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LEI DO RACISMO

LEI Nº 7.716, DE JANEIRO DE 1989

PROFA. DENISE LEAL FONTES ALBANO LEOPOLDO


BREVES CONSIDERAÇÕES GERAIS
• Distinção entre preconceito e discriminação.

• Minorias ou grupos vulnerabilizados.

• A questão do racismo estrutural ou conjuntural.

• A questão do racismo reverso*.


➢Havia uma discussão se pessoas consideradas brancas,
ocidentais, cristãs, etc, consideradas membros de grupos que
constituem a maioria no país, poderiam ou não ser vítimas
de racismo, mas o artigo abaixo da recente Lei Nº
14.532/2023 buscou afastar essa possibilidade.

Art. 20-C. Na interpretação desta Lei, o juiz deve considerar


como discriminatória qualquer atitude ou tratamento dado à
pessoa ou a grupos minoritários que cause constrangimento,
humilhação, vergonha, medo ou exposição indevida, e que
usualmente não se dispensaria a outros grupos em razão da
cor, etnia, religião ou procedência.
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL
PREÂMBULO
• Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil: IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito
à pena de reclusão, nos termos da lei;
ATENÇÃO! Mais uma vez temos um mandado de criminalização do
constituinte de 1988. Quanto à inafiançabilidade são pertinentes as mesmas
discussões já anteriormente feitas quando do estudo do tema crimes
hediondos e tortura.
A IMPORTÂNCIA DA CONVENÇÃO 11 DA OIT
Essa Convenção dispõe sobre a discriminação em matéria de emprego e ocupação
Art. 1 — 1. Para os fins da presente convenção o termo “discriminação”
compreende:
a) toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião,
opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenha por efeito
destruir ou alterar a igualdade de oportunidade ou de tratamento em matéria de
emprego ou profissão;
b) qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito destruir
ou alterar a igualdade de oportunidades ou tratamento em matéria de emprego ou
profissão que poderá ser especificada pelo Membro interessado depois de
consultadas as organizações representativas de empregadores e trabalhadores,
quando estas existam, e outros organismos adequados.
2. As distinções, exclusões ou preferências fundadas em
qualificações exigidas para um determinado emprego não são
consideradas como discriminação.

3. Para os fins da presente convenção as palavras ‘emprego’ e


‘profissão’ incluem o acesso à formação profissional, ao emprego
e às diferentes profissões, bem como às condições de emprego.
CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO, A
DISCRIMINAÇÃO RACIAL E FORMAS CORRELATAS DE
INTOLERÂNCIA
• Discriminação racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou
preferência, em qualquer área da vida pública ou privada, cujo
propósito ou efeito seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos
e liberdades fundamentais consagrados nos instrumentos
internacionais aplicáveis aos Estados Partes. A discriminação racial
pode basear-se em raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica.
• Racismo consiste em qualquer teoria, doutrina, ideologia ou conjunto
de ideias que enunciam um vínculo causal entre as características
fenotípicas ou genotípicas de indivíduos ou grupos e seus traços
intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive o falso conceito de
superioridade racial.
LEI Nº 7.716, DE JANEIRO DE 1989
• A Lei do racismo, também conhecida como LEI CAÓ*, pune os crimes
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.
• Antes, na redação original, esse texto normativo abarcava apenas crimes de
cor e raça.
• A primeira legislação penal sobre esse tipo de discriminação foi a Lei Nº
1390/1951, conhecida como Lei Afonso Arinos. Antes do advento dessa lei,
o racismo era punido como mera contravenção penal.
* O projeto foi de autoria do ex-deputado federal Carlos Alberto Caó de Oliveira
que faleceu em fevereiro de 2018. Ele foi militante do movimento negro e
jornalista, tendo participado, inclusive, da Assembleia Constituinte que redigiu a
CF/88. (Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/293730/lei-cao--que-definiu-
crimes-de-preconceito-de-raca-ou-cor--faz-30-anos. Acesso: 12/02/2022)
A OBJETIVIDADE JURÍDICA TUTELADA
• A ampliação da objetividade jurídica tutelada: da proteção da
dignidade humana mediante a vedação à discriminação étnico-
racial à criminalização de ações discriminatórias també por motivo
religioso ou de nacionalidade.

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de


discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.

UMA QUESTÃO: Chineses, que constituem o povo mais numeroso do


planeta e são procedentes de um país que, nos dias atuais, possui
grande poder econômico e influência cultural, poderiam ser vítimas
desse crime?
OS TIPOS PENAIS
• A influência da Convenção Nº 11 da OIT.

• Os verbos nucleares mais comuns: OBSTAR, IMPEDIR,


RECUSAR, NEGAR (em regra, os crimes são do tipo
alternativo).

• O casuísmo nos tipos penais da Lei do Racismo.

• São crimes puníveis a título de dolo.


Art. 2º-A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou
procedência nacional.
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido mediante concurso de 2
(duas) ou mais pessoas.
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da
Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas
resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com
os demais trabalhadores;
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional;
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente
quanto ao salário.
§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo
atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de
recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para
emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências.
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender
ou receber cliente ou comprador.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de
ensino público ou privado de qualquer grau.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada
de 1/3 (um terço).
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer
estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou
locais semelhantes abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de
diversões, ou clubes sociais abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias,
termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e
elevadores ou escada de acesso aos mesmos:
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas,
barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças
Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência
familiar e social.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
DISCRICIONARIEDADE INTERPRETATIVA
• Alguns tipos penais abrem espaço para uma ampla discricionariedade
interpretativa em alguns tipos penais, a exemplo do caput do art. 20 da Lei.
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,
ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada,
para fins de divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido por intermédio
dos meios de comunicação social, de publicação em redes sociais, da rede
mundial de computadores ou de publicação de qualquer natureza:
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
• Os parágrafos abaixo do art. 20 da Lei foram incluídos pela Lei Nº
14.532, de 2023, prevendo a chamada “discriminação recreativa”.

§2º-A Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido no contexto
de atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais destinadas ao
público:
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e proibição de frequência, por 3
(três) anos, a locais destinados a práticas esportivas, artísticas ou culturais
destinadas ao público, conforme o caso.
§ 2º-B Sem prejuízo da pena correspondente à violência, incorre nas mesmas
penas previstas no caput deste artigo quem obstar, impedir ou empregar
violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas.
A QUESTÃO DA
IMPRESCRITIBILIDADE DO CRIME
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
• Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou
função pública, para o servidor público, e a suspensão do
funcionamento do estabelecimento particular por prazo não
superior a três meses.
• Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não
são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na
sentença.

ATENÇÃO! Nesse caso, o próprio texto normativo dispõe, de forma


expressa, que a decisão deve fundamentadamente expor quais os
efeitos da condenação e as razões para determiná-los.
•A QUESTÃO DA PROPORCIONALIDADE
DAS PENAS
NOVOS TIPOS PENAIS INCLUÍDOS PELA LEI Nº
9.459, DE 15/05/97
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,
ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou
gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por
intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de
qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
INJÚRIA RACIAL OU INJÚRIA-
DISCRIMINAÇÃO
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça,
cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)*
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459,
de 1997)
* Era essa a redação do artigo que tipificava a injúria racial (tipo
qualificado) até o recente advento da Lei Nº 14.532/2023
AS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº
14.532/2023
Art. 2º-A. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de
raça, cor, etnia ou procedência nacional.
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido
mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas.
OBS: Assim, a injúria racial, quando motivada por preconceito de raça, cor, etnia
ou procedência naciona, passou a ser considerada crime de racismo, punida com
pena de até cinco anos. Com isso, a pena será de um a três anos de reclusão
apenas para a injúria relacionada à religião ou à condição de pessoa idosa ou com
deficiência, conforme previsto no § 3º do art. 140 do Código Penal brasileiro.
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à
condição de pessoa idosa ou com deficiência:
Pena: reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
§ 2º-A Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido no
contexto de atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais
destinadas ao público:
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e proibição de frequência, por 3
(três) anos, a locais destinados a práticas esportivas, artísticas ou culturais
destinadas ao público, conforme o caso.
§ 2º-B Sem prejuízo da pena correspondente à violência, incorre nas
mesmas penas previstas no caput deste artigo quem obstar, impedir ou
empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas.

OBS: Mas não basta apenas referir-se a alguém como “baiano” ou


“paraíba” em um espetáculo ou stand-up, ou como “negão” em uma
partida de futebol em tom jocoso para que o crime reste configurado. É
necessário aferir se houve o dolo de menosprezar, diminuir, discriminar a
vítima.
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional.
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido por
intermédio dos meios de comunicação social, de publicação em redes
sociais, da rede mundial de computadores ou de publicação de qualquer
natureza:
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
Art. 20-A. Os crimes previstos nesta Lei terão as penas aumentadas de 1/3
(um terço) até a metade, quando ocorrerem em contexto ou com intuito de
descontração, diversão ou recreação.
Art. 20-B. Os crimes previstos nos arts. 2º-A e 20 desta Lei terão as penas
aumentadas de 1/3 (um terço) até a metade, quando praticados por
funcionário público, conforme definição prevista no Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), no exercício de suas funções ou a
pretexto de exercê-las.
Art. 20-C. Na interpretação desta Lei, o juiz deve considerar como discriminatória
qualquer atitude ou tratamento dado à pessoa ou a grupos minoritários que cause
constrangimento, humilhação, vergonha, medo ou exposição indevida, e que
usualmente não se dispensaria a outros grupos em razão da cor, etnia, religião ou
procedência.
Art. 20-D. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a vítima dos crimes de
racismo deverá estar acompanhada de advogado ou defensor público.
§ 2º-A. Se qualquer dos crimes previstos neste artigo* for cometido no contexto de
atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais destinadas ao público:
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e proibição de frequência, por 3 (três)
anos, a locais destinados a práticas esportivas, artísticas ou culturais destinadas
ao público, conforme o caso.
§ 2º-B. Sem prejuízo da pena correspondente à violência, incorre nas mesmas
penas previstas no caput deste artigo quem obstar, impedir ou empregar violência
contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas.

* Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,


etnia, religião ou procedência nacional
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA DO CRIME DE RACISMO
• A questão da consumação e tentativa do crime de racismo:
- Parte da doutrina, considera que são, em regra, crimes de mera
atividade ou de mera conduta.
- Outra parte considera corresponder a crimes de natureza formal,
ou seja, sua consecução independe dos efeitos que venham a
ocorrer. Não há necessidade do resultado para que se configure a
consumação do crime.
“O crime de racismo se consuma com o agir do sujeito, que pode
se dar pela fala e/ou veiculação de materiais em livros, internet
e/ou cartazes” (STJ,2012)
AS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NA LEI
§ 3º No caso do § 2º deste artigo*, o juiz poderá determinar, ouvido o
Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob
pena de desobediência:
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do
material respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas,
eletrônicas ou da publicação por qualquer meio;
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede
mundial de computadores.
*Refere-se ao crime de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional por
intermédio dos meios de comunicação social, de publicação em redes sociais,
da rede mundial de computadores ou de publicação de qualquer natureza.
EFEITOS DA SENTENÇA E O DEVER
DE FUNDAMENTAÇÃO
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o
servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular
por prazo não superior a três meses.
Art. 17. (Vetado).
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos,
devendo ser motivadamente declarados na sentença.

OBS: O legislador exigiu a observância do dever de fundamentação da sentença,


inclusive quanto aos efeitos da sentença.
HOMOFOBIA E TRANSFOBIA COMO CRIME DE RACISMO
Por maioria, a Corte reconheceu a mora do Congresso Nacional para
incriminar atos atentatórios a direitos fundamentais dos integrantes
da comunidade LGBT. Os ministros Celso de Mello, Edson Fachin,
Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux,
Cármen Lúcia e Gilmar Mendes votaram pelo enquadramento da
homofobia e da transfobia como tipo penal definido na Lei do
Racismo (Lei 7.716/1989) até que o Congresso Nacional edite lei
sobre a matéria. Nesse ponto, ficaram vencidos os ministros Ricardo
Lewandowski e Dias Toffoli, por entenderem que a conduta só pode
ser punida mediante lei aprovada pelo Legislativo. O ministro Marco
Aurélio não reconhecia a mora.
• Por maioria, o Plenário aprovou a tese proposta pelo relator da ADO,
ministro Celso de Mello, formulada em três pontos. O primeiro prevê que,
até que o Congresso Nacional edite lei específica, as condutas
homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, se enquadram nos crimes
previstos na Lei 7.716/89 e, no caso de homicídio doloso, constitui
circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe. No segundo
ponto, a tese prevê que a repressão penal à prática da homotransfobia
não alcança nem restringe o exercício da liberdade religiosa, desde que
tais manifestações não configurem discurso de ódio. Finalmente, a tese
estabelece que o conceito de racismo ultrapassa aspectos estritamente
biológicos ou fenotípicos e alcança a negação da dignidade e da
humanidade de grupos vulneráveis. Ficou vencido o ministro Marco
Aurélio. Disponível: https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=414010
Acesso: 12/06/2023)
CASO ELLWANGER
• A construção da definição jurídico-constitucional do termo “racismo” requer
a conjugação de fatores e circunstâncias históricas, políticas e sociais que
regeram a sua formação e aplicação. O crime de racismo constitui um
atentado contra os princípios nos quais se erige e se organiza a sociedade
humana, baseada na respeitabilidade e dignidade do ser humano e de sua
pacífica convivência.
• Os Ministros entenderam que, no caso, a conduta do paciente, consistente
em publicação de livros de conteúdo anti-semita, foi explícita, revelando
manifesto dolo, vez que se baseou na equivocada premissa de que os
judeus não só são uma raça, mas, mais do que isso, um segmento racial
atávica e geneticamente menor e pernicioso. Dessa forma, a discriminação
cometida, que seria deliberada e dirigida especificamente contra os judeus,
configura ato ilícito de prática de racismo, com as consequências gravosas
que o acompanham.
• Assentou-se, por fim, que, como qualquer direito individual, a garantia
constitucional da liberdade de expressão não é absoluta, podendo ser
afastada quando ultrapassar seus limites morais e jurídicos, como no
caso de manifestações de conteúdo imoral que implicam ilicitude
penal. Por isso, no caso concreto, a garantia da liberdade de expressão
foi afastada em nome dos princípios da dignidade da pessoa humana e
da igualdade jurídica. Vencidas a tese que deferia a ordem para
reconhecer a prescrição da pretensão punitiva e a tese que deferia
habeas corpus de ofício para absolver o paciente por atipicidade da
conduta. Conseqüentemente, o Plenário do Tribunal, por maioria de
votos, denegou a ordem. (Disponível:
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2052452 Acesso: 12/06/2023)
REFERÊNCIAS
• DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 9. edição.
São Paulo, Renovar, 2015.
• GOMES, Luiz Flávio & CUNHA, Rogério Sanches.
Legislação Criminal Especial. 2. ed. São Paulo, RT, 2010.
• SZKLAROWSKY, Leon Frejda. Crimes de racismo.
Disponível: https://jus.com.br/artigos/169/crimes-de-
racismo/2 Acesso: 09/04/2021.
• Site do STF
• Site migalhas.com.br

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