Você está na página 1de 126
QUESTOES PREJUDICIAIS 4. CONCEITO ‘Sd questées que, embora néo constituam 0 objeto da acéo principal, devem ser examinadas antes dessa, uma vez que sua deciséo pode influenciar no julgamento da questo Principal (no caso, o mérito da ago penal principal), Cita-se, como exemplo, 0 crime de receptaao. Para condenar alguém pelo crime de receptacéo € necessario demonstrar que 0 individuo sabia ser a coisa produto de crime (questo. Prejudicial). © juiz jamais podera condenar alguém por receptagdo sem antes reconhecer que a coisa era produto de crime. Em suma: ‘+ Coisa produto de crime: questo prejudicial. * Crime de receptagao: questao prejudicada. CP, ait 180: Adquiir, recober tansy alhelo, coisa que sabe sor Toren do boa. a acquit ‘Segundo Renato Brasileiro, “prejudicial é a questo com valoragao penal ou extrapenal que deve ser enfrentada antes do julgamento do mérito principal, Portanto, além de ser resolvida antes do mérito principal, esta ligada a este, condicionando o contetido das decisées a ela referentes” 2. NATUREZA JURIDICA Hé, na doutrina, duas correntes acerca da natureza juridica das questées prejudiciais. \Vejamos: . + 1° C (minoritaria) - Segundo Denilson Feitosa, trata-se de circunstancia elementar (elemento essencial do tipo penal) da infragao penal, uma vez que condiciona a propria existéncia do delito. + 2°C (majoritaria) — trata-se de espécie de conexao (probatoria), pois ha uma relagdo entre @ questao prejudicial e a questo prejudicada. Girelinstancias <40°dados periféricos qué gravitam ao. redor da: figura tipical Podem ‘aumentar ou diminuir a pena, mas nao interferem no crime (e sim na pena). Exemplo: agravantes ¢ atenuantes. 3. CARACTERISTICAS As caracteristicas séo a anterioridade, essencialidade e autonomia. Vejamos: 3.1. ANTERIORIDADE A questo prejudicial deve ser apreciada antes da questo prejudicada (principal). Como exemplo, cita-se 0 art. 244 do CP — abandono material. ‘at 244: Dewar, Sein usta Geuisa’ A prsvor 6 SBIe malate conjlig@ tide flho menor de 18 (dezotto) anos ou inapto para O trabalho, ou de ascondente invldo ou maior de 60 (sossenta)anos, néailies proporcionand® os recursos ‘ecessanos ou faltando 20 pagamelto de pansao almenticia judicialmente acorlads, fixada ou majotada; detkar, sem jusla causa, de, socorrer descondente ou ascendente, Wravemente enfermié. Existindo uma ago civel que questiona o status de filho do sujeito (exemplo: negatéria de patemidade), tal se torna uma questo prejudicial em face da ago penal, uma vez que o que for ali decidido vai influenciar no desiinde do proceso criminal. Vale dizer: Se restar comprovado que 0 sujeito n&o é filho, nao ha que se falar em abandono material; tratar-se-é de fato atipico, 3.2, ESSENCIALIDADE (NECESSARIEDADE/INTERDEPENDENCIA) A prejudicial deve estar relacionada a existéncia da infracdo penal. Em outras palavras, a existéncia do delito depende da resolugao do mérito da acao principal. Assim, por exemplo, eventual aco negatéria de patemidade, suscitada como prejudicial para afastar agravante, ndo sera apta a suspender o proceso, tendo em vista que ndo possui relacdo com a existéncia do delito, 3.3. AUTONOMIA ‘A questo prejudicial pode ser objeto de uma ago auténoma, de forma independente 20 processo criminal. 4. DISTINCAO ENTRE QUESTOES PREJUDICIAIS E QUESTOES PRELIMINARES. ‘Ambas so espécies do género questdes prévias, porém nao se confundem. i Colcol nea) Taisen ) Fato processual ou de mérito que impede que o Juiz aprecie o fato principal ou a questéio principal A preliminar somente impede a andlise da questo principal, mas no influencia no seu julgamento. E aquela questéio que deve ser examinada antes de outra questo, pois ha entre elas uma relacdo de subordinagao légica, Existe uma relagao de prejudicialidade, em que a solugao da questo prejudicial pode determinar a solucdo da questéio prejudicada. Esto ligadas ao direito processual Esido ligadas ao direito material (clementares da infracao penal) Esto ligadas @ existéncia de pressupostos ) processuais (existéncia ou validade), Esto ligadas ao mérito da infragao penal. Ao vinculadas ao processo