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Direito e Obrigacoes Unidade 1
Direito e Obrigacoes Unidade 1
De acordo com Carlos Gonçalves (2019, p. 18), o Direito das Obrigações nada mais
é que um conjunto de normas que “regem relações jurídicas de ordem
patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro”.
Nesse sentido, o mesmo autor destaca que se trata de uma esfera do Direito Civil
com grande relevância econômica, pois abrange todas as relações patrimoniais.
O Direito das Obrigações possui uma conexão direta com outros ramos do Direito,
como o direito do consumidor que, apesar de possuir regramento específico
(Código de Defesa do Consumidor), utiliza os direitos obrigacionais como seu
regramento geral e suplementar. Muito além do direito do consumidor, a
compreensão do Direito das Obrigações é fundamental para o entendimento de
todos os ramos do Direito Privado. Nesse sentido, afirma Orlando Gomes (1981, p.
5): “o estudo de vários institutos dos outros departamentos do Direito Civil
depende do conhecimento de conceitos e construções teóricos do Direito das
Obrigações, tanto mais quanto ele encerra, em sua parte geral, preceitos que
transcendem sua órbita e se aplicam a outras seções do Direito Privado” (apud
GOMES, 2019, p. 34). Deste modo, é evidente a importância do Direito das
Obrigações não só em sua esfera propriamente dita, mas para o Direito Privado
como um todo, pois muito além de ecoar em outros ramos do Direito Civil, ele é
pilar conceitual de todos os demais.
Até a entrada em vigência do atual Código Civil, publicado em 2002, o Direito das
Obrigações era disciplinado em dois códigos distintos: O Código Civil (1916) e o
Código Comercial (1850). Assim, o atual Código Civil absorveu matérias que eram
disciplinadas no Código Comercial que tratavam do Direito das Obrigações, quais
sejam, o Direito de Empresa e os títulos de crédito. Assim, a Parte Primeira do
Código Comercial foi revogada (arts. 1º a 456). De acordo com Miguel Reale
(1999, p. 5), o que na realidade se fez foi consolidar e aperfeiçoar o que já estava
sendo seguido no País, que era a unidade do Direito das Obrigações. Como o
Código Comercial de 1850 se tornara completamente superado, não havia mais
questões comerciais resolvidas à luz do Código de Comércio, mas sim em função
do Código Civil (apud GONÇALVES, p. 35 e 36).
Toma-se como exemplo dois sujeitos, João e Carlos. João decide vender seu
automóvel para Carlos. Então, João deve entregar o veículo a Carlos, que, por sua
vez, deve pagar pelo bem adquirido. Se Carlos decide não pagar pelo veículo, ou
seja, não cumprir com o débito que satisfaz sua prestação, nascerá para este a
responsabilidade, que tem como consequência afetar o patrimônio de quem não
satisfez sua prestação, conforme preceitua o artigo 391 do Código Civil.
Conforme o artigo 104 do Código Civil, o objeto da obrigação deve ser lícito,
possível (possibilidade jurídica e física), determinado ou determinável (ainda que
inicialmente indeterminado, deve ser possível determina-lo no momento da
execução). Por fim, o objeto da obrigação deve ser economicamente mensurável,
ou seja, deve ter capacidade de se traduzir patrimonialmente (PEREIRA, 2018).
Toda obrigação é composta de, ao menos, dois sujeitos, sendo que um exercerá o
papel de sujeito ativo (credor) e o outro de sujeito passivo (devedor). Ambos
sujeitos podem ser pessoas naturais ou jurídicas, determinados ou determináveis.
Ainda, em uma mesma obrigação, podem existir múltiplos credores e/ou
devedores. O sujeito ativo, o credor, é a quem se deve a prestação, podendo exigir
o cumprimento desta. Por sua vez, o sujeito passivo, o devedor, é quem deve
satisfazer a pretensão do credor (GONÇALVES, 2019).
Por fim, aponta-se que os direitos reais são numerus clausus (rol taxativo), ou
seja, todos os direitos existentes nesse ramo do Direito Civil estão previstos em lei
(art. 1.225, CC). Já os direitos obrigacionais são numerus apertus (rol
exemplificativo), pois são inúmeros e nem todos estão previstos em lei (FARIAS;
ROSENVALD, 2017).
