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2 SAMUEL

Original em inglês:

2 SAMUEL

The Second Book of Samuel,

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

2 Samuel 1 2 Samuel 7 2 Samuel 13 2 Samuel 19

2 Samuel 2 2 Samuel 8 2 Samuel 14 2 Samuel 20

2 Samuel 3 2 Samuel 9 2 Samuel 15 2 Samuel 21

2 Samuel 4 2 Samuel 10 2 Samuel 16 2 Samuel 22

2 Samuel 5 2 Samuel 11 2 Samuel 17 2 Samuel 23

2 Samuel 6 2 Samuel 12 2 Samuel 18 2 Samuel 24


2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 2
2 Samuel 1

Vv. 1-16. UM AMALEQUITA TRAZ NOTÍCIAS DA MORTE


DE SAUL.
1. Davi … estando já dois dias em Ziclague — Embora
grandemente reduzida pelos incendiários amalequitas, aquela cidade não
foi saqueada nem destruída totalmente, de modo que Davi e seus 600
seguidores com suas famílias, puderam achar algumas comodidades.
2-12. sucedeu, ao terceiro dia, aparecer do arraial de Saul um
homem — Como no relato da morte de Saul dado no último capítulo do
Primeiro Livro, é inspirado, deve ser considerado verdadeiro, e o relato
do amalequita como uma ficção inventada por ele mesmo para
congraçar-se com Davi, o suposto sucessor ao trono. A pergunta de
Davi: “Conte o que foi que aconteceu!” [V. 4, NTLH], demonstra o
grande interesse que ele tinha na guerra — interesse que nascia de seus
sentimentos de altura e generoso patriotismo e não da ambição. —
Entretanto, julgando o amalequita que Davi estivesse animado por algum
princípio egoísta, inventou um conto improvável e inconsequente por
meio do qual cria que conseguiria uma recompensa. Tendo visto o ato
suicida de Saul, pensou utilizá-lo para seu proveito, e sofreu o castigo de
seu cálculo errado (cf. 2Sm_1:9 com 1Sm_31:4-5).
10. a coroa — pequena boina metálica ou banda, que servia como
elmo, com um pequeno chifre que sobressaía para a frente como símbolo
de poder.
o bracelete do seu braço (TB) — O bracelete levado mais acima
do cotovelo, marca antiga de dignidade real, ainda é levado pelos reis em
alguns países orientais.
13-15. perguntou Davi ao moço portador das notícias: Donde és
tu? — O homem havia dito no princípio quem era, mas agora lhe é feita
a pergunta formal e judicialmente. Poderá parecer severo demais o
castigo infligido ao amalequita, mas o respeito tributado aos reis do
Ocidente, não se deve considerar como a norma do que no Oriente se crê
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próprio da dignidade real. A reverência de Davi a Saul como o ungido do
Senhor, estava em sua mente como um princípio sobre o qual ele mesmo
tinha agido várias vezes por ocasião de grandes tentações. Nestas
circunstâncias foi especialmente importante que fosse conhecido
publicamente este seu princípio; livrar-se da imputação de ser em algum
modo cúmplice do execrável regicídio, era para ele motivo de
preocupação sendo juiz justo, não menos que um bom político.

Vv. 17-27. DAVI LAMENTA A SAUL E A JÔNATAS.


17. Fez Davi este cântico fúnebre (TB) — Sempre foi costume dos
povos orientais, por ocasião da morte dos grandes reis e guerreiros,
celebrar seus qualidades e façanhas em canções fúnebres. Esta inimitável
elegia triste, segundo hipótese de muitos escritores, chegou a ser uma
canção de guerra nacional, e era ensinada aos jovens israelitas sob o
nome de “O Arco”, segundo a prática de muitos escritores hebreus e
clássicos de pôr títulos a seus canções de acordo com o tema principal
(Sl_22:1; 56:1; 60:1; 80:1; 100:1). Embora as palavras “uso de” sejam
acrescentadas pelos tradutores (da Versão Inglesa), podem ser
introduzidas corretamente, porque o sentido natural deste versículo entre
parêntese é que Davi tomou medidas imediatas para a instrução do povo
no conhecimento e prática do arco e flechas, pois sua inferioridade para
cm o inimigo no uso desta arma militar tinha sido a causa principal de
seu recente desastre nacional.
19. A tua glória, ó Israel — ou “a beleza”; literalmente, “a
gazela”, ou “antílope” de Israel. No Oriente este animal é o tipo da
beleza ou elegância de forma simétrica.
Como caíram os valentes! — Esta frase forma o coro do cântico.
21. não caia sobre vós nem orvalho, nem chuva — Ser privados
das benéficas influências atmosféricas, as quais, nestas colinas
antigamente cultivadas, parecem ter produzido muitas primícias nas
colheitas de grãos, é mencionado como a maior calamidade que os
sentimentos feridos do poeta puderam imaginar-se. Esta maldição parece
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estar sobre eles ainda, porque as montanhas de Gilboa estão despidas e
são estéreis.
neles foi profanado o escudo dos valentes — Atirar o escudo era
considerado como uma vergonha nacional. Entretanto, naquela fatal
batalha de Gilboa, muitos dos soldados judeus que tinham mostrado
verdadeira coragem, esquecendo-se de sua própria fama e da honra da
pátria, jogaram os seus escudos e fugiram do campo. Esta conduta
desonrosa e covarde é mencionada com tristeza delicadamente patética.
24. Vós, filhas de Israel, chorai por Saul, que vos vestia de rica
escarlata, etc. — A aflição pelo vestido que antigamente distinguia as
mulheres orientais, é ainda sua característica. Se manifesta em seu amor
pelas cores claras, alegres e variados, na profusa ostentação de
ornamentos e em outras formas diferentes. Os sentimentos mais íntimos
do poeta se comoveram, e sua amável disposição se deixou ver em seu
forte desejo de celebrar as qualidades de Saul assim como também as de
Jônatas; mas os louvores a este formam o estribilho do poema, que
começa e termina falando daquele excelente príncipe.
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2 Samuel 2

Vv. 1-7. POR MANDADO DE DEUS, DAVI SOBE A HEBROM,


E É FEITO REI DE JUDÁ.
1. consultou Davi ao SENHOR — Por meio do Urim (1Sm_23:6,
1Sm_23:9; 1Sm_30:7-8). Sabia seu destino, mas sabia também que a
providência de Deus aplainaria o caminho; e portanto não queria dar
nenhum passo nesta crise pessoal e nacional, sem buscar a direção
divina. Foi dito que fosse a Judá e fixasse sua sede em Hebrom, para
onde foi com sua companhia que já era considerável. Ali seus interesses
eram muito poderosos; porque não só estava dentro de sua própria tribo,
e perto de chefes com aqueles que desde tempo atrás tinha estado em
relações amigáveis (veja-se 1Sm_30:26-31), mas sim Hebrom era a
capital e centro de Judá, e uma das cidades levíticas, cujos habitantes lhe
eram firmemente leais, tanto por simpatia a sua causa da matança em
Nobe, como pela perspectiva de realizar por meio dele a prometida
preeminência deles entre as tribos. Os príncipes de Judá, pois, lhe
ofereceram a coroa de sua tribo, a qual ele aceitou. Mas não podia fazer-
se com prudência, nas circunstâncias atuais da pátria (1Cr_11:3).
5-7. enviou Davi mensageiros aos homens de Jabes-Gileade —
Não pode haver dúvida de que esta mensagem de agradecimento por sua
valente e perigosa empresa de resgatar os corpos de Saul e seus filhos,
era uma expressão do sentimento pessoal e genuíno da satisfação de
Davi. Ao mesmo tempo, foi um rasgo de política sã e oportuna. Neste
aspecto, o anúncio de seu poder real em Judá, acompanhado pela
promessa de sua proteção aos homens de Jabes-Gileade em caso de que
se vissem expostos a perigos por causa de sua aventura em Bete-Seã,
teria um importante significado em todas as partes do país, e ofereceria a
segurança de que ele lhes daria o mesmo oportuno e enérgico socorro
que Saul lhes tinha dado no princípio de seu reinado.
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Vv. 8-17. ABNER FAZ REI DE ISRAEL A ISBOSETE.
8. Abner, filho de Ner, capitão do exército de Saul, tomou a
Isbosete — Aqui havia o estabelecimento de um reino rival, o qual,
entretanto, não teria existido se não tivesse sido por Abner.
Isbosete — ou Esbaal. (1Cr_8:33; 1Cr_9:39). Os hebreus
geralmente mudavam os nomes terminados em Baal por Bosete
(“vergonha”) (Jz_9:53, cf. com 2Sm_11:21). Chamava-se assim a este
príncipe por sua imbecilidade.
Abner — era primo irmão de Saul, comandante de seu exército, e
tido em alta estima por todo o país. Sua lealdade à casa de seu finado
senhor se mesclava com sua oposição a Davi e sua ambição pessoal, ao
começar este movimento faccioso. Ele também estava alerta à
importância de assegurar as tribos orientais; assim, levando a Isbosete
através do Jordão, proclamou-o rei em Maanaim, cidade sobre a ribeira
setentrional do Jaboque, santificado em tempos patriarcais pela presença
divina (Gn_32:2). Ali congregou as tribos ao redor do estandarte do
infeliz filho de Saul.
9-10. sobre Gileade — geralmente assim se indicava à terra além
do Jordão.
assuritas — A tribo do Aser no extremo norte.
Jezreel — O extenso vale que bordejava as tribos centrais.
sobre todo o Israel … somente a casa de Judá — Davi não podia
nem queria forçar os assuntos; mas estava contente esperando o tempo
assinalado por Deus; e cuidadosamente evitava todo conflito com o rei
rival, até que, depois de dois anos, começaram as hostilidades desde
aquele lado.
12. Saiu Abner, filho de Ner, com os homens de Isbosete, filho
de Saul, de Maanaim a Gibeão — Esta cidade estava perto dos limites
de Judá, e como o exército com o qual acampou Abner, parecia ter
algum propósito agressivo, Davi enviou um exército sob o mando de
Joabe para vigiar os seus movimentos.
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14. Disse Abner a Joabe: Levantem-se os moços e batam-se
diante de nós — Alguns creem que a proposta era só uma prova de
destreza para entreter-se. Outros supõem que estando ambas as partes
pouco dispostas a dar princípio a uma guerra civil, Abner ofereceu
deixar a contenda a doze homens escolhidos de cada parte. A luta, em
vez de terminar com o assunto, avivou as paixões dos dois partidos
rivais, e continuou uma batalha geral na qual Abner e os seus foram
vencidos, e fugiram.

Vv. 19-22. MORTE DE ASAEL.


19. Asael perseguiu a Abner — Ganhar as armas do general era
considerado como o troféu maior. Asael, pela ambição de obter as armas
de Abner, adiantou-se a todos os outros corredores, e estava alcançando
o general em sua retirada, mas este, consciente de ter mais força física, e
não querendo que houvesse “sangre” entre ele e Joabe, irmão de Asael,
duas vezes o instou para que o deixasse. Como o impetuoso soldado foi
surdo à generosa admoestação, o veterano Abner levantou o cabo
pontiagudo de sua lança, como o fazem na atualidade os árabes quando
são perseguidos, e com um repentino empurrão para trás, transpassou o
corpo de Asael de modo que caiu derrubando-se em seu sangue. Mas
Joabe e Abisai continuaram seguindo por outro caminho, até o pôr-do-
sol. Chegando a terra alta e recebendo os reforços de alguns benjamitas,
ajuntou Abner suas tropas espalhadas, e encarecidamente apelou aos
melhores sentimentos de Joabe para pôr fim ao derramamento de sangue,
que de continuar-se, levaria a consequências mais sérias, a uma
destrutiva guerra civil. Joabe, reprovando a seu contrário ser o único
causador da batalha, sentiu a força da exortação, e refreou os seus
homens; enquanto Abner, provavelmente temendo a renovação do ataque
quando Joabe chegasse ou seja da morte de seu irmão e buscasse
vingança, tratou de cruzar o Jordão naquela mesma noite por marchas
forçadas. Do lado do exército de Davi as perdas foram só dez e nove
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homens além de Asael. Mas do exército do Isbosete caíram trezentos e
sessenta.
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2 Samuel 3

Vv. 1-5. NASCEM A DAVI SEIS FILHOS.


1. Durou muito tempo a guerra entre a casa de Saul e a casa de
Davi — Os bandos rivais tinham êxitos variáveis; mas continuamente
aumentavam os interesses de Davi; menos, entretanto, pelas fortunas da
guerra do que pela crescente adesão do povo a ele como rei divinamente
designado.
2. Em Hebrom, nasceram filhos a Davi — Os seis filhos
mencionados tiveram mães distintas.
3. Quileabe — (retrato de seu pai) — chamado também Daniel
(1Cr_3:1).
Maaca, filha de Talmai, rei do Gesur — Uma região da Síria, a
norte de Israel. Este casamento parece ter sido uma aliança política, feita
por Davi tendo em vista fortalecer-se contra o partido de Isbosete com a
ajuda de um poderoso amigo e aliado no norte. A devoção religiosa teve
que ceder à política, e os frutos amargos desta aliança com uma princesa
pagã Davi colheu na vida do turbulento Absalão.
5. Eglá, mulher de Davi — Este acréscimo “mulher de Davi”, levou
a muitos a crer que Eglá era outro nome de Mical, a primeira e própria
esposa de Davi, quem, embora não tivesse família depois de zombar
insolentemente de Davi (2Sm_6:23), pôde ter tido um filho antes.

Vv. 6-12. ABNER SE TORNA PARTIDÁRIO DE DAVI.


6. Abner se fez poderoso na casa de Saul — No oriente, as
esposas e concubinas de um rei passam a ser propriedade de seu sucessor
até o ponto de que se um homem aspirar a casar-se com uma delas, é
considerado como pretendente à coroa (veja-se 1Rs_2:17). Não se sabe
com certeza se estava bem fundada ou não a acusação contra Abner, mas
este se ressentiu pela acusação; e levado pela vingança, resolveu
transferir todo o peso de sua influência ao partido contrário.
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Evidentemente, punha um amplo valor sobre seus serviços, e parece que
dominava a seu fraco sobrinho de uma maneira orgulhosa e esmagadora.
12. ordenou Abner mensageiros a Davi — Embora sua linguagem
desse a entender uma convicção secreta de que, ao apoiar a Isbosete,
tinha estado agindo para frustrar o divino propósito de conferir a
soberania do reino a Davi, esta convicção não justificava as medidas que
ele estava adotando agora, nem os motivos que as animavam. Tampouco
parece possível aprovar a completa integridade e honra da conduta de
Davi, ao levar em consideração as insinuações secretas dele a respeito de
minar a Isbosete, se não levamos em conta a promessa divina do reino, e
sua crença de que a secessão de Abner era um meio proposto pela
providência para tal fim. A exigência da restauração de Mical, sua
esposa, era perfeitamente justa, mas a insistência de Davi neste momento
especial, como condição indispensável para entrar num tratado com
Abner, parece ter procedido não tanto de um afeto perdurável, e sim
como uma esperança de que a possessão dela inclinaria a alguns
partidários da casa de Saul a favorecer sua causa.
17-21. Falou Abner com os anciãos de Israel — Falou verdade ao
impressionar suas mentes com o bem conhecido feito da designação de
Davi para o reino. Mas jogou um papel baixo e hipócrita ao fingir que
seu presente movimento era motivado por impulsos religiosos, quando
na realidade nasceu inteiramente da maldade e vingança contra Isbosete.
Sua instância especial aos benjamitas foi uma medida política necessária;
sua tribo desfrutava da honra de ter dada origem à dinastia real de Saul; e
naturalmente não estavam dispostos a perder tal prestígio. Além disso,
eram um povo decidido, cuja proximidade a Judá poderia torná-los
incômodos e até perigosos. O alistar seu interesse, pois, no plano,
aplainaria o caminho para a adesão das outras tribos; e Abner possuía a
oportunidade mais conveniente de usar sua grande influência em ganhar
aquela tribo, enquanto acompanhava a Mical para levar a Davi com a
devida bagagem. Esta missão lhe permitia esconder os seus propósitos
traidores contra seu senhor; atrair a atenção dos anciãos e do povo para
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com Davi; que unia em si a dupla recomendação de ser o nomeado pelo
Senhor e ao mesmo tempo estar vinculado com a casa real de Saul, e,
sem suspeitas de motivos desonrosos, advogar pela terminação da
dissensão civil, entregando a soberania ao marido de Mical. Com o
mesmo caráter de embaixador público, foi recebido e festejado por Davi;
e enquanto que ostensivamente a restauração de Mical fosse o único
objetivo de sua visita, diligentemente se ocupou em fazer ofertas
particulares a Davi pela entrega a sua causa daquelas tribos que ele
astutamente tinha seduzido. Abner seguiu uma conduta indigna de um
homem de honra; embora seu oferecimento fosse aceito por Davi, a
culpa e a infâmia da transação foram exclusivamente de Abner.

Vv. 22-30. JOABE MATA A ABNER.