criminal. Deve sempre ser decidida no processo penal de forma incidental. ‘So auténomas. Podem até mesmo ser postas como quest6es principais em outro proceso. So decididas somente pelo julzo penal (incidentor tantumn. Impedem as decisdes sobre as quest6es } principais Podem ser decididas tanto pelo juizo penal | ‘quanto pelo extraperial Condicionam o contetido das decisées acerca das quest6es prejudicadas afneid toma fore eee As eo inildenc jise senter eda i salut processual, ticidinds sobre i Sra oe Ee 5. CLASSIFICACAO 5.1. QUANTO A NATUREZA Pode ser: + Homogénea/comumvimperieita + Heterogénealincomum/perteita/jurisdicional 6.1.1, Homogénea (comum/imperfeita) A questo prejudicial pertence 20 mesmo ramo do Direito da questéo prejudicada, ou seja, & uma questéo de Direito Penal, Sempre so nao devolutivas. Obs.: Nucci refere-se & questéo prejudicial hamogénea como perfeita, iperfeita. No entanto, trata-se de uma posi¢o min Exemplos: + Receptacao e crime anterior (art. 180 do CP). Para condenar pela receptagao, primeito deve ser comprovado que a coisa produto de crime. ‘+ Lavagem de capitais e crime antecedente. Para condenar por lavagem, primeiro deve ser comprovado que o dinheiro é produto de um dos crimes previstos na lei (art. 1° da Lei). ‘OBS! Vale lembrar que 0 CPP néo trata das questées prejudiciais ‘homogéneas nos artigos 92 e 93, mas sim e t4o somente das questoes prejudiciais heterogéneas. ‘As questdes homogéneas so resolvidas por meio da conexo e da continéncia (art. 78, III do CPP), + Os processos so reunidos (simuitaneus processus): 0 juiz julga primeiro o crime antecedente e depois na mesma sentenca 0 crime consequente. + Os processos nao so reunidos: 0 juiz deve apreciar a prejudicial apenas de maneira incidental, para que possa julgar a questo prejudicada. A deciséio incidental sobre o primero crime n&o faz coisa julgada. Ou seja, nada impede que © cidadao seja absolvido em outro proceso no que diz respeito ao primeiro crime, © que podera ocasionar reviséo criminal do segundo crime. 6 2. Heterogénea (incomum/perfeitajjurisdicional) Prevista nos arts. 92 ¢ 93 (exclui o estado civil das pessoas). cones urS0 6 ‘procasso, ands « imquieao tas weaternuntas@ Yeaizagao a ‘outras provas de natureza urgente. Pertence a ramo do Direito diverso da questo prejudicada. Sempre s4o devolutivas, podendo ser absolutas (status das pessoas) ou relativas, bovine sur pwolso 2 execiso Exemplo de questo heterogénea relativa: questo relacionada a direito real sobre coisa, Prejudicando a solugao do proceso criminal que apura o crime de furt. 5.2, QUANTO A COMPETENCIA Podem ser: © Devolutivas: + Nao devolutivas 5.2.1. Nao devolutiva Deve ser sempre analisada pelo juiz penal, ou seja, ndo se devolve 0 conhecimento da matértia a um juizo extrapenal poBaaio Penis ‘As questées ndo devolutivas s8o exatamente as homogéneas. 6.2.2. Devolutiva © juizo penal pode devolver o conhecimento dessa questéo prejudicial ao seu juiz natural (extrapenal). a) Devolutiva ABSOLUTA/OBRIGATORIA: Jamais poderao ser analisadas pelo juizo penal, ou seja, obrigatoriamente deverdo ser apreciadas por um julzo extrapenal. So as heterogéneas referentes ao estado civil das pessoas. Heterogéneas absolutas. b) Devolutiva RELATIVA: Podem, eventualmente, ser analisadas pelo juizo penal. Séo as questes heterogéneas, a excecéo daquelas relativas ao estado civil das pessoas. O juizo penal tem a faculdade de suspender 0 processo criminal e esperar pelo julgamento do juizo extrapenal. Caso decida no suspender o processo, fara o julgamento da ‘questo prejudicial na prépria sentenga, de forma incidental, ou seja, ndo formando coisa julgada sobre ela. 5.3. QUANTO AOS EFEITOS Podem ser: + Obrigatorias + Facultativas 5.3.1. Obrigatoria (necessérialem sentido estrito) ‘Sempre suspende 0 proceso, pois o juizo penal ndo pode resolver a questo ja que ndo possui competéncia para aprecié-las. ‘S40 as heterogéneas absolutas. 5.3.2. Facultativa (em sentido amplo) Pode, eventualmente, acarretar a suspensao do processo, a depender de a questo ser devolvida ou nao ao juizo extrapenal. ‘So as questées heterogéneas devolutivas relativas. E facultativa, pois 0 juiz pode ou nao suspender 0 processo criminal, de acordo com sua conveniéncia, a fim de esperar a solugao da questéo prejudicial pelo juizo extrapenal. Se ele nao suspender, ird decidir a questo prejudicial na sentenga, de forma incidental. NA serd formada coisa julgada, ou seja, caso 0 sujeito seja condenado e a sentenga extrapenal decida de forma diversa, podera se valer da revisao criminal. 5.4. QUANTO AO GRAU DE INFLUENCIA DA QUESTAO PREJUDICIAL SOBRE A PREJUDICADA ‘Trata-se de uma classificagao minoritéria (Mirabette). Pode ser © Prejudicial total © Prejudicial parcial 6.4.1. Prejudicial total E aquela que tem 0 condao de fulminar a existéncia do crime. Quando reconhecida, o crime 6 atipico, 5.4.2. Prejudicial parcial E aquela que esta relacionada a existéncia de circunstancias (qualificadora, agravante, atenuante, causa de diminuigaio) Obs.: a maioria da doutrina nao concorda com a classificagaio. Nao hd falar em prejudicial parcial, j6 que 0 reconhecimento de uma prejudicial deve estar relacionado a existéncia do delito. Assim, para a maioria da doutrina, toda questao prejudicial sera obrigatoriamente total 6. SISTEMA DE SOLUCGES DAS QUESTOES PREJUDICIAIS 6.4. SISTEMA DA COGNIGAO INCIDENTAL (SISTEMA DO PREDOMINIO DA JURISDIGAO PENAL) juiz penal sempre competente para conhecer a questo prejudicial, mesmo sendo ela heterogénea (pertence a outro ramo do direito), + Aspecto positive: Celeridade e economia processual. + Aspecto negativo: Violago ao principio do juiz natural, ao permit que o juiz penal valore e decida questo prejudicial extrapenal (heterogénea), 6.2, _ SISTEMA DA PREJUDICIALIDADE OBRIGATORIA (SISTEMA DA SEPARAGAO JURISDICIONAL ABSOLUTA) juiz penal nunca sera competente para decidir a questo prejudicial heterogénea, nem mesmo de maneira incidental E exatamente 0 inverso do sistema anterior. ‘+ Aspecto positive: Respeito ao juiz natural. + Aspecto negativo: Morosidade. Prejuizo ao principio da celeridade, bem como a garantia da razodvel durago do processo. 6.3. SISTEMA DA PREJUDICIALIDADE FACULTATIVA O juiz penal tem a faculdade de decidir ou nao sobre as questdes prejudiciais pertencentes outro ramo do direito. 6.4. SISTEMA ECLETICO (OU MISTO) E 0 resultado da fusdo do sistema da prejudicialidade obrigatéria com o sistema da prejudicialidade facultativa. E 0 sistema adotado no Brasil Quanto as questées prejudiciais heterogéneas relativas ao estado civil das pessoas (em sentido amplo), vigora o sistema da prejudicialidade obrigatéria (art. 92 do CPP), devendo o juiz suspender 0 processo e devolver a andlise da questo prejudicial ao jutzo civel. rane a a 9 Juiz. repute séria e fundada, sobre 0 ae pessoas 0 curso de acéa penal ficard suspenso até que 8 2 contfovérsia dirimida. por sentence passada em julga Quanto as demais quest6es heterogéneas (todas que néo tratam do status das pessoas), vigora o sistema da prejudicialidade facultativa (art. 93), sendo facultado ao juiz suspender ou néo © proceso criminal Exemplo: questo ligada ao patriménio — juiz decidir se ele mesmo resolve a questéo ou se remete ao juizo civel. 7. QUESTOES PREJUDICIAIS DEVOLUTIVAS ABSOLUTAS. 74. PREVISAO LEGAL ‘So as questdes heterogéneas ligadas ao estado civil das pessoas, também conhecidas como questées prejudiciais obrigatérias, pois suspendem obrigatoriamente o curso da ago penal. eniétanto, la-inquirigao das testomnunhias 6 Ue outras proves’ ae natureze urgent. Pardgrafo tnico, Se for o crime de agao publica, © Ministerio Publica, quando necessérnio, promoverd a acao civil ou prosseguiré na que liver sido iniciadla, (com eitagao dos inferessadbs. 