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Anarquia de base: interação, relação e antiessencialismo na teoria

dos sistemas sociais


Base anarchy: interaction, relationship, and anti-essentialism in social systems theory

Fabrício Neves
Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília, Brasil

RESUMO: Neste trabalho, procuro aproximar a teoria ABSTRACT: In this paper, I seek to bring the theory of
dos sistemas sociais das discussões mais recentes para social systems closer to the most recent discussions for
uma sociologia relacional, desencadeadas a partir do a relational sociology, triggered by the manifesto of
manifesto de Mustafa Emirbayer. Busco mostrar como Mustafa Emirbayer. I seek to show how the idea of a
a ideia de uma ‘sociologia relacional’ equivale a ‘relational sociology’ is equivalent to concepts emerging
conceitos emergidos no seio do intento metateórico de within Niklas Luhmann’s meta-theoretical intent of a
Niklas Luhmann de uma teoria de três dimensões de three-dimensional theory of systemic formation,
formação sistêmica, a saber: sistemas sociais, interações namely: social systems, interactions, and organizations.
e organizações. Darei atenção à interação e à dimensão I will pay attention to the interaction and the relational
relacional que lhe são constituintes. Busco evidenciar dimension that constitute it. I will highlight how the
como o ímpeto antiessencialista da sociologia relacional anti-essentialist impetus of relational sociology is well
ali se apresenta bem articulado por meio das ideias de articulated there through the ideas of system, flow,
sistema, fluxo, comunicação e copresença. Finalmente, communication, and co-presence. Finally, I will discuss
discutirei como a diferenciação interação/sociedade how differentiation of interaction/society can
pode contribuir para a superação de dilemas teóricos da contribute to overcoming the theoretical dilemmas of
sociologia relacional como liberdade e determinação, relational sociology such as freedom and determination,
mudança e permanência. change and permanence.

PALAVRAS-CHAVE: teoria dos sistemas sociais; KEYWORDS: social systems theory; relational sociology;
sociologia relacional; antiessencialismo; interação; antiessentialism; interaction; communication
comunicação

INTRODUÇÃO uma contraposição às iniciativas totalizantes da teori-


zação sociológica. Antes, elas representam exata-
Como vem sendo frequentemente assinalado pelo mente as consequências daquele processo, assu-
mainstream da teoria sociológica contemporânea, a ex- mindo, vez ou outra, formas teóricas emergidas no
pectativa totalizante de compreensão societária en- seio da teorização totalizante, mas rebaixando-as a
trou em refluxo desde o início da década de 1990. Se operadores empíricos de pesquisa, circunscrevendo-
a busca sistemática de um paradigma ou modelo para as a temas concretos da agenda social de fim e início
a análise social tem seu pontapé inicial na teoria dos de século. Para deixar mais claro este argumento,
sistemas na década de 1930, empreendimento que busco mostrar como a ideia de uma ‘sociologia rela-
deve ser creditado a Talcott Parsons, foi com esta cional’ equivale a formas teóricas emergidas no seio
mesma expectativa teórica que tal busca se encerrou, do intento de Niklas Luhmann de uma teoria socio-
ao menos por enquanto. As macro- e meta- narrati- lógica que desse conta de três dimensões de forma-
vas teriam terminado tão logo os avanços pós-mo- ção sistêmica, a saber: sistemas sociais, interações e
dernos/estruturalistas tomaram o centro da teoriza- organizações. Por motivos de espaço, darei atenção à
ção sociológica, reivindicando mais atenção aos fenô- interação e à dimensão relacional que a constituem.
menos circunscritos, a temas bem delimitados, a con- Tentarei mostrar como o ímpeto antiessencialista da
ceitos que pudessem ser imediatamente rebaixados à sociologia relacional ali se apresenta bem articulado
condição de categorias analíticas para processos con- por meio da ideia de comunicação e copresença.
cretos. Para este intento, encadeio as partes deste en-
Neste ensaio, argumento que tal postura, me- saio da seguinte forma: primeiro, farei uma digressão
nos ambiciosa, não deveria ser compreendida como pela ideia de sociologia relacional, começando pelo
MAD 42 (2020): 25–32
DOI: 10.5354/0719-0527.2020.59296
© CC BY-NC 3.0 CL
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Manifesto relacional de Mustafa Emirbayer (1997) e por dessa dualidade; os moderados procuravam as articu-
algumas consequências desse suposto ‘movimento’, lações.
tentando extrair desse exercício uma síntese, não exa- Recentemente, nota-se um interesse comparti-
ustiva, das distintas abordagens que interagem com lhado por parte da teoria social em superar a ideia re-
ele. Após isso, apresentarei a ideia de uma teoria dos corrente de tratar tais “entidades” como separadas.
