Você está na página 1de 12

CAPÍTULO 18

Rira de Cássia Leone Figueiredo~Ribeiro, Edison Paulo Chu e Vilma Palazetti de Almeida

INTRODUÇÃO A indução de tuberização, a iniciação e o desen-


volvimento de órgãos espessados, seguidos de dor-
Numerosas espécies vegetais apresentam alguns de
mência e brotação, são etapas do ciclo de vida típico
seus órgãos desempenhando mais de uma função em
das plantas que possuem órgãos tuberosos.
determinadas fases de seu ciclo de vida. É o caso de
Plantas que possuem órgãos de reserva são geral-
raízes, caules ou folhas que, em dado momento do
mente herbáceas e perenes, e sua parte aérea senesce
ciclo de desenvolvimento das plantas, reduzem seu
ao final do período anual de crescimento, permane-
crescimento em extensão e passam a acumular subs~
cendo apenas o órgão subterrâneo espessado. Após um
tâncias de reserva, geralmente de natureza glicídica,
período de dormência variável, esses órgãos podem
ocorrendo uma hipertrofia radial do órgão. Depen~ rebrotar através do desenvolvimento de suas gemas e
dendo de sua origem, o órgão de reserva pode rece~
utilização das reservas acumuladas, assegurando um
ber designações diversas, como tubérculo, cormo, novo período de desenvolvimento. Assim, os órgãos
pseudobulbo, rizóforo e rizoma, quando originado do espessados são importantes na propagação vegetati-
caule, ou então bulbo e raiz tuberosa, quando forma~ va, pois protegem as gemas das condições desfavorá~
do a partir de uma estrutura de natureza foliar ou ra~ veis às quais a parte aérea está mais sujeita. Fatores
dicular, respectivamente. ambientais e endógenos controlam esse processo.
O tubérculo de batata inglesa (Solanum tuberosum) O processo de formação de órgãos de reserva não
é um exemplo de caule modificado, com nós, entre~ foi totalmente elucidado até o momento; sabe-se,
nós e com um eixo muito curto e espessado, no qual entretanto, que ocorrem modificações morfológicas
ocorre acúmulo de amido em plastídeos especiais, os e bioquímicas drásticas nas plantas, capazes de inici~
amiloplastos. Em tulipa (Tulipa sp.), o bulbo consis~ ar a formação dessas estruturas. Pela importância eco-
te em uma base não muito desenvolvida e maciça, nômica, S. tuberosum tem sido utilizada como mate-
denominada prato, que apresenta um botão vegeta- rial clássico para o estudo do processo de tuberização.
tivo e catáfilos que armazenam substâncias nutritivas Podem ser reconhecidas três etapas no desenvolvi-
e protegem a gema e as raízes desenvolvidas na parte mento desses tubérculos: (a) a indução da tuberiza~
inferior dessa estrutura. Em outras espécies, como ção, sem modificações morfológicas; (b) a iniciação
Begonia evasiana, Sinningia allagophylla e Solanum tu~ da tuberização, marcada pela parada do alongamen-
berosum, as gemas axilares presentes em estacas com to do estolão e intumescimento radial da região
folhas também podem tuberizar se forem enterradas, subapical deste, devido ao alongamento celular e di~
reproduzindo as plantas de origem . visões celulares; e (c) o crescimento do tubérculo, ca~


410 Tuberização

racterízado pelo acúmulo de substâncias de reserva, turas baixas e níveis baixos de nitrogênio, entre ou-
incluindo a patatina, uma glicoproteína que tem sido tros (Fig. 18.1).
utilizada como indicador bioquímico de tuberízação
nessa espécie. No bulbo da cebola (Allium cepa), ape~
Fatores ambientais
sar de ser de origem diferente, ocorrem as mesmas
etapas na formação do órgão de reserva. Neste capí~ Semelhante a outros processos de organogênese,
tulo será utilizado indiscriminadamente o termo tu~ a formação de tubérculos e de outros órgãos de reser-
berização para designar a formação dos diferentes ti- va pode ser controlada por fatores ambientais, como
pos de órgãos subterrâneos de reserva. fotoperíodo, luz e temperatura. Garner e AUard
(1923) foram os primeiros a observar que o fotoperío~
do controla a formação de tubérculos em batata.
CONTROLE DA INICIAÇÃO DA
Nessa espécie, noites longas favorecem a indução da
TUBERIZAÇÃO tuberização; portanto, nesse processo, a batata é con-
o processo de tuberização é influenciado por fa~ siderada uma planta de dias curtos. Quando em con-
tores ambientais e endógenos, podendo ser favoreci~ dições de fotoperíodo longo, ocorre um atraso na tu~
do por noites longas (fotoperíodos curtos), tempera~ berização, havendo maior crescimento das porções

Indução de tuberização
em Solanum tuberosum
LUZ

INTENSIDADE FOTOPERÍODO ALTAS CONCENTRAÇÕES DE


LUMINOSA ALTA (DIAS CURTOS) CITOCININAS

I
AUMENTO
I
FITOCROMO
ÁCIDO JASMÔNICO E DERIVADOS

TEMPERATURA BAIXA

DESACAROSE I
C9NCENTRAÇ~O
BAIXA~

DE
ACIDO GIBERELICO ~liIJ
rAJ&
• _ POLIAMINAS

PARTE AÉREA
PARTE
SUBTERRÂNEA

Tubérculos
I
j
Fig. 18.1 Fatores ambientais e supostas moléculas sinalizadoras que afetam a indução de tuberização de batata (Solanum

tuberosum) .
Tuberização 411

aéreas e dos estolões dessa espécie, que ficam mais que a interrupção do período escuro por 5 minutos
numerosos e ramificados. de luz vermelha reduz a tuberização, enquanto a luz
Experimentos com fotoperíodo e enxertia intra- vermelho extremo reverte o efeito da luz vermelha.
específica em S. tuberosum sugeriram que a indução Com o uso crescente de técnicas de DNA recombi-
da tuberização estaria relacionada a um estímulo pro- nante e produção de plantas transgênicas, foi possí-
duzido pelas folhas. Quando folhas de uma planta vel demonstrar, em S. tuberosum spp. andigena, que
doadora exposta a fotoperíodo curto eram enxertadas níveis reduzidos de fitocromo B ou sua ausência in-
em uma planta receptora, mantida em fotoperíodo duzem a tuberização de batata, tanto em dias curtos
longo, que é uma condição não-indutiva, ocorria tu- como em dias longos, enquanto, em plantas selvagens,
berização. No processo de tuberização de batata, foi somente dias curtos com 8 horas de luz e 16 horas de
observado que: (a) um grupo de folhas já expandidas escuro promovem o processo. Esses dados sugerem
pode ser a fonte de indução para um grupo de estolões; que, nas plantas selvagens, o fitocromo B encontra-
e (b) estolões apresentam idades diversas e diferen- se em concentração baixa somente em dias curtos.
tes níveis de sensibilidade aos hormônios, ocorrendo Além da batata, Begonia, algumas espécies de Dahlia,
síntese de giberelinas em diferentes períodos, os quais Helianthus tuberosus, Phaseolus multiflorus, Phaseolus
são traduzidos como diferentes tempos de indução de coccinius, Gladiolus sp. e Oxalis sp. são plantas que têm
tuberização. a formação de tubérculos estimulada por dias curtos.
O estímulo da tuberização ocorre também em Entretanto, existem espécies do gênero Allium, como
enxertias interespecíficas. Plantas de tabaco (Nicoti- cebola, cebolinha e alho, que tuberizam em fotoperí-
ana tabacum), cuja floração é controlada pelo fotope- odos longos. Embora a natureza precisa do sinal ain-
ríodo, foram utilizadas para comprovar o efeito do da não seja conhecida, há fortes evidências de que o
fotoperíodo na tuberização de enxertos de batata (So- fitocromo B esteja envolvido na produção de um ini-
lanum tuberosum). Se a planta de tabaco, que reque- bidor de tuberização transmissível através de enxertia.
ria dias curtos para florescer, era exposta a fotoperío- O fitocromo A foi recentemente descrito como sen-
do curto e suas folhas eram enxertadas em batata, do o fator controlado r do ritmo circadiano, impedin-
mantida em condições não-indutoras de tuberização, do a formação de tubérculos de batatas transgênicas
seria possível induzir o processo de tuberização nos em condições não-indutoras. Assim, a ação conjun-
enxertos de batata. Outra variedade de tabaco que ta dos fitocromos A e B está envolvida na repressão
requeria fotoperíodos longos para florescer (Nicoti- da indução de tuberização.
ana sylvestris), induziria a tuberização em enxertos A temperatura também influencia os níveis de
de batata se as folhas de tabaco fossem expostas a indução de tuberização. Solanum tuberosum e
fotoperíodos longos. Como resultado, enxertos de ta- Helianthus tuberosus são espécies que necessitam de
baco em condições indutoras de floração foram fa- temperaturas baixas para tuberizar. Em batata, a tem-
voráveis à indução de tuberização em batata, clara- peratura ótima de tuberização é cerca de 17°C, e tem-
mente indicando haver um mesmo estímulo peraturas superiores a 30°C são inibitórias desse pro-
translocável para ambos os processos, o qual não é cesso. Mesmo em espécies tropicais, como Pachyrryzus
espécie-específico. tuberosus, que tuberizam em fotoperíodos curtos (abai-
O controle fotoperiódico da formação de órgãos de xo de 16 horas), regimes alternados de altas tempe-
reserva engloba todos os aspectos do fotoperiodismo. raturas em fotoperíodo indutivo (30°Cj25°C) inibem
A folha é o sítio receptivo; um ou mais estímulos pro- a formação de raízes tuberosas. Entretanto, tempera-
duzidos pelas folhas são translocados para as regiões turas elevadas são favoráveis à tuberização de algu-
de resposta; o comprimento da noite determina a res- mas espécies que formam seus órgãos tuberosos em
posta e o fitocromo é o pigmento fotorreceptor. A dias longos, como cebola, alho e cebolinha.
fotorreversibilidade vermelho-vermelho extremo O efeito do fotoperíodo e da temperatura na indu-
também foi comprovada em S. tuberosum, uma vez ção da tuberização depende da irradiância sob a qual
412 Tuberização

a planta está crescendo. Respostas inibitórias em S. quando estas são expostas a fotoperíodos curtos. Além
tuberosum estimuladas por fotoperíodos longos e tem- de inibirem a tuberização de batata, fotoperíodos lon-
peraturas altas são exacerbadas sob níveis baixos de gos, temperaturas altas e irradiância baixa produzem
irradiância. efeitos sobre a morfologia do caule, os quais coinci-
Um terceiro fator ambiental que afeta a indução dem com os efeitos conhecidos das giberelinas. Quan-
da tuberização é a quantidade de nitrogênio disponí- do vistas em conjunto, características relacionadas
vel para a planta. Se, por um lado, níveis altos de com a senescência, tais como folhas mais largas e fi-
nitrogênio presentes no solo reduzem a tuberização, nas, botões florais abortados, supressão de crescimento
temperaturas baixas podem inibir a absorção de ni- do caule, inibição do crescimento de ramos axilares,
trogênio, promovendo a tuberização. Em solução diminuição dos níveis de clorofila e antocianinas,
hidropônica, mesmo sob fotoperíodo curto, a tuberi- sugerem que a redução dos níveis de giberelinas pode
zação de S. tuberosum pode ser evitada pelo suprimen- ser a causa das respostas adaptativas do crescimento
to contínuo de amônia, ou promovida se o suprimento de tubérculos em plantas de batata. Aplicações de AO
de nitrogênio for interrompido (ver Capo 6, Trans- são efetivas na inibição da tuberização, mimetizando
porte no Floema). os efeitos de condições ambientais não-indutivas. Os
Alguns tubérculos são indiferentes quanto ao fo- níveis de patatina, indicador bioquímico da tuberi-
toperíodo, tais como os de yacón (Polymnia sonchifo- zação, diminuem em estacas tratadas com A03, e tra-
lia), em que há o desenvolvimento da parte aérea por tamentos com cloreto de 2-cloroetila trimetilamônia
6 - 7 meses, floração e intensificação do cresc.imento (CCC), que bloqueia a síntese de AO, estimulam a
da raiz tuberosa com acúmulo de frutanos, seguindo- formação de tubérculos. Essas informações levam à
se a senescência da parte aérea após 10 - 12 meses do conclusão de que giberelinas devam ser consideradas
ciclo anual (Vilhena, 1997; ltaya et aI., 2002). inibidores da tuberização. Sendo assim, quais seriam
os hormônios antagônicos de AO? O ácido abscísico
(AAB) tem desempenhado esse papel em outros pro-
Fatores endógenos
cessos, porém o balanço AABjAO em condições
Muitas das informações obtidas estudando-se a indutoras não fornece evidências de que essa hipóte-
relação entre os fatores ambientais e a tuberização se seja verdadeira para a tuberização. Entre cultiva-
sugerem haver um controle hormonal desse proces- res diplóides de batata foi encontrado um mutante
so. Experimentos com estacas de batata indicaram incapaz de controlar a transpiração devido à defici-
que, provavelmente, um hormônio produzido pelas ência em AAB. Dentre outras características, essas
folhas e translocado pela estaca induziria modifica- populações apresentavam tuberização em dias longos.
ções morfológicas e fisiológicas que resultariam em O cultivo in vitro de diferentes cultivares e linha-
uma planta tuberizada. gens transgênicas de S. tuberosum indicou que áci-
Dentre os hormônios vegetais, giberelinas (AO) do indol-3-acético (AIA) e cinetina agem de forma
têm sido indicadas como controladoras da tuberização diferenciada, o primeiro aumentando o tamanho dos
uma vez que condições ambientais que promovem esse tubérculos e o segundo afetando seu número. O grau
processo causam decréscimo da atividade giberelínica de intensidade de resposta a esses fitormônios é de-
em caules (ver Capo 10, Oiberelinas). Altas tempera- pendente dos níveis de sacarose do meio de cultura
turas estimulam a produção de giberelinas em gemas e do genótipo do cultivar em estudo. A necessidade
caulinares mais do que em folhas, o que poderia estar de hormônios vegetais de crescimento para promo-
relacionado à inibição de tuberização causada por tem- ver a tuberização in vitro em Ullucus tuberosus tam-
peraturas altas. A retirada das gemas diminui o efeito bém foi demonstrada recentemente. Contudo, em
inibitório da temperatura alta na tuberização. Dioscorea delicata cultivada in vitro, o metabolismo
Baixa irradiância tende a inibir a tuberização e de carboidratos foi significativamente afetado pelos
aumentar a atividade giberelínica em folhas, mesmo níveis de citocininas e de sacarose do meio, sem
Tuberização 413

ocorrer o processo de tuberização (Chu & Figueire, líticos mais sofisticados e sensíveis puderem avaliar
do,Ribeiro,2002). as proteínas associadas aos genes que controlam o
As citocininas estariam envolvidas na indução de processo de tuberização, estabelecendo se o hipotéti-
tubérculos através de estímulo das divisões celulares, co estimulador da tuberização corresponde a um úni,
que constituem uma das primeiras alterações morto, co composto ou a uma série de compostos operando
lógicas do processo de tuberização. Contudo, a para' conjuntamente.
da de divisões celulares no meristema apical e poste,
riar alongamento, divisão e deposição de amido nas METABOLISMO DOS
células do meristema subapical do estolão não têm
sido relacionados ao efeito desse hormônio. Oesfavo,
CARBOIDRATOS DE RESERVA
recem essa hipótese observações de que os níveis de Além das diferenças observadas no padrão de divi,
citocininas aumentam no ápice do estolão durante a são celular, resultando em modificações mortológicas
tuberização, porém esse aumento é pequeno e decli, no estolão de S. tuberosum, outras alterações mensu,
na após 4 dias de condições indu taras (ver Capo 9, ráveis podem ser detectadas após a indução do proces-
Citocininas) . so de tuberização, como aumento da captação de gás
Alguns compostos fenólicos podem atuar como carbônico pelas folhas, aumento no transporte de car,
sinalizadores da tuberização, destacando,se o boidratos para os tubérculos em formação, decréscimo
glicosídeo de ácido tuberônico (OA T) e o ácido jas, no teor de açúcares redutores e aumento de sacarose e
mônico (A)) e seus derivados. O ácido jasmônico, por biossíntese de amido. Esses processos independentes
exemplo, promove a tuberização de batata quando o culminam com a formação do órgão de reserva.
processo é inibido por AOs in vitro ou por condições A mobilização de carboidratos, durante o proces,
fotoperiódicas inibitórias. Ácido octadecanóico e so de tuberização, difere entre as plantas. Em batata,
derivados do ácido a,linoléico, entre eles o metiljas, imediatamente após a indução de tuberização, o
monato e o ácido jasmônico, estão envolvidos no estolão cessa o crescimento em extensão e os produ,
transporte de informações provenientes das folhas tos fotossintetizados são preferencialmente transloca,
para os órgãos,alvo, atuando nos mecanismos de de, dos para a região subapical, onde se inicia o desen,
fesa contra herbívoros e patógenos, além de afetar a volvimento do tubérculo. Em Pachyrhizus erosus, es,
tuberização de S. tuberosum através do estímulo à pécie nativa do México da família Papilionoideae, o
expansão radial, à formação de tecido de sustentação mesmo padrão é observado, como o acúmulo de car,
periférico e à inibição do alongamento. boidratos no tubérculo após uma fase de desenvolvi,
Outra classe de substâncias relacionadas com o mento ativo. Em mandioca (Manihot esculenta), so,
desenvolvimento de tubérculos de batata são as poli, mente após o pleno desenvolvimento da parte aérea
aminas, que aumentam o número de tubérculos e re, tem início a formação das raízes tuberosas, através do
duzem seu tamanho, afetando a distribuição dos car, crescimento lateral e vertical de raízes adventícias.
boidratos neles armazenados. Com a formação do órgão de reserva, seguem,se a
Como um grande número de genes estão envolvi, perda de folhas, senescência do caule e dormência,
dos no controle da tuberização, é provável que as permitindo a sobrevivência das plantas em condições
condições indutoras do processo desencadeiem simul, desfavoráveis, como falta de água ou temperaturas
taneamente mudanças nas concentrações de vários extremas. Em Vernonia herbacea, uma Asteraceae
compostos par síntese e degradação destes, e o balan, nativa do cerrado, há o desenvolvimento concomi,
ço entre essas substâncias é que controlaria a tuberi, tante da parte aérea e dos rizóforos, estruturas espes-
zação. Além dos hormônios, outros fatores poderiam sadas de natureza caulinar, com fototropismo negati,
fazer parte desse balanço, como os níveis de carboi, vo (Carvalho & Figueiredo,Ribeiro, 2001).
dratos ou a taxa carbono/nitrogênio. Conclusões de, Com o processo de indução desencadeado, é níti,
finitivas só poderão ser obtidas quando métodos ana, do o acúmulo de carboidratos, tanto na forma de
414 Tuberização

amido como de açúcares solúveis fotossintetizados ou vários precursores e das enzimas pirofosforilase ADP-
redistribuídos de órgãos de armazenamento temporá- glicose, que é uma enzima-chave na síntese do ami-
rio como folhas e caules. Após um período indutivo do, a sintetase de amido, que promove o alongamen-
de 4-5 dias curtos, foi observado, em batata, que a to das cadeias do a-l,4-glucano e as enzimas
biossíntese de amido e de patatina, proteína de reser- ramificantes, responsáveis pela microestrutura do
va, medida por cDNA (ácido desoxirribonucléico grânulo de amido.
complementar) era aumentada cerca de 24 horas Acredita-se que os níveis de sacarose atuem como
antes da observação visível de intumescimento do sinais de dreno para mobilização das reservas arma-
estolão. Durante muito tempo, a formação de amido zenadas nas células parenquimáticas dos tubérculos
foi considerada um dos parâmetros necessários ao de batata, de acordo com a demanda. Para testar essa
desenvolvimento dos tubérculos. Contudo, baseado hipótese, foram produzidas plantas transgênicas de
em estudos com plantas transgênicas, ficou claro que batata, com níveis alterados de sacarose. Para inibir
a formação de amido não é necessária para esse pro- o transporte de sacarose pelo floema, foi expressa, nas
cesso. Assim, a redução da enzima pirofosforilase de células floemáticas das plantas transgênicas, uma
adenosina-difosfato-glicose (pirofosforilase ADP-gli- invertase citossólica de levedura. Os tubérculos des-
cose) por repressão anti-senso diminuiu significativa- sas plantas foram colhidos e analisados quanto ao
mente o nível de amido em tubérculos de batata, conteúdo de carboidratos e a taxa respiratória, sendo
enquanto a formação dessas estruturas não foi afeta- observada uma diminuição dramática nos níveis de
da, havendo apenas um aumento no número e uma sacarose devido à atividade da invertase. Em conse-
redução no tamanho delas. qüência, houve uma diminuição no crescimento dos
A sacarose formada pela fotossíntese é armazena- brotos e um estímulo para a degradação do amido
da nos cloroplastos na forma de amido transitório, o armazenado. Uma vez que a hidrólise da sacarose leva
qual é depois degradado para nova síntese de sacarose. ao metabolismo acelerado de hexoses, a análise das
Esta é então translocada pelo floema para o interior plantas transgênicas não permitiu distinguir se os efei-
das células dos órgãos de reserva (tubérculos ou bul- tos observados eram devidos aos níveis de sacarose ou
bos), acumulando-se nos vacúolos. Fatores ambien- das hexoses dela derivadas. Assim, para evitar o en-
tais e hormonais alteram a translocação de sacarose, volvimento do metabolismo de hexoses no processo,
que corresponde a 80-85 % do conteúdo orgânico do a redução no conteúdo de sacarose foi estimulada
floema. Assim, alta temperatura, limitação da luz, através da expressão de uma isomerase apoplástica de
estresse hídrico e baixa concentração de sais mine- sacarose, obtida da bactéria Erwinia rhapontici (Bornke
rais reduzem o crescimento dos órgãos de reserva atra- et aI., 2002). Essa enzima catalisa a conversão rever-
vés de alterações na translocação da sacarose. sível de sacarose para o carboidrato palatinose, que
O interesse acadêmico no esclarecimento com- não é metabolizado pelas células vegetais. Como con-
pleto do metabolismo da sacarose nos últimos anos seqüência da atividade da isomerase de sacarose in-
é indiscutível. A Fig. 18.2 esquematiza as principais serida nas plantas transgênicas, quase toda a sacarose
vias metabólicas envolvendo a sacarose e os polis- foi convertida a palatinose. Assim, contrastando com
sacarídeos de reserva mais estudados, amido e as plantas que estavam expressando a invertase, na-
frutanos. quelas com a isomerase de sacarose o metabolismo das
A sacarose é degradada por invertases ou sintetase hexoses não foi estimulado, sendo acelerada a hidró-
de sacarose (reversão da síntese) no vacúolo ou no lise de amido. Esses resultados sugerem fortemente
citoplasma; a glicose e a frutose liberadas são que os níveis de sacarose são responsáveis pela regu-
fosforiladas por suas respectivas cinases, penetran- lação dos processos metabólicos que ocorrem duran-
do no amiloplasto e iniciando a formação dos grâ- te a transição dos tubérculos de órgão-dreno (fase de
nulos de amido. A síntese de amido é similar nos clo- tuberização) para órgão-fonte (quebra de dormência
roplastos e amiloplastos, envolvendo a presença de e brotação de ramos aéreos) .


T uberização 415

célula
do
fotossíntese
ll
mesofllo sacarose 11 ••.transportador de sacarose

[ÓRGÃO FOTOSSINTETIZANTE]

fIoema
(eIemen1o crivado) transportador de sacarose
mernl:lfana celular
II

I
apoplasto
+ hexoses
.I \l;tMlIlosa A "
memtxana celular

citossol
llOCQ'06efosfato FI '1"
fostafos&J
sacarose-P ;' _ < .' .... sacarose

I
I/ :: ?
aocorose
".--"--

/
/'
wcorose
t
À I nvertase C J
11
)
/ , J

,~
I
I .:::-
,_
. Cj
lnYertose
1..,,/

'I'
I
!5FT
i.

li ,//
,!
I SST

/~UDP U1P gl icose \' í i .

(, ~ S1ntase ,l/\I/v" I[ ~glicoseP~t


\ + pp, plrofosfodlage " lSO!TleICSe
~ / / ~
\hexoqurose (Al?
truIoq..inase '(',\ I! iFfT
I '

\ / AOP "\ \\ , I

'-UDP-glicose,
\~ ~:~I~ g'irc1ose-l-P
glicose-6-P ~>~ /:--- ---.. ~
Al? frujtose
~ADP <.., \~\1.\ li III
li c~stotnose
cesto-n-ose
------ ~~- frutose-6-P \\ i I
fosfofnJIOQLinase •. ' \\ I Y
Ar?~, '1y. FI "" ! "I.
AO? "lflUlOS'Hl>-
bffosfotase
\\
\"
,frutano-(Fln+
~ FEH t
1

amido + Pj
+.•.
'\'+
~">llico6e
pírofosf<Xi1ose
frrre 1 .6 BP II "', ~
triose-P", v: triose-P + Pi
omiloplasto FI

[CÉLULA DE ÓRGÃO DE RESERVA]


~ bomba W
y.prótons de

Fig. 18.2 Esquema geral de produção, distribuição e armazenamento de carboidratos em plantas herbáceas perenes com
órgãos de reserva. (Adaptado de Avigad & Dey, 1997; Dennis & Blakeley, 2000.)

A sacarose também é o carboidrato iniciador da atuarem como reserva de carboidratos (Carvalho &
biossíntese dos frutanos, polímeros de frutose acumu- Figueiredo-Ribeiro, 2001). O frutano mais simples é
lados em quantidades apreciáveis nos vacúolos de um trissacarídeo, tendo sido isolados três isômeros que
plantas consideradas evoluídas, como espécies de compõem as séries homólogas de frutanos: (a) inulina,
Poales e Asterales. É provável que esses polímeros que tem 1-cestose como base e ligações [3-2,1 F, com
estejam envolvidos na crioproteção e na regulação da grau de polimerização (GP) máximo de 35 e peso
pressão osmótica em plantas sob estiagem, além de molecular aproximado de 5 kDa, encontrada princi-


416 Tuberização

palmente em Asteraceae; no cerrado brasileiro, mais controle do desenvolvimento das plantas, a sacaro-
de 60% dos representantes desse grupo vegetal acu- se apresenta destacada importância econômica na
mulam esses polímeros nos órgãos subterrâneos de agricultura, pois é um dos principais alimentos da
reserva, nos quais atingem quantidades superiores a maioria dos organismos vivos. O interesse prático
70% do peso seco; (b) levano ou fleano, com o pre- pelos estudos do metabolismo de sacarose e dos car-
cursor 6-cestose, ligações 13-2,6F, GP máximo de 250 boidratos de reserva dela derivados vem sendo am-
e peso molecular entre 5 e 50 kDa, encontrados prin- pliado de forma crescente na última década, devido
cipalmente em Poaceae; Gomphrena macrocephala, à possibilidade de criação de plantas transgênicas
uma Amaranthaceae do cerrado, inusitadamente mais eficientes na produção de sacarose e na sua con-
acumula fleano em sua raiz tuberosa, constituindo versão em biomassa.
cerca de 50% do seu peso seco (Vieira & Figueiredo- A região andina é reconhecida como um dos mais
Ribeiro, 1993); e (c) série da neocestose com ligações importantes centros mundiais de origem das espéci-
13-2,6 G e GP entre 8 e 10, comum em Liliaceae. A es cultivadas, e cerca de 25 culturas tuberosas foram
primeira etapa da síntese dos frutanos envolve a domesticadas nessa região, incluindo a batata. Um
sacarose:sacarose frutosil-transferase (SST), que ca- aspecto curioso é que essa grande diversidade de cul-
talisa irreversivelmente a transferência da frutosila da turas evoluiu em uma das regiões menos apropriadas
sacarose doadora à sacarose aceptora, originando o para a agricultura, através de adaptações a condições
trissacarídeo 1-cestose, que, por sua vez, é o aceptor ambientais extremas.
de outras unidades de frutosila, através de reação As raízes e tubérculos de espécies andinas eram
catalisada pela frutano:frutano frutosil-transferase predominantes na dieta durante o Império Inca, o
(FFT), permitindo o aumento ou redução da cadeia que não surpreende, pois os órgãos subterrâneos
do polímero sem gastos de energia (Carvalho & Fi- constituem uma eficiente estratégia de sobrevivên-
gueiredo- Ribeiro, 2001). cia em ambientes inóspitos. Além disso, raízes e
Além dos carboidratos já mencionados e de outros tubérculos também produzem o mais elevado ren-
polissacarídeos solúveis, como os glucomananos, ou- dimento em calorias por área cultivada. As espé-
tros compostos são acumulados nos órgãos de reser- cies andinas mais importantes na alimentação,
va. Destacam-se as proteínas de reserva armazenadas além da batata, são uluco (Ullucus tuberosum -
em corpos protéicos (patatina e esporamina, respec- Baseallaceae), produtora de vitamina C e saponi-
tivamente em batata e batata-doce), os glicosídeos nas; Arracia xanthorrhiza (Umbelliferae), oca
cianogênicos em mandioca, as saponinas esteroidais (O xalis tuberosa - Oxalidaceae), manchua (T rapa-
(precursores de hormônios sexuais e adrenocorticais) eolum tuberosum - T ropaeolaceae) e yacón (Polym-
em espécies de Dioscorea, os glicosídeos fenólicos e nia sonchifolia - Asteraceae), produtora de inulina,
flavonóides como antocianidinas (responsáveis pela sendo consumida como fruta, especialmente por
coloração rósea e vermelha dos tubérculos) e co-pig- diabéticos.
mentos, as saponinas triterpênicas de ginseng (Panax Órgãos subterrâneos de algumas espécies tuberosas
ginseng - Araliaceae), os alcalóides tropanos (hiosci- nativas ou cultivadas no Brasil e potencialmente úteis
anina e escopolamina), em Mandragora officinalis podem ser observados na Fig. 18.3, e as estruturas
(Solanaceae), e as naftoquinonas (antibiótico e coran- químicas dos principais compostos nelas encontrados
tes) em Lithospermum erythrorhizon (Boraginaceae). estão representadas na Fig. 18.4.
Utilizados pelo homem desde tempos imemoriais,
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DOS os órgãos tuberosos ocupam lugar de destaque na pro-
dução agrícola mundial, como pode ser constatado na
ÓRGÃOS TUBEROSOS
Tabela 18.1. Isso ocorre especialmente nas regiões
Como já foi enfatizado nos itens anteriores, além tropicais, onde a agricultura ainda tende a ser basea-
de ocupar posição central no metabolismo e no da em culturas que se propagam vegetativamente .


T uberização 417

Fig. 18.3 Plantas tuberosas subutilizadas e com alto potencial alimentício e industrial: (a) parte aérea de taioba, Xanthosoma
sagittifolium, e (b) seus órgãos subterrâneos de reservaj (c) parte aérea de yacón, Polymnia sonchifolia e (d) suas raízes
tuberosasj (e) caule volúvel de Dioscorea (cará)j (f) bulbilhos aéreos de Dioscorea bulbifera e (g) tubérculo de Dioscorea
olfersianaj (h) planta de ariá, Calatheia allouia, e raízes tuberosasj (i) planta de Vemonia herbacea e rizóforosj e (j) planta
de Viguiera discolor com xilopódio (xi) e raiz tuberosa (rt) .


418 Tuberização

Além das espécies produtoras de amido apresen- partir de variedades que continham menos de 2%
tadas na Tabela 18.1, outras espécies ricas em carboi- desse açúcar em suas raízes tuberosas.
dratos solúveis, como a cenoura (Daucus carota) e a Entre as espécies que contêm frutanos, Helianthus
beterraba (Beta vulgaris), também são consumidas tuberosus e Cichorium intybus (Asteraceae) são cul-
mundialmente e exemp lificam como a domesticação tivadas para a produção comercial de inulina e, tam-
pode afetar as propriedades nutricionais das raízes. bém, para o consumo como legumes. Sua produção,
Curiosamente, as variedades modernas de cenoura no entanto, é inferior à da beterraba açucare ira. A
foram selecionadas pelo alto conteúdo de beta- tecnologia agrícola utilizada na cultura das duas es-
carotenos, a partir de variedades de cor branca ou pécies produtoras de inulina é a mesma já aperfei-
púrpura, com altos níveis de antocianinas. Igualmen- çoada para batata e beterraba, o que facilitou sua
te, a beterraba açucare ira foi selecionada para altas produção e comercialização. Entretanto, após a co-
concentrações de sacarose (20% da massa seca), a lheita dos tubérculos, a inulina é rapidamente me-

Produção mundial e brasileira de raÍzes e tubérculos comparada às principais


culturas de importância econômica
--------------------.------.---------- ~~------~---~-----------
.. ------------------- ------------------
102
2001
13.581
6.591
81.039
835
982
1980
2001
10.121
8.858
300.195
592.831
11.636
235
655
613.210
19.632
18.895
246
3.823
26.391
272
218
609.182
135.919
1.323
1.279
21.632
881
39.327
1997
1970
1997
3.850
1.229
6.063
5.939
2.855
161.950
178.868
17.031
16.772
582.692
4.487
8.977
37.675
176.639
10.207
64
2.840
215
24.354
13.474
2.445
21.140
34.711
234.245
38.614
16.409
577.118
485
121.795
16.273
46.750
29.407
2.489
10.445
43.692
108.449
144.420
465
712
4.829
1.465
7.045
17.426
4.252
98.560
24.088
2.787
302.348
6.426
32.948
1.241
245
154
3.203
1.254
41.411
12.549
Espécie! 7.420
19.898
1990136.900
268.310
8.351
2.670 3.094
152.353
215
316.367
584.954 266.063
71309.187
637 518.166
batata-doce
cenoura
alcachofra
milho
taioba
869
1.780
café
298.692
124.253
2.234
batata
beterraba
mandioca
arroz
alho
310.637
21.348
265.911
cebola
24.322
cará,
taro,
Nome
feijão
soja
trigo 396.818
138.389
592.273
241.386
__________________________

doce 262.074
123.664
440.102
395.144
483.249
inhame
taiova
gengibre Popular2
cana-de-açúcar Mundo 7.854
5.092
-Produção
224.252
1.276
129
332.612 267.856
114 (1.000 toneladas)3
339.136
u __________ ~ _______

608.616 735.923 1.053.371 1.251.526 1.254.856


._

Brasil ---~~._-----~-----~---------------
narum Saccharum
Solanumsp.
Triticum
DioscOTea tuberosum
sp.

Fonte: www.fao.or~/database (2002).


lEspécies ou gêneros de acordo com denominação da FAO.
2Nome popular (podem existir outras denominações locais).
lDados referentes à produção de exportação e consumo local.
4Produros alimentícios (amido e sacarose) .


TuberiZG{:ão 419

tabolizada, produzindo frutos e e frutanos de baixo bioquímica definida, sendo devidos à presença de
peso molecular, especialmente quando estes são ar- saponinas triterpenoidais.
mazenados em temperaturas baixas. Assim, o pro- Substâncias com atividades similares, constituindo
cessamento deve ser realizado de forma rápida se o a base para a semi-síntese de hormônios esteroidais vêm
interesse é a produção de inulina de alto peso mole- sendo extraídas de tubérculos de várias espécies de cará
cular. Por outro lado, se o interesse comercial con- (famíliaDioscoreaceae), como aquelas de origem afri-
siste na produção de concentrados de frutose de alta cana e asiática, Dioscorea rotundata e D. alata. Entre as
pureza ou de fruto-oligossacarídeos, a labilidade dos espécies brasileiras, Dioscoreadelicatacontém essas subs-
frutanos durante o armazenamento é uma caracte- tâncias e também mostrou-se eficaz como antibiótico,
rística vantajosa. devido à presença de uma substância do grupo
Muitos órgãos subterrâneos consumidos como ali- fenantreno, denominada pendulina.
mento pelo homem também vêm sendo utilizados
para tratamento de várias doenças. É o caso de raí-
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
zes tuberosas cujas propriedades são atribuídas às
formas humanas que possuem, como as de ginseng As etapas iniciais do processo de tuberização não
(Panax ginseng) da China, de pfafias (Pfaffia estão completamente elucidadas, estando envolvidos
paniculata e P. jubata) e de paratudo (Gomphrena os fitocromos A e B das folhas maduras e a transloca-
macrocephala), da família Amaranthaceae, ampla- ção do estímulo aos órgãos-alvo, onde, através da ação
mente distribuídas nos cerrados brasileiros. Os efei- dos hormônios vegetais, os produtos da fotossíntese são
tos fisiológicos da utilização dessas espécies têm base redirecionados para a formação de polissacarídeos.

CH,OH
OH
I

QH
OMe
HO
\~o o
o
j
OH CH,-O CH,OH
HO HO

HO 0\ ~
HOCH2 o ~IH'OH OH
o HOCH,OHo fHOC~H'OHo n
OH MeO
(a) OH sacarose CH20H (b) cestose fleano
HO

0Me

OH o HOCH, o OH \ HOCH, o
(e) pendulina

n [HOCH,
~"' o 0]ti'
~,JÇV~, ~~CH,OH o
'~
HO CH, inulina
frutanos H OH [HOC~O o J
(C) neocestose ( d) isocestose n .", R,

/CH3 o H saponinas
triterpênicas

o~o-c-rD
~ \I'
CH20H
'\
Dd,
Dd,
R

Rarn,.,Fuc
Fuc
R,

OMe
OH
R, R,

(f) hiosciamina (g) escopolamina Dd" Rarn,_,Fuc Me H


(h) Dei" Rarnl-2Arab H Me

Fig. 18.4 Estrutura de compostos acumulados nos órgãos de reserva de plantas nativas e cultivadas: (a) sacarose e trissa-
carídeos (b, c, d) originários das séries de polímeros de frutose, (e) pendulina - antirungico de Dioscorea delicata, (f, g)
alcalóides tropanos e (h) saponinas triterpênicas de Dioscorea delicata .


420 Tuberização

Numerosos trabalhos na literatura descrevem a impor~ Chu EP, Figueiredo-Ribeiro RCL. Carbohydratres changes
tância de giberelinas, citocininas, ácido jasmônico e in shoot cultures of Dioscorea species as influenced by
compostos relacionados e de ácido abscísico na indu~ photoperiod and exogenous concentrations of sucrose
and citokinins. Plant, Cell, Organ and Tissue Culture,
ção de tuberização. Embora os dados sejam muitas ve~
2002; 70:241-249.
zes contraditórios, uma observação clara é que os ní~
Gamer WW, Allard A. Effect of length of day on piam
veis de giberelinas declinam durante o processo de
growth.]oumalAgriculture Research, 1923; 18:553-606.
tuberização. Evidências de que o ácido abscísico desem~ ltaya NM, Carvalho MAM, Figueiredo~Ribeiro RCL.
penhe papel na indução de tuberização são menos con~ Fructosyltransferase and hydrolase activities in
vincentes do que as das citocininas e dos derivados de rhizophores and tuberous roots upon growth of Polym-
ácido jasmônico. Conforme foi destacado, o potenci~ nia sonchifolia (Asteraceae). Physiologia Plantarum, 2002;
aI alimentar das plantas tuberosas, notadamente de 116:451-459.
regiões andinas, precisa ser mais bem explorado. Além Vieira CC}, Figueiredo~Ribeiro RCL. Fructose~containing
carbohydrates in the tuberous root of Gomphrena
disso, de outros compostos secundários de interesse
macrocephala St.~Hi1. (Amaranthaceae) at different
econômico também armazenados nos órgãos tuberosos,
phenological phase. Plant Cell Environment, 1993; 16:
poucos são os efetivamente conhecidos e utilizados até 919-928.
o momento. Esses compostos constituem a base da Vilhena SMC. Efeitos da exposição ao sol e do armazenamento
defesa bioquímica das reservas energéticas das plantas sobre o conteúdo e a composição dos carboidratos de reser-
contra herbívoros e patógenos, através de mecanismos va em raizes tuberosas de "yacon" (Polymnia sonchifolia
não totalmente desvendados, considerando a sobrevi~ Poep Endl.). Dissertação de Mestrado. Faculdade de
vência do indivíduo em ambientes competitivos e com Ciências Agronômicas do Campus de Botucatu -
grande predação. UNESP, Botucatu, 1997, 63p.
O conhecimento básico sobre a indução de tube~
rização e metabolismo dos compostos armazenados BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
nesses órgãos representa, portanto, uma forma de
Avigad G, Dey PM. Carbohydrate metabolism: storage
ampliar seu potencial econômico. A utilização ade~
carbohydrates. In: Dey PM, Harbone JB (eds). Plant
quada dos reguladores de crescimento poderá também Biochemistry. Academic Press, San Diego, 1997, 554p.
multiplicar a produção agrícola e aumentar o rendi~ Dennis DT, Blakeley SD. Carbohydrate metabolismo In:
mento mundial. Buchanan BB, Gruissem W, Jones RL (eds). Biochemis-
try & Molecular Biology of Plants. American Society of

REFERÊNCIAS PIam Physiologists, Rockville, 2000, 1367p.


Femie AR, Willmitzer L. Molecular and biochemical
Bõmke F, Hajirezaei MR, Heineke D, Melzer M, Herbers triggers of potato tuber development. Plant Physiology,
K, Sonnewald U. High~level production of the non- 2001; 127:1459-1465.
cariogenic sucrose isomer pala tinos e in transgenic Flores HE, Flores T. Biology and biochemistry of under-
tobacco plants strongly impairs development. Planta, ground pIam storage organs. In: Johns T, Romeo H
2002; 214:356-364. (eds). Functionality ofFoodPhytochemicals. Plenum Press,
Carvalho MAM, Figueiredo~Ribeiro RCL. Frutanos: ocor- New York, 1997, pp 1l3~132.
rência, estrutura e composição, com ênfase em plantas Hajirezaei MR, Bõmke F, Peisker M, Takahata Y, Lerchl
do cerrado. In: Lajolo FM, Saura~Calixto F, Penna EW, J, Kirakosyan A, Sonnewald U. Decreased sucrose
Menezes EW (eds). Fibra Dietética en Iberoamerica: contem triggers starch breakdown and respiration in
Tecrwlogía y Salud. Varela Editora e Livraria Ltda, São stored potato tubers (Solanum tuberosum). ]oumal of
Paulo, 2001, pp 77~89. Experimental Botany, 2003; 54:477A88.

Você também pode gostar