7.2. PRESSUPOSTOS 7.2.4. Existéncia da infracdo penal ‘Tem que ser uma questdo prejudicial que afeta o mérito, ou seja, deve funcionar como elementar da infragao penal (do contrario nem seria questo prejudicial, como no exemplo da agravante visto acima). Obs: se @ questo Versa sobre circunstancias agravantes ou atenuantes, nao sera possivel 0 reconhecimento da prejudicial Por exemplo, um crime de roubo fol praticado pelo filho contra o pai. Sendo que tramitava no clvel uma ago de patemidade, o fato de 0 delito ser praticado contra 0 pai é uma situagao agravante fato de ser praticado contra o ascendente ndo é uma questo prejudicial obrigatéria, se no altera a elementar (é somente agravante), isso no altera o reconhecimento da prejudicialidade. Neste caso, 0 juiz julga 0 crime de roubo e ele no suspende o proceso. Se ele aplica a agravante @ depois se isso for decidido de maneira contraria no civel caberd revisao criminal 7.2.2. Controvérsia séria e fundada A questo prejudicial deve ser séria e fundada, ou seja, deve possuir fundamento juridico e {fético, afastando-se a prejudicial meramente protelatoria, 7.2.3. Questio prejudicial relativa ao estado de pessoas Deve envolvero estado civil das pessoas, tais como filiagao, paternidade, casamento, idade. Prejudicial obrigatéria ‘STF: ‘Menoridade penal: forca probatéria do registro civil de nascimento, sb elidivel no juizo civel. 1. A idade compde 0 estado civil da pessoa @ se prova pelo assento de nascimento, cuja certidéo - salvo quando o registro seja Posterior ao fato - tom sido considerada prova inequivoca para fins criminais famlo da idade do acusado quanto da vitima: precedentes. (..) 2 Consequente incidéncia nao s6 do art. 155 - que, quanto ao estado das pessoas, faz aplicaveis no julzo penal as restricbes a prova estabelecidas na lei civil - mas também 9 art. 92 CPP, que, zo disciplinar as questoes rejudicials heterogéneas, tornou obrigatéria a suspenséo do processo penal para que se resolva no julzo civil a controvérsia sobre o estado civil da pessoa, de cuja solugao dependa a existéncia do crime e, sendo este persequivel por ago penal pdbiica, legitimou o Ministério Pablico para 0 processo civil necessario. 3. Até que se oblenha, por dociséio do julzo competente, a retificagéo do registro civil, a menoridade do acusado, nele assentada, prevalece sobre eventuais provas em contrério © impede, por ilegitimidade passiva, a instauragao contra ole de processo penal condenatério’. (STF, 1* Tuma, HC 77.276/MG, Rel. Min. Sepilveda Pertence, j. 30/06/1998, DJ 28/08/1998). (grifo nosso) 7.3. CONSEQUENCIAS 7.3.1. Possibilidade de inquiricdéo de testemunhas e produgéo de outras provas urgentes ‘A prova testemunhal, por si s6, nao é urgente. Trata-se de consequéncia automdtica, nao sendo necessdrio invocar o art. 225 do CPP. ‘Obs. hi doutrinadores que entendem que 0 raciocinio acima também deveria ser aplicado ao art. 366 do CPP. No entanto, essa nao € a orientagdo do STJ, que entende que a oitiva de testemunhas somente seria possivel caso demonstrado fundamentadamente a presenga de uma das hipdteses listadas pelo art. 225 do CPP. 7.3.2, Suspensao do proceso e da prescricéo Obrigat6ria suspenséo do processo, de oficio ou a requerimento das partes, até o transito em julgado da decisao civel, A presctig&o também sera suspensa (volta a correr de onde parou), nos termos do art. 116, Ido CPP: 7: .3. Intervengao do Ministério Publico no processo civel Nos crimes de ago penal publica o MP pode promover a aco civil referente & questo prejudicial, ou dar prosseguimento aquela jd iniciada, mesmo que n&o tenha legitimagao ordinaria para tanto (se deixar na mao do acusado, ele poderia nao ter interesse em iniciar ou continuar na ago civel, de forma a protelar a decisao criminal). Desdobramento do principio da obrigatoriedade. ‘Obs: Nao necessariamente o Promotor que ira atuar no juizo civil sera | 9 Promotor Criminal. Se crime de aco penal privada, cabe somente ao querelante ingressar ou prosseguir com a ago civel. Avena defende que neste caso poderia também o MP seguir na acdio civil, tendo em vista a finalidade da norma, 8. QUESTOES PREJUDICIAIS DEVOLUTIVAS RELATIVAS 8.41. PREVISAO LEGAL AiE93: Se'o reconiiocimento’ da exlsténcia da infapo penal deena de docisdo sobre questéo diversa da previstano artigo anterior, da competéncia 6 julzo cWvo, ¢ Se nesto houvor sido proposta acao para resolvé-la, 9 jure Gritinal podora, desde que essa questdo seja de ciel solucdo e ndo verse, Sobre dteito cule prova a lel civil mite, suspender 0 eutso de proceso, ands @ inquini¢éo das testemunhas e realizagao das outras provas de natureza durgente 8.2. PRESSUPOSTOS 8.24 Existéncia da infragao penal A prejudicial deve versar sobre a existéncia da infragao penal, Desta forma, se a questo versar sobre agravantes e atenuantes, ndo sera possivel o seu reconhecimento. 