sistemas relacional, com ênfase nos sistemas de inte- Pelo contrário, tende-se a considerá-las como perten-
ração, os quais trariam todos os elementos de uma centes à “mesma ordem de realidade” (Powell y
sociologia relacional, como as ideias de contingência Dépelteau 2013: 3), à realidade relacional. Não se
e fluxo. Tento também estabelecer uma relação entre considera, e o próprio Emirbeyer o diz, que este
determinismo e liberdade, permanência e transfor- grupo de autores interessados na “perspectiva relaci-
mação, ao apresentar a relação entre interação e soci- onal” se articula num consenso ou numa teoria única.
edade, processo que se apresenta como fundamento Menos que isto, a variedade de proposições é o que
da evolução social. Embora a teoria dos sistemas de dá o tom desta articulação, ou seja, “how they do so,
Luhmann sirva de referência a este trabalho, tomo a and what precisely they mean by ‘social relations’, va-
liberdade de realizar seleções por conta própria e, ries considerably from one relational sociologist to
portanto, ouso transcender este marco. another” (Powell y Dépelteau 2013: 1). Seria uma
nova “virada” na teoria social (Vandenberghe s/f).
MANIFESTO EM FLUXO Powell e Dépelteau (2013: 1) afirmam generica-
mente que “Relational sociologists study social rela-
Mustafa Emirbeyer publica em 1997, no American tions”. Mas o que se quer realmente dizer por abor-
Journal of Sociology, um artigo em forma de manifesto dagem relacional? O que quer dizer antissubstancia-
que além de apresentar um programa de pesquisa, lista? E como pensar em uma virada se o núcleo duro
buscava articular distintas abordagens teóricas surgi- da virada, as relações sociais, varia consideravelmente
das em tempos recentes nas mais diversas perspecti- entre aqueles que assinariam o manifesto de Emibe-
vas epistêmicas e ontológicas, e apontavam para um yer? Uma forma de responder seria articular a crítica
projeto comum, a saber, relacional e antissubstancia- a propostas substancionalistas com as ideias de fluxo
lista (Emirbeyer 1997). Não que a “perspectiva rela- e contingência da vida social, que está no centro do
cional” não fosse reivindicada por autores das ciên- pressuposto relacional.
cias humanas antes –como, por exemplo, Georg Wi- A expressão fluxo, que não chega, a meu ver, a
lhelm Friedrich Hegel, Karl Marx, Georg Simmel, compreender um conceito, é recorrente na maior
Ernst Cassirer, Norbert Elias–, mas recorrentemente parte das abordagens relacionais. Em específico,
tais autores caíam em abordagens que tendiam ao es- como nos informa Kasper (2013), em Nobert Elias
sencialismo, ao reificar conceitos como ação social, esta expressão alcança um status teórico fundamental
comunidade, sistema social, indivíduo, identidade, em sua abordagem antiessencialista. Em Elias, deve-
classe social, para levá-los à condição de objetos, ex- se atentar para os complexos articulados de interação
teriorizando-os à dinâmica relacional. As tradições humana, as figurações, que não seguem direções de-
sociológicas do século XX se diferenciaram, pode-se terminadas e não se reificam em estruturas estáticas.
dizer com algum grau de arbitrariedade, em função Ainda que elas sejam atualizadas o tempo todo atra-
da definição de seus objetos preferenciais, definindo- vés do fluxo interacional humano que lhe serve de
os segundo graus variados de ‘objetividade’, tra- anteparo, as figurações não se mantêm como estru-
tando-os como ‘coisas’, ‘substância’, ‘essência’, loca- turas estáveis, sujeitas ao controle e previsões dos in-
lizando-os na ‘mente’, no ‘corpo’, na ‘estrutura’. divíduos ou grupos. Figurações “são relativamente
Tais tradições construíram abordagens episte- autônomas em detrimento da consciência, dos moti-
mológicas e ontológicas do social, assumindo-o vos, das interpretações, dos objetivos e das práticas
como durável, estável, não transparente aos próprios humanas” (Tsekeris 2013: 101).
agentes, resistente ao jogo contextual do fluxo de re- Dada a fluidez dos processos sociais indicados,
lações. Consideravam “postular unidades discretas e somos desafiados a empreender uma mudança na
pré-dadas, como indivíduo ou sociedade, como os abordagem sociológica: da estática das macroestrutu-
principais pontos de partida da análise sociológica” ras rígidas para a dinâmica dos fluxos em composição
(Emirbeyer 1997: 287), relacionando indivíduo e so- e decomposição. São esses fluxos que combinam e
ciedade, embora não reduzindo um ao outro, por- recombinam elementos em relação, transformando
quanto consideravam ser de ‘natureza’ distinta. Em pessoas, objetos e as próprias relações, tão logo mude
algumas abordagens –liberais– restam indivíduos que a geometria relacional. Tais expressões são muito co-
agem livremente, mobilizados pelo autointeresse; em muns às abordagens de redes (Callon 1986; Latour
outras –coletivistas– sobrepõem-se aos indivíduos 1987; Law 1987) e de sistemas (Luhmann 2016), am-
normas e valores que orientam tomadas de ação. Os bas assinaladamente propostas antissubstancialistas.
