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(ef lotsarel sere arte cigor<]0\V 3 i. Fisiologia o hi etal 2? Edicao autor ¢ a editora empenharam-se para citar adequadamente e dar 0 devido crédito a todos os detentotes dos direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo- se a possiveis acertos caso, inadvertidamente, a identificagio de algum deles tenha sido omitida, Dircitos exclusivos para a lingua portuguesa Copyright © 2008 by EDITORA GUANABARA KOOGAN S.A. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Reservados todos os dircitos. E proibida a duplicacao ou reprodugio deste volume, no todo ‘ouem parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrénico, mecanico, gravagio, fotoe6pia, distribuicao na internet ou outros), sem permisstio expressa da editora. ‘Travessa do Ouvidor, LI Rio de Janeiro, RJ — CEP 2040-040 Tel: 21-3970-9480 Fax: 21-2221-3202 bk @ grupogen.com.br wwweditoraguanabara,com.br Capa: Cenério da exuberancia pulsante da Mata Atlantica tomado na Serra dos Orgios — Rio de Janeiro —, donde despontam, sob um manto de névoa, plantas de Vriesia heferosiachys (Bromeliaceae), samambaias ¢ musgos, formando um tapete vivo ao longo de um troneo (Foto de Luiz Cléudio Marigo). Editoragao Eletronica: ALSAN — Servigo de Editoracdo CIP-BRASIL. CATALOGACAO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Kare 2ed. Kerbauy, Gilberto Barbante Fisiologia vegetal / Gilberto Barbante Kerbauy. ~ 2.ed. ~ Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2008. il; Inclui bibliografia ISBN 978-85-277-1445-7 1. Fisiologia vegetal. I. Titulo. 08-1305, CDD: $71.2 CDU: 381.1 03.04.08, 04.04.08 006057 CAPITULO 20 Victor José Mendes Cardoso INTRODUCAO Germinagio é um conjunto de etapas e processos associados a fase inicial do desenvolvimento de uma estrutura reprodutiva, seja tuma semente, esporo ou gema. Porém, de maneira tradicional, este conceito éaplicado a0 crescimento do embrio — particular- mente do eixo radicular — em sementes maduras de espermats- fitas. Neste capitulo sera abordada a germinago de sementes, embora o termo possa ser aplicado a outros eventos, como, por exemplo, o crescimento do tubo polinico (gros de pélen) e do rixéide (esporos de pteridéfitas) ou mesmo brotagio de gemas caulinares, como na cana-de-agticar. A SEMENTE A semente representa um importante estagio no ciclo de vida de plantas superiores, contribuindo de maneira fundamental para a sobrevivencia da espécie. Do ponto de vista biolégico, a semente_ €o resultado de uma tendéncia evolutiva A redugio do gameté. fito, que passa de um organismo individualizado e autotréfico (como nas briéfitas) a um “parasito” do esporéfito (como nas angiospermas). Assim, por exemplo, nos grupos mais evoluidos, ‘© gametéfito feminino resultado do crescimento de um esporo (megésporo,n) retido dentro do megaspordngio (6vullo, Zn). Esse gamet6fito (dito endospérico) iré produzir o gameta feminino (oosfera, n), que por sua vez ira se fundir, durante o processo de fertilizagdo, com o gameta masculino (niicleo gamético) formado dentro do gametéfito masculino (pdlen), produzindo o zigoto 2n que das origem a um novo esporéfito. O desenvolvimento desse espordfito jovem de segunda geragSo (embriio) dé-se A custa do esporéfito anterior (planta-mie), ocorrendo a separacao entre ambos, em geral, ao término do desenvolvimento do embrigo. O. Conjunto formado pelo embrifo e pelas estruturas que o envolvem échamado semente, que, dependendo da complexidade das estru- turas envolventes, constitui o didsporo ou unidade de dispersao. Nas angiospermas, a semente madura é basicamente constituida por trés estruturas: 1) o embrido, que se desenvolve a partir do 2igoto dipl6ide formado pela fusio de um nticleo gamético com a oosfera; 2) 0 endosperma, geralmente tripléide, proveniente da fusio dos nticleos polares com o segundo nticleo gamético, € 3) 0 tegumento ou testa, formado a partir dos integumentos que envolvem o évulo, sendo portanto de origem materna DESENVOLVIMENTO DA SEMENTE O desenvolvimento é 0 conjunto de modificagdes pelo qual passa a semente durante sua retengo na planta-mfe. Nessa fase, 0 desenvolvimento da semente é representado por variagSes quan- titativas (crescimento) e qualitativas (diferenciagio).. As etapas de formagao do embriao (embriogénese) variam conforme os padres de divisio e diferenciagio celular carac- teristicos dos diferentes taxa. No caso do embriio de dicotile- déneas, seu desenvolvimento é dividido em diferentes estigios, de acordo com a forma aproximada que o embrio adquire com © aumento do ntimero de células: linear, globular, trapezoidal, cordiforme e torpedo. O embriio maduro em geral é formado pelo eixo embriondrio (ou eixo hipocstilo-radicula), que apresenta em uma de suas extremidades o primérdio caulinar (plimula) ¢ um ‘ou mais cotilédones (folhas embrionérias)e, na outra extremidade, © primérdio radicular. Este pode ser uma raiz embriondria (rali- cua), enquanto o primérdio caulinar pode ser um caule embri nétio formado por uma gema apical (pkimada) inserida no epicétlo (parte do caule acima da insercfio dos cotilédones). A parte do cixo caulinar abaixo dos cotilédones ¢ chamada hipacétilo, que € uma regio de transigdo para a radicula. O endosperma, por sua vez, completa 0 desenvolvimento geralmente antes do embrifo, absorvendo material nutritivo deposirado em outras partes do dvulo. Dependendlo do mate~ rial predominantemente acumulado, o endosperma pode set oleaginoso (rico em gorduras), cdeo (com paredes celulares espessadas, de consisténcia dura), carnoso (rico em resetvas celuldsicas, menos compactas), mucilaginoso (com compostos altamente higrose6picos) e amiliceo (constituido basicamente de amido). Neste tiltimo caso, o endosperma apresenta uma camada mais externa, formada por células menores, chamada aleurona, © endosperma pode ser consumiddo durante o des volvimento do embriao, o que ocorte nas sementes cujo embrifio é dotado de cotilédones bem desenvolvidos (como no caso do feiio), que exercem a fungio nutridora do embrigo na germi- nnagdo. Quando persiste durante a fase de maturagao da semente (como no milho), 0 endosperma é totalmente consumido durante a germinagao. envoltorio (seed-coat), que inicia seu desenvolvimento coma fecundagao do évulo, ¢inteitamente formado a partir de tecido dipléide da planta-mée. E constitufdo pelos tegumentos (testa e tégmen), pelo tecido calazal e rafeal e, freqiientemente, pelo nucelo. Numa generalizagio, os termos testa ou tegument tém sido usados para designar o envolt6rio das sementes como um todo. A transformagio da parede do dvulo em envoltsrio, ¢ co crescimento deste em fungdo das tensdes progressivas criadas pela expansao da semente, ocorrem por intermédio de divi- ses celulares periclinais (crescimento em espessura) e anticl- nais (crescimento em superficie), bem como por alongamento celular. © tegumento representa uma via de troca de matéria entre os meios interno e externo, mas ao longo do desenvolvi- mento pode lignificar-se, suberizar-se ou cutinizar-se, aumen- tando a resistencia Bs trocas de gases, de gua e de solutos entre a semente e o meio. Etapas do desenvolvimento Apés a fer lizagio, o desenvolvimento do embsriso de uma angios- perma apresenta as fases de histodiferenciacdo ou embriogéneses maturagio e dessecacao (Fig, 20-1). ‘A histodiferenciagio ou embriogénese € marcada por um intenso processo de divisio e diferenciagdo celular, formando os, tecidos que irdo constituir 0 embriso e o endosperma. Também pode ser chamada de fase de divisio celular. A suspenséo da sintese de DNA e da atividade mitética marcam o fim desta fase © 0 infcio da maturagao, conforme observado em sementes de tomate. ‘A fase de maturagSo ¢ caracterizada primeiramente pela expansio celular e alocagio de substincias, notadamente prote- {nas,lipftios e/ou carboidratos, para os tecidos de reserva, sejam. 6s cotilédones ou 0 endosperma, resultando num aumento da matéria seca na semente em desenvolvimento. Por esse motivo, a fase de maturagio também é chamada de fase de armazena- mento ou de acumulagdo, © erescimento do embrifo ocorre por meio do alongamento celular, que é resultante da captagio de gua e accimulo de reservas. Em geral, o final da fase de matu- rao, quando hé 0 maior aciimulo de matéria seca nos tecidlos da semente, representa o ponto de maturidade fisiol6gica. Germinagao 385 de desenvolvimento da semente | istodiferenciagao Dessecagdo 10 de alguns eventos citolégicas ¢ bioquimicos observados durante as fases de histodiferenciacao (HD), maturagio (MAT) dessecagio (DES) das sementes. (Modificado de Kermode, 1995, e Bradford, 1994.) Estudos realizados com sementes de leguminosas mostram que o crescimento da semente durante as fases de histodiferen- ciagZo e maturaciio nfo se processa de maneira uniforme, mas 6 separado por uma fase estacionsiria ou de transigdo (Fig. 20.2). Na transigéo, o embriio comuta de tecido metistematico em tecido diferenciado, acumulador de reservas, em decorréncia de mudangas na expressio génica que levam & operacionalizagio de vias de resposta a agticar e horménios. Uma caracteristica da fase de transigfo é a mudanga acentuada da relagio entre os contetidos de hexoses e sacarose no embriso. No infefo do desen volvimento (fase de divisto celular) ocorre uma maior atividade da enzima invertase deida, ao passo que na fase de maturagio hd uma elevada atividade da sintase da sacarose, de modo que a relacao hexosesisacarose é elevada na fase de divisdo e baixa na fase de maturagio. Além da inversiio na relagio hexoses:sacarose, na fase de transigéo ocorre a indugio da expresso de genes asso- ciados a0 actimulo de reservas, demonstrada pelo aumento nas taxas de actimulo de nitrogénio e amido no embriao (Fig. 20.2). ‘Assim, enguanto na fase de divisio 0s fluxos sto dirigidos para a formagio de compostos celulares, na maturagao os metabélitos 386 Germinagao pré-armazenamento ou diviséo celular tase variagio do crescimento variagio do conteudo ‘armazenamento ou transigao rena Variacao relativa do crescimento e dos niveis de nitrogénio, amido, sacarose ¢ hexose do embriso de sementes de Viel fava em desen- volvimento, (Weber et al., 2005.) so direcionados para compostos de reserva. Finalmente, consi- derando-se que a demanda energética na fase de divisio é menor do que na fase de maturagSo, a quantidade de energia metabs- lica disponivel sob a forma de nucleotideos de adenina (ATP, ADPe AMP) é baixa na fase de divisdo e alta na maturagio. Em suma, na fase de transico 2 comutagio do crescimento mit6- tico para o crescimento por expansao celular é acompanhada de mudangas drésticas no metabolismo e distribuigo de metabolitos no embrido. Além disso, em sementes de leguminosas, na fase de transigZo o embrigo torna-se verde e fotossinteticamente ativo, 0 que assegura um suprimento extra de oxigénio ao embrido num ambiente hip6xico. Ao final da fase de maturacio, ha um acentuade aumento na taxa de desidratacio e a ruptura das conexses tréfieas da semente com a planta, ocorrendo uma forte redugio do metabolismo no embrido, Nessa fase, chamada de dessecacio, a semente em geral atinge 0 estagio timo para a colheita ¢ beneficiamento, bem como para a dispersio. Na etapa de dessecagio ocorre a diviso entre o metabolism direcionado ao desenvolvimento e aquele direcionado a germinagio. Enquanto a via para o desenvolvi- mento é predominantemente anabélica e marcada pelo aciimulo de energia potencial nos tecidos de reserva da semente, na germi- ago predominam os processos catabolicos e a mobilizagao da energia acumulada, retomando-se o crescimento do embriao. A fase de dessecac3o normalmente é mais acentuada em frutos secos, mas também pode ser observada em frutos camnosos, como ilustram as curvas de variacio no teor de égua durante o desen- volvimento de sementes de Phaseolus vulgaris (Feijao) Cucumis anguria (maxixe) (Fig. 20.3) Desidratacao e tolerancia a dessecagaio Do ponto de vista fisiolégico, a fase de dessecagio ¢ impor- tante para o embrifio tolerar niveis baixos de gua no periodo pés-dispersio e retomar o crescimento durante a germinacio. ‘Sementes removidas da planta-mae e submetidas & secagem antes de completarem seu ciclo de desenvolvimento podem germinar se tiverem atingido a condig&o de tolerancia a dessecagiio, que é adquirida gradualmente ao longo do desenvolvimento e perdida na fase de germinagao. A tolerdncia a dessecagio pode ser definida como a capacidade do sistema vivo de sobreviver & desidratagao celular, até concentracées de gua da ordem de Q,1 g por grama de tecido (hase massa seca) ou menores, por um periodo relati- vamente prolongado, No caso da semente, a desidratacio pode alcangar algo em torno de 90% do contetid de agua inicialmente presente nos tecidos. Algumas proteinas e carboidratos siio sintetizados na semente apenas durante as etapas mais tardias do desenvolvimento. Dentre estas proteinas, as denominadas LEA (Abundantes na Embriogénese Tardia) podem estar associadas & tolerdncia do embrio & dessecagio, verificando-se uma coincidéncia entre a aquisigo de tolerdncia ao dessecamento durante o desenvolvi- mento de sementes e a sintese e actimulo dessas protesnas. Extre- mamente hidrofilicas e termoestiveis, as proteinas LEA podem atuar como seqjiestradores de fons ou como agentes de solvatagio de membranas ¢ outras proteinas, protegendo os componentes celulares dos danos decorrentes da falta de ‘igua. A sintese dos RNA mensageiros (RNAm) das proteinas LEA ocorre no inicio do perfodo de dessecacio, tendo sua concentragao reduzida gradualmente algumas horas apés a embebicdo (entrada de agua % de hidratagao 0 10 20 dias apés a antese Germinagao 387 30 40 50 Variago percentual da porcentagem de agua durante o desenvolvimento de semenites de Cucumis anguria (maxixe) (.) ¢ Phaseolus vidgaris (feijao) ( ME ). (Cardoso, 1995; Figueiredo e Pereira, 1985.) na semente seca). Entretanto, em Arabidopsis thaliama, observa se que a quantidade de proteinas LEA pode permanecer cons- tante durante todo 0 processo de germinagio. Além disso, em algodlao, determinados grupos de genes LEA poclem set expressos por fatores ambientais, particularmente aqueles induzidos por estresse hidrico, sugerindo a participagao destas proteinas apés a germinagio da semente. Embora a maioria dos genes LEA tenha sido identificada em sementes ditas ortodonts, ou seja, tolerantes ao dessecamento, estas protefnas, assim como o hormdnio fcido abscisico (ABA), também podem ocorrer em sementes sensiveis ao dessecamento ‘ou recaleitrantes. Em geral, as sementes recalcitrantes néo exibem a fase de dessecacéo répida durante o desenvolvimento na planta-mae, apresentando um aumento praticamente continuo dda matéria seca. A presenga de proteinas LEA nestas sementes poderia contribuir para aumentar, ainda que em pequeno grat, sua tolerdncia & desidratacio e ao frio. A tolerincia ao dessecamento envolve, portanto, alteragies na expresso génica em fungio do estado de hidratagao do tecido, A sintese de proteinas LEA, bem como de protefnas de choque térmico (heat shock proteins), pode ser influenciada pelo ABA, conferindo protegio ao embrido contra eventuais danos decor rentes da dessecacio. Esse hormOnio, quando aplicado exogena- mente, restabelece a tolerdncia & dessecagéo em mutantes defi- cientes de ABA. Além das proteinas, a tolerancia & dessecagio provavelmente envolve outras substancias,tais como carboidratos, antioxidantes ce radicais livres. Com a desidratagao da semente, a sacarose € alguns oligossacarideos, dentre estes a rafinose ¢ a estaquiose, podem contribuir para aformacao do estado vitreo (slide amorfo) no citoplasma, caracterizado pela alta viscosidade, aumento das forcas de coesio intermoleculares, restrigio da mobilidade cito- plasmatica, redugio na velocidade das reagdes quimicas e manu- tengo da compartimentagio celular. Acredita-se que a formagio ea estabilidade dessas matrizes vitreas intracclulares deva-se & interagao entre proteinas LEA, sacarose e oligossacarideos, com 65 filamentos protéicos atuando como elemento de reforco da mattis amorfa de carboidatos,a semelhanga da armadura de ferro no conereto armado. Por outro lado, hi evidéncias em sementes da existéncia de “ilhas” de maior concentragio de gua dentro de células desidratadas, localizadas, por exemplo, no interior da mitocéndria ¢ plastideos. Isso indica um meio intracelular vitteo nno-homogéneo, com densidade variavel, com bols6es suficien- temente fluidos para permitir reagbes quimicas em tecidos desi- dratados ¢ considerados tolerantes ao dessecamento, Por outro lado, numa condicao de auséncia completa de digua intracelular, a viabilidade da semente fica totalmente comprometida, Qual- quer nivel de égua abaixo de um valor exitico (<0,08 g g"), € que comprometa a manutencio da integridade do estado vitreo, acarretaré. um aumento da produgio e mobilidade de radicais livres ou outras espécies téxicas, com o conseqiiente aumento da taxa de reacées deletérias causadoras do envelhecimento da semente. Controle do desenvolvimento O desenvolvimento da semente é um evento bastante complexo, com miltiplos sistemas de regulago e controle. Dependendo de fatores end6genos e/ou externos, ao final do desenvolvimento tem-se uma semente ndo dormente ou quiescente, ou seja, apta a germina sob condiges ambientais favordveis, ow uma semente dormente, que necessitard de estimulos ambientais especificos para adquirit a capacidade de germinacao (ver item Dorméncia) A existéncia do periodo de dessecagii entre as fases de desen- volvimento e a germinaglo sugere que a desidratagio influencia a comutagio de metabolismo celular de uma fase para outra. 388 Germinaco Existem, entretanto, situag6es em que a perda de agua néo constitui um pré-requisito para o estabelecimento do metabo- lismo germinativo, como é 0 caso de embrides imaturos de varias espécies, que adquirem a capacidade de germinar quando removi- dos da semente em desenvolvimento ¢ colocados em gua ou meio de cultura. Isto sugere que a competéncia do embrifio para sgerminar é adquirida j4 nas primeiras erapas do desenvolvi- mento, em geral apd a fase de histodiferenciagio, e que fatores maternos e/ou da prdpria semente controlam o desenvolvimento. do embrito ¢ impecem a germinagio da semente na planta-mie, Esta rerminagio precoce, conhecida como viviparidade, ocorre quando nio hi restrigio da germinagio, permitindo o cres mento ininterrupto do embrigio com a semente ainda ligada & planta. Por outro lado, quando a ago dos fatores restrtives da germinagfo perdura apés a semente ter atingido sua completa maturidade, teremos uma semente dormente. Os envoltérios parecem desempenhar um importante papel no controle do clesenvolvimento de algumas sementes na fase de divisio celular. Envoltériosjovensde Viciafavaeervilhaacumulam amido e protefnas, antes de 0 embrifio passar a funcionar como regio de armazenamento. Qualquer mutago que afete essa ativi- dade armazenadora dos envoltérios id impedir o crescimento do embrifio. Essa propriedade dos envoltrios parece estat relacio- nadaa atividade de enzimas, como invertases (hidrolise da saca- rose) e sintase da sacarose, ¢ horménios, especialmente o ABA. Em Arabidopsis ¢ tabaco, 0 ABA sintetizado nos tegumentos translocado para o embrifo, evitando o abortamento e promo- vendo seu crescimento por intermédio da regulagio da impor- taco de metabélitos. As invertases parecem desempenhar um importante papel no controle, pelo tecido materno, do suprimento dle nutrientes a0 embrio. Uma hipétese postula que o aumento da atividade de invertases ligadas & parede do envolt6rio eleva a disponibilidade de hexoses para o embrifo, estimulando sew crescimento por divisio celular. © ABA controlaria a maturagio pela inducao de inibidores da invertase, que decresceriam os niveis de hexose, cessando as divisGes celulares e iniciando a etapa de diferenciagio. Além disso, invertases soliveis (INVve) parecem desempenhar um importante papel no decréscimo na atividade de dreno da semente em desenvolvimento, Em situa- bes de estresse, com redugio de atividade na fonte (ver Cap. 5, Fotossintese), uma maior produgio de inibidores de INVve reduzem o consumo de sacarose e, conseqiientemente, a demanda do dreno por esse metabilito, tendo como resultado a redugio 1no tamanho e/ou niimero de sementes. A pripria sacarose, cuja concentragio aumenta sensivelmente na fase de transicio, parece induzir a expressio de genes assoviados ao armazenamento e a expansio celular, caracteristicas da fase de maturago, Nessa fase, © controle do metabolismo deixa de ser exercido pela invertase —que consome ATP e eleva a concentragao de hexose passa para a sintase da sacarase, que eleva o teor do agiicar e economiza ATP. © ABA desempenha um papel fundamental mantendo.o metabolismo do embrido no “modo desenvolvimento” até que 6 embrifio esteja apto para uma germinagio bem-sucedida da semente apds a dsperslo. Esse horménio, cujos niveis na semente e em geral sfo relativamente baixos na fase de histodiferenciagio ¢ elevados na maturagio, atuaria como inibidor da germinagio na etapa de expansio celular, além de promover um aumento da sintese de proteinas de reserva, Assim, 0 ABA teria uma funcio dupla durante o desenvolvimento, indusindo processes biossin- téticos e, a0 mesmo tempo, mantendo o embriio em estégio pré-germinativo, com a inibicfo da maquinaria responsivel pela hidrdlise das reservas. Durante a fase de dessecagio, em muitos casos, ocorre um decréscimo acentuado na concentragio de ABA cendégeno, atingindo teores muito baixos na semente madura, assim como hi uma diminuigio na capacidade do embrio em responder a este hormdnio. Os niveis de ABA durante 0 desenvolvimento e/ou a sensibilidade dos tecidos ao horménio podem determinar a condigio de quieseéncia e de dorméncia priméria a0 final dessa fase; entretanto, em muitos casos, nfo hh uma relagio bem estabelecida entre a indugfo da dorméncia © os niveis enddgenos de ABA. Se na fase de desenvolvimento nfo ha uma discriminagio entre sementes dormentes ¢ no dormentes em relacéo a0 contetido de ABA, durante a embe- bigao (ver item Embebigao) sementes com dorméncia fisiolbgica (ver item Dorméncia) continuam a sintetizar ABA, ao contrétio de sementes néio dormentes. Em geral, as evidéncias para o envolvimento do ABA no desen- vvolvimento da semente haseiam-se na dosagem e/ou na aplicagio do horménio e, mais recentemente, no uso de mutantes defici- centes ou com baixa resposta (sensbilidade) a0 ABA. A aplicagao de ABA pode inibir a germinagio precoce de embrides imaturos de milho cultivados em meio de cultura, enquanto os embribes deficientes para este horménio apresentam germinagfio precoce ‘na planta-mae (viviparidade). Mutantes de Arabidopsis thaliana e Nicotiana pliombaginfolia (fuminho) deficientes em ABA, por 10 incapazes de entrar em dorméncia, Mutantes insen- siveis ao ABA apresentam defeitos nas vias de transdugio de sinais do ABA e si caracterizados por apresentarem dorméncia recluzida e expresso de genes caracterfsticos das fases de germi- nagio/pés-germinacto. Além do ABA, o potencial osmético relativamente baixo (alta osmolaridade) dos tecidos adjacentes ao embriio, impe- dindo um suprimento adequado de gua a0 mesmo, também & um {ator inibitério da germinago durante desenvolvimento, conforme observado em frutos camosos como 0 tomate. A alta osmolaridade provoca um estresse hidrico que, por sua ver, pode causar um aumento na concentragio de ABA no embrido, embora isso nem sempre se verifique. A presenga de ooutras substncias inibidoras — provavelmente alcalsides—no fruto, como as detectadas em algumas espécies de Psychorria (Rubiaceae), também pode restringir a germinacio. Na fase de desidratacio répida, ao final do desenvolvimento da semente, os haixos potenciais de agua e/ou a presenga de inibidores no meio extra-seminal poclem cumprir a fungio de inibir a germi- nagio precoce. A viviparidade fornece boas evidéncias sobre o envolvimento do ABA no controle da germina, io da semente em desenvol- vimento. Neste processo nao existe uma linha divis6ria nitida centre as fases de desenvolvimento ¢ a germinagio, uma vez que ‘o crescimento do embrido praticamente continuo, em geral com pouca ou nenhuma desidratagio, Estudos com mutantes de milho deficientes e insensiveis ao ABA, e com inibidores da biossin- tese de giberelinas (AG), demonstram que AG siio reguladores_ _positivos da viviparidade, sendo que a inibigdo da biossintese de ‘AG simula o efeito da aplicagio de ABA, suprimindo a vivipari- dade. Verifica-se também que o controle desse fendmeno parece estar relacionado & razfo AG:ABA, e nfo A quantidade absoluta do horménio, sugerindo uma ago antagonica desses hormdnios durante o desenvolvimento do grio de milho. Alguns experi- mentos sugerem que embriges de Rhizophora mangle (planta de mangue) sio relativamente insensiveis 20 ABA, necessitando de concentragGes relativamente elevadas do horménio para inibir seu crescimento, Outtas evidencias do envolvimento do ABA na viviparidade vm do fato de que mutantes de milho viviparos contém menos ABA ou sfio menos sensiveis ao horménio do que 6 tipos selvagens, além de esse horménio inibir a germinagio precoce de embrides imaturos em meio de cultura, Em muitas outras espécies — particularmente arboreas tropicais — € possivel que outras substncias (especialmente compostos do metabolismo secundério) atuem durante a fase de desenvolvimento da semente. Em Myroxylon penuiferum (cabriiva), por exemplo, detectou-se a presenga de cumarina no fruto e na semente, sendo que essa substincia pode estar envolvida na supressio da germinago precoce. O PROCESSO DE GERMINACAO Terminologia e critérios Em geral, ao final do desenvolvimento da semente na planta- mile, os processus de troca energética entre a semente ¢ 6 meio siio reduzides a niveis minimos e praticamente imperceptiveis, estando a semente pronta para ser liberada no ambiente. A germi- nagiio representa a retomada do crescimento do embriio, que softew uma interrupgfo ao final da fase de macuragio na planta- mie. A germinagao inicia-se com a entrada de figua na semente (embehigdo) que iré ativar 0 metabolismo, culminando com crescimento do eixo embrionario. e er al a I we oye a ‘Figura 20.4 Exquema mostrando os principais tipos de pléntulas, com base em caracteristicas do cotilédone e hipocsiilo. A. Criptocotiledonar, epigeo carnoso; B. Criptocotiledonar, hipSgea e camoso; C. Fanerocotile- donar, epigeo e carnoso; D. Fanerocotiledonar, epigeo e foliéceo. 389 Germinagdo De acordo com o critéro fsioldgico, a germinacdo ¢ completa quando uma parte do embriso, em geral a radieula, penetra e trespassa os tecidos que o envolvem. Além desse, existem outros critérios de germinaciio, como a curvatura gravitrépica da radicula owa emergéncia da plantula através cla superficie do solo (critério agronémico ou tecnolégico). Tipos de germinagao Do ponto de vista fisioldgico, a germinagio se encerra com a protrusio radicular, mas em estudos de ecofisiologia os atributos dda plancula também devem ser levados em consideragio. A plin- tula € 0 resultado da germinago, mas até quando um individuo jovem pode ser considerado uma plintula ainda suscita discus- ses. Um critério morfoldgico estabelece o uso do termo plintula atéosurgimento do I eéfilo (primeira folha apés os cotilédones), quando entio a planta entraria na fase juvenil. Outro eritério, este de natureza fisioldgica, considera plintula enquanto essa lepender predominantemente das préprias reserva seminais. De qualquer modo, no estudo de plntulas é preciso que os ritérios usados estejam previamente definides pelo pesquisador. A classificagio das plnculas em geral leva em consideragiio 0 comprimento do hipocétilo (epigeus ou hidgeas), exposigio dos cotidédones (criprocotiledonar e fanerocotiledonar) e a natureza dos cotilédones (camosos ou folidceos). Na germinagio epigea 0 crescimento do hipocstilo faz com que os cotilédones se elevem acima do solo (exemplo, feifo), enquanto na hipégea o hipocd- silo € curto, de modo que os cotilédones permanecem no solo (exemplo, ervilha). Uma plintula écriprocotledanar quando seus cotilédones permanecem envolvidos pelos tegumentos, como em Virola bicukyba, e famerocoriledonar quando estio livres, como em, Trema micrantha (candifva). Finalmente, cotilédones carnosos, exemplificados em Hymenaea courbaril (Jatoba), apresentam funcio principalmente armazenadora de energia, enquanto coti- ledones foliéceos, como em Stryphnoddendron adstringens (barba- timao), sfio predominantemente fotossintéticos, fazendo o papel de verdadeiras folhas. A Fig. 20.4 apresenta um esquema de tipos basicos de plantulas. Etapas da germinacio EMBEBICAO A protrustio radicular depende do crescimento do embrio desen- cadendo pela absorcao de gua pelos tecidos (embebigdo). A embe- big das sementes é um processo fisico, relacionado basicamente as propriedades coloidais dos seus constituintes e is diferencas de potencial hidrico (W) entre a semente e o meio extemo. No inicio da embebigdo o componente matricial da semente é 0 prin- cipal responsével pelo movimento da gua, mas com o aumento da disponibilidade de dgua livre e do metabolismo na semente, © componente osmético aumenta sua participagio no processo (ver Cap. 1, Relagies Hidieas) Os valores de V numa semente quiescente sto muito varié- veis, situando-se entre —50 MPa e —400 MPa, produzindo um 390 Germinacao ‘mobilizagao de reservas armazenadas ‘alongamento celular mitoses @ sintese de DNA ~ reparo de DNA preexistente sintese protéica a partir de RNAm pre-sintetizado | Padrao de variagdo do contetido de agua (linha escura) ¢ principais eventos fisioldgicos ¢ metabslicas (linhas vermelhas) associados &s diferentes fases da capragao de gua pela semente durante a germinagao, (Modificado de Bewley, 1997.) gradiente de Agua relativamente elevado entre a semente ¢ 0 solo com, por exemplo, ~2 MPa (préximo a0 ponto de murcha permanente de diversas culturas, como a cana-de-agticar). Entre- tanto, para que ocorra a embebigio é necessério que os tecidos que envolvem o embrido sejam permesiveis 8 égua. Considerando as estruturas da semente e do fruto, existem sementes com envol- trios impermedveis (impedem a entrada de gua no interior da semente), parcialmente permedveis (reduzem a velocidade de embebig20) ou totalmente permedveis (nfo afetam a velocidade de embebicio). Em plena disponibilidade de dgua, a embebigao apresenta em muitos casos uma curva trifasica (Fig. 20.5): na fase 1,0 teor de gua na semente aumenta rapidamente, seguido de uma estabilizagao na fase Il, mantida até o inicio da germinagao visivel, quando na fase IIT hé outro aumento no teor de Agua, em decorréncia do crescimento do embrio, ‘A rfpida entrada de égua na fase I causa alteragtes na permea- bilidade das membranas devidas & mudanga do estado gel (na semente quiescente) para o estado liquido-cristalino, caracteris- tico das membranas normalmente hidratadas (Fig. 20.6). Estas alteragdes promovem o vazamento de metabélitos de baixo peso ‘molecular e outros solutos para o meio, sendo esta perda redusida com o retorno A configuracio liquido-cristalina. A pré-umidi- ficagio, bem como 0 aquecimento da semente nao hidratada, podem reduzir eventuais danos decorrentes da embebigfo. Alguns carboidratos (especialmente a sacarose) e fosflipfdios (como.o N- acetilfosfatidiletanolamina), cuja concentragio aumenta durante a embebigao de sementes de algodao, podem estar envolvidos na estabilizagio e no reparo das membranas. A fase TI, ou fase estacionSria, caracteriza-se pela estabili- zago no contetido de gua e ativagio dos processos metabélicos necessirios para o inicio do crescimento do embriso. A duragio dessa fase ¢ a quantidade de agua na semente dependem do potencial de dzua no meio, da temperatura e da presenca ou nao de dorméncia, Sementes dormentes podem conservar-se na fase Tl durante meses ou anos, até a quebra da dorméncia, Nessa fase ‘oembriao ainda € capaz de suportar a desidratacao, caracteristica perdida na fase III, que marca o inicio do crescimento do eixo cembrionério e a retomada da absorgo de agua. Asdiferentes partes das sementes podem exibir padres eniveis de embebigio distintos. Na soja, por exemplo, o eixo embrio- ndrio apresenta maior taxa de hidratagiio quando comparado aos cotilédones e a0 tegumento, os quais no absorvem mais égua, uma vez atingida a fase estacionaria. EXTENSAO RADICULAR As complexas transformagées metabslicas iniciadas com a embe- biglo sio finalizadas com o crescimento da radicula através das cestrucuras envoltérias da semente, marcando, em termes fisio- logicos, o final da germinago propriamente dita e o inicio do crescimento da plintula. Dependendo da espécie, pode haver um periodo considerdvel de crescimento intra-seminal, antes DESSECAGAO 391 Germinagao EMBEBIGAO RAPIDA 66666 eevee | t LN S668 oe eee liquido-cristalino Ulu liquido-cristatino Ficus 20.6 Maudangas de fase das membranas durante a dessecagio ¢ a embehi de a radicula (ou outro 6rgio, como o hipocétilo ou colesprilo) ultrapassar a barreira do tegumento, Essa expansio da radicula pode, em poucas sementes, envolver a divisio celular, embora na grande maioria as mitoses ocorram predominantemente aps a protrusio ou germinacéo vistvel. Trés hipéveses foram elaboradas para explicaro inicio docxesci- mento da radicula, que poderia ser resultante de: a) uma reducio no potencial osmético (W,) das células, devido ao actimulo de solutos, possivelmente por hide de polfmeros; b) um aumento na extensii mento ¢ reconstitui idade das paredes celulares, por intermédio do rompi- 1 das ligagies entre moléculas de xilogla- ano e microfibrilas de celulose; e c) o enfraquecimento, por agio enzimitica, dos tecidos que recobrem o Spice radicular. A terceira possibilidade tem recebido maior atenefio dos pesqui- sadores, pois a resisténcia exereida pelos envoltdrios aparenta ser 0 principal fator limitante ao inicio do crescimento do eixo embrio- nério. Para que a protrusio radicular ocorra em sementes nas quais o endosperma e/ou tegumento representem fortes barreiras mecinicas, estas estruturas devem ser modificadas. Uma maior atividade de enzimas como a endo-B-mananase, expansinas, B-1,3-glucanase, poligalacturonase, quitinase e arabinosidase pode estar envolvida na hidrlise parcial das paredes celulares do endosperma de sementes de tomate, durante a germinagio. Nessa espécie, a endo-®-mananase e expansinas sio expressas especifi- camente na regio do endosperma que cobre o pice radicular. No aso da poligalacturonase e quitinase, a transcrigo ocorre tanto 1no endosperma quanto na extremidade da radicula (Tabela 20.1). Entretanto, nem sempre é demonstrada uma correlaclo entre a atividade da enzima e a indueio do crescimento da radieula, Metabolismo da semente germinante Durante a embebigio ocorre a reativagio do metabolismo, por intermédio de substncias e estrucuras preservadas apds a fase de dessecagio. \ SAIDA DE SOLUTOS: j0 da semente. (Modificado de Oliver er al., 1998.) © aumento na atividade respiratéria pode ser detectado ppoucos minutos apés o inicio da embebigao, ¢, muitas vezes, 0 consumo de oxigénio assemelha-se & entrada de Agua, exibindo um padrio trifésico, Este padro de consumo de oxigénio apre- senta uma fase de aumento rapido, com duragao varisvel depen endo da semente; uma fase estacionétia, com aumento lento ou consumo de oxigénio estabilizado (algumas sementes, dentre estas a cevada, a mamona e 0 artoz, no apresentam essa fase), ce uma terceira fase de novo aumento na taxa respiratéria, asso- ciado & procrusio radicular. Pode ainda ser observada uma 4? fase, em plantulas mantidas no escuro, caracterizada pela redugio 1a respiragio, em conseqiiéneia da exaustio das reservas coti- ledonares. Durante a fase I da embebigio, ocorre a reativagiio das enzimas rmitocondriais do ciclo de Krehs e da fosforilagio oxidativa, assim como a reconstituigfo de cetodcidos (aKG e piruvato) interme- diftios das vias respiratGrias (ver Cap. 7, Respiraco). Nessa fase, a disponibilidade de agticares, principalmente sacarose, rafinose e estaquiose, mantém a respiracdo. A mobilizacdo das principais substincias de reserva — amido, proteinas e lipidios — ocorre apés o inicio do crescimento do embrifo, na fase ILI da embe- bigho. As reagSes da fase I so eatalisadas por enzimas preservadas na semente e ativadas pela hidratagiio. O esgotamento de subs- trato, associado & substituigo do sistema mitocondrial original- ‘mente presente na semente seca por outro, estructural e funcio nalmente mais eficiente, poderiam ser os responsaveis pela fase estacionatia. O aumento da resisténcia & difusto de oxigénio através dos envoltérios, como observado em Brachiavia decumbens (capim-braquidria) e B. brizantha (braquiario), também deter- mina a estabilizagio no consumo desse gis, além de acelerar a produgo de etanol, afetando negativamente a qualidade fsiols- gica da semente. Essa hip6tese € corroborada por experimentos nos quais a remogo do tegumento causa a reducio da fase esta- cionétia, 392 Germinagiio A curva de ATP durante a germinacio também exibe um aspecto trifésico: um répido aumento durante as primeiras horas de embebicZo, provavelmente por sintese de novo via fosforilacio oxidativay uma fase estacionéria, com produgio e consumo equi- valentes; ¢ um novo aumento no conteddo de ATP, associado ao crescimento do embriao. Apesar de a fosforilagio oxidativa ser considerada a principal fonte de ATP no inicio do processo germinativo, no decorrer da embebi¢ao 0 embriio & exposto a uma condicao de anserobiose parcial, Principalmente em sementes grandes, a maior resisténcia difustio de oxigénio no meio liquido dificulta a penetragio do tris nos tecidlos mais intemnos, ocorrendo a ativagio da fermen- tagio alcodlica ea produgéo de quocientes respiratérios (CO,/O,) maiores que 1. A medida que as mitocéndrias se tornam mais ativas o embrifio cresce, hi maior disponibilidade de oxigénio © quocientes respiratGrios menores so observados, ocorrendo uum aumento no suprimento de ATP, pela ativagio do ciclo de Krebs e da via oxidase do citocromo. A sintese protéica inicia-se logo apés a hidratagfo,a partir de substracos (enzimas, RNA‘, sibossomos, RNAm etc.) presentes na semente madura e reativados com a embebicto, Nessa fase, existe uma grande quantidade de RNAm conservado, porém apenas parte dela sera transcrita ¢ traduzida em protefnas. Por outro lado, anzlises realizadas em Arabidopsis revelam muitos genes que so altamente expressados nas sementes, mas cuja fungao ainda é desconhecida. A grande maioria das proteinas isoladas de sementes maduras de Arabidopsis nfo varia signifi cativamente durante a germinacio. Das protefnas identificadas nesse grupo, a maioria é representada por globulinas e enzimas envolvidas na mobilisacao de lipfios de reserva. Nessas sementes, uma fracio de cerca de 3% das proteinas decectadas varia quan- titativamente durante a fase de embebicfio, sendo representada por proteinas inicialmente envotvidas na mobilizagfo de reservas protéicas e lipidicas e na retomada do ciclo celular. Outros 3% das proteinas detectadas variaram unicamente durante a fase de protrusio radicular, incluindo-se aia mirosinase (catalisa a hidré- lise de glicosinolatos), a sintetase do Ado-Met (catalisa a sincese de S-adenosil-metionina, um precursor do horménio etileno) € proteinas LEA. Em sementes de Arabidopsis observam-se também proteinas, dentre elas a actina (componente do citoesqueleto), cuja quantidade aumenta com a embebigao e decresce com 0 dessecamento, ¢ protefnas, como a desidrogenase do GAP (glice- raldeido-3-fosfato), cuja concentragio aumenta com o desseca- mento e decresce com a embebigao. O papel de muitas dessas protefnas na germinagao ainda nao esté esclarecido, além do que nenhum transcrito especifico ou exclusivo da germinagio per se foi identificado até o momento, apesar de novas moléculas de RNAm serem continuamente transcritas 8 medida que a germi- nagiio prossegue. Por sua ver, a sintese de DNA ocorre apenas na fase de cres- cimento do eixo embriondrio, quando se iniciam as divistes mitéticas. O aumento no contetido de DNA, apés o inicio da embebicio, deve-se provavelmente ao reparo e reidratagio de moléculas preexistentes, bem como a sintese de DNA mito- condrial Controle da germinagio Pesquisas realizadas em plantas modelo, como Arabidopsis thaliana, tomate e tabaco, mostram que 0 controle da germinagio ocorre por meio de interagSes entre o embrifo eo tecido que o envolve (endosperma e tegumento). Esse tecido de cobertura representa uma resisténcia ao crescimento do embrido, podendo ser consti- tuido de células vivas (como no caso do endsperma) ou mortas (como nas camadas mais externas do tegumento). No caso do tabaco, por exemplo, a germinagSo requer a hidrolise enzimética do endosperma, no s6 para a mobilizagSo de enexgia ao embriio, como também para o enfraquecimento do tecido (endosperma) que envolve o Spice da radicula, Algumas enzimas envolvidas nese processo so B-1,3-glucanase, endo-B-mananase e expan- sinas, as quais podem ser liberadas pelo proprio endosperma e/ou pela radicula, Em tomate, sementes dormentes nao sio capazes de produzir enzimas que degradam a parede celular. Emalgumas sementes, como Nicotiana e Arabidopsis, a upcura dla testa e do endosperma sio eventos distintos ¢ temporalmente separados. Enquanto © primeito é conseqiiéncia do intumesci- mento da semente decorrente da embebico (mais especifica- mente, de uma entrada extra de gua ao final da fase 2),0 segundo decorre da degradago enzimatica do endosperma micropilar (parte do endosperma que cobre o pice da radicula), gerando um “buraco" no tecido, através do qual a radicula emerge (Fig 20.8) Essa interago entre o eixo embrionério eos tecidos de reserva, envolve horménios vegetais, sendo a indugio da sintese de a amilase pelo Acido giberélico (AG,) no endosperma de cevada um exemplo dese mecanismo. Através do uso de linhagens mutantes, assim como da aplicacfo de horménios ou seus inibi- dores, a maioria dos estudos sobre © papel dos horménios no controle da germinaco concentra-se nas AG, no ABA e no etleno. As giberelinas estimulam a germinagio de sementes no dormentes, agindo também na liberagio da dorméncia A presenca de inibidores da biossintese de giberelinas impede a germinagao de varias espécies, assim como este processo ocorre em murantes, deficientes nesse hormOnio apenas quando ha aplicagao de AG cou quando o embri ¢ isolado do restante da semente. As gibe- refinas promovem a germinagiio atuando como horménios me dores entre fatores ambientais, como luz e cemperatura, ¢ facores internos restritivos da germinagio, como o endosperma. Sio propostos dois mecanismos para explicar o papel das giberelinas no controle da germinagio: a) indugio de genes que codificam ‘enzimas que reduzem a resistencia mecdnica dos envoltérios a0 crescimento do embrifio ¢ mobilizam nutrientes para o embrio eb) efeito direto sobre o potencial de crescimento do embriio, ‘mais propriamente a capacidade da célula de gerar um poten- cial de presso intracelular suficiente para vencer a resisténcia dda parede e se expanclr. Em sementes de Arabidopsis, a biossin- tese de giherelinas na radicula e a presenca de genes capazes de responder a elas em tecidos nao produtores desse horménio sugerem que as giberelinas embriondrias sf liberadas no interior dda semente e disparam as reagoes que levam ao enfraquecimento dos tecidos adjacentes ao embrifo. Por outro lado, sementes cuja

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