8.2.2. Questio prejudicial heterogénea nao relativa ao estado civil das pessoas Deve versar sobre questées diversas do estado civil das pessoas. Se versar sobre o status, tratar-se-4 de devolutiva absoluta STF: “(..) Exercicio arbitrério das préprias razoes: Inexisténcia: manulengao polo agente de sua posse contra quem - conforme sentenga civil transitada ‘0m julgaco - jamais a detivera. 1. Constitui elemento normativo do tipo do exercicio arbitrério das préprias raz6es (CP, art. 345) 0 néio enquadrar-se 0 ato numa das hipéteses excepcionais em que os ordenamentos modemos, or imperativos da eficdcia, transigem com a autotutela de direitos privados, que, de regra, incriminam: 0 exemplo mais frequente de tals casos ‘excepcionais de lcituce da autotutela privada esté na defesa da posse, nos termos admitidos no art. 502 CC. (..) 2. Desse modo, saber quem detinha a.posse no momento do fato constitul questo prejudicial heterogénea isténcia daquele crime atribuido a0 agente que pretende ter agido em defesa da sua posse contra quem jamais a tivera. 3. A sficdcia no ‘proceso penal de sentenca civil transitada em julgado. que hala decidido _questéo prejudicial heteroaénea, nao depende de que, para aquardé-la, tonha, hhavido suspensio do procedimento criminal”. (STF, 1° Turma, HC 75.169/SP, Rel. Min. Sepdlveda Pertence, j. 24/06/1997, DJ 22/08/1997). (grifo nosso) 8.2.3. Agao civel em andamento ‘A agao civil que verse sobre a questdo prejudicial ja deve estar em curso. Assim, caso a ago civel ainda néo tenha sido proposta, nao devera haver o reconhecimento da prejudicial ‘Obs. Nao confundir com o disposto no art 92 do CPP, em que nao & necessério que a agao civel esteja em andamento. 8.2.4. Questio de dificil solugdo ‘Sé devolve para o juizo civel se for de dificil solugao; do contrario o proprio julzo penal pode decidir a questo incidentalmente (na fundamentagéo da sentenca). 8.2.5. Auséncia de limitag6es quanto a prova fixada pela lei civil__, 227,225 < 229 cm o— A questdo nao pode versar sobre matéria cuja prova a lei civil limite (requisito negativo). S6 é possivel devolver a questéo prejudicial ao juizo civel se a lei civil nao limitar a prova quanto prejudicial. No proceso penal, tendo em vista os valores em jogo, vige o principio da liberdade probatéria, logo se na lei civil existiralguma limitacao, restara cerceado 0 direito de ampla defesa do acusado. 8.3. CONSEQUENCIAS 8.3.1. Inquirigao de testemunhas e de produgdo de provas de natureza urgente Isso no caso de 0 juizo penal reconhecer a questo prejudicial e decidir pela suspensio do processo. 8.3.2. Suspensio do processo e da prescrigéo O juiz tanto pode devolver a questao quanto pode decidi-ta incidentalmente, no momento da sentenca. Caso decida esperar a deciséo do julzo civel, devera suspender 0 processo criminal ¢ a prescrigao do delito (art. 116, |, CP). A suspensdo, no entanto, sera por prazo determinado, segundo o arbitrio do juiz.. Aqui, nao precisa esperar até 0 transito em julgado da decisdo civel. Se no prazo estabelecido ndo sobrevier uma deciséo civel, a solugio da questo prejudicial volta para o juizo penal, com 0 prosseguimento do processo criminal, retorando ao juizo criminal a competéncia para julgar tal questo, de maneira incidental. Art. 99, § 4° © iz marcard” "6 prazo "dal SUspenisHo;” Que paderd Ser razoavelmente prorrogado, se. a demora ndo for impulavel a parte. Expirado © prazo, sem que 0 julz Civel tenha proferide decisto, 0 julz criminal faré rosseguir 0 proceso, retomando sua competénola para resolver, de fato de direlfo, toda a maténa da acusagao ou da defesa, (Espécie de incompeténcia tomporéria) z 8.3.3. Intervengao do Ministério Publico no ambito civel Deve 0 MP intervir na ago civil j4 proposta nos crimes de ago penal piiblica, a fim de promover-ihe 0 rapido andamento, ‘AE 93, § 3° Sspeiso 6 proceso trtimee 30 Crna He ae UBC ‘ncumbra ao Ministénc Publ inforuy mediatomentoina causa cWvel, para 0 fim de promoverine 0 répido andemonto; 9. RECURSOS ADEQUADOS 9.1. CONTRA A DECISAO QUE DETERMINAR A SUSPENSAO DO PROCESSO EM VIRTUDE DO RECONHECIMENTO DE QUESTAO PREJUDICIAL Contra a deciséio que suspende o processo criminal, cabe RESE. ABBR Cabore Yess) sete asthe Gal dédisad.dospachéo Sontonga 2 ‘ XVI = que ordenar @ suspensdo do proceso. em virtue de questéo, prejudicial: 4 Nt ie 9.2, CONTRA A DECISAO QUE INDEFERIR A SUSPENSAO DO PROCESSO Nao € cabivel RESE, em raz&o de interpretago a contrério sensu do inciso XVI do art. 581 do CPP. Além disso, no ha previsdo legal de nenhum outro recurso. GPP) aitog, Si asaereRpACHCN UB See PRH a SAD kB = $a ae Salienta-se que o art. 93 do CPP trata da questo devolutiva relativa (questdes prejudiciais relacionadas a outros temas que nao 0 estado civil das pessoas). Como o § 2° é parte do art. 93 Poder-se-ia concluir que ele s6 6 aplicado para essas prejudiciais. A doutrina entende que se aplica nao somente as prejudiciais heterogéneas nao relativas ao estado civil das pessoas, como também ara as heterogéneas relacionadas ao estado civil das pessoas. Por fim, em situagdes excepcionais a doutrina e a jurisprudéncia admitem habeas corpus e mandado de seguranga, a depender do caso concreto, Coane Partva =p Swevleyse to Adesore Coss Creme Preclesiyo =) Juntenc aneuie Dove Peni rare s6terctD Jeloore L, Ceara see0iw? 32 JnPeve weve Johsomento => Crceesio 0 0-80 Select 410. DECISAO_CIVEL_ACERCA DA_QUESTAO PREJUDICIAL HETEROGENEA E SUA INFLUENGIA NO AMBITO CRIMINAL Uma vez decidida a questo prejudicial na esfera civel, o juizo penal fica vinculado ao que foi decidido, ainda que ndo tenha havido a suspensdo do processo criminal. Isso ocorre porque no juizo civel a matéria foi decidida como questao principal do processo, formando coisa julgada. Essa vinculagdo, que a coisa julgada impoe aos demais processos, recebe o nome de efeito positivo da coisa julgada Por outro lado, a decisao incidental do juizo penal sobre uma questdo de competéncia civel no forma coisa julgada. Assim, caso um condenado consiga no juizo civel uma deciséo contraria Aquela incidental que influenciou sua condenagdo, poderé desconstituir a sentenca penal condenatéria através da reviséio criminal 11. PRINCIPIO DA SUFICIENCIA DA AGAO PENAL Em alguns casos a ago penal ja € suficiente para resolver tudo; em outros nao. Em relagao {as questées prejudiciais heterogéneas que nao versam sobre o estado civil das pessoas, e desde que essa questo nao seja de dificil solugao, o juiz criminal pode enfrentar toda a matéria, ou seja, a ago penal é suficiente para a analise da questéo. EXCECGOES 1. CONCEITO O conceito de excegao deve ser analisado considerando os sentidos que @ expressao possui: material e processual. 4.1. SENTIDO MATERIAL Trata-se do direito que a pessoa demandada tem de se opor a pretensao acusatéria, de modo a neutralizar sua eficiéncia. Exemplo: prescrigdo. 1.2. SENTIDO PROCESSUAL Trata-se de matéria de defesa em que s4o alegadas determinadas questées processuais. Geraimente so apontadas a auséncia de pressupostos processuais ou de condigées da ago, a fim de procrastinar a anélise do mérito ou impedir o julgamento da demanda, Subdivide-se em: amplo e estrito. 1.2.4. Sentido amplo ‘Sdo meios de defesa indireta, pois existe alegaco de fatos novos, 1.2.2, Sentido estrito ‘So instrumentos pelos quais 0 individuo se opSe ndo apenas A questo de mérito. As excegées estdo previstas no art. 95 do CPP: 2. EXCEGAO X OBJECAO PROCESSUAL, Nao ha distingao no CPP entre excegao e objecao processual. Excegdo (em sentido estrito) ¢ a alegagao de defesa que nao pode ser reconhecida de oficio. Ou seja, 86 pode ser conhecida se alegada pela parte (exemplo: incompeténcia relativa). Objecdo processual é uma alegagio de defesa que pode ser conhecida de oficio pelo juiz. Salienta-se que 0 CPP, em seu art. 95, usa a expresséo excegao no sentido amplo. Tecnicamente, todavia, deveria usar a expresso objego, pois pode ser reconhecida de oficio. 