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CIENCIA, EVOLUCAO, E CRIACIONISMO CIENCIA, EVOLUCAO, ECRIACIONISMO nosso passado e a nos preparar para o futuro. Apesar de a evolugio fornecer respostas ‘verossimeis e confidveis, pesquisas de opinides demonstram que muitas pessoas se afastam C= Vida evoluiu na Terra? A resposta para esta questio pode nos ajudar a compreender da jéncia em busca de outras explicagées com as quais se sintam mais & vontade. Neste livro, uma equipe de peritos formada pela Academia Nacional de Ciéncias (National Academy of Sciences) ¢ pelo o Instituto de Medicina (Institute of Medicine) expoe os métodos fundamentais da ciéncia, documenta as evidéncias irrefutéveis que corroboram a evolugio biol6gica e avalia outros pontos de vista apresentados por defensores de varios tipos de criacionismo, incluindo o “projete inteligente”. Ciéncia, Evolugio ¢ Criacionismo explora diversas pesquisas fascinantes que coloca a ciéncia da evolugao a servigo da prevengao e do tratamento de doengas em seres humanos, do desenvolvimento de novos produtos agricolas e do fomento de inovagdes industriais. O livro também apresenta as razSes cientificas ¢ legais para que as ideias criacionistas nao sejam ensinadas nas aulas de ciéneia em escolas publicas. Levando-se em eonsideracao as disputas nos Conselhos de Educagdo e outras decisses judiciais recentes, Cincia, Exolugdo ¢ Criacionismo mostra que a ciéncia a religiao deveriam ser vistas como formas diferentes de compreensio do mundo, em vez de estruturas em conflito, ¢ que a evidéncia da evolucio pode ser ‘completamente compativel com a fé religiosa, Para educadores, alunos, professores, lideres comunitarios, legisladores, lideres politicos e pais que buscam entender a base da ciéncia evolutiva, esta publicagdo ser uma fonte essencial ‘Também de interesse... ‘Teaching About Evolution and the Nature of Science (Ensinando a Evolugio e a Natureza Esseneial da Cigncia) ISBN 978-0-309-06364-7-180 paginas + 8 6x 11 « brochura (1998) Evolution in Hawaii: A Supplement to Teaching About Evolution and the Nature of Science (Evolucio no Hava: Um suplemento sobre ‘Ensinando a Evolugio e a Natureza Essencial da Ciéncia’) ISBN 978-0-309-08991-3 + 56 paginas «8 4x 11 + brochura (2004) THE NATIONAL ACADEMIES” 2 Advisers te the Notion on Since, Enginerng, end Melcne (Aeatemios Nocona? osewa dre en nt PyeheeMs) == FUNPEC-Editora 978-385-7747 055 Ameo rearetRetettedeny—Ncond Kadeny AIDS COM | (of Sciences, National Academy of Engineering, Institute of Medicine, e National Research Council—para oriencagSes Independentes e objetvas com relagio is questSes que afe- ‘tama vid das pescoas pelo mundo todo, ‘eww natonal-academies om sliraasrrisro5se ” CIENCIA, O EVOLUGAO, ye) CRIACIONISMO ACADEMIA MACON AL DE CIENCI) as sTITUTO DE MEDICIN: FUNPEC-Editora * Av. Presidente Vargas, 2627, 2° andar, 14020 260 * Ribeiro Preto, SP AVISO: O projeto que constitui 6 tema deste relatério foi aprovado pelo Canselho da Academina Nacional de Cigncias dos Estados Unidos. Os membros do comité foram escolhicos cevido as suas competéncias ‘especiais e levando-se em consideragio a apropriada equidade. ‘Os recursos para este projeto foram fornecidos pelo Conselho da Academia Nacional de Ciéncias, ‘com apoio adicional da Fundacto Christian A, Johnson Endeavor e do Instituto de Biotecnologia. Os pareceres, descabertas, recomendagies e conclusdes expressados neste relatorio sio do comité de autoria e da Academia Nacional de Ciéncias e nao necessariamente refletem os pontos de vista das organizacoes que os apoiaram. Dados de Publicagao e Catalogagso da Biblioteca do Congressa Ciencia, evolugao,e cricionismo / National Academy of Sciences (Academia Nacional de Cincias) ¢ Institute of Medicine (Instituto de Medicina) da National Academies (Academias Nacionais). pecm, Inclui referéneias bibliograficas ISBN-13.978-0-300-10586-6 (brochura) ISBN-10:0-309-103862 (brechura) ISBN-13:978-0-309-10587-3 (pa) ISBN-10:0-309-10587-0 (pa) 1. Evolugao (Biologia) 2. Criacionismo. 