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Avanços Na Pesquisa Com Plantas Forrageiras Tropicais
Avanços Na Pesquisa Com Plantas Forrageiras Tropicais
©
2007 Sociedade Brasileira de Zootecnia
ISSN impresso: 1516-3598 R. Bras. Zootec., v.36, suplemento especial, p.121-138, 2007
ISSN on-line: 1806-9290
www.sbz.org.br
1
Professor Associado do Departamento de Zootecnia da ESALQ/USP, Piracicaba, SP, e pesquisador do CNPq. e-mail:
scdsimlva@esalq.usp.br.
2
Professor Titular do Departamento de Zootecnia da UFV, Viçosa, MG, e pesquisador do CNPq.
RESUMO - O manejo do pastejo tem sido uma preocupação constante da pesquisa com plantas forrageiras no
Brasil há muitos anos. No entanto, foi durante a última década que ocorreram grandes mudanças e um avanço
significativo na compreensão de fatos e processos determinantes da correta utilização das plantas forrageiras tropicais
em pastagens. O presente texto tem por objetivo traçar um breve histórico da pesquisa com plantas forrageiras e
pastagens no país, apontando sua evolução, tendências, resultados e épocas de transição. Isso colocará o conhecimento
disponível em perspectiva e servirá de base para a discussão da importância e relevância dos estudos envolvendo
avaliações das características morfofisiológicas das plantas forrageiras para fins de planejamento e definição de
estratégias de manejo do pastejo. As informações são apresentadas de maneira sistematizada, favorecendo uma visão
integrada das diferentes tendências e concepções filosóficas da pesquisa com plantas forrageiras no país, apontando,
de maneira crítica, a necessidade de revisão e mudança de paradigmas como forma de promover a melhoria,
aperfeiçoamento e o crescimento do conhecimento acerca da produção animal em pastagens.
SUMMARY - Grazing management has been the focus of the research with forage plants in Brazil for many
years. However, it was during the last decade that significant changes and advance occurred regarding the
understanding of important factors and processes that determine adequate use of tropical forage plants in pastures.
The objective of this text is to provide a brief history of the research on forage plants and grasslands in Brazil,
highlighting its evolution, trends, results and transition phases. That will help to put things into perspective and
provide the basis for discussing the importance and relevance of studies involving evaluations of
morphophysiological traits and responses of forage plants towards planning and definition of sound and efficient
grazing management practices. The information is presented in a systematic manner, favouring an integrated view
of the different trends and research philosophies used, indicating, critically, the need for revising and changing
paradigms as a means of improving and consolidating the knowledge on animal production from pastures.
Até recentemente, apesar da ênfase dada ao Com base nesse cenário, o presente texto tem
conhecimento da curva de acúmulo de forragem por objetivo traçar um breve histórico da pesquisa
dos pastos após corte ou pastejo, sua estacio- com plantas forrageiras tropicais no país, ressaltar
nalidade de produção, composição morfológica e os progressos obtidos, identificar pontos limitantes
valor nutritivo da forragem produzida, poucos e apontar novas tendências e metas, colocando em
trabalhos relatavam dados colhidos por períodos perspectiva a importância do uso e do conhe-
que ultrapassassem uma estação de crescimento. cimento relativo à ecofisiologia de plantas
Na grande maioria desses trabalhos, o animal não forrageiras para o aprimoramento das práticas de
era parte integrante da proposta experimental, seja manejo.
porque os experimentos eram baseados em
estratégias de corte ou porque os animais eram Um breve histórico
utilizados apenas como agentes desfolhadores dos
pastos. Nesse contexto, o acúmulo de forragem As pesquisas com pastagens nos países ditos
sempre foi considerado como um processo único, de pecuária desenvolvida no mundo datam desde
singular, sem levar em consideração aspectos o início do século XX. Dentre as publicações
dinâmicos relacionados à população de plantas e científicas da área de agronomia, podem ser
à competição por luz (Da Silva & Nascimento Jr., destacadas algumas que talvez tenham sido as
2006). Adicionalmente, a referência temporal das principais referências para o desenvolvimento de
avaliações, normalmente baseada em uma escala toda a tecnologia desenvolvida pelos pesquisa-
cronológica desvinculada de qualquer caracterís- dores responsáveis pela área de manejo de
tica fisiológica e/ou de desenvolvimento, resultou pastagens e que ainda são utilizadas até os dias de
em um grande número de recomendações e hoje. A primeira delas foi o trabalho de Graber em
práticas de manejo extremamente generalistas, 19273, citado por Volenec et al. (1996), que foi
caracterizadas por uma grande falta de consistência um dos primeiros a relatar que a concentração de
quando de sua colocação em prática sob diferentes carboidratos não-estruturais (CNE) nas raízes
condições de ambiente para uma mesma planta diminuía imediatamente após desfolhação, durante
forrageira (Da Silva & Corsi, 2003; Nascimento a fase inicial de rebrotação, em plantas de alfafa
Jr. et al., 2003; Da Silva, 2004). Carvalho (1997), (Medicago sativa L.). A segunda foi o trabalho de
em uma análise crítica da pesquisa brasileira com Watson4, citado por Black (1962), que demonstrou
animais em pastejo, constatou existir uma preocu- que uma medida do tamanho do aparato fotos-
pação muito grande com o binômio taxa de lotação sintético das plantas seria relevante para a compa-
(ou variável associada)/método de pastejo. ração de produtividades agrícolas, desenvolvendo
Segundo o autor, um dos objetivos principais das o conceito de índice de área foliar (IAF). Um
pesquisas era a busca pelo método de pastejo ideal terceiro marco importante foi a publicação dos
para se produzir produto animal comercializável, resultados dos experimentos de Brougham (1955,
como se a solução pudesse ser obtida de uma 1956, 1957, 1958, 1959, 1960), demonstrando a
maneira direta, sem se levar em conta aspectos da importância do IAF para a compreensão das
biologia tanto das plantas forrageiras como dos relações entre interceptação luminosa (IL) pelo
animais em pastejo. O resultado desse enfoque foi dossel e acúmulo de forragem, além da interação
um atraso muito grande no entendimento das entre freqüência e intensidade de desfolhação nos
relações entre plantas, animais e meio ambiente e, estudos sobre produção e manejo de plantas
conseqüentemente, um progresso lento no que se forrageiras em pastagens.