radicalismos teóricos caminharam nos extremos São esses elementos que podem ajudar a sociologia
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relacional a encontrar conceitos apropriados para li- teoria geral dos sistemas, a qual deveria buscar entre
dar com o fluxo instável das relações. eles equivalentes funcionais, salvaguardando seus dis-
tintos níveis e suas diferenças: “a distinção de níveis
(...) as noções de sistemas e redes parecem muito promisso- deve estabelecer fecundas perspectivas comparati-
ras; ambas começam com a suposição de que tudo poderia vas” (Luhmann 2016: 19). O que releva aqui é apre-
ser de outra forma ou diferente do que é, e que o que as
coisas são depende das outras coisas a que estão ligadas. O sentar e discutir o que Luhmann chama de interação.
que algo significa, por exemplo, depende de uma série de É neste nível que, a meu ver, encontraríamos manei-
variáveis, incluindo contexto, situação e local (Fuchs 2001: ras criativas de lidar com o problema dos fluxos, da
16). contingência e da incerteza, que se apresentam como
desafios também à sociologia relacional.
Com isso, assinala-se uma imagem da sociedade Vale uma ressalva importante no tocante ao
–abe-se lá o que isso pode significar nos termos exercício aqui empreendido, concernente à exigência
acima– distante da ordem ou do consenso, sem fina- conceitual de diferenciar sociedade e interação. Luh-
lidades acionáveis e sujeita às dinâmicas interacionais mann afirma que sociedade e interação são sistemas
que se constituem como formas de vida com capaci- sociais de tipos diferentes, que deveriam receber tra-
dade de restabelecer os marcos sobre os quais se tamento diferenciado da teoria social, embora pudes-
constituíram por si mesmas. Nem sistema nem rede sem, e devessem, ser articulados por meio de uma te-
nestes termos devem ser compreendidos como estru- oria geral dos sistemas. Não existe sociedade sem in-
turas rígidas e estáveis (Fuchs 2001). Ademais, não teração, nem interação sem sociedade, mas o que im-
estariam sujeitos ao controle, como pretendiam as porta é a diferença que se constitui quando interações
variedades da teoria dos sistemas de inspiração ciber- se formam limitadas por possibilidade societais dis-
nética. A imagem que melhor caracterizaria o intento poníveis e atualizam os próprios limites da sociedade,
da sociologia relacional poderia ser sintetizada na ex- num movimento recíproco de abertura e fechamento
pressão descontrole, contingência, diga-se de passa- operacional. Fica mais claro visualizar por meio das
gem, próxima de abordagens como a de Giddens interações como estes processos operam em fluxo,
(1990) e Luhmann (2007). sem direção prévia e de maneira a dissolver formas
Como veremos abaixo, e o próprio Emirbeyer fixas no próprio processo, como também indicado
(1997) ressalta, a proposta teórica de Luhmann não pela perspectiva relacional. Por isso se escolheu aqui
só se aproximaria da imagem de sociedade legada partir do sistema de interação.
pela sociologia relacional, como poderia fazer avan- Para Luhmann, diferentemente das organiza-
çar o escopo conceitual proposto por tal abordagem ções e sociedades, interações são sistemas sociais
ao articular fluxo e contingência na dinâmica relacio- simples caracterizados pela presença física dos inter-
nal das interações. locutores; “eles incluem tudo aquilo que pode ser tra-
tado como presente, e podem em certos casos decidir
A SOCIOLOGIA DOS SISTEMAS COMO RELACIONAL
entre os presentes o que deve e o que não deve ser
(OU VICE-VERSA) tratado como presente” (Luhmann 2016: 467). Toda
a comunicação possível que se observa em processos
Niklas Luhmann é reconhecidamente o teórico mais interacionais é selecionada e definida a partir da pre-
importante da teoria dos sistemas no final do século sença. Soma-se a isso a percepção dos interlocutores
XX (Rodrigues y Neves 2017; Bechmann y Stehr de que são percebidos e, portanto, participam da co-
2001). Esta modalidade teórica foi praticamente es- municação como presentes. Processos como comu-
quecida a partir dos giros por que a teoria social pas- nicação e percepção criam, desse modo, um limite
sou desde a década de 60, embora em cada um deles claro para a formação de sistemas interacionais, de
a teoria dos sistemas se mostrasse plástica o sufici- modo que a distinção de base para a interação seja
ente para incorporá-los ou premonitória para ante- presente/ausente (Luhmann 2016: 469) Tal ocorrên-
cipá-los (Bachmann-Medick 2016). Em grande parte, cia é o que produz a diferença entre sociedade e inte-
isso se devia ao ímpeto paradigmático e metateórico ração (Luhmann 1986).