3. CiGncia. I. National Academy of Sciences (Estados Unidos) I. Institute ‘of Medicine (Estados Unides) (QH366.2535 2007 5768-de22 2007015908 Diteitos Autorais 2008 por National Academy of Sciences. Toclos os direitos reservados. Impresso nos Estados Unidos da América Cépias adicionais estao disponiveis em: The National Academies Press. 500 Fifth Siret, N.W. Box 285 Washington, D.C. 20055 800/624-6242. 202/334-3313. Referdncia sugerida: National Academy of Seiences e Insitute of Medicine (2008). Scie, ‘The National Academies Pres. colton and Cretioniom. Washington, DC. EDICAO BRASILEIRA Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP. Brasil) Ciencia, evolugio e criacionismo / Academia Nacional de Ciéncias, Instituto dle Medicina ; {Wvadugao Valéria de Fitima Vieira]. Ribeiro Preto, SP: FUNPEC Editora, 2011 Titulo original: Science, evolution, and creationism, 1, Ciencia 2. Criacionismo 3. Evolucto (Biologia) 4. Homem -Origem I. Academia Nacional de Ciencias. I, Instituto de Medicina. ISBN: 978-85.7747-055-6 11-00957 + CDD-576.8 Indices para catélog sistemético: 1, Biologia evolutiva :Evolugio: 5768 COMITE DE REVISAO DE CIENCIA E CRIACIONISM UM PARECER DA ACADEMIA NACIONAL DE CIENCIAS Francisco J. Ayala, Presidente, Universidade da Califarnia, [rvine™ Bruce Alberts, Universidade da Califirnia, San Francisco" May R. Berenbaum, Universidade de Illinois, Urbana-Champaign? Betty Carvellas, Essex High School (Vermont) Michael T. Clegg, Universidade da Califiimia, Invinet G. Brent Dalrymple, Universidade do Estada de Oregon* Robert M, Hazen, Instituto Carnegie de Washington ‘Toby M. Hom, Instituto Carnegie de Washington Naney A. Moran, Universidade do Arizona” Gilbert S. Omenn, Universidade de Michigant Robert T. Pennock, Universidade do Estado de Michigan Peter H. Raven, Jardim Botanico de Missouri* Barbara A. Schaal, Universidade de Washington em St Louis Neil deGrasse Tyson, Museu Americano de Historia Natural Holly Wichman, Universidade de Mdaho * Membro, Academia Nacional de Cicias + Membro, institut de Medicina +Membro, Consetha da Academia Nacional de Ciéncas Equipe de Apoio: Jay B. Labov, Conselheira Senior para Educagao e Comunicagdes, Academia Nacional de Cién- ‘dias e Centro cle Educagdo, Divisio de Ciéncias Comportamentais ¢ Sociais, Conseltio Nacional dle Pesquisas Barbara Kline Pope, Diretota Executiva, Departamento de Comunicagao das Academias Nacio- nais e Imprensa das Academias Nacionais ‘Terry K. Holmer, Assistente Sénior de Projetos, Centro de Educagio B. Ashley Zauderer, Membro do Programa de Politicas Christine A. Mirzayan das Academias Nacionais, Consultores: ‘Steve Olson, Bethesda, Mervlanc Edward Maibach, Universidade George Mason, jas é uma sociedade privada, sem fins lucratives, com especialista eleitos por seus trabalhos em pes {uisas,e que se dedica ao fomento da ciéneia «da tecnologia, Com a autoridade concedida pelo Congresca em 1863, a Acadomia atua como consultora do govero federal nosassuntos relacionados. ciéneia e tecnologia, O Instituto de Medicina foi cnadoem 1970 pela Academia como uma organizacdo honorifiea e que estabelece condutas para as pesquisas, Seus membros sao eleitos com base em suas realizagSes profissionais ese comprometimento com o exame de questies poliicas relacionadas a sauide piblica. A Academia Nacional de Cidncias ¢ o Instituto de Medicina sio governados por dois conselhos. O conselho da Academia (NAS) & risponsivel pelos aspectos honortficos ¢ pela administragio corporativa da organizacio. O conselho do Instituto (]OND supervisio- na suiasatividades de estudo e também os assuntos relacionados a associagio a0 JOM. Os membros dios dois conselhs analisaram, revisaram e aprovaram este documento. CONSELHO DA ACADEMIA NACIONAL DE CIENCIAS 2007-2008 Presidente Ralph J. Cicerone, Presidente, National Academy of Sciences