuem em sua composição curricular uma institucionalizada de Ias sujetos profesionales (Ias profesores) y
disciplina intitulada Didática da História. A Didática da História foi de Ias destinatarios sociales (Ias alumnos) que viven y reviven,
en su acción cotidiana, Ias usos de educación histórica de cada
época. (FERNÁNDEZ CUESTA, 1998, p. 8-9)
A apresentação de dados e análise sobre o estudo documental está no Capítulo 3.
34 Ana Claudia Urban Didática da História 35

Observou-se, no destaque dado pelas investigações reali- assumida nesta investigação com base em um corpo de conheci-
zadas por grupos de pesquisa sobre o Ensino de História e Didática mentos, inseridos num campo de reflexões, o qual leva em conta a
da História, que vêm se constituindo e que possuem líderes com relação do ensino e da aprendizagem, tendo na História a ciência de
formação distinta, seja na área da História ou em Educação, como referência principal.
fica evidenciado no quadro seguinte: Tendo como categoria de análise o conceito de código dis-
ciplinar, elaborado por Fernández Cuesta (1998), procurou-se regis-
trar uma reflexão tendo como referência alguns manuais e algumas
Instituição Área 2004 Líder Formação propostas para os cursos de formação de professores, de acordo com
o seguinte percurso: pesquisa e análise de manuais de formação de
Universidade
professores e propostas para os cursos de formação de professores,
Grupo de Gr.: História
Estadual de Estudo em
Luis pois nesses dois itens encontram-se evidências de uma forma de
Educação Fernando Msc.: Educação
Ponta Grossa Didática da pensar o ensino e a aprendizagem em História, o que, para o citado
Cerri Dr.: Educação
UEPG História autor, são elementos constituintes do seu código disciplinar.
Na análise sistematizada por Fernández Cuesta (1998),
Gr.: História compreendeu-se que a Didática da História possui um conjunto de
Jorge
Luiz B.
Msc.: Ciências conhecimentos que foram historicamente se constituindo e, ao
Sociais mesmo tempo, delimitando o seu espaço por meio de influências de
Universidade Nóvoa
Dr.: Sociologia
Federal
Oficina formas de pensar o ensino e a aprendizagem daHistória, em dife-
da Bahia História Cinema- rentes épocas.
História Gr.: História
UFBA Cristiane Dessa forma, formou-se o conceito de código disciplinar,
Msc.: Educação
Carvalho que é assim sistematizado por Femández Cuesta:
da Nova Dr.: Cinema e
Audiovisual
[...] una tradicion social que se configura historicamente y que
se compone de un conjunto de ideas, valores, suposiciones y
Fonte: Evangelista e Triches, 2006, p. 50. rutinas, que legitiman Ia funcion educativa atribuida a Ia
Historia y que regulan el orden de Ia práctica de su ensehanza.
Assim, percebeu-se que a nomenclatura Didática da Histó- Alberga, pues, Ias especulaciones y retóricas discursivas sobre
ria aparece de forma recente, nos grupos de estudo e de pesquisa su valor educativo, los contenidos de su ensehanza y los
das Instituições de Ensino Superior, com especial destaque no inte- arquetipos de práctica docente, que se suceden en el tiempo y
rior dos Programas de Pós-Graduação. que se consideran, dentro de Ia cultura dominante, valiosos y
legítimos. [...] el código disciplinar comprende 10 que se dice
Com base nesses indicativos, se a opção fosse analisar ou
acerca dei valor educativo de Ia Historia, 10 que se regula
estudar aspectos de disciplinas chamadas de "Didática da História",
expresamente como conocimiento histórico y 10 que realmente
haveria um universo bastante restrito, pois se constatou, por meio se enseha en el marco escolar. Discursos, regulaciones,
de estudo documental'', que, entre seis Universidades Públicas do prácticas y contextos escolares impregnan Ia acción
Paraná, somente três possuem em sua composição curricular uma institucionalizada de Ias sujetos profesionales (Ias profesores) y
disciplina intitulada Didática da História. A Didática da História foi de Ias destinatarios sociales (Ias alumnos) que viven y reviven,
en su acción cotidiana, Ias usos de educación histórica de cada
época. (FERNÁNDEZ CUEST A, 1998, p. 8-9)
A apresentação de dados e análise sobre o estudo documental está no Capítulo 3.
36 Ana Claudia Urban Didática da História 37

Nessa direção, a presente investigação considera a exis- Por "textos invisíveis" (Femández Cuesta) entendem-se os
tência de um código disciplinar da Didática da História, ou seja, contextos escolares da prática de ensino. O autor afirma que, para
procura levar em conta que a Didática da História pode ser analisa- chegar a uma reconstituição do código disciplinar, foi necessário
da sob duas formas: recorrer a diversas fontes, como a fotografia, os espaços e as arqui-
Primeiro, como uma disciplina" que agregou, no decorrer teturas escolares, os regulamentos, os testemunhos orais, as entre-
de sua existência, ideias sobre o ensinar e o aprender; propôs roti- vistas, entre outras.
nas envolvendo a prática do professor; sugeriu regras e normas em A pesquisa do autor revela um esforço de reconstruir o có-
favor de sua organicidade; identificou conteúdos voltados à forma- digo disciplinar da História na Espanha:
ção do professor, Oll seja, incorporou discursos, formas de pensar e
de legitimar o que, em cada época, foi delineando-se como - "ensi- [...] nos hemos visto obligados a realizar un costoso esfuerzo de
descubrimiento, recopilación y reconstrucción de un variado
nar e aprender História".
elenco de fuentes, de muy diversa procedencia, naturaleza y
Muitos desses elementos podem ser percebidos por meio ubicaciôn geográfica, imprescindíbles para encajar Ias piezas
da legislação, dos documentos, dos currículos e dos manuais volta- de ese rompecabezas que es el código disciplinar de Ia Histo-
dos à formação do professor, o que, para Femández Cuesta, são os ria. (FERNÁNDEZ CUESTA, 1997, p. 21)
"textos visíveis".
Com apoio nas contribuições de Fernández Cuesta e com a
Uma segunda perspectiva possível de análise é pensar esse
intenção de compreender o código disciplinar da Didática da Histó-
mesmo "código disciplinar" da Didática da História na prática do
ria é que se realizaram as discussões relacionadas à categoria sis-
professor, ou seja, nos textos invisíveis (FERNÁNDEZ CUEST A,
tematizada pelo autor e, como o autor em sua pesquisa utilizou-se
1998).
de fontes, na presente investigação fez-se uso de manuais e das
Por meio da investigação sobre a origem da disciplina de propostas voltadas à formação do professor, por entender que essas
História, na Espanha, o autor contribui com os estudos sobre as fontes são reveladoras de uma forma de pensar o ensino e a apren-
disciplinas escolares, pois elaborou uma categoria que chamou de dizagem em História.
código disciplinar e, para realizar o que chamou de "recopilação
Assim como Femández Cuesta, entende-se que o "elenco
documental" sobre a disciplina História, fez uso de fontes distintas.
de fontes" não somente contribui para uma reconstrução, mas tam-
Sobre o uso dessas fontes, afirma o autor: bém propicia uma apreensão do que envolve o código disciplinar,
Una historia social de Ias disciplinas escolares requiere una de disciplinas voltadas ao ensino e à aprendizagem em História,
diversificacián de Ias fuentes de informacion y una sejam elas nominadas de Metodologia do Ensino da História, Práti-
manipulacion especial de Ias mismas. A Ias fuentes ca de Ensino, Estágio Supervisionado ou Didática da História. Ou
habitualmente seleccionadas por Ia historia tradicional de Ia seja, afirma-se que há em "fontes visíveis e invisíveis" um corpo de
educacián (Ias documentos jurídico-administrativos, tales como conhecimentos relacionados ao ensino e à aprendizagem em Histó-
planes de estudio, y Ias libras de texto) hemos dado en ria, conhecimentos estes influenciados por contextos e sujeitos dis-
Ilamarlos Ias "textos visibles" de Ia educaciàn histórica, tintos, como também pela forma que a relação ensino/aprendizagem
porque en ellos se transparenta un discurso patente que é assumida em determinados contextos.
pretende definir y acotar Ia disciplina. (FERNÁNDEZ
Na esteira das contribuições de Femández Cuesta, tomou-
CUESTA, L997, p. 2L - grifo nosso)
se o conceito de código disciplinar para analisar as disciplinas vol-
Como uma disciplina que, no decorrer da história do ensino de História, teve dife- tadas ao ensino e à aprendizagem em História e inferiu-se que, his-
rentes nomenclaturas. toricamente, se constituiu um código disciplinar da Didática da His-
38 Ana Claudia Urban Didática da História 39