Como vimos, os direitos das obrigações são diferentes dos direitos reais. Contudo,
existem obrigações híbridas, que integram tanto os direitos das obrigações quanto
os direitos reais: são as chamadas obrigações propter rem. Segundo Gonçalves
(2019, p. 30), essas obrigações “têm características de direito obrigacional, por
recair sobre uma pessoa que fica adstrita a satisfazer uma prestação, e de direito
real, pois vincula sempre o titular da coisa”. Existem várias obrigações propter rem
espalhadas pelo Código Civil, como, por exemplo, a obrigação dos condôminos de
não alterar a fachada do prédio (art. 1.336, III, CC).
Como ramo do Direito Privado, o Direito das Obrigações se sujeita aos princípios
gerais do Direito Civil, como a boa-fé, função social, autonomia privada, dentre
outros. Para além destes, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2017)
apontam três princípios de excepcional importância para o Direito Obrigacional
disciplinado no Código Civil de 2002: socialidade, eticidade e operabilidade.
Princípio da socialidade
Princípio da eticidade
Trata-se da concepção do atual Código Civil ser mais poroso a valores sociais
externos, através das chamadas cláusulas gerais, que são normas
intencionalmente abertas, com uma maior possibilidade de interpretações
variadas para os operadores do direito. É uma maior abertura da lei para fontes
externas a ela, como a moral e a ética. É um princípio que garante um certo grau
de maleabilidade e progresso, conforme as demandas da sociedade na esfera do
direito civil (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Princípio da operabilidade
4 Fontes das obrigaçõesSegundo Maria Helena Diniz (2007, p. 40), as fontes das
obrigações são “os reguladores de relações particulares, entre duas ou mais
pessoas, tendo por objeto determinada prestação”. A doutrinadora aponta duas
fontes: a lei e o fato jurídico, que por sua vez se decompõe em fato jurídico
voluntário (ato jurídico e negócio jurídico) e fato jurídico involuntário (ato ilícito).
Pereira (2018) preconiza que a lei é fonte primária de todo direito. No mesmo
sentido é o entendimento de Maria Helena Diniz (2007), que afirma que é o
direito que dá significação jurídica aos fatos humanos e, especificamente no
Direito das Obrigações, é a lei que garante a formação do vínculo obrigacional.
Sempre presente como fonte, a lei ora atua como fonte imediata, ora atua como
fonte mediata da obrigação. A lei é fonte imediata nas situações em que a
obrigação decorre, exclusivamente, da vontade do Estado, ou seja, nos casos em
que a obrigação é determinada diretamente pela lei, a exemplo da obrigação
alimentar (art. 1.696, CC). Já o papel de fonte mediata da lei se dá quando a
obrigação decorre do fato jurídico, pois aqui a fonte imediata será a vontade dos
sujeitos manifesta no fato jurídico, e a lei agirá respaldando esse fato
(GONÇALVES, 2019).
4.2 Fato jurídico voluntário como fonte das obrigações: ato jurídico e negócio
jurídico
Por fato jurídico voluntário, entende-se ser o fato que produz efeitos queridos
pelo sujeito. Tal categoria de fato jurídico abrange os atos jurídicos e os negócios
jurídicos.
Ato jurídico, em sentido estrito, “é o que gera consequência jurídica prevista em
lei e não pelas partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia
privada” (DINIZ, 2007, p. 42). Já negócio jurídico é quando “se procura criar
normas para regular interesses nas partes, harmonizando vontades
aparentemente antagônicas” (DINIZ, 2007, p. 42). Resumidamente, negócio
jurídico possui efeitos oriundos das vontades das partes, previamente negociadas
entre elas, enquanto o ato jurídico em sentido estrito é aquele que só possui os
efeitos previstos em lei, mas que também eram pretendidos pelo sujeito.
4.3 Fato jurídico involuntário como fonte das obrigações: ato ilícito
Como regra geral, uma pessoa pratica atos só em nome próprio, ou em nome de
terceiro através de representação (uma procuração, por exemplo). Todavia,
existem situações em que um sujeito pratica atos sem ser representante legal ou
contratual de outro sujeito, mas que geram obrigações para o último. É o caso da
gestão de negócios. Conforme o artigo 861 do Código Civil, a gestão de negócios
ocorre quando “aquele que, sem autorização do interessado, intervém na gestão
de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu
dono, ficando responsável a este e às pessoas com que tratar” (BRASIL, 2002, on-
line). O dono do negócio deve ser imediatamente comunicado (art. 864, CC).