Vicv-Presiviente Barbara A. Schaal, Washington University in St. Louis Secretirio para Assuntos Internos John 1 Brauman, Stanford University Secretirio para Assuntos Externos Michael T. Clegg, University of California, Irvine Tesoureiro Ronald L. Graham, University of California, San Diego’ Conselieiros Claude R. Canizares, Instituto de Tecnologia de Massachusetts Vicki L. Chandler, Universidade de Arizona Gerald D. Fischbach, Universidade de Columbia; Diretor, Iniciativa para Pesquisas sobre Autismo da Fundagie Simons, Nova lorque Jerry P. Gollub, Faculdade de Harverford; Membro do Grupo de Graduados em Fisica, Universidade da Pensilvania Susan Gottesman, Instituto Nacional do Cincer, Institutes Nacionais de Saide ‘Thomas H. Jordan, Universiclade da California do Sul Margaret G. Kivelson, Universidade de Califémnia, Los Angeles Sharon R. Long, Universidade de Stanford Joyce Marcus, Universidade de Michigan Elliot M. Meyerowitz, Instituto de Tecnologia da California Stanley B. Prusiner, Universiclade da California, San Francisco Inder M, Verna, Instituto Salk de Estudos Biolégicos ‘CONSELHO DO INSTITUTO DE MEDICINA 2007 Presidente Harvey V. Fineberg, Presidente, Instituto de Medicina Huda Akil, Universidade de Michigan Drew E. Altman, Fundacio Familia Henry J. Kaiser Donald M. Berwick, Instituto para a Melhoria da Assisténcia Médica Helen M. Blau, Escola de Medicina da Universidade de Stanford Christine K. Cassel, Junta Americana de Medicina Interna Gail H, Cassell, Eli Lilly and Company Helene D. Gayle, CARE, EUA Margaret A. Hamburg, Vice-P'residente de Programas Biol6- sgicos de 2007, NTE Peter S. Kim, Laboratorios de Pesquisa Merck Jeffrey P. Koplan, Universidade de Emory ‘Alan I. Leshner, Associacio Americana para o Avanco da Cidncia Bernard Lo, Universidade da California, San Francisco James J. Mongan, Partners HealthCare, Inc Elizabeth G. Nabel, Instituto Nacional do Ci ‘Sangue, Institutos Nacionais de Saude Philip A. Pizzo, Escola de Medicina da Universidade de Stanford Mary Lake Polan, Escola de Medicina da Universidade de Stantord Susan C. Scrimshaw, Faculdade de Simmons Edward H. Shorlliffe, Faculdade de Medicina da Universida- ide do Arizona, Phoenix Judith L. Swain, Universidade Nacional de Cingapura, Insti- tuto de Ciencias Clinicas de Cingapura eUCSD Nancy §. Wexler, Faculdade de Fisicos e Cirurgides, Univer- sidade da Columbia io, Pulmaoe Conselheiros ex officio (nde votantes) Jo Ivey Boufford, Secretirio de Assuntes Externos do IOM, Academia de Medicina de Nova lorque Stephen J. Ryan, Secretério de Assuntos Internos do IOM. Instituto dos Othos Doheny CIENCIA, EVOLUCAO, E CRIACIONISMO Contetido Prefacio xi Agradecimentos xiv CAPITULO UM Evolugao ea Natureza Essencial da Ciéncia 1 CarfTULo DoIs Evidéncias para a Evolugao Biolégica 17 CAPITULO TRES A Otica Criacionista. 37 CAPITULO QUATRO Conclusio 47 Perguntas Frequentes 49 Leituras Adicionais 55 Biografias dos Membros do Comité 60 Indice 67 Créditos 70 CIENCIA. EVOLUGAO £ CRIACIONISMO is Preficio Os avancos cientificos e tecnologicos afetaram profundamente a vida humana, No século 19, a maioria das families tinha como certo a perda de uma ou mais criangas devido a doengas. Hoje, nos Estados Unidos e em outros paises desenvolvidos, a morte de uma crianga devido a alguma doenga € muito incomum. Atualmente, contamos com tuma tecnologia que se tornou possivel gracas a aplicacao do conhecimento e de proces- 505 cientificos, Os computadores e telefones celulares que usamos, os carros ¢ avides nos quis viajamos, os medicamentos que tomamos e muitos alimentos que ingerimos foram em parte desenvolvidos devido a descobertas obtidas a partir de pesquisas cientificas. A ciéncia impulsionou os padrées de vida, possibilitou a viagem a érbita da Terra e 4 Lua, enos proporcionou novos modos de reflexdo sobre nés mesmos e sobre o universo. Abiologia evolutive foi e continua sendo a peda fundamental da ciéncia modema, Este