24. Joabe foi ao rei e disse: Que fizeste? — O conhecimento que
tinha Joabe do caráter ardiloso de Abner, acaso o levou a duvidar da
sinceridade das proposições daquele homem, e desaprovar a política de
confiar em sua fidelidade. Mas, sem dúvida, houve outros motivos de
uma natureza particular e pessoal, os quais fizeram com que Joabe
estivesse descontente e alarmado pela recepção dada a Abner. Os
talentos militares daquele general, sua popularidade entre o exército, sua
influência em toda a nação, o constituíam em rival formidável; e no caso
dos seus oferecimentos serem realizados, o importante serviço de
transferir todas as tribos ao rei de Judá estabeleceriam tão forte
reclamação à gratidão de Davi, que seu acesso inevitavelmente
levantaria um sério obstáculo à ambição de Joabe. A estas considerações
se acrescentava a lembrança da inimizade que existia entre eles pela
morte de seu irmão Asael (2Sm_2:23). Resolvido, pois, a eliminar a
Abner, Joabe fingiu algum motivo, talvez em nome do rei, para fazê-lo
voltar, e saindo a encontrá-lo, apunhalou-o de improviso; não dentro de
Hebrom, porque era cidade de refúgio, mas sim junto a um poço que
havia nas cercanias.
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31. Disse, pois, Davi a Joabe e a todo o povo que com ele estava:
Rasgai as vossas vestes, cingi-vos de panos de saco — o pesar de Davi
foi sincero e profundo, e teve oportunidade de o expressar publicamente
pelos honras fúnebres que decretou para Abner.
o rei Davi ia seguindo o féretro — uma espécie de armação de
madeira, em parte semelhante a um ataúde, e em parte a uma angarilha.
33, 34. O rei pranteou a Abner (TB) — Esta curta elegia é uma
efusão de indignação tanto como de pesar. Como Abner tinha dado
morte a Asael em guerra aberta [2Sm_2:23], Joabe não tinha direito ao
“Goel”, ou vingador; e além disso, ele tinha usado um método de
vingança ilegal e execrável (veja-se 1Rs_2:5). O fato foi um insulto à
autoridade, como também muito prejudicial às perspectivas do rei. Mas
os sentimentos e a conduta de Davi para ouvir da morte, e do caráter e
acompanhamento da solenidade fúnebre, tendiam não só a afastar dele
toda suspeita de culpabilidade, mas ainda a voltar a corrente da opinião
pública a seu favor, e a aplainar o caminho para que reinasse sobre todas
as tribos mais honradamente que pelas negociações traidoras de Abner.
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2 Samuel 4

Vv. 1-8. BAANÁ E RECABE MATAM A ISBOSETE, E


TRAZEM A DAVI SUA CABEÇA.
4. Jônatas, filho de Saul, tinha um filho aleijado dos pés — Isto
se menciona como razão para que fosse considerado, segundo as
opiniões orientais, incapaz para exercer os deveres de soberano.
5. Indo Recabe e Baaná ... chegaram à casa de Isbosete, no
maior calor do dia, etc. — É ainda costume no Oriente conceder a seus
soldados certa quantidade de grão, junto com algum pagamento; e estes
dois capitães muito naturalmente foram ao palácio no dia anterior para
buscar o trigo, a fim de distribuí-lo entre os soldados, para que fosse
enviado ao moinho à hora habitual da manhã.
7. Tendo eles entrado na casa, estando ele no seu leito, no
quarto de dormir — Recabe e Baaná vieram no calor do dia, quando
sabiam que Isbosete, seu senhor, estaria descansando sobre seu divã; e
como era necessário, pela razão já dada, ter o grão um dia antes de ser
necessário, sua vinda a essa hora, embora pudesse ser um pouco mais
cedo que de costume, não criou nenhuma suspeita, e não chamou a
atenção. (Harmer).
andando toda a noite pelo caminho da planície — quer dizer,
pelo vale do Jordão, o qual levava de Maanaim a Hebrom.
8. Trouxeram a cabeça de Isbosete ao rei Davi, a Hebrom, e lhe
disseram: Eis aqui a cabeça de Isbosete — Tais troféus sangrentos de
traidores e conspiradores sempre foram aceitáveis aos príncipes no
Oriente, e os portadores são liberalmente recompensados. Sendo Isbosete
um usurpador, os dois assassinos creram fazer um serviço meritório a
Davi, tirando o único obstáculo existente para a união dos dois reinos.

Vv. 10-12. DAVI OS MANDA MATAR.


12. os mataram e, tendo-lhes cortado as mãos e os pés — Por
terem sido os instrumentos para perpetrar seu crime. A exposição dos
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restos mutilados foi designada não só como castigo de seu crime mas
também como o atestado da abominação de Davi.
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2 Samuel 5

Vv. 1-5. AS TRIBOS UNGEM A DAVI REI SOBRE ISRAEL.


1. todas as tribos de Israel vieram a Davi — Uma comissão
composta pelas autoridades de todas as tribos [Veja-se 1Cr_11:1]. Davi
possuía a primeira e essencial qualidade para ocupar o trono: a de ser
israelita (Dt_17:15); de seus talentos militares tinha dado suficiente
prova, e o desejo do povo de que assumisse o governo de Israel, foi
aumentado por seu conhecimento da vontade e do propósito de Deus
expresso por Samuel (1Sm_16:11-13).
3. o rei Davi fez com eles aliança em Hebrom, perante o
SENHOR — (Veja-se 1Sm_10:17). Esta declaração formal da
constituição era feita especialmente no começo de uma dinastia nova, e
na restauração da família real depois de uma usurpação (2Rs_11:17),
embora as circunstâncias algumas vezes conduzissem à sua renovação
pelo acesso de algum soberano novo (1Rs_12:4). Parece que esta foi
acompanhada por solenidades religiosas.

Vv. 6-12. DAVI TOMA SIÃO DOS JEBUSEUS.


6. Partiu o rei com os seus homens para Jerusalém, contra os
jebuseus — A primeira expedição de Davi como rei de todo o país, foi
dirigida contra este lugar, que até então tinha estado em mãos dos
nativos. Estava fortemente defendida, e considerada tão inexpugnável,
que os cegos e coxos eram enviados para guarnecer as ameias, como
zombaria ao ataque do rei hebreu, e para gritar: “Davi não entrará aqui”.
Para entender o significado e poder desta zombaria, é necessário lembrar
a profundidade e o escarpado do vale de Giom, e as altas muralhas da
velha fortaleza cananeia.
7. a fortaleza de Sião — Quer seja a colina do sudoeste usualmente
assim chamada, ou o cimo, agora nivelado, a norte do monte do templo,
é a altura dominante que chama a atenção de todos lados: “a montanha
fortaleza”, “castelo de penhascos” de Jerusalém.
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8. Todo o que está disposto a ferir os jebuseus suba pelo canal
— Alguns creem que isto quer dizer uma passagem subterrânea; outros,
um cano pelo qual se vertia água sobre o fogo que os sitiadores
frequentemente prendiam nas madeiras dos portões, e por cujas
saliências um escalador hábil poderia subir; outros traduzem as palavras:
“Quem os lançará contra o precipício?” (1Cr_11:6).
9. habitou Davi na fortaleza — Havendo-a tomado por assalto,
mudou seu nome para “a Cidade de Davi”, para dar a entender a
importância da conquista, e para perpetuar a memória do acontecimento.
foi edificando em redor, desde Milo e para dentro —
Provavelmente uma linha de baluartes de pedra sobre o lado norte do
Monte Sião, edificados por Davi para assegurar-se por aquele lado dos
jebuseus, os quais ainda viviam na parte mais baixa da cidade. A casa de
Milo era talvez a principal torre angular daquela muralha fortificada.
11, 12. Hirão rei de Tiro enviou … carpinteiros, e pedreiros —
A chegada de arquitetos e mecânicos tírios é uma clara evidência do
baixo estado a que tinham chegado os artesãos em Israel, devido às
desordens da longa guerra civil.

Vv. 13-16. NASCEM-LHE ONZE FILHOS.


13. Tomou Davi mais concubinas e mulheres — Com esta
conduta Davi violou uma lei positiva, que proibia que o rei de Israel
tomasse muitas esposas. (Dt_17:17).

Vv. 17-25. FERE OS FILISTEUS.


17. Ouvindo, pois, os filisteus que Davi fora ungido rei sobre
Israel — Durante a guerra civil entre a casa de Saul e Davi, esses
intranquilos vizinhos tinham ficado como espectadores da contenda. Mas
agora, ciumentos de Davi, resolveram atacá-lo, antes que seu governo
fosse totalmente estabelecido.
18. vale dos Refains — quer dizer, “vale de gigantes”, uma planície
larga e fértil, que desce gradualmente das montanhas centrais para o
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noroeste. Era a rota pela qual partiam contra Jerusalém. A “fortaleza” a
qual desceu Davi, era algum lugar fortificado onde ele poderia opor-se
ao progresso dos invasores, e onde os derrotou notavelmente.
21. deixaram lá os seus ídolos — Provavelmente seus “lares” ou
deuses domésticos, que haviam trazido ao campo de batalha para que
pelejassem por eles. Foram queimados como mandava a lei (Dt_7:5).
22. Os filisteus tornaram a subir — No ano seguinte renovaram o
ataque com um exército maior, mas Deus manifestamente se interpôs a
favor de Davi.
24. estrondo de marcha pelas copas das amoreiras —
Geralmente se crê que não eram amoreiras, senão outra classe de árvore,
provavelmente álamos, próprios de lugares úmidos, cujas folhas
sussurram com o mais leve movimento do vento. (Royle).
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2 Samuel 6

Vv. 1-5. DAVI TRAZ A ARCA DE QUIRIATE-JEARIM.


1. Tornou Davi a ajuntar todos os escolhidos de Israel — (Veja-
se 2Sm_5:1). O objetivo desta segunda assembleia foi o de começar um
movimento nacional para estabelecer a arca em Jerusalém, depois de ter
estado quase cinquenta anos na casa de Abinadabe (veja-se 1Cr_13:1-5).
2. Baalá de Judá — Uma companhia grande de homens
selecionados foi tomada para este trabalho, para que a empresa não fosse
obstruída pelos filisteus. Além disso, um grande grupo de pessoas os
acompanhavam devido a sua veneração pelo sagrado móvel. A viagem
até Baalá de Judá, que se relata em 1Cr_13:6, é aqui subentendido, e o
historiador relata o curso da procissão desde aquele lugar até a capital.
3. Puseram a arca de Deus num carro novo — Ou carruagem
coberta (veja-se 1Sm_6:7). Este era um proceder atrevido e irrefletido,
em violação de um estatuto positivo (veja-se Nm_4:14-15; Nm_7:9;
Nm_18:3).

Vv. 6-11. UZÁ MORRE.


6. chegaram à eira de Nacom — Ou do Quidom (1Cr_13:9). A
Versão Caldeia traduz: “vieram ao lugar preparado para a recepção da
arca”; quer dizer, perto da cidade de Davi (v. 13).
os bois tropeçavam — (veja-se também 1Cr_13:9). Temendo que a
arca estivesse em perigo de ser derrubada, Uzá, sob o impulso de um
sentimento momentâneo, colheu-a com a mão para afirmá-la. Quer seja
que a arca caísse e o esmagasse, ou que alguma doença repentina o
atacasse, ele caiu morto instantaneamente, e este triste evento não só
lançou uma sombra sobre a cena prazerosa, mas também deteve
completamente a procissão; e ali foi deixada a arca, nas cercanias da
capital. É de grande importância observar a severidade proporcional dos
castigos que vinham pela profanação da arca. Os filisteus sofreram
doenças, das quais foram aliviados por suas ofertas, porque a eles não
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 19
tinha sido dada a lei [1Sm_5:8-12]; os de Bete-Semes também sofreram,
mas não fatalmente [1Sm_6:19], pois seu erro foi cometido pela
ignorância. Mas Uzá, que era levita, e bem instruído, sofreu a morte por
sua violação da lei. A severidade da sorte do Uzá poderá nos parecer
grande demais para a natureza e grau da ofensa, mas não nos convém
fazer juízo sobre as dispensações de Deus; e além disso, é evidente que o
propósito divino era o de inspirar respeito por Sua majestade, submissão
à Sua lei, e uma profunda veneração pelos símbolos e ordenanças de Seu
culto.
9-10. Temeu Davi ao SENHOR, naquele dia — Seus sentimentos
por este juízo espantoso foram incitados grandemente por várias razões:
temendo que o desagrado de Deus tivesse sido provocado pelo traslado
da arca; que o castigo fosse estendido a ele e a seu povo; e que eles
pudessem cair em algum erro ou negligência durante o ulterior traslado
da arca. Resolveu, pois, esperar mais luz e direção quanto ao seu dever.
Se a princípio tivesse feito uma consulta por meio do Urim, certamente
teria tido uma boa orientação, enquanto que assim, em sua perplexidade
e dor, estava colhendo os frutos da desconsideração e negligência.
11. Obede-Edom, o geteu — Levita (1Cr_15:18, 21, 24; 1Cr_16:5;
1Cr_26:4). Chama-se geteu, por sua residência em Gate, ou mais
provavelmente em Gate-Rimom, uma das cidades levíticas (Js_21:24-
25).

Vv. 12-19. MAIS TARDE DAVI TRAZ A ARCA A SIÃO.


12. avisaram a Davi, dizendo: O SENHOR abençoou a casa de
Obede-Edom e tudo quanto tem, por amor da arca de Deus — O
lapso de três meses não só restaurou a mente agitada do monarca, a um
estado tranquilo e claro, mas o levou a descoberta de seu erro anterior.
Sabendo que a arca foi guardada em seu lugar temporário de descanso
não apenas sem inconveniente nem perigo mas com grande vantagem,
resolveu imediatamente trasladar à capital, com a observância de toda a
formalidade e solenidade devidas (1Cr_15:1-13). Foi desta vez
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 20
transportada sobre os ombros dos sacerdotes, que tinham sido
cuidadosamente preparados para a tarefa, e a procissão se distinguiu pela
solenidade extraordinária e as demonstrações de alegria.
13. quando os que levavam a arca do SENHOR tinham dado
seis passos — Alguns pensam que foram levantados rapidamente quatro
altares para oferecer os sacrifícios à distância de cada seis passos (veja-
se 1Cr_15:26).
14. Davi dançava … diante do SENHOR. — Os hebreus, como
outros povos antigos, tinham suas danças sagradas, que eram executadas
em seus aniversários solenes e em outras grandes ocasiões para
comemorar algum sinal especial da bondade e do favor divinos.
com todas as suas forças — colocando violentos esforços de saltar,
e despojado de seu manto real, conduta evidentemente incompatível com
a gravidade da ancianidade e com a dignidade de um rei. Mas
indubitavelmente foi feito como um ato de homenagem religiosa, suas
atitudes e vestes eram, como sempre foram nos países orientais,
simbólicas de penitência, alegria, gratidão e devoção [1Cr_15:27].
17. Introduziram a arca do SENHOR e puseram-na no seu
lugar, na tenda que lhe armara Davi — O velho tabernáculo ficou em
Gibeão (1Cr_16:39; 1Cr_21:29; 2Cr_1:3). Provavelmente não foi
trasladado por ser grande demais para o lugar temporário que o rei havia
provido, e porque ele estava pensando em edificar um templo.
18. abençoou o povo — No duplo caráter de profeta e rei (veja-se
1Rs_8:55-56). [Veja-se 1Cr_16:2.]
19. um bolo de pão — sem levedura e fininho.
pedaço de carne — assado de vaca.

Vv. 20-23. A ESTERILIDADE DE MICAL.


20. Mical, filha de Saul, saiu a receber a Davi (TB) — Orgulhosa
de sua origem real, saiu a repreender a seu marido por ter rebaixado a
dignidade da coroa, e por comportar-se mais como um trapaceiro que
como um rei. Mas seu sarcasmo incômodo foi rejeitado de uma maneira
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 21
que não podia ser agradável a seus sentimentos, enquanto que indicava a
cálida piedade e gratidão de Davi.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 22
2 Samuel 7

Vv. 1-3. NATÃ APROVA O PROPÓSITO DE DAVI DE


EDIFICAR UMA CASA A DEUS.
2. disse o rei ao profeta Natã: Olha, eu moro em casa de cedros
— O palácio que tinha edificado em Jerusalém, para o qual Hirão tinha
enviado homens e materiais, foi terminado. Era magnífico naquele
tempo, embora feito inteiramente de madeira, pois as casas nos países
quentes não requerem a solidez nem a espessura de paredes que são
necessários para as moradias e as regiões expostas à chuva e ao frio. O
cedro era a madeira mais rara e custosa. O piedoso Davi se afligia pela
elegância e o esplendor de seu palácio contrastados com o humilde
tabernáculo provisório em que a arca de Deus estava colocada.
3. Disse Natã ao rei: Vai, faze tudo quanto está no teu coração
— A piedade que revelava este propósito fez com que o profeta desse
sua pronta aprovação e incentivo aos planos do rei. Os profetas, quando
seguiam os impulsos de seus próprios sentimentos e formavam opiniões
conjeturais, caíam em frequentes erros. (Veja-se 1Sm_16:6; 2Rs_4:27).

Vv. 4-17. DEUS NOMEIA A SEU SUCESSOR PARA QUE A


EDIFIQUE.
4. Porém, naquela mesma noite, veio a palavra do SENHOR a
Natã — A ordem foi dada ao profeta na noite seguinte; quer dizer, antes
que Davi pudesse tomar medidas ou fazer gastos.
11. também o SENHOR te faz saber que ele, o SENHOR, te
fará casa — Como recompensa por seus bons propósitos, Deus
aumentaria e manteria a família de Davi, e asseguraria a sucessão do
trono para a sua dinastia. [Veja-se 1Cr_17:10].
12. farei levantar depois de ti o teu descendente, etc. — É costume
que o filho mais velho nascido depois da sucessão do pai ao trono o
suceda em sua dignidade de rei. Davi teve vários filhos com Bate-Seba,
nascidos depois de seu traslado a Jerusalém (2Sm_5:14-16; cf. 1Cr_3:5).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 23
Mas por ordenança especial e promessa de Deus seu sucessor tinha que
ser um filho nascido depois desta ocasião; e o sair do costume
estabelecido no Oriente de fixar a sucessão, não se poderá explicar por
outras razões, que não seja pelo cumprimento da promessa divina.
13. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei
para sempre o trono do seu reino — Esta declaração se referia, em sua
aplicação primária, a Salomão, e ao reino temporário da família de Davi.
Mas num sentido mais amplo e sublime, tinha em conta um Filho de
Davi de natureza distinta. (Heb_1:8). [Veja-se 1Cr_17:14.]