tória, que pode ser analisado por meio dos "textos visíveis", ou seja, 1.2 A CONSTRUÇÃO DO CÓDIGO DISCIPLINAR DA
pelos manuais, pelos programas escolares e pela legislação pertinen- DIDÁTICA DA HISTÓRIA NO BRASIL
te. Também podem ser percebidas por meio dos "textos invisíveis",
que são justamente as práticas, as vivências do professor. 1.2.1 O Código Disciplinar da Didática da História nos
Para concretizar essa etapa da pesquisa foram selecionados e manuais destinados à formação de professores
analisados alguns manuais voltados ao ensino de História e também Um levantamento sobre a produção de manuais voltados à
documentos relacionados aos cursos de formação de professores. formação de professores fez-se relevante, porque eles podem ser
Foram escolhidas algumas obras voltadas à formação de indicativos de uma forma de pensar o ensino e a aprendizagem na
professores, destacando-se alguns títulos, justamente com a inten- formação do professor, em diferentes épocas.
ção de destacar elementos do código de disciplinas da Didática da Investigou-se, nesses materiais, como o ensinar e o apren-
História. der História foi pensado e construído quando da sua publicação,
Entre os documentos voltados à formação de professores independentemente de sua nomenclatura. Não tivemos a preocupa-
que foram analisados está o Parecer 292/1962. A escolha desse ção em encontrar uma identificação comum entre os manuais em
documento se deu pelo fato de ter sido o primeiro que instituciona- relação à disciplina voltada ao ensino e à aprendizagem em Histó-
lizou, nos cursos de formação de professores, as disciplinas preo- ria, pois a intenção, neste momento, foi dirigida aos elementos do
cupadas com a formação pedagógica dos futuros professores. código disciplinar da Didática da História, ou seja, tendo os ma-
O segundo documento é um relatório produzido em 1986 nuais como fonte, buscou-se identificar as formas de pensar o ensi-
pela Coordenadoria de Apoio ao Desenvolvimento Educacional, no, a aprendizagem, as rotinas que envolvem a prática do professor.
que constituiu um grupo de consultores, professores e representan- Os manuais voltados à formação de professores foram to-
tes da Anpuh para diagnosticar e avaliar os cursos de História exis- mados neste capítulo como fontes de investigação, primeiramente
tentes no país. por entendê-los como "fontes visíveis" do código disciplinar da
E o terceiro documento analisado foi a atual Diretriz do IIistória. Conforme Schmidt (2006), em seu texto Estado e cons-
Curso de História, editada em 200 l. trução do código disciplinar da Didática da História, optar pela
Os documentos analisados são de diferentes contextos, no análise de manuais:
entanto denotam a existência de uma preocupação com o ensino e a [...] significa tratar este objeto com base nos marcos definido-
aprendizagem nos cursos de formação de professores. res iniciais, isto é, como manuais didáticos relacionados ao
Dessa forma, o código disciplinar da Didática da História processo de escolarização, constitutivos da cultura escolar e
foi apreendido sob duas formas, a saber: com base nos textos visí- destinados àformação didático-pedagógica dos professores em
veis, que são os manuais e a legislação. Em outro momento da pes- determinado período e contexto da sociedade brasileira. Ofàto
quisa, por meio dos textos invisíveis - que é a forma pela qual de proporem métodos e atividades de ensino da disciplina de
professores e investigadores compreendem uma disciplina voltada História indica a necessidade de explicar o que se entende pelo
conjunto de conhecimentos veiculados por estes manuais ou o
ao ensino e à aprendizagem em História, que também foi objeto de
tipo de saberes constitutivos destas publicações. (SCHMIDT,
análise em um capítulo desta obra. 2006,p.712)
Assim como Schmidt (2006), acredita-se que os manuais
constituem-se marcos definidores em relação ao período em que
Análise realizada no Capítulo 4.
40 Ana Claudia Urban Didática da História 41

são produzidos e, por certo, tornam-se indicativos da forma pela ma de relação educação/escola/sociedade no mundo e no Bra-
qual o ensino de Ilistória foi entendido. Dessa maneira, infere-se sil. (2003, p. 41-42)
que as discussões tendo os manuais como "fontes visíveis" contri-
período, destacam-se as obras Methodolo-
Para o primeiro
buíram para se perceber como um código disciplinar voltado ao
gia da História na aula primária, publicada em 1917, e Como se
ensino de História foi pensado.
ensina História, 1935, de Jonathas Serrano".
As obras destacadas não são as únicas, no entanto optou-se
Schmidt9 (2004), em estudo das obras de Jonathas Serra-
por alguns manuais voltados à formação do professor que discutem
no, analisa as suas contribuições e o significado de sua obra para a
elementos constitutivos do ensino e da aprendizagem em História,
época. Destaca a autora que as discussões de Serrano representaram
tomando-se como referência dois momentos da história da Educação.
uma aproximação entre a História e a Pedagogia, o que contribuiu
O primeiro momento foi anterior à década de 1980, pois para a construção de um código disciplinar da Didática da História,
muitas das obras publicadas foram notadamente produzidas sob a pautado justamente na ideia de uma disciplina ensinada sob a in-
influência de movimentos/reformas educacionais e também sob a fluência da Psicologia, da Didática Geral, valorizando os métodos
tutela do Estado. de ensino.
Esse período, segundo Schmidt, foi marcado pela: Afirma Schmidt:
[...] luta dos educadores brasileiros deste e dos periodos subse- [...] a sua obra realiza interessante diálogo com a produção
quentes estavam a necessidade da difusão da escola publica, a teórica e mesmo editorial do período, particularmente nas três
formação profissional dos novos mestres e a renovação pedagó- primeiras décadas da República brasileira, tornando-se expres-
gica. Este tripé, determinado em função das demandas nacio- sivo documento da cultura escolar da época. A interação de
nais, embasou e estimulou a produção e difusão de uma litera- Serrano com autores expressivos da produção educacional da
tura especifica, destinada àformação renovada de professores. época pode ser apreendida, principalmente, pelo seu diálogo
Estas publicações consolidaram-se como documentos impor- com a obra de John Dewey. É nesse autor que ele irá buscar,
tantes para a orientação das práticas pedagógicas escolares, também, os referenciais básicos para a sua concepção do papel
de modo geral, e da História, em particular. (2006, p. 715-716) e do significado do ensino de História, bem como a sua pers-
pectiva metodológica. Para esse autor, o ensino de História de-
O segundo momento refere-se ao período pós-década de
ve ter como referência primordial a experiência da criança, o
1980, por entender-se que, a partir daquele momento, o ensino de
estimulo à sua curiosidade e o desenvolvimento de significa-
Estudos Sociais passava por uma crise, dando espaço aos questio- ções com base nas necessidades reais das crianças, tendo como
namentos pautados na retomada do ensino de História. ponto de partida a relação passado/presente. Ademais, o ensino
Oliveira acrescenta, elucidando o significado desse perío- de História deve evitar qualquer tipo de memorização e apre-
do para o ensino de História: sentação de fatos sem interesse para o aluno. Esse autor desen-

No final da década de 70 e inicio da de 80 do século XX, o en-


sino de História constituiu-se como um campo a ser analisado X Filho do capitão de mar e guerra Frederico Guilherme de Souza Serrano, senador
porque, apesar do retrocesso politico e educacional que resul- da República pelo estado de Pernambuco, e de Ignez da Silveira Serrano. Estudou
no Colégio Pedro 11, formou-se em Direito. Foi membro c participou da Dirctoria
tou da ditadura militar instalada a partir de 1964 no Brasil, os
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, além de ter exercido o magistério dc
questionamentos formulados nos anos anteriores, em relação à História no Colégio Pedro 11e na Escola Normal do antigo Distrito Fedcral.
cultura, ao comportamento e à educação/escola, haviam sido História com Pedagogia: a contribuição da obra de Jonathas Serrano na construção
tão profundos e amplos que, de fato, instalou-se uma nova for- do código disciplinar da História no Brasil. (Revista Brasileira de História. São
Paulo, v. 24, n. 48, p. 189-211,2004).
42 Ana Claudia Urban Didática da História 43

volve uma pedagogia centrada na criança e voltada à comuni- A obra, em linhas gerais, discute elementos do ensinar
dade, tendo como pressupostos os princípios do método cientí- História, tendo como referência as diretrizes psicopedagógicas do
fico. A presença do ideá rio de Dewey na obra de Serrano pode ensino, bem como os processos didáticos, como a seleção e o uso
ser explicada com base em seu próprio horizonte social. A do material de ensino e a direção de aprendizagem.
obra, em linhas gerais, discute elementos do ensinar História,
Assim é apresentada a obra pela autora:
tendo como referência as diretrizes psico-pedagogicas do ensi-
no, bem como os processos didáticos, como a seleção e uso do [...] neste trabalho, depois de estabelecermos os principios bá-
material de ensino e direção de aprendizagem. (SCHMIDT, sicos referentes à natureza da história, estudaremos os princí-
2004, p. 193-194) pios gerais do método pedagógico, que, considerando asfinali-
dades da ação educativa e as características próprias ao edu-
As obras de Jonathas Serrano, particularmente a obra de cando, nos dá as diretrizes da orientação didática. Finalmente,
1917, Methodologia da História na aula primária, passou a ser desenvolveremos os processos didáticos particulares em que
recomendada para os cursos de formação de professores, tornando- encontram aplicação os princípios fundamentais a que aludi-
-se uma bibliografia referendada por professores que atuavam na mos. (CASTRO, 1952, p. 06)
Escola Normal. Este autor destacava a necessidade de que fosse
contemplado, nos cursos de formação de professores, o que cha- A obra trata a dimensão ou o significado do método de en-
sino, visto que, em grande parte, tem a influência das ideias de
mou de "methodos especiais", aos quais o "alumno-mestre" deveria
John Dewey.
ter acesso para organizar as suas aulas e assim pudesse melhor en-
sinar os conteúdos de História. Ainda pontua a autora:
Além das contribuições de Serrano, destaca-se a obra A o estudo das diferentes técnicas didáticas particulares, aplicá-
História no curso secundáriu'" de Murilo Mendes, em 1935. veis nas situações em que se defrontam professor e alunos, não
Segundo Freitas, no texto A Pedagogia da História de pode ser desligado das considerações gerais que as explicam e
fundamentam. Diversos modos de proceder podem ser utiliza-
Murilo Mendes o autor da obra: "Apropriava-se metodicamente da
dos na direção da aprendizagem, desde que se harmonizem e
literatura sobrefilosofia da educação, reformas na escola secundá- unifiquem pela obediência a certos principios de âmbito mais
ria e métodos aplicados ao ensino de história. Era lente da Escola geral que constituem o método pedagógico. Ora, este, quando
Normal de Campinas em 1928, onde demonstrou simpatia pelas encarado em função de uma determinada matéria, deve, preli-
idéias de Sampaio Doria e Lourenço Filho". (2004, p. 163) minarmente, considerar os princípios fundamentais referentes à
Destaca-se na obra de Mendes (1935) uma preocupação natureza da matéria em questão, pois, como diz Dewey, o mé-
todo de ensino é "a eficaz orientação da matéria para resulta-
com uma renovação metodológica para o ensino de História. O
dos desejados". (CASTRO, 1952, p. 5)
autor dedicou uma parte da sua obra às discussões sobre a adequa-
ção entre os ideais e interesses da juventude, fazendo reflexões Destaca também uma preocupação pautada nas formas e
sobre as Novas directrizes da methodologia da história. estratégias de ensino, pois estas eram percebidas como elementos
Também no período que antecede à década de 1970, foi que certamente poderiam garantir a melhoria da qualidade do ensi-
publicada a obra de Amélia Americano Franco Domingues de Cas- no e da aprendizagem.
tro (1952), em São Paulo, que tem como título Princípios do méto- Na década de 1950, o Ministério da Educação e Cultura
do no ensino de História. manifesta interesse e preocupação com a fiscalização e a aplicação
de leis, com a inspeção das escolas, com as medidas que atendes-
10 Monografia para o concurso da cadeira de Metodologia do Ensino Secundário do sem às novas demandas e necessidades da clientela urbana. Para
Instituto de Educação da Universidade de São Paulo.
44 Ana Claudia Urban Didática da História 45

tanto, criou órgãos que atuavam nessas situações. Destacaram-se o Uma atividade é metódica quando refletida, ordenada e visa
Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - Inep (1944) e a Cam- atingir um fim. Portanto atingimos com método, quando traça-
panha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário - Cades mos planos ordenados e racionais para alcançar um objetivo.
(1953). "Entre as ações principais desses órgãos estava a publica- Podemos, pois, cone/uir que o Método é simplesmente um con-
ção de periódicos e manuais destinados à formação complementar junto de processos que devemos empregar, para obter resulta-
dos desejados.
dos professores brasileiros". (SCHMIDT, 2006, p. 717)
[... ]
Entre os materiais publicados pela Cades destacam-se as
Varias são as técnicas que podem ser utilizadas na seleção e
"Apostilas de Didática Especial de História")) (1959). As citadas ordenação da matéria histórica. As principais são:
obras apontavam para uma preocupação com o ensinar e o aprender a) Progressiva ou cronológica - narra os fatos históricos na
História, com os seguintes itens: ordem em que se sucederam.
Unidade I: A História e a Escola Secundária; b) Regressiva - começa o estudo da História no presente e re-
trocede até atingir os acontecimentos mais remotos.
Unidade ll: Métodos de ensino da História;
c) Círculos Concêntricos - consiste em percorrer diversas
Unidade 111:Planejamento do ensino da História;
vêzes tôda a esfera da História. [...]
Unidade IV: A motivação da aprendizagem da História;
d) Efemérides ou calendários - o estudo é feito à medida que
Unidade V: A integração e a fixação da aprendizagem da His- os acontecimentos surgem no calendário.
tória;
e) Grupos - o estudo da História acompanharia a evolução da
Unidade VI: O material didático no ensino da História; humanidade. [...] (CADES, 1959, p. 17 c 24)
Unidade VII: A verificação de aprendizagem em História;
Unidade VIII: Atividades extraclasse relacionadas ao ensino de Na década seguinte, foi publicada, em 1963, a obra Curso
História. (CADES, 1959, p. 4) de Didática de História de João Alfredo Libanio Guedes que, entre
outros aspectos, apontou para uma preocupação com a teoria geral
Na unidade intitulada "A motivação da aprendizagem da
de Didática de História, os alvos do ensino, os fundamentos psico-
História", são relacionadas orientações referenciadas em estraté-
lógicos do ensino de História, o plano de aula, as técnicas de ensino
gias decorrentes tanto da Psicologia como da Didática Geral:
e a verificação da aprendizagem de História.
Não há regras especiais para motivar a aprendizagem da His- Guedes, ao apresentar a sua obra, ressalta que, antes de
tória, diferentemente da motivação da aprendizagem de outras pormenorizar aspectos referentes à Didática da História, é "[ ...]
disciplinas. Cuida-se antes dum procedimento aplicável a todas indispensável formular alguns conceitos básicos, estabelecer al-
as matérias do currículo, segundo as características próprias
gumas diretrizes gerais e fixar pontos de referência úteis ao desen-
de cada uma. É na Didática Geral, ou melhor, na Psicologia,
volvimento dos problemas pedagógicos". (1963, p. 13)
que se estudam as bases cientificas da motivação e demais téc-
nicas de aprendizagem. O professor de História vale-se dos A obra em questão trata, de forma direta, dos aspectos re-
princípios gerais da motivação para o ensino da disciplina, lacionados aos métodos e técnicas de trabalho em sala de aula, es-
particularizando-os. (CADES, 1959, p. 55) clarecendo que:

Quanto aos métodos e técnicas voltadas ao ensino de His- A Didática da História, como a didática de qualquer disciplina
tória, esclarece a apostila: da escola secundária, tem como base psicológica, dois pontos
capitais:
II
Foram colaboradores da obra: Astréa Outra dos Santos, Eny M. Roxo da Motta, a) a psicologia do educando (no caso em aprêço, a psicologia
Fernando Scgismundo, João Alfredo Libanio Guedes, Malca O. Beider. do adolescente).
46 Ana Claudia Urban Didática da História 47

b) a psicologia da matéria a ser ensinada, isto é, o conjunto de A obra faz inferências acerca da História tanto na etapa
fatores psicológicos que possam estimular a aprendizagem chamada de Primário como no Ginásio. Tendo a Psicologia como
da referida disciplina. (GUEDES, L963, p. 42) aporte de organização, a obra apresentou-se como uma referência
para a formação de professores, sendo considerada um trabalho pio-
Da mesma forma que a Psicologia se tornou um ponto de
neiro para o período. Em relação à obra, afirma Oliveira: "[ ...] até
referência, a preocupação com a forma de ensinar também foi res- mesmo para a autora, parece ser circunstancial e motivado por
saltada, tendo como indicativo as questões advindas da própria Di- questões pessoais, para só depois se configurar num modelo e moti-
dática Geral.
vador de estudos de outros profissionais". (OLIVEIRA, 2003, p. 41)
Entre outras estratégias mencionadas pelo autor, destaca- As discussões sistematizadas por Leite destacam o que era
se a Sala de História (The Hlstory room), estratégia que, segundo significativo para o período. Mesmo transcrevendo uma citação
ele, era observada por educadores ingleses da época. Com a criação longa, acredita-se que é elucidativa, pois, tendo como referência a
dessa "sala", denotava-se a importância de métodos e instrumentos década de 60 do século XX, a autora apontou no item "Sugestões
didáticos que eram significativos à época. didáticas":
Em relação à Sala de História, descreveu Guedes:
Há cinqüenta anos, o ensino de História pretendia atingir, en-
Impõe-se, de fato, a organização, em nossos estabelecimentos tre outros, os seguintes objetivos: disciplinar a memória, a
de ensino secundário, de salas de história. As suas vantagens imaginação, o julgamento; promover ideais de patriotismo;
pedagógicas não permitem a sua omissão. ilustrar a geografia e a literatura; estabelecer relações com os
acontecimentos correntes; desenvolver os hábitos de precisão;
Essa organização, longe de ser acessória, é fundamental para
perceber claramente as relações causais; introduzir a utiliza-
um bom ensino.
ção dos livros; [...] inclinar à tolerância; inculcar o amor à
A sala de história exige, sem dúvida, um largo espaço. verdade; assegurar a formação cívica.
No fundo, ficam, ao lado, os stands de modelos, e, ao centro, o Hoje, esses objetivos se sintetizam no hábito de situar e captar
epidiascopio e a máquina de projeção. a obra do homem em sua evolução e continuidade; de captar o
No centro, as carteiras dos alunos. sentido do passado, da duração das sociedades humanas e da
De um lado, a exposição museológica e a mapoteca e, de outro, simultaneidade das coisas; de explicar o presente e estabelecer
os dioramas. a sua problemática; de deduzir as constantes morais e sociais
dos fatos e de desenvolver o espírito crítico.
Na frente, a plataforma de demonstração, necessária para des-
Terá o ensino de História condições de atingir esses objetivos?
pertar a atenção focal dos alunos. E, atrás da plataforma o
(LEITE, 1969, p. 148-L49)
quadro negro e a tela-móvel para as projeções.
Anexa à sala, deverá existir um pequeno laboratório de traba- A própria autora comenta a publicação de sua obra em li-
lho manual. (GUEDES, 1963, p. 103) vro publicado pela Anpuh, na década de 1980.

Esses e outros recursos citados reforçam a ideia de que as Em 1969, há treze anos, a Cultrix publicou o livro O Ensino de
estratégias de trabalho do professor eram de significativa relevância História, inspirado em minhas experiências como aluna, pro-
para o sucesso relacionado à aprendizagem do aluno. fessora e mãe de alunos da escola de 1 grau. Iniciado como
0

Ainda na década de 1960, mais uma obra revela a forma manual de didática de História, em 1967, o livro terminou co-
mo um levantamento de condições sociais em que se desenvol-
de pensar o ensino de História: O ensino da História no Primário e
vem o ensino da História e o relacionamento na sala de aula.
no Ginásio de Miriam Moreira Leite. (LEITE, 1982, p. 88)
48 Ana Claudia Urban Didática da História 49

Essas intenções, relacionadas ao ensino de História, ex- contexto educacional a favor do retorno do ensino de História em
pressam as preocupações sobre o que se esperava que o aluno substituição ao de Estudos Sociais. Dada essa situação, a forma de
aprendesse e, como consequência, qual era a perspectiva que ron- ensinar também passou a ser discutida tanto no meio acadêmico
dava a prática do professor. como no interior das escolas, haja vista que muitos professores que
As publicações citadas, como as de Jonathas Serrano, Mu- atuavam especialmente nas séries iniciais tiveram em sua formação
rilo Mendes, Amélia Americano Franco Domingues de Castro, as acadêmica a Didática dos Estudos Sociais.
apostilas da Cades, a obra de João Alfredo Libanio Guedes e Mi- Na esteira das reflexões sobre o retomo do ensino de His-
riam Moreira Leite, configuram-se em alguns exemplos de manuais tória no então 10 Grau, vários professores e investigadores levanta-
voltados à formação de professores, que expressam a existência de ram suas bandeiras argumentando sobre a necessidade de discus-
um código disciplinar da Didática da História, pois as proposições sões sobre o ensino de História que se impunha frente ao momento
de suas obras revelaram uma forma de pensar o ensino e a aprendi- que era vivido em relação ao ensino de História.
zagem em História. Em seus textos, os autores estabeleceram um Entre as publicações representativas desse período, está a
diálogo inicialmente com a sua época e com a forma como se idea- obra da Anpuh, Repensando a História I 2, que teve como organiza-
lizava o ensino de História. dor Marcos A. da Silva.
Vale ressaltar que as investigações realizadas sobre a pre- Essa obra foi produzida pelo Núcleo da Anpuh - Núcleo
sença de um código disciplinar da Didática da História em manuais de São Paulo e reuniu reflexões de vários professores que discutiam
foram objeto de pesquisas e publicações de Schmidt, como fica aspectos relevantes em relação ao período em que o ensino de His-
evidenciado no texto "O Estado e a presença do código disciplinar
I da Didática da História", publicado em 2006.
tória passava por intensas discussões acerca de sua importância no
cenário educacional.
"I Fernández Cuesta afirma que o código disciplinar carrega O organizador da obra, na Nota Irurodutària, esclarece
uma forma de pensar, uma tradição social, um conjunto de ideias e que, além de relatos de experiências em sala de aula, os textos con-
rotinas que legitimam a função educativa atribuída à História. A tidos no livro: "[...] discutem o estado atual de diferentes aspectos
perspectiva que fica demonstrada nesses textos visíveis é a de que o da aprendizagem em História - do livro didático à identidade entre
ensino de História tinha como foco de ação uma natureza metodo- pesquisa e ensino, dos projetos oficiais de treinamento de Profes-
lógica, de sistematização didática, em que se buscava um "ensino sores a soluções teóricas oferecidas para o que alguns consideram
eficiente" que, por sua vez, seria alcançado por meio da organiza- crise do ensino de História ". (SrL V A, 1982, p. 9)
ção do professor. Ao mesmo tempo, o aluno era visto como um
A partir da década de 1980, muitas contribuições emergi-
sujeito que necessitava ser considerado de acordo com as suas con- ram para discutir o ensino de História. Algumas delas foram siste-
dições, níveis de aprendizagem, ou seja, o professor deveria apoiar- matizadas em obras que, se não foram pensadas exclusivamente
-se em conhecimentos advindos da Psicologia que contribuíssem como manuais voltados à formação de professores, tornaram-se
para a organização metodológica de suas aulas. Dessa forma infere- referenciais discutidos tanto no interior dos cursos de formação de
-se que, por meio dos manuais até o momento analisados, fica evi-
denciada a existência de um código disciplinar pautado na valori-
zação do método e da Psicologia. 12
Entende-se que a citada publicação foi fruto de reflexões de professores e investi-
gadores sobre o panorama do ensino de História na época, e que ela não foi pensa-
O segundo grupo de manuais analisado foi publicado de-
da como um manual voltado à formação de professores, mas uma Forma de pensar
pois da década de L 980. Esse período representou para o ensino de o ensino de História numa dada época, e seguramente serviu de referencial para es-
História um marco, devido às mudanças que estavam ocorrendo no tudos e discussões tanto nos cursos de formação de professores como também nas
próprias escolas.
50 Ana Claudia Urban Didática da História 51