livro documenta algumas das maiores contribuigdes para o bem-estar do mano que a compreensaio da evolucao jé proporcionou, incluindo sua contribuigéo na prevencio e tratamento de doences que acometem os humanos, no desenvalvimento de novos produtos agricolas e na criagao de inovacdes industriais, Num sentido mais amplo, a evolugao ¢ um conceito central na biologia, que se baseia tanto no estudo de formas de vidas passadas como no estudo da conexdo e diversidade dos organismos atuais. Os rpidos avangos que agora esto em andamento na ciéncia da vida e na ‘medicina se baseiam em principios provenientes da compreensdo da evolugio, ‘Tal compreensio surgiu a partir de estudos detalhados em registros fOsseis e, nao me- nos importante, da aplicagao da ciéncia bioldgica e molecular modemas, bem como de tecnologias para 0 estudo da evolugao. Naturalmente, como em qualquer érea atuante da ciéncia, muitas questdes fascinantes se encontram penclentes, e este livro ressalta algumas das pesquisas em andamento que abordam questoes de evolucao. Entretanto, pesquisas de opiniao mostram que muitas pessoas continuam questio- nando 0 conhecimento sobre a evolucio biolbgica. Eles podem ter sido informados que a compreensao cientifica da evolucio esta incompleta, incorreta ou incerta. Eles podem nao acreditar que o processo natural da evolugao biolégica tenha produzido esta incrivel variedade de setes vivos, de actérias microscépicas a baleias e sequoias Rigantes, de simples esponjas em recifes de corais a seres humanos capazes de refletir sobre a histéria da vida neste planeta. Eles podem se perguntar se é possivel aceitar a evoluigao e ainda se prender a crengas religiosas. Esta publicagao esté voltada a estas questées ¢ foi escrita para servir como fonte para as pessoas que se emaranham em debates sobre evolucao. Ele fornece informa~ ‘GGes sobre o papel que a evolucdo representa na biologia moderna e as razdes pelas quais apenas as explicacbes fundamentadas cientificamente deveriam ser incluidas CIENCIA. FVOLUGAO E CRIACIONISMO nas aullas de ciéncias em escolas puiblicas. Este livro pode interessar a muitas pessoas, ineluindo membros de consolhos escolares, professores de ciéncias ¢ outros lideres da educagdo, da politica, especialistas juridicos e outros que estejam comprometidos ‘em fornecer educagao cientifica de alta qualidade aos alunos, Este livro também esta direcionado a um publico mais abrangente de alunos de universidades e de escolas de qualidade, bem como aos adultos que desejam se famitiarizar com as varias ramifica- ‘goes de evidléncias que apoiam a evolugao e compreender por que a evolucao é tanto uum fato como tum processo que explica a diversidade na Terra. Além disso, também posiciona o estudo da evolugdo num contexto mais amplo ao definir o significado de “teoria” na comunidade cientifica e ao demonstrar como a teoria evolutiva refletea natureza essencial da ciéncia e como se diferencia da religiao. O livro explica por que a esmagadora matoria da comunidade cientifica aceita a evolucao como base da biologia moderna e mostra que alguns cientistas onganizagGes religiosas descreveram como, para eles, a evolugao € a fé nao estao em oposicdo. Além disso, também explica o motive por que as alternativas nao cientificas 4 evolugao, como o criacionismo (incluindo o eriacionismo do projeto inteligente), nio devam fazer parte da grade de ciéncias nas escolas puiblicas desta nacao. Ciéncia, Evolugio e Criacionismo é a terceira edigao de uma publicacao primet- ramente langada em 1984 pela National Academy of Sciences (Academia Nacional de Ciencias), uma sociedade independente de cientistas, eleitos por seus colegas por suas valiosas contribuigdes em suas éreas de atuagio. Desde 1863, a Academia Nacional de Ciéncias, com a autoridade concedida pelo Congresso, atua como consultora do governo federal em assuntos relacionados a ciéncia e tecnologia. Devido a crescente importincia da