É a hipótese em que alguém recebe algo que não lhe era devido, nascendo assim
a obrigação de restituir (art. 876, CC). Por exemplo, se Amanda paga a pessoa
errada, quem receber o pagamento de Amanda tem dever de restituir o valor
recebido. Todavia, conforme artigo 877, cabe a Amanda provar que realizou o
pagamento indevido em razão de um erro.
Observa-se na redação desse artigo que, na verdade, o dono do negócio só fica
vinculado em relação a atos praticados em atenção aos seus interesses e, ainda
segundo o Código Civil (art. 862), se a gestão for contrária aos interesses do dono,
caberão sanções contra aquele que interviu em seu negócio.
A obrigação de dar pode se referir a dar coisa certa ou incerta. Coisa certa é a
coisa individualizada, perfeitamente determinada em gênero, quantidade e
quantidade. Por exemplo, ao comprar uma obra de arte de um certo artista, tem-
se coisa certa, pois nenhuma outra obra poderá substituir aquela precisamente. Já
a coisa incerta é a coisa desprovida de individualidade, apenas definida quanto ao
seu gênero e quantidade, logo, desprovida de sua qualidade. Por exemplo, um
restaurante ao comprar uma caixa de cebolas, sem especificação de qualidade
(GONÇALVES, 2019).
Infungível
No caso das obrigações de dar coisa certa, se houver perda total, ou seja,
perecimento da coisa, a obrigação se torna impossível e o contrato se resolve por
inadimplemento. Contudo, se houver culpa, a obrigação também se resolve, mas
o devedor responderá pelo equivalente do valor da coisa, mais perdas e danos
(art. 234, CC). Em caso de perda parcial de coisa certa, ou seja, de deterioração,
caberá ao credor decidir se aceita a coisa no estado em que se encontra, ou se a
obrigação se torna impossível. Caso escolha receber a coisa deteriorada, haverá o
devido abatimento do valor do bem, para que o credor não fique prejudicado (art.
240, CC). Já no caso das obrigações de dar coisa incerta, como o objeto não é
individualizado até o momento do adimplemento da obrigação, não é possível que
o devedor alegue perda do objeto (art. 246, CC).
No caso das obrigações de dar coisa certa, se houver perda total, ou seja,
perecimento da coisa, a obrigação se torna impossível e o contrato se resolve por
inadimplemento. Contudo, se houver culpa, a obrigação também se resolve, mas
o devedor responderá pelo equivalente do valor da coisa, mais perdas e danos
(art. 234, CC). Em caso de perda parcial de coisa certa, ou seja, de deterioração,
caberá ao credor decidir se aceita a coisa no estado em que se encontra, ou se a
obrigação se torna impossível. Caso escolha receber a coisa deteriorada, haverá o
devido abatimento do valor do bem, para que o credor não fique prejudicado (art.
240, CC). Já no caso das obrigações de dar coisa incerta, como o objeto não é
individualizado até o momento do adimplemento da obrigação, não é possível que
o devedor alegue perda do objeto (art. 246, CC).
Conforme previsão expressa no Código Civil, em seu artigo 252, como regra, a
escolha da prestação que bastará para sanar a obrigação será realizada pelo
devedor. Quando a prestação é escolhida, ocorre a concentração da obrigação. A
presença de um objeto definido fruto da concentração torna a obrigação simples.
Segundo Gonçalves (2019), o fundamento por trás da existência das obrigações
alternativas é favorecer o cumprimento da obrigação, pois permite ao devedor
mais possibilidades de prestações capazes de sanar seu dever.
Como aqui todo processo de escolha emana do devedor, caso haja perda do
objeto, a obrigação se extingue sem possibilidade de o credor exigir qualquer
outra prestação, ou então o devedor poderá meramente realizar o pagamento
através de um objeto substitutivo (GONÇALVES, 2019)
o devedor, demandado por obrigação indivisível, não pode exigir que o credor
acione conjuntamente todos os codevedores. Qualquer deles, à escolha do autor,
pode ser demandado isoladamente pela dívida inteira. Ressalva-se apenas ao
devedor, que solve sozinho o débito por inteiro, sub-rogação dos direitos
creditórios, a fim de reaver dos consortes as quotas respectivas.