professores como também em cursos e seminários 13 voltados ao sobre o civismo foram recuperadas por meio desse texto, em que
ensino de História que aconteciam no período. Bittencourt (1988) remete a situações em que o apelo ao civismo
Entre as obras do período mencionado, destaca-se O ensi- era "concretizado" com base em orientações dos órgãos que manti-
no de História e a criação dofato, organizada por Pinsky'" e publi- nham as escolas.
cada em 1988 pela Editora Contexto. [...] para as solenidades do culto à bandeira e as que se referi-
A proposta foi discutir o conceito de fato, bem como uma am ao hino nacional, prevaleceu esta espécie de culto sacrali-
concepção de História, justamente no momento em que o ensino de zado que foi sendo incorporado por professores e pelos pró-
História estava vivendo amplas discussões quanto a sua função nos prios alunos. As divergências que passaram a ocorrer relacio-
currículos escolares. Portanto, essas reflexões deixavam transpare- navam-se às comemorações das "datas nacionais" e envolve-
cer um código disciplinar pautado em uma forma de entender a ram problemas mais complexos para historiadores e autorida-
História, tendo em vista que, no momento de sua publicação, havia des que se revezavam no poder. (BITTENCOURT, 1988, p. 54)
um forte apelo em torno do compromisso da História com a verda- As discussões suscitadas por este livro traduziam uma no-
de e essa suposta busca pela verdade era visualizada por diversos va forma de pensar o ensino e os valores que perpassavam as práti-
meios, inclusive pelo livro didático. cas nas escolas, nos textos escolares, depois de anos em que tais
Nessa obra destaca-se uma reflexão voltada aos rituais cí- proposições estavam ausentes do ensino de História. O livro não
vicos que caracterizavam o ambiente escolar durante a Ditadura pontua diretamente uma forma de compreender o ensino e a apren-
Militar. O texto As 'Tradições Nacionais' e o Ritual das Festas dizagem em História, mas reveja elementos que compunham uma
Cívicas argumenta em torno de uma preocupação com a recupera- forma de pensar a História, um conjunto de valores que, de certa
ção de uma memória nacional que não estaria exclusivamente atre- forma, legitimava o ensino de História, e que foi entendido, nessa
lada às atividades "cívicas", que durante muito tempo caracteriza- investigação, como elemento de um código disciplinar da Didática
ram a escola, especialmente o ensino de História. As discussões da História.
Outra obra que, se não foi pensada como referência para os
IJ
Entre os exemplos de eventos organizados e voltados ao ensino de História, confi- cursos de formação de professores, acabou por compilar dados sobre
gurou-se o encontro "Perspectivas do Ensino de História", que teve sua primeira
realização na Universidade de São Paulo, em 1988, e as edições seguintes ocorre-
o momento das reformas curriculares pelas quais o ensino de Histó-
ram em 1996; na Universidade Federal do Paraná - Curitiba, em 1998; na Univer- ria passou a partir da década de 1970, foi Caminhos da História En-
sidade Federal de Ouro Preto - Minas Gerais, em 200 I; em 2004, na Universidade sinada, de Fonseca, publicada pela Editora Papirus, em 1993. 'l.. ]
Estadual do Rio de Janeiro e a sexta edição do Encontro aconteceu em 2007, na
esta obra longe de querer tornar definitivo um conhecimento em
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Também se destaca o encontro intitulado Pesquisadores do Ensino de História,
História, constitui-se numa possibilidade de recuperação, registro e
que vem ocorrendo desde 1993. O primeiro ENPEH (Encontro Nacional dos interpretação de experiências de constituição/reconstituição do co-
Pesquisadores do Ensino de História) aconteceu em Uberlândia, em 1993; o ][ nhecimento histórico em condições históricas especificas em nosso
Encontro aconteceu na Universidade Federal Fluminense - Rio de Janeiro, em
passado recente". (FONSECA, 1993, p. 16)
1995; em 1997, na Universidade de Campinas - na Faculdade de Educação -,
ocorreu o 111Encontro; o IV Encontro Nacional, em 1999, na Universidade Re- Na Introdução, a autora anuncia que o livro foi uma pro-
gional do Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ; o V Encontro posta de recuperação histórica da forma como o ensino de História
Nacional, em 2001, em João Pessoa; a sexta edição ocorreu em 2003 na Univer-
sidade Estadual de Londrina; em 2006, na Universidade Federal de Minas Ge-
roi tratado nas reformas curriculares ocorridas em diversos estados
rais, realizou-se o VII Encontro Nacional e a última edição se realizou em julho brasileiros, nas décadas de 1970 e 1980. Como o código disciplinar
de 2008, na Universidade de São Paulo. também agrega "[, ..] Discursos, regulaciones, prácticas y contex-
14
O livro contou com textos escritos por Elza Nadai, Paulo Miceli, Circe Bittencourt,
tos escolares [...] de Ias sujetos profesionales [...] y de Ias destina-
Nicholas Davies e M. Carolina Galzerani.
52 Ana Claudia Urban Didática da História 53
tarios socia/es [... l"(FERNÁNDEZ CUESTA, 1998, p. 8-9), com- retorno da História e da Geografia no ensino fundamental. Propõe,
preende-se que o Iivro de Fonseca (1993) registra uma forma de ainda, uma discussão em torno de conceituações do ensino da His-
pensar o ensino de História em meio às mudanças que ocorriam no tória, apresentando noções como: o conceito de fato, de sujeito e de
contexto educacional brasileiro, no recorte temporal escolhido pela tempo histórico, buscando a relação desses conceitos com a historio-
autora. grafia e uma concepção de Educação:
Na década de 1990, foi proposta a edição dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, material publicado pelo Ministério da Edu- Os sujeitos da História podem ser os personagens que desem-
cação e que se apresentou, por meio do discurso oficial, não como penham ações individuais ou consideradas como heróicas, de
poder de decisão politica de autoridades, como reis, rainhas e
um currículo obrigatório, mas como uma referência para a organiza-
rebeldes. [...] O sujeito histórico pode ser entendido, por sua
ção dos programas curriculares regionais. No entanto, uma década
vez, como sendo os agentes de ação social, que se tornam signi-
após o seu lançamento, pesquisa'", como a de Oliveira, aponta que: ficativos para estudos históricos [...] Podem ser trabalhadores,
A primeira crítica que se pode fazer aos Parâmetros Curricula- patrões, escravos, reis, camponeses, políticos, prisioneiros, cri-
res Nacionais de História é que eles não são parâmetros. Cons- anças, mulheres, religiosos, velhos, partidos políticos, etc.
tituem um guia curricular, já que aliam objetivos, conteúdos, (BRASIL, 1997, p. 36)
metodologia e forma de avaliação. Não fornecem parâmetros
para serem utilizados - garantindo a todos o acesso a um tipo São pontuadas questões sobre a temporalidade, isto é, so-
de educação histórica - de acordo com a realidade vivida em bre a noção de tempo, do acontecimento breve, o tempo da conjun-
regiões, estados, municípios ou outras divisões dimensionadas tura e o tempo da estrutura, ampliando, nesse sentido, as reflexões
pela vivência de uma coletividade. (2003, p. 224-225) sobre o tempo linear, ultrapassando, na perspectiva do material, a
visão do tempo cronológico.
Mesmo frente a apoios e críticas, não se pode ignorar a Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, em His-
presença dos PCNs, pois eles integraram ações do Ministério da tória e Geografia:
Educação, publicadas em L997, num primeiro momento para as
primeiras séries do Ensino Fundamental; em 1998, para o ensino de Os diferentes conceitos - de fato histórico, sujeito histórico e
SU a 8" série do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, em tempo histórico - refletem distintas concepções de História e de
1999. como ela é estruturada e constituída. Orientam, por exemplo,
Assim, a partir de 1997, os Parâmetros Curriculares Na- na definição dos fatos que serão investigados, os sujeitos que
cionais passaram a integrar as discussões acerca dos encaminha- terão a voz e as noções de tempo histórico que serão trabalha-
das. (BRASIL, 1997, p. 38)
mentos referentes ao ensino, no Ensino Fundamental, especialmen-
te nas séries iniciais, constituindo-se uma referência para o código O texto dos PCNs assumiu o discurso de um ensino pro-
disciplinar da Didática da História. blematizador, veiculando a necessidade de compreensão da real i-
O volume voltado ao Ensino de Histórial6 apresenta argu- dade e apontando os objetivos gerais de História para o Ensino
mentações sobre a criação dos Estudos Sociais, bem como sobre o Fundamental, entre eles:
15
Para conhecer uma análise sobre os Parârnctros Curriculares Nacionais ver Capítu- - conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos so-
lo 3 "A construção de rcferenciais para o ensino de História: limites e avanços" ciais, em diversos tempos e espaços, em suas manifestações cul-
da tese "O Direito ao passado - uma discussão necessária à formação do pro- turais, econômicas, politicas e sociais, reconhecendo seme-
fissional de História" (2003), de Margarida Maria Dias de Oliveira. lhanças e diferenças entre eles;
16
1 c 2° Ciclos.
0
54 Ana Claudia Urban Didática da História 55