evolugao para as ciéncias da vida, fisica e médica, bem como para a melhoria da assisténcia médica, esta nova exticao é uma co-publicagio da Academia Nacional de Ciéneias e do Instituto de Medicina. Desde 1970, o Instituto de Medicina faz parte da Academia Nacional de Ciencias dando consultoria cientifica em assuntos relacionados & ciéncia biomédica, 4 medicina e a satide. Desde o langamento das duas primeiras edigdes deste livro, houve um grancle desenvolvimento na drea da biologia evolutiva e esta nova edigdo fornece informacies atualizadas sobre estes acontecimentos. Descobertas fosseis continuaram a produzir novas e convincentes evidéncias relacionadas a histéria evolutiva. Surgiram novas in- formages e interpretagSes sobre as moléculas que compdem os organismos, incluindo a sequéncia completa do DNA dos seres humanos. O sequenciamento do DNA se tor- now uma poderosa ferramenta para averiguar os vinculos genéticos entre as espécies. Aevidercia do DNA confirmou a evidéncia féssil e permitit a realizagao de estudos sobre a evoluigao onde o registro fossil ainda é incompleto. Uma area completamente nova, a biologia do desenvolvimento evolutivo, permite que os cientistas estudem como as alteragies genéticas que ocorreram durante a historia moldaram as formas fungdes dos organismos. O estudo da evolugao biolégica constitui um dos esforcos mais atuantes e abrangentes de toda a ciéncia moderna. ‘As conhecidas controvérsias que giram em tomo da evolucao também mudaram. Nos anos oitenta muitas pessoas que se optinham ao ensino da evoluigao em escolas piibicas apoiavam a legislagdo que exigia que professores de biologia discutissem “o criacionismo cientifico”—a afirmagao de que o registro fossil e as caracteristicas geolégicas do planeta CIENCIA. EVOLUGAO F CRIACIONISMO ssio compativeis com a Terta e seus seres vives, criadosa apenas alguns milhares de anos atris. Processos importantes levados a julgamento—incluindo o proceso da Suprema Corte em 1987—decretou que a “ciéncia da criacao” ¢ produto de canviegSes religiosas, ‘iio de pesquisa cientifica, nao podendo assim ser ensinado nas escolas piblicas, pois isso, acarretaria em imposigio de um determinado ponto de vista religioso aos alunos. Desde entio, os opasitores da evolucao tém adotado outros enfoques. Alguns tém apoiado @ posigao conhecida como projeto inteligente”, uma nova forma de criacio- nismo baseaclo na alegacio de que os seres vivos sie muito complexos pata terem evoluido através de mecanismos naturais. Em 2005, um marcante proceso judicial em Dover, Pensilvania, julgou inconstitucional 9 ensino do projeto inteligente, novamente. or estar baseaco em convicgdo religiosa e nao na ciéncia. Outros argumentam que 0s professores de ciéncias deveriam ensinar as “controvér- sias” em torno da evolugio. Mas nao ha controversia na comunidade cientifica quanto A ocorténcia da evolucio, Pelo contrério, a evidéncia que sustenta a descendéncia com ‘modificagio, conforme proposta por Darwin, éa0 mesmo tempo convincente e avas- saladora. Neste século ¢ meio desde Darwin, os cientistas vem desvendando detalhes ‘meticulosos sobre muitos dos mecanismos que fundamentam a variacio biolégica, a hereditariedade e a selecio natural, demonstrando como esses mecanismos conduzem. A alteragio biolégica ao longo do tempo. Devido a essa imensa quantidade de evidén cias, os cientistas lidam com a ocorréncia da evolugao como um dos fatos cientificos ‘mais seguramente firmados. O mesmo ocorre com 0s bidlogos, que também esto seguros quanto a interpretacio de como a evolucao ocorre, Esta publicagio é constituida de trés capitulos principais. O primeiro capitulo des- creve brevemente 0 proceso de evolucao, a natureza essencial da ciéncia e as diferen- ‘a8 entre a ciéncia e a religido. O segundo capitulo examina minuciosamente 0s varios tipos distintos da evidéncia cientifica que sustentam a evolucao, ineluindo evidencias provenientes de reas diversas