refere ao conhecimento acerca do manejo de O trabalho de Brougham (1955) descreveu a
pastagens. Esse fato foi reconhecido por Moraes natureza sigmóide da curva de rebrotação de pastos
et al. (1995) e Nabinger (1996, 1997) ao recomen-
darem a inclusão da ecofisiologia nos estudos com 3
GRABER, L.F. et al. Organic food reserves in relation to the
growth of alfafa and other perennial herbaceous plants. Agr.
plantas forrageiras, e por Maraschin (2000) ao Exp. Sta. Univ. of Wisconsin, Madison, Res. Bul. 80. 1917.
atribuir esse atraso à não consideração e aplicação 4
WATSON, D.J. Comparative physiological studies on the
growth of field crops!. Variation in net assimilation rate and
dos conhecimentos sobre fisiologia e ecofisiologia
leaf area between species and varieties, and within and
de plantas forrageiras nos trabalhos de pesquisa. between years. Ann. Bot., Lond. (N.S.) 11:41-76. 1947.
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Avanços na pesquisa com plantas forrageiras tropicais em pastagens:
características morfofisiológicas e manejo do pastejo 123
consorciados de azevém perene, trevo branco e conceitos simplificados que, em sua opinião,
trevo vermelho após desfolhação (variação em poderiam explicar as respostas de um pasto quando
massa de forragem com o tempo de rebrotação), submetido à desfolhação: (1) disponibilidade total
bem como a relação assintótica entre IL e IAF e a reutilização de reservas orgânicas, (2)
(Warren Wilson et al., 1961). Ficou demonstrado crescimento radicular, e (3) desenvolvimento da
que o crescimento das plantas forrageiras estava área foliar e interceptação da luz incidente. Desses,
relacionado com o nível de interceptação de luz o primeiro foi durante muito tempo bastante
pelo dossel e com a sua área foliar (IAF), havendo enfatizado (Weinmann, 1961). No entanto, até
uma taxa constante de acúmulo de matéria seca onde se sabe, prática de manejo alguma considerou
(MS) quando havia folhagem suficiente para esse fato seriamente. Quanto ao crescimento
interceptar praticamente toda a luz incidente. De radicular, apesar de sua importância reconhecida,
uma maneira geral, a curva de rebrotação é o conceito não foi utilizado como determinante
caracterizada por apresentar três fases distintas. de práticas de manejo. Em contrapartida, os
Na primeira, as taxas médias de acúmulo de MS conceitos de área foliar e interceptação luminosa
aumentam exponencialmente com o tempo. Essa foram bastante explorados e resultaram em uma
fase é altamente influenciada pelas reservas série de estudos cujos resultados permitiram
orgânicas da planta, disponibilidade de fatores de compreender melhor o processo de produção de
crescimento e área residual de folhas após o corte forragem. Apesar disso, Brown & Blaser (1968)
ou pastejo (Brougham, 1957). A segunda fase consideraram o uso do IAF para definir estratégias
apresenta taxas médias de acúmulo constantes de pastejo como uma simplificação do problema,
(fase linear). Nessa fase, o processo de competição argumentando que em pastos mantidos altos
inter e intra-específica adquire caráter mais normalmente existem poucas folhas próximas do
relevante, principalmente quando o dossel se nível do solo e que seria necessário um pastejo
aproxima da completa interceptação da luz excessivamente alto para que fosse mantida uma
incidente. Na terceira fase inicia-se a queda das área foliar remanescente suficiente para assegurar
taxas médias de acúmulo, ocasionando uma máxima interceptação da luz incidente. Os autores
redução na taxa de crescimento, conseqüência do argumentaram também que em pastos mantidos
aumento da senescência de folhas que atingiram altos as folhas localizadas na porção mais baixa
o limite de duração de vida, e aumento do sombre- do dossel seriam menos eficientes fotossinte-
amento das folhas inferiores (mais velhas) ticamente, a eficiência de colheita da forragem
(Hodgson et al., 1981). produzida seria baixa e poderia haver sérios riscos
Esses estudos estimularam o desenvolvimento de redução da densidade populacional de perfilhos.
de modelos de manejo do pastejo baseados nos No Brasil, Gomide (1973), no primeiro
conceitos de índice de área foliar (IAF) e de simpósio sobre o manejo da pastagem realizado
acúmulo de carboidratos não-estruturais (CNE), na ESALQ em Piracicaba, ao abordar o tema
apesar das dificuldades óbvias de se medir tais fisiologia do crescimento livre de plantas for-
parâmetros. Esses modelos tinham como objetivo rageiras, enfatizou a importância do conceito de
criar condições favoráveis para o crescimento e IAF, do perfilhamento, dos carboidratos de reserva
produção do pasto sob lotação contínua e/ou e da intensidade e freqüência de desfolhação.
rotacionada. Assim, na década de 60, Smith Jacques (1973) apresentou algumas idéias sobre a
(1962), trabalhando com alfafa no norte do EUA, fisiologia do crescimento de plantas forrageiras,
procurou demonstrar em seus experimentos a e apontou duas características consideradas
importância das reservas orgânicas juntamente importantes para o manejo: área foliar e reservas
com o índice de área foliar para o manejo das orgânicas. Esse autor alertou, no entanto, que o
pastagens sob lotação rotacionada. Durante algum IAF, apesar de sua reconhecida importância, não
tempo prevaleceu a idéia de que qualquer estra- era suficiente para determinar práticas adequadas
tégia de manejo do pastejo deveria sempre levar de manejo. Chamou a atenção para os distintos
em consideração o IAF remanescente bem como interesses das diferentes escolas de pesquisa
a concentração de reservas orgânicas nas plantas predominantes na época. De um lado, a escola
forrageiras. Alcock (1964) enumerou três norte-americana, sob a influência do trabalho de
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124 Da Silva & Nascimento Jr.
Graber, especificamente no norte dos Estados ocorre de maneira defasada no tempo do cres-
Unidos, onde a alfafa tinha maior importância e cimento (folhas em formação são maiores que
era utilizada quase que exclusivamente para a folhas em senescência) (Parsons et al., 1988). Já
produção de feno, razão de seu grande interesse para lotação contínua (pastejo contínuo), situação
no papel das reservas orgânicas para a rebrotação em que os pastos eram mantidos numa condição
primaveril (Graber5 1927, citado por Jacques, estável caracterizada por altura e/ou massa de
1973). Do outro, as escolas inglesa e neoze- forragem constante, essa proposição de IAF para
landesa, sob influência dos trabalhos de Jewiss e interceptação de 95% da luz incidente não se
Brougham, respectivamente, preconizando a linha aplicava, uma vez que o processo de senescência
de que o vigor da rebrota após a desfolhação era proporcional ao processo de crescimento
dependia de ambos o tamanho e o número de (folhas em crescimento do mesmo tamanho que
perfilhos vegetativos (Jewiss, 1972), e do IAF e folhas em senescência), fazendo com que o
da interceptação de luz pelo dossel (Brougham, acúmulo líquido de forragem fosse nulo ou até
1959) em pastos de azevém perene, espécie eventualmente negativo (Parsons & Penning,
forrageira mais utilizada para pastejo em países 1988). Nesse caso, a recomendação seria a
como Inglaterra e Nova Zelândia. manutenção dos pastos mais baixos, com um
Muitas das recomendações de manejo do menor IAF, como forma de assegurar uma maior
pastejo existentes foram feitas com base no taxa de acúmulo (saldo entre crescimento e
argumento de que, para melhor aproveitar as carac- senescência) e uma maior colheita de forragem por
terísticas de crescimento das plantas forrageiras, unidade de área (Parsons et al., 1983b).
o especialista em manejo de pastagens deveria A partir de 1960, a escola norte-americana foi
manejar as plantas, em pastejo rotacionado, influenciada pelos trabalhos de Mott (1960), com
objetivando obter uma série de rebrotações suces- a introdução do método de pastejo por ele
sivas que apresentassem o padrão de crescimento denominado put and take ou método da taxa da
sigmóide. Nesse caso, os pastejos deveriam ser lotação variável. Este era caracterizado pela
realizados sempre ao final da fase linear de utilização de um grupo fixo de animais, os
crescimento como forma de obter a máxima taxa chamados animais-teste (ou traçadores), e de um
média de acúmulo forragem. No entanto, como grupo variável de animais, chamados reguladores,
nessa condição o valor nutritivo da forragem adicionados ou retirados do pasto como forma de
produzida era geralmente baixo, Rodrigues & ajustar a pressão de pastejo. Pressão de pastejo
Rodrigues (1987) chamaram a atenção para o fato foi definida por esse autor como a quantidade de
de que poderia ser interessante utilizar as pastagens peso animal (número de animais) por unidade
em estádios menos avançados de crescimento massa de forragem em um determinado ponto no
como forma de colher forragem de melhor tempo. Como conseqüência dessa definição, Mott
qualidade. Mais especificamente, a proposta era (1960) cunhou uma outra, ou seja, a capacidade
baseada em realizar desfolhações freqüentes, de suporte, que corresponderia à taxa de lotação
porém pouco intensas, de modo a evitar períodos dos pastos no ponto ótimo de pressão de pastejo.