Vv. 18-29. ORAÇÃO E AÇÃO DE GRAÇAS DE DAVI.


18. Então, entrou o rei Davi na Casa do SENHOR, ficou
perante ele — Estar sentado era antigamente uma atitude de adoração.
(Êx_17:12; 1Sm_4:13; 1Rs_19:4). Quanto à atitude particular, Davi se
sentou, mais provavelmente, sobre seus calcanhares. Esta era a postura
dos antigos egípcios perante seus santuários; no Oriente esta é a postura
que indica mais profundo respeito diante dos superiores. Pessoas da mais
alta dignidade se sentam assim na presença de reis; e é a única atitude
assumida pelos modernos maometanos em seus lugares e ritos de
devoção.
19. isto é instrução para todos os homens, ó SENHOR Deus —
quer dizer: é costume que os homens mostrem tal condescendência a
pessoas tão humildes como eu o sou? (Veja-se 1Cr_17:17).
20. Que mais ainda te poderá dizer Davi? — Minhas obrigações
são maiores do que posso expressar.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 24
2 Samuel 8

Vv. 1, 2. DAVI SUBJUGA OS FILISTEUS, E IMPÕE TRIBUTOS


AOS MOABITAS.
1. Davi tomou a Metegue-Amá das mãos dos filisteus (RC) —
Isto é, Gate e seus subúrbios. (1Cr_18:1). Aquela cidade tinha sido um
“freio” por meio do qual os filisteus mantinham ao povo de Judá à
margem. Davi a usou desta vez como barreira para reprimir esse inimigo
inquieto.
2. Também derrotou os moabitas; fê-los deitar em terra e os
mediu: duas vezes um cordel — Isto se refere a uma prática bem
conhecida dos reis orientais, de ordenar que seus prisioneiros de guerra
se deitem no solo, especialmente os que se distinguem pela atrocidade de
seus crimes, ou pelo espírito indômito de resistência, e que pelo mesmo
exasperaram grandemente aos vencedores, depois do qual condenavam à
morte a certa porção deles, o que se determinava por sortes, mas mais
usualmente por uma cinta de medir. Nossa versão diz que matou a dois
terços deles, e perdoou a um terço. A LXX e a Vulgata dizem que foi a
metade. Esta uso de guerra, talvez não era praticada pelo povo de Deus;
mas uns escritores judeus afirmam que a causa desta severidade especial
foi que os moabitas tinham matado os pais e familiares de Davi, aos
quais ele, durante seu exílio, tinha confiado ao rei de Moabe.

Vv. 3-14. FERE A HADADEZER E OS SÍRIOS.


3. Zobá — (1Cr_18:3). Este reino estava limitado a leste pelo rio
Eufrates, e se estendia para o oeste desde aquele rio, talvez até Alepo ao
norte. Por muito tempo foi o principal entre os reinos menores da Síria, e
seu rei levava o título hereditário do Hadadezer (Hadade, quer dizer,
ajudado).
quando aquele foi restabelecer o seu domínio sobre o rio
Eufrates — Segundo as promessas de Deus a Israel, de que Ele lhes
daria todo o território até o rio Eufrates (Gn_15:18; Nm_24:17). Na
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 25
primeira campanha Davi o derrotou notavelmente, e, além do grande
número de prisioneiros, tomou dele grande quantidade de despojo em
carros e cavalos; reservando só um número pequeno destes, e jarretou
outros. A razão desta mutilação era que estando proibidos os cavalos aos
hebreus, tanto na guerra como na agricultura, era inútil tê-los; e seus
vizinhos dependiam muito da cavalaria, mas por falta de raça nativa, e
tendo que consegui-los por compra, o maior dano que poderia fazer-se a
esses inimigos, era o de tornar imprestáveis para a guerra os seus
cavalos. (Veja-se também Gn_46:6; Js_11:6, Js_11:9). Um rei da Síria
damascena veio em sua ajuda, mas Davi derrotou também estas forças
auxiliares, tomou possessão de seu país, pôs guarnições em suas cidades
fortificadas, e as fez pagar tributos.
9. Toí, rei de Hamate — Coele-Síria; no vale do Líbano. Para o
norte se estendia a cidade de Hamate, sobre o rio Orontes, a qual era
capital do país. O príncipe sírio, libertado do temor de um vizinho
perigoso, enviou a seu filho com valiosos obséquios para Davi,
felicitando-o por suas vitórias, e solicitando sua aliança e proteção.
10. Jeorão — Adorão (1Cr_18:10).
11. os quais também o rei Davi consagrou ao SENHOR — Os
príncipes orientais sempre estiveram acostumados a acumular grandes
quantidades de ouro. Este é o primeiro caso de uma prática
uniformemente seguida por Davi, de reservar, depois de pagar os gastos
e entregar a seus soldados recompensas apropriadas, o resto dos despojos
tomados em guerra, para acumular para o grande projeto de sua vida: a
edificação de um templo nacional em Jerusalém.
13. Ganhou Davi renome, quando, ao voltar de ferir os siros —
Em lugar de “sírios”, a LXX diz “edomitas”, a qual é a verdadeira
tradução como é evidente pelo v. 14. Esta conquista feita pelo exército
de Davi era devido ao hábil generalato e heroísmo de Abisai e Joabe
(1Cr_18:12; cf. Salmo 60, título). O vale era o vale do sal (o Ghor), junto
à Montanha do Sal, à extremidade sudoeste do Mar Morto, que separa os
antigos territórios de Judá e Edom. (Robinson).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 26
Vv. 15-18. SEU REINADO.
15. Reinou, pois, Davi … julgava e fazia justiça a todo o seu
povo — Embora ocupado em guerras estrangeiras, Davi mantinha um
excelente sistema de governo nacional; seu gabinete de ministros se
compunha dos homens mais eminentes de seu tempo.
16. Joabe … era comandante do exército — Em virtude de uma
promessa especial (2Sm_5:8).
cronista — Ou historiógrafo, posto de grande confiança e
importância no Oriente.
17. Zadoque … Abiatar, eram sacerdotes — Na matança de
sacerdotes em Nobe, Saul conferiu o sacerdócio a Zadoque, da família de
Eleazar (1Cr_6:50), enquanto que Davi reconheceu a Abiatar, da família
de Itamar, quem fugiu com ele. Os dois sumos sacerdotes exerciam seu
cargo sob os respectivos príncipes aos quais estavam aderidos. Quando
Davi obteve o reino de todo Israel, os dois retiveram sua dignidade,
oficiando Abiatar em Jerusalém, e Zadoque em Gibeão (1Cr_16:39).
18. quereteus (TB) — quer dizer, filisteus. (Sf_2:5).
peleteus (TB) — de Pelete (1Cr_12:3). Eram os homens valentes,
que, tendo acompanhado a Davi durante seu exílio entre os filisteus,
foram feitos seus guarda-costas.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 27
2 Samuel 9

Vv. 1-12. DAVI MANDA BUSCAR MEFIBOSETE.


1. Disse Davi: Resta ainda, porventura, alguém da casa de Saul?
— investigou-se e foi achado um mordomo de Saul, quem informou que
ainda tinha ficado Mefibosete, filho de Jônatas, quem tinha cinco anos
quando morreu seu pai, e a quem Davi, em exílio então, não tinha visto.
O fato de estar aleijado dos pés (2Sm_4:4) o havia impedido de tomar
alguma parte nos exercícios públicos de então. Além disso, segundo
opiniões orientais, o filho mais novo de um monarca coroado tem título
preferível para a sucessão ao de um filho do herdeiro aparente; e por este
motivo não se ouça seu nome mencionado como rival de seu tio Isbosete.
Sua insignificância deu lugar a que fosse perdido de vista, e foi
unicamente por meio do Ziba que Davi soube de sua existência, e da
vida retirada que levava com uma das grandes famílias na Canaã
transjordânica, que ficavam aderidas à dinastia caída. Mefibosete foi
convidado à corte, e foi apontado lugar na mesa real nos dias públicos,
como ainda é costume dos monarcas orientais. As posses da família de
Saul, que tinham tocado a Davi por direito de sua esposa (Nm_27:8), ou
cujo direito tinha perdido em favor da coroa por causa da rebelião de
Isbosete (2Sm_12:8), foram devolvidos a Mefibosete para que pudesse
viver de acordo com sua categoria, e Ziba foi nomeado mordomo para
dirigir a propriedade, sob a condição de receber a metade do produzido
como remuneração por seu trabalho, enquanto a outra metade seria paga
como aluguel ao dono da terra (2Sm_19:29).
10. Ziba quinze filhos e vinte servos — A menção de seus filhos e
escravos de sua casa foi feita para mostrar que Mefibosete foi honrado
ao ser considerado “como um dos filhos do rei”
12. Tinha Mefibosete um filho pequeno, cujo nome era Mica —
Se nasceu antes ou depois de sua residência em Jerusalém, não se pode
saber, mas por meio dele foram conservados o nome e a lembrança do
excelente Jônatas. (cf. 1Cr_8:34-35; 1Cr_9:40-41).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 28
2 Samuel 10

Vv. 1-5. MENSAGEIROS QUE DAVI ENVIOU A HANUM SÃO


TRATADOS VERGONHOSAMENTE.
2. disse Davi: Usarei de bondade para com Hanum, filho de
Naás, como seu pai usou de bondade para comigo — É provável que
este seja o Naás contra quem Saul fez guerra em Jabes-Gileade
(1Sm_11:11). Ao sair Davi de Gate, onde sua vida perigava, achou asilo
com o rei de Moabe; e como Naás, rei dos amonitas, era seu vizinho
mais próximo, talvez por inimizade com aquele, tenha sido bondoso e
hospitaleiro com Davi quando este fugia de Saul.
3. os príncipes dos filhos de Amom disseram a seu senhor,
Hanum — Sua suspeita não era justificada por atos nem por planos de
Davi; deve ter tido origem em seu conhecimento das denúncias da lei de
Deus contra eles (Dt_23:3-6) e do costume de Davi de ser muito apegado
a isso.
4. Tomou, então, Hanum os servos de Davi, e lhes rapou metade
da barba — Como os hebreus e outros orientais usavam vestidos
longos, o cortar suas roupas deve ter-lhes dado um aspecto ridículo e de
indelicadeza grosseira. Além disso, sabendo o respeito extraordinário e o
valor que sempre tem sido atribuído à barba no Oriente, pode-se explicar
a vergonha que sentiram os mensageiros, e o decidido espírito de
vingança que estalou em todo o Israel ao saber deste ultraje. Na história
moderna da Pérsia, conta-se de dois casos de insultos similares por reis
de gênio orgulhoso e altivo que envolveram a nação em guerra; e pelo
mesmo motivo não é preciso surpreender-se de que Davi jurou vingança
por este ultraje imperdoável e público.
5. Deixai-vos estar em Jericó — ou nos arredores, depois de
cruzar os vaus do Jordão.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 29
Vv. 6-14. OS AMONITAS VENCIDOS.
6. Vendo, pois, os filhos de Amom que se haviam tornado
odiosos a Davi — Para castigar a esses amonitas insolentes e inóspitos,
que tinham violado a lei comum das nações, Davi enviou um exército
grande sob o comando de Joabe, enquanto eles, informados do iminente
ataque, fizeram preparativos enérgicos para repeli-lo contratando o
serviço de um número imenso de mercenários sírios.
Bete-Reobe — capital de uma região baixa entre o Líbano e o Anti-
Líbano.
Zobá — (veja-se 2Sm_8:3).
do rei de Maaca — Seus territórios estavam do outro lado do
Jordão, perto de Gileade (Dt_3:14).
doze mil de Tobe — quer dizer, os homens de Tobe, lugar das
aventuras de Jefté (veja-se também 1Cr_19:6; Salmo 60, título). Como
os soldados israelitas se esparramavam no território amonita, aquele
povo os encontrou juntou à cidade fronteiriça da Medeba (1Cr_19:7-9),
sendo a cidade coberta pelas tropas nativas, enquanto que os mercenários
sírios estavam acampados a certa distância no campo. Ao fazer o ataque,
Joabe dividiu suas forças em dois, um destacamento, sob o comando de
seu irmão Abisai, tinha que concentrar o ataque contra a cidade,
enquanto que ele mesmo partia contra o poderoso exército dos auxiliares
mercenários. Foi uma guerra justa e necessária, que tinha sido imposta a
Israel, e eles podiam esperar a bênção de Deus sobre suas armas. Com
bom critério, a batalha se empreendeu com os mercenários, os quais não
puderam resistir a furiosa investida, e não sentindo que a causa fosse
dela, buscaram a segurança fugindo. Os amonitas, que haviam posto sua
principal dependência na ajuda estrangeira, retiraram-se para
entrincheirar-se dentro das muralhas da cidade.
14. Joabe parou de lutar … e voltou para Jerusalém—(NTLH)
— Provavelmente o tempo era muito avançado para empreender um sítio
da cidade.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 30
Vv. 15-19. OS SÍRIOS VENCIDOS.
16. Hadadezer mandou chamar os sírios que estavam no lado
leste do rio Eufrates — Este príncipe tinha desfrutado de um tempo
para respirar depois de sua derrota (1Sm_8:3), e alarmado pelo crescente
poderio e grandeza de Davi, e sendo também aliado dos amonitas, juntou
um enorme exército, não só em seu reino, mas também na Mesopotâmia,
para invadir o reino hebreu. Sobaque, seu general, em prosseguimento
deste plano, tinha partido com suas tropas até Helã, cidade fronteiriça de
Manassés oriental, quando Davi, cruzando o Jordão a marchas forçadas,
repentinamente os surpreendeu, derrotando-os e dispersando-os. O
resultado desta grande vitória decisiva foi que todos os pequenos reinos
da Síria se submeteram, e chegaram a pagar tributos a Davi (veja-se 1
Cr_19:1).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 31
2 Samuel 11

1. JOABE SITIA RABÁ.


no tempo em que os reis costumam sair para a guerra — A
volta da primavera era a ocasião usual para começar as operações
militares. Esta expedição foi feita no ano depois da guerra contra os
sírios; e foi empreendida porque o desastre da campanha anterior tinha
caído principalmente sobre os mercenários sírios, e os amonitas não
tinham sido castigados por seu insulto aos embaixadores.
enviou Davi a Joabe, e seus servos … que destruíram os filhos
de Amom — O poderoso exército de Joabe assolou o país amonita, e
cometeu grandes destroços em seus habitantes e suas propriedades, até
que chegando à capital,
sitiaram Rabá — Rabá significa cidade grande. Esta metrópole dos
amonitas estava situada na região montanhosa de Gileade, não longe das
fontes do rio Arnom. Ainda existem ruínas deste lugar.

Vv. 2-12. DAVI COMETE ADULTÉRIO COM BATE-SEBA.


2. Uma tarde, levantou-se Davi do seu leito — Os hebreus, como
outros orientais, levantavam-se na aurora, mas sempre dormiam sesta à
hora que o calor do dia era mais forte, e depois descansavam sobre seus
eirados no ar fresco das tardes. É provável que nesta ocasião Davi tivesse
subido para desfrutar do ar fresco mais cedo que de costume.
3. Disseram-lhe — lit. “ele disse”: “Não é esta Bate-Seba”, etc.
Parece ter sido uma mulher célebre por sua beleza cujo renome já tinha
chegado aos ouvidos de Davi, como sucede no Oriente, pois as
informações são levadas pelas mulheres de um harém a outro.
Bate-Seba, filha da Eliã — de Amiel (1Cr_3:5), um dos nobres de
Davi (2Sm_23:34) e filho de Aitofel.
4. enviou Davi mensageiros que a trouxessem; ela veio, e ele se
deitou com ela — Quando os reis despóticos do Oriente se empenham
em possuir uma mulher, enviam um oficial à casa onde vive, e anuncia
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 32
que o rei deseja que se traslade ao palácio. Ali lhe designa um
compartimento; e se for constituída reina, o monarca ordena que se
anuncie que ele a escolheu para ser reina. Muitos casos na história
moderna do Oriente, mostram a facilidade e prontidão com que se
contraem estes casamentos secundários, e se acrescenta uma beleza mais
ao harém real. Mas Davi teve que fazer uma promessa, ou antes, uma
estipulação expressa a Bate-Seba, antes que ela cedesse à sua vontade
(1Rs_1:13, 15, 17, 28); porque além de sua transcendente beleza, ela
parece ter sido uma mulher de talentos e capacidades superiores por sua
maneira de conseguir o objeto de sua ambição; por sua astúcia para obter
que seu filho sucedesse ao trono; por sua prontidão em dar aviso de sua
concepção; por sua atividade em frustrar a natural expectação de
Adonias de suceder no trono; por sua dignidade como mãe do rei—
vemos fortes indicações do domínio que ela exercia sobre Davi, quem,
talvez teve suficiente tempo e oportunidade para descobrir de muitas
maneiras o castigo desta infeliz união. (Taylor, Calmet).
5. A mulher concebeu e mandou dizer a Davi — Era necessário
tomar algumas medidas imediatas para ocultar o seu pecado, tanto para a
honra do rei como para a segurança dela, porque a morte era o castigo
das adúlteras (Lv_20:10).
Depois, disse Davi a Urias: Desce a tua casa — Esta repentina
mudança na conduta do rei, suas perguntas frívolas (v. 7) e a urgência de
que Urias dormisse em sua própria casa, provavelmente despertaram
suspeitas a respeito da causa deste proceder.
enviaram-lhe um presente da mesa real — O fato de se enviar
uma porção de carne da mesa real à casa ou alojamento de alguém é um
dos maiores cumprimentos que um príncipe oriental pode tributar.
9. Porém Urias se deitou à porta da casa real — É costume que
os servos durmam no vestíbulo ou galeria longa; e os guardas do rei
hebreu faziam o mesmo. Quaisquer que tenham sido suas suspeitas, a
negação de Urias para ir desfrutar das delícias caseiras e sua decisão de
dormir “à porta da casa real”, nasceu (v. 11) de um nobre e honorável
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 33
sentido do dever e da disciplina militar. Mas, sem dúvida, a resolução de
Urias foi rebatida por aquela providência que tira bem do mal, e que
conservou este triste episódio para advertência dos crentes.

Vv. 14-27. URIAS É MORTO.


14, 15. Davi escreveu uma carta a Joabe e lha mandou por mão
de Urias … Ponde Urias na frente da maior força da peleja —
Fracassaram as várias artes e estratagemas que o rei usou para enrolar a
Urias, até que enfim recorreu ao horrível crime do assassinato. A
crueldade a sangue frio de mandar a carta pela própria mão do valente
mas muito contestado soldado, o dispor de Joabe como partícipe de seu
pecado, a hipócrita manifestação de luto, e a prontidão indecente de seu
casamento com Bate-Seba, deixaram uma mancha indelével no caráter
de Davi, e demonstram uma prova dolorosamente humilhante do
extremo a que chegam os melhores homens, quando lhes falta a graça
refreadora de Deus.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 34
2 Samuel 12

Vv. 1-6. A PARÁBOLA DE NATÃ.


1. O SENHOR enviou Natã a Davi — O uso de parábolas é um
estilo favorito de falar entre os orientais, especialmente para participar
verdades indesejadas. Esta parábola esquisitamente patética se baseou
num costume comum do povo pastoril, que têm cordeiros mimados que
criam junto com os meninos, e aos quais falam em termos carinhosos. A
atrocidade da verdadeira ofensa, entretanto, excedeu muito à ofensa
fictícia.
5. o homem que fez isso deve ser morto — Este castigo foi mais
severo do que o caso merecia, ou mais severo do que ordenava o estatuto
divino (Êx_22:1). As simpatias do rei tinham sido ganhas, sua
indignação despertada, mas sua consciência ainda estava adormecida; e
no tempo em que ele estava fatalmente indulgente para com seus
próprios pecados, estava preparado a condenar os delitos e erros de
outros.

Vv. 7-23. NATÃ APLICA A PARÁBOLA A DAVI, QUEM


CONFESSA SEU PECADO E É PERDOADO.
7. disse Natã a Davi: Tu és o homem — Estas terríveis palavras
transpassaram seu coração, despertaram sua consciência, e o fizeram cair
de joelhos. A sinceridade e profundidade de sua penitente tristeza se
podem ver nos Salmos que ele compôs (Sl_32:1-11; Sl_51:1-19;
Sl_103:1-22). Foi perdoado no que se relacionava à restauração ao favor
divino. Mas como por sua alta fama pela piedade, e seu eminente lugar
na sociedade, sua deplorável queda causaria um grande dano à causa da
religião, foi necessário que Deus testificasse seu aborrecimento ao
pecado deixando que até seu servo colhesse os amargos frutos
temporários. O próprio Davi não foi condenado conforme a sua própria
opinião do que a justiça exigia (2Sm_12:5); mas teve que sofrer uma
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 35
expiação quádrupla na morte sucessiva de quatro filhos, além de uma
prolongada sequela de outros males.
8. dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em
teus braços — A fraseologia não significa nada mais do que Deus em
Sua providência tinha dado a Davi, como rei de Israel: tudo o que era de
Saul. A história dá uma evidência concludente de que realmente nunca
casou com nenhuma das mulheres de Saul. O harém do rei anterior
pertence a seu sucessor segundo as ideias orientais, como uma regalia.
11. Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, etc. —
O profeta fala por Deus ameaçando fazer somente o que Ele permitia que
se fizesse. O fato é que a perda de caráter de Davi pela descoberta de
seus crimes, tendia, no curso natural das coisas, a diminuir o respeito de
sua família, debilitar a autoridade de seu governo e alentar o predomínio
das desordens por todo seu reino.
15-23. o SENHOR feriu a criança … e a criança adoeceu
gravemente — O primeiro castigo visível sobre Davi apareceu na
pessoa daquele menino que era a evidência e a lembrança de sua
culpabilidade. Seus servos se surpreenderam por sua conduta, e em
explicação da singularidade dela, é necessário dizer que o costume no
oriente é, a de deixar aos parentes mais próximos do finado sumidos em
sua tristeza sem incomodá-los até o terceiro ou quarto dia (Jo_11:17);
outros parentes ou amigos o visitam, convidam-no a comer, conduzem-
no a um banho, lhe trazem uma muda de roupa, o qual é necessário
porque ficou sentado ou deitado na terra. Então, a surpresa dos servos de
Davi, os quais tinham visto sua amarga angústia enquanto o menino
estava doente, resultou evidentemente disto: que quando soube que
estava morto, aquele que tinha lamentado tão profundamente, levantou-
se da terra, sem esperar que eles viessem em busca dele, imediatamente
tomou banho e se ungiu, sem aparecer como enlutado, e depois de adorar
a Deus com solenidade, voltou a tomar sua comida habitual, sem
nenhuma interposição de outros.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 36
Vv. 24, 25. NASCE SALOMÃO.
24. Bate-Seba … teve ela um filho a quem Davi deu o nome de
Salomão — quer dizer, pacífico. Mas por mandado de Deus, ou talvez
como expressão do amor de Deus Natã lhe deu o nome do Jedidias. Esta
prova do amor de Deus e os nobres dons com que dotou a Salomão,
considerando o pecaminoso casamento de seus pais, é um notável
exemplo da bondade e a graça de Deus.

Vv. 26-31. RABÁ É TOMADA.


26. Joabe pelejou contra Rabá (TB) — O tempo durante o qual se
fazia este sítio, do tratamento com Bate-Seba e o nascimento de um
filho, senão dois, ocorrido durante o desenvolvimento do mesmo,
provavelmente se estendeu por dois anos.
27. a cidade das águas — Rabá, como Aroer, estava dividida em
duas partes—a cidade inferior, isolada pelo curso tortuoso do rio
Jaboque, que fluía quase a seu redor, e a superior e mais forte, chamada a
cidade real. “A primeira foi tomada por Joabe, mas a honra de tomar
lugar tão fortemente defendido como o era a outra parte, era uma honra
reservada para o próprio rei”.
28. cerca a cidade, e toma-a — Sempre foi característico dos
monarcas orientais o monopolizar as honras militares; e como o mundo
antigo não sabia nada da delicadeza dos reis modernos que ganham
vitórias por meio de seus generais, Joabe chamou Davi para que
comandasse o assalto final em pessoa. Sem muita dificuldade Davi
capturou a cidade real, e tomou posse de imensas riquezas.
para não suceder que, tomando-a eu, se aclame sobre ela o meu
nome — A circunstância de que uma cidade receba nome novo por
algum grande personagem, como Alexandria, Constantinopla,
Hyderabad, ocorre frequentemente na história antiga e moderna do
Oriente.
30. Tirou a coroa da cabeça do seu rei — Enquanto que os
tesouros da cidade foram dados aos soldados como despojo, Davi
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 37
reservou para si a coroa, que era de valor precioso. Pelo peso dela, é
provável que ficou suspensa sobre a cabeça, ou que estivesse fixa num
dossel sobre o trono.
pedras preciosas — Heb. “pedra”, uma bola redonda composta de
pérolas e outras joias, que estavam na coroa, e provavelmente tiradas
para ser postas na de Davi.
31. Trazendo o povo que havia nela, fê-lo passar a serras, etc. —
Esta excessiva severidade e o emprego de torturas, que não se tem
lembrança que os hebreus tenham praticado em nenhuma outra ocasião,
foi um ato de justiça retributiva num povo que tinha má reputação pelas
crueldades que praticava (1Sm_11:2; Am_1:13).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 38
2 Samuel 13

Vv. 1-5. AMNOM AMA A TAMAR.


1. Tamar — filha de Davi e Maaca (2Sm_3:3).
2. sendo ela virgem — As filhas solteiras eram tidas em rigorosa
separação da companhia dos varões; não sendo permitido que as vissem
os estranhos, nem mesmo os parentes, sem a presença de testemunhas. É
claro que Amnom tinha visto a Tamar, porque se tinha despertado nele
uma paixão violenta por ela, a qual, ainda que proibida pela lei
(Lv_18:11), mas com a sanção do exemplo de Abraão (Gn_20:12) e a
prática comum nos países vizinhos de que os príncipes se casassem com
suas meias-irmãs, Amnom não considerava imprópria a relação. Mas ele
não tinha maneira de fazer com que ela soubesse do assunto, e agindo
em sua mente a dor desse contratempo se produziu uma mudança visível
em sua aparência e saúde.
3. Jonadabe, filho de Simeia — Ou Sama (1Sm_16:9). Por
conselho e maquinação deste intrigante primo urdiram um plano para
obter com ela uma entrevista sem restrições e lhe mostrar seu amor.
4. irmã de Absalão, meu irmão — Nos países orientais, onde
prevalece a poligamia, considera-se que as meninas estão sob o cuidado
e proteção especiais de seus irmãos uterinos, os quais são os guardiões
de seus interesses e sua honra, ainda mais que o próprio pai delas (veja-
se Gn_34:6-25).

Vv. 6-27. AMNOM A ESTUPRA.


6. Deitou-se Amnom na cama, e fingiu que estava doente (TB)
— Os orientais são muito adeptos a fingir doença, sempre que têm algum
objetivo a obter.
que minha irmã Tamar venha e prepare dois bolos à minha
presença — Amnom falou ao rei de Tamar como “minha irmã” termo
artificiosamente usado para despistar a seu pai; a petição parecia tão
natural, e como o apetite delicado de um doente precisa ser mimado, o
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 39
rei prometeu enviá-la. Os “bolos” parece que eram um tipo de pão
delicado, na preparação do qual as damas orientais têm especial deleite.
Tamar, adulada pelo convite, não perdeu tempo em fazer o serviço
pedido em casa de seu irmão doente.
12-14. não me forces — As súplicas e argumentos de Tamar eram
tão sensíveis e fortes, que, se não tivesse sido incitado Amnom por sua
paixão sensual da qual tinha chegado a ser escravo, poderiam ter
prevalecido com ele para que desistisse de seu propósito infame. O fato
de lhe pedir, entretanto “que fales ao rei, porque não me negará a ti”, é
provável que ela solicitasse isto como seu último recurso, dizendo-lhe
qualquer coisa que ela pensava que o agradaria, com o fim de escapar de
suas mãos no momento.
15. Depois, Amnom sentiu por ela grande aversão — Não é
inusitado que as pessoas agitadas por paixões violentas e irregulares
passem de um extremo a outro. No caso do Amnom a repentina reação
se explica facilmente. A atrocidade de sua conduta, com todos os
sentimentos de vergonha, remorso, temor ao escândalo, e castigo, agora
se apresentou a sua mente, fazendo com que a presença de Tamar lhe
resultasse intoleravelmente dolorosa.
17. fecha a porta após ela — A porta da rua das casas no Oriente
está sempre trancada com trancas de madeira. Nas grandes casas, onde
um porteiro está do lado de fora, dispensa-se esta precaução. A
circunstância, pois, de que um príncipe desse uma ordem tão fora do
comum, demonstra a veemente perturbação da mente de Amnom.
18. roupa de muitas cores (RC) — Como o bordado nos tempos
antigos era a ocupação das damas de alta categoria, a posse destes
objetos de cores variados era sinal de distinção. Eram levadas
exclusivamente pelas jovenzinhas de condição real. Desde que a arte de
fabricar tecidos de cor tem feito tanto progresso, os vestidos desta
descrição variada são mais comuns no Oriente.
19. Tamar tomou cinza sobre a sua cabeça, e a roupa de muitas
cores que trazia rasgou, e pôs as mãos sobre a cabeça, e foi-se
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 40
andando e clamando — quer dizer, soluçando. Os costumes orientais
provavelmente não veriam senão um forte sentido da ofensa que ela
tinha sofrido, se Tamar realmente rasgou sua roupa. Mas, como não se
menciona seu véu, é provável que Amnom a tivesse expulsado sem ele, e
que ela levantasse suas mãos com o propósito de esconder seu rosto. Por
estes sinais, especialmente a ruptura de sua roupa distintiva, Absalão
imediatamente suspeitou o que tinha acontecido. Recomendando a ela
que se calasse e não publicasse sua desonra e a da família, ele não
mencionou isso perante Amnom. Mas o tempo todo esteve “alimentando
a chama de sua ira”, e esperando seu tempo para vingar as injustiças de
sua irmã, e para tirar do herdeiro a coroa, talvez para favorecer seus
propósitos ambiciosos.
20. Assim ficou Tamar e esteve desolada em casa de Absalão,
seu irmão — Ele era seu protetor natural, pois os filhos de polígamos
viviam à parte, como se constituíssem famílias diferentes.
23. Absalão, que tinha tosquiadores em Baal-Hazor, junto a
Efraim — A festa da tosquia é sempre grande ocasião no Oriente.
Propondo Absalão dar tal festa em sua fazenda em Baal-Hazor, cerca de
doze quilômetros e meio a nordeste de Jerusalém, perto de uma aldeia
chamada Efraim (Js_11:10), convidou primeiro o rei e sua corte; mas
pelo fato de o rei se recusar, por causa dos pesados gastos que causaria
ao filho a recepção da realeza [2Sm_13:25], então limitou Absalão o
convite aos filhos do rei [2Sm_13:26], ao que Davi prontamente deu sua
aprovação, com a esperança de que tenderia a promover a harmonia e a
união fraternal.

Vv. 28-36. AMNOM É MORTO


28. Absalão deu ordem aos seus moços, dizendo: ... quando o
coração de Amnom estiver alegre de vinho … então, o matareis. Não
temais — Ao sinal lembrado de antemão, lançando os servos sobre
Amnom, mataram-no junto à mesa, enquanto outros irmãos, horrorizados
e temendo uma matança geral, fugiram com muita pressa a Jerusalém.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 41
29. cada um montou seu mulo — Este era o modo favorito de viajar
dos grandes. O rei Davi mesmo tinha seu mulo de estado. Os mulos da
Síria são superiores aos nossos em atividade, força e capacidade.
30. chegou a notícia a Davi: Absalão feriu todos os filhos do rei
— Foi natural que na consternação e o tumulto causados por um fato tão
atroz, chegasse a corte um relatório tão exagerado, pelo qual o rei
mergulhou em profunda dor e desespero. Mas a informação de Jonadabe,
quem parece ter estado informado do plano e da chegada dos demais
príncipes, fizeram conhecer o verdadeiro alcance da catástrofe.

Vv. 37-39. ABSALÃO FOGE A TALMAI.


37. Absalão, porém, fugiu e se foi a Talmai — A lei que
condenava o homicídio premeditado (Nm_35:21) não lhe dava nenhuma
esperança de poder ficar no país com impunidade; as cidades de refúgio
não podiam lhe dar asilo, e se viu obrigado a sair do reino, refugiando-se
na corte de Gesur, com seu avô materno, quem, sem dúvida, aprovaria
sua conduta.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 42
2 Samuel 14

Vv. 1-21. JOABE INSTRUI A UMA MULHER DE TECOA.


2. Enviou Joabe a Tecoa, e fez trazer de lá uma mulher sábia
(TB) — O rei estava muito apegado a Absalão; e tendo passado já sua
dor pela morte violenta de Amnom, desejava desfrutar novamente da
companhia de seu filho favorito, quem tinha estado ausente fazia três
anos. Mas o temor à opinião pública e a consideração pelos interesses
públicos, fizeram que vacilasse em chamar e perdoar a seu filho culpado;
de modo que Joabe, cuja mente perspicaz via a luta entre o afeto paternal
e o dever real, ideou um plano para o livrar destes escrúpulos, e ao
mesmo tempo satisfazer os desejos de seu senhor. Tendo conseguido
uma mulher camponesa de grande inteligência e graça, ordenou-lhe que
pedisse audiência com o rei, e ela, solicitando a real intervenção no
acerto de uma ofensa doméstica, convenceu-o de que a vida de um
homicida podia ser salva em alguns casos. Tecoa estava a 19 quilômetros
ao sul de Jerusalém, e a nove e meio de Belém. O motivo de trazer uma
mulher de tal distância, era o de evitar que a peticionária fosse
conhecida, ou que a verdade de seu relato fosse facilmente investigada.
Seu discurso foi em forma de parábola em circunstâncias, em linguagem,
e maneiras, apto para a ocasião; representava um caso tão parecido ao de
Davi como era prudente fazê-lo, para que não fosse prematuramente
descoberto. Tendo conseguido a promessa do rei, ela declarou que seu
motivo era o de satisfazer a consciência real de que ao perdoar Absalão,
ele não fazia nada mais do que teria feito em caso de um desconhecido,
no qual não poderia haver nenhuma imputação de parcialidade. A
estratagema teve êxito; Davi traçou a origem da mesma a Joabe; e,
secretamente agradado de ter o juízo daquele soldado rude, mas
geralmente sensato, comissionou-o para que fosse a Gesur, e trouxesse
para casa a seu filho banido.
7. apagarão a última brasa que me ficou — A vida do homem se
compara nas Escrituras a uma luz. Apagar a luz de Israel (2Sm_21:17) é
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 43
destruir a vida do rei; ordenar uma lâmpada para alguém (Sl_132:17) é
lhe conceder posteridade; apagar um brasa significa aqui a extinção da
única esperança que restava a esta mulher de que o nome e a família de
seu marido seriam preservados. A figura é bela: um brasa viva, sob um
montão de cinzas com brasas, era tudo o que ela possuía para acender de
novo o seu fogo, para acender sua lâmpada em Israel.
9. Respondeu a mulher de Tecoa ao rei: Sobre mim, ó rei meu
senhor, recaia a culpa (TB) — quer dizer, a iniquidade de refrear o
curso da justiça e de perdoar a um homicida, a quem o Goel—
vingador—estava obrigado a matar onde quer que o achasse, menos
numa cidade de refúgio. Isto era exceder a prerrogativa real e agir em
caráter de monarca absoluto. A linguagem da mulher se refere a uma
precaução comum tomada pelos juízes hebreus, de transferir
solenemente a responsabilidade do sangue que eles condenavam a ser
derramado, aos acusadores ou aos criminosos (2Sm_1:16; 3:28), e
algumas vezes os acusadores tomavam sobre si (Mt_27:25).
13-17. Por que pensas tu doutro modo contra o povo de Deus?,
etc. — Seu argumento poderá esclarecer-se na seguinte paráfrase: Tu me
concedeste o perdão de um filho que tinha matado a seu irmão, e ainda
não queres conceder a seus súditos a restauração de Absalão, cuja
culpabilidade não é maior que a de meu filho, visto que ele matou a seu
irmão em circunstâncias similares de provocação. Absalão tem motivo
para queixar-se de que ele seja tratado por seu próprio pai mais austera e
severamente que o súdito mais humilde do reino; e toda a nação terá
motivo para dizer que o rei presta mais atenção à petição de uma
humilde mulher que aos desejos de todo um reino. A morte de meu filho
é uma perda só para minha família, enquanto que a preservação de
Absalão é de interesse comum para todo Israel, que agora o olha como
sucessor ao trono.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 44
Vv. 22-33. JOABE TRAZ ABSALÃO A JERUSALÉM.
22. Hoje, reconheço que achei mercê diante de ti, ó rei, meu
senhor — Joabe deixa ver não pouco egoísmo em sua profissão de
alegria por este ato de graça para com Absalão, e se adula de que agora
tenha posto tanto o pai como o filho sob obrigações permanentes. Na
consideração deste ato de Davi, podem apresentar-se muitas
circunstâncias atenuantes em favor dele: a provocação dada a Absalão;
sua estadia num país onde a justiça não poderia alcançá-lo; o risco de
receber amor pelos princípios e culto pagãos; a segurança e interesses do
reino hebreu; junto com uma grande preferência do povo hebreu para
com Absalão, representada pelo estratagema de Joabe; estas
considerações formam uma apologia plausível pela concessão de perdão
por Davi a seu filho manchado de sangue. Mas ao conceder este perdão,
ele agia segundo o caráter de um déspota oriental, em vez de como rei
constitucional sobre Israel. Os sentimentos do pai triunfaram sobre o
dever do rei, quem, como o magistrado supremo, estava obrigado a
executar justiça imparcial em todo homicida, pela lei implícita de Deus
(Gn_9:6; Nm_35:30-31), a qual não lhe dava faculdade de dispensar
(Dt_18:18; Js_1:8; 1Sm_10:25).
25. Não havia, porém, em todo o Israel homem tão celebrado
por sua beleza como Absalão — Esta popularidade extraordinária
resultou não só de seu espírito ilustre e suas maneiras corteses, mas sim
de sua aparência bela fora do comum, um rasgo do qual, objeto de
grande admiração, era a profusão de cabelo bonito. Sua abundância
extraordinária o obrigava a cortá-lo “no fim de cada ano”, quando
chegava a pesar 200 siclos, ou seja em torno de três quilos, mas como
era pesado em siclos “segundo o peso real”, os quais eram menos que o
siclo comum, o peso deve ter sido menos, talvez 1,5 kg (Bockart), ou
menos.
28. Esteve Absalão por espaço de dois anos em Jerusalém sem
apresentar-se perante o rei (TB) — Quer seja que Davi cometesse
algum erro ao autorizar a volta de Absalão ou não, mostrou muita
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 45
prudência e domínio de seus sentimentos mais tarde, porque seu filho
não foi admitido perante sua presença, antes, foi limitado a permanecer
em sua própria casa e na sociedade de sua própria família. Esta pequena
severidade tinha por fim conduzi-lo ao arrependimento sincero, ao ver
que seu pai não lhe tinha perdoado plenamente, como também convencer
ao povo do aborrecimento de Davi pra com o pecado. Não sendo
permitido aparecer na corte nem adotar nenhum estado principesco, os
cortesãos se mantinham afastados dele; até seus primos não criam
prudente frequentar sua companhia.
Por dois anos sua liberdade estava mais restringida, e sua vida mais
separada de seus compatriotas em Jerusalém, que quando vivia em
Gesur. Tivesse podido continuar por mais tempo em desonra, se não
houvesse resolvido chamar a atenção de Joabe sobre seu caso, por meio
da violência; e (v. 30) pela influência e bondade de Joabe foi efetuada
uma completa reconciliação entre Absalão e seu pai.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 46
2 Samuel 15

Vv. 1-9. ABSALÃO ROUBA O CORAÇÃO DO POVO.


1. Absalão adquiriu para si um carro, e cavalos, e cinquenta
homens que corressem adiante dele — Isso era assumir o estado e
dignidade de príncipe. Os guardas reais, chamados corredores, chegavam
a cinquenta (1Rs_1:5). O carro, como indica o hebraico, era de estilo
magnífico; e os cavalos, uma novidade entre o povo hebreu, introduzidos
naquele tempo como pertinência da realeza (Sl_32:9; Sl_66:12),
formavam uma comitiva tão esplêndida, que fizeram com que Absalão
fosse visto por todos.
2. Levantando-se Absalão cedo, parava à entrada da porta —
Os negócios públicos no Oriente sempre se tratam de manhã cedo,
sentando os reis uma hora ou mais para ouvir causas ou receber petições,
num juízo celebrado antigamente e ainda em muitos lugares, ao ar livre,
na porta da cidade; de modo que, aqueles cujas circunstâncias os
levavam a ir ao rei Davi, precisavam assistir a estas recepções de
amanhã, e Absalão tinha que levantar-se cedo e estar ao lado do caminho
que conduzia à porta. Pela crescente fraqueza de sua ancianidade, ou as
ocupações do governo nas guerras estrangeiras, muitas causas
particulares tinham ficado sem decisão, e um profundo sentimento de
insatisfação prevalecia entre o povo. Este descontentamento era
astutamente fomentado por Absalão, quem atendia os demandantes, e
depois de ouvir o seu relato, agradava a cada um com uma opinião
favorável de sua causa. Ocultando cuidadosamente os seus propósitos
ambiciosos, expressou o desejo de ser investido com poder oficial para
acelerar o curso da justiça e adiantar os interesses públicos. Suas
profissões possuíam a aparência de uma generosidade e um desinteresse
extraordinários; por isso, e por seus artes aduladoras de prodigalizar
cumprimentos a todos, converteu-se no favorito do povo. Assim,
esforçando-se em mostrar um contraste entre seu próprio desdobramento
para tratar os assuntos públicos e o proceder lento da corte, fez com que
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 47
o povo considerasse o governo de seu pai como fraco, descuidado e
corrupto, e seduzia os afetos da multidão, a qual não se dava conta dos
motivos nem previa a tendência da conduta de Absalão.
7. Ao fim de quarenta anos (RC, TB, ASV, AV, NKJV) — De
modo general se reconhece que aqui há um erro e que em vez de
“quarenta”, se deve dizer “quatro anos” [BJ, RA, RSV], de acordo com
as Versões Siríaca e Arábica, e com Josefo — quer dizer, desde a volta
de Absalão a Jerusalém, até que começou a procurar granjear a
popularidade.
cumprir o voto que fiz ao SENHOR — Feito durante seu desterro
em Gesur; e o conteúdo do voto era, que quando Deus lhe preparasse o
caminho para seu estabelecimento de novo em Jerusalém, ofereceria um
sacrifício de ação de graças. Hebrom era o lugar escolhido para o
cumprimento deste voto, ostensivamente por ser o lugar de seu
nascimento (2Sm_3:3), e um famoso lugar alto, onde frequentemente se
ofereciam sacrifícios antes de o templo ser edificado; mas na realidade,
por ser em muitos sentidos, o lugar mais conveniente para o começo de
sua empresa sediciosa. Davi, quem sempre fomentava a piedade, e
desejava ver cumpridas pontualmente as obrigações religiosas, deu seu
consentimento e bênção.

Vv. 10-12. ABSALÃO FORMA UMA CONSPIRAÇÃO.


10. Enviou Absalão emissários secretos por todas as tribos de
Israel — Estes emissários tinham que sondar a inclinação do povo,
adiantar os interesses de Absalão, e exortar a todos os aderentes de seu
partido a estar preparados a congregar-se sob o seu estandarte quando
ouvissem que ele tinha sido proclamado rei. Como o aviso tinha que ser
feito pelo som de trombetas, é provável que se tinha preocupado por ter
corneteiros estacionados nas alturas e nos lugares convenientes, por ser
este um meio de comunicação que logo estenderia a notícia por todo o
país.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 48
11. De Jerusalém foram com Absalão duzentos homens
convidados — Por sua qualidade, reputação e alto posto, tais homens
dariam a impressão de que o rei patrocinava o movimento, e, por ser
velho e debilitado, estava desejoso de escolher a seu filho mais velho e
mais nobre para compartilhar com ele os cuidados e honras do governo.
12. Absalão mandou vir Aitofel — quem, Absalão sabia que
estaria preparado a tomar parte na rebelião, por desgosto e vingança,
como afirmam alguns escritores judeus, por causa da conduta de Davi
com Bate-Seba, quem era sua neta.
Gilo — Perto de Hebrom.
tornou-se poderosa a conspirata — O acordo rápido de um lugar
após outro do reino ao partido dos revoltados, demonstra que existia um
descontentamento profundo e geral contra Davi e seu governo. O resto
dos partidários de Saul, o infeliz assunto de Bate-Seba, a insolência
insuportável e os crimes de Joabe, a negligência e a obstrução na
administração da justiça, eram algumas das causas principais do êxito
deste levantamento tão estendido.

Vv. 13-37. DAVI FOGE DE JERUSALÉM.


14. Disse, pois, Davi … Levantai-vos, e fujamos — Ansioso pela
preservação da cidade que ele tinha embelezado, e confiando num apoio
maior por todo o país, sabiamente Davi resolveu sair de Jerusalém.
18. todos os geteus, seiscentos homens — Estes formavam um
corpo de guardas estrangeiros, nativos de Gate, aos quais Davi, quando
esteve no país dos filisteus, alistou em seu serviço e sempre os tinha
perto dele. Dirigindo-se ao seu comandante, Itai, fez uma prova
perscrutadora de sua fidelidade, convidando-os (v. 19) a ficar com o
novo rei.
23. ribeiro de Cedrom — ribeiro invernal que flui entre a cidade e
o lado ocidental do Monte das Oliveiras.
24. Zadoque, e com este todos os levitas que levavam a arca —
Conhecendo os fortes sentimentos do ancião rei, eles trouxeram a arca
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 49
para que o acompanhasse em sua angústia. Mas como ele não pôde
duvidar de que a arca e seu sagrado ofício eximiriam aos sacerdotes dos
ataques dos rebeldes, mandou-os atrás com ela, não só para que não
fossem expostos aos perigos das incertas andanças—porque parece que
punha mais confiança nos símbolos da presença divina que no próprio
Deus — senão para que, ficando em Jerusalém, pudessem lhe render
melhor serviço, vigiando os movimentos do inimigo.
30. Seguiu Davi pela encosta das Oliveiras — O mesmo caminho
acima daquela montanha se tem seguido sempre desde aquele dia
memorável.
tinha a cabeça coberta — em sinal de luto. A humildade e
resignação de Davi mostravam poderosamente seu espírito santificado, o
qual era um resultado de sua contrição por suas transgressões. Ele tinha
caído, mas foi a queda do justo; e levantou-se de novo, submetendo-se
humildemente à vontade de Deus. (Chalmers.)
31. disse Davi: Ó SENHOR, peço-te que transtornes em loucura
o conselho de Aitofel — Por ser este senador o apoio principal da
conspiração.
32. Ao chegar Davi ao cimo, onde se costuma adorar a Deus —
Olhando para Jerusalém, onde estavam a arca e o tabernáculo.
Husai, o arquita — Natural de Arqui, na fronteira entre Efraim e
Benjamim (Js_16:2). Comparando sua oração contra Aitofel com o
conselho de Husai, vemos quão poderosamente um espírito de piedade
fervente se combinava em seu caráter com as estratagemas de uma
política ativa e sagaz.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 50
2 Samuel 16

Vv. 1-4. ZIBA, COM FALSIDADE, RECLAMA A HERANÇA


DE SEU SENHOR.
1. eis que lhe saiu ao encontro Ziba, servo de Mefibosete — Este
homem ardiloso, prevendo o seguro fracasso da conjuração de Absalão,
tomou medidas para preparar o seu futuro progresso econômico por
ocasião da restauração do rei.
um odre de vinho — Um couro grande de cabra. Seu tamanho fez
com que a quantidade de vinho fosse em proporção com o resto de seu
obséquio.
2. Os jumentos são para a casa do rei, para serem montados —
Os fugitivos fugiam a pé, não pela impossibilidade de conseguir meio de
transporte, e sim conforme o seu presente estado de humilhação e
penitência.
3. Hoje, a casa de Israel me restituirá o reino de meu pai —
Semelhante esperança poderia naturalmente apresentar-se neste período
de confusão civil, pensando que a família de Davi se destruiria
mutuamente em suas contendas, e que o povo reabilitaria a velha
dinastia. Havia na história de Ziba um ar de plausibilidade. Muitos aos
quais o rei tinha prodigalizado favores, agora o abandonavam; não é
preciso maravilhar-se, pois, movido por sentimentos momentâneos,
criado pelo relatório de um caluniador, que Mefibosete estaria entre o
número deles, o rei pronunciasse um juízo precipitado e injusto por meio
do qual se infligia um grande dano sobre o caráter e os interesses de um
amigo fiel.

Vv. 5-19. SIMEI AMALDIÇOA A DAVI.


5. Tendo chegado o rei Davi a Baurim — Cidade de Benjamim
(2Sm_3:16; 19:16). Aqui se refere só aos limites do distrito.
um homem da família da casa de Saul, cujo nome era Simei —
A desgraça de sua família, e a ocupação por Davi do que ele considerava
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 51
as posses legais deles, provia uma causa natural, se não justificável, para
esta ebulição de rudes insultos e violência. Repreendeu a Davi como a
um usurpador ambicioso, e lhe recomendou, como pessoa cujos delitos
se voltavam sobre sua própria cabeça, que entregasse o trono para o qual
não possuía justo título. Sua linguagem foi a de um homem exasperado
pelos males que ele considerava que tinham sido feitos contra a sua
família. Davi era inocente do crime do qual o acusava Simei; mas sua
consciência lhe trazia à memória outras flagrantes iniquidades, e ele
considerava as maldições deste homem como castigo do céu. Sua
resposta à proposta de Abisai demonstrava o espírito de profunda e
humilde resignação, espírito que estava de acordo com a vontade da
providência, e reconhecia Simei como usado por Deus para castigá-lo.
Uma coisa é notável: que teve mais coragem nesta ocasião de grande
angústia para agir independentemente dos filhos de Zeruia, que aquele
que teve nos dias de sua prosperidade e poder.
13. Simei ia ao longo do monte, ao lado dele — ia descendo o
caminho áspero pelo leste do Monte das Oliveiras, mais acima de onde
iam Davi e sua comitiva.
caminhando e amaldiçoando — para acrescentar insulto à injúria,
nuvens de pó eram atiradas por este desleal súdito no caminho do infeliz
soberano.
atirava pedras e terra contra ele — Como sinal de desprezo e
insulto.
14. ali descansaram — quer dizer, na cidade de Baurim.
15-19. Tendo-se apresentado Husai ... a Absalão, disse-lhe: Viva
o rei — A devoção de Husai a Davi era tão bem conhecida, que sua
presença no campo dos conspiradores causou grande surpresa.
Professando, entretanto, considerar como seu dever apoiar a causa que a
providência e a vontade nacional, aparentemente, tinham decretado que
deveria triunfar, e alegando sua amizade com o pai como fundamento de
confiança em sua fidelidade ao filho, pôde persuadir a Absalão de sua
sinceridade, e foi admitido entre os conselheiros do novo rei.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 52
Vv. 20-23. O CONSELHO DE AITOFEL.
20. Dai o vosso conselho sobre o que devemos fazer — Esta é a
primeira reunião de gabinete lembrada na história, embora a
consideração que se tinha a Aitofel, deu-lhe a inteira direção dos
assuntos.
21. Disse Aitofel a Absalão — Este conselheiro viu que a decisão
já estava feita; que as medidas pela metade não seriam convenientes; e
com o fim de eliminar toda possibilidade de uma reconciliação entre o
rei e o seu filho rebelde, deu este atroz conselho com relação às mulheres
que tinham sido deixadas para cuidar do palácio. Como se consideram
sagradas, as mulheres são geralmente respeitadas nas contingências de
guerra. A história do Oriente dá um só caso paralelo a este infame ultraje
de Absalão.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 53
2 Samuel 17

Vv. 1-14. UM CONSELHO DE AITOFEL TRANSTORNADO


POR HUSAI.
1. Então Aitofel disse a Absalão — A recomendação de que se
tomassem medidas prontas e decisivas, antes que as forças realistas
pudessem ser reunidas e coordenadas, mostrou a profunda astúcia
política deste conselheiro. A adoção de seu conselho teria extinto a causa
de Davi; uma terrível prova das medidas extremas que este príncipe cruel
estava disposto a tomar para obter os seus fins ambiciosos, é que este
conselho parricida “agradou a Absalão e a todos os anciãos de Israel”.
Entretanto, foi felizmente descartado pelo discurso de Husai, quem viu o
perigo iminente o qual exporia o rei e sua causa. Fez ênfase sobre o
caráter guerreiro e a experiência militar do velho rei; e apresentou a ele e
a seus aderentes como homens valentes, que pelejariam com desespero; e
que provavelmente estariam resguardados em alguma fortaleza fora de
seu alcance, enquanto que a perda menor dos homens de Absalão, no
começo, poderia ser fatal para o êxito da conspiração. Mas foi
manifestada a destreza de Absalão, especialmente naquela parte de seu
conselho que recomendava uma coleta geral em todo o país, e que ele
pessoalmente deveria ser o comandante da mesma, adulando assim ao
mesmo tempo o orgulho e a ambição do usurpador. Este príncipe
vanglorioso e ímpio engoliu o anzol.
12. cairemos sobre ele, como o orvalho cai sobre a terra —
Nenhuma outra coisa podia ter ilustrado aos orientais este repentino
ataque a um inimigo, como a queda silenciosa, irresistível e rápida desta
umidade natural sobre cada campo e cada folha.
13. todo o Israel levará cordas àquela cidade — Ao pôr sítio a
uma cidade, eram lançados ganchos ou gruas sobre as muralhas, por
meio dos quais, com sogas atadas a eles, arrancavam as fortalezas
reduzindo-as a uma massa de ruínas.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 54
14. Melhor é o conselho de Husai, o arquita, do que o de Aitofel
— Sendo extremamente plausíveis as razões especificadas, e expressas
em linguagem fortemente hiperbólica, capaz de ofuscar a imaginação
dos orientais, o gabinete se declarou a favor do conselho de Husai; e sua
decisão foi a causa imediata da derrota da rebelião, embora o próprio
conselho era só um elo na cadeia de causas seguras pela mão
dominadora do Senhor.

Vv. 15-22. DAVI É AVISADO SECRETAMENTE.


16. mandai avisar depressa a Davi — Duvidando aparentemente
que seu conselho fosse seguido, Husai mandou que se avisasse
secretamente a Davi, de todo o acontecido, com uma recomendação
urgente de que cruzasse o Jordão sem demora, para em caso de que a
influência e as maquinações de Aitofel pudessem produzir uma mudança
na mente do príncipe, e fosse decidida uma perseguição imediata.
17. En-Rogel — O poço do lavadeiro, nas cercanias de Jerusalém,
mais abaixo da união do vale de Hinom com o de Josafá.
18. entraram em casa de um homem, em Baurim, que tinha um
poço. — O poço era um cisterna vazia. As melhores casas no Oriente
têm estes depósitos. Seria fácil que um destes poços, devido à escassez
de água, estivesse seco; em tal caso serviria como refúgio, tal como os
amigos de Davi acharam na casa daquele homem em Baurim. Prática
comum era a de estender uma coberta sobre a boca do poço, para secar
ali o grão

Vv. 23-29. AITOFEL SE ENFORCOU.


23. Vendo, pois, Aitofel que não fora seguido o seu conselho —
Sua vaidade foi machucada e seu orgulho foi humilhado ao ver que sua
influência se desvaneceu. Mas seu desgosto se agravou por outros
sentimentos: a convicção dolorosa de que pela demora que se havia
resolvido, a causa de Absalão estava perdida. Indo, pois, apressadamente
à sua casa, resolveu seus assuntos, e sabendo que a tormenta de vingança
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 55
retributiva cairia principalmente sobre ele como o instigador e quem
apoiou a rebelião, enforcou-se. Pode-se dizer que os israelitas, naquele
tempo, não negavam os ritos de sepultura ainda aos que morriam por sua
própria mão. Teve esse homem um imitador em Judas, quem lhe pareceu
em sua traição e em seu fim infame.
24. Davi chegou a Maanaim — O país alto de Gileade oriental,
sede do governo de Isbosete.
Absalão, tendo passado o Jordão — Não se diz quão longo
intervalo tinha passado, mas deve ter havido tempo suficiente para fazer
a proposta coleta em todo o reino.
25. Amasa — Pela genealogia parece que este capitão teve o
mesmo parentesco com Davi que Joabe, sendo os dois seus sobrinhos.
Por certo, Amasa era primo de Absalão, e embora ele fosse israelita, seu
pai era ismaelita (1Cr_2:17).
Naás — Alguns creem que Naás era outro nome de Jessé, ou
segundo outros, a esposa de Jessé.
27. Tendo Davi chegado a Maanaim — As necessidades do rei e
seu séquito foram hospitaleiramente atendidas por três chefes, cuja
generosa lealdade se consigna com honra no relato sagrado.
Sobi — Deve ter sido irmão de Hanum. Desaprovando, talvez, o
ultraje daquele jovem rei contra os embaixadores israelitas, foi escolhido
por Davi como governador por ocasião da conquista de seu país.
Maquir — (Veja-se 2Sm_9:4). Considerado por alguns como
irmão de Bate-Seba e
Barzilai — personagem rico, cuja grande idade e doenças fizeram
muito emocionante sua leal devoção ao monarca aflito. As provisões que
trouxeram, além de camas para os cansados, consistiam em pastos e
produtos especiais de seus terras férteis, e podem classificar-se como
segue: Comestíveis: trigo, cevada, farinha, favas, lentilhas, ovelhas e
queijo; potáveis: “mel, coalhada” ou nata, as quais mescladas, formam
uma beberagem leve e refrescante, que é considerado como refresco de
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 56
luxo (Ct_4:11); a provisão do mesmo demonstra a alta estima que foi
tributada a Davi por seus súditos fiéis e leais em Maanaim.
29. no deserto — Estendendo-se para além da mesa cultivada até as
planícies de Haurã.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 57
2 Samuel 18

Vv. 1-4. DAVI CONTA O SEU EXÉRCITO.


1. Contou Davi o povo que tinha consigo — Os fortes
montanheses de Gileade vieram em grandes números à chamada de seus
chefes, de modo que, embora sem dinheiro com que pagar suas tropas,
logo se viu Davi à cabeça de um exército considerável. Uma batalha
campal agora era inevitável. Mas como dependia muito da vida do rei,
não foi permitido a ele sair ao campo em pessoa; e portanto suas forças
foram divididas em três destacamentos sob Joabe, Abisai e Itai,
comandante dos guardas estrangeiros.

Vv. 5-13. ENCARREGA-OS DE TRATAREM BEM ABSALÃO.


5. Tratai com brandura o jovem Absalão, por amor de mim —
Este emocionante encargo que o rei deu a seus generais, procedia não só
de seu irresistível carinho para com os seus filhos, mas também de seu
conhecimento de que esta rebelião era o castigo de seus crimes, sendo
Absalão meramente um instrumento na mão da providência retributiva; e
também de sua piedade, para que o infeliz príncipe não morresse sem
arrepender-se de seus pecados.
6. bosque de Efraim — Este bosque então estava a leste do Jordão.
Seu nome se deriva, segundo alguns, da matança de efraimitas por Jefté;
segundo outros, pelo parentesco com o Manassés transjordânico.
7. foi o povo de Israel batido — Esta afirmação, junto com a
grande matança mencionada depois, demonstra até que grau estava
comprometido o povo nesta malograda contenda civil.
8. o bosque, naquele dia, consumiu mais gente do que a espada
— O espesso bosque de carvalhos e terebintos, obstruindo a fuga,
ajudava grandemente aos vencedores na perseguição.
9. Indo Absalão montado no seu mulo, encontrou-se com os
homens de Davi — Ou, foi alcançado. “É necessário estar
continuamente alerta contra os ramos das árvores; e quando o cabelo se
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 58
constitui de longas mechas como no caso do jovem ao qual nos
referimos, os ramos espessos, interpondo-se no caminho, facilmente
podem desalojar o cavaleiro de sua cadeira, e prender-se em seu cabelo
solto”. (Hartley). Alguns, entretanto, creem que o historiador sagrado
não se refere tanto ao cabelo como à cabeça de Absalão, a qual foi
apanhada entre dois ramos tão firmemente que não pôde livrar-se do
cabo, nem fazer uso de suas mãos.
o mulo, que ele montava, passou adiante — Não tendo os orientais
sela de montar como as nossas, não se sentam tão firmemente sobre os
animais em que cavalgam. Soltando Absalão a rédea, evidentemente para
livrar-se quando foi agarrado pela árvore, o mulo escapou.
11. disse Joabe ao homem que lho fizera saber: … forçoso me
seria dar-te dez moedas de prata e um cinto — quer dizer, o teria
elevado ao grau de oficial comissionado. Além de uma soma de dinheiro,
um cinturão ricamente lavrado era entre os hebreus antigos um sinal de
honra, e às vezes era entregue como recompensa por mérito militar. Este
soldado, entretanto, o qual se pode apresentar como uma amostra justa
dos fiéis súditos de Davi, tinha tão profundo respeito pela vontade do rei,
que nenhuma perspectiva de recompensas o teria tentado a agir
violentamente contra Absalão. Mas o forte sentido de dever público de
Joabe, o qual o fazia ver que não poderia haver segurança para o rei nem
paz para o reino nem segurança para si e para outros leais súditos,
enquanto vivesse aquele príncipe turbulento, venceu seus sentimentos, e
considerando o encargo que Davi tinha dado aos generais como mais
digno de um pai que de um príncipe, atreveu-se a desobedecê-lo.

Vv. 14-32. ABSALÃO É MORTO POR JOABE.


14. Tomou três dardos e traspassou com eles o coração de
Absalão — O fato, completo parcialmente por Joabe, foi completado
pelos guarda costas. Sendo uma violação do desejo rápido, assim como
também dos sentimentos paternais de Davi, devia ser uma ofensa ao rei,
que nunca foi esquecida (1Rs_2:5); mas há um motivo mais forte para
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 59
crer que Joabe o fez motivado por uma sincera preocupação pelos
interesses de Davi, como homem e como monarca.
16. tocou Joabe a trombeta, e o povo voltou de perseguir a
Israel — Sabendo que pela morte do usurpador não havia ocasião para
mais derramamento de sangue, pôs fim à perseguição, e nisto mostrou
uma política temperada em sua conduta. Por duro e insensível que Joabe
parecesse ao rei, não pode haver dúvida de que ele fez o papel de um
estadista sábio em considerar a paz e o bem-estar do reino mais que as
inclinações particulares de seu senhor, as quais eram contrárias à justiça
estrita e a seus próprios interesses. Absalão mereceu a morte segundo a
lei divina (Dt_21:18, Dt_21:21), por ser inimigo de seu rei e de sua
pátria, e não havia ocasião mais própria que quando encontrou a morte
em batalha aberta.
17. Levaram Absalão, e o lançaram no bosque, numa grande
cova, e levantaram sobre ele mui grande montão de pedras — As
pessoas do Oriente manifestam seu aborrecimento à memória de pessoas
infames, atirando pedras ao lugar onde estão sepultadas. O montão
aumenta pela gradual acumulação de pedras que acrescentam os
transeuntes.
18. Absalão, quando ainda vivia, levantara para si uma coluna,
etc. — lit., “uma mão”. No vale de Josafá, a leste de Jerusalém, há uma
tumba ou cenotáfio, que se diz é esta “coluna” ou monumento; é de
quase 8 metros quadrados, chega a pouco mais de 12 metros de altura, e
termina em cúpula ou “meia laranja”. Este pode ser o lugar correto, mas
este não pode ser o trabalho de Absalão, pois evidentemente é de um
estilo de arquitetura mais recente.
19. disse Aimaás, filho de Zadoque: Deixa-me correr e dar
notícia ao rei — Os motivos de Joabe para rejeitar a oferta de Aimaás
de levar a notícia da vitória a Davi, e mais tarde deixá-lo ir junto com
outro, são diversamente expressos pelos comentadores. Mas não são
importantes, e, entretanto, o zelo dos mensageiros, assim como a ardente
ansiedade dos que esperavam notícias, relata-se graficamente.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 60
23. pelo caminho da planície — Ou “kikár”, círculo. A palavra só
é usada em outra parte referindo-se ao vale do Jordão. É possível que
tenha havido um lugar ou região chamado assim na mesa de Gileade,
como parece indicá-lo a LXX. Ou pode ser que Maanaim tenha estado
situada assim com relação ao campo de batalha, para ser mais acessível
por um declive à planície do Jordão, que através das colinas mesmas. Ou
a palavra pode significar, como explica Ewald, uma maneira de correr
rapidamente.
24. Davi estava assentado entre as duas portas — quer dizer, na
casa torre sobre a muralha que sobressaía a porta da cidade; perto estava
a torre do vigia, sobre a qual estava uma sentinela, como em tempo de
guerra, para dar aviso de todo acontecimento. A delicadeza da
comunicação de Aimaás foi completada pela evidente clareza da do
etíope. A morte de Absalão lhe causou uma grande aflição, e é
impossível não simpatizar com a expressão de sentimento pela qual Davi
mostrou que toda lembrança de vitória que ele como rei tinha obtido,
desapareceu completamente pela perda dolorosa que tinha sofrido como
pai. O ardor extraordinário e a força de seu carinho por este filho
indigno, desatam-se na redundância e veemência de suas dolorosas
expressões.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 61
2 Samuel 19

Vv. 1-8. JOABE FAZ COM QUE O REI DEIXE DE


LAMENTAR-SE.
3. Naquele mesmo dia, entrou o povo às furtadelas na cidade —
O rumor da condição desconsolada do rei infundiu uma tristeza geral e
inoportuna. Suas tropas, em vez de serem acolhidas como se recebia
sempre a um exército vitorioso, com música e outras demonstrações de
regozijo público, escorria-se secreta e silenciosamente na cidade, como
se estivessem envergonhadas por ter cometido algum crime.
4. Tendo o rei coberto o rosto — Um dos sinais usuais de luto
(veja-se 2Sm_15:30).
5. Hoje, envergonhaste a face de todos os teus servos —
Retirando-te para te entregares à tua dor, como se fossem desagradáveis
a ti os seus serviços, e irritante sua devoção. Em vez de cumprimentar
sua volta com alegria e gratidão, lhes negaste a pequena recompensa de
ver-te. A repreensão de Joabe era justa e necessária, embora fosse
pronunciada com dureza. Ele era daqueles que estragam os seus serviços
importantes pela insolência de suas maneiras; e que sempre despertam
um sentimento de obrigação naqueles aos quais rendem alguns serviços.
Ele falou com Davi num tom de arrogância, que não correspondia a um
súdito mostrar a seu rei.
7. Levanta-te, agora, sai e fala segundo o coração de teus servos
— O rei sentiu a verdade da repreensão de Joabe; mas a ameaça pela
qual foi esforçada, fundada na grande popularidade do general no
exército, assinalou-o como pessoa perigosa; e esta circunstância, e a
violação da ordem implícita de que tratasse benignamente a Absalão por
amor dele, produziu em Davi um ódio firme, o qual foi manifestado em
suas últimas ordens dadas a Salomão.
8. o rei se levantou e se assentou à porta — Aparecia diariamente
no lugar habitual para ouvir causas.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 62
Veio, pois, todo o povo apresentar-se diante do rei — quer dizer,
os nativos leais que tinham ficado fiéis a seu governo e que tinham
pelejado por sua causa.
Israel havia fugido — quer dizer, os aderentes de Absalão, aqueles
que, na derrota dele se esparramaram e se salvaram mediante a fuga.

Vv. 9-43. OS ISRAELITAS VOLTAM AO REI EM JERUSALÉM.


9. Todo o povo em todas as tribos de Israel queixava-se — O
reino estava completamente desorganizado. Os sentimentos de três
partidos diferentes são representados-nos vv. 9 e 10: os realistas; os
aderentes de Absalão, aqueles que tinham sido muito numerosos; e
aqueles que eram indiferentes à dinastia davídica. Nestas circunstâncias
o rei tinha razão para não voltar logo, como vencedor, para ascender
novamente ao trono. Era necessária uma reeleição em alguma forma.
Ficou por algum tempo do outro lado do Jordão, esperando ser
convidado a voltar. O convite foi feita sem a concorrência de Judá; e
Davi, desapontado e irritado pela aparente falta de entusiasmo de sua
própria tribo, despachou os dois sumos sacerdotes para insistir com os de
Judá a tomar um interesse proeminente em sua causa. Foi o ato de um
político hábil; como Hebrom tinha sido a sede da rebelião, foi ato cortês
de sua parte o alentá-los a voltar para sua lealdade e dever; e foi uma
instância a sua honra o não ser a última das tribos. Mas esta mensagem
especial, e a preferência dada a eles motivou uma explosão de ciúme
entre as outras tribos que quase foi seguida por consequências fatais
[veja-se 2Sm_19:40-43].
13. Dizei a Amasa, etc. — Este foi um golpe político destro. Davi
entendia perfeitamente a importância, para extinguir a rebelião, de tirar
daquela causa o único que a poderia ter viva; então secretamente intimou
sua intenção de elevar a Amasa ao comando de um exército em lugar de
Joabe, cuja arrogância tinha chegado a ser insuportável. O rei justamente
calculou que por têmpera natural assim como também por gratidão pelo
perdão real, ele se mostraria um servidor mais dócil. Certamente, Davi
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 63
pensou com toda sinceridade em cumprir sua promessa. Mas Joabe
procurou reter seu alto posto (veja-se 2Sam_20:4-10).
14. moveu ele o coração de todos os homens de Judá — quer
dizer, Amasa, quem tinha sido ganho, usou de sua grande influência para
unir novamente toda a tribo de Judá aos interesses de Davi.
15. Judá foi a Gilgal — Como lugar mais conveniente onde
pudessem fazer os preparativos para trazer o rei e a corte através do
Jordão.
16, 17. Simei … Com ele estavam mil homens de Benjamim —
Este desdobramento de seus seguidores tinha por fim mostrar as forças
que ele poderia levantar contra ou em apoio do rei. Expressando seu
profundo pesar por sua anterior conduta ultrajosa, foi perdoado
imediatamente; e embora o filho de Zeruia insistisse na conveniência de
fazer deste chefe um exemplo público, sua intromissão foi rejeitada por
Davi com magnanimidade, e com a maior confiança de que se sentia
restabelecido em seu reino (veja-se 1Rs_2:8).
17. Ziba, servo da casa de Saul — Tinha enganado a seu amo; e
quando recebeu ordem de preparar os jumentos para que o príncipe
rengo pudesse ir encontrar se com o rei, fugiu precipitadamente para ser
o primeiro em render homenagem ao rei; de modo que Mefibosete,
sendo coxo, teve que ficar em Jerusalém até a chegada do rei.
18. a barca (RC) — provavelmente eram balsas, como ainda se
usam nesta parte do rio.
20. sou o primeiro que, de toda a casa de José — quer dizer, antes
que todo o resto de Israel (Sl_77:15; Sl_80:1; Sl_81:5; Zc_10:6).
24-30. Mefibosete, filho de Saul, desceu a encontrar-se com o rei
— A recepção dada a Mefibosete foi pouco honrosa para Davi. A
sinceridade da dor daquele príncipe pelas desgraças do rei, não se podem
pôr em dúvida.
não tinha tratado dos pés — não se tinha banhado.
nem tinha feito a barba (TB) — Os hebreus cortavam o cabelo na
parte superior (veja-se Lv_13:45) e nas bochechas, mas cuidadosamente
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 64
fomentavam seu crescimento no queixo, de uma orelha a outra. Além de
tingir a barba de preto ou vermelho, coisa que não é uma regra geral no
Oriente, há várias maneiras de recortá-la: criam-na numa forma avultada
e cheia, torcida e redonda; ou a terminam como uma pirâmide, em ponta
aguda. Seja qual for a moda, a resolvem sempre com sumo cuidado; e
geralmente os homens carregam um pequeno pente com este propósito.
A negligência desta atenção à sua barba era prova indubitável da
profundidade da dor de Mefibosete. Parece que o rei o recebeu por via de
repreensão, e que não esteve totalmente seguro de sua culpa ou de sua
inocência. É impossível louvar o trato nem tampouco aprovar a
recompensa parcial de Davi neste caso. Se ele foi muito violento e
distraído por causa das circunstâncias para indagar amplamente o
assunto, deveria ter adiado sua decisão; porque se por “resolvo que
repartas com Ziba as terras” (2Sm_19:29) queria dizer que o anterior
acerto continuaria, pelo qual Mefibosete era reconhecido proprietário, e
que Ziba seria o lavrador da terra, foi uma injustiça dar a um trabalhador
que o tinha caluniado tão grosseiramente. Mas se por “resolvo que
repartas com Ziba as terras”, eles tinham que ter partes iguais, a injustiça
da decisão foi aumentada grandemente. De qualquer modo, o espírito
generoso e desinteressado que manifestou Mefibosete, era digno de um
filho do generoso Jônatas.
31-40. Barzilai, o gileadita — A categoria, a grande idade e a
devoção cavalheiresca de este chefe gileadita, conquista nosso respeito.
Sua negativa de ir à corte, sua recomendação de seu filho, seu
acompanhamento a través do Jordão, e a cena de separação do rei, são
incidentes interessantes. Que sorte de favor real foi concedida a Quimã,
não foi relatado; mas é provável que Davi tenha dado uma boa parte de
seu patrimônio pessoal em Belém a Quimã e seus herdeiros em
perpetuidade (Jer_41:17).
35. a voz dos cantores e cantoras — As bandas de músicos
profissionais formam uma dependência proeminente das cortes dos
príncipes orientais.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 65
37. morrerei ... e serei sepultado junto de meu pai e de minha
mãe — este é um caso do forte afeto que sentem os povos do Oriente
pelos lugares de sepultura pertencentes a suas famílias.
40-43. Dali, passou o rei a Gilgal … todo o povo de Judá e
metade do povo de Israel acompanharam o rei — Talvez por sua
impaciência por seguir sua viagem ou por outra causa, Davi não esperou
até que todas as tribos tivessem chegado para o conduzir de volta a sua
capital. A procissão começou logo que Amasa trouxe a escolta de Judá, e
a preferência dada a esta tribo produziu ciúmes tão amargos, que
estiveram prestes a acender uma guerra civil mais feroz que aquela que
acabava de terminar. Estabeleceu-se uma guerra de palavras entre as
tribos, apoiando Israel seu argumento em seus números superiores: “nós
temos no rei dez partes”; enquanto que Judá não tinha mais que uma.
Judá fundou seu direito de tomar a iniciativa, sobre a razão de seu mais
próximo parentesco com o rei. Esta era uma pretensão perigosa para a
casa de Davi; e demonstra que já tinham sido semeadas as sementes
daquela dissensão entre as tribos que com o tempo conduziu ao
desmembramento do reino.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 66
2 Samuel 20

Vv. 1-9. SEBA FORMA UM PARTIDO EM ISRAEL.


1. Sabá … homem de Benjamim — Embora não se saiba muito
deste homem, deve ter sido pessoa de considerável poder e influência,
para que tenha podido levantar uma rebelião tão repentina e extensa.
Pertencia à tribo de Benjamim, onde os adeptos da dinastia de Saul ainda
eram numerosos, e vendo o forte desgosto das outras tribos com a parte
assumida por Judá na restauração, seu coração, que pensava mal,
resolveu aproveitá-lo para a destruição da autoridade de Davi em Israel.
cada um para as suas tendas — Esta expressão proverbial pode
ter tido seu fundamento no fato de que muitas das pessoas do campo se
aderia ao costume dos patriarcas que lavravam a terra, mas que viviam
em tendas, como os patrícios sírios fazem ainda. Isto era o grito de
guerra de uma insurreição nacional, e pela verdadeira têmpera do povo,
foi seguido por resultados para além do que Sabá provavelmente
pensava.
2. desde o Jordão até Jerusalém — A disputa estalou pouco
depois do cruzamento do Jordão, entre Judá e as demais tribos, as quais
se retiraram; de modo que Judá foi deixado quase só para conduzir o rei
à metrópole.
3. tomou o rei as suas dez concubinas — Os escritores judeus
dizem que as viúvas dos monarcas hebreus, não tinham permissão de
casar-se de novo, e que eram obrigadas a passar o resto de sua vida em
estrita solidão. Davi tratou a suas concubinas da mesma maneira depois
de terem sido ultrajadas por Absalão. Não foram divorciadas, porque não
eram culpadas, mas não eram reconhecidas publicamente como suas
esposas; seu fechamento não era uma condenação muito pesada, naquela
região onde as mulheres não estavam acostumadas a sair muito.
4. Disse o rei a Amasa: Convoca-me, para dentro de três dias, os
homens de Jud — Amasa agora está instalado no comando que Davi lhe
tinha prometido. A revolta das dez tribos, provavelmente adiantou a
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 67
declaração pública desta nomeação, que ele esperava seria popular entre
eles; e a Amassa foi ordenado que em três dias aprontasse um exército de
Judá, suficiente para dominar a insurreição. A nomeação foi um
desatino, e o rei logo reconheceu o seu erro. Passou o tempo
especificado, mas Amasa não pôde juntar os homens. Temendo a perda
de tempo, o rei deu a comissão a Abisai, e não a Joabe — uma nova
afronta — que, sem dúvida, feriu o amor próprio deste austero e
orgulhoso general. Entretanto, apressou-se com os seus soldados unidos
a ir como segundo de seu irmão, resolvido a aproveitar a primeira
oportunidade para descarregar vingança sobre seu afortunado rival.
8. Amasa veio perante eles — Literalmente, “foi diante deles”.
Tendo juntado algumas força, por marchas forçadas alcançou a
expedição em Gibeão, e assumiu o seu lugar como comandante; e como
tal foi cumprimentado, entre outros, por Joabe.
trazia Joabe vestes militares e sobre elas um cinto — à maneira
dos viajantes e soldados.
uma espada dentro da bainha ... fez cair a espada — quer dizer,
saiu-se da bainha. Segundo Josefo, ele a deixou cair a propósito
enquanto se aproximava para cumprimentar a Amasa, para que,
agachando-se a recolhê-la, como se fosse acidental a queda, pudesse
cumprimentar o novo general com a espada despida na mão, sem
despertar suspeitas de seu propósito …
adiantando-se ele — de uma maneira cerimoniosa, para encontrar
o novo general em chefe, a fim de que parecesse render àquele soldado, a
quem considerava como usurpador de seu posto, uma insigne honra e
homenagem.
9. Tomou Joabe com a mão direita a barba de Amassa, para
beijá-lo — Este ato, comum no encontro de dois amigos, quando a gente
vinha de viagem, indica respeito e também bondade, e o cumprimento do
mesmo manifesta a negra hipocrisia de Joabe, quem por este ato fez com
que Amasa confiasse nele. Não é estranho, pois, que enquanto este ato de
amigável saudação depois de longa ausência ocupava a atenção de
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 68
Amasa, ele não percebesse a espada na mão esquerda de Joabe. O ato de
Joabe foi seriamente um fino cumprimento, mas nem suspeito nem raro,
e Amasa, prestando atenção a este cumprimento, e não duvidando
responder com a devida finura, pouco podia esperar o acontecimento
fatal que produziu a perfídia de Joabe.

Vv. 10-13. AMASA É ASSASSINADO.


10. este o feriu com ela no abdômen — Sede do fígado e as
vísceras, onde são fatais as feridas.
não o feriu segunda vez—quer dizer, matou-o com o primeiro
golpe.
11. Quem está do lado de Joabe e é por Davi, siga a Joabe — É
prova notável da influência sem rival de Joabe sobre o exército, o fato de
que, perpetrado à sua vista este ruim assassinato, eles unanimemente o
seguiram como a seu comandante, na perseguição de Seba. Um soldado
uniu seu nome com o de Davi, e tão mágico feitiço tinha o nome “Joabe”
que “passaram todos”—tanto os homens de Amassa como os demais. A
conjunção destes dois nomes é muito significativa; demonstra que um
não podia prescindir do outro; que não podia Joabe se rebelar contra
Davi, nem Davi se desfazer de Joabe, embora o odiasse.

Vv. 14, 15. JOABE PERSEGUE SEBA ATÉ ABEL.


14. Seba passou por todas as tribos de Israel até Abel-Bete-
Maaca — Juntando recrutas. Mas as marchas forçadas de Joabe o
alcançaram, e foi encerrado naquele estreito lugar.
15. Abel-Bete-Maaca — lugar fresco — o agregado “Maaca”
significa que pertence ao distrito da Maaca, situado muito acima do
Jordão, ao pé do Monte Líbano.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 69
Vv. 16-22. UMA MULHER SÁBIA SALVA A CIDADE COM A
CABEÇA DE SEBA.
16. Então, uma mulher sábia — O rogo da mulher, quem, como
Débora, provavelmente era juíza ou governadora do lugar, foi forte.
18. Antigamente, se costumava dizer — A tradução da margem
dá um significado melhor, o qual é neste sentido: Quando o povo te viu
pôr sítio a Abel, disseram: Certamente perguntará se temos paz, porque a
lei (Dt_20:10) prescreve que se ofereça paz a estrangeiros, muito mais
então às cidades israelitas; e se ele fizer isto, logo chegaremos a um
entendimento amigável, porque somos gente pacífica. A resposta de
Joabe revela o caráter daquele veterano insensível, como patriota de
coração, quem, ao prender o autor desta insurreição, estava preparado
para pôr fim ao derramamento de sangue, e livrar os pacíficos habitantes
de toda contrariedade.

Vv. 23-26. GRANDES OFICIAIS DE DAVI.


23. Joabe era comandante de todo o exército de Israel — Sejam
quais forem os desejos particulares de Davi, ele se dava conta de que não
tinha poder para tirar a Joabe; e fechando os olhos ao assassinato de
Amasa, restabeleceu a Joabe em seu posto anterior como comandante em
chefe. Dá-se aqui a enumeração do gabinete de Davi para mostrar que o
governo se constituiu de novo em seu curso habitual.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 70
2 Samuel 21

Vv. 1-9. A FOME DE TRÊS ANOS PELOS GIBEONITAS


TERMINA PELO ENFORCAMENTO DE SETE FILHOS DE SAUL.
1. o SENHOR lhe disse: Há culpa de sangue sobre Saul e sobre
a sua casa, porque ele matou os gibeonitas — A história sagrada não
lembra o tempo nem a causa desta matança. Alguns opinam que eles
sofreram na atrocidade perpetrada em Nobe (1Sm_22:19), onde muitos
deles podem ter residido como assistentes dos sacerdotes; enquanto que
outros supõem que é mais provável que Saul o fizesse tendo em vista
reconquistar a popularidade que ele tinha perdido entre toda a nação por
aquele execrável ultraje.
2. no seu zelo pelos filhos de Israel e de Judá — Sob pretexto de
uma execução rigorosa e fiel da lei divina a respeito do extermínio dos
cananeus, pôs-se a expulsar ou destruir aqueles aos quais Josué tinha
perdoado, embora isto tenha sido conseguido por meio do engano.
Parece que seu verdadeiro propósito foi que as posses dos gibeonitas,
confiscadas pela coroa, fossem divididas entre seu próprio povo
(1Sm_22:7). De toda maneira, seu proceder contra este povo foi uma
violação de um solene juramento, e esta violação significava culpa
nacional. A fome foi, na justa e sábia retribuição da providência, um
castigo nacional, visto que os hebreus ajudaram na matança, ou não se
interpuseram para evitá-la; desde que nunca trataram de reparar o mal,
nem expressaram nenhum horror por ele, um castigo geral e prolongado
era indispensável para inspirar um devido respeito e proteção aos
gibeonitas que tinham sobrevivido.
6. de seus filhos se nos deem sete homens, para que os
enforquemos ao SENHOR — A prática dos hebreus, como a dos
demais orientais, era matar primeiro, e logo pendurar na forca, não sendo
deixado o corpo depois do pôr-do-sol. O rei não pôde negar esta petição
dos gibeonitas, os quais, ao apresentá-la, só exerciam seu direito como
os vingadores de sangue, embora por temor e por um sentido de fraqueza
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 71
eles não tivessem exigido satisfação antes; mas agora, como Davi tinha
sido avisado pelo oráculo da causa da prolongada calamidade, ele creu
ser um dever dar aos gibeonitas plena satisfação; por isso eles
especificam o número sete, que se considerava como completo e
perfeito. E se parecesse injusto fazer sofrer os descendentes por um
crime que provavelmente teve sua origem no próprio Saul, entretanto,
seus filhos e netos podiam ser os instrumentos de sua crueldade, os
executores voluntários e zelosos desta incursão sangrenta.
Disse o rei: Eu os darei — Não se pode acusar a Davi de fazer isto
como uma maneira indireta de desfazer-se dos rivais do trono, porque os
que foram entregues eram só ramos colaterais da família de Saul, e
nunca pretenderam a soberania. Além disso, Davi só concedia a petição
dos gibeonitas como Deus lhe havia mandado.
8. os cinco filhos de Merabe, filha de Saul, que tivera de Adriel
— Merabe, irmã de Mical, foi a esposa do Adriel; mas Mical adotou e
criou os rapazes sob o seu cuidado.
9. os enforcaram no monte, perante o SENHOR — Não se
crendo obrigados pela lei criminal de Israel (Dt_21:22-23), foi seu
propósito deixar que os cadáveres ficassem suspensos nas forcas, até que
Deus, propiciado por sua oferta, enviasse chuva sobre as suas terras,
porque a falta dela tinha causado a fome. Era uma prática pagã a de
enforcar homens tendo em vista aplacar a ira dos deuses por ocasião de
fome, e os gibeonitas, que eram um resto dos amorreus (2Sm_21:2),
embora tenham chegado ao conhecimento do verdadeiro Deus, parece
que não estavam livres desta superstição. Em sua providência, Deus
permitiu que os gibeonitas pedissem e infligissem tão bárbaro desagravo,
a fim de que os oprimidos gibeonitas obtivessem justiça e alguma
reparação de seus males, e especialmente para que o escândalo
produzido em nome da verdadeira religião pela violação de uma solene
aliança nacional fosse apagado de Israel, e que se desse uma valiosa
lição sobre o respeito aos tratados e juramentos.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 72
Vv. 10, 11. A BONDADE DE RISPA PARA COM OS MORTOS.
10. Rispa … tomou um pano de saco e o estendeu para si sobre
uma penha — Ela levantou uma tenda perto do lugar, na qual ela e seus
servos vigiavam, como estavam acostumados a fazê-lo os parentes das
pessoas justiçadas, dia e noite, para afugentar as aves e animais de rapina
dos restos expostos sobre as forcas.

Vv. 12-22. DAVI SEPULTA OS OSSOS DE SAUL E JÔNATAS


NO SEPULCRO DE SEU PAI.
12. foi Davi e tomou os ossos de Saul e os ossos de Jônatas, seu
filho, etc. — Em pouco tempo, os copiosos aguaceiros, ou talvez uma
ordem do rei, deu a Rispa a satisfação de libertar os cadáveres de sua
ignominiosa exposição; e, animado por seu exemplo piedoso, Davi deu
ordem de que os restos de Saul e seus filhos fossem transferidos de sua
sepultura escura em Jabes-Gileade para ser sepultados decorosamente no
sepulcro da família na Sela, ou Zelza (1Sm_10:2), hoje Beit-jala.
15-22. De novo, fizeram os filisteus guerra contra Israel —
Embora os filisteus se submetessem completamente ao exército de Davi,
entretanto, a apresentação entre eles de campeões gigantescos levantava
a coragem, e os incitava a renovadas incursões ao território hebreu.
Provocaram quatro contendas sucessivas durante o último período do
reinado de Davi, e na primeira das quais o rei correu tão iminente risco
de vida que não mais foi permitido expor-se aos perigos do campo de
batalha.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 73
2 Samuel 22

Vv. 1-51. SALMO DE AÇÃO DE GRAÇAS DE DAVI PELA


PODEROSA LIBERTAÇÃO E MÚLTIPLAS BÊNÇÃOS DE DEUS.

O cântico contido neste capítulo é o mesmo que o do Salmo 18,


onde será dado o comentário completo. Basta fazer notar aqui,
simplesmente, que os escritores judeus observaram grande número de
pequenas diferenças entre a linguagem do cântico como se redige aqui, e
aquele que está no livro dos Salmos, o que se pode explicar pelo fato de
que este, que foi a primeira cópia do poema, foi cuidadosamente revisada
e mudada por Davi mais tarde, quando foi dedicado à música do
tabernáculo. Esta ode inspirada foi evidentemente a efusão de uma mente
iluminada com a piedade e gratidão mais sublimes, e está cheia dos mais
nobres pensamentos que se possam achar dentro dos tesouros da poesia
sagrada. É o grande tributo de gratidão pela libertação de seus poderosos
e numerosos inimigos, e pelo estabelecimento do poder e a glória de seu
reino.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 74
2 Samuel 23

Vv. 1-7. DAVI PROFESSA SUA FÉ NAS PROMESSAS DE DEUS.


1. São estas as últimas palavras de Davi — Existem várias
opiniões a respeito do significado verdadeiro desta declaração, a qual é
evidente que provém do compilador do sagrado cânon. Alguns pensam
que, como não há divisão de capítulos nas Escrituras Hebraicas, esta
introdução tinha por fim mostrar que o que segue, não é parte do cântico
anterior. Outros consideram esta como a última das produções poéticas
do rei; enquanto que outros, como a última de suas expressões como
escritor inspirado.
foi exaltado — De uma família obscura e de condição humilde a
um trono.
ungido do Deus de Jacó — Eleito para ser rei por nomeação
especial daquele Deus, a quem, por virtude de uma antiga aliança, o
povo de Israel devia todo o seu destino peculiar e seus privilégios
distinguidos.
mavioso salmista de Israel — Ameno, altamente estimado.
2. O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio — Nada
pode mostrar mais claramente que tudo o que é excelente em espírito,
belo em linguagem ou grande em imagens poéticas, contido nos Salmos
de Davi, se devia, não à superioridade de seus talentos naturais, nem a
conhecimentos adquiridos, e sim à sugestão e ditados do Espírito de
Deus.
3. a Rocha de Israel — Heb. “Rocha de Israel”. Esta metáfora, que
usualmente é aplicada pelos escritores sagrados ao Todo-poderoso, era
muito expressiva para o povo hebreu. Seus fortalezas nacionais, aonde
buscavam segurança na guerra, eram edificadas sobre rochas altas e
inacessíveis.
a mim me falou — quer seja preceptivamente, referindo-se a um
governante reto de Israel; ou profeticamente, a respeito de Davi e sua
dinastia, e do grande Messias, de quem muitos creem que esta é uma
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 75
profecia, pelas palavras: “Aquele que domina com justiça sobre os
homens”.
4. depois da chuva, faz brotar da terra a erva — Pequenos
campos de erva brotam rapidamente na Palestina depois da chuva; e até
onde a terra esteve seca e despida por longo tempo, em poucos dias ou
horas depois que começam a cair os benéficos aguaceiros, a face da terra
se renova de tal maneira que se cobre completamente com um manto
verde, puro e fresco.
5. Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu
comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura — “A luz
da manhã”, ou seja o começo do reino de Davi, não foi como a aurora
brilhante do dia oriental; foi obscurecida por muitas nuvens negras e
ameaçadoras; nem mesmo ele nem a sua família tinham sido como a
tenra erva que brota da terra e floresce pelas influências unidas do sol e
da chuva; mas antes, como a erva que se seca e é cortada
prematuramente. O sentido é, que embora a casa de Davi não tenha
florescido num curso ininterrupto de prosperidade e grandeza mundanas,
segundo suas esperanças; embora grandes crimes e calamidades tenham
obscurecido sua história familiar; embora alguns dos ramos mais
promissores da árvore familiar tenham sido cortados durante a sua vida,
e muitos de seus sucessores sofreriam da mesma maneira por seus
pecados pessoais; entretanto, embora muitos reveses e revoluções
surpreendessem a sua raça e o seu reino, era para ele motivo da maior
satisfação e gratidão o fato de que Deus manteria inviolável Sua aliança
com a família, até o advento de Seu Filho, o Messias, quem era o objeto
especial de seu desejo e o Autor de sua salvação.
6. Porém os filhos de Belial serão todos lançados fora como os
espinhos — quer dizer, os inimigos ímpios e perseguidores deste reino
de justiça. Estes se assemelham àquelas plantas espinhosas, que se
entretecem, cujos espinhos vão para com todos os lados e são tão agudos
e fortes que não se podem tocar nem se chegar a eles sem perigo, e que
se necessitam instrumentos duros e meio violentos para destruí-los ou os
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 76
desarraigar. Assim Deus tirará ou destruirá todos os que sejam contrários
ao Seu reino.

Vv. 8-39. CATÁLOGO DE SEUS HOMENS VALENTES.


8. São estes os nomes dos valentes de Davi. — Este versículo
deveria traduzir-se assim: “Aquele que se senta na cadeira de Taquemoni
(Jasobeão filho do Hacmoni, 1Cr_11:11), o qual era chefe entre os
capitães; este era Adino o esnita [TB]; ele levantou sua lança contra
oitocentos, aos quais matou numa ocasião”. Em vez de “oitocentos” deve
ler-se “trezentos” (1Cr_11:11) [Davidson, Hermeneutics]. Sob Joabe ele
era chefe ou presidente do conselho de guerra. O grupo principal
consistia nele e seus dois colegas Eleazar e Sama. Parece que Eleazar foi
deixado sozinho para pelejar contra os filisteus, e quando ele obteve a
vitória, o povo voltou para tomar o despojo. De igual maneira Sama foi
deixado sozinho em sua glória, quando o Senhor por meio dele operou
uma grande vitória. Não é fácil saber se as façanhas relatadas depois,
foram feitas pelos primeiros três que são mencionados ou pelos segundos
três.
15. poço que está junto à porta de Belém — Uma antiga cisterna,
com quatro ou cinco poços na rocha maciça, a uns dez minutos de
caminhada a noroeste do monte de Belém, é assinalada pelos naturais
como Bir-Daoud, ou “a fonte de Davi”. O Dr. Robinson duvida da
identidade do poço; mas outros creem que não há razão para duvidar.
Certamente, considerando-se este como o verdadeiro poço, Belém teria
que ter-se estendido uns dez minutos mais a norte, e ter estado situado,
antigamente, não como agora, sobre o cimo, mas sim sobre a pendente
norte da colina; porque o poço está “à porta” (1Cr_11:7). A descrição
dos viajantes é que a opinião comum é a de que os capitães de Davi
tinham vindo do sudeste para conseguir, com o risco de sua vida, aquela
água tão ansiada; enquanto que se supõe que o próprio Davi estava na
cova grande que não está muito longe ao sudeste de Belém, a qual é
geralmente considerada como a de Adulão. Mas (Js_15:35) Adulão
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 77
estava “no vale” ou seja nas planícies ondulantes no sopé ocidental das
montanhas, de Judá, e por conseguinte a sudoeste de Belém. De qualquer
maneira os homens de Davi tiveram que abrir caminho entre o exército
dos filisteus, para poder chegar ao poço; e a localização de Bir-Daoud
está de acordo com isto. (Van de Velde).
19. aos primeiros três — Os valentes ou campeões do conselho
militar de Davi, estavam divididos em três classes: a primeira e mais
alta: Jasobeão, Eleazar e Sama; a segunda: Abisai, Benaia e Asael; e a
terceira, os trinta, da qual Asael era o chefe. Há trinta e um mencionados
na lista, Asael inclusive, e estes acrescentados às duas ordens superiores,
fazem trinta e sete. Dois deles sabemos que já estavam mortos, a saber,
Asael [2Sm_3:30] e Urias [2Sm_11:17]; e se os mortos, ao ser feita esta
lista, eram sete, então podemos supor que era uma legião de honra,
composta do número fixo de trinta, e quando ficavam vazios, eram
preenchidos com novas nomeações.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 78
2 Samuel 24

Vv. 1-9. DAVI ENUMERA AO POVO.


1. Tornou a ira do SENHOR a acender-se contra os israelitas, e
ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o censo de Israel
e de Judá — “Tornou” nos leva para trás, aos sinais anteriores de Sua
ira nos três anos de fome [2Sm_21:1]. Embora Deus não pode tentar a
nenhum homem (Tg_1:13), nas Escrituras frequentemente Ele aparece
como se Ele fizesse o que só permite que se faça. Assim, neste caso, Ele
permitiu que Satanás tentasse a Davi. O promotor ativo foi Satanás,
enquanto que Deus só retirava sua graça amparadora, e o grande tentador
prevaleceu contra o rei. (Veja-se Êx_7:13; 1Sm_26:19; 1Sm_16:10;
Sl_105:25; Is_7:17, etc.). Foi dada a ordem a Joabe, quem geralmente
não se sentia restringido por escrúpulos religiosos, mas agora não deixou
de manifestar, em termos fortes (veja-se 1Cr_21:3), o pecado e o perigo
desta medida, e fez uso de todo argumento para dissuadir ao rei de seu
propósito. A história sagrada não menciona objeções que ele nem outros
distinguidos oficiais apresentassem no conselho de Davi. Mas diz
expressamente que todas foram denegadas pela inflexível decisão do rei.
5. Tendo eles passado o Jordão — Este censo foi levantado
primeiro na parte oriental do reino hebreu; parece que Joabe ia
acompanhado por uma força militar, talvez para que ajudassem no
trabalho, ou para intimidar as pessoas que pudessem mostrar má vontade
ou oposição.
vale de Gade — Se estende sobre uma superfície de uns noventa e
seis quilômetros e meio; no verão está quase constantemente seco, mas
no inverno mostra sinais de ser varrido por correntes impetuosas (veja-se
Dt_2:36).
6. terra de Tatim-Hodchi (TB) — “terras recém adquiridas”,
novas. Deveria ser “Hodchi” em vez de “Absi”. Terra dos hagarenos
conquistada por Saul (1Cr_5:10). O avanço era feito rumo ao norte; dali
cruzaram o país, baixando ao longo da costa ocidental até os termos
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 79
meridionais do país, e finalmente chegaram a Jerusalém, tendo
completado o censo de todo o país no espaço de nove meses e vinte dias.
9. Deu Joabe ao rei o recenseamento do povo — O número aqui
dado, comparado com aquele que dá 1Cr_21:5, mostra uma diferença de
300.000. Esta discrepância é só aparente, e admite uma explicação fácil:
(veja-se 1 Cr_27:1-15), houve doze divisões de generais, os quais
mandavam mensalmente, e cujo dever era o de guardar a real pessoa,
tendo cada qual um corpo de 24.000 soldados e em conjunto formavam
um exército de 288.000 e como um destacamento especial de 12.000
assistia aos doze príncipes das doze tribos mencionadas no mesmo
capítulo, assim todos chegam a ser 300.000. Estes não se mencionou no
livro, porque estavam no serviço ativo do rei como exército permanente.
Mas 1Cr_21:5 junta estes com os demais, dizendo: “havia em Israel um
milhão e cem mil homens que puxavam da espada”; enquanto que o
autor de Samuel que considera só os 800.000, não diz “todos os de
Israel”, mas simplesmente “havia em Israel”, etc. Além disso deve se
notar que, além das tropas antes mencionadas, havia um exército de
observação sobre a fronteira dos filisteus, composto de 30.000 homens,
como se vê no capítulo 6:1; os quais conforme parece, foram incluídos
no número de 500.000 de Judá pelo autor de Samuel; mas o autor de
Crônicas, quem menciona só 470.000, dá o número daquela tribo
exclusive os trinta mil homens, porque não eram todos da tribo de Judá,
e portanto não diz “todos os de Judá”, assim como havia dito “todos os
de Israel”, mas sim somente “e em Judá”. Assim, se pode conciliar os
dois relatos.

Vv. 10-13. TENDO PROPOSTAS POR GADE TRÊS PRAGAS,


DAVI ARREPENDIDO, ESCOLHE TRÊS DIAS DE PESTILÊNCIA.
10. Sentiu Davi bater-lhe o coração, depois de haver recenseado
o povo, e disse ao SENHOR: Muito pequei no que fiz — O ato de
enumerar o povo, não foi pecaminoso em si; porque Moisés o fez pela
autoridade expressa de Deus. Mas Davi agiu não só independentemente,
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 80
sem ter uma ordem ou sanção, mas por motivos indignos de um rei de
Israel: por orgulho e vanglória, por confiança em si mesmo e falta de fé
em Deus, e, sobretudo, por seus desejos ambiciosos de conquista, no
adiantamento dos quais ele estava resolvido a obrigar o povo a prestar
serviço militar, e para isto investigou se poderia preparar um exército
suficiente para a magnitude das empresas que ele tinha em projeto
efetuar. Foi uma violação da constituição, uma infração das liberdades
do povo, e contrário àquela política divina que exigia que Israel
continuasse sendo um povo separado. Não foram abertos os seus olhos à
enormidade de seu pecado, enquanto Deus não lhe falasse por meio de
seu profeta Gade.
13. Queres que sete anos de fome te venham à tua terra? — a
mais dos três que já tinha havido, incluindo esse ano (veja-se
1Cr_21:11).
14. disse Davi a Gade: … caiamos nas mãos do SENHOR — O
sentido entristecedor de seu pecado o levou a consentir no castigo
pronunciado, apesar do aparente excesso de sua severidade. Ele agiu de
acordo com um bom princípio ao escolher a pestilência, pois assim ele
estava igualmente exposto ao perigo como seu povo e isto era justo;
enquanto que na guerra e a fome, ele possuía meios de proteção
superiores aos deles. Também, nisto ele mostrou sua confiança na
bondade divina fundada numa longa experiência.

Vv. 15-25. SUA INTERCESSÃO PERANTE DEUS; CESSA A


PRAGA.
15. desde a manhã — Desde aquela manhã quando veio Gade
[2Sm_24:18] até o termo dos três dias.
morreram setenta mil homens — Assim foi profundamente
humilhado o vanglorioso monarca, que confiava no número de sua
população.
16. arrependeu-se o SENHOR do mal — Com frequência fala-se
de Deus como arrependido de algo que começou a fazer.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 81
17. Davi … disse a Jeová: -Eu pequei, eu fiz o mal; o que
fizeram estas ovelhas? — A culpa tem que ter enumerado ao povo,
correspondia exclusivamente a Davi. Mas no corpo político assim como
no físico, quando sofre a cabeça, todos os membros sofrem junto; e, além
disso, embora o pecado de Davi foi a causa imediata, o grande aumento
das ofensas nacionais naquele tempo (2Sm_24:1) tinha aceso a ira do
Senhor contra o povo.
18. Araúna — ou Ornã (1Cr_21:18), jebuseu, um dos antigos
habitantes, quem, convertido à verdadeira religião, reteve sua casa e suas
posses. Residia no Monte Moriá, lugar onde o templo foi construído
mais tarde (2Cr_3:1), mas aquele monte não estava incluído na cidade
naquele então.
21. Para comprar de ti esta eira, a fim de edificar nela um altar
ao SENHOR, para que cesse a praga — É evidente que não cessou a
praga até depois que foi edificado o altar e devotado o sacrifício, de
modo que o anterior foi relatado (2Sm_24:16) antecipadamente. Antes
de oferecer o sacrifício, Davi tinha visto o anjo destruidor e também
tinha devotado sua oração intercessória (2Sm_24:17). Este era um
sacrifício de expiação, e a razão por que lhe permitiu oferecê-lo no
Monte Moriá, foi em parte em bondosa consideração a seu temor de se
dirigir a Gibeão (1Cr_21:29-30), e em parte em previsão do traslado do
tabernáculo e a construção do templo naquele lugar (2Cr_3:1).
23. Tudo isto, ó rei, Araúna oferece ao rei — Indicando que este
homem antigamente tinha sido um rei ou chefe pagão, mas que agora era
um prosélito que ainda tinha propriedade e influência em Jerusalém, e
cuja piedade se vê na generosidade de seus oferecimentos. As palavras
“como rei”, dão a entender, segundo alguns, que simplesmente “deu com
generosidade real”.
24. Não, mas eu to comprarei pelo devido preço — A soma
mencionada aqui, cinquenta siclos, equivalente a seis libras inglesas, foi
paga pela eira, os bois e os instrumentos de madeira somente, enquanto a
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 82
grande soma (1Cr_21:25) foi paga depois por todo o monte, onde Davi
fez os preparativos para a edificação do templo.
25. Davi … apresentou holocaustos e ofertas pacíficas — Parece
que houve dois sacrifícios: o primeiro expiatório, e o segundo em ação
de graças pela cessação da pestilência (veja-se 1Cr_21:26).

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