como astronomia, paleontologia, anatomia comparati- va, biologia molecular, genética e antropologia. O terceiro capitulo examina diversos aspectos criacionistas, incluindo o projeto inteligente, e aborda as razies cientificas ¢ legais contra o ensino das ideias eriacionistas nas aulas de ciéncias em escolas piibli cas, Uma selecao de perguntas frequentes acompanha o texto principal. As “leituras adicionais” incluem artigos mencionados neste livro bem como outras publicagdes sobre a evolugao, a natureza essencial da ciéncia, e religiao. Ciéncia, Evolugdo e Criacionismo deixa claro que as evidéncias da evolugao podem ser compativeis com a fé religiosa. Ciéncia e religiao sao modes diferentes de compre- ensio do mundo, e colocé-los desnecessariamente em oposicéo reduz o potencial de contribuigio para um futuro melhor que cada um possui. Dap Cave Vat fio ae Ralph J. Cicerone Harvey V. Fineberg Francisco J. Ayala Prosidente Presidente Presidente do Comite National Academy of Sciences Institute of Medicine CIENCIA. EVOLUGAO £ CRIACIONISMO. it Agradecimentos Aclaboracio de Ciéncia, Evolugiio ¢ Criacionismo foi financiada por fundos do Conse- Iho da Academia Nacional de Ciéncias e da Fundagao Christian A. Johnson Endeavor, Nova lorque, N.Y. Representantes do puiblico alvo deste livro o revisaram informalmente antes do processo final de revisao. O apoio para a obtengio de dados do publico alvo foi obtido através da coligacao de cerca de trinta sociedades cientificas com base em Washington, D.C, rea metropolitana, de Iniciativas em Comunicagées do Circulo de Presidentes das Academias Nacionais, do Instituto de Biotecnologia (Arlington, ‘Va), bem como por contribuigées de diversos doadores individuais da Academia Nacional de Ciencias, Com 0 objetivo de fomecer comentarios francos € vitais que auxiliem a instituicao 1a publicagao de um relatério o mais minucioso possivel, o rascunho deste liveo foi formalmente revisado por individuos escolhidos por suas diversas caracteristicas ¢ por seus conhecimentos téenicos, de acordo com os procedimentos aprovados pelo Conselho da Academia Nacional de Ciencias, Os comentarios dos revisores ¢ 03 ‘manuscritos iniciais s4o confidenciais para a protecio da integridade do processo. Pela revisio deste relatério agradecemos a: Joyce Appleby, Professora Emérita, Departamento de Historia, Universidade da Cali- fornia, Los Angeles Constance Bertka, Diretora, Didlogo em Ciéncia, Etica e Religiio, Associagao America- na para o Avango da Ciéneia Donald M. Berwick, Presidente e Diretor Executivo, Instituto para o Desenvolvimento da Assisténcia Medica John I. Brauman, J. G. Jackson ~ Professor C. J. Wood, Departamento de Quimica, Uni- versiclade de Stanford Vicki L. Chandler, Diretora, Instituto BIOS, Universidade do Arizona Harvey V. Fineberg, Presidente, Instituto de Medicina Jerry P. Gollub, J.B. B, Professor de Ciéncias Naturais e de Fisica, Faculdades Harverford Susan Gottesman, Diretor Geral, Setor de Genética Bioquimica, Laboratorio de Biolo- ¢gia Molecular, Instituto Nacional do Cancer, Instituto Nacional de Saide Margaret G. Kivelson, Professor eminente de Fisica Espacial, Departamento de Cien- cas Espaciais e Terrestres ¢ Instituto de Geofisica ¢ Fisica Planetaria, Universidade da California, Los Angeles CIENCIA. EVOLUGAO F CRIACIONISMO Jeffrey P. Koplan, Vice-presidente de Assuntos Académicos relacionados & Satide, Uni- versidade de Emory Alan I. Leshner, Diretor Executivo e Editor Executive de S) nna para 0 Avango da Ciéncia Bemard Lo, Professor de Medicina, Diretot, Programa em Etica Médica, Universidade da Califérnia, Sao francisco Sharon R. Long, Steere-Pfizer, Professor, Departamento de Ciencias Biol6gicas, Univer= sidade de Stanford Joyce Marcus, Robert L.. Carneiro, Emérito Professor Universitario de Antropologia, Museu de Antropologia, Universidade de Michigan Elliot M. Meyerowitz, George W. Beadle, Professor ¢ Presidente, Divisio de