Havendo pluralidade de credores, cada credor só terá direito a sua parte. Então,
se um devedor decidir pagar a dívida inteira a apenas um credor, ainda assim este
poderá ser demandado pelos demais cocredores. Assim, o devedor só cumpre a
obrigação se pagar todos os credores, ou se pagar um credor com caução de
ratificação dos demais credores (art. 260, CC). Caso apenas um credor receba a
prestação inteira, os outros cocredores poderão cobrar sua parte deste credor
(art. 261, CC).
Segundo o artigo 262 do Código Civil, se um dos credores remitir a dívida, ou seja,
perdoar a dívida, esta remissão só vale para sua parte da prestação, então, os
outros cocredores ainda poderão exigir sua parte da dívida, sem, é claro, poderem
exigir a quota-parte da dívida que era do credor que realizou a remissão da dívida.
Então, por exemplo, se João deve dez sacas de café para cinco credores (duas
sacas para cada) e um dos credores decide remir a dívida, João ainda deve um
total de oito sacas de café (duas sacas para cada um dos quatro credores que não
perdoaram a dívida).
Por fim, aponta-se que, nas obrigações indivisíveis com mais de um devedor, caso
haja inadimplemento, deve-se observar a culpa de cada um. Se todos forem
culpados pelo descumprimento da obrigação, todos responderão pelo equivalente
da prestação, mais perdas e danos. Contudo, se a culpa for de apenas um devedor,
todos respondem pelo valor equivalente, mas apenas o culpado responderá por
perdas e danos (art. 263, CC).
Por fim, Pereira (2018) aponta outra diferença: na obrigação indivisível, caso essa
se converta em perdas e danos, a obrigação perde sua indivisibilidade, pois,
conforme preceitua o artigo 263 do Código Civil, todos os devedores responderão
igualmente por estas. Por sua vez, na obrigação solidária, esta perdura mesmo se
convertida em perdas e danos, afinal, não guarda relação com o objeto da
obrigação, mas sim com seus sujeitos.
Por fim, ainda tratando da obrigação solidária ativa, observa-se que a coisa
julgada em relação a um dos credores beneficia todos os demais, caso seja
favorável a eles. Todavia, caso a coisa julgada traga prejuízos, valerá apenas para
o credor que participou da causa (art. 274, CC).
Caso um devedor tenha sua dívida perdoada, ou seja, remitida, tal fato não será
aproveitado pelos demais codevedores (art. 277, CC). Para clarificar o conteúdo
desse artigo, tem-se o seguinte exemplo: uma obrigação com três devedores,
em que cada um deve uma quota-parte de cinco reais, totalizando-se uma dívida
de quinze reais entre eles. Um dos três devedores obtém remissão da sua dívida.
Essa remissão não vale para os demais, no sentido de que eles continuam sendo
devedores. Todavia, a quota-parte remida não poderá ser exigida deles, então,
agora devem em conjunto um total de dez reais.
Ainda nesse exemplo, observa-se que o devedor que adquiriu perdão de sua
dívida, continua podendo ser demandado da dívida total – que agora é de dez
reais. Isso porque continua sendo devedor solidário. Então, em resumo, “a
remissão ou perdão pessoal dado pelo credor a um dos devedores solidários não
extingue a solidariedade em relação aos codevedores, acarretando tão somente
a redução da dívida, em proporção ao valor remitido” (GONÇALVES, 2019, p.
159). Então, observa-se que o efeito da remissão na solidariedade passiva é
diferente da remissão da solidariedade ativa, pois na última a remissão exonera
o devedor (art. 272, CC).
Por sua vez, o artigo 284 do Código Civil trata da hipótese de insolvência de um
dos codevedores solidários. Quando essa hipótese ocorre, todos os codevedores
responderão pela quota deste, ainda que tenham sido exonerados da
solidariedade pelo credor. Isso ocorre porque é de pleno direito do credor
exonerar um devedor da solidariedade em relação ao crédito, contudo, a
exoneração não pode prejudicar direito alheio, que é o que ocorre caso o
devedor exonerado não pudesse responder pela eventual insolvência de um
codevedor da solidariedade (GONÇALVES, 2019). Para melhor compreensão,
tem-se o seguinte exemplo:
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estudar sobre direito das obrigações, suas individualidades e sua relação com as
demais ramificações do Direito Civil;
REFERÊNCIAS