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DEL.T.A, Vol.13 , N°l, 1997 (63 -81) FORMACOES DISCURSIVAS E PROCESSOS IENTIFICATORIOS NA AQUISICAO DE LINGUAS @iscursive Formations and Identifications Process in languages Acquisition) Silvana SERRANI-INFANTE (Universidade Estadual de Campinas) ABSTRACT: This paper discusses theoretical results of the research project “Linguistic Identity and Identification: A Study of Functions of Second Language in Enunciating Subject Constitution”. Non-cognitive factors that have a crucial incidence in the degree of success and ways of accomplishment of second language acquisition process are focused. A transdisciplinary perspective is adopted, mobilising categories from Discourse Analysis and Psychoanalysis. The most relevant ones are: discursive formation, intradiscourse, interdiscourse, forgetting n° I, Jorgetting n° 2 (Pécheux, 1982), identity, identification (Freud. 1966: Lacan, 1977; Nasio, 1993). Revuz’s views (1991) are discussed. Her main claim is that during the process of learning a foreign language, the foundations of psychical structure, and consequently first language, are required. After examining how nomination and predication processes work in first and second languages, components of identity and identification processes are focused on, in an attempt to show how second language acquisition strategies depend on them. It is stated that methodological affairs of language teaching, learner's explicit motivation and the like are subordinated to the comprehension of ‘deeper non-cognitive factors that determine the accomplishment of the second language acquisition process. It is also pointed out that those factors are to be approached, questioning the bipolar biological-social conception of subjectivity in the study of language acquisition and use and including in the analysis symbolic and significant dimensions of the discourse constitution process. RESUMO: Este artigo apresenta uma discussio de resultados de natureza predominantemente teérica, decorrentes do andamento do Projeto de pesquisa “Identidade e Identificagao Lingilistico - Cultural: Estudo das Fungdes da Segunda Lingua na Constituigéo do Sujeito de Enunciagdo”. Focaliza-se 0 funcionamento de Jatores no cognitivos, 64 DELT.A,Vol13,N°1 gue tém uma incidéncia crucial no grau de sucesso e forma de acontecimento do processo de aquisigéo de segunda lingua dentro de abordagem transdisciplinar, a partir de perguntas provindas da Lingitstica Aplicada, mobilizando categorias da Andlise do Discurso e da Psicandlise. As mais relevantes sao: formagao discursiva, intradiscurso, interdiscurso, esquecimento n° I, esquecimento n° 2 (Pécheux, ed. bras. 1988), identidade, identificagdo (Freud, 1966; Lacan, 1977; Nasio, 1995). Discute-se a perspectiva de Revuz (1991) sobre 0 processo de aquisigito de segunda lingua, que diz que, durante 0 processo de aprendizagem de uma lingua estrangeira, as bases da estruturagéo psiguica séo solicitadas e, portanto, a primeira lingua Examina-se o funcionamento dos processos de nominagdo e predicagdo em Ll e L2 e destaca-se a importéncia dos processos de identidade e identificagdo, conforme caracterizados na teoria psicanatitica. Conclui- se afirmando que questoes metodologicas do ensino de linguas, motivagées explicitas do aprendiz e outros iépicos semelhantes estéo subordinados, em grande parte, 4 compreensdo dos profundos fatores ndo cognitivos discutidos, os quats determinam 0 modo de acontecimento do processo de aquisic¢éo de segunda lingua. Propde-se gue esses fatores sejam abordados, problematizando-se a concepeao bi- polar biolégico-social de sujeito de linguagem, pela incluséo, na anélise, das dimenstes simbélica e significante do processo de constituigGo do discurso. Key words: Second language acquisition; Discourse analysis; Discursive formation; Identity; Unconscious subjectivity. Palavras-chave: Aquisigao de segunda lingua; Andlise de discurso; Formagiio discursiva; Identidade; Subjetividade inconsciente. 