- questionar sua realidade, identificando alguns de seus pro- A primeira parte do manual possui quatro textos que ver-
blemas e refletindo sobre algumas de suas possíveis soluções, sam tanto sobre a questão curricular quanto sobre a formação de
I
reconhecendo formas de atuação política institucional e orga- professores. Como o momento estava sendo marcado por diversas
nizações coletivas da sociedade civil. (BRASIL, 1997, p. 41) discussões, entre elas a publicação dos PCNs, o manual revela um
li! Os PCNs também apresentam os Conteúdos de História:
posicionamento de sua organizadora, uma das assessoras dos PCNs,
em face das discussões do momento: "As introduções dos textos
critérios de seleção e organização em que são apresentados aspec- oficiais reiteram, com insistência, que o ensino de História, ao estu-
tos referentes aos conteúdos que podem ser trabalhados com os lar as sociedades passadas, tem como objetivo básico fazer o aluno
alunos do 10 e 20 ciclos 17 do Ensino Fundamental. A organização
'ompreender o tempo presente e perceber-se como agente social
proposta para os conteúdos são os eixos temáticos 18. capaz de transformar a realidade, contribuindo para a construção
Sua publicação foi diretamente voltada aos professores e de uma sociedade democrática". (BITTENCOURT, 1997, p. 19)
passou a ser objeto de pesquisas e reflexões em todo o Brasil, dado A citação, bem como os textos da primeira parte do manual,
o impacto causado em virtude de seu valor enquanto currículo. expressava a necessidade de que o ensino de História assumisse a
Em relação ao seu significado para o ensino de História, formação de um cidadão crítico perante a sociedade, apontada como
importa perceber de que forma o discurso oficial, explicitado no lima meta imprescindível diante do movimento característico da época.
material, retratava uma forma de conceber o ensino e a aprendiza- A segunda parte da obra discute o que foi chamado de "ne-
gem em História, ou impunha uma "proposta" que não se coaduna- cessidades e dificuldades na utilização de diferentes recursos de
va com as concepções que estavam sendo debatidas. ensino" (BITTENCOURT, 1997), remetendo-se aos livros-textos,
Este documento, publicado sob a chancela do poder públi- li iconografia, ao trabalho com museus, à memória, à utilização de
co, traduziu uma forma de pensar a relação ensino e aprendizagem, filmes como "linguagens" possíveis de serem usadas no ensino de
objeto de reflexões de todos os envolvidos na dinâmica escolar, 11 istória.
seja na Educação Básica ou no Ensino Superior. O manual torna-se representativo do período por duas
Entre as discussões que marcavam a década de 1990, foi questões: Primeiro, porque sistematizou reflexões voltadas à for-
publicada a obra O saber Histórico na sala de aula (1997) pela mação do professor em relação ao currículo e à retomada do ensino
Editora Contexto e organizado por Bittencourtl9. de História no Ensino Fundamental e Médio.
Na Apresentação, foi registrado que os autores pretendiam Segundo, porque, dada a natureza dos textos que compõem
"[...] contribuir para a necessária reflexão dos professores neste li segunda parte e que arrolam no trabalho fontes, imagens, museus,
momento de redefinição dos conteúdos e dos métodos de ensino". aspectos inerentes à natureza da própria História, representa uma
(BITTENCOURT, 1997, p. 7) contribuição significativa, haja vista que a grande parte das obras
I1111
que a antecederam, quando se referiam a "métodos", reportavam-se
tis sugestões técnicas, como trabalho em grupo, estudo dirigido, su-
17 Na organização curricular por ciclo, o 10 ciclo corresponde às I." e 2: séries e o 2° gestões válidas, no entanto, procurando trazê-Ias à natureza do méto-
ciclo corresponde às 3° e 4° séries, tendo o Ensino Fundamenta' de oito anos como do histórico.
referência.
I~ Para saber mais sobre a organização curricular em tomo de eixos temáticos, ver o
O outro manual que se destacou foi a História na sala de
Currículo de História de São Paulo (1992), e também o Currículo de História do aula: conceitos, práticas e propostas, organizado por Karnal20 e
Estado do Paraná (1992). publicado pela Editora Contexto em 2003.
19 Além de Circe Bittencourt como organizadora, a obra tem como autores: Adriana
Mortara Almcida, Antonia Terra, Camilo de Mello Vasconcellos, Carlos Alberto
Vesentini, Elias Thomé Saliba, Kátia 'Abud, Marcos Napolitano, Maria Auxilia- '11 Leandro Kamal foi o organizador. Além dele foram autores da obra: Carla Bassanezi
dora Schmidt, Maria de Lourdes Mônaco Janotti e Ricardo Oriá. Pinsky, Circe Bittencourt, Eliane Moura da Silva, Holien Gonçalves Bezerra, Jaime
56 Ana Claudia Urban Didática da História 57

o manual está dividido em duas partes; a primeira: Uma das organizadoras esclarece que a produção do livro
se deu, entre outros motivos, em função da "[ ... ] necessidade de
[...] trata de questões mais gerais e com reflexões teóricas im-
textos conceituais que subsidiassem o trabalho de professores em
portantes para a sala de aula. [...] São reflexões diretas e con-
sala de aula". (ABREU, 2003, p. 7)
cretas que, se lidas e analisadas, transformam defato a prática
de ensinar. Nós, professores, precisamos ter cada vez mais O livro aborda temáticas como: Identidade por meio dos
consciência de que qualquer prática em sala de aula nasce de textos=', Identidades plurais e Identidade nacional e ensino de His-
uma concepção teórica. (KARNAL, 2003, p. 12) tória: a diversidade como 'patrimônio sociocultural.

A segunda parte apresenta textos de diversos especialistas A temática Cultura é abordada em alguns textos, como
em História Antiga, Medieval, História da América, com sugestões "Cultura popular: um conceito e várias histórias" e "O ensino de
história e a luta contra a discriminação racial no Brasil".
de bibliografia, filmes e projetos que podem ser realizados pelos
professores, acompanhados de reflexões pertinentes aos temas es- Na Parte lU, o tema Cidadania é discutido por meio de
colhidos. textos como "O que significa ser cidadão nos tempos coloniais",
O livro, ao mesmo tempo em que faz uma reflexão sobre "História e cidadania: por que ensinar história hoje". O último te-
temas como a avaliação, o ensino por conceitos e exemplos de uso ma, Gênero, é sistematizado em "Gênero e história", "Gênero e
da literatura no ensino de História, sistematiza reflexões voltadas aos ensino: parâmetros curriculares, fundacionalismo biológico e teo-
rias feministas".
"conteúdos" ensinados, como por exemplo, em relação à História
Antiga e à Arqueologia, contemplando: "[ ...] um texto agradável e O manual caracteriza-se por um debate historiográfico,
consciente das dificuldades do professor, faz indicações fundamen- tendo as temáticas mencionadas como um ponto de discussão, vol-
tais para estudar os tempos medievais ". (KARNAL, 2003, p. 13) tadas ao ensino de História. Argumenta uma das organizadoras que
Em síntese, a obra tem uma preocupação em subsidiar o a divulgação dos "Temas Transversais" colocou no debate do ensi-
professor em relação a conteúdos que fazem parte dos curriculos. no de História conceitos e temáticas que faziam parte do grupo de
Essas reflexões não se constituem em "modelos de aulas", mas em pesquisa ao qual os autores pertenciam. Assim, fez-se oportuno
subsídios que podem contribuir com o ensino de conceitos em His- divulgar as investigações realizadas. "Embora reconhecêssemos a
tória. validade e a importância da presença destes conceitos entre os
principais objetivos do ensino da história, tornou-se estimulante
Destacam-se também algumas obras publicadas a partir do
dirigir-lhes um olhar mais atento e critico. Passamos, então, a en-
ano 200021• Dentre elas, Ensino de História: Conceitos, temáticas e
carar os Parâmetros como um documento histórico, que, como tal,
metodologia'", publicada em 2003, com a organização de Abreu e precisava ser discutido e analisado ". (ABREU, 2003, p. 8)
Soihet, pela Editora Casa da Palavra.
O manual evidencia uma preocupação caracterizada pela
abordagem de temáticas que influenciavam o ensino de História na
Pinsky, Janice Thcodoro, José Alves de Freitas Neto, José Rivair Macedo, Luiz Este- época, temáticas estas pautadas em documentos publicados pelo
vam Fernandes, Marcos Napolitano, Marcus Viníeius de Morais, Pedro Paulo Funari, Estado, como os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais.
Rafacl Ruiz.
Mesmo abordando um "conteúdo" propriamente dito, os textos têm
21 As obras: Didática c Prática de Ensino de História (2003), de Selva Guimarães Fon-
seca, e Ensino de História: fundamentos e métodos (2004), de Circe Maria Fernandes
a intenção de subsidiar a prática do professor.
Bittencourt, estão analisadas no Capítulo 3.
22 Os textos da obra são frutos de investigações realizadas pelo Núcleo de Pesquisas e
23
Estudos em História Cultural do Departamento de História da Universidade Fede- Foram citados alguns textos que compõem a obra com a intenção de exempli ficar a
ral Fluminense. argumentação em torno dos temas que a caracterizam.
58 Ana Claudia Urban Didática da História 59

Segundo Bufrem, Schmidt e Garcia: o manual aborda temas inerentes tanto à formação inicial
do professor como também à sua formação continuada. Por caracte-
Nestes manuais a natureza dos conteúdos é guiada pelas neces-
rizar-se como obra com uma proposta definida, as proposições de
sidades práticas da formação dos professores, cujo processo
cada tema (organizadas em capítulos) podem ser discutidas durante
pode ocorrer em dois níveis: um é puramente prático, isto é, de
acordo com os métodos de ensino na sala de aula; o outro é o processo de formação inicial de professores, aprofundando as
teórico, isto é, relaciona-se com as condições e necessidades discussões baseadas na bibliografia sugerida, como também por
básicas dos conteúdos da ciência especifica. (2006, p. 5) meio de debates apontados no item "ampliando o debate".
A característica da obra é que as autoras apoiam-se em re-
Com base nessas contribuições, entende-se que os manuais ferências da historiografia, articulando-as com possibilidades me-
Ensino de História: conceitos, temáticas e metodologia e História todológicas para a discussão dos temas, numa dinâmica que favore-
na sala de aula: conceitos, práticas e propostas assumem uma ca- ce ao mesmo tempo um estudo sobre os temas e propicia discus-
racterística voltada à natureza dos conteúdos específicos da Histó- sões metodológicas, que podem ser trabalhadas tanto em sala de
ria, o que Femández Cuesta aponta como um conhecimento do que aula ou como atividades complementares.
se ensina. Tais manuais concorrem muito mais para uma aproxima-
Todas as obras anteriormente mencionadas representam o
ção maior com os conteúdos que compõem o currículo escolar do
que Nadai pontuava como "perspectivas para as reflexões em forno
que para uma discussão relacionada à natureza do ensinar e apren-
do ensino de História ", destacando aspectos relacionados ao perfil
der.
da disciplina História, aos seus métodos de ensino, aos seus conteú-
A outra obra publicada, a partir do ano 2000, foi Ensinar dos, às propostas curriculares, à avaliação, ou seja, elementos do
História, de Schmidt e Cainelli, pela Editora Scipione (2004). código disciplinar da Didática da História, demonstrando que nas
As autoras apresentam a obra como: últimas décadas o ensinar e aprender História estiveram presentes e
foram pensados, tendo como suporte diferentes referenciais.
Escrito como um "manual", este livro pode efetivamente levar
às mãos dos professores algumas sugestões, orientações e re- A literatura relacionada ao ensino de História continua
flexões para transformar e enriquecer o ensino. [...] apontando possibilidades de se pensar tanto o ensino quanto a
Reúne as principais questões relativas à metodologia e prática aprendizagem. Em síntese, os manuais'" ao serem produzidos reve-
do ensino de História, abordadas com base na produção histo- lam que o ensino e a aprendizagem em História buscam contribui-
riográfica e nas propostas pedagógicas mais atuais. (SCH- ções ora da Psicologia, ora da Didática Geral, ora da Historiografia.
MIDT; CAINELLI, 2004, p. 4-5) Isto é, os autores comprovam que, ao pensarem essa relação, fazem
uso de diferentes "lentes", atestando, mais uma vez, a existência
Entre os temas discutidos na obra estão: histórias do ensi- empírica de um código disciplinar da Didática da História.
no de História; a construção do fato histórico; a construção de con-
ceito histórico; as fontes históricas; o livro didático e a avaliação. 24 o exercício da investigação pressupõe algumas escolhas. Para este momento da
Apresenta-se como um manual com uma estruturação que pesquisa, não se contemplaram todas as obras voltadas ao ensino de História. Fi-
zeram-se algumas opções, isto é, escolheram-se obras representativas, em relação
'111 permeia todos os capítulos, a saber: teorizando sobre o tema, deba-
I à sua natureza, que é a preocupação com a formação do professor. Destacaram-se
I tendo o tema, trabalhando atividades, ampliando o debate e comen- outras obras também: SILVA, Marcos A. (Org) História em Quadro-Negro: esco-
tando bibliografia e, segundo as autoras, é uma obra destinada "[ ...] la, ensino e aprendizagem. Revista Brasileira de História. São Paulo. v.9, n. 19,
a professores e alunos dos cursos superiores de Magistério, alunos 1990. CABRINI et al. O ensino de História: revisão urgente. São Paulo: Brasili-
ense, 1994. Caderno CEDES 67. São Paulo, Cortez, Campinas. 2005. ZAMBO-
e professores de licenciaturas em História, professores do Ensino NI, E.; FONSECA, S.G. (Orgs.). Espaços de formação do professor de Histó-
Fundamental e Médio ". (SCHMIDT; CAlNELLI, 2004, p. 5) ria. São Paulo: Papirus 2008 ... entre outras.

Illi'
60 Ana Claudia Urban Didática da História 61

1.2.2 A presença do Código Disciplinar da Didática da "perspectivas" alcançassem, na mesma proporção, a formação do
História nas propostas dos cursos de formação professor.
de professores Como afirmado na Introdução do capítulo, para apontar-se
elementos do código disciplinar da Didática da História, além dos
Em 1993, Nadai publicou um texto intitulado "O ensino de
manuais, era necessário buscar outros "textos visíveis". Por isso é
história no Brasil: trajetória e perspectiva" na Revista Brasileira de
que se analisou a Legislação referente aos cursos de formação de
História, no qual recupera o lugar da História como disciplina esco-
professores, por se acreditar que o curso de formação inicial é o
lar em um momento marcado por intensas discussões sobre as dis-
lugar privilegiado (não único) para as reflexões em torno do código
ciplinas e seu lugar nos currículos escolares.
disciplinar da Didática da História. Nesse sentido, considera-se
A autora também destaca a relação entre a trajetória do en- fundamental analisar algumas perspectivas teóricas que têm fun-
sino de História e a formação do professor. Afirma Nadai: damentado o significado da Didática, que será objeto do próximo
As primeiras medidas concretas no sentido da inovação do en- capítulo.
sino em geral, e o de História em particular, ocorreram com a
instalação dos primeiros cursos universitários direcionados pa- o Código Disciplinar da Didática da História
ra a formação do professor secundário, em 1934. No bojo da na legislação para cursos de formação de professores
criação e instalação da primeira universidade brasileira [...]
em São Paulo acorreram para esta cidade e depois para a do Dentro das possibilidades de análise das Legislações vol-
Rio de Janeiro [...] cientistas estrangeiros que se preocuparam tadas à formação de professores, considerou-se relevante a análise
em introduzir a pesquisa cientlfica nas diversas áreas [...], su- de dois documentos: o Parecer 292, aprovado em 14 de dezembro
perando a fase de auto-didatismo e abrindo perspectivas novas de 1962, que teve como relato r o Conselheiro Valnir Chagas, e as
para a atuação docente. (NADAI, 1993, p. 153-154) Diretrizes Curriculares do Curso de História, publicadas em 200 I
pelo Ministério da Educação.
O momento era de discussão tanto em relação à volta da
O Parecer foi aqui tomado como um documento oficial
História aos currículos de 10 Grau quanto ao alcance desse retorno
vinculado às questões pedagógicas dos cursos de Licenciaturas,
no interior dos cursos de formação de professores. Em meio a esse
pois tornou obrigatório um conjunto de disciplinas com objetivos
movimento, Nadai (1993) aponta "perspectivas" para o ensino de
relacionados à formação pedagógica do professor.
História, afirmando que era necessário reconhecer:
Compreende-se que todas as disciplinas de um curso de
[...] que ensinar História é também ensinar o seu método e, por- Licenciatura precisam ter como preocupação a formação pedagógi-
tanto, aceitar a idéia de que o conteúdo não pode ser tratado de ca do futuro professor, mas a relevância desse Parecer reside no
forma isolada. Deve-se menos ensinar quantidades e mais ensi- fato da institucionalização legal de disciplinas voltadas a uma for-
nar a pensar (refletir) historicamente. [...] mação pedagógica, valorizando ou destacando a necessidade de
Superação da dicotomia ensino e pesquisa. [...] que os cursos de Licenciatura privilegiassem um espaço (carga
Compreensão de que alunos e professores são sujeitos da histó- horária), voltado à especificidade da prática do professor. Esse Pa-
ria; são agentes que interagem na construção do movimento recer, publicado em 1962, destacou que o curso de formação do
social. (NADAI, 1993, p. 159-L60) futuro professor, por meio das disciplinas pedagógicas, deveria
Corrobora, com essa afirmação, que não bastava recolocar ocupar-se com discussões e reflexões ligadas ao aluno e ao método.
o ensino de História na educação básica; era necessário que tais Esclarece também que, para que o futuro professor tenha
conhecimento acerca do primeiro item - o aluno - é indispensável
62 Ana Claudia Urban Didática da História 63

que tenha conhecimentos da Psicologia da Adolescência, pois, por O Parecer destacou a necessidade da realização de ativida-
meio dessa ciência, o futuro professor adquire conhecimentos sobre des de Estágio Supervisionado, em que os futuros professores iriam
o desenvolvimento humano, conhecimentos estes necessários, ten- aplicar os conhecimentos adquiridos dentro de um espaço real, que
do em vista que o futuro profissional atuará com alunos nesta faixa era uma escola da comunidade. Dessa forma, segundo o relator, o
de idade. futuro professor estaria executando as três tarefas características do
Quanto ao método, diz o Parecer: ato de ensinar, que são: o planejamento, a execução e a verificação.
O Parecer afirma que a preparação pedagógica de um futu-
[...] deve ser focalizado o ato de ensinar com o seu corre/ato
ro licenciado deveria abranger:
prévio do aprender. Para isso aconselham-se a Didática e a
Psicologia da Aprendizagem (incluindo obviamente o capítulo 1. Psicologia da Educação: Adolescência. Aprendizagem.
de Motivação), além da Prática de Ensino, para trazer o neces- 2. Elementos de Administração escolar.
sário realismo àquelas abordagens mais ou menos teóricas da 3. Didática.
atividade docente. (BRASIL, 1981, p. 34)
4. Prática de Ensino, sob a forma de estágio supervisio-
Com tal indicação, fica destacada a preocupação com um nado. (BRASIL, 1981, p. 35)
método e com o conhecimento sobre o aluno, sendo, segundo o O exercício da análise deste Parecer forneceu argumentos
Parecer, a Psicologia da Adolescência a disciplina que poderia ins- que evidenciaram uma valorização da tarefa do "ensinar", isto é, o
trumentalizar o futuro professor. destaque posto pelo documento reside na preocupação de que o
O texto do documento destacou ainda, com certa estranhe- futuro professor tenha sido instrumentalizado e treinado para ser
a, o fato de que, até a sua publicação (1962), a prática de ensino professor. "A Prática de Ensino, esta deve ser feita nas próprias
ainda não se configurasse entre as disciplinas obrigatórias do curso escolas da comunidade, sob aforma de estágios, como os "interna-
de formação do professor, como se percebe na citação: tos" dos cursos de Medicina. Só assim poderão os futuros mestres
realmente aplicar os conhecimentos adquiridos, dentro das poss i-
É de estranhar que até agora, entre as exigências oficiais para bilidades e limitações de uma escola real, e ter vivência do ato
a formação do magistério, ainda não figurasse a Prática de En- locente" [00.]. (1981, p. 34)
sino com o merecido relevo. O fenômeno talvez se explique co-
mo um reflexo do próprio meio social, onde não se concebe que Em síntese, infere-se que o documento destaca dois aspectos:
uma intervenção cirúrgica [00'] esteja a cargo de médico que a 0
1 _ A preocupação com o aluno - que é o foco de ação do
faça pela primeira vez e, paradoxalmente, se entrega a educa- futuro professor. Segundo a concepção da época, conhecer os está-
ção de uma criança ou de um jovem, ato que tem repercussões gios de desenvolvimento do aluno representa mapear as suas possi-
para toda a vida, a professores que jamais se defrontaram an-
bilidades de aprendizagem, pois, com certeza, esse seria um fator
tes com um aluno. (BRASIL, 1981, p. 34)
de interferência no planejamento das aulas. Assim, o aluno, que é o
Fica expresso que a prática de ensino era pensada como "alvo" da ação do professor, não foi visto como um sujeito objeti-
um conjunto de procedimentos com os quais o futuro profissional vamente situado, mas como o que apregoa a Psicologia em relação
estaria apto para assumir seu papel como professor e que entre os a suas possibilidades de aprendizagem.
"instrumentos" para auxiliá-lo estava a Psicologia e a Didática. 20 - O valor atribuído à Didática, demonstrado quando o
Fica enfatizada, dessa maneira, a importância atribuída ao método relator aponta como imprescindível a necessidade de instrumental i-
e, consequentemente, à prática de ensino como ferramenta indis- .ar o futuro professor em relação a um método de trabalho, concre-
pensável à formação do professor. tizando-se no cumprimento do Estágio Supervisionado, prática esta
III
64 Ana Claudia Urban Didática da História 65

