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Galileu #383 - Fev24
Galileu #383 - Fev24
Galileu #383 - Fev24
NA FOGUEIRA:
O QUE EXPLICA
A RECENTE
ONDA DE
CENSURA A
LIVROS NO
BRASIL E NO
MUNDO
PRAZER
QUE VICIA
A CIÊNCIA TEM SE
DEBRUÇADO SOBRE
O COMPORTAMENTO
SEXUAL COMPULSIVO.
ENTENDA O
TRANSTORNO E
CONHEÇA SEUS
SINTOMAS
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COMPOSIÇÃO
FEVEREIRO DE 2024
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CAPA
QUANDO A
COMPULSÃO POR
SEXO PODE SER UM
PROBLEMA DE SAÚDE?
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QUER
QUE EU
DESENHE?
CULTURA
EM DIVERSOS PAÍSES,
LIVROS ENTRAM NA MIRA
DA CENSURA
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COMPORTAMENTO
TEXTO André Bernardo EDIÇÃO Luiza Monteiro ILUSTRAÇÃO Ilê Machado DESIGN Flavia Hashimoto
Do abuso à compulsão
Um mistério que intriga os cientistas que estudam a sexualidade
humana é: por que vítimas de abuso sexual na infância tendem
a se transformar em compulsivos sexuais na vida adulta? “Não é
possível apontar um nexo de causalidade”, explica o psiquiatra
Danilo Baltieri, coordenador do Ambulatório de Transtornos da
Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex), em Santo
André (SP). “Existem fatores psicossociais, geralmente traumáti-
cos e perniciosos, que colaboram para a formatação de determi-
nados comportamentos de natureza compulsiva ou impulsiva.”
Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, intitulado
Violência Sexual Infantil, revela que, só em 2021, o Brasil regis-
trou 45.994 estupros de crianças e adolescentes. O dado mais
estarrecedor é que 82,5% dos abusadores eram conhecidos das
vítimas: 40,8% deles eram pais ou padrastos, 37,2% irmãos ou
primos e 8,7%, avós.
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a um clique De Distância
Nunca é demais repetir: não é a frequência ou a quantidade que de-
fine uma compulsão, e sim o sofrimento e o prejuízo que ela causa
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compulsão ou apetite?
O Transtorno do Comportamento Sexual Compulsivo (TCSC) é um
nome novo para um problema antigo. Mas não há como saber se
figuras históricas famosas, como a imperatriz Valéria Messalina
(22-48) e o escritor Giacomo Casanova (1725-1798), entre outros
tantos, sofriam de compulsão ou tinham apenas um apetite sexual
insaciável. Entre outras proezas, Messalina, que virou sinônimo de
“libertina” e “devassa” no dicionário Houaiss, teria desafiado uma
famosa prostituta romana a uma disputa pouco convencional: com
quantos homens cada uma delas transaria em 24 horas? Messalina
levou a melhor: foram 25 parceiros, ou seja, mais de um por hora.
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Fonte: PRO-AMITI.
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EntrEvista
“Cada vez
menos a ONU
tem condições
de fazer valer
sua vontade”
O
O mundo está em guerra. Além da situação na
Ucrânia, que completa dois anos no próximo dia
24 de fevereiro, há pelo menos outros 110 confli-
tos armados acontecendo no mundo, segundo o monitor da
Academia de Direito Internacional Humanitário e Direitos
Humanos de Genebra. Alguns são internos; outros, têm im-
pacto global e ganham a atenção da mídia.
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“O desenvolvimento da
inteligência artificial, em
especial a generativa, tem
grande impacto sobre a
possibilidade de uso para
manipulação das sociedades”
Calmona analisa fatores que contribuem para conflitos atuais no mundo
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CULTURA
teXto Caio Delcolli ediÇÃo Luiza Monteiro desiGn Flavia Hashimoto
LIVROS NA FOGUEIRA
N
No romance Fahrenheit 451 (1953), bombeiros não são encarrega-
dos de apagar incêndios — ao contrário: eles incendeiam livros. O
enredo tem como pano de fundo um governo autoritário que quer
coibir a disseminação de conhecimento. A obra do estaduniden-
se Ray Bradbury é um romance distópico e, portanto, perturba o
leitor ao tentar responder à pergunta “e se?”. E se fazer fogueiras
de livros fosse uma política de Estado? O título, inclusive, é uma
referência à temperatura em que o papel pega fogo (em Celsius,
233°C). Mas esse assombro não está apenas na ficção.