0. Introdugdo O propdsito deste artigo é aprescntar a discussdo de resultados tedricos, decorrentes do andamento do projeto de pesquisa “Identidade ¢ Identificagéo Lingilistico-Cultural: Estudo das FuncGes da Segunda Lingua na Constitui¢3o do Snjeito de Emunciagdo”'. Focalizarei a * Meu reconhecimento a0 CNPq pelo apoio para a execusio do projets, SERRANI-INFANTE 65 caracterizagao de fatores correspondentes a dimenséio ndo-cognitiva que, a rigor, sitwam-se antes do processo de aquisicao de segunda lingua Propriamente dito, mas que tém uma participacdo crucial e condicionam medularmente © sucesso, insucesso e modo de acontecimento desse Processo. A caracterizagdo a ser apresentada resulta de um percurso transdisciplinar, mobilizando-se conceitos da Andlise do Discurso e da Quanto a preocupagées sobre 0 processo de aquisi¢o de segunda lingua, surgidas de perguntas produzidas no escopo da Lingitistica Aplicada (LA), é pertinente levarmos em conta que, como qualquer outro corpo de conhecimento, a LA tem dois focos: um predominantemente particularizador © um outro generalizador (M. Saville-Troike, 1988). Existe, de um lado, o interesse em resolver problemas priticos que envolvem questées de linguagem” ¢, de um outro lado, a preocupagdo com a formulagao de conceitos e teorizagdes de natureza geral que sejam © fundamento global das pesquisas particulares. Assim, 0 projeto mencionado acima, encontra-se vinculado ao foco generalizador, isto é a procura de aprofundar categorizagdes te6rico-metodolégicas que abordem © encontro de um sujeito com a segunda lingua, tomando como. referéncia a concepeao de linguagem baseada nos principios da Andlise do Discurso’, trabalbando-se com uma concepgio nfo subjetivista da ‘subjetividade, ou seja, uma concepgao de suicito enquanto posicdo-efeito de regularidades enunciativas, historicamente constituidas, e possuidor Como jd disse, foi concretizado um trabalho na perspectiva transdisciplinar, partindo de perguntas da rea de aquisigSo de segunda lingua visando a aprofundar a densidade explicativa desse processo. Lembremos que no se trata de inchir “contribuigdes” de diferentes dominios, mas de evidenciar que 0 objeto de estudo atravessa as fronteiras das disciplinas, as quais ndo participam aditivamente, como meras fornecedoras de subsidios, mas cujos campos so, por sua vez, problematizados nesse cruzamento (cf. S. Serrani, 1990; A. Kleiman, 1992; A Celani, A., 1995; L.P-_Moita Lopes, 1995 eI. Signorini, 1996). 2 Cf. Strevens, (1980) e M. Cavaloanti (1986). 2 Tonmando como uma das referéucias mais significativas a porspectiva introduzida por M. Pécheux. 66 DE.L.T.A,VoL13, N°1 Antes de apresentar a discusso especifica deste trabalho, gostaria de mencionar um fato que, embora tenha dificultado em certa medida - sobretudo no inicio - o desenvolvimento desse percurso transdisciplinar, tem posto em evidéncia a necessidade de aprofundar o estudo do tema na perspectiva indicada. Dentro da literatura consagrada no dominio Gldssico de aquisicdo de segunda lingua, tal como ele se constituin na Lingiiistica Aplicada, s4o muito escassos ou quase inexistentes os estudos que, ao se ocuparem de “fatores afetivos/emocionais”, incluam a consideragdo do inconsciente. tal como € concebido no escopo da teoria discursiva articulada 4 categorizagdo lacaniana. Por outro lado, no campo psicanalitico, no séo abundantes os trabalhos que tenham como foco 0 processo de aquisicado de segundas linguas (o que predomina nesse campo é o tratamento da aquisicéo de primeira lingua). Entretanto, depois de insisténcia na procura, foi possivel o acesso a referéncias pertinentes para o tipo de abordagem salientado. A discussio das mesmas seré exposta no decorrer do trabalho. 1. Aquisigao de Segundas Linguas e Lingua Matera Considerando-se que falar é sempre um processo cuja complexidade estrutural supera o mero exercicio de habilidades visando a “comunicago” de mensagens ou 4 resolugdo de “problemas” operacionais", minha proposta é que © cixo da abordagem do processo de aquisigdo de uma L2 esteja no estudo do desafio subjetivo para o enunciador. Para tanto, ¢ indispensavel a mobilizacdo de categorias tedrico-metodolégicas que possibilitem estudar essa complexidade propria da produgao de linguagem, em geral, e aquela que é especifica a situag3o de produgdo em 12, em termos de inscrigdo do sujeito de enunciacao em discursividades da lingua alvo. Para desenvolver essa afirmagdo, comecarei fazendo referéncia a um