Biologia, Instituto de Tecnologia da California Elizabeth G. Nabel, Diretora, Instituto Nacional do Coragao, PulmaoeSangue, Institu- tos Nacionais de Satide Matthew C. Nisbet, Professor de Comunicagdes, Escola de Comunicagio, Universida- de de Americana Gordon H. Orians, Professor Emérito, Departamento de Biologia, Universidade de Wa- shington Philip A. Pizzo, Reitor, Carl e Elizabeth Naumann, Professor de Pediatria e de Micro- biologia e Imunologia, Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, David J. Policansky, Grande Especialista, Conselho para Estudos Ambientais ¢ Toxico~ logia, Conselho de Pesquisa Nacional Stanley B. Prusiner, Professor de Neurologia e Diretor, Instituto para Doengas Neuro- degenerativas, Universidade da Califérnia, Sio Francisco Stephen J. Ryan, Presidente, Instituto dos Olhos Doheny Judith G. Scotchmoor, Diretor de Educagio e Programas Pablicos, Museu de Paleonto- logia da Universidade da California, Berkeley, CA Eugenie C. Scott, Diretor Executivo, Centro Nacional de Ensino da Ciéneia, Inc, Oakland, CA Edward H. Shortliffe, Reitor da Faculdade, Faculdade de Medicina da Universidade do Arizona, Phoenix John R. Staver, Professor e Co-Diretor, Centro de Pesquisa e Iniciagdo em Ciéncia & Matematica, Universidade de Purdue Judith L. Swain, Lien Ying Chow, Professor de Medicina, Universidade Nacional de Cingapura e Diretor Executivo Fundador do Instituto de Ciéncias Clinicas de Cinga- puira ¢ Professor Adjunto de Medicina, Universidade da Califérnia, San Diego ce", Associagao America Apesar dos revisores acima relacionados terem fomecido muitas sugestées € comentarios construtivos, nao foram solicitados para endossar 0 contetido deste relatério, tampouco viram o rascunho final antes de seu langamento. A responsabilidade pelo contetido final deste relat6rio compete inteiamente aos) autor(es) e conselheiros da Academia Nacional de Ciencias e do Instituto de Medicina (ver pagina vi) CIENCIA, EVOLUGAO E CRIACIONISMO CAPITULO UM EVOLUGAO E A NATUREZA DA CIENCIA A evidéncia cientifica que apoia a evolucgaéo biolégica continua crescendo num ritmo rapido. Durante mais de-um século e meio, os cientistas vem coletando evidéncias que expandem nossa compreensao tanto do fato como dos processos da evolugio bioligica, investigando como a evalugio ocorreu e continua ocorrendo. Em 2004, por exemplo, uma equipe de pesquisadores fez uma descoberta extraordindria, Numa iha no extremo norte do Canadi, foi encontrado um fossil com mais de 1 metro de comprimento com caracteristicas intermediarias de um peixe e um animal quadnipedte. Esse fOssil possufa guelras, escamas e barbatanas, ¢ provavelmente passava a maior parte de sua vida na 4gua. Mas também possuia pulmdes, um pescogo flexivel ¢ um esqueleto firme nas nadadeiras que podia sustentar seu corpo em Aguas rasas ou em terra ‘As primeiras descobertas cientificas de plantas e animais fossilizados ja haviam revelado uma consideravel quantidade de informagoes sobre o ambiente no qual esta criatura viveu. Ha cerca de 375 milhdes de anos, o que hoje constitui a Ilha de Ellesmere no tetritério de Nunavut, no Canadé, fazia parte de uma ampla planicie cruzada por varios cursos de agua. Arvores, fetos e outras plantas antigas cresciam nas margens dos ribeirdes, criando um rico ambiente para as bactérias, fungos € animais simples que se alimentavam da vegetacio em decomposicao. Nao havia animais grandes vivendo em terra, mas os mares continham muitas espécies de peixes, ¢ algumas destas espécies se alimentavam de plantas e animais de aguas rasas de ribeirdes e pantanos. CIENCIA. EVOLUGAO E CRIACIONISMO Lespécies: Nos orga- nisms que se reprodu- zem sexuadamente, as ‘espécies consistent de individuos que podem ‘ruzar entre si [rateontstogo Cieetita que etd de sob organises 0s peleontsioges procuraram por fossels reste vale em Nun: wut, perte do Circulo Artico na rea central norte do Canada, a0 saberem que havie rochas