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nhos Vingadores: Cruzada das Crianças (2012), que
contém uma cena de beijo gay. A decisão foi derru-
bada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Prefei- banimentos
turas sequer têm poder jurídico para isso. Repre-
sentantes de Gayer e Crivella não responderam ao
pedido de GALILEU por um posicionamento.
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também por legisladores estaduais republicanos
de estados como Louisiana, Iowa, Indiana e Ten-
nessee, por exemplo. Segundo reportagem do site BANIMENTOS
Vox, os parlamentares começam tentando banir
livros e, quando não conseguem, boicotam os re-
passes de verbas. As ameaças tendem a acontecer
nos estados em que legisladores também buscam
restringir direitos de pessoas trans à saúde, per-
formances de drag queens e discussões sobre gê-
nero, sexualidade, raça e história nas escolas — os Tricks, de Ellen
Hopkins
mesmos temas dos títulos perseguidos.
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GUERRA CULTURAL
Durante a Reforma Protestante, na Europa do século 16, a dispu-
ta entre o catolicismo e o protestantismo causou, na Inglaterra e
na Escócia, ataques a centenas de bibliotecas e a destruição de
dezenas de milhares de livros. No Holocausto do século 20, foram
destruídos mais de 100 milhões de volumes, e bibliotecas inteiras
foram confiscadas e queimadas. São dois exemplos notórios den-
tre vários outros episódios históricos.
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Margaret Atwood; Maus (1986), de Art Spiegel-
man; Amada (1987), de Toni Morrison; 1984 (1949),
de George Orwell; Gênero Queer: Memórias (2019), banimentos
de Maia Kobabe; Este Livro É Gay (2014), de Juno
Dawson; O Sol É para Todos (1960), de Harper Lee;
e, claro, Fahrenheit 451.
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A lei ainda proíbe que seja dito que indivíduos são 30%
luto e morte;
“privilegiados” ou “oprimidos” por causa de sua
raça ou sexo. Um dos alvos da Stop WOKE Act é a 30%
personagens não
critical race theory (“teoria crítica da raça”), cam- brancos ou raça e
racismo;
po acadêmico que estuda os impactos da raça e
da etnia na sociedade — não necessariamente 26%
personagens ou
culpando indivíduos, tendo-se em vista o aspecto temas LGBTQIA+;
sistêmico do racismo. O Moms for Liberty (Mães
pela Liberdade), fundado na Flórida, é um exem- 24%
experiências
plo de grupo que tem atuado para extinguir títulos sexuais entre
personagens;
literários — com apoio declarado de legisladores.
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gravidez na
De acordo com Sabrina Baêta, coordenadora do adolescência,
programa Liberdade para Ler da PEN, trata-se de aborto ou violência
sexual.
uma crise. Tudo começa, segundo ela, com pessoas
— que podem ser pais, responsáveis ou simplesmen- Fonte: PEN America
*entre julho e dezembro
te indivíduos da vizinhança — gritando em reuniões de 2022
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reescrevendo a história
Se tem quem queira banir livros, tem quem queira reescrevê-los.
Com o objetivo de remover trechos que possam soar ofensivos
para minorias, a prática da leitura sensível, que tem sido recor-
rente no mercado editorial nos últimos anos, também rendeu
acusações de censura. Agatha Christie, Ian Fleming e Roald Dahl
são exemplos de autores consagrados e já mortos cujas obras
têm sido editadas após recomendações feitas por “profissionais
da leitura sensível”. Basicamente, a prática consiste em identificar
esses trechos e recomendar mudanças ao editor e ao autor, que
podem ou não aceitá-las.
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para as crianças serem alertadas sobre isso não ser algo bom e até
dar oportunidade, no ambiente protegido que a escola deveria ser,
aos alunos que sofram violência sexual de conversar sobre isso”,
observa. “Não conversar sobre o tema não faz com que a realidade
deixe de existir.” Da mesma forma, banir obras literárias — com
fogo ou com a lei — não é a solução para impor certos pontos de
vista e extinguir outros. Já aprendemos isso nos livros de história.
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