Angulo incomum para descrever esse desafio, apresentado por C. Revuz * Sobre as limitages de entender a produgio de sentidos na ¢ pela linguagem verbal como mera ‘comunicasio, ver Pécheux (1988:24-5), O autor focaliza a contradigio - da livre comunicasio propiciada pela uniformizasio da lingua nacional ea no comunicago definida pelas relages sociais - que impde “na linguagem” barreiras de classe, Mesmo pensando que éssas barreiras podem ser eatendidas em outros termos além dos de classe social, salientames a importincia das afirmagtes de Pécheux para aprofndar a compreensio da natureza ¢ fimcionamento ds linguagem, Para um levamtamento sobre a utilizago do conceito de comunicagio no escopo dz LingBistica Aplicada, ver P. Franzoni, 1992, SERRANI-INFANTE St (1987, 1991). A autora observa que o processo de falar em L2 tem inplicagdes tio profundas para o sujeito de emunciacdo porque, nesse processo, sdo solicitadas, simultaneamente, trés esferas existenciais basicas na constitui¢do da subjetividade. Uma delas diz respeito 4 relacdio do sujeito com o saber: trata-se do componente relativo 2 aprendizagem de regras lingitisticas e regularidades emunciativas, isto & da lingua enquanio objeto de conhecimento. Uma outra esfera existencial diretamente envolvida é 0 corpo. Chamo a atengao para o fato de que “corpo” aqui nfo deve ser entendido meramente em sua dimensio biolégica, mas enquanto suporte da subjetividade, que ¢ predominantemente inconsciente. O aparelho fonador ¢ a movimentagdo muscular sio requeridos pela quebra de automatismos fonatérios e de express4o gestual que acontece ac se tentar pronunciar sons, entoagdes ¢ ritmos desconhecidos antes, ou ao realizar gestos novos. E é solicitada, também, a relagao do sujeito com ele proprio, pois esta em jogo a afirmacio do en. enquanto sujeito que sc autoriza a falar em primeira pessoa. Isso, no meu entender, tem implicag%es, tanto para a constitui¢ao do sujeito (enquanto posi¢géo de enunciagdo, pois ndo estou operando com a nogdo de individuo falante) e, também, 3 representacdio desse sujeito enquanto ego, que se apresenta como locutor “dono de seu dizer”’ em uma outra lingua. Na proxima parte voltarei a esta questo. Agora, lembremos a hipotese fundamental da referida autora: “(..) durante o processo de aprendizagem de uma lingua estrangeira® sto as bases mesmas da estruturagdo psiquica que sao Solicitadas e, com elas, aquilo que é, a um mesmo tempo, o instrumento e a matéria dessa estruturagdo: a linguagem, a lingua chamada materna.” (C. Revuz, 1991: 26)” Cabe salientar que, nesta perspectiva, lingua matema nao é necessariamente aquela falada pela mde, mas aquela que “teceu o inconsciente” (Ch. Melman, 1992:45), isto €, a lingua que para cada um * Obviamente, as aspas indicam que consideramos essa afirmago valida somente no registro da iusto necesséria a existéncia da discursividade, * Aqui a expresso “ingua estrangeira” ext usada de modo genérico, incluindo também a stuagdo de imersio, denominada freqdentemente como “segunda lingua”. Quando nao houver indicagSo da versio em portugnés nas referéacias bibliogrificas, » vadugio ¢ minha. 68 DEL.T.A,Vol13, N° 1 constitui a lingua da estrutura simbélica fundamental* que o faz sujeito. Entretanto, como observa C. Calligaris’, a lingua materma acaba se confundindo com a lingua nacional porque “(..) @ estrutura simbélica que nos faz sujeitos -por ser singular- nao deixa de ser tomada numa rede maior, cultural, que é privilegiadamente a rede que uma histéria nacional organiza; [e] porque se cada um dispie de um pai singular, este pai sempre vale na medida em que se ilusire de alguma maneira na rede social, que também & privilegiadamente nacional,” (1993:16-7) Como contra-exemplo, Calligaris menciona as dificuldades de organizacao subjetiva com as quais se depara o sujeito cujo pai nio encontra no social nenhum tipo de reconhecimento, por exemplo, 10 caso de achar-se em uma miséria real que 0 priva de cidadania. Assim, desta perspectiva nfo se entende a lingua enquanto cédigo (codigos sdo explicitos) mas enquanto estrutura verbal simbélica, cujas marcas formais ganham sentido a0 se realizarem emt processos discursivos, historicamente determinados, e determinantes na constituicaio do sujeito, Portanto, como ja disse, operar-se com a nogdo de formacdo discursiva certamente possibilitara superar a mera descricao de realizagées lingiiisticas e levara a formular hipéteses explicativas sobre jogos de implicitos e efeitos de sentido no processo de producdo em L2. entendido como processo de inscrigdo do sujeito de enunciagéo em discursividades da lingua alvo. 2. As Formagdes Discursivas enquanto Condensagdes de Regularidades Enunciativas Como foi mencionado anteriormente, interessa-me pensar, 4 luz da teoria do Discurso, deslocamentos de posicio subjetiva na ligagdo * Aqui, estou usando a expressio estrutura simbdlica, no sentido que esse termo tem na categorizago lacaniana, que distingue os registros imagindrio, simbélico ¢ real. Nao & objeto deste trabalho descrever em detalhe esses rogistros, Dentre as referacias que, no cscopo da Cincia da Linguagem, so ocupam dessas categorias, destacamos J~C. Milner, 1983. Em N. Leite (1994) encontra-se uma discussio interessante utilizando essa categorizag30. ‘Retomando um seminirio de Cb. Melman “A propésito da Conferéncia em Israel” (1988), cujo texto encontra-se teproduzido em Melman. 1992, * Agradego a Maria Fausta P, de Castro 2 cessio deste material bibliogrificn. SERRANI-INFANTE, 69 especifica do sujeito com sua lingua materna, trazidos 4 tona pelo encontro com a lingua estrangeira. Vejamos em que consiste a operacionalizacao da no¢do de formacao discursiva. no tocante ao tema que nos ocupa. Coincide com C. Revuz, quando diz que na aprendizagem de uma lingua estrangeira ha um momento no qual o que aparece com maior evidéncia € a operagao lingitistico~discursiva de nominagdo. Se levarmos em conta a processualidade do dizer (M. Pécheux e C. Fuchs, 1975. em F. Gadet e T. Hak, 1990; E. Orlandi, 1983) e suas ndo-coincidéncias (J. Authier-Revuz, 1995), compreendemos que esse nomear deve ser entendido sempre como uma operagdo prenhe de mediagdes. Na Andlise do Discurso, essas mediagdes decorrentes da opacidade da linguagem so trabalhadas em diversos “momentos” da teoria. Um deles é na re- elaboragdo das categorias de andlise que descrevem 0 “ato enunciativo”. Assim, por exemplo, 0 termo “objeto do discurso” substitai o tradicional “referente” para designar “o qué” da nomeacdo. Destaca-se, assim, que 0 mundo néo ¢ dado, mas também construido pelo dizer (cf. E. Orlandi, 1988:15-21). Portanto, uma constatacio é que a nominacdo é sempre, simmultaneamente, operagdo de predicagao. Nos termos de C. Revuz: “Muito tempo antes de poder falar, a crianga é falada intensamente pelo seu ambiente, e nao hé uma palavra que néo seja, a um sé tempo", designagéo de um conceito e discurso sobre o valor atribuido a esse conceito peto ambiente. Esse sistema de valores impregna completamente o sistema lingiiistico” (1991:27). E para depreender o funcionamento desses “sistemas de valores” que, a meu ver. € operativo entendé-los em termos de formagdes discursivas, pois elas s&o as que determinam o que se pode dizer ¢ aquilo que ndo se poderia, manifestando uma relac4o com a discursividade. com a lingua mesma, ¢ com os diversos dominios de saber que ela permite construir. Como detalhei em um trabalho publicado em 1994, entendo as formagées discursivas como condensagées de regularidades enunciativas nO processo - constitutivamente heterogéneo e contraditério ~ da produgdéo de sentidos no e pelo discurso, em diferentes dominios de saber. Distancio-me, portanto, das perspectivas que concebem as formagées discursivas como espagos discursivos fechados, constituidos a °° O grifo émeu 1 DEL.T.A,,Vol.13, N°1 partir de posigSes homogéneas ¢ excludentes''. Desenvolverei estas afirmagdes de imediato, ilustrando, também, com um exemplo relativo a ‘Do meu ponto de vista, operar com a nogao de formagdo discursiva permite melhor descrever e explicar o funcionamento de um dos dois momentos cruciais para observar como a lingua estrangeira vem incidir na relacdo amplamente inconsciente que mantemos com a lingua fndadora, a saber: os modos diferentes de construir as significagBes em Hinguas distintas’. © que se pode explicar melhor é a preponderdncia de tal ou qual modo de construgio de sentido, em relag3o a condigdes de produgdo discursiva determinadas. Para esclarecer