que mobilizava teóricos que se identificavam com A comunicação presentificada na interação não
este marco. Desse ímpeto emergiam as maiores ad- é determinada desde uma fonte externa, pré-requisi-
vertências e os maiores entusiasmos. tos normativos ou morais, ou ainda, obrigada a acon-
No plano mais amplo da diferenciação sistê- tecer (Luhmann, 2007: 646). Mais uma vez, os pre-
mica, a arquitetura teórica de Luhmann (2016) parte sentes definem tais termos e a ocorrência deles no
da divisão esquemática entre máquinas, organismos, tempo do acontecimento da interação, de forma alta-
sistemas sociais e psíquicos. O que nos interessa aqui mente contingente, embora possa parecer-lhes pura
são os sistemas sociais, os quais são subdivididos por necessidade. No entanto –e contra o risco de uma to-
Luhmann em interações, organizações e sociedades. tal desestruturação processual, contra a constante
Todos esses sistemas seriam do interesse de uma presença da dupla contingência entre alter e ego–,
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sistemas interacionais desenvolvem esquemas dife- superando as limitações materiais, espaciais e tempo-
renciadores pré-estruturados que canalizam o fluxo rais. De acordo com Luhmann:
de comunicação para níveis toleráveis de complexi-
dade entre os presentes (Neves 2006). Na dimensão O sistema interativo dos presentes em cada situação garante
social, a interação é diferenciada entre seleções de ego na prática uma medida satisfatória de atenção para a comu-
nicação. Mas as regras aí válidas não podem ser levadas a
e alter, o que dirige as comunicações posteriores que vigorar além dos limites do sistema de interação. Mesmo
passam a se organizar a partir das seleções feitas. Na quando a comunicação encontra portadores de sentido
dimensão temporal, há seleções entre elementos transportáveis e temporalmente estáveis, torna-se imprová-
constantes e variáveis; em outras palavras, condições vel que ela capte qualquer atenção para além dos limites da
interação (Luhmann 2016: 182-183).
estruturais recorrentes e seleções contingentes. Final-
mente, a dimensão material da seleção permite atri- Finalmente, não há garantias de sucesso da co-
buições a alter e ego internas, ligadas às ações, e exter- municação, ou seja, que ela encontre concordância e
nas, ligadas à experiência. aceitação em alter. Compreender não quer dizer acei-
Tais esquemas diferenciadores, no plano social, tar, ou seja, alter tomar as seleções de ego como pre-
temporal e material, ocorrem concomitantemente e missas de comportamento, de vivência, de pensa-
fornecem mecanismos de estabilização a processos mento. Para a comunicação ser aceita, ela deve ser
altamente contingentes que se manifestam nas inte- compreendida como comunicação, deve chegar ao
rações. Vale dizer, as interações são altamente instá- endereço e então ser aceita.
veis e complexas, fluxos contingentes, mas canalizam Superando essas improbabilidades, a processu-
a contingência e reduzem a complexidade societal alidade social, os fluxos comunicativos, alcançariam
por meio de mecanismos seletivos que fornecem à menores níveis de complexidade e contingência, não
relação de ego e alter meios de entendimento e articu- obstante continuarem abertas possibilidades ulterio-
lação da ação, ainda que momentâneos. Novas inte- res de incompreensão e não aceitação. Visto dessa
rações exigirão novas seleções, mesmo que estejam maneira, o fluxo do social na interação não nos for-
presentes os mesmos indivíduos –se é que se pode nece uma imagem ordenada e provável de entendi-
dizer que são os mesmos. Neste sentido, ao fim da mento comunicativo. O contrário é que seria ver-
copresença, cessa a processualidade momentânea da dade: a comunicação na interação seria um processo
interação. dissipador de possibilidades de ordem pelo entendi-
mento estável, um mecanismo gerador de ruídos, ins-
Não todos, mas muitos sistemas de interação direta entre
presentes são, neste sentido, sistemas sociais simples. E, tabilidades, caos. Essa imagem tangencia aquela da
muito típico para os sistemas de interação, é que só com sociologia relacional; em sentido estrito, a ideia de
muito esforço eles podem consolidar internamente subsis- que as relações estabelecem os sentidos, a direção dos
temas duradouros (Luhmann 2016: 219). fluxos, a dinâmica da prática, enfim, teoricamente, tal
imagem recorre à imanência do próprio processo in-
A duração precária, nesses termos, nos faz ob- teracional.
