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Instituto Superior Politécnico Deolinda Rodrigues – Idero

I. INTRODUÇÃO
A humanização, que tem sido estudada no âmbito da enfermagem visando proporcionar um
tratamento que leva em conta a totalidade do indivíduo. A humanização em saúde pode ser
definida como o resgate do respeito à vida humana, levando-se em conta as circunstâncias
sociais, éticas, educacionais, psíquicas e emocionais presentes em todo relacionamento. Ao se
falar do momento diagnóstico de uma deficiência acredita-se que a humanização se torna
importante, pois estudos apontam que a atitude do profissional diante da família pode
amenizar o choque causado pela notícia.
Para Andrade, (20013) a discussão sobre a humanização dos profissionais de saúde vem
crescendo nos últimos anos. Esse fato pode ser percebido pelo aumento na publicação de
artigos sobre o tema e pela criação de programas político-sociais que visam à humanização do
ambiente hospitalar e da assistência em saúde. Este trabalho tem como objetivo a reflexão
sobre a importância da humanização dos profissionais presentes no momento em que o
diagnóstico de uma deficiência é comunicado à família ou aos cuidadores. Será feita a análise
teórica sobre o tema e, posteriormente, apresentar-se-ão reflexões a partir de uma entrevista
semiestruturada realizada com a irmã de uma pessoa com Síndrome de West.
Ao nascimento de uma criança, os pais se preocupam com a saúde de seu filho, e a ansiedade
em saber se ele é normal sempre está presente, podendo ser explicitada pela pergunta tão
comum: “Meu filho é normal, doutor?”. Quando está tudo bem com a criança, as respostas
são fáceis, porém ao se detectar de imediato um problema, notam-se as reticências dos
profissionais. "A tempestade começa na maternidade, quando o problema é evidente e permite
chegar a um diagnóstico imediato. Mas, na grande maioria dos casos, é somente após meses
ou anos que se identifica a excepcionalidade – grave ou leve – de uma criança que até então
não tinha diagnóstico conclusivo.
Quando o especialista descobre, quase sempre depois de uma interminável peregrinação dos
pais pelos consultórios, o impacto não é menor". Toda situação diagnóstica é caracterizada
por uma relação de ajuda, na qual o paciente necessita do profissional para a resolução de uma
situação de crise. Essa situação é permeada por sentimentos tanto do profissional quanto do
paciente/família. Por parte do primeiro, existe a expectativa pelo estabelecimento de um novo
contato, no qual ele deseja atuar de forma competente, útil, compreensiva, acolhedora e,
principalmente, tolerante ao sofrimento alheio.

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De acordo o decreto presidencial n º 227/20, que aprova o estatuto orgânico do Ministério da


Saúde, revoga toda a legislação que contraria o disposto no mesmo diploma e nos diz que
existe um gabinete que controla a ética e humanização nos serviços de saúde.
O Gabinete de ética e humanização é o serviço encarregue pela promoção e implementação
do programa de humanização da assistência e de cuidados de saúde, bem como a boa gestão
dos gabinetes do utente do serviço nacional de saúde.
O gabinete de ética e humanização tem as competências seguintes:
a) Implementar uma cultura ética e humanizada, orientada para o docente, que assente
num espírito de equipa e de cooperação entre todos os profissionais de saúde, numa
perspectiva de melhoria contínua da qualidade ética e humana dos cuidados.
b) Conceber e implementar novas iniciativas de humanização das instituições de saúde
que venham beneficiar os utentes e os profissionais de saúde.
c) Promover a realização de estudos de avaliação da satisfação dos utentes e
profissionais.
d) Fortalecer e articular todas as iniciativas de humanização já existentes na rede de
unidades do sector público de saúde.
e) Estimular a realização de parcerias com instituições públicas e privadas e intercâmbio
de conhecimento e experiências na área da ética e humanização.
f) Promover a criação dos gabinetes do utente e apoiar na sua organização e
funcionamento.
Exercer as demaiscompetênciasestabelecidaspor lei oudeterminadassuperiormente.
O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos:
O primeiro capítulo, referente a introdução, a formulação do problema, onde destaca o
problema cientifico, a justificativa do estudo, a delimitação e limitação do estudo.
O segundo capítulo, faz referência aos os objectivos que pretendemos com este estudo, onde
destacamos o objectivo geral e os objectivos específicos.
O terceiro capítulo aborda a fundamentação teórica, onde são definidos os conceitos chaves
do nosso trabalho, é feita uma abordagem sobre os níveis de conhecimento dos profissionais
de enfermagem quanto ao processo de humanização.
O quarto capítulo faz referência a metodologia científica, onde encontramos tipo de estudo,
local de estudo, população e amostra, as variáveis a considerar, critérios, instrumentos de
colecta de dados, dificuldades encontradas e procedimentos.

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O quinto capítulo aborda a apresentação e discussão dos resultados obtidos ao longo da


investigação.
Seguem-se posteriormente as conclusões, sugestões, referências bibliográficas, apêndices e
anexos.

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1.1. Formulação do Problema


O presente trabalho busca analisar o processo de humanização dos enfermeiros sobre
assistência de enfermagem prestada aos pacientes. De acordo com Tetelbom e colaboradores,
o profissional também tem dificuldade em lidar com suas limitações e com a própria condição
de mortal, bem como com os sentimentos provocados pelo encontro dele com as famílias
(contratransferência). O paciente e sua família têm a esperança de que o profissional seja o
responsável pela diminuição do sofrimento e da angústia, assim como desejam ser acolhidos,
amparados e não responsabilizados pela situação em que se encontram. Dado o aumento da
discussão sobre a humanização da saúde, podem ser encontradas na literatura muitas
definições do termo.
Segundo Coelho (2000), o termo "humanizar" significa: tornar humano, dar condição
humana. humanizar é o processo que busca oferecer ao paciente um tratamento que leva em
conta a totalidade do indivíduo. a humanização hospitalar como a principal característica de
uma administração eficaz e como o objetivo primordial de qualquer profissional prestador de
serviço em saúde. O foco dessa filosofia é o bem-estar físico, psíquico, social e moral do
paciente.
Para Coelho, (2000) a humanização na área da saúde entrou em discussão no “Movimento da
Reforma Sanitária”, ocorrido nos anos 70 e 80 do século XX, quando se iniciaram os
questionamentos acerca do modelo assistencial vigente na saúde, centrado no médico, no
biologicíssimo e nas práticas curativas. Esse modelo era oneroso e muito especializado,
focando a doença e não a promoção da saúde “e configurava-se como desumano na forma de
assistir, tanto pelo uso exagerado de tecnologias como pelo relacionamento que se estabelecia
entre os profissionais de saúde e os usuários do sistema”. A partir do “Movimento da Reforma
Sanitária” surge o projeto do Sistema Único de Saúde (SUS) que visa resolver os graves
problemas enfrentados pelo setor público, como a falta de atendimento para toda a população.

Perante esse quadro chegamos a seguinte questão:


 Qual é o nível de conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre o
processo de humanização no hospital geral dos Cajueiros no Iº semestre
de 2021?

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1.2. Justificativa
A principal motivação para sustentar o presente projeto de pesquisa, reside na importância
que o tema possui para a sociedade actual. Sendo considerado um tema clássico. Podemos
afirmar que estudar a influência mútua entre o indivíduo e a sociedade aprofunda a
compreensão das novas estruturas sociais mais recentes.
Segundo Domingues, (1996) em 2001, foi elaborado o Programa Nacional de Humanização
da Assistência Hospitalar do Ministério da Saúde que busca estender o conceito de
humanização para toda a instituição hospitalar, por meio da implantação de uma cultura
organizacional diferenciada que visa ao respeito, à solidariedade e ao desenvolvimento da
autonomia e da cidadania dos profissionais de saúde e dos pacientes. "Assim humanizar em
saúde é resgatar o respeito à vida humana, levando-se em conta as circunstâncias sociais,
éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano... é resgatar a
importância dos aspectos emocionais, indissociáveis dos aspectos físicos na intervenção em
saúde".
"No campo das relações humanas que caracterizam qualquer atendimento à saúde, é essencial
agregar à eficiência técnica e científica uma ética que considere e respeite a singularidade das
necessidades do usuário e do profissional, que acolha o desconhecido e imprevisível, que
aceite os limites de cada situação".
Considera-se, então, que o serviço de saúde deve ter como eixo central a humanização e os
aspectos subjetivos da condição humana, pois a interação dos conhecimentos técnico-
científico com os aspectos afetivos, sociais, culturais e éticos na relação entre o profissional e
o paciente garantem maior eficácia do serviço. A relação profissional-paciente/familiares é
muito importante no momento diagnóstico e ao longo do tratamento. Essa relação deve ser
caracterizada pelo estabelecimento de vínculo, o qual é definido por Ferreira (1986) como:
tudo o que ata, liga, ligação moral; relação, nexo; prender, unir. No âmbito da saúde, criar
vínculos requer o estabelecimento de relações próximas e claras, de forma que o sofrimento
do outro seja sensibilizador.
Conforme Dionísio (1996) Visa ao estabelecimento de processo que busca a autonomia do
paciente, bem como o compartilhamento da responsabilidade por sua vida ou morte o paciente
(deficiente ou familiar) precisa vincular-se ao profissional da área da saúde para que este

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possa transmitir-lhe o diagnóstico. Deve-se oferecer um número suficiente de informações


que possibilitem ao indivíduo compreender as peculiaridades da deficiência.

1.3. Limitação e Delimitação


A limitação do presente estudo está relacionada aos erros que podemos cometer
involuntariamente, tendo em conta as técnicas utilizadas na recolha de dados, aplicação,
análise e interpretação dos resultados. Por esse motivo, gostaríamos antecipadamente de pedir
aos nossos leitores que considerem os resultados com toda a cautela científica, na medida em
que não se trata de um trabalho acabado, pelo que, agradecemos as críticas construtivas que
possam melhorar os futuros trabalhos.
Sendo o tema em estudo de amplitude abrangente, delimitamos o nosso estudo no Hospital
Geral dos Cajueiros.

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2. OBJECTIVOS
Nenhum pesquisador poderá ter êxitos no seu trabalho, se não traçar as metas a atingir. Elas
constituem um importante suporte da pesquisa.Assim sendo, para o estudo que pretendemos
realizar, formulamos os seguintes objectivos:

2.1. Geral
 Estudar o nível de conhecimento dos profissionais de enfermagemsobre o processo de
humanização no hospital geral dos Cajueiros no Iº semestre de 2021;
2.2. Específicos
 Avaliar o nível de conhecimento dos enfermeiros sobre a assistência de enfermagem a
pacientes sobre o processo de humanização;
 Identificar as características do processo de humanização;
 Verificar o papel do enfermeiro no atendimento aos pacientes e seus familiares.

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3.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. Definição de Termos e Conceitos

Assistência de Enfermagem – é o conjunto de procedimentos baseados em normas e rotinas,


cuja essência fundamental é o cuidado e tratamento dos indivíduos enfermos ou sadios.
(DOMINGUES, 1996).

Conhecimento - É uma habilidade. Como habilidade, ela não e algo que possamos repassar a
outro individuo, algo que será desenvolvido através do treinamento e da repetição
(FERREIRA, 2006).

Enfermagem – é uma ciência cuja objectivo e especificidade é cuidar o ser humano,


individualmente, na família ou em comunidade de modo integral. (BACKES, 2006)

Hospital – É a Unidade de Saúde (SNS) que se constitui como primeira responsável pela
promoção e melhoria dos níveis de Saúde da população onde está inserida.

Humor -disposição fundamental que dá aos estados afectivos um carácter agradável ou


desagradável ( que se atribuía antigamente aos estados dos humores do corpo) ( FERREIRA,
2006).

Humanização: na saúde é um conceito relacionado às interações, estrutura e processos


realizados em unidades de saúde, agregando ambientes e relações acolhedoras (ALMEIDA,
2008).

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3.2.A Humanização no Contexto dos Cuidados de Saúde

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, humanizar “é tornar humano, dar condição ou


forma humana; é tornar mais adaptado aos seres humanos; tornar compreensivo, bondoso,
sociável”.
Praticar a humanização em um processo laboral facilita a aproximação entre trabalhadores de
qualquer segmento e aqueles a quem oferece seus serviços. Essa aproximação mostra aos
indivíduos que eles são parte da sociedade e assim que busquem seus direitos e exerçam a
democracia, assim, fazendo com que os atos desumanos sejam discutidos e a dignidade seja
resgatada.
Segundo Andrade (1994), em relação ao conceito de humanização, considera que essa:
caracteriza-se em colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de
maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os
silêncios. O relacionamento e o contato direto fazem crescer, podendo cada indivíduo se
reconhecer e se identificar como ser humano, ou seja, é esse o processo humanizado.
Segundo Almeida (2008), alguns fundamentos propostos para a nova organização e a
cooperação, devem inspirar mecanismos e instrumentos que conduzem a transformação da
sociedade no rumo de sua humanização.
O facto de serem instrumentos operacionais não deve, no entanto, retirar deles sua dimensão
ética que pode ser expresso da seguinte forma:

 a desconcentração, tem na participação seu componente ético;


 a cooperação, o tem na solidariedade.
 a sociedade humanizada, deles decorrente os realiza no equilíbrio social, ou na
equidade, no amor e na paz.
O diálogo também é parte do processo de humanização, por isso deve ser valorizado, para que
haja entendimento claro sobre as informações a serem passadas para o paciente e sua família.
Assim como, os profissionais compreenderem as dúvidas dos mesmos.

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A comunicação não verbal também pode ser vista como parte da Humanização, pois gestos e
olhares também fazem parte da comunicação, pois a empatia e a comunicação verbal ou não
verbal são pré-requisitos necessários para uma ação recíproca entre as pessoas.
Consideramos então que esses elementos fazem parte de um mesmo processo que deve ser
harmônico, objetivando atingir uma sociedade humanizada.
A humanização é o ato de tornar o indivíduo mais humano, oferecer condições sociáveis,
valorizando e respeitando seus princípios éticos e morais. É sinônimo de empregar sabedoria
e sentimento nos cuidados prestados, agir de maneira sincera e leal ao outro, ouvir com
ciência e paciência o pedido de socorro escondido por de traz de conflitos, dores, incertezas,
solidão, carência, enfim, sensações inerentes de pessoas envolvidas em um processo de
perdas. É neste exato momento de troca que se executa a humanização.
Conforme Almeida (2006.) afirma que a “humanização é um processo de construção gradual,
que é realizada através do compartilhamento de conhecimentos e de sentimentos.” Sendo
assim podemos considerar que o indivíduo humanizado é o que compartilha o que tem de
melhor, sua dedicação, seu conhecimento.
A humanização é a interação entre duas ou mais pessoas, envolvendo respeito, ética e
relacionamento interpessoal, dependendo da reciprocidade entre remetente e destinatário,
onde o interlocutor interpreta e acrescenta informações.
Para Dionísio, (1996), humanizar é ter o respeito à outra pessoa como condição para sua
realização, reconhecendo a sua posição e das organizações que construídas, como é o caso dos
profissionais da saúde que têm no enfermo a razão de sua realização pessoal e profissional.
Entretanto para o autor, praticar a humanização não se trata apenas de princípios morais, mas
também o respeito com os seres humanos.
A humanização na saúde pode ser vista em postos de atendimento ao paciente, em clínicas
médicas, em consultórios de fisioterapias etc.
Serão apresentados nesse trabalho as condições e a qualidade do atendimento oferecidos, os
conceitos de assistência à saúde e a valorização da vida humana e cidadania, a implantação de
iniciativas de humanização que venham a beneficiar os usuários e profissionais da saúde e o
fortalecimento de iniciativas já existentes.
O acto e o facto de humanização em hospitais são necessários justamente para que não ocorra
o desconforto para os atendidos e para aqueles que trabalham nesses ambientes.
Para Domingues, (1999) nas relações vivenciadas em hospitais são necessários atributos
como, compaixão, competência, confiança, consciência e comprometimento. As cinco

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atitudes citadas pela autora têm finalidade de ajudar o cuidador a ter mais responsabilidades
de seus atos com o indivíduo a ser cuidado.
Conforme Domingues, (1999) ainda afirma que esses cinco atributos devem ser vistos como:
 a compaixão é interpretada como sensibilidade, a dor pela participação na experiência
do outro e como compartilhamento da condição humana.
 a competência é caracterizada pelo estado de possuir conhecimentos, habilidades,
energia, capacidade de julgamento, experiência e motivação para responder a contento
as demandas das responsabilidades profissionais nos serviços de saúde.
 a confiança se desenvolve através de relações respeitosas, segurança e honestidade.
 consciência moral, o cuidador precisa estar atento a natureza do que ocorre com os
pacientes oferecendo a eles a satisfação de bem-estar e cuidado.
 comprometimento e resposta aos desejos e obrigações que resultam na ação, na atitude
de cuidar do outro.
A esse respeito, afirma Backes (2006) que ao serem cuidados de forma competente e amável
os pacientes se sentem seguros.
Para Backes (,2006, p.43 e 44) é importante considerar-se também que em um hospital é
necessário que a estrutura física também seja adequada para que os pacientes e colaboradores
estejam satisfeitos com os serviços prestados e oferecidos, pois de acordo com:
Quando nos dedicamos a identificar e atender necessidades legítimas dos outros(servir),
descobrimos que é preciso fazer alguns sacrifícios. Quando rompemos com o “eu” e nos
empenhamos em atender as legitimas necessidades dos outros, nossas carências também são
satisfeitas.
Para que o trabalho de um profissional seja eficiente e ao mesmo tempo humanizado é
necessário conhecimento, aperfeiçoamento, qualidade técnica e de inter-relação humana. A
oferta de qualidade exige o desenvolvimento de conhecimento para lidar com os aspectos
emocionais do paciente, isto é, precisa desenvolver atitudes eficientes e humanas em sua
tarefa assistencial. É necessário repensar as práticas das instituições de saúde, buscando
opções de diferentes formas de atendimento e de trabalho que preservem este posicionamento
ético no contato pessoal e no desenvolvimento de competências relacionadas. Pois o cuidador
será lembrado sempre por um paciente, seja nas pequenas situações vivenciadas, como, ações
e palavras positivas. Essas atitudes podem parecer corriqueiras, mas é uma demonstração de
respeito para quem está sendo cuidado.

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Outro ponto importante dentro do atendimento à saúde nos dias de hoje é o avanço
tecnológico, necessário paramelhoria do atendimento oferecido aos pacientes e do trabalho
realizado pelos profissionais.
Humanização precisa ser sentida e notada, tanto pelos pacientes e familiares como pela equipe
profissional; o cuidado resume-se na responsabilidade profissional e esforço de tratar as
pessoas, respeitando suas necessidades, estimulando sua potencialidade e considerando sua
autonomia nas escolhas. Portanto, entende-se que humanização não é somente uma técnica,
um artifício, mas uma atitude positiva no processo vivencial.
De acordo com Dionísio al, (2006), o homem passa nos dias de hoje, por uma grande crise de
humanismo, pois presencia grandes transformações na economia, política, tecnologia,
esportes, direitos e deveres do cidadão, família e saúde, que fazem com que este deixe de ter
compaixão pelo próximo, ou seja, não pratique a humanização, fazendo que o desrespeito e
violências pelo próximo vire rotina.
afirma Batista (2006, p.25) que: frequentemente, violências morais, psicológicas e físicas
ocorrem em muitas instituições de saúde públicas e privadas de nosso pais tendo como actores
diretos, profissionais que lidam com a clientela e indiretos, dirigentes de instituição e
administradores públicos envolvidos mais frequentemente com a burocracia. O autoritarismo
de administradores e médicos, o abuso do poder, a banalização do sofrimento ainda atinge
muitos hospitais.
Como Coelho[et al.], (2000, p.280), diz-nos que “humanizar, significa distribuir de uma
forma global e igualitariamente benefícios e resultados consideradas propriedades sine qua
non da condição humana tais como, dar atenção às necessidades básicas de subsistência,
educação, segurança, justiça, trabalho, acesso à liberdade de associação, de pensamento e
expressão, de ideologia política, de prática científica, arte, desporto, culto religioso e
particularmente: o cuidado à saúde.”
Tal como refere Coelho [et al.],(2000, p.280), “humanizar é, ainda, garantir à palavra a sua
dignidade ética. Ou seja, o sofrimento humano, as perceções da dor ou de prazer no corpo,
para serem humanizadas, precisam tanto que as palavras com que o sujeito as expressa sejam
reconhecidas pelo outro, quanto esse sujeito precisa ouvir, do outro, palavras de
reconhecimento. Pela linguagem fazem-se as descobertas de meios pessoais de comunicação
com os outros, sem que se desumanize reciprocamente”. Isto é, a comunicação é essencial à
humanização.

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Segundo Coelho (2000, p.281) podemos perceber que “a humanização depende da


capacidade de falar e de ouvir, pois as coisas do mundo só se tornam humanas quando
passam pelo diálogo com os semelhantes, ou seja, viabilizar nas relações e interações
humanas o diálogo, não apenas como uma técnica de comunicação verbal, mas sim como
uma forma de conhecer o outro, compreendê-lo e atingir o estabelecimento de metas
conjuntas que possam propiciar o bem-estar recíproco”
Neste sentido, humanizar em saúde implica dar lugar tanto à palavra do utente quanto à
palavra do enfermeiro, para que possam fazer parte de uma rede de diálogo, a partir da
dignidade ética da palavra, do respeito, do reconhecimento mútuo e da solidariedade.
A mesma ideia é defendida por Ferreira (2006, p.XV in Pessini e Bertachini, 2004) quando
nos refere que “humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética. (...) É preciso que as
palavras que o sujeito expressa sejam reconhecidas pelo outro. É preciso, ainda, que esse
sujeito ouça, do outro, palavras de seu reconhecimento. É pela linguagem que fazemos as
descobertas de meios pessoais de comunicação com o outro. Sem comunicação não há
humanização. A humanização depende da nossa capacidade de falar e de ouvir, depende do
diálogo com os nossos semelhantes”.
Apesar dos diferentes conceitos de humanização, todos eles assentam no respeito pelo
princípio da dignidade da pessoa humana. Deste modo, humanizar “poderá ser, então,
respeitar a pessoa doente como ser humano, independente da sua idade, “privatizar” o seu
espaço e os cuidados a ela prestados, desde a sua admissão no hospital até a sua alta” Os
enfermeiros e todos os outros profissionais de saúde que trabalham nos hospitais devem ter
uma sensibilidade para cuidar a pessoa com solidariedade e ética. Para tal, é indispensável
que o enfermeiro desenvolva aspetos essenciais para a sua conduta de atuação. Na opinião de
Domingues (1996, p. 7), o enfermeiro “deve tentar estabelecer uma relação empática, serena
e comunicativa (...); além da competência científica, técnica e ética deve ter uma autoestima
serena, confiante e harmoniosa (...); deve cultivar o equilíbrio emocional e desenvolver
motivações positivas, (...) o espírito de disponibilidade e de atitudes positivas e realistas; (...)
é essencial a auto realização, atualizando capacidades, (...) afinar a própria filosofia de vida
(...) e aprender a racionalizar e otimizar os métodos de trabalho (...) ”. Reforçando esta ideia,
é fundamental que o enfermeiro ajude o utente a enfrentar a situação de doença, mas
promovendo a sua independência, autonomia, liberdade de escolha e de decisão.
Também a Ordem dos Enfermeiros, no artigo 9º do seu Código Deontológico, faz referência
à humanização dos cuidados: “o enfermeiro, sendo responsável pela humanização dos

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cuidados de enfermagem, assume o dever de: dar, quando presta cuidados, atenção à pessoa
como uma totalidade única, inserida numa família e numa comunidade; contribuir para criar o
ambiente propício ao desenvolvimento das potencialidades da pessoa”.
Na opinião de Batista, (2006, p. 272), “a sociedade pretende enfermeiros competentes tanto
do ponto de vista da ciência como da técnica e que possuam uma formação humana que os
torne capazes de prestar cuidados tendo em atenção a pessoa na sua globalidade de ser bio-
psico-social-espiritual, integrada numa família e numa comunidade que fazem parte
intrínseca do seu estar-no-mundo”. Podemos então referir que a humanização está
intimamente ligada à pessoa que, como parece evidente, é única e torna-se diferente nos
modos como se relaciona com o outro, age segundo aquilo que é e de acordo com a sua
personalidade.
A pessoa é um ser aberto, em crescimento constante e consciente, que se vai realizando ao
“passar pelos outros”. A pessoa também se faz a si no agir: personaliza-se e constrói a sua
personalidade. Agir de forma consciente, livre e social face ao mundo é sinal de um processo
de personalização. A pessoa ao tomar consciência do seu agir, organiza um quadro de
valores, hierarquiza-os, assume como “bem” o que o realiza e humaniza e como “mal” o que
o despersonaliza. Cada pessoa tem uma forma pessoal de estar no mundo, consoante as suas
opções particulares têm sentido num projeto de vida.
Para Ferreira, (2006, p. 97) “a pessoa não é simplesmente um organismo ou um ser físico; a
pessoa é também uma parte da Natureza, um ser espiritual, nem puramente físico nem
puramente espiritual”. Para nós, a pessoa é um ser humano único, independente da sua idade,
sexo, saúde física ou mental e é também um ser moral. Qualquer pessoa possui sentimentos e
valores próprios que têm de ser respeitados, possui também consciência moral, autonomia
moral e responsabilidade. Podemos dizer que a pessoa virtuosa, a pessoa de bem, inclina-se
para a verdade, para o justo e para o bem, e aplica-se à utilização dos meios em vista da
autorrealização e da felicidade como apetência fundamental. Podemos dizer também que o
corpo, os sentimentos e os pensamentos são expressões essenciais de todos os seres humanos.
Para a enfermagem, a pessoa é a origem e a meta de toda a atuação que pretende ser humana
e humanizadora. A profissão de enfermagem encontra na sua existência e razão de ser na
pessoa que cuida, o utente. Este é um ser único, com uma realidade própria, exclusiva e
irrepetível, inserido num contexto cultural e histórico, com necessidades próprias e em
contínua construção, devendo ser respeitado na sua globalidade. Podemos então verificar que
a pessoa é o foco central da enfermagem, é aquela que recebe ou poderá receber cuidados, ou

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seja, é o ponto de partida para a enfermagem e deve ser vista como parte de um todo
(ambiente, família, sociedade) e não como um sujeito isolado.
A nossa profissão dirige-se a pessoas, integrando um quadro de referências ligado ao respeito
pela integridade humana e à conceção da liberdade e escolha humana.
De acordo com Almeida, (2008, p. 68), “a pessoa passa a ser o centro de interesse, baseado
numa relação interpessoal que ocorre entre a pessoa que necessita de ajuda e a solicita, e a
pessoa capaz de dar ajuda, onde o cuidado não é um ato mecânico, mas sim humanístico”.
Falar de pessoa implica, portanto, falar da sua dignidade. Ao enfermeiro, como já referimos
anteriormente, além de uma exigência técnica e científica, é exigida também uma relação
com o utente que assente no respeito pelo princípio da dignidade. Podemos dizer que a
dignidade humana está intrinsecamente ligada à pessoa, ou seja, se a pessoa existe, então, ela
tem dignidade.
Nas palavras de Almeida, (2008, p. 232),” o nosso corpo traz em si as marcas da nossa
consciência e do nosso mundo e, desse modo, ele é indissociável do enraizamento da noção
de dignidade, que deve partilhar com a racionalidade que também nos caracteriza como seres
humanos.”
Na área da saúde e especificamente da enfermagem, toda a pessoa humana é sujeito de
direitos e deveres, expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamados
pelas Nações Unidas e garantidos pela Constituição da República Angolana.
Segundo Almeida, (2008, p. 236), “podemos verificar que esta declaração favorece a
manutenção de um ambiente saudável, tanto a nível social como moral, e ainda, em última
instância, a uma consciência ecológica, ao chamar a si o respeito pela vida humana à face da
Terra, com dignidade”.
Em caso de doença e internamento, estes direitos e deveres não são perdidos ou diminuídos,
pois a pessoa doente é uma pessoa e, como tal, deve ser tratada de forma humanizada. Assim,
surge a Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (Angola - Ministério da Saúde, 1999). Esta
carta mostra-nos que é imprescindível que os cuidados sejam prestados de forma holística,
centrados na pessoa (utente) e com vista à qualidade dos cuidados prestados. Assenta num
conjunto de valores fundamentais, como a dignidade humana, a equidade, a ética e a
solidariedadee representa mais um passo no caminho da dignificação dos doentes, do pleno
respeito pela sua particular condição e da humanização dos cuidados de saúde, caminho que
os doentes, os profissionais e a comunidade devem percorrer lado a lado. Neste sentido, esta
carta representa “mais um passo no caminho e dignificação dos doentes, do pleno respeito

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pela sua particular condição e da humanização dos cuidados”. Podemos verificar a


obrigatoriedade desta conduta nos princípios gerais de atuação do Código Deontológico do
Enfermeiro, que refere no seu artigo 78º que “as intervenções de enfermagem são realizadas
com a preocupação da defesa da liberdade e da dignidade da pessoa humana e do
enfermeiro.” O artigo 81º, relativo aos valores humanos, diz-nos que “o enfermeiro, no seu
exercício, observa os valores humanos pelos quais se regem o indivíduo e os grupos em que
este se integra e assume o valor de: Cuidar da pessoa sem qualquer discriminação;
salvaguardar os direitos das crianças; respeitar e fazer respeitar as opções políticas, culturais,
morais e religiosas da pessoa e criar condições para que ela possa exercer, nestas áreas, os
seus direitos”.
Todo o profissional de saúde tem também necessidade de ter a sua condição humana
preservada, para que possa exercer/cuidar do outro com honra, dignidade e respeito. Sendo
assim, é importante que tanto as políticas de saúde como as instituições estejam também
voltadas para a vida e dignidade dos seus profissionais, pois, trabalhar com insatisfação, leva
muitas vezes à desumanização.
Segundo Andrade (2006) considera que humanização, como espaço ético requer o fomento
de relações profissionais saudáveis, de respeito pelo diferente, de investimento na formação
humana dos sujeitos que integram as instituições, além do reconhecimento dos limites
profissionais. Considera ainda que, o verdadeiro cuidado humano, prima pela ética, enquanto
elemento impulsionador das ações e intervenções pessoais e profissionais.
O respeito pela dignidade da pessoa humana é sem dúvida a base que se mantém ao longo dos
tempos na enfermagem, embora os conceitos de enfermagem e do cuidar em enfermagem,
tenham tido diferentes interpretações.

3.3. Serviço de Humanização Nos Hospitais


Como já vimos, o termo Humanização tem sido cada vez mais utilizado na assistência em
saúde, quer relacionado com as políticas de saúde, quer relacionado com a hospitalização, a
ética e as tecnologias.
Conforme Backes e Lunardi “(, 2006, P. 221) a humanização em saúde tem como principal
objetivo promover o bem-estar dos profissionais e utentes com a dignidade a que todo o ser
humano tem direito. “A humanização significa ser capaz de identificar e valorizar na prática o
que é importante e fundamental aos olhos de quem convive e estabelece as relações de
trabalho.

Trabalho de Conclusão de Curso


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São os pequenos e grandes cuidados do dia a dia que tornam o ser humano único e especial
nos diferentes espaços e situações em que se encontra, ou seja, para que exista uma
assistência humanizada deve-se prestar um atendimento personalizado, voltado para o ser
humano doente e por isso, conciliar o acolhimento, o respeito e a tecnologia.
Segundo Almeida (2008). podemos dizer que a humanização em saúde está intimamente
ligada ao conceito de “qualidade de vida”, que se centra na pessoa e na satisfação pessoal, e
no conceito de “qualidade de serviços”, que se refere aos recursos humanos e materiais, à
articulação de estratégias de organização e a alianças e parcerias. Esta ligação visa a
excelência dos serviços e dos cuidados prestados.
De acordo com Almeida, (2008, P. 33) “não é possível humanizar a gestão das organizações
sem melhorar a qualidade, da mesma maneira que a procura da qualidade, traz consigo
necessariamente a humanização das instituições” Afirma também que “a qualidade positiva
dos conhecimentos e procedimentos técnico-científicos deve ser acompanhada de uma
correspondente qualidade no modo de atender e comunicar, no respeito e simpatia, na
informação cuidada e adequada, relação humana e humanizadora que seja a outra grande
tecnologia, com custos mais reduzidos, e efeitos também eles surpreendentemente notáveis."
Segundo Almeida (2008, p. 34) constata que “humanização pode e deve ser, em ambiente
hospitalar, o outro nome a dar à Qualidade, uma vez que uma e outra concorrem para um e
mesmo fim, o serviço à pessoa doente, na procura da excelência de cuidados e na afirmação
dos mais altos valores da humanidade que devem inspirar todos e cada um dos que participam
nesta mudança de paradigma, da qual queremos ser agora protagonistas”.
Ainda segundo o mesmo autor “humanizar, hoje, no mundo da saúde, significa pôr a marca
do humano em todo o nosso processo relacional com cada um dos doentes e lutar para que as
circunstâncias em que ele acontece não sejam um obstáculo à nossa ação humanizada e
humanizadora”.
Nos dizeres de Almeida (, 2008, p. 12) assim, este Serviço pretende estar atento a todos os
que frequentam este hospital, nomeadamente doentes, utentes e profissionais, numa
perspetiva de respeito e de dignidade em si próprios e para com os outros. Visa ser o Serviço
de Humanização reconhecido no mundo da saúde como “uma comunidade onde a pessoa seja
o referencial valorativo mais elevado da sua ação”, assumindo como valores fundamentais da
vida humana: “a dignidade, a solidariedade, a amizade, a verdade, a autenticidade, a bondade,
a liberdade, a competência, o compromisso” (Almeida, 2008, p. 13).

Trabalho de Conclusão de Curso


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Concluindo, a proposta de humanização dos serviços de saúde é um valor básico para


conquistar melhor qualidade no atendimento e nas condições de trabalho dos profissionais
tornando humano o atendimento e o relacionamento, respeitando as diferenças e limitações de
cada um e proporcionando qualidade e melhoria no hospital.
Para Conforme Domingues, (2009)) os profissionais da Saúde, por se submeterem, em sua
actividade, a tensões provenientes de várias fontes, precisam também receber cuidados; sendo
assim, cuidar de quem cuida é condição para o desenvolvimento de projetos e ações em prol
da humanização da assistência, considerando o paciente como o principal foco de um hospital.
O Humaniza-SUS é a Política Nacional de Humanização (PNH) foi criado no Brasil com a
proposta de melhoria na relação dos usuários com os que os atendem, oferecendo quatro ações
principais para a referida proposta:

 Redução de filas e do tempo de espera;


 Atendimento ampliado, acesso ilimitado do usuário a informação;
 Direito do paciente a ter acompanhamento de pessoas de sua escolha;
 Gestão participativa aos seus trabalhadores e usuários assim como educação
permanente dos trabalhadores.
Apresenta também cinco grandes diretrizes:
 Acolhimento com a avaliação e classificação de riscos, ou seja, o atendimento seria
feito de acordo com a gravidade do caso. Oferecendo um atendimento qualificado,
voltado à necessidade de cada assistido.
 Informar ao paciente sobre atendimento oferecido, dando-lhe segurança e maior
possibilidade de restabelecimento.
 Construção de um ambiente de trabalho com boas condições físicas e respeito entre
usuários e profissionais.
 Gestão participativa criando mecanismos de envolvimento dos usuários, trabalhadores
e dos gestores de saúde, avaliando queixas e sugestões de melhorias.
 Gestão compartilhada e valorização do trabalhador do SUS, promovendo melhores
condições de trabalho e remuneração adequada.
A humanização deve estar presente nos hospitais, os prestadores de serviços devem oferecer
aos pacientes um atendimento diferenciado, valorizar os pacientes como sendo especiais de
maneira que ao cuidar se sintam especiais e não sendo objetos de pesquisas para os
profissionais.

Trabalho de Conclusão de Curso


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3.4 Cuidados de Enfermagem Humanizados

Conforme Domingues, (2009) ao longo dos tempos pode verificar-se que o “Cuidar” foi a
essência da enfermagem, palavra que sempre esteve presente na prestação de cuidados, na
relação com o outro, no agir individual e pessoal de todos quantos se dedicaram a cuidar da
Pessoa.
Nesta perspetiva e desde o início da humanidade, o ato de cuidar revela-se uma necessidade
para o bem-estar do Homem, sendo, portanto, uma prática que acompanha o evoluir dos
tempos. Este ato assume-se como individual, prestado a nós próprios desde que possuidores
de autonomia. Contudo, tal também pode ocorrer como um ato de reciprocidade, quando
existe a necessidade de colmatar necessidades vitais de um outro incapaz de as satisfazer, de
forma temporária ou definitiva.
Conforme Domingues, (2009) Jean Watson, teórica de enfermagem de renome, que muito
tem abordado o cuidar, definiu – o como “o ideal moral da Enfermagem, pelo que o seu
objetivo é proteger, melhorar e preservar a dignidade humana. Cuidar envolve valores,
vontade, um compromisso para o cuidar, conhecimentos, ações carinhosas e as suas
consequências. Todo o cuidar está relacionado com respostas humanas intersubjetivas às
condições de saúde-doença”
Para Andrade (, 2004, p. 54) todo o ser humano tem necessidades físicas, emocionais e
sociais e segundo a mesma autora, “a função da enfermagem na ciência, assim como na
sociedade, é cuidar da totalidade da personalidade humana”.
Conforme Carvalho, (1996, p. 48) hoje em dia é fundamental que os enfermeiros vejam o
doente como um todo único, uma pessoa com nome, família e inserido numa sociedade, que
cuide dele como gostaria de ser cuidado. Porque afinal, “se a ciência nasce da vontade de
saberes, se a medicina nasce da vontade de servir, o mesmo podemos dizer da enfermagem
que nasce da vontade de cuidar”.
Perante tudo isto e na opinião de Coelho (2000, p. 174) “não é demais referir que cuidar, para
além do saber científico, de uma ação técnica e de relações interpessoais, é um valor
intrínseco e implica no ato de cuidar reconhecer, respeitar e defender a pessoa, como sujeito
de direitos e deveres. Desta forma, a humanização adquirirá certamente um rosto mais
humano”.
Na opinião de carvalho, “enfermagem e cuidados de saúde de qualidade, exigem hoje em dia
um respeito humanista pela unidade funcional do ser humano requerem conhecimentos,

Trabalho de Conclusão de Curso


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empenhamento, valores humanos, compromisso pessoal, social e moral do enfermeiro no


tempo e no espaço” (Carvalho, 1996, p. 52). Assim, pensamos poder dizer que, na nossa
opinião, o objetivo da enfermagem, tanto para a sociedade como para a ciência, é cuidar da
pessoa holisticamente, respondendo às suas necessidades. É necessário que haja
envolvimento pessoal e que o enfermeiro cuide baseado nos valores humanos e com a
preocupação do bem-estar do outro, nos momentos em que a saúde se encontra ameaçada.
Para tal, o enfermeiro tem de ter a capacidade para se moldar, a vontade de cuidar e de amar,
de tratar o outro como pessoa, com preocupação e empatia. Como refere Domingues (1996),
“o enfermeiro tem como modelo de vida cuidar dos outros quando e como eles precisarem e
para tal, deverá tentar conhecer-se para fazer desabrochar as próprias capacidades integrando-
as numa personalidade sadia, livre, solidária e responsável” (Dionisio, 1996, p. 6).
Na opinião de França, “a atenção integrada a prestar à pessoa de quem cuidamos é
fundamental para bem cuidar, pois cada um de nós tem um nível de saúde de acordo com a
sua vida, isto é, com o seu ambiente familiar, social, profissional, económico, mas também de
acordo com as suas crenças, os seus valores, a sua cultura, a sua idade, etc.”
De acordo Ferreira, (2006, p. 22) a ciência e a arte de bem cuidar só são possíveis se o
enfermeiro estiver ciente da importância do acolhimento e do relacionamento para que seja
possível uma boa comunicação. Através de uma comunicação eficaz, consegue-se identificar
as necessidades de cada um e satisfazê-las com ciência, consciência e rapidez. De facto, “o
ideal humano é ser bom para agir bem e tornar-se cada vez mais humano: a adustez busca
afinar lucidamente o autoconceito informando a inteligência e desenvolvendo a
disponibilidade afetiva para acolher, entender e agir criteriosamente a tempo e horas” . A
enfermagem deve ser cada vez mais um fator de progresso, sem esquecer o aspeto humano,
pessoal, que deve acompanhar as nossas relações do dia a dia, especialmente na prestação de
cuidados a um doente. Um paciente deve ser tratado, antes de tudo, como um indivíduo, com
as suas vivências, memórias, no seu pleno sentido... como uma Pessoa.
Na nossa opinião, a humanização das relações e do cuidado são os pequenos e grandes
cuidados do dia a dia e, por isso, devem conciliar o acolhimento, o respeito e a tecnologia.
Torna-se necessária uma prática técnico-científica excelente (competências técnicas do
profissional), como também uma prática com sensibilidade e solidariedade humanas, com a
finalidade de prestar cuidados de qualidade, com maior eficácia e eficiência.
Os avanços da tecnologia e dos cuidados de saúde tornam muitas vezes difícil a criação de
relações que respeitem o doente. Para tal, era necessário o número suficiente de profissionais,

Trabalho de Conclusão de Curso


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a aquisição de novos equipamentos, Serviços novos e mais adaptados, melhoria das


condições do Serviço (para tratar com pudor e privacidade) e das remunerações.

3.5. Humanização em Pediatria


Segundo Ferreira, (2006, p. 22) a humanização do cuidar em pediatria engloba várias
preocupações entre as quais: o desenvolvimento da criança, a hospitalização, a família, a
parceria de cuidados e ainda a dor.
Com a evolução da sociedade, as crianças e os jovens conseguiram assegurar um lugar de
destaque, o que conduziu a que um sem número de estudiosos desenvolvesse um crescente
interesse por elas. Ao contrário do que se pensava antigamente, a criança não é um adulto em
miniatura. Associado ao seu património genético e organização neurológica encontram-se
interações complexas, com influência no mapa intelectual, individual, emocional, social e
moral do indivíduo, durante a infância e mesmo na vida adulta. Se é correto que as
influências genéticas têm um forte impacto na vida destas, o ambiente em que se encontram
inseridas é fundamental no seu desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental. O
simples conceito de ambiente engloba não só o espaço físico, mas, também, diversos fatores
que podem moldar de forma positiva ou negativa o crescimento e o desenvolvimento.
Visando um desenvolvimento harmonioso e construtivo da criança é importante demostrar
que “as relações fortes, sólidas, empáticas e afetivas dos adultos fazem com que as crianças
aprendam a «olhar» o outro de forma solidária e afetiva, conseguindo ultrapassar os seus
medos, comunicando os seus sentimentos e desejos... aprendendo a relacionar-se com o
mundo à sua volta.
A mãe foi desde sempre reconhecida como o principal pilar na educação e desenvolvimento
físico, emocional e comportamental do seu filho. Atualmente verifica-se que o pai, assim
como a família alargada, possuem um importante papel no seu crescimento e na pessoa em
que se vai tornar. A relação que se estabelece entre pais e filhos evoluiu no sentido de
desenvolvimento da criança, estando, contudo, dependente da figura e caráter paternos.
Com diz Ferreira, (2006, p. 35) a estabilidade da família, bem como dos grupos e atividades
frequentadas, permite à criança e jovem, nas diferentes idades, estabelecer relações
estruturadas e duradouras baseadas no bem-estar de todos os intervenientes e tendo os adultos
como modelo de referência. A estrutura da criança não é a de um organismo adulto, é a
estrutura de um sujeito vivo, pessoa que se está a construir, podemos dizer que as crianças

Trabalho de Conclusão de Curso


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“são pessoas únicas, em permanente desenvolvimento, que necessitam ser ajudadas a atingir
o seu máximo potencial”.
Trabalhar num Hospital Pediátrico pressupõe diariamente um confronto com esta dura
realidade da vida: a doença na criança e a necessidade de hospitalização.
Embora para os profissionais de saúde esta situação se possa tornar numa rotina, existem
sempre aspetos que exigem uma reflexão introspetiva, devendo derivar daí uma mudança de
mentalidade, comportamento e alteração da postura profissional.
De acordo Krebs, (1999) com o progresso tecnológico e a contínua evolução da medicina e
da enfermagem, facilmente se esclarece o diagnóstico a partir do qual se determina o
respetivo tratamento, diminuindo o tempo médio de internamento em unidades
especializadas. No entanto, crianças há cujo estado de doença é grave, exigindo uma
hospitalização mais prolongada, o que pode conduzir a extensas consequências de foro físico,
psíquico, social e económico, para as mesmas e respetiva família.
Para a criança, “é difícil distinguir as limitações e o sofrimento inerente à doença, das dores
impostas pelos próprios tratamentos, associadas às limitações da mobilidade ou alimentares, à
administração de medicação oral ou injetável e até às modificações inevitáveis nas atitudes
dos pais que alteram o clima afetivo da relação pais-filhos. Todo este conjunto de alterações
pode ser vivido, e é muitas vezes, como uma situação traumática que leva a modificações
importantes no funcionamento mental da criança.
As reações das crianças variam de acordo com a idade, estádio de desenvolvimento e mesmo
com a ausência dos pais. Frequentemente os recém-nascidos manifestam comportamentos de
protesto e desespero, choro frequente, apatia e sono agitado; até aos três anos, manifestam
reações de protesto, desesperança e desligamento sequencialmente.
Para Krebs, (1999) é na fase pré-escolar que manifestam o medo por lesão corporal e pelo
aumento da sensibilidade à dor, feridas, sangue e aos procedimentos médicos e de
enfermagem (Baldini e Krebs, 1999). No início da idade da pré-adolescência, as crianças
ainda manifestam preocupações relacionadas com a lesão corporal, a mutilação e mesmo com
a morte. Mais tarde sentem medo de ser abandonadas, de perder os amigos, por estar longe de
casa e da escola e preocupam-se em ficar para sempre inválidas. No fim desta fase as suas
grandes preocupações prendem-se ao facto de estarem ausentes da escola e por isso
preocupam-se em perder capacidades intelectuais, físicas e sociais já adquiridas
anteriormente

Trabalho de Conclusão de Curso


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De acordo Krebs, (1999) no início da idade da adolescência, geralmente as suas preocupações


estão relacionadas com as alterações corporais (funcionais e orgânicas), exposição das partes
íntimas e com uma possível humilhação por parte dos amigos. Mais tarde (a partir dos 13
anos), manifestam inquietação acerca da dor e das possíveis incapacidades e preocupam-se
com o aspeto físico, ou seja, com integridade, proporções, diferenças e disfunções. Estas
possíveis alterações podem levar a estados de ansiedade e insegurança emocional, rejeição
afetiva, dependência dos pais e profissionais de saúde e em situações mais graves, pode levar
à depressão.
A família é uma referência quando se pensa nos cuidados pediátricos, sendo “consensual o
seu enquadramento no sistema de saúde que se pretende mais humanizado e capaz de dar
respostas eficientes e em tempo oportuno a situações que variam de simples a bastante
complexas”. segundo Batista, (2006, p. 51). À família deve “caber o papel de suporte afetivo,
de informar o pessoal hospitalar que cuida das suas crianças/adolescentes dos hábitos, caráter
ou comportamento habitual destes e de prestar os cuidados básicos – higiene e alimentação,
se tal for permitido no estado de saúde em que se encontram, de modo a não lhes alterar, na
medida do possível, as suas rotinas”.
Inicialmente, toda esta alteração da rotina familiar vem acompanhada de sentimentos de
medo, que só poderão ser ultrapassados se ocorrer o envolvimento da equipa multidisciplinar
com a família. Podemos dizer que durante a hospitalização se “pretende preservar a
indissolubilidade do binômio mãe-filho, reduzindo assim o tempo de internação, aumentando
o calor afetivo e a colaboração da equipe de saúde, criando um vínculo de confiança entre
família e equipe”. Promover um bom acolhimento, estabelecer parcerias, potenciando a
excelência do cuidar em enfermagem e o papel dos pais no que concerne à tomada de
decisões e a participação nos cuidados à criança, implica uma maior segurança e proteção
para esta última e talvez mais qualidade nas intervenções a efetuar. Desta forma, a presença
dos pais não pode ser vista como uma opção, mas sim, como uma necessidade.
Para Bettinelli (2003) apesar de todos os obstáculos que se possam fazer sentir, são notórias
as vantagens decorrentes do acompanhamento da criança por um dos progenitores, pois “é na
família que ela tem as suas relações privilegiadas e os seus pontos de referência: Os ritmos do
seu dia a dia; Os horários para comer, para dormir, para brincar; Os rituais: preferências e
modos de se alimentar, a canção de embalar que a mãe canta ao deitar, os seus brinquedos e
jogos prediletos”. Por valores e questões culturalmente aceites em Portugal, a mãe ou
cuidador do sexo feminino representam a figura de eleição para permanecer junto do filho. É

Trabalho de Conclusão de Curso


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importante referir que se deve incentivar a presença dos pais, embora quando a sua presença
não é regular, estes nunca devem ser culpabilizados. Os profissionais devem respeitar a sua
decisão e lembrar-se que muitas vezes o motivo da sua ausência é por razoes familiares,
profissionais e mesmo económicas ou pelo cansaço ou pela dificuldade em aceitar a situação
de doença do filho.
A informação fornecida à criança e respetiva família deve ir ao encontro do desenvolvimento
cognitivo e emocional e à capacidade de interiorizar a mesma.
Refere Bettinelli (2003) que “é necessário saber interpretar alguns dos sintomas referidos,
bem como as palavras empregues. É nesta plataforma que o meio sociocultural tem algum
peso pois teremos por vezes de “descodificar” algum vocabulário empregue, e, no sentido
inverso, teremos de reduzir o vocabulário técnico que muitas vezes nos é comum e
completamente ininteligível para o nosso interlocutor”.
Dar informações pertinentes e em linguagem acessível é um fator importante para a família e
dá muitas vezes resposta às suas necessidades, como forma de manter o controlo da situação
real. Ao colmatar esta insegurança e estes medos, o enfermeiro assegura as carências
emocionais incluindo-se numa triangulação. De facto, a “comunicação que se deseja deve ser
feita atempadamente, ponderando bem o conteúdo e a forma, sobretudo nas situações mais
delicadas, acessível ao nível cultural dos interlocutores e em ambiente o mais adequado
possível. É preciso tempo para que haja possibilidade de esclarecer dúvidas e para que a
orientação seja bem assimilada”.
Para Bettinelli (2003) um aspeto importante que deve ser valorizado e utilizado para uma
comunicação ativa e esclarecedora centra-se com o tempo, o espaço físico e material
adequado, para as brincadeiras e jogos. Na impossibilidade ou dificuldade de exprimir as
ideias e os sentimentos que lhe causam ansiedade a criança pode, através das coisas que lhe
dão maior prazer, dar a entender ao enfermeiro quais as suas reais necessidades. Assim, a
partir do momento que a criança/família vivencia a doença e tudo aquilo que esta envolve, os
enfermeiros devem manter-se alerta e dar resposta às necessidades que esta apresenta. Toda a
equipa deve “ter em conta que, ao utilizar objetos lúdicos no momento do exame e/ou
tratamento, facilita a comunicação com a criança, trazendo a sua colaboração e diminuindo a
tensão dos pais que passam a transmitir segurança à criança”.
O modo como se cuida pode “divergir em pequenos aspetos nos diferentes modelos de
enfermagem, contudo caracteriza-se pelo facto de centrar as suas ações no doente como

Trabalho de Conclusão de Curso


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sujeito de cuidados, numa perspetiva holística, quer seja na ação da enfermagem, quer seja na
relação estabelecida entre enfermeira/doente”.
Para Bettinelli (2003) o pragmatismo que envolve a hospitalização de uma criança e as
sequelas que isso pode deixar, conduziram a que Anne Casey, enfermeira neozelandesa que
deveras contribuiu para o emergir da Pediatria, elaborasse um modelo de cuidados. O seu
pensamento ia de encontro aos efeitos positivos que a presença dos pais ou pessoa
significativa para a criança e jovem pudessem vir a ter na evolução do seu estado de saúde e
na prevenção de comportamentos reativos durante o internamento e após a alta.
Para (Batista, 2006, p. 51) a filosofia subjacente aos cuidados de enfermagem, idealizada por
Anne Casey, reconhece e valoriza a importância da família e respeita o conhecimento que a
mesma possui da própria criança, a experiência em cuidar dela e a influência na recuperação
que possa vir a ter. Por isso, “o atendimento específico aos pais é indispensável, uma vez que
se eles estiverem bem, terão mais condições de participar na recuperação dos filhos,
colaborando nos cuidados e oferecendo-lhes suporte emocional”.
Para Almeida (2009) também o envolvimento dos pais nos cuidados ao filho ajuda a manter
a relação familiar, através dos hábitos usuais. Podemos mesmo dizer que “incentivar os pais a
permanecerem e a ocuparem-se da criança é fazer avançar o processo terapêutico. Não basta
dizer aos pais que podem ficar junto dos filhos. É necessário que eles sintam que são de facto
bem-vindos, que são úteis e que contamos com eles para tratar o seu filho”. Este
envolvimento contribui para minimizar as consequências negativas do internamento. O total
envolvimento dos pais só é possível se ocorrer a negociação de toda a equipa e dos
cuidadores formais, respeitando sempre a vontade e o ritmo de aprendizagem de cada um.
O enfermeiro de pediatria vai complementar os cuidados dos pais/família, ao ir ao encontro
das necessidades da criança. Estes cuidados podem tomar a forma de cuidados familiares, isto
é, os cuidados usualmente levados a cabo pelos pais para suprir as necessidades diárias da
criança, ou de cuidados de enfermagem que são cuidados adicionais que a criança necessita,
relacionados com a situação de doença. Dependendo da idade e da capacidade da criança,
esta poderá executar ela própria alguns cuidados de enfermagem, assim como a família,
quando está preparada e motivada, mediante o apoio e a supervisão de enfermagem.
Conforme Almeida (2009) a parceria tem uma perspetiva holística, em que o objetivo
primordial é manter a unidade familiar, respeitando as necessidades e desejos da
criança/família, tendo por base o sentimento de negociação. A hospitalização quebra muitas
vezes esta união, provocando desequilíbrios familiares e ansiedade dos pais. Neste sentido,

Trabalho de Conclusão de Curso


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cabe ao enfermeiro tentar minimizar todos danos, sendo “importante a disponibilidade da


equipa para ouvir os pais; (...) encorajá-los a envolver-se no planeamento e implementação
dos cuidados à criança sob orientação da equipa de enfermagem”.
A participação dos pais no cuidado ao seu filho implica uma negociação da responsabilidade,
mas, também, apoio e ensinos em cuidados mais específicos. O grau de participação varia, de
acordo com a capacidade e o interesse da família, mas cabe ao enfermeiro orientar e apoiar.
Na opinião de Almeida (2009, p. 23) “a participação dos pais nos cuidados implica sempre
uma relação de empatia, em que se desenvolvem conjuntamente ações que se complementam
com vista ao bem-estar da criança. Acolhimento, humanização e internamento são conceitos
chave sobre os quais é importante refletir”.
De acordo com a Comissão Nacional de Saúde da Criança e Adolescente (2008, p. 2 IN IAC,
2009), “o desenvolvimento do Enfermeiro em pediatria centra-se na ajuda da família em
crise, capacitando-a para lidar e/ou ajudar à doença do filho ou em situação de
acontecimentos de vida proporcionando o desenvolvimento das competências parentais”.
O correto atendimento e receção da criança e familiares é uma preocupação sentida por todos
aqueles que exercem a sua atividade na área de saúde e cujo papel é estar ao serviço pelo e
com os outros. Ao cuidarmos de crianças/pais, não podemos esquecer que o primeiro
contacto é decisivo para estabelecer uma relação baseada na confiança. Assim, o enfermeiro
que recebe a crianças/adolescente e a sua família no Serviço de internamento deve, num
primeiro momento, apresentar-se pelo nome, relatar as suas funções e competências e, deixar
que eles façam o mesmo, permitindo assim, uma partilha onde se articulam as diferenças e se
cria uma dinâmica de respeito e confiança.
De acordo Batista (2005) não é de estranhar que o reconhecimento da existência da dor na
criança tenha pouco mais de trinta anos. “É na década de oitenta que a dor é identificada
como entidade deletérios, com um conteúdo mais abrangente que um simples desconforto, ao
ser claramente descrita a dor biológica que, independentemente da etiologia, traduz uma
resposta global do organismo”.
Segundo Batista (2005) mais tarde, com o conhecimento dos mecanismos da sua perceção,
outros aspetos relacionados com a dor são valorizados (ex: factores psicológicos). Do
conceito de tratamento da dor passámos ao conceito do controlo da dor que, implica a sua
prevenção, sempre que possível para além do tratamento precoce da dor instalada. Esta dupla
abordagem é mais útil para a criança do que o tratamento de uma dor forte instalada. Pode-se
afirmar que a maioria dos Serviços de Internamento tem vindo a modificar a sua conduta no

Trabalho de Conclusão de Curso


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sentido do bom cuidado da dor em todas as suas vertentes, caminhando-se para a otimização
do controlo da dor. É muitas vezes difícil de obter a envolvência como transmissora de calma,
tranquilidade e segurança, o que se reflete negativamente em muitos mais aspetos do que o
controlo da dor, já que é essencial para uma boa prática clínica.
Não é fácil o equilíbrio entre as necessidades de descanso das crianças e as atividades de um
Serviço. O silêncio ou a redução do ruído e a luminosidade são imprescindíveis para a
estabilidade fisiológica e comportamental de qualquer criança de forma a evitar transtornos
do sono e do repouso. A conduta de atuação da equipa deve ser, evitar a luminosidade
artificial intensa durante a noite e optar por luz de baixa intensidade sempre que necessário,
de forma a amenizar a interferência desta sobre o ciclo do sono. No que se refere ao silêncio,
os profissionais devem procurar falar baixo e manipular com cuidado equipamentos, desligar
a televisão e incentivar as crianças e os pais a ter o mesmo tipo de comportamento.

3.5.1. Hospitalização e Humanização em Pediatria


No início do séc. XX, no final da 1ª Guerra Mundial, a criança era considerada vulnerável e
por isso tinha de ser particularmente protegida. Foi em 1924, em Genebra que pela primeira
vez se falou nos direitos da criança. Foram enunciados nessa altura, cinco direitos que
representavam o “embrião” da futura Carta da Criança. Mais tarde, em 1959, foram
enunciados pelas Nações Unidas, dez direitos que resumiam os direitos que a criança deveria
usufruir para que tivesse uma infância feliz e protegida. Estes dez direitos fundamentais, não
foram valorizados suficientemente e por isso caíram no esquecimento. Só em 1979, Ano
Internacional da Criança, os responsáveis pela criança e pelos seus direitos verificaram que
estes não estavam a ser respeitados. “Havia crianças sem lar, sem identidade, com fome,
crianças que não frequentavam a escola, que não tinham acesso a cuidados médicos, que
eram abusadas e exploradas” (Batista, 2005, p.10). Foi neste mesmo ano que as pessoas e os
responsáveis foram sensibilizados para as carências, para o desrespeito pelos direitos da
criança e para a necessidade de tomar medidas para a melhoria do seu bem-estar social.
Para uniformizar o processo de humanização em Serviços de pediatria, foi aprovada pelo
Parlamento Europeu em 1986, a “Carta Europeia das Crianças Hospitalizadas” e desta surgiu
uma versão mais curta, a “Carta da Criança Hospitalizada”, em maio de 1988. Em 1993, no
decurso da 3ª Conferência Europeia das Associações “Criança no Hospital”, foi criada a
Associação Europeia da Criança Hospitalar (AECH), que tem por objetivo principal a defesa
dos direitos da criança hospitalizada (IAC, 2009).

Trabalho de Conclusão de Curso


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Após a presença de Portugal na conferência da AECH (1995), foi criado, no Instituto de


Apoio à Criança (IAC), o Sector de Humanização dos Serviços de Atendimento à Criança,
que tem por objetivo promover a discussão das questões da Humanização, favorecendo a
mudança de atitudes e comportamentos das várias instituições, dos profissionais e da
comunidade. É em março desse ano que o IAC adere à EACH. Uma das principais áreas da
sua atuação é a publicação e difusão da Carta da Criança Hospitalizada, ou seja, defende os
direitos consignados na Carta; promove a adoção dos seus princípios a nível nacional;
contribui para o seu reconhecimento legal (IAC, 2009; Levy, 2006).
A “Carta da Criança Hospitalizada” consiste numa listagem dos direitos das Crianças antes,
durante e depois de um internamento hospitalar. Esta Carta está de acordo com os direitos
vinculados que lhe correspondem, estipulados na Convenção dos Direitos das Crianças das
Nações Unidas, e diz respeito ao indivíduo com idades entre os 0 e os 18 anos. Estes direitos
aplicam-se a todas as crianças doentes internadas ou em regime de ambulatório. Todos os
direitos e medidas tomadas devem ser considerados no melhor interesse da criança e para
melhorar o seu bem-estar. Outra área de atuação deste organismo é o Acolhimento de
Crianças e Jovens em Unidades de Saúde, caracterizando e refletindo sobre o atendimento
prestado nos hospitais e desenvolvendo um projeto de investigação científica no âmbito de
um acordo de cooperação que aborda esta temática (IAC, 2009).
Segundo dados apresentados por Batista (2005) o sector de Humanização do IAC realizou,
em 2001, um estudo intitulado “Acolhimento e Estadia da Criança e do Jovem no Hospital”
(2007) sobre as condições do acolhimento e estadia das crianças e suas famílias no hospital.
Este estudo, no âmbito da humanização, foi realizado em todos os hospitais portugueses que
atendem crianças e jovens, através da aplicação de um questionário. Publicado em 2007, faz
uma descrição da realidade no país relativamente às questões do acolhimento e humanização
dos cuidados à Criança, baseada nos direitos da criança consignados na “Carta da Criança
Hospitalizada”.

3.6. Relacionamento Profissional-Paciente/Família

Para Almeida (2008, P.34) a relação profissional-paciente/familiares é muito importante no


momento diagnóstico e ao longo do tratamento. Essa relação deve ser caracterizada pelo
estabelecimento de vínculo.
O qual é definido por Ferreira (1986) como: tudo o que ata, liga, ligação moral; relação, nexo;
prender, unir. No âmbito da saúde, criar vínculos requer o estabelecimento de relações

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próximas e claras, de forma que o sofrimento do outro seja sensibilizador. Visa ao


estabelecimento de processo que busca a autonomia do paciente, bem como o
compartilhamento da responsabilidade por sua vida ou morte.
Para Carapinheiro (2016), o paciente (deficiente ou familiar) precisa vincular-se ao
profissional da área da saúde para que este possa transmitir-lhe o diagnóstico. Deve-se
oferecer um número suficiente de informações que possibilitem ao indivíduo compreender as
peculiaridades da deficiência. No diagnóstico são necessários elementos que permitam sua
melhor aceitação e consequentemente a terapia a ser realizada.
Segundo Almeida, (2008, P.34) estabelecimento do vínculo entre
profissional-paciente/familiares pressupõe a aproximação para a compreensão da pessoa
enferma e uma empatia mínima entre as partes envolvidas; dessa forma, o paciente passa da
situação de “caso” para a de “pessoa”. Isso é possível pela disposição do profissional em
relacionar-se de forma mais personalizada, menos objetada e mais humanizada, características
do profissional aberto para a exploração dos relacionamentos humanos e menos defendido
pelos conhecimentos científicos.
"A vinculação é uma tarefa nobre e não um jogo de sedução para perpetuar a necessidade de
lisonja do profissional. A vinculação é um compromisso, uma manobra bem-intencionada,
calculada, sem ser fria, movida basicamente pela intuição e pelo sentimento do profissional".

3.6.1. Dinâmica Familiar


3.6.1.1. A família pode ser caracterizada como:
De acordo com Carapinheiro, (2016). "Um núcleo de pessoas que convivem em determinado
lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham unidas (ou não) por
laços consanguíneos. Este núcleo se acha relacionado com a sociedade, que lhe impõe uma
cultura e ideologia particulares, bem como recebe dele influências específicas". A família se
modifica ao longo do tempo e, portanto, sua dinâmica e estrutura variam nas diversas
sociedades e épocas históricas. Geralmente, os papéis sociais desempenhados por membros da
família são definidos pelo contexto cultural, o qual favorece um determinado tipo de interação
permeado por valores e regras
A maioria das famílias é uma organização com certa estabilidade social, promotora de apoio
emocional e é onde se adquire senso de identidade, aceitação própria e solidariedade. Dessa
forma, as famílias são locais de resistência à pressão externa exercida pelo mundo

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Para Amin (2004) no entanto, essa estrutura sólida e acolhedora parece ser abalada com o
nascimento de uma criança com deficiência e, por isso, os profissionais envolvidos no
diagnóstico e tratamento dessa criança devem se preocupar com a forma mais adequada de
fazer esse comunicado à família, para que ela se sinta amparada e orientada em relação aos
cuidados necessários. A maneira como o profissional comunica a deficiência pode amenizar o
choque dos familiares ou cuidadores; atitudes de apoio são extremamente importantes neste
momento. Embora os pais tenham o direito de saber o diagnóstico do seu filho, cabe à equipe
de saúde a escolha do momento mais oportuno e da maneira mais adequada para comunicar a
família.
Embora não exista a forma ideal para essa tarefa, os estudos apontam algumas abordagens
consideradas mais adequadas. A comunicação deve ser feita de preferência com a presença da
mãe e do pai juntos, num lugar de privacidade, onde não ocorram interrupções, para que os
pais possam tirar todas as dúvidas existentes no momento. A pessoa responsável pelo
comunicado deve inspirar confiança e não utilizar vocabulário técnico-científico que dificulte
a compreensão. Além disso, ela deve estar consciente de que, nesse momento, os pais estão
sujeitos a reações emocionais e muitas vezes precisam contar com uma atitude de continência
do profissional. Essas atitudes poderão ajudar no estabelecimento do vínculo dos pais e da
criança posteriormente.
O momento da comunicação do diagnóstico de uma deficiência é considerado muito
importante tanto para a família quanto para o desenvolvimento da pessoa com deficiência.
É importante informar os pais, no momento da notícia, sobre as próximas etapas a serem
realizadas com a criança: exames, instituições especializadas a serem procuradas e os tipos de
tratamentos necessários.
Segundo Amin (2004) após o diagnóstico, a família deve entrar em contato com profissionais
de várias áreas para sanar eventuais dúvidas não esclarecidas, visto o elevado número de
informações transmitidas na ocasião e a impossibilidade de assimilação total. A relação dos
pais com a equipe responsável pelo tratamento, geralmente, é permeada por diversos
sentimentos, tais como: insegurança em relação à competência da equipe e inibição para o
questionamento acerca do que é realizado com a criança. Isso ocorre pela crença de que a cura
do filho depende somente do que é proposto.
Para Amin (2004) cada família reage de forma muito peculiar à notícia da deficiência.
Algumas passam por período de crise aguda e recuperam-se gradativamente, outras

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apresentam mais dificuldades e acabam estabelecendo uma situação crônica de desequilíbrio.


Essas duas situações têm em comum o processo de luto.
Nos dizeres de Backes, (2006) o descobrimento da deficiência de um filho, tanto no seu
nascimento quanto no seu crescimento, representa o fim do sonho de criar um ser perfeito e
requer que os pais façam o luto da criança idealizada durante o período de gestação para,
assim, aceitar esta criança com suas reais potencialidades. Sentimentos como incapacidade,
choque, tristeza, confusão, ambiguidade, culpa, medo, raiva, lamentação, autopiedade e
frustração são esperados da família, já que seu núcleo se encontra debilitado e vulnerável.
Segundo Backes, (2006), o processo de luto pode ser dividido em fases, porém estas não são
rígidas e definitivas e estão sujeitas às diferenças individuais. Dessa forma, as etapas desse
processo são: entorpecimento (ocorrência de choque e descrença diante do acontecimento,
tem duração de horas ou dias, pode ser acompanhada de crises de raiva ou de desespero e de
alguns sintomas somáticos. Outra característica é a tentativa de retomar o estilo de vida
anterior ao nascimento da criança); anseio e protesto (há muito sofrimento psicológico e
agitação física. Ao perceber de forma mais consciente a perda, a pessoa enlutada busca
ansiosamente pelo “objeto perdido”i e muitas vezes surge a raiva contra si e contra outras
pessoas); desespero (há o reconhecimento da irreversibilidade da perda; instala-se, então, a
apatia e a depressão, bem como o afastamento de atividades e de pessoas); recuperação e
restituição (a depressão e a apatia dão espaço a sentimentos mais favoráveis; surge nova
identidade que favorece o estabelecimento de novas relações de amizade e o resgate de
antigos laços).
A vivência das fases de luto é importante para que a família se reestabeleça e se adapte à nova
realidade, modificando hábitos e situações cotidianas para o melhor acolhimento dessa
criança.

3.7. Atribuições Do Enfermeiro

De acordo com Backes, (2006) perpassar por alguns aspectos históricos para a compreensão
da evolução da Enfermagem, contudo de seu ensino em Angola é de suma importância uma
vez que a erudição histórica permite a construção de uma memória possibilitadora de tomadas
de consciência daquilo somos de fato, enquanto resultado histórico, o desenvolvimento da
autoestima coletiva, e a tarefa de reconstrução da identidade profissional.

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Para Alves (2009) a educação e saúde no Brasil dividem-se em dois pressupostos, sendo o
primeiro relacionado às medidas preventivas e curativas com a finalidade a obtenção da saúde
e o enfrentamento das doenças, enquanto que o segundo refere-se às estratégias da promoção
da saúde com o objetivo de apoiar a construção social da saúde e do bem-estar. O pressuposto
das estratégias preventivas e curativas de enfrentar a doença e de obter saúde é coerente com
os princípios que regem as atuais culturas e sociedades, pois são baseadas na produção
incessante e sempre renovada de variados serviços que se fundamentam na tecnologia e na
ciência oferecidos para o consumo das pessoas.
A partir dos estudos de Silva (2008) ao colocar que a Enfermagem em Angola teve seu
processo de profissionalização por volta do final do século XIX constata-se que desde sua
origem esteve marcada pela superação de obstáculos para se tornar respeitada e reconhecida.
Seus executores ainda continuam empenhados para melhorar o status da profissão e adquirir o
respeito e reconhecimentos merecidos.
Apesar dos constantes esforços para o estabelecimento de uma prática baseada na Atenção
Primária em Saúde, o hospital permanece como o local onde a maioria dos enfermeiros
trabalha e desenvolve suas habilidades profissionais. Para melhor compreender a prática no
presente, faz-se necessário analisar o papel dessa instituição na nossa formação e exercício
profissional.
O hospital como cenário terapêutico é facto relativamente recente. No passado ele estava
destinado a propiciar não a cura, mas a salvação de quem estava morrendo.
De acordo com Ayres, (2001) esta concepção ideológica sobre o hospital, isto é, local onde se
vai para morrer, persiste na atualidade em qualquer cenário onde a enfermeira atua. Reforça-
se assim o caráter caritativo do trabalho da enfermeira que, organizado pelas regras do modo
de produção capitalista, traduz-se por uma prática ambígua entre a mítica religiosa e as
normas do mercado.
Para esta concepção ideológica de hospital, a tecnologia dominante, ou seja, os instrumentos,
a experiência, os hábitos que caracterizam a força de produção, constitui-se
fundamentalmente das técnicas do poder disciplinar, das técnicas gerenciais e tayloristas, em
detrimento das técnicas terapêuticas, das técnicas de diagnóstico, prescrição e avaliação do
resultado de enfermagem - formadas pelos ritos e saberes instrumentalizados a partir de uma
relação artesanal enfermeira-cliente.
As práticas utilizadas estão estruturadas sobre relações de produção que desconsideram os
conhecimentos sobre a clientela, dificultando assim nosso atendimento às necessidades

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socialmente postas, a saber: o diagnóstico e tratamento das respostas do cliente, da família e


da comunidade aos problemas de saúde ou processos vitais.
A avaliação oposta ao modelo taylorista de produção, é o modo de produção artesanal no qual
a enfermeira é o agente de seu diagnóstico e cuidado, sem a intermediação de uma categoria
profissional na relação enfermeira-cliente e com uma relação de cooperação entre os membros
de uma mesma categoria.
Com base no que se discute sobre a natureza do trabalho do enfermeiro, considera-se que as
actividades administrativas e de supervisão da equipe auxiliar constituem o método de
trabalho cotidiano do enfermeiro (taylorismo), alienando-a de sua função primordial que é
diagnosticar e tratar as respostas de seus clientes aos problemas de saúde ou processos vitais.
As determinantes principais do método de trabalho alienado que agem dinâmica e
eficientemente entre si e com outras estariam na formação da enfermeira, nas formas de
organização deste trabalho e na falta de consenso sobre as actividades básicas da profissão.
A formação do enfermeiro, por uma análise do currículo, livros textos e experiências de
aprendizagem, está firmemente alicerçada no conhecimento e modelo biomédicos.
Preparado para implementar a assistência médica, tem na organização de seu trabalho a
valorização das atividades gerenciais, em detrimento do cuidado direto.
Segundo Carapinheiro, 2016) as fortes combinações destas categorias delineiam o taylorismo,
enquanto método de trabalho do enfermeiro.
Paradoxalmente, mesmo com um método de trabalho alienado, o enfermeiro é capaz de se
aproximar de seu cliente e diagnosticar, prescrever e avaliar sua resposta ao problema de
saúde, ainda que precária ou eventualmente. A execução das atividades básicas do enfermeiro
depende, contudo de condições facilitadoras que valorizam estas ações.
É possível observar que hoje na grande parte dos hospitais os enfermeiros se ocupam com as
actividades do quotidiano tais como a elaboração da escala de trabalho da equipe de
auxiliares; o planejamento, a coordenação e a supervisão das atividades e do pessoal; e a
organização ou suprimento do sector quanto a pessoal, material de consumo e permanente.
Ainda Ayres, (2001) diz que as actividades relacionadas corroboram a com a teses de que o
taylorismo constitui o método de trabalho do quotidiano profissional. Este fato pode não
constituir nenhuma novidade, mas é a partir da denúncia, da tomada de consciência, do
conhecimento da realidade que pode-se transformá-la.
Segundo Biscaia (2000): O processo de enfermagem é uma tentativa de melhorar a qualidade
de assistência ao paciente. A assistência de enfermagem é planejada para alcançar as

Trabalho de Conclusão de Curso


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necessidades específicas do paciente, sendo então redigida de forma a que todas as pessoas
envolvidas no tratamento possam ter acesso ao plano de assistência. Quando esse plano não é
redigido, observam-se omissões e repetições. Não havendo um plano escrito, o paciente
precisa repetir informações pessoais e referências a cada pessoa que o assiste.
De acordo com Baraúna (2013) que um sentimento de orgulho e de realização é
experimentado, quando os objetivos de um plano de assistência são alcançados e reduzem os
problemas do paciente. O processo de enfermagem contribui para o crescimento profissional
de cada enfermeiro. Quando um enfermeiro conclui o plano e consegue avaliar a sua eficácia
em atingir as necessidades individuais de um paciente, ele aumenta a sua perícia que pode ser
adaptada para satisfazer as necessidades de outros pacientes no futuro. À medida que esse
aprendizado se expande pela experiência com diversos pacientes, o enfermeiro ganha em
conhecimento e em experiência.

4, METODOLOGIA

4.1. Tipo de Estudo


Trata-se de um estudo descritivo Transversal deabordagem quantitativa.

4.2. Local de Estudo


A unidade de pesquisa deste trabalho é o Hospital Geral dos Cajueiros, localizadona Província
de Luanda no munícipio do Cazenga. O Hospital Geral dos Cajueiros, reinaugurado aos 01 de
Maio de 2013, com a capacidade de 230 camas e, atende diariamente 180 pacientes e conta
ainda com as seguintes especialidades: pediatria, maternidade, obstetria, estomatologia,
laboratório de análises clínicas, ecografia e radiologia, contando com equipamentos
avançados fornecidos pela empresa Chinesa Tianjin Machinery Import & Export Cooperation.

4.3. População e Amostra

Trabalho de Conclusão de Curso


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A população estudada foi composta por 35 Profissionais de Enfermagem dentre estes


distribuídos em diversas áreas Banco de Urgência, Medicina, Internamento de medicina que
trabalham no Hospital Geral dos Cajueiros, da qual foi extraída uma amostra de 25
profissionais.

4.4. Variáveis de Estudo


Asseguramos que não foram manipuladas quaisquer variáveis ao longo do presente Trabalho.
Foram apenas identificados determinados factores que influenciaram no aparecimento das
causas do absentismo. Assim, temos as seguintes variáveis:

4.4.1. Variáveis Dependentes


A variável dependente é o facto ou fenómeno a ser explicado ou descoberto. Assim temos a
variável dependente:
 Nível de conhecimento dos profissionais de saúde sobre o processo de
humanização;
4.4.2. Variáveis Independentes
A variável independente é uma variável antecedente que determina ou afecta uma variável, é a
condição ou causa para certos resultados. Assim, apresentamos as seguintes variáveis
independentes:
 Comportamento dos Profissionais, pacientes e familiares;
 Falta de Ética Deontológica dos profissionais
 Negligências e estresse dos profissionais;

4.4.3. Variáveis Sociodemográficas


É o comportamento das pessoas de um certo lugar ou território determinado a ser estudado.
Assim apresentamos as seguintes variáveis Sociodemográficas:
• Sexo;
• Idade;
• Nível de Escolaridade
• Estado Civil

4.5. Critérios

Trabalho de Conclusão de Curso


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Para a realização deste estudo foi tida em consideração a autorização institucional, que por
intermédio de uma carta redigida pela área académica do Instituto Superior Politécnico
Deolinda Rodrigues, com aprovação e autorização do Supervisor do Hospital Geral
dosCajueiros,onde foi realizado o presente estudo.

4.5.1. Critérios de Inclusão:


Constituíram factores de inclusão ao estudo todos os Profissionais deenfermagem que
aceitaram Fazer Parte do Estudo

4.5.2. Critérios de Exclusão


Foram excluídos, todososprofissionais enfermagem ausente no local deestudo, aqueles que
estavam presentes e não aceitaram fazer parte do Estudo.

4.6. Técnicas e Instrumentos de Colecta de Dados


Para garantir o processo adequado da recolha de dados para o nosso trabalho, recorremos às
determinadas técnicas e instrumentos de mensuração correspondentes às obrigações de
tratamento e interpretação de resultados.As técnicas utilizadas no presente estudo são:
4.6.1. Observação
Esta técnica permitiu-nos ter a percepção directa da atitude no quotidiano em que muito
ajudou para questionar e acumular dados suplementares que ajudaram a questionar os
resultados da pesquisa.

4.6.2. Inquérito Por Questionário


Este inquérito irá funcionar como técnica de investigação irá permitir obter informações sobre
o nosso objecto de estudo ou investigação. Utilizaremos inquérito por questionário como um
instrumento com questões claras.

4.6.3 Técnica Bibliográfica e Documental


O presente estudo envolverá a consulta de materiais adequados ligados ao tema em estudo:
Literaturas em Enfermagem e não só, dicionários, texto de apoio, pesquisa na internet,
brochuras etc. Esta técnica serão utilizadas para obtenção de bases teóricas e consulta de uma
gama de livros e documentos com bases científicas. Com este procedimento irá várias

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informações que constituíram o corpo teórico da pesquisa assim como a elaboração do


instrumento e sua aplicação durante a realização do trabalho.

4.7. Dificuldades Encontradas


As dificuldades encontradas foram várias, nomeadamente: ajuste do tempo para coincidir com
o horário de trabalho, a aceitação para o estágiono instituto, bem como a falta de material de
gestão para consultas em algumas bibliotecas e o aparecimento da pandemia mundial do
COVID-19, que deixou me estática por muito tempo.

4.8. Procedimentos
4.8.1. Éticos
Para a realização deste estudo foi tida em consideração a autorização institucional, que por
intermédio de uma carta redigida pela área académica do Instituto Superior Politécnico
Deolinda Rodrigues, com aprovação e autorização do Supervisor do Hospital Geral
dosCajueiros aonde foi realizado o presente estudo.

4.8.2. Recolha de Dados


Os instrumentos que foram usados para recolha de dados são: O questionário e a entrevista
que foi auxiliada por equipamentosfotográficos e blocos de notas.

4.8.3. Análise de Dados


O estudo foi no Hospital Geral dos cajueiros onde foi realizado o presente estudo, um hospital
público que atende casos de pequeno e grande vulto. Apresenta-se ao cidadão angolano
através da prestação de serviços na área da saúde.

Trabalho de Conclusão de Curso


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5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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6. CONCLUSÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


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7. SUGESTÕES

Trabalho de Conclusão de Curso


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8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ALMEIDA, D. V.; CHAVES, E. C.; BRITO, J. H. - Humanização dos cuidados de saúde:


uma interpretação a partir da filosofia de Emmanuel Lévinas. Revista Referência. II Série, nº
10, (julho 2009), p. 89-96.
 ALMEIDA, Filipe – Apresentação do Serviço de Humanização. Livro Branco da
Humanização. Porto, Portugal: Hospital de S. João. Porto, 2008.
 ALVES, C. A.; DESLANDES, S. F.; MITRE, R.M. - Desafios da humanização no contexto
do cuidado da enfermagem pediátrica de média e alta complexidade. Interface Comunicação
Saúde Educação. Vol. 13, supl. 1 (2009), p. 581-594.
 AMIN, Tereza Cristina Coury. O paciente internado no hospital, a família e a equipe
 ANDRADE, L.M.; MARTINS, E.C.; CAETANO, J.A.; SOARES, E.; BESERRA, E.P. –
Atendimento humanizado nos serviços de emergência hospitalar na perceção do
acompanhate. Revista Eletrónica de Enfermagem. ISSN: 151-157. Vol. 11, nº1 (2009).
 AYRES, J.R.C.M. - Sujeito, intersubjetividade e práticas de saúde. Ciência & Saúde Coletiva.
Vol. 6, nº1, p. 63-72 (2001).
 BACKES, D.S.; FILHO LUNARDI, W.D.; LUNARDI, V.L. – O processo de humanização
do ambiente hospitalar centrado no trabalhador. RevEscEnferm USP. Vol. 40, nº 2 (2006), p.
221-227.

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 BACKES, DS; LUNARDI, VL; LUNARDI, WDFilho – A Humanização hospitalar como


expressão da ética. Revista Latino Americana de Enfermagem. Vol. 14, nº 1 (jan/feb 2006), p.
132-135.
 BARAÚNA, Tania. Humanizar a ação, para humanizar o ato de cuidar. Disponível em:
<www.iacat.com/revista/recrearte/recrearte02/tania01.htm>. Acesso em 01 jan. 2013.
 BATISTA N.A. Desenvolvimento docente na área da saúde: uma análise. Trabalho,
Educação e Saúde 2005
 BETTINELLI. L.A; WASKIEVICZ. J; ERDMAN.A.L. - Humanização do cuidado no
ambiente hospitalar. O mundo da saúde – São Paulo, ano 27 v.27, nº 2 (abr/jun 2003), p. 231-
239.
 BISCAIA, Jorge – Humanização e Tecnologia na Saúde Infantil e do Adolescente. Ata
Pediátrica Portuguesa. Vol. 31, nº 3, 2000.
 CARAPINHEIRO, Graça – A Comunicação entre Profissionais de Saúde e Famílias:
Contradições e Dilemas. In Acolhimento e Estadia da Criança e do Jovem no Hospital, 2016;

 CARVALHO, Ariana Rodrigues Silva; PINHO, Maria Carla Vieira; MATSUDA


Laura Misue; SCOCHI, Maria José. CUIDADO E HUMANIZAÇÃO NA
ENFERMAGEM: REFLEXÃO NECESSÁRIA, , 2º Seminário Nacional Estado e
Políticas Sociais no Brasil, 13 a 15 de outubro de 2005 – UNOESTE Campus de
Cascavel, disponível no site
http://cacphp.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario2/trabalhos/saude/msau16.pdf
 CARVALHO, Maria Manuela – A Enfermagem e o Humanismo. Loures: Lusociência
Editores, 1996.
 DOMINGUES O. P., Frei Bernardo - Humanizar-se para cuidar. Reencontro. Porto.
Ano I, nº1 (fev/abril 1996), p. 4-7.
 DOMINGUES, O. P., Frei Bernardo – Humanizar-se para humanizar. Divulgação.
Lisboa, nº17 (janeiro 1999), p. 2-3.

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ANEXOS
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APÊNDICES

Trabalho de Conclusão de Curso


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INSTITUTO SUPERIOR POLITECNICO DEOLINDA RODRIGUES “IDERO”

CURSO DE ENFERMAGEM

Questionário
Apresentação e objectivos do questionário

Estamos a inquiri-lo (a) no sentido de nos facultar informações relativa à sua opinião sobre
‘‘Nível de Conhecimento dos Profissionais de Enfermagem Sobre o Processo de
Humanização no Hospital Geral dos Cajueiros no Iº Semestre de 2021” no contexto de uma
investigação para um Trabalho de Conclusão de Curso de licenciatura em Enfermagem.
Interessa-nos saber, para além da sua idade, formação profissional, estado civil, as opiniões
sobre os aspectos favoráveis e desfavoráveis que encontra no tema em questão. As
informações são imprescindíveis para a realização do mesmo, pelo que agradecemos a sua
colaboração.
Leia com atenção e responde com um X às questões abaixo mencionadas.
Todas as respostas serão anónimas e servirão apenas e somente para tratamento de dados do
Relatório Final da Monografia.

1. Identificação

1.1. Idade

25 á 27

28 á 32

33 á 3515

37 á 40

41 á 45

46 á 49

50 á 55
Instituto Superior Politécnico Deolinda Rodrigues – Idero

1.2. Habilitações literárias

Ensino de Base

Ensino Médio

Ensino Superior

1.3. Sexo

Masculino

Feminino

1.4. Tempo de Serviço

1 a 5 Anos

6 a 10 Anos

11 a 15 Anos

16 a 20 Anos

25 a 30 Anos

2. Será que os profissionais desta unidade hospitalar têm aplicado os princípios bases da
humanização?
Sim

Não

3. A humanização é um elemento importante para recuperação do paciente?


Sim

Não

Trabalho de Conclusão de Curso


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Instituto Superior Politécnico Deolinda Rodrigues – Idero

Talvez

4. A comunicação e relação familiar/profissional de saúde é presente nesta unidade


sanitária?
Sim

Não

5. Os profissionais sabem qual a importância dos cuidados humanizados para o processo


de recuperação dos pacientes?
Sim

Não

Não Sabe

6. Já alguma vez ouviu falar sobre humanização em saúde?

Sim

Não

Não Sabe

8. Qual deve ser a atitude do profissional de saúde diante de uma família agitada?

Tranquilizar aos familiares do paciente

Pôr todos para fora de formas a não perturbar o


trabalho

Manter os familiares informados

9. Como a família deve se comportar diante de uma gravidade na saúde do paciente?

Trabalho de Conclusão de Curso


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Instituto Superior Politécnico Deolinda Rodrigues – Idero

Ficar fora e esperar informação

Manter a calma

10. Qual e a importância do dialogo com a família?

Para prevenir que não fiquem agitados

Para tomada de decisão psicológica, social e jurídica

Não Sabe

11. Quais os procedimentos para o processo de humanização nos cuidados de saúde?

Educação em saúde

Incentivar para evitar agravamento

Não sabe

Trabalho de Conclusão de Curso


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i

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