de baixa interceptação de luz após cada evento de Esse método foi sempre mais utilizado na esfera
desfolhação. A intensidade da desfolha deveria acadêmica e muito pouco ou quase nada pelo setor
assegurar a manutenção de área foliar suficiente produtivo, conseqüência da dificuldade de sua
para garantir uma rebrotação rápida e assegurar a aplicação em condições normais de campo. Duran-
interceptação completa da luz incidente. Nesse te muito tempo vários pesquisadores utilizaram
caso, nova interrupção do crescimento do pasto esses conceitos em seus trabalhos, mas, segundo
se daria em condições de taxas de acúmulo Maraschin (2000), sem o real conhecimento do
ligeiramente abaixo do máximo valor possível, significado de suas premissas básicas. Segundo
uma vez que ao longo da rebrotação a senescência esse mesmo autor, para uma utilização eficiente
da forragem produzida deveria ser empregada
5
GRABER, L.F. et al. Organic food reserves in relation to the sempre uma taxa de lotação compatível com a
growth of alfafa and other perennial herbaceous plants. capacidade de suporte da pastagem, isto é, a
Agr. Exp. Sta. Univ. of Wisconsin, Madison, Res. Bul. 80.
1917. adoção de uma pressão de pastejo ótima. Percebe-
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Avanços na pesquisa com plantas forrageiras tropicais em pastagens:
características morfofisiológicas e manejo do pastejo 125
se que a escola norte-americana tinha como meta a 33% da forragem ofertada seriam consumidos
básica buscar o equilíbrio entre o desempenho como forma de assegurar a máxima ingestão de
individual e a produção animal por unidade de forragem, sendo os 67 a 75% restantes perdidos
área, procurando, assim, obter os melhores na forma de senescência e material morto acu-
resultados econômicos da utilização do pasto sem mulado na base dos pastos, ou seja, uma baixa
se preocupar com aspectos básicos da ecofisiologia eficiência de utilização. Em pastos tropicais esse
das plantas forrageiras e com a harmonia do fato poderia, após sucessivos pastejos, resultar em
ecossistema pastagem, ou seja, o foco era o de ofertas de forragem excessivamente altas,
como fazer e não o de por que fazer. caracterizadas por grandes quantidades de material
Durante muito tempo a pesquisa com plantas morto e colmos, reduzindo o valor nutritivo da for-
forrageiras no Brasil sofreu forte influência da ragem disponível e prejudicando seu consumo
escola norte-americana. Assim, a ênfase nos pelos animais em pastejo (Stobbs, 1973a,b;
trabalhos nacionais de pesquisa com plantas Chacon & Stobbs, 1976).
forrageiras passou a ser dada ao conhecimento da Mott (1983), ciente dessa dificuldade, chamou
curva de acúmulo de forragem dos pastos após a atenção para o fato de que a taxa de conversão
corte ou pastejo e de sua estacionalidade de da produção primária em produto animal em
produção e composição morfológica, sendo o pastagens tropicais seria bastante diferente daquela
acúmulo de forragem considerado como um em pastagens de clima temperado. Sugeriu então
processo único, singular, sem levar em consi- que deveriam ser adotadas práticas de manejo do
deração aspectos dinâmicos relacionados à pastejo em que fosse fornecida ao animal quan-
população de plantas e à competição por luz. Esse tidade máxima de tecidos vivos, especialmente
fato pode ser constatado a partir das inúmeras folhas, de elevada digestibilidade, com o objetivo
palestras apresentadas ao longo dos 30 anos de de aumentar o consumo e, consequentemente, o
realização do simpósio sobre o manejo da desempenho. Surgiu assim o conceito de oferta
pastagem da ESALQ (e.g., Maraschin, 1976, 1988, de matéria seca verde e, posteriormente, o de oferta
1997; Corsi, 1976, 1980, 1988, 1997; Barreto, de folhas que vieram a predominar na experi-
1976; Blaser, 1988; Leite & Euclides, 1994; Leite, mentação com animais em pastejo no Brasil ao
1988; Simão Neto, 1986; Hillesheim, 1988; longo dos anos. Nesse novo cenário, ao expressar
Rodrigues & Reis, 1995, 1997; Gomide, 1988; a oferta diária de forragem na forma de matéria
Euclides, 1995; Zimmer et al., 1988). seca verde ou de folhas, desconsiderava-se os
No entanto, Hodgson (1976) já alertava que componentes morfológicos material morto e
qualquer variação em um desses parâmetros (e.g. colmo, normalmente acumulados em situação de
pressão de pastejo, taxa de lotação) poderia ofertas generosas de forragem, de forma a permitir
influenciar a quantidade de forragem produzida, que a relação clássica de maior oferta maior
a proporção da quantidade ofertada realmente consumo e desempenho animal, seguindo uma
consumida e o desempenho produtivo dos animais. curva assintótica de resposta, fosse obtida de forma
Greenhalgh et al. (1967)6, citados por Hodgson consistente (Maraschin & Jacques, 1993; Xavier
(1976), sugeriram o uso do inverso da pressão de et al., 2000; Barbosa et al., 2006; Gontijo Neto et
pastejo (kg de forragem/kg de peso animal) e al., 2006 etc.). Contudo, ao se usar esse conceito
introduziu o componente tempo, ou seja, aquilo de oferta de matéria seca verde ou de folhas,
que veio a ser a oferta de forragem, definida como ocorria, em médio prazo, um aumento na quanti-
sendo o peso da forragem disponível por animal dade de material morto e de colmos na massa de
por dia. Hodgson (1976) ratificou, portanto, o forragem, fato esse que resultou no agravamento
conceito de oferta de forragem e demonstrou que da situação que já vinha sendo observada (Stobbs,
o consumo era maximizado quando a oferta 1973 a,b; Chacon & Stobbs, 1976), ou seja, sérias
correspondia de 3 a 4 vezes a capacidade de dificuldades de controle dos pastos e produção de
ingestão do ruminante. Nessa condição, apenas 25 forragem passada, de baixo valor nutritivo (Da
Silva & Corsi, 2003).