servar outras consequências teóricas para sistemas Vistas da mesma forma, mas de maneira mais
sociais interacionais quando nos referimos à comuni- aprofundada, “interações são episódios da realização
cação e suas improbabilidades (Luhmann 2001, 2006, social” (Luhmann 2016: 462). A consciência de alter
2016). Para Fuchs (2001), comunicação é o conceito e ego em tais episódios pressupõe ocorrências comu-
relacional central da teoria dos sistemas. Sua centrali- nicativas anteriores e expectativas de que haverá co-
dade se deve à sua irredutibilidade a qualquer outra municação após o fim da interação. Tanto ocorrên-
unidade de análise. A importância desse conceito cias anteriores vivenciadas quanto as expectativas são
também se manifesta na exigência de relação de, ao atualizadas e definidas em cada interação específica,
menos, dois indivíduos, não necessariamente em si- estando, pois, disponíveis a alterações episódicas que
tuação de copresença. Para o que nos importa tam- podem ressignificar o passado e reconduzir o futuro.
bém, comunicação é processo, fluxo ininterrupto, Assim, o sucesso da interação, em termos comunica-
atualização observável de expectativas sociais. tivos, não garante a cristalização do sucesso ou a efe-
Comunicação é, também, ocorrência altamente tivação de acordos episódicos assumidos, levando,
improvável, como diz Luhmann (2001). Primeiro, mesmo os presentes em anteriores interações, a pro-
como também já observou Parsons para o problema duzir novas dinâmicas interativas sempre quando se
da ação (Parsons 1955), é improvável que alter com- encontram. As interações ocorrem como atualização
preenda o que ego quer expressar, já que ambos par- recorrente, renovação, e não como reprodução.
tem de corpos e consciências completamente aparta-
das e individuais, o que se relaciona com a experiên-
cia ímpar de cada parte. Segundo, é improvável que a
comunicação encontre os destinos esperados,
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INTERAÇÕES COMO AUTOPOIÉSIS RELACIONAL representa a sua unidade em si mesmo da melhor forma
possível (Luhmann 2016: 471).
É preciso aqui inserir de forma mais clara o tema, em
geral polêmico, da autopoiésis do sistema social. O encaminhamento a este ponto direcional es-
Muita incompreensão tem se acumulado nas últimas colhido dá identidade ao sistema; uma recursividade
três décadas em decorrência de argumentos ora autopoiética se configura até o momento em que ces-
apressados, ora rasos, no tratamento dado a esta sam as comunicações entre os presentes. É a relação
forma de conceituação1. Ela claramente é um novo construída que ‘governa’ a direção do processo, logo
giro na teoria dos sistemas (sem que obtivesse conse- sua identidade, definindo, como dito acima, as di-
quências mais gerais para a teoria social), que acom- mensões estruturais em termos sociais (definição da
panha o desenvolvimento mais amplo das disciplinas sequência de comunicação), temporais (definição do
que se ocuparam com este marco teórico multidisci- término do processo) e materiais (definição dos te-
plinar, no caso específico, a biologia/neurofisiologia, mas). Claro está que o processo interacional é guiado
desenvolvida pelos chilenos Humberto Maturana e por mecanismos de centralização, cujos presentes sa-
Francisco Varela. Tal giro era uma clara resposta aos bem que existem –e comungam de– perspectivas
obstáculos encontrados pela teoria sistêmica de Par- mais amplas que aquelas centralizadas (diz-se: aber-
sons, que se utilizava amplamente da ideia de sistema tura cognitiva). Mas, ao se centralizar o curso numa
aberto e que se baseava em princípios de ordem, es- direção, a recorrência autopoiética, ou seja, a recor-
trutura, ação social, estabilidade sistêmica e reprodu- rência às comunicações antecedentes, passa a gover-
ção social, nos fluxos de informação entre sistemas e nar a relação. Vê-se aqui uma conjugação de elastici-
nos equivalentes funcionais observados. dade estrutural e centralização processual, liberdade
Autopoiésis, ao fazer referência à ideia de sis- e determinação.
tema fechado, não quer dizer solipsismo ou ignorân- A unidade da autopoiésis não é outra coisa se-
cia em face do ambiente do sistema. Fala-se tão so- não a sua constante renovação. Para tanto, há em
mente em fechamento operacional com base em pro- toda e qualquer situação um exemplo de jogo maior
cessos definidos, empiricamente observáveis. Para o ou menor de possibilidades de articulação. Junto a
caso de sistemas de interação, os processos de per- sistemas sociais, o que está em questão é sempre ape-
cepção e comunicação definem os limites operacio- nas a comunicação articulável (...). A possibilidade de
nais que se desenvolverão ali. O fato de os indivíduos articulação é assegurada pela autorreferência dos ele-
se perceberem em copresença e comunicarem uns mentos e por meio da estrutura de expectativas. No
com os outros garante operações restritas àquele epi- interior desse excedente de possibilidades há proba-
sódio, constituindo um processo recursivo em dire- bilidades diferentes, que são fixadas no horizonte de
ção à própria interação específica. Ao mesmo tempo, sentido do instante e que podem ser observadas
os indivíduos copresentes são observadores do que como probabilidades (Luhmann 2016: 493).