sedimentares depositadas durante 0 petiode em que os ani: rai providos de mea bros primeiramente viveram em terra. Os fosseis de Tiktaaft foram descobertes no escuro afloramento da rocha, 20 lado direito desta fotogratia, Anteriormente, os paleontélogos haviam encontrado os fosseis de alguns desses peixes de éguas rasas, Os ossos em suas nadadeiras eram mais resistentes ¢ mais complexos do que em outras espécies de peixes, talvez possibilitando sua passagem por canais repletos de plantas. Além disso, possuiam tanto pulmdes primitivos como guelras. Os paleontélogos também encontraram, em sedimentos um pouco mais jovens fFosseis de animais parecicos com peixes que provavelmente passavam parte de si das em terra, Conhecidos como os antigos tetrapodes (uma palavra que fazia referéncia ‘is quatro patas), eles haviam modificaco suas nadadeiras dianteiras e traseiras, as quais, lembravam pernas primitivas, bem como outras caracteristicas apropriadas para a vida fora da égua. Mas os paleontlogos nao encontraram fésseis de animais de transigo entre o peixe de aguas rasas e os animais providos de membros. A equipe que descobritt 0 novo féssil decidiu se concentrar no extremo norte do Canada ao observar num livro que a regido continha rochas sedimentares depositadas ha cerca de 375 milhdes de anos, exatamente quando os peixes de aguas rasas realizavam a transicao para o solo, de acordo com a previsao da ciéncia evolutiva. A equipe tinha que viajar durante horas em avides e helicdpteros para alcangar 0 local, e podiam trabalhar por apenas alguns meses no verdo antes que a neve comegasse a cair. Em seu quarto verao de trabalho de campo, eles encontraram 0 que haviam previsto, Num afloramento de rocha ao lado de uma colina, foi descoberto 0 féssil de uma criatura denominada Tiktaalik (o nome significa “grande peixe de agua doce” na lingua Inuit do norte do Canada). O Tiktaalik ainda possufa muitas das caracteristicas dos peixes, mas também apresentava caracteres préprios dos primeiros tetripodes. Annadadeira esquerda alik apresentaya um tnico 0ss0 superior (0.0380 grande na parte inferior de cada lume destas figuras), sequido por dois 05808 intermediaries, fornecende & cria~ tura um cotovelo e um punho, como em lorganismos mais recentes. tedos os outros tetripodes modernos (féptais, aves e mamieros— incuindo os humanos) ‘atime ancestral comum de todos os terapodes: lime ancestral eomum de todos 05 peixes 658008 e tetrapods (© mais importante, suas barbatanas continham ossos que formavam um apéndice parecido com um membro que 0 animal poderia usar para se mover e se apoiar. Uma previsdo proveniente de mais de um século de descobertas da biologia evolutiva alega que uma das espécies primitivas que surgiu dos oceanos da Terra ha cerca de 375 milhSes de anos foi o ancestral de anfibios, répteis, dinossauros, aves € mamiferos, o que é sustentado firmemente pela descoberta do Tiktaalik. De fato, os ossos maiores de nossos proprios bracos € pemas sao semelhantes aos do Tiktaalik quanto a configuracao total. Enquanto que crucialmente importante para confirmar as previsdes da teoria da evolugio, o Tiktaalik é apenas um exemplo das varias descobertas realizadas a cada ano que acrescenta profundidade e amplitude a compreensdo cientifica da biologia evolu- tiva, Estas descobertas ndo so provenientes apenas da paleontologia, mas também da fisica, quimica, astronomia e areas da biologia. A teoria da evalucio esta fundamentada por tantas observagies e experimentos cientificos que a esmagadora maioria dos cien- tistas investiga os processos de evolucao, em vez de questionar se a evolugio ocorreu € continua ocorrendo. Os cientisias estio certos de que os componentes basicos da evolu- ‘sao continuardo sendo sustentades por novas evidéncias, assim como tem acontecido nos tiltimos cento e cinquenta anos. CIENCIA EVOLUGAO E CRIACIONISMO Oo Mktoatkvivew durante o perfodo fem que os peixes de gua doce estