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A EROSAO E A PAISAGEM (*) AEROSAO, DOENGA DA PAISAGEM Hi paisagens sas e paisagens doentes. E uma das doengas mais frequentes € mais graves € a eros. Doenga traicoeira, de evolugio lenta mas segura, & Jificil de diagnosticar no inicio e mais dificil ainda, para quem nio esteja prevenido, imaginar até que extremos de miséria ela poder conduzir, e as espantosas catéstrofes a que poderd dar origem, Muito admirados ficariam os primeiros entusiastas da grande cultura cerealffera nos Estados Unidos se Ihes dissessem que estavam preparando as cheias colossais do Mississipi e as tremendas tempestades de areia que hoje assolam esse pais e conduzem a perda definitiva, ou quase, de 2 milhdes de hectares de terra cultivada por ano. E, no entanto, eram bem claros os exemplos da hist6ria. As civilizagoes do Noroeste cchinés ¢ de Babil6nia terminaram pela destruigio das terras, outrora férteis, que a erosio transformou em desertos. As nuinas de Cartago encontram-se hoje sepultadas nas areias do deserto, que igualmente tem invadido 0 Vale do Nilo, reduzindo-oaestreitafaixa. A Judeia— terra de promisso — mal sustenta os seus escassos haditantes ea Sicilia, que foi o celeiro de Roma, é hoje dridae pedregosa. Na Europa actual sto famosas as cheias do P6, ocasionadas pela erosiio dos Apeninos, que todos os anos arrastam milhdes de toneladas de terra para 0 mat. ‘Também entre n6s nao faltam exemplos perigosos de eros, que dentro em breve espero mostrar-vos, tanto no continente como nas ilhas e territ6rios do império. (©) Listoproferid no Instituto Superior de Agronomia, cm 25.0143, Sparta do volume Conferécias realizadas no ano letvn de 1992-1943, Universidade Técnica de Lisboa sss NOGAO E CAUSAS DA EROSAO. Mas, que ver a ser afinal a erosio? E sabido que a Terra, como toda a Natureza, se encontra sujeita & acgiio de forgas contrdrias, umas construtivas outras destrutivas, que actuando através dos séculos conduzem a um estado de equilibrio essencialmente dinémico, Debaixo da acgio das condigées climaticas locais, da flora e da fauna, a rocha-mie foi dando origem ao solo, delgadissima camada que cobre quase toda aterra firme e é sustentculo da vida. Conforme as condiges da sua formago, esse solo atingiu no perfil maduro uma espessura constante, caracteristica, que nao resulta de forma alguma de uma paragem do processo formativo, mas sim do equilforio de que falimos entre as forcas criadoras e destrutivas. Modificam- -Se.a pouco e pouico as condigdes climiticas e com elas a flora ea fauna, c logo © processo formativo do solo evoluciona correlativamente. Dio-se arrastamen- tos lentos do solo velho, que vai noutro ponto formar novas aluvides © s30 mobilizadas para 0 solo novas camadas da rocha-mae. Chama-se aeste processo natural —erasio geoldgica, Pode observar-seum ouco por toda a parte, mas é especialmente nitido onde ainda se nao consegui. formar solo, como, por exemplo, nalguns pontos dos Alpes. ‘Com oaparecimento do homem surgiu, porém, umelemento perturbador do cequilfbrio natural, e embora a sua acgio talvez nao tenha conseguido modificar seriamente a evolugdo do nosso planeta, a verdade é que ele mudou a face da Terra. Ao homem se deve a erosio de que nos vamos ocupare de que resultam, como se disse, as maiores catistrofes. Comegou 0 homem por destruir a floresta natural para aumento dos seus prados e, mais tarde, até estes foram destrufdos a favor da seara. Mas enquanto Tevou a vida némada e a densidade da populagio era pequena ainda, as con- sequéncias nao foram muito graves, porque logo que a fertilidade das terras bbaixava estas eram de novo abandonadas is forgas construtivas da floresta e do prado natural Foi quando 0 homem se tornou sedentério que os resultados foram mais calamitosos, porque entio 0 desnudamento foi sempre aumentando eembora se Procurasse compensé-o por inteligentes processos de resttuicio, eles ficaram quase sempre muito aquém da destruigio efectuada, Esta acgo destrutiva acelerou-se porém de forma extraordindria desde 0 século passado e podemos afirmar que, apesar dos notabilissimos progressos da cigncia agronémica, pondo a disposigaio do homem meios de produgao nunca sonhados, a produgéo mundial desce continuamente. Foi pouco antes da iltima guerra que alguns espiritos esclarecidos comecaram a entrever a gravidade estes factos, até ento considerados de interesse meramente local, afectando apenas individuos isolados. Mas s6 durante a crise de 1929 se comesou a desenhar com nitidez 0 quadro da catdstrofe e os governos se aperceberam da 136 necessidade inadigvel de langar mos & obra. Assim o reconheceram primeiro os Estados Unidos da Américado Norte ea Unido Sul-A fricana —os dois pafses mais duramente atingidos —, a Alemanha depois de 1933, embora a lei de proteccdo das nascentes seja de 1870, e a Itéia com os modemos trabalhos de afixagdo dos Apeninos. Entre n6s, desde os meados do século XVIII, pelomenos, que algumas vozes clamam no deserto. Felizmente as palavras de S. Ex. o Sr. subsecretario de Estadoda Agriculturanas tltimas Jomadas Agronmicase aaprovagaiodo novo plano de revestimento florestal, entre outras medidas, do-nos a garantia que também em Portugal o problema esté a ser encarado como merece. Desta ‘compreensio e boa vontade tudo ha a esperar, notando que a obra de largo folego e que sé passados muitos anos de paciente e ignorado labor se poderio colher dela os ambicionados frutos. OS AGENTES DA EROSAO — A AGUA. Poderemos definir a erosio como sendo a destruigao e carrejo do solo. Os seus principais agentes sio a 4guae o vento. Ocupar-nos-emos apenas do primeiro porque além de ser o mais importante é para n6s quase o tinico. Nem todos 0s solos estio jgualmente sujeitos a erosio, sendo a sua estrutura © principal factor determinante da erodibilidade. Todo 0 fenémeno erosivo omega necessariamente pela desintegracao do solo e, por isso, a estrutura grumosa é a que melhor garante o solo da erosio, facilitando-a, pelo contririo, a falta de estrutura e a disposigo laminar das camadas do solo. ara que haja erosdo pela égua tem de haver escoamento superficial e, por isso, tudo.o que se Ihe ope, hiimus, estrutura grumosa, porosidade, manta viva, equeno declive, etc., diminui e evita 0 fenémeno erosivo. Pelo contrério, o empobrecimento em hiimus, devido a culturas temporérias © a diferentes amanhos sem abundantes estrumagdes, a compactaciio pelas chuas das terras desnudadas, a desfloculagao das argilas pela égua, a acidifi- cago progressiva das terras com a consequent formacio de hiimus dcidos desfloculados, 0s amanhos realizados fora dos ensejos, am armagio das terras, ete. silo as condigdes necessérias ¢ suficientes para que se inicie a erosto. Comega esta naturalmente pelo ataque as camadas superficiais do terreno. Destrufda'a manta viva — mata, matos ou prados — e com ela a manta morta, ‘expés-se imediatamente o solo ao perigo da erosdo. A égua da chuva cai direc tamente sobre terra, e seesta for argilosa as gotasde 4gua vio-nacompactando ponto de criar uma camada superficial perfeitamente impermedvel, por desfloculagao e compressio. A partir desse momento, toda a agua se escoa superficialmente, Se a terra for arenosa a compactagio nao se dé, mas em ‘compensagio 0 poder de imbibigdo € quase mulo, sucedendo mesmo nalgumas 7 terras deste tipo, pobres em hiimus, que a dgua passe por elas sem as molhar Privada da acgio filtrante dos diversos andares de vegetagdo, que retarda a queda da chuva sobre o terreno, ¢ da acgo absorvente da manta morta, a terra sem estrutura é facilmente arrastada. Mas antes mesmo de haver arrastamento visivel dé-se ja a lavagem das bases de troca, Com a sua falta sobrevémm a acidificagdo progressiva do meio que conduz.& desfloculagio do hiimus e da argila e, consequentemente, a destruicio do complexo coloidal logo arrastado por sua vez em suspensio, © AGRAVAMENTO DA EROSAO muito dificil reconhecer a erosdo nesta primeira fase que se manifesta apenas por um decréscimo constante da produgdo. Como os estrumes no abundam, nem €fécil fazé-losaumentar rapidamente, procura-se 0 remédio nos adubos quimicos, mas em geral s6 se vai agravar o mal, porquanto a aplicaco da cal, eo caleitio & uma das bases mais facilmente arrastaveis e que mais falta faz como elemento estabilizador do complexo coloidal, nio se deve fazer sem a aplicagao de matéria organica, e os outros adubos, sendo na sua maioria fisiologicamente écidos, apenas vém acelerar 0 processo de desfloculagio. ‘Comega logo em seguida 0 carrejo do solo superficial e ao fim de algum tempo — as vezes muito breve, um ano ou menos — este é completamente arrastado deixando-nos em presenga de solos decapitados, infelizmente to frequentes no nosso pafs. E repare-se que tudo se conjuga para acelerar o processo erosivoe oempobrecimento do terreno. A perda das bases de troca traz 1 desfloculagio do complexo coloidal, mas como este por sua vez é 0 tinico capaz de fixar as bases, a capacidade de retengio do solo & cada vez menor. Por outro lado, a acidificagio progressiva vai diminuindo a aetividade microbiana e com ela se perde a fertilidade e CO: cuja importincia como floculante & conhecida. Nao para aqui o processo erosivo. tras da camada superficial vem arrastamento das camadas mais profundas do solo. Comega pela formacao de equenos sulcos, que todos temos visto nos taludes das estradas,e termina em {emerosas ravinas ou em profundos vales de erosio. Nesta altura, o solo ja ndo consegue praticamente fixar a 4gua, devido, por tum lado, & diminuigao do seu poder de absorgao e, por outro, a0 aumento da velocidade de escoamento superficial. Os rios tomam cardcter torrencial & ssurgem as cheias catastrficas que todos nds conhecemos bem demais. Mas os prejuizos causados nao se limitam,e jé bastaria aos das cheias. Os rios deixam deser navegiveis por fata de Agua no Verio e pelo assoreamentodos seus leitos e barras. Nao faltam exemplos recentes a confirmar esta assercio. Caminha foi importante porto de pesca, mas, em 1925, j4 nenhum bacalhoeiro podia atracar As suas muralhas. Tinham de fundear a meio do rio em frente do porto. Segundo 38 me informam hoje em dia nem mesmo esse recurso resta porque se encontra completamente assoreado o canal central do rio, entao ainda muito profundo, e a propria barra esti quase inutilizada, Isto no espaco de 20 anos. Todos sabemos que este ano foi impossfvel a entrada dos bacalhoeiros no porto da Figueira da Foz Igual prejuizo afecta as grandes obras de represamento de Aguas. Tem-se visto barragens custosamente construfdas e totalmente inutilizadas ao fim de certo tempo. Ecomo se tudo isto nao bastasse, ainda a toalha fredtica baixac as nascentes € pogos secam, por falta da agua retida no solo que outrora as alimentavam. O clima evoluciona no sentido de maior aridez. Os prados privados da toalha fredtica ou da égua das nascentes cedem o lugar a culturas cerealiferas. A mata degrada-see passa achamneca, que, por sua ve7, €arroteada para compensar pela extensificagio da cultura o empobrecimento sempre crescente dos terrenos. Paralelamente dé-se a diminuicdo dos gados e estrumes, o que vem acelerat ainda mais o processo. Antes do seu desaparecimento completo gado degrada- -se também e assistimos & substituigao dos bovinos pelos ovinos e, finalmente, pelos caprinos. ‘Aproximaro-nos do deserto! O COMBATE A EROSAO Como combater a erosio e evitar tamanhos males? Como remediar os estragos ja causados? ‘Ocombate derosio faz-se,evitando ou, pelo menos, diminuindo o mais pos- sfvel 0 escoamento superficial da égua das chuvas e dando ao solo melhores condigdes de defesa. Para atenuar o escoamento superficial temos de favorecer a9 méximo a infiltragdio da dgua e a sua evaporagio, retardando-Ihe a marcha; amelhoria das condigdes de defesa da terra consegue-se por todos os meios que favorecem a agregagio das suas particulas e mantendo-a tanto quanto possivel coberta de plantas. Podemos dividir os meios de combate & erosto em duas grandes categorias: 08 meios fisicos e 08 biolégicos. OS MEIOS FISICOS DE COMBATE A EROSAO Dentre os meios fisicos citaremos, em primeiro lugar, a diminuigd0 do declive. E este um dos processos mais antigos, realizado pela armagao da terra «em socalcosedos mais utilizados no nosso pais. Quase todas as nossas melhores terras se encontram protegidas desta forma e a ela se devem nao s6 a elevada 159 produtividade, mas também a permanéncia, através de séculos, da sua fertile de. A este trabalho gigantesco de geragdes devemos a possibilidade de manter populages de grande densidade como acontece sobretudo no Minho e na ilha de “Madeira. Processo muito antigo é ainda hoje dos mais eficazes e assim vemo-lo aconselhado na América do Norte, pais onde o problema da erosfo apresenta = maior gravidade, Entre nés merece ser ampliado e acarinhado, possivelmente até com isengdes fiscais, para que se possa alargar regides como os arredores de Lisboa em que ainda hoje é pouco usado. O maior inconveniente deste métodoéo seu elevado custo, que geralmente s6 € compensado por culturas regadas e outras ‘especialmente valiosas, como, por exemplo, as vinhas do Douro, A diminuigdo do declive tem como efeito impedir a velocidade excessiva de ‘escoamento superficial, dando portanto mais tempo & gua para se infiltrare se evaporar e diminuindo o seu poder de arrastamento da terra. ‘Outro meio de impedir 0 escoamento superficial é a ahertura de valas ho- rizontais adistancias varidveis com odeclive ea permeabilidade das terras, que retém as aguas das grandes chuvadas. Este processo, muito simples e econdmi- co, deve vir a ter larga aplicagaio nos terrenos de encosta do nosso pais que no ppossam ser armados em socalcos. Bastam simples valas abertas a charrua ow 2 enxada, sem grande profundidade, para se conseguir reter a maior parte da gua, ‘Uma variante deste processo € a lavoura segundo as curvas de nivel, que constitui hoje na América, associada & pritica dos afolhamentos em faixas horizontais, um dos processos basilares para evitar a erosio. A este propésito cconvém chamar a atengaio para a pritica, a que nio encontrei ainda justificagio satisfatria, de lavrar segundo as linhas de maior declive, to usada na regiao de Lisboa, em encostas muito declivosas e terrenos altamente suj com os resultados que se podem observar na fotografia de Paco de Arcos, que publicamos, e que além disso sio altamente responsdveis pelas cheias tremen- das do rio Jamor, da ribeira de Loures, etc. Finalmente, podemos incluir nos meios fisicos de combate & erosio todos 6s amanhos culturais que t&m por fim melhorar € conservar a estrutura da terra, OS MEIOS BIOLOGICOS DE COMBATE A EROSAO A arborizagao ‘A acgio dos meios biol6gicos é muito mais complexa do que a dos fisicos «e podemos considerd-la por dois aspectos: cobertura do solo e modificagao das ‘suas propriedades. A arborizagdo é certamente de todos os meios de defesa biol6gica, o mais conhecido. O arvoredo impede a queda directa da chuva sobre o terreno e, 160 Portanto, a acgio mecdinica de calcamento, tio importante nas terras argilosas; além disso, relém a égua nas copas, retardando sensivelmente a sua queda e evitando mesmo, pela evaporagao na extensa superficie foliar, que uma parte apreciavel da égua atinja o solo. Da égua retida na copa, uma parte escorre 20 longo das pernadas e do tronco, infiltrando-se imediatamente pelos canais que as rafzes mantém sempre abertos junto as érvores. No entanto, & de notar que os povoamentos de alto fuste com um s6 andar de vegetacio quase néo protegem ‘terreno. Como vimos, a erostio comeca pelas camadas superficiais e, por isso, 6 uma protecjo continua destas pode assegurar a defesa eficaz.da erosio. A proteccdo € dadla sobretudo pela manta mortae pelo andar herbdceo da manta viva. Sdo especialmente as gramineas com as suas raizes fasciculadas e de curta vida que melhor conseguem proteger o terreno, ja pela finura e entrelagado das rafzes, que tendem por si a dar estrutura grumosa a terra, jé pela morte constante de rafzes, que vao deixando 0 solo suleado por finos canais, onde a agua se infltra com fasilidade. Compreende-se, portanto, que a protecgio do solo sera {tanto mais perfeita quanto maior for o mimero de andares de vegetagio da mata, ‘Neste aspecto pode considerar-se quase nula aaceao protectorade muitas matas de pinheiro-bravo do Norte do Pais — sobretudo da serra da Estrela — intei- ramente despidas de sub-bosque e faltas de manta morta. Esta, além da acco ‘meciinica de cobertura das partfculas terrosas, tem ainda o papel de aumentar 0 poder de absorgdo da dgua e de contrariar a erosio vertical — podsolizagio— ‘tazendo constintemente a superficie as bases que a dgua vai arrastando para as, ‘camadas inferiores do terreno e que as rafzes absorvem novamente. Sob este aspecto, a acgio das matas de pinheiro-bravo a que hi pouco me referi é no s6 indtil mas até prejudicial em alto grau, porque, sendo o pinheiro-bravo uma rvore com um ciclo de bases muito fraco, os terrenos tendem a acidificar-se rapidamente, 0 que vai facilitar muitfssimo 0 processo erosivo. As matas de protecedio devem, pois, ser constituidas sobretudo por folhosas, de folhacaduca ou permanente conforme os casose as regides, tendo-se especial cuidado em proteger 0 sub-bosque. Os matos Nao so porém s6 as matas que exercem esta acgao protectora. E quase igual ‘eficdcia dos matos, que por cortes sucessivos e bem ordenados se tornam tio densos que cobrem e protegem por completo o terreno. E preciso, no entanto, evitar dois extremos: 0s cortes demasiadamente espagados — mais de 3-4 anos «em quase todo Pafs —que diminuem o mimero de plantas por ensombrando excessivo aniquilam os andares inferiores de vegetagao e os cortes tao repetidos © enérgicos que desvitalizam as plantas e criam clareiras por onde comegard a ‘erosiio. Nao é também indiferente a forma como se corta 0 mato e que nunca deve serde altoa baixodas encostas, mas sim em faixas horizontaiscomo noutro tempo se faziana regio de Santa Comba do Dao, costume que infelizmente ali 161 Se perdeu e que urge reintroduzir(). Os matos tém ainda acgio protectora em dois outros aspectos: porque s6 por meio deles conseguimos poupar a manta viva das matas e pela contribuigao que dio aos estrumes. A associagio com pastagens permanentes Deacgdoprotectora igualmente eficaz sioaspastagens permanentesquetém Sobre a mata ¢ os matos a vantagem de representar um aproveitamento muito mais valiosoda terra, Nao serd, por isso, nunca demaisinsistirque se nfiodevem considerar quaisquer destes meios de defesa como exclusivos dos outros. Pelo contrério, para que cheguemos a paisagens equilibradas necessitamos de os associar até onde 0 permitam as condigées agro-climaticas e o exijam os tipos de culturas da regido. Desta consociagao, em que naturalmente se dari a pre- feréncia as culturas mais valiosas, resultard no s6 a desejada protecco da erosdo como também uma notévelintensificagao cultural. Sendo assim, a mata deve, em muitos casos, aparecer mais como elemento de proteceo da pastagem do que esta como concessio feita aos pastores. De facto, o alargamento da dea de pastagem e 0 seu melhoramento sio indispensaveis para que ela possa ‘cumprir a fungi protectora, que hoje em muitos locais se nao verifica, geral- ‘mente por excesso de apascentamento e empobrecimento do terreno. A rotagio com prados temporsrios ‘Tambémos prados tempordrios, introduzidos nas rotagdes, poder virater uma acgdo rotével de protecgo, methorando a estrutura das terras, mesmo quando Ihe sacederem, na rotagao, outras culturas. Com o aumento dos matos das pastagens poderemos aumentar os gados e, portanto, os estrumes. Ora, a Tatéria orgénica, melhor, o himus saturado é um elemento importantissimo de defesa contra a erosto. Aumentando extraordinariamente o poder de retengio das terras pera a agua facilita a infiltragdo. Como agente estabilizador dos coldides do solo, impede a sua desfloculagao, favorecendo a estrutura grumosa, Por sie porque activando a vida microbiana das terras dé origem a uma maior libertagdo de CO> que vai actuar igualmente como floculante. Finalmente, retendo as bases contraria a erosio vertical e aglomera as terras arenosas, que sem ele se apresentam sem estrutura, Procursimos, no dmbito restrito de uma ligo, dar uma ideia de conjunto do pro- ‘blema da erosio edos métodos a empregar paraacombatcr,c paraconcluir diremos «queda acgio lenta mas segura de todos estes factores¢ de esperar umenriquecimen- to progressive da terra portuguesa ¢ uma beleza cada vez maior da sua paisagem. ( Informasto do Prof. Dowtr Brangsinto de Olvera 162 Foto 46 — Talude da Avenida Aiferes Maiheiro, Lisboa — Na terra completamente desprotegida de vegetagdo, a chuva comega por formar os pequenos sulcos que se véem Gesquerda da fowgrafia A desfloculagdo das argilas, ocasionada pela dgua das chuvas, ‘conduz depois aos desmoronamentos que se vem ao centro (\ ra mT Foto 47 — Estrada para Vale de Cavalos — Os pequenos sulcos superficiais vio umentando, desaparece oda terra superficial ecomeraaformagdo de ravinas. (Foto deD. Lufs Bramio) Foto 48 — Regido de Abrantes — As ravinas vao-se alargando e formam-se grandes barrancos. O declive acentua-se e com ele a velocidade da digua que se infilira cada vet ‘menos ¢ leva coda vezmais carrejos, aumentando assim 0 eu poder de eros, (Foto de D. Luis Bramio) 164 Foto 49— Ravina priximo da Concuvada— Ravinas deste tipo sao muitas vezes or nnadas por se desviarem sem mais cuidados para os terrenos marginais as dguas das estradas. Os preiizos podem vira afectar rapidamente largas éreas cultivadas, (Foto de D. Luis Bramio) Fow 50—Pagode Arcos —A armagao clefeitwsa dis terras dew lugar, com chuvada, aos prejutzos que se véem nesta fotografia. Destruigdo da seara, arrastamen. toda terrado talude e assoreamento da baixa, que ficou cheia de calhaus eareia. (Foto de D. Luis Bramio) 1s Foto 51 — Morcigua — A desarborisas.o rotal e em seguida a exploragdo excessiva dos matos dé lugard formagéo de ravinas num terreno que deveriaestar perfeitamente proteeido pela reetacto arbustiva Foto 52— Préximo de Mortigua—Noprimeiro plano vé-se um olivalemqueacultura, devido ao declive excessive do terreno, levou ao arrastamento de toda a parte fina do solo, deixando apenas o esqueleto pedregoso. Ao fundo, vé-se o corte do mato feito de alto baixo e que deveria ser executado segundo faixas horizontais para reteras dguas de escoamento superficial Foto $3 — Bacia do Mondego— Longos anos de desarborizagao conduziram a solos esqueléticos, em que nem 0 pinheiro-bravo consegue ja estabelecer-se sem grande dificuldade Foto $4 — Douro, Sao Salvador do Mundo — Todas estas encostas foram outrora revestidas de matas de carvathos,cujo interesse econdmico para a regio era evidente (tanoaria). Hoje estdo reducidas ao aspecto esquelético do primeiro plano, onde nem ‘o mato consegue fixar-se e sdo as grandes causadoras das cheias do Douro 167 Por esta fotografia, tirada préximo da anterior, pode materiais arrastados e da rusticidade do pinheiro-bravo Foto 56— Faial, Madeira — Os socalcos, subindo as encostas até quase ao cimo dos ‘montes, construidos com um trabalho fantastico, sdo a tinica maneira de manter a fertilidade das terras e evitar a erosio em terrenos de declive to acentuado. abalho de séculas e ds obras gigantescas de captagdo de dguas que a Madeira deve a possibilidade de manter +6 pela agricultura uma populagdo das mais densas da Europa Foto 57— Faial, Madeira. Pormenor da regiao anterior —O declive ¢ tao acentuado {que nao basiam os socalcos habituais, Nestes hd ainda necessidade de plantar em egos horizontais que formam como que socalcos secundérios. Ajudando a fixar os socalcos principais vemos plantados vimeiros que alimentam a co- nnhecida inclistria madetrense Foto $8 — Tapada da Ajuda. Zambujal das Pedreiras, Lisboa — Povoamento es ppontdineo em que domina o zambujeiro, com abundante sub-bosque, rico em andares devegetacao, garantindo, por isso, uma eficaz protecgdodo solo, ndo 36 pela cobertura erfeitado solo como pela sua fixagdo mectnica, devida ao entrelagadodas raizes dos diversos andares de vegetagdo 10 Foto 59 — Loriga, serra da Estrela — Compare-se a parte junto da povoagdo toda ‘armada em socaicos com as zonas altas da Serra. Em baixo, no ha sinais de erostio ea fertlidade das terras é elevada, em nitido contraste com a pobreza e nudez da regido superior. Foto de D. Ana Ferreira da Fonseca) Foto 60— Olival no Balteio a-Velha— 00 pov inica espécie e suprimido o sub-bosque, de que restam apenas vestigios do andar herb a deixou de exercer a sua acgdo protectora eos desmoronamento' su onstante oarrastamento das camadas superficaisdo terreno m AS rey Foto 61 — Olival no Balteiro, Linda-a-Velha — Pade ver-se neste corte o complexo lacado de ratzes das varias plantas que, no entanto, jéndo & suficiente para fxar. @ terra porque, apesar da sua complexidade, € muito pobre em relagdo ao do wwoamento naturale porque falta a acedo protectora de cobertura eaacgao mecdnica retardamento do escoamento superficial, devido a densidade de vegetagdo do foamento natural e & manta morta que neste caso nem chega a formar-se tabundante e sub-bosque constituido principalmente pelo andar herbiceo. Repare-se sobretudo na manta morta em abundancia extraordindria, que garante ndo s6 a ‘permanéncia da fertlidade do solo como a protecco do mesmo no Inverno ms 1963 — Tapadada Ajuda, Lisboa — Est selho, apresenta sinais nitidos de decrepitude. A auséne redazido a wma pobrisima vegetacdo de trevo-azedo (Oxaliscemnua)e algumar era neas — € motivada pela ma adaptagdo desia esséncia exéiica as nossas conicdes ecolégicas. Uma mata nesta situapdo, sem sub- bosque, semi um coberto to pouco denso ;povoamentode cupressus, emborando muito ‘ia completa de sub-bosque — ;manta morta apreciévele com Indo pode exercer acgo protectora aprecidvel Foto 64 — Pacos da Serra, Gouveia — A protecgao das encostas pode fazer-se com inteira eficdcia por meio de pastagens permanentes sempre que se disponha de dua suficiente. Eevidente que se obtém assim um rendimento muito superior ao da mata Foto 65 — Santa Marinh contra-se protegida por uma moita de carvalho-negral pouco densa, com pastagem permanente, que se continua na baixa forado coberto Foto 66— Pavos da Serra, Gouveia — Paisagem equilibrada. As baixas armadas em socalcos sao destinadas as culturas arvenses, os cabecos arborizados protegem as terras de cultura. Acentuada policultura com aproveitamento minucioso das diversas condigdes ecolégicas. Quadro geral de intenso aproveitamento da terra. Ao fundo, na Serra, observa-se justamente o contrdrio —destruigio sistemdtica dos matose cultura extensiva de centeio e batata que estd criando sérias dificuldades locais pela falta de ‘matos e, ao mesmo tempo, vai agravar extraordinariamente o problema das cheias Mondego. A principal razdo foi ter-se permitido aapropriagdo dos baldios da Serra, que ram propriedade das jumas de freguesia Foto 67 — Perto de Mortagua — Puisagem equilibrada. Zonas bem diferenciadas e bem adaptadas de culturas, apresentando-nos todos as aspectos possiveis. Boa locali- ‘agtio das consirugdes, tanto debaixo do ponto de vista higiénico como econdmico. A ‘mata que protege a encosta fornece madeira, lenhas e matos. Na encosta mais baixa ‘brigada, com boa drenagem, armada em socaleos, fazem-se as culturas de sequeiro € hhortas. Na vércea, os prades, milho e batatas

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