3. CLASSIFICAGAO DAS EXCEGOES 3.1, QUANTO A NATUREZA 3.1.1. Excegao processual Trata-se de matéria de defesa em que sdo alegadas determinadas questdes processuais. Geralmente so apontadas a auséncia de pressupostos processuais ou de condigdes da ago, a fim de procrastinar a andlise do mérito ou impedir o julgamento da demanda, 3.1.2, Excegao material Trata-se do direito que a pessoa demandada tem de se opor a pretenséo acusatéria, de modo a neutralizar sua eficiéncia. Divide-se em: Par INDIRETA Defesa indireta de mérito ou preliminar de Defesa direta de mérito cae Aiaque A propria pretensd do autor ou 4 | Oposicao, de fato extintivo, modificativo ou imputaco constante da pega acusatoria impeditivo do diteito do autor. 4 | Exemplo: prescricgo - causa extintiva da/ Exemplo: a conduta ¢ atipica. punibiieeide 3.2. QUANTO AOS EFEITOS 3.2.1. Excecées peremptorias ‘So aquelas que produzem a extingo do processo. Sao elas: a) Excegao de Litispendéncia; b) Excegao de Coisa julgada; ©) Excecdo de llegitimidade de parte (ad causam). Exemplo: MP oferecendo dentincia por caitinia. & peremptoria, pois extingue o proceso, sem que seja obrigatéria a propositura de nova demanda (0 que daria um carater apenas dilatorio & excegdo). (Pacelli e LFG) 3.2.2. Excegées dilatérias ‘So aquelas que buscam a procrastinagao do processo. Sao elas: a) Excego de suspeicao/impedimento/incompatibilidade; b) Excegao de incompeténcia; ©) Excegdo de ilegitimidade de parte (ad processum), Exemplo: Falso representante legal apresentando representag&o pela vitima. £ dilatéria, Pols pode o vicio ser sanado, dando prosseguimento ao proceso, (Gomnio’6 tema foi cobrado'em concurso? Delegadio FCIGO (2022) Contoriie a ey siacdo regents do tema, élicto 6 artes! oporem excecdes de susneicdo, incompetéiicia ds juizo, | itispendeéncie, llegitimidade de parte e coisa julgada, Correia! 3.3. QUANTO A FORMA DO PROCESSO. 3.3.4. Excegao interna Pode ser deduzida no bojo dos autos principais, 3.3.2, Excegao instrumental (externa) Conforme o art. 111, as excegdes so processadas em autos apartados e néo suspendem, em regra, 0 andamento da ago penal RHE TTAD As GxROS Sere précéssadas Grails apantddos ‘Suspenderso, 6m Tegra, 0 aridamenio da a¢ao penal Entretanto, as excegées de suspeic&o, impedimento e incompatibilidade, especificamente, PODEM ser dotadas de efeito suspensivo, a requerimento da parte contréria (perceber que no processo civil, a suspensao ocorrera independentemente de requerimento), conforme dispée o art 102 do CPP, in verbis: [AR TOR CUBR & Barton recone Al prepBaanale da argaigeD: odera Sor sustado, a seu requorinionto, © prosesso principe Sulgue 0 incident da suspeicso. Exemplo: Acusado alega a suspeigéio do juiz eo MP, vislumbrando a possibilidade de procedéncia da excego, pede a suspensdo do feito, uma vez que sendo declarada a suspeicdo, todos 08 atos praticados pelo juiz seriam reputados como nulos. Indaga-se: a arguigao de alguma excego no bojo de uma ‘resposta & acusagéo' ou em ‘alegag6es finais' impede que 0 juiz conheca a matéria? Nao, até porque essa matéria pode ser Conhecida de oficio. Nao requer rigor técnico. Mesmo que seja arguida de maneira incorreta, o juiz pode conhecer. 4, NATUREZA JURIDICA De acordo com a doutrina, da mesma forma que o autor é dotado do direito de agao, 0 réu tom 0 direito de excegao. Assim, a natureza juridica da exce¢ao esta diretamente relacionada ao direito de agao. Portanto, o direito de excego ¢ um direito publico subjetivo de se opor a demanda deduzida em juizo, estando diretamente ligado ao direito de defesa. 5. EXCECAO DE SUSPEICAO/IMPEDIMENTO/NCOMPATIBILIDADE 8.1. CONCEITO Sdo excegbes de natureza dilatoria, que visam afastar o juiz do proceso. Por se tratar de matérias que podem ser alegadas por qualquer das partes, o termo tecnicamente correto seria arguigdo e nao excecao. Salienta-se que, de acordo com a doutrina, a primeira coisa que deve ser analisada quanto ao juiz € a sua imparcialidade, seguida de sua competéncia, a ndo ser que fundada em motivo superveniente (exemplo: substitui¢ao do juiz no decorrer do proceso). A urisprudéncia sustenta que, caso a excecéio de suspeigao ndo seja oposta de imediato, havera preclusao. Por outro lado, a doutrina entende que essas matérias (suspeic&o, impedimento ¢ incompatibilidade) nao estao sujeitas a preclusao, pois todas esto relacionadas a imparcialidade do juizo (garantia inerente a propria jurisdig&o). Por fim, a excecéo, desde que demande dilagdo probatéria, podera ser arguida por meio de habeas corpus, foi o que decidiu 0 STF no Caso Lula. STF:"(..) possive o exame da alegagto de parciaade do magistrado em sede de Habeas Corpus se, a partir dos elementos jé produzidos e juntados 20s autos do remédio colatora, restar evidente a incongruéncla ou a inconsisténcia da motivagdo judicial das decisbes das insténcias infeiores. Go)" (STF, HC 164.493-PR, Rol, Min. Gilmar Mendes, | 23.03.2024, DJ 04.06.2021), 6.2. IMPEDIMENTO . Conceito Trata-se de circunstancia objetiva (independe do dnimo subjetivo do juiz), relacionada a fatos internos do proceso, capaz de prejudicar a imparcialidade do juiz Presentes uma das hipdteses de impedimento, ha presungao absoluta de parcialidade do juz Consequéncias Qual a consequéncia de uma decisdo proferida por um juiz IMPEDIDO? Duas correntes: + 1°C: Ato inexistente. © impedimento é um vicio téo grave que acabaria afetando a imparcialidade do magistrado, transformando-o em um ‘ndo-juiz’. Ou seja, a decisdo seria inexistente (Ada Grinover, Nucci, Mirabete, Avena). + 2°C: Ato nulo. O impedimento gera nulidade absoluta do ato jurisdicional (Greco Fitho). Ha alguns julgados no sentido da segunda corrente. 5.2.3. Hipoteses A participago de magistraco em julgamento de caso em que seu paijé havia atuado 6 causa de nulidade absoluta, prevista no art. 252, , do CPP. Com ‘base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, concedeu habeas corpus para anular julgamento de recurso 6m sentido estrito © determinar que ‘outro seja proferido sem a participacao do magistrado impedido. O colegiado Considerou 0 fato de que 0 pai do magistrado julgador do recurso em sentido estrito havia participaco anteriormente do julgamento de outro habeas corpus ‘mpetrado pela paciente @ de apelacao interposta por coméu perante 0 tnibunat de justica a quo. Reconheceu a existéncia de efetivo prejulzo para a Pacionte. Afastou a aplicago de precedente do Plenéiio que, com base no Principio processual penal pas de nullité sans grief, conclulu que a atuagéo de ministro da Corte, supostamente impedido, no influiria no resultado do Julgamento. Na situagao analisada, 0 61g0 colegiado do tribunal de origem era formado por apenas trés magistrados. A excluséo do desembargador impedido acarretaria substancial alteragao no resultado do julgemento, porque, sem ele, nao haveria sequer quérum para a propria instalagao da sessdo de julgamento," (STF, 2% Turma, HC 136.015/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski j 14/05/2019) AS hip6teses estdo previstas no rol taxativo do art. 252 CPP: Ai 252, O juiznac poderd, eXersor jutisdigao: ‘No prosesso ohn. giles 1 tvorfuneonago set conte feompanheito) oi parce, eonsanguines ou alii, em linha rete ou colateral até'o terceito gray, inclusive, como defensor ‘ou advogado, 6rgao. do. Ministério, Pablico, ‘autoridade Policfal, aurxiliar da jubliga ou perio; (Quam deve ‘Ser Stastado 6 0 ahimo a ingréssar no ‘processo). 1 elesprépnie houver desempenfiado qualquer dessas fungdes ou semvido ‘como testemunha; Salienta-se que a decretagao de medidas cautelares pelo juiz durante a fase investigatoria nao gerava impedimento. Contudo, com o Pacote Anticrime, o juiz das garantias (eficdcia ainda ‘suspensa) que atua na fase investigat6ria estaré impedido de atuar na fase processual (art. 3-D). if Stier Ranevoaks eSiia Ue outsnstancia, pronunclande-se,(e Tate'6ik de citejtg, sobre a questao: Em relagdo ao inciso III, 0 magistrado deve ter proferido uma deciséio no caso concreto. A ideia @ no sentido de que aquele que atuou como juiz em um processo néo poderd julga-lo novamente como desembargador. Ao ser julgado duas vezes pelo mesmo magistrado, o individuo estaria sendo suprido do proprio duplo grau de jurisdicao, pois a finalidade da apelacao, por exemplo, é que a demanda seja julgada por outras pessoas. No mesmo sentido, 0 art. 625 do CPP que trard sobre a revisdo criminal, Vejamos: iter 626°="Orequieinente

Você também pode gostar