está para além do limite definido na relação, ou seja, Por meio do fluxo comunicacional que ultra-
eles estão cognitivamente abertos ao ambiente da in- passa a diferença sociedade/interação, indivíduos se
teração, quer dizer, à sociedade. constituem vivenciando-o, registrando as experiên-
Tal recursividade episódica –fechada operacio- cias de copresença, interacional. No entanto, ao con-
nalmente, mas aberta cognitivamente– marca a dife- trário de uma hipersocialização de suas consciências,
rença entre interação e sociedade, impedindo, por- estas continuam fechadas operacionalmente, sujeitas
tanto, que a ausência de limites entre esses sistemas à própria autopoiésis. Da mesma forma também, as
fizesse a interação decair na complexidade inoperável interações não são resumidas aos indivíduos e suas
da sociedade, em um nível insuperável de contingên- consciências, mas à relação que ali se constitui. De
cia, ou, ainda, que se reduza a sociedade a episódios modo que não se pode reduzir os indivíduos às con-
de copresença. É claro que a interação ainda mantém sequências das interações, já que, uma vez encerradas
níveis de contingência nas suas operações, mas um estas, aqueles poderiam tão somente ter acesso à re-
nível suportável para o desenrolar dos processos que construção daquele episódio lançando mão de uma
ali têm lugar. consciência que, também em fluxo, já se alterou.
Desse modo, o fluxo comunicacional não pode
No lugar da interdependência (impossível) de cada ele- ser pensado como reprodução, senão como atualiza-
mento em relação a cada elemento (ou, contudo, de muitos ção relativa das relações que se constituem tempo a
em relação a muitos), entra em cena a interdependência de tempo (como acima: “A unidade da autopoiésis não
todos (ou, de qualquer modo, de muitos) os elementos em é outra coisa senão a sua constante renovação”). Pen-
relação a um ponto direcional escolhido, no qual o sistema
sando a partir da relação entre interações e

1 Latour (2005) seria um exemplo claro dessa incompreensão, ao caracterizar as distintas esferas sociais, lançando mão de um redu-
afirmar que Luhmann usou a mesma metalinguagem para cionismo de conceitos biológicos, no caso, autopoiésis.
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consciências, a imagem de sociedade seria de pura selecionada e disponibilizada pela sociedade, compa-
instabilidade, uma ordem precária de relações. tibilizando processos de mudança e permanência.
Assumidos tais pontos teóricos, indivíduo, in- Deve-se ressaltar novamente que existe um des-
teração e sociedade devem ser diferenciados a partir nível de complexidade entre o sistema de interação
das operações próprias ‒ consciência, copresença co- (complexidade articulada ou simplificada) e socie-
municativa e comunicação, respectivamente. É nesse dade (totalidade das comunicações possíveis), de
sentido que não se pode reduzir nem a sociedade ao modo que pareça claro que esta diferença ocorre no
indivíduo, nem este àquela, como se tentou fazer em continuum de toda a comunicação societal possível
expectativas teóricas anteriores unilaterais. O que de- (Luhmann 2006: 647). Deve também restar claro que
corre disso é a necessidade de estabelecer um marco a dinâmica relacional na interação, sua processuali-
teórico que possa evidenciar a dinâmica relacional dade própria, suas determinações momentâneas por
dessas dimensões, ao invés de reduzi-las uma à outra. meio do livre jogo comunicativo dos presentes, não
Na parte da diferença indivíduo/interação, pa- se reduz à –ou se coloca como– sociedade.
rece claro que os indivíduos, fechados em sua própria
consciência, participam de interações a partir das ex- Não que a interação saia da fronteira da sociedade e que
forme um sistema além de seus limites. Realiza a sociedade,
pectativas que lhes são características (autorreferên- mas de maneira que dentro dela se produzem limites entre
cia), mas que se alteram devido à relação que se esta- o sistema específico de interação e seu entorno interno à
belece com outros indivíduos nas dimensões acima sociedade (Luhmann 2006: 647).