comparada ao processo de formação de um médico, que, durante Não é intenção aqui realizar uma investigação acerca da
sua formação, realiza uma "prática prévia" sob a tutela de um res- Legislação educacional no que se refere à formação do professor,
ponsável. Assim também o professor, segundo o relator, necessita mas, por meio de alguns aspectos desta Legislação, apresentar ar-
dessa "experiência tutelada", para que "[...] não fique o estudante gumentos que comprovem historicamente a existência de uma for-
entregue à própria sorte, cometendo erros e adquirindo vícios que ma de pensar o ensino e a aprendizagem, e, em nossa compreensão,
dificilmente se extirparão mais tarde". (BRASIL, 1981, p. 35) o Parecer 29211962 trouxe elementos que por certo sistematizam
Nesse sentido, aluno e método são as palavras-chaves que essa preocupação, pois institucionalizou, na formação do professor,
disciplinas responsáveis por essas discussões.
nortearam a Legislação mencionada, pertinente à formação do profes-
sor, em que a prática de ensino, aliada à Didática e somada à Psicolo- A natureza epistemológica dessas disciplinas não pode ser
gia, constituíram-se em um tripé fundamental, capaz de instrumentali- analisada por meio do Parecer, no entanto ficou evidenciada uma
zar eficientemente o futuro professor quanto a sua futura prática. necessidade de "formação pedagógica" que foi institucionalizada
por meio das disciplinas Psicologia da Educação: Adolescência.
Como se argumenta sobre a forma pela qual se constituiu Aprendizagem; Elementos de Administração Escolar; Didática;
historicamente uma preocupação didática em tomo de ensinar e Prática de Ensino, sob a forma de Estágio Supervisionado.
aprender, nos cursos de formação de professores, conhecer e analisar
Além dos documentos oficiais, como o Parecer 292/62,
II11
o Parecer 292/62, que trata oficialmente da primeira criação de dis-
outras publicações oficiais foram produzidas pelo Ministério da
ciplinas voltadas à formação pedagógica do futuro professor, possi-
Educação em relação à formação de professores.
bilitaram a reflexão sobre como se compôs uma forma de pensar
I'
uma preocupação didática do ponto de vista da própria Legislação. Destaca-se nesta etapa da investigação a análise de um
I material divulgado em maio de 1986, intitulado "Diagnóstico e
Assim, o período mencionado (década de 1960) e o ques-
Avaliação dos Cursos de História no Brasil- documento final".
tionamento em torno da formação de professores envolveram, entre
outras questões, a Prática de Ensino, como confirmam Barreiro e Trata-se de uma análise e avaliação dos cursos de História
Gebran (2006): feita por um grupo de consultores convocados pela Secretaria de
Educação Superior-SESu/MEC. A proposta do material foi a reali-
[...] considerando que prevalecia um distanciamento entre a ação de um diagnóstico dos cursos de História em relação ao alu-
formação teórica e a formação prática, ou seja, ainda perma- nado, à estrutura dos cursos, às disciplinas, à questão Bacharelado e
necia a visão dicotômica entre método e conteúdo. A proposi-

I
Licenciatura, à articulação com outros níveis de escolarização, en-
ção da prática que permeava a formação docente estava dire-
tre outros aspectos.
tamente vinculada à imitação, observação e reprodução de mo-
delos teóricos existentes, sem que houvesse preocupação com O diagnóstico e avaliação realizados tiveram como meto-
as diferenças ou desigualdades eventualmente presentes. Espe- dologia a observação e parecer dos consultores, bem como a utili-
rava-se que se ensinasse o professor a ensinar, conforme pa- ação de instrumentos sistematizados para esse fim25.
drões consagrados. Sua formação prática, portanto, seria a de
reproduzir e exercitar modelos. (2006, p. 43) O documentofinalfoi publicado em maio de 1986 e condensou
um relatório das atividades desenvolvidas pelo Grupo de Con-
Em meio a questionamentos e discussões, a Legislação
pertinente apontava que o curso de formação do professor deveria
25 Para ver análise sobre este diagnóstico e a forma pela qual repercutiu junto às
garantir uma preparação concreta, acrescentando e destacando as organizações acadêmicas, ver Capítulo 3 "A construção de referenciais para o en-
atividades de prática de ensino, com o que o curso estaria aproxi- sino de História: limites e avanços" da tese "O Direito ao Passado (Uma discus-
mando o acadêmico das suas futuras atribuições: dar aulas. são necessária à formação do profissional de História) (2003)" de Margarida Maria
Dias de Oliveira.
66 Ana Claudia Urban Didática da História 67
sultores, o qual produziu um primeiro documento, explicando Não se trata de somente localizar geograficamente a disci-
os objetivos do trabalho, que foi encaminhado aos diversos plina, mas definir um fio condutor para o trabalho pertinente à Prá-
Cursos de História, sendo adotada, como estratégia para al-
tica de Ensino, isto é, sistematizar uma proposta que considere uma
cançar um grupo sempre mais representativo desses Cursos, a
utilização de todas as atividades desenvolvidas pela ANPUH.
formação pedagógica do futuro professor que contemple, além de
(OLIVEIRA, 2003, p. 198) aspectos voltados a como dar aulas, também a discussão da função
didática da História.
Vários pontos de reflexão e discussão foram destacados A análise apresentada no documento, em suas conclusões
nesse diagnóstico, como aspectos referentes à prática de ensino e à relacionadas aos aspectos didático-pedagógicos, também indica que:
concepção de História. Para a presente pesquisa, foram analisadas
IIII1I questões pertinentes às disciplinas relacionadas à Metodologia do O que se verifica, de modo geral, é que osfuturos profissionais
ensino de História. do magistério não estão sendo instrumentados para criar suas
próprias técnicas e utilizar os recursos de que dispõem de
Registra a análise: acordo com a diversidade de situações por eles encontradas
Não é suficiente que a "prática de ensino" seja lecionada por nas escolas. No geral, o que se aprende na universidade está de
professores com licenciatura em História; é preciso uma pre- tal maneira desvinculado das diferentes realidades, que bem se
sença real e permanente do Departamento nessa matéria. pode diagnosticar que, neste mister, o que se tenta passar é um
(MEC/SESu, 1986, p. 14- grifo nosso) "modelo" de "como dar aulas ", caracterizando um reducio-
nismo inteiramente ineficaz. (MEC/SESu, 1986, p. 30)
[...] Há necessidade de maior entrosamento entre os Departa-
mentos de História e os Departamentos ou Faculdades de Edu- Continuam as conclusões:
cação (debates, encontros, seminários, presença recíproca de
docentes nos Departamentos), pois há um longo caminho a [...] seria necessário, por exemplo, que o ]0 e o r Graus fossem
percorrer ainda em função do coriflito entre as concepções de objeto de estudo, de análise e de reflexão nos cursos de gradua-
História vigentes entre os historiadores e os pedagogos. ção. E o importante é que esse estudo fosse realmente feito ao
(MEC/SESu, 1986, p. 15- grifo nosso) longo de todo o curso e não se limitasse apenas a estágios finais,
quando todas as disciplinas do curso já foram desenvolvidas.
O documento aponta aspectos interessantes, pois chama
[...] Haveria que discutir-se um pouco mais sobre o significado
atenção para dois pontos: o primeiro é a formação do professor que
do ensino de História, entendido sempre como produção de
trabalharia com a prática de ensino, e o segundo é a "localização"
conhecimento, para que se pudesse também refletir sobre o
da disciplina de Prática de Ensino, bem como as implicações que que queremos dizer quandofalamos em instrumentação do pro-
esse "lugar" poderia trazer para o curso. fissional. (MEC/SESu, 1986, p. 30)
Segundo o documento, os aspectos relacionados com a
formação do professor formador e o lugar desta disciplina são sig- Levando-se em conta que essa análise foi realizada em
nificativos, pois interferem na forma pela qual as relações entre 1986, o que chamou a atenção foi a preocupação com a formação
ensino e aprendizagem podem ser discutidas com os acadêmicos. do acadêmico em relação à sua prática, enquanto futuro professor
Percebeu-se que, ainda hoje, este é um dos aspectos não definidos de História. Destaca-se a análise de que não somente o ensino de
nos cursos de História, pois foram identificados cursos em que a lécnicas pode garantir "boas aulas" e pode revelar-se ineficaz na
disciplina Prática de Ensino está alocada nos Departamentos de formação do professor.
Educação e, em outros, alocada no Departamento de História. Ain- a que se constatou foi que os cursos de História não podem
da, situações diferentes, ou seja, nos dois departamentos. preocupar-se em preparar somente os futuros professores com técni-