melhor este ponto, ilustrarei fazendo referéncia a um trabalho em que analisei modos de construir significagdes em portugués brasileiro e espanhol riopratense”®, Nesse estudo, foi realizada a andlise de ressondncias discursivas em micro-cenas experimentais (de imediato, sintetizarei a conceituacado das nogées que sustentaram essa andlise), em seqiiéncias discursivas formuladas em condicdes de produg3o com diversos tragos relativamente equivalentes, quanto a profisséo, classe social, grau de instrucéo € posigSes institucionais de enunciadores falantes nativos de ambas as Jinguas. Foi possivel observar que apesar da proximidade sistémica, os modos preponderantes de construir as estratégias de recusa diferiram notavelmente. (A ilustragdo tratou especificamente da recusa a um pedido de carta de recomendagio solicitada por um ex-funciondrio demitido por justa causa). As diferengas mais significativas foram: aja escolha da estrutura com modalizacio de possibilidade/capacidade: agente determinado + verbo poder em negativo + infinitivo [no podemos dar (a carta) / no podemos darle (la carta)} ressoou em 60%'* das seqiéncias discursivas de enunciadores brasileiros do corpus, ¢ somente em 6% das seqiiéncias dos enunciadores falantes nativos de 1 Bm Gadet € Hak (1990) ¢ Maingueneau (1996) ha panoramas da evolugio no modo de conceber a nocéo de formago discursiva, nas tr6s épocas da Andlise do Discurso. 12'O outro momento & o de encontzo com 2 diferenga nos universes fonétions (CE C. Revuz, 1991). Tytase de “Anilise de Ressonincias Disounivas em Miro-Cenas para Esiudo da ver, significativas. SERRANI-INFANTE 7 espanhol riopratense. Estes preferiram respostas lacénicas, do tipo “su solicitad ha sido denegada”, quase sem marcas amenizadoras para a recusa. Entretanto, essas marcas, ocorreram em quase 40% das espanhol, predominaram expressées de indignagio pela existéncia da solicitagio ou modalizagdes apreciativas no sentido de fazer mais conclusiva a recusa. E nas fundamentagées para a negativa apareceram também diferengas significativas. A construg%o subordinada mais freqiente. quasc a tinica, com a qual os enunciadores em espanhol fundamentaram a negativa foi a iniciada por conjungées ilativas, tais como “después de/luege de”, utilizadas para expressar a conseqiéncia de um antecedente, neste caso o motivo da saida [“Digale que es imposible hacer ese certificado, Juego de lo que pasé”]. Nas seqiiéncias em Portugués, o modo mais freqiiente de construir a fundamentagio da negativa foi com estruturas causais com “dado que”, “jé que” ou explicativas com “pois”: ressoaram, assim, explicagdes, causas, mas nao enunciados punitivos. E, finalmente, um tipo de fundamentacdo que ocorren em varias seqiiéncias em portugués, ¢ que inexistin na parte do corpus em espanhol, foi aquela em que a causa para a negativa esteve desvinculada do acontecimento, do tipo: {“Diga-Ihe que no momento é impossivel ajudé-lo pois estou de viagem ao exterior e que volto logo, que nao se preocupe. Como s6 eu posso assinar esse atestado, pri ele ir ligando.”]. Quanto aos enunciadores em espanol, cabe assinalar que, se Perguntados especificamente, eles mencionaram a possibilidade dessa estratégia, porém, na resposta espontdnea niio houve ocorréncias desse tipo. Caracterizamos, assim, duas formagtes discursivas: uma, denominada de abrupedo, mais freqiente nas seqiéncias discursivas em espanhol Tiopratense, marcada por enunciagdes nas quais podem predominar construgdes com indeterminacdo de agente, frases curtas, categéricas ¢ que, no gran mais marcado de abrupgdo, podem conter enunciados de indignacdo, que prodazem um efeito de sentido punitive para o destinatario. Na outra formagao discursiva, marcada pela enunciagdo de fransigées, predominam construgdes modalizadas com agente determinado, marcas amenizadoras, subordinadas causais ¢ coordenadas explicativas. No gran mais marcado de transigao, a enunciag3o da nogativa ¢ produzida por inferéncia a partir de numerosas transig6es que decorrem de causas desvinculadas do evento em questio. Como foi dito, essa andlise esteve baseada na nogdo de ressondncia discursiva de significagao. Esta no¢do foi elaborada a partir de um

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