indicadas, a saber: material, temporal e social (hete-
rorreferência). Ou seja, a interação combina níveis de A interação ocorre na sociedade embora se di-
liberdade e determinação modulados por meio das ferencie dela. Não é, como dito, simplesmente dife-
relações dos copresentes. rença de complexidade entre sistemas sociais, nem
Cria-se uma cadeia concatenada de comunica- formações sociais compostas de elementos de tipos
ções em que cada elemento se segue a outros, uma diferentes. Antes de tudo, sociedade e interação são
cadeia estruturada em termos de expectativas dispo- sistemas sociais compostos de comunicação, à dife-
níveis entre e pelos presentes, mas aberta o suficiente rença do sistema psíquico (ideias) e das organizações
para que não sejam reféns de nenhum script predeter- (decisões). Desta forma, interação é um ambiente in-
minado, pois não se espera, nem em reuniões buro- terno à sociedade, diferenciado desta, mas que lhe
cráticas, formais, nem em relações amorosas, políti- oferta variações episódicas, alterações circunscritas
cas, entre outras, que algum roteiro possa determinar localmente (embora possam alcançar maior exten-
o curso das interações que ali têm lugar. Por isso, a são), e que, ao mesmo tempo, manifesta-se como
semântica teórica da reificação, da teleologia e do es- ocorrência do fluxo comunicacional geral do sistema
truturalismo hoje se nos apresenta demasiadamente da sociedade.
restritiva quando se consideram sistemas sociais inte-
racionais (deve-se também superar a tese da intersub- Pero la sociedad no sólo realiza interacciones: es también
entorno societal de estas mismas. Esta diferencia –interna a
jetividade entre consciências, já que os indivíduos, la sociedad– impide que todo lo que pasa, gusta o disgusta
como sistemas psíquicos, são horizontes particulares en las interacciones influya en las estructuras del sistema de
de construção de sentido, os quais, por meio de suas la sociedad. Todo el sentido –y en particular, por tanto, lo
consciências, combinam abertura cognitiva com fe- que puede ser persona o rol– se construye de manera tran-
sinteraccional con una mirada puesta en usos más allá de la
chamento operacional). interacción en curso. Ya en la interacción misma se toma en
Travar-se-á agora uma discussão a respeito da cuenta este hecho y, en contraste con lo que puede suceder
relação interação/sociedade, que combine mudança en la interacción, sólo una pequeña cantidad de innovación
e permanência, liberdade e determinação. puede pasar este filtro a la difusión extendida de la sociedad
(Luhmann 2006: 378).
INTERAÇÕES COMO RELAÇÕES ABERTAS À SELEÇÃO
Os episódios de interação na sociedade não in-
DA SOCIEDADE
terferem direta e ininterruptamente na estrutura da
sociedade, mas são selecionados ocasionalmente e
Se ficou clara a natureza episódica e autopoiética da
podem, assim, ter consequências estruturais para a
interação e, portanto, sua articulação de abertura cog-
sociedade. Embora as interações ocorram o tempo
nitiva e fechamento operacional, resta-nos um
todo e por meio de sua natureza relacional se observe
adendo a respeito da relação entre interação e socie-
a fluidez, a contingência e a dissolução processual
dade. A tentativa aqui é mostrar que embora a intera-
constante, há elementos que permanecem, antes do
ção ocorra como um jogo aberto ao curso livre das
início e após o término da interação ofertada, por
relações episódicas, ela alcança, em determinadas si-
meio de uma estrutura de expectativas que só pode
tuações, níveis estruturais mais amplos e transcen-
existir no nível do sistema social, já que só aqui uma
dentes, e sua ocorrência episódica passa a ser
Anarquia de base: interação, relação e antiessencialismo na teoria dos sistemas sociais 31

dinâmica de abstração ultrapassa a fluidez concreta deparando, como burocratização, intimidade, estado,
da interação. crise ambiental etc. A análise sociológica necessita de
Há, antes de tudo, nas interações, expectativas uma metodologia relacional que possa dar conta
que, por serem apenas expectativas, podem ou não se dessa ‘anarquia de base’ das interações e das ‘expec-
confirmar na relação da copresença. Tais expectati- tativas consolidadas nos sistemas sociais’, desafio a
vas, que transcendem, mas participam da interação, que nem as abordagens interacionistas, individualis-
estão disponíveis em termos de pessoa, papéis, pro- tas e fenomenológicas, nem as perspectivas coletivis-
gramas e valores. Não obstante a presença de expec- tas, comunitárias ou sistêmicas, tomadas isolada-
tativas que estão além da ocorrência interacional, sua mente, mostram-se capazes de responder.
processualidade, sua caracterização, compreensão
etc. por parte dos copresentes, ainda assim estariam ENCAMINHAMENTOS FINAIS
sujeitas à relação que se inicia com a interação.
Interações promovem, portanto, mutações das Busquei neste trabalho mostrar como alguns elemen-
expectativas estruturais da sociedade, mas só na me- tos teóricos emergidos no seio da teoria dos sistemas
dida em que a variação das expectativas estruturais de Luhmann, em específico, seu conceito de intera-
seja corroborada no sistema social. Tal variação, ção, fornecem um quadro que se aproxima de muitas
como dito, ocorre em cada interação, pois a copre- das reivindicações da ‘sociologia relacional’, tal como
sença cria condições completamente novas, ou seja, buscada por autores como Emirbeyer (1997), Fuchs
renovação. No entanto, nem toda renovação é con- (2001) e Powell e Dépelteau (2013).
firmada no sistema social. O sistema social convive Em especial, dei atenção ao conceito de comu-
incessantemente com uma complexidade implacável nicação e seu fluxo ininterrupto, à ideia de autopoié-
por parte dos sistemas de interação, sendo pressio- sis, à diferenciação interação/sociedade. Posto isso,
nado pelas inovações que ali têm lugar. Somente ressaltei que, em conjunto, tais conceitos fornecem
quando o sistema social seleciona as inovações –e o formas diferentes de observar processos sociais,
faz em acordo com sua processualidade autopoiética apresentando-se como subsídios importantes para
na direção do provável– é que se pode falar de evo- uma abordagem sociológica antiessencialista, atenta
lução (Claramente aqui o conceito de evolução de às contingências, com capacidade de articular instabi-
Luhmann não se relaciona à ideia de progresso. A re- lidade e estabilidade processual, liberdade e determi-
ferência é a biologia evolutiva recente e sua base ge- nação. Uma imagem do social que emerge desses ren-
nética, que combina processos de mutação-seleção- dimentos é o que Luhmann chamou de ‘anarquia de
evolução sem finalidade, ‘ao acaso’). base’.
A relação interação/sistema social suscita o me- Talvez este exercício possa nos indicar a perti-
canismo evolutivo da sociedade. Sobre uma base de nência de exercícios de sínteses teóricas ‒ que não foi
intensa variação dos elementos promovida pela inte- o intento aqui ‒ que façam emergir articulações para
ração, erguem-se expectativas estruturais seleciona- além das unilateralidades que tendem a acumular-se
das pelo sistema social. Essas mesmas expectativas se de tempos em tempos na teoria sociológica. Parsons
confirmam, entretanto, provisoriamente, estando su- foi pioneiro neste projeto e nos legou uma tradição
jeitas a novas interações que podem ou não estabili- que, ao menos no que concerne à ideia de ‘síntese
zar tais expectativas. Tal processo relacional pro- teórica’, não se exauriu, manifestando-se recorrente-
move uma estabilidade dinâmica no plano mais geral mente em propostas mais ou menos ambiciosas em
do sistema social e uma instabilidade processual no sua amplitude de escolhas teóricas. Se em Parsons o
plano das interações. Uma imagem que o próprio Lu- conceito de ação social guiou seu projeto, o conceito
hmann nos fornece –‘anarquia de base’– repercute a de relação agora nos coloca o mesmo desafio, o que
ideia de uma instabilidade relacional incontornável nos leva a enquadrar na constelação relacional: onto-
no nível das interações. logia e epistemologia, contingência e ordem, global e
local, comunicação e ação, coletividades e institui-
O conjunto das interações forma ao mesmo tempo um tipo ções, agentes humanos e não humanos.
de anarquia de base, forma enquanto estabilidade própria
de interação e enquanto compulsão à interrupção da intera- Esta síntese deve superar os preconceitos entre
ção o material de jogo para a evolução social. Formas refi- as “culturas epistêmicas” (Knorr-Cetina 1999) da ci-
nadas da diferenciação social são construídas por meio de ência, que opõem âmbitos da realidade, impedindo
seleção a partir desse material (Luhmann 2016: 481). articulações que façam avançar, em especial, para
além do foco convencional da relação entre huma-
A evolução social combina a instabilidade do li- nos. As atuais propostas anti-humanistas e pós-hu-
vre jogo relacional das interações com as expectativas manistas já nos forneceram demasiado material para
consolidadas nos sistemas sociais, de modo que é uma reconsideração da própria matéria do social; a
desta relação (interação/sistema social) que emergem biologia evolutiva nunca se conformou com
processos sociais com os quais a sociologia vem se
32 Fabrício Neves

reducionismos especistas ou genéticos; teorias da Latour, B. (1987). Science in action: how to follow scientists
complexidade atentam para ideais de fluxo entre or- and engineers through society. Cambridge, Mass:
dens ‘distintas’ da realidade. Harvard University Press.
É nesse contexto de extrema diferenciação das Latour, B. (2005). Reasemblling the social: an introduction
‘culturas epistêmicas’ da ciência, muitas vezes a es- to actor-network-theory. Oxford: Oxford Univer-
conder estratégias políticas ‘mundanas’, que o exercí- sity Press.
cio de relacionar –compreender em relação– revela- Law, J. (1987). Technology and heterogeneous engi-
se extremamente oportuno. Para além de um simples neering: the case of Portuguese expansion. In:
exercício de reengenharia teórica, tal empreendi- W. Bijker, T. Hughes, y T. Pinch (eds.), The social
mento só será bem-sucedido se for dotado de uma construction of technological systems: new directions in
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CONTACTO
fabriciomneves@gmail.com

Recibido: mayo 2020


Aceptado: septiembre 2020

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