[111
68 Ana Claudia Urban Didática da História 69

cas de dar boas aulas, mas que devem levar em conta a relação so- Um dos pontos destacados no documento diz respeito às
cial, ou a realidade, na qual esses futuros professores irão atuar. Pa- competências e habilidades específicas para a Licenciatura. É regis-
rece que a sugestão é a de que não existem técnicas ou aulas ideais trado que o curso deve proporcionar o:
se não houver uma preocupação com o contexto e a realidade na qual
o futuro professor irá executar a prática de ensino e também atuar. a) Domínio dos conteúdos básicos que são objetos de ensino _
Ficou evidente, neste documento, que o futuro professor aprendizagem no ensino fundamental e médio;
precisa levar em conta o aluno com o qual irá trabalhar. Não so- b) Domínio dos métodos e técnicas pedagógicos que permitem
mente o conjunto de recursos ou técnicas é relevante, mas também a transmissão do conhecimento para os diferentes níveis de
o aluno e a realidade são aspectos que, por várias vezes, são desta- ensino. (BRASIL, 200 I,p. 08)
cados como "pontos falhos" ou ausentes nos cursos de História,
Também afirma o texto, em relação aos conteúdos curricu-
investigados por meio deste diagnóstico.
lares para a Licenciatura: "No caso da licenciatura deverão ser
O diagnóstico e a avaliação realizados em 1986, por consul- incluídos os conteúdos definidos para a educação básica, as didá-
tores convocados pela Secretaria de Educação Superior - SESu/MEC, ticas próprias de cada conteúdo e as pesquisas que as embasam"
constituiram-se, junto com o Parecer 492/2001, em importante do- [...]. (BRASIL, 2001, p. 09)
cumento sobre os cursos de formação de professores de História.
Quanto aos Estágios: "As atividades de prática de ensino
Assim como na década de 1960, a publicação do parecer do
deverão ser desenvolvidas no interior dos cursos de História, e sob
consultor Valnir Chagas sobre a instituição das disciplinas pedagógi-
sua responsabilidade, tendo em vista a necessidade de associar
cas nos cursos de formação de professores mostra a presença de leis
prática pedagógica e conteúdo de forma sistemática e permanen-
e normatizações para os cursos. Atualmente, início do século xxr,
te". (BRASIL, 2001, p. 09)
tais princípios permanecem, pois os cursos de formação de professo-
res em nível superior são normatizados pelo Ministério da Educação. Dessa forma, o documento evidencia a necessidade de dis-
O Conselho Nacional de Educação, por meio da Câmara cussões de caráter pedagógico, mas não aponta a obrigatoriedade
de Ensino Superior, publicou o Parecer 4921200126, aprovado em de uma disciplina especifica, ou seja, os cursos de Licenciatura
04.04.2001, que estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais deverão contemplar os conteúdos da educação básica e as didáticas
dos cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço Social, Comu- ou a metodologia dos respectivos conteúdos em seu projeto peda-
nicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia, Arqui- gógico, que também deve seguir orientações específicas, a saber:
vologia e Museologia.
Art. 2" O projeto pedagógico de formação acadêmica e profis-
Essas Diretrizes Curriculares têm a função de normatizar e sional a ser oferecido pelo curso de História deverá explicitar:
orientar os cursos em relação à sua estrutura, objetivos, perfil do a) o perfil dos formandos nas modalidades bacharelado e li-
egresso, composição curricular, carga horária e também à composi- cenciatura;
ção das disciplinas que possuem caráter de obrigatoriedade. Dessa b) as competências e habilidades - gerais e específicas - a se-
forma, o documento é portador de indicativos que revelam uma rem desenvolvidas;
concepção e uma forma de entender a formação do professor'" c) as competências e habilidades especíjicas a serem desenvol-
vidas na licenciatura;
26 Parecer CNE/CES 49212001, homologado em 04/07/2001. Publicado no Diário
d) a estrutura do curso, bem como os critérios para o estabele-
Oficial da União de 09/07/200 I, Seção Ie, p. 50. cimento de disciplinas obrigatórias e optativas do bachare-
27 Além das Diretrizes Especificas, o curso de História deve ser orientado pelas Dire- lado e da licenciatura;
trizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, e) os conteúdos curriculares básicos e conteúdos complemen-
em nível superior, curso de licenciatura, ele graduação plena - CNE/CP 009/200 I. tares;
70 Ana Claudia Urban

./) oformato dos estágios;


g) as características das atividades complementares;
h) asformas de avaliação. (BRASIL, 2002, p. I i~
A intenção com a análise de manuais e de legislação foi
demonstrar a existência de um debate em torno da formação peda- Capítulo 2
gógica do professor. Esse debate, por sua vez, é ancorado numa
forma de pensar a formação do professor que, no Parecer 292/62,
foi dominada pela preocupação com o conteúdo e com o aluno. A NATUREZA DO CÓDIGO DISCIPLINAR
Percebeu-se que, na atual Diretriz Curricular para os cursos de Li- DA DIDÁTICA DA HISTÓRIA:
cenciatura em História, destaca-se a relação entre a prática pedagó-
gica e o conteúdo. OS CAMINHOS POSSíVEIS
O documento que atualmente orienta a organização do
curso de formação de professores de História deixa transparecer
uma preocupação com o "domínio dos conteúdos básicos do Ensi-
no Fundamental e Médio" e também dos "métodos e técnicas" que
favoreçam a transmissão do conhecimento. É evidente que cada A Didática da História é uma entre tantas denominações
instituição de ensino superior, com base nessas considerações e nas encontradas para identificar disciplinas voltadas para o ensinar e
orientações quanto à organização do projeto pedagógico do curso, aprender História e que se configura, do ponto de vista legal, como
vai sistematizar essas Diretrizes. Pode-se concluir, portanto, que o essencial na formação do aluno de História.
documento oficial aponta para uma necessária formação pedagógi-
ca, mas que cabe às Instituições de ensino superior, respeitando as Quando foi assumida a identificação "Didática da H istó-
determinações legais, sistematizar um curso, que contemple, entre ria" na presente investigação, atribuiu-se um significado que, na
II as disciplinas de conteúdo específico, disciplinas que tenham uma formação do professor, pode representar mais do que um conjunto
, preocupação com o ensino e a aprendizagem em História e não de ações, práticas ou procedimentos que são realizadas em ambien-
exclusivamente um inventário de prescrições técnicas. te escolar.
I11 Os "textos visíveis" analisados neste capítulo permitem Caso a Didática da História significasse "preparação téc-
I
! comprovar que, historicamente, foi construída uma forma de pensar nica de um professor para dar boas aulas", estar-se-ia advogando
o ensino e a aprendizagem em História e, por certo, essa forma de em favor de concepções que acreditam, muitas vezes, que as crian-
IIIII1 pensar influenciou tanto a formação quanto a prática de professores. ças ou os jovens de hoje não aprendem História porque nas aulas de
Na sequência se estabelece um diálogo sobre as contribui- 11 istória que acontecem na escola não são usadas boas técnicas. A
ções advindas do campo da Educação Histórica e da Transposição Didática da História defendida aqui se preocupa com um processo
Didática, no qual se analisa a natureza epistemológica do código de ensino e aprendizagem que tenha um corpo epistemológico es-
disciplinar da Didática da História, identificada com autores que pecífico, o qual poderá sustentar a relação entre o ensinar e o
pensam a História e a sua função didática. aprender História.
Defende-se a necessidade de uma didática específica, vol-
tada ao ensino de História, que não seja portadora, unicamente, de
28 Estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de História. Resolução procedimentos ou indicações metodológicas em relação à prática de
,,,,,I CNE/CES 13, de 13 de março de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de abril
de 2002. Seção I, p. 33.
ensino, mas que, somada a esses aspectos, tenha na Ciência Histó-
194 Ana Claudia Urban

Do ponto de vista metodológico, é necessário registrar o


que é chamado de "considerações finais", mas tal etapa acaba tor-
nando-se muito mais instigadora à continuidade do que à terminal i-
dade. Dessa maneira, referenda-se a ideia de que toda investigação
é um convite a novas reflexões e, por certo, esse é o maior, senão o REFERÊNCIAS
melhor, desafio de toda pesquisa.
Finalmente, deve-se enfatizar que o presente estudo tam-
bém considera a possibilidade de contribuir com outras investiga-
ções no campo da Didática da História, ampliando as fontes e os ABREU, Martha; SOIHET, RacheI (Org.). Ensino de História: conceitos, temáticas e
sujeitos envolvidos. Ressalta-se a importância de se ouvir e analisar metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.
as ideias dos professores que atuam nessa área, em universidades ANHORN, Carmem Teresa Gabriel. Um objeto de ensino chamado História: a discipli-
na de História nas tramas da didatização. Rio de Janeiro, 2003. 384 f. Tese de Doutorado
brasileiras e internacionais. Por isso, compreende-se que as discus- - Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro. PUC/Rio.
sões aqui registradas possam alcançar outras abrangências, contri- ASHBY, Rosalyn. O conceito de evidência histórica: exigências curriculares e concep-
buindo para clarear, cada vez mais, outras questões, como as rela- ções de alunos. In: BARCA, Isabel. Educação Histórica e museus. Braga, Universidade
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Ao finalizar, é necessário reafirmar que um estudo como da provisoriedade da explicação histórica. Braga: Centro de Estudos em Educação e Psi-
cologia, Instituto de Educação e Psicologia, 2000.
este não é conclusivo. Entende-se que ele é portador de possibili-
. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de
dades de novas análises. As reflexões indicam que o aprofunda- Letras. HISTÓRIA. Porto, nr Série, v.2, p. 13-21,200 I.
mento dos princípios que caracterizam a aprendizagem histórica, ___ Educação Histórica: uma nova área de investigação. In: NETO, José Miguel
o

concernentes, principalmente, à área de Educação Histórica, pode Arias. (Org.). Dez Anos de pesquisas em Ensino de História. Londrina: AtritoArt, 2005.
p.15-25.
contribuir, significativamente, na forma de se entender a relação ___ Marcos de consciência histórica de jovens portugueses. Currículos Sem Fron-
o

entre o ensino e a aprendizagem, assentada na cognição histórica teiras. v. 7, n.l, p. 115-126,jan./jul. 2007.
situada, isto é, na epistemologia e filosofia da História. Esse movi- . A Educação Histórica numa sociedade aberta. Currículos sem Fronteiras. V. 7, n.
~-9, jan./jul. 2007.
mento é um pressuposto fundamental para a construção de uma
BARREIRO, Iraide Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda. Prática de Ensino e
nova natureza do código disciplinar da Didática da História, ainda
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hoje fortemente matizado pelos contornos de uma "certa" transpo- BARRETO, Elba Siqueira de Sá. Tendências recentes do currículo do ensino fundamental
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