6
No entanto, ao se analisar a literatura
GREENHALGH, J.F.D., REID, G.W. and AITKEN, J.N.J.
agric. Sci. Camb. 69:217-224.1967 estrangeira disponível, fica claro que já na década
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126 Da Silva & Nascimento Jr.
Ecophysiology and Grazing Ecology9. Hodgson uma proposta de manejo do pastejo sem que sejam
& Da Silva (2000) chamaram a atenção para a observados os processos morfogênicos e o impacto
necessidade de se considerar a sustentabilidade que variações em estrutura do dossel têm sobre a
em seu sentido restrito, com ênfase na manu- dinâmica do aparecimento e morte de folhas e
tenção da produtividade e da estabilidade como perfilhos na comunidade de plantas (Nascimento
metas principais das práticas de manejo idea- Jr. et al., 2002; Nascimento Jr. et al., 2003; Da
lizadas. Esses autores apontaram ainda que o Silva, 2004; Da Silva & Carvalho, 2005; Da Silva
progresso do conhecimento sobre o compor- & Nascimento Jr., 2006). O conhecimento das
tamento de plantas e animais em pastagens havia variáveis estruturais e da morfogênese das plantas
sido rápido nos últimos 25 anos, porém um forrageiras tornou-se, dessa maneira, uma
progresso menor havia ocorrido em termos de importante ferramenta para a determinação das
racionalização dos resultados das interações entre condições de pasto (altura, massa de forragem,
essas populações (interface planta-animal). massa de lâminas foliares, IAF etc.) adequadas
Já em 2000 e 2001, durante as Reuniões Anuais para assegurar produção animal eficiente e sus-
da Sociedade Brasileira de Zootecnia realizadas tentável em áreas de pastagem. Esse posicio-
em Viçosa, MG, e Piracicaba, SP, respectivamente, namento correspondeu a um marco nos estudos
ficou aparente o salto quantitativo e também e experimentação com plantas forrageiras
qualitativo das pesquisas utilizando avaliações tropicais que, ao final da década de 1990 e início
relativas à morfogênese e à ecofisiologia das dos anos 2000, passaram a assumir uma postura
plantas forrageiras tropicais. Esse fato foi menos pragmática e mais integrada do processo
ratificado durante o XIX International Grassland de produção. Nesse contexto, o produto animal
Congress, realizado em 2001 na cidade de São passou a ser considerado como sendo o resultado
Pedro, SP 10 , e depois na segunda versão do da interação entre solo, clima, planta e animal e o
Simpósio Internacional sobre Ecofisiologia de manejo como a forma de criar ambientes pastoris
Plantas Forrageiras e Ecologia do Pastejo, adequados (Carvalho, 2005). Isso foi sumarizado
realizado em 2004, em Curitiba, PR11. A mensagem por T.M.S.Freitas (2003)12, apud Nabinger et al.
agora era muito clara no sentido de que era preciso (2005), por meio de uma modificação no
compreender processos e suas interações e que tradicional modelo proposto por Chapman &
mais importante que produzir muita forragem era Lemaire (1993) para plantas de clima temperado
preciso colher muito bem aquilo que era produ- e adaptado por Sbrissia & Da Silva (2001) para
zido, de forma a assegurar alimento em quantidade plantas de clima tropical. Esse modelo é baseado
e qualidade para os animais em pastejo e a na hipótese de que os recursos tróficos disponi-
sustentabilidade dos mais diferentes sistemas bilizados pelo meio (CO2, N, água, radiação solar
pastoris brasileiros. e temperatura) ou por práticas de manejo
Assim, com a introdução do uso da morfo- (adubação e/ou fertilização) alteram as caracterís-
gênese nos protocolos experimentais, palavras- ticas morfogênicas do pasto que, por sua vez,
chave como crescimento, desenvolvimento, alteram as características estruturais, condicio-
senescência, consumo, utilização e conversão da nando assim a taxa de lotação e o comportamento
forragem produzida estão sendo incorporadas ingestivo dos animais (Figura 1).
lentamente e de maneira irreversível ao voca- Esse novo modelo conceitual de produção
bulário dos pesquisadores brasileiros. Dificilmente animal em pastagens, baseado em uma cadeia de
a pesquisa em pastagens conseguirá definir melhor respostas sistêmicas e interligadas em que a
9
LEMAIRE, G; HODGSON, J; MORAES, A.; NABINGER, C.e CARVALHO, P.C. de F. Grassland Ecophysiology and Grazing
Ecology. Wallingford, CAB International, 422p.
10
GOMIDE, J.A.; MATTOS, W.R. e Da SILVA, S.C. International Grassland Congress, 19, Piracicaba, 2001. Proceedings... Piracicaba
:ESALQ, 2001. 1097p.
11
PIZARRO, E.; CARVALHO, P.C. de F. e Da SILVA, S.C. International Symposium on Grassland Ecophysiology and Grazing
Ecology, 2, Curitiba, 2004. Proceedings... Curitiba : UFPR, 2004. CD-ROM.
12
FREITAS, T.M.S. Dinâmica da produção de forragem, comportamento ingestivo e produção de ovelhas Île de France em pastagem
de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) em resposta a doses de nitrogênio. Dissertação de Mestrado. UFRGS. 2003. Orientador:
Prof. Paulo César de Faccio Carvalho.
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Avanços na pesquisa com plantas forrageiras tropicais em pastagens:
características morfofisiológicas e manejo do pastejo 129
Variáveis: temperatura,
nitrogênio, água, etc.
Taxa de
Qualidade Bocado
de luz IAF
Busca e
apreensão
MANEJO
DO PASTEJO
Tempo de
pastejo
Figura 1 – Modelo conceitual das relações planta-animal no ecossistema pastagem (Adaptado a partir de
Chapman & Lemaire, 1993; Cruz & Boval, 2000; Sbrissia & Da Silva, 2001; Freitas, 2003 e Da Silva &
Nascimento Jr., 2006).
13
MONTAGNER, D.B. Morfogênese e produção de forragem de capim-mombaça sob pastejo. Tese de Doutorado. UFV. Em fase
final de preparação. Orientador: Prof. Domicio do Nascimento Junior.
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130 Da Silva & Nascimento Jr.
interceptação de luz pelo dossel e variáveis como Avaliações relativas às características morfo-
acúmulo de forragem, especialmente de folhas, gênicas e padrões de desfolhação de perfilhos
composição morfológica (Barbosa, 2004; individuais revelaram que a cada evento de desfo-
Carnevalli et al., 2006; Pedreira, 2006; Zeferino, lhação cerca de 2/3 ou 67% do comprimento do
2006; Montagner, 200712) e valor nutritivo da limbo foliar das folhas era removido indepen-
forragem produzida (Bueno, 2003; Difante, 2005). dentemente da altura de pasto sendo avaliada e da
Em uma série de experimentos realizados de freqüência dos eventos de desfolhação ocorridos
forma concomitante na mesma área experimental (Gonçalves, 2002). Esta, por sua vez, apresentou
com Brachiaria brizantha cv. Marandu (capim- relação direta e linear com a taxa de lotação e, ou,
marandu) mantido a 10, 20, 30 e 40 cm de altura a altura em que os pastos eram manejados, de
sob lotação contínua, Molan (2004) registrou forma que pastos mantidos mais baixos, por meio
valores de interceptação de luz maiores que 95% do emprego de maiores taxas de lotação, eram
em pastos mantidos acima de 10 cm. O acúmulo desfolhados mais frequentemente que pastos
total de forragem ao longo dos 360 dias de período mantidos mais altos (Figura 4).
experimental foi semelhante para os pastos Os valores de intervalo entre desfolhações
mantidos na amplitude de alturas estudada, com sucessivas (inverso da freqüência de desfolhação)
tendência de redução naqueles mantidos a 40 cm associados aos de duração de vida das folhas, e
(Figura 2). tomando-se como referência a remoção de 2/3 do
comprimento do limbo foliar por evento de desfo-
lhação, resultaram em valores de eficiência de
30000 100
25000 R2 = 0,9924
80 perdido por senescência) elevados e decrescentes
70
20000 com a altura de pasto avaliada (82,3; 76,2; 69,4 e
60
68,7% para os pastos mantidos a 10, 20, 30 e 40
IL (%)
15000 50
0 0
pastejável do capim-marandu manejado sob
10 20 30 40 lotação contínua correspondia a 33% da altura,
Altura do pasto (cm)
ou seja, os primeiros 3,3; 6,6; 9,9 e 13,2 cm do
Acúmulo de forragem Interceptação de luz Polinômio (Acúmulo de forragem)
estrato superior para os pastos mantidos a 10, 20,
Figura 2 – Interceptação de luz e acúmulo total 30 e 40 cm, respectivamente. Esse resultado
de forragem em pastos de capim-marandu explicou as grandes variações em massa de bocado
mantidos a 10, 20, 30 e 40 cm de altura por meio (0,5; 0,8; 1,2 e 1,5 g MS/bocado), consumo diário
de lotação contínua e taxa de lotação variável de forragem (1,3; 1,8; 1,8 e 2,0 kg MS/100 kg
de janeiro a dezembro de 2002 (Molan, 2004).
peso) (Sarmento, 2003) e, consequentemente,
desem-penho animal (0,190; 0,510; 0,750 e 0,930
kg/novilha.dia) mensuradas, uma vez que não
Avaliação da estrutura do dossel revelou que a houve diferença em valor nutritivo da forragem
densidade de forragem e de IAF dos pastos consu-mida (média de 12,5% de proteína bruta e
aumentou do topo em direção ao nível do solo, 64,7% de digestibilidade da matéria seca; Andrade,
com maior proporção de folhas e área foliar 2003).
localizada na porção mediana superior, e de colmos Avaliações mais detalhadas sobre a dinâmica
e de material morto na porção mediana inferior do do processo de acúmulo de forragem nos pastos
dossel. Em termos relativos, a profundidade de folhas de capim-marandu sob lotação contínua (Sbrissia,
no dossel correspondeu a um valor relativamente 2004) revelaram um padrão de resposta análogo
constante e em torno de 50% da altura, o que àquele descrito por Bircham & Hodgson (1983)
correspondeu a 5, 10, 15 e 20 cm para nos pastos para azevém perene, apontando para uma ampli-
mantidos a 10, 20, 30 e 40 cm, respectivamente tude de condições de pasto entre 20 e 40 cm em
(Figura 3). que a taxa de acúmulo líquido era praticamente
©
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Avanços na pesquisa com plantas forrageiras tropicais em pastagens:
características morfofisiológicas e manejo do pastejo 131
(10 cm)
(10 cm) 22-24 (20 cm)
(20 cm)
12-14
20-22
8-10 14-16
12-14
6-8
10-12
8-10
4-6
2-4 4-6
2-4
0-2
0-2
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0
Figura 3 - Estrutura do dossel forrageiro de pastos de capim-marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu)
mantidos a 10, 20, 30 e 40 cm de altura sob lotação contínua por bovinos de corte durante o período de
janeiro a março de 2002 (Molan, 2004).
0,045 140,0
a
(nº de desfolhações/folha.dia)
0,040
Frequência de desfolhação
120,0
0,035
0,030 b 100,0
bc
0,025 80,0
c
0,020
60,0
0,015
40,0
0,010
0,005 20,0
0,000 0,0
10 20 30 40
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Altura do pasto (cm) Altura do pasto (cm)
Crescimento Senescëncia Acúmulo líquido
constante (Figura 5), corroborando os resultados e peso de perfilhos individuais, de tal forma que
de Molan (2004) (Figura 2), além de sugerir a pastos mantidos mais baixos possuíam uma alta
necessidade de se trabalhar com metas de altura densidade populacional de perfilhos pequenos e
variáveis ao longo do ano como forma de otimizar vice-versa (Figura 6).
o acúmulo e a utilização de forragem (pastos Sob condições de lotação intermitente, cuja
mantidos mais baixos durante o outono e inverno modalidade mais comum é o pastejo rotacionado,
e mais altos durante a primavera e verão). Essa um padrão bastante consistente de respostas foi
relativa estabilidade da produção foi conseqüência constatado em uma segunda série de experimentos
de uma compensação entre número, área foliar realizados em localidades distintas, por equipes
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2007 Sociedade Brasileira de Zootecnia
132 Da Silva & Nascimento Jr.
1200 1,40
mais próxima daquela normalmente utilizada em
1,20
condições de campo.
Densidade populacional (perfilhos/m2)
1000
forragem seria limitada por interceptação sub- de pastejo caracterizada por um período fixo de
ótima da luz incidente e depois de 95% IL por per- descanso de 28 dias. Esta foi caracterizada por um
das excessivas por senescência e morte de teci- padrão de acúmulo que variou entre aquele das
dos (Barbosa, 2004), de forma semelhante àquela estratégias de 95 e 100% de IL dependendo da
descrita por Parsons & Penning (1988) e Parsons época do ano e das condições de crescimento
et al. (1988) para azevém perene. Este fato ratifica vigentes. Durante o período de setembro a dezem-
e dá suporte ao uso do critério de 95% de IL como bro de 2005 (primavera), caracterizado por tempe-
referência para a interrupção da rebrotação, uma raturas médias mais baixas, menor precipitação
vez que corresponde à condição em que a maior pluvial e menor disponibilidade de radiação
taxa de acúmulo de folhas é obtida, além de poder luminosa, o período de descanso de 28 dias
ser facilmente identificada no campo por meio da apresentou um padrão de resposta mais próximo
altura do pasto. No caso do capim-xaraés, um outro daquele correspondente à estratégia de 95% de IL.
fator interessante que merece destaque é o padrão Nessas condições, a velocidade de crescimento das
de acúmulo de forragem resultante da estratégia plantas é menor e o dossel necessita de um maior
4500 4500
2500 2500
2000 2000
1500 1500
1000 1000
500 500
0 0
15 20 25 30 35 40 45 15 20 25 30 35 40 45
Altura do pas to (cm ) Altura do pas to (cm )
4500 450 0
(100% IL – primavera) (100% IL – verão)
4000 400 0
3500 350 0
Massa d e fo rrag em (kg MS/h a)
3000 300 0
2500 250 0
2000 200 0
1500 150 0
1000 100 0
500 50 0
0 0
15 20 25 30 35 40 45 15 20 25 30 35 40 45
Altura do p as to (cm ) Altura do pas to (cm )
4500 4500
3500 3500
Massa de fo rrage m (kg MS/ha)
Massa de forrage m (kg MS/ha)
3000 3000
2500 2500
2000 2000
1500 1500
1000 1000
500 500
0 0
15 20 25 30 35 40 45 15 20 25 30 35 40 45
Altura do p as to (cm ) Altura do pas to (cm )
número de dias para fechar (atingir 95% de IL e, (Barbosa, 2004; Carnevalli et al., 2006; Pedreira,
ou, 30 cm de altura) e iniciar processo intenso de 2006; Zeferino, 2006). Nessa condição, o maior
competição por luz, situação em que o acúmulo acúmulo de forragem por ciclo de pastejo pode
de colmos e a senescência são drasticamente ser parcial ou totalmente compensado pelo menor
intensificados (Figura 7). Por outro lado, durante número de pastejos na estação de crescimento
o período de janeiro a fevereiro de 2006 (verão), (períodos de descanso mais longos) (Carnevalli,
com o aumento generalizado da disponibilidade 2003; Barbosa, 2004; Pedreira, 2006), além de o
de fatores de crescimento e maior velocidade de valor nutritivo da forragem em oferta ser reduzido
rebrotação, o período de descanso de 28 dias repre- (Bueno, 2003) e haver aumento na presença de
sentou, em termos fisiológicos para a planta, um colmos e material morto nos estratos superiores
descanso mais longo. Nessa época foi necessário do dossel, o que pode prejudicar o processo de
um menor número de dias para atingir 95% de IL preensão e consumo de forragem (Trindade, 2007).
e, ou, 30 cm de altura, resultando em um padrão Em uma série de trabalhos baseados no uso de
de acúmulo de forragem mais próximo daquele metas de altura do pasto e não de interceptação de
de pastos submetidos à estratégia de 100% IL luz pelo dossel, Silva (2004) avaliou o efeito da
(Pedreira, 2006). Esse padrão distinto de altura em pastos de capim-mombaça por ocasião
comportamento em função da época do ano e, ou, do início do período de pastejo (60, 80, 100, 120
condições de crescimento resultou em valores de e 140 cm). Os resultados revelaram que a taxa de
altura de dossel e massa de forragem (acima do consumo de forragem de novilhas leiteiras
resíduo de 15 cm) diferentes para os mesmos 28 aumentou com o aumento da altura pré-pastejo e
dias de descanso (30 cm e 2140 kg MS/ha na atingiu um valor máximo por volta de 90-100 cm,
primavera e 35 cm e 2870 kg MS/ha no verão, ponto a partir do qual passou a diminuir até a altura
respectivamente) e 100% de IL (40 cm e 5220 kg de 140 cm. Esse comportamento foi explicado por
MS/ha na primavera e 45 cm e 4410 kg MS/ha no um aumento linear na massa de bocado com alturas
verão, respectivamente) em contraste com a crescentes de pastejo compensado por uma
estratégia de 95% de IL (30 cm e 2160 kg MS/ha freqüência de bocados muito baixa nas maiores
na primavera e 30 cm e 2300 kg MS/ha no verão, alturas de pasto. A altura de 90 cm é aquela em
respectivamente), que apresentou valores relativa- que 95% da luz incidente são interceptados
mente estáveis para essa variáveis. Esse fato (Carnevalli, 2003; Montagner, 200717), sugerindo
demonstra a inconsistência de respostas e a limita- uma conver-gência entre as respostas de plantas e
ção de se adotar e, especialmente generalizar, um animais em relação à variação em estrutura do
período de descanso fixo e definido a priori, uma dossel forrageiro e apontando a condição de 95%
vez que dependendo da época do ano e das de IL como ideal. Esse fato foi demonstrado e
condições vigentes de crescimento este pode ser corroborado pelos resultados do trabalho de Hack
demasiadamente curto, o que levaria a perdas de (2004), em que se avaliou o efeito de estruturas
produção em termos de quantidade, ou demasi- contrastantes de pasto de capim-mombaça (estru-
adamente longo, o que levaria a perdas de quan- turas baixa e alta - 90 e 140 cm, respectivamente)
tidade e qualidade, podendo, inclusive, resultar em sobre desempenho de vacas leiteiras. Nessa
degeneração da estrutura e, eventualmente, condição, a produção diária de leite das vacas que
degradação dos pastos. iniciaram o pastejo nos pastos com 90 cm de altura
O prolongamento do período de descanso ou foi 14,0 e aquela das vacas nos pastos com 140
do intervalo entre pastejos além da condição em cm de altura foi 10,8 kg/vaca, ou seja, uma
que o dossel interceptava 95% da luz incidente diferença de cerca de 30%. Difante (2005), partin-
resultou em aumento da massa de forragem por do dessa mesma premissa, avaliou pastos de
ocasião da entrada dos animais nos pastos (100% capim-tanzânia submetidos a estratégias de pastejo
IL ou 28 dias durante o verão – Figura 7). Porém, rotacionado definidas por pastejos com 95% de
essa maior massa de forragem é gerada, basi-
camente, pelo acúmulo de colmos e de material 17
MONTAGNER, D.B. Morfogênese e produção de forragem
morto, uma vez que o acúmulo de folhas se de capim-mombaça sob pastejo. Tese de Doutorado. UFV.
Em fase final de preparação. Orientador: Prof. Domicio
estabiliza e, ou, diminui a partir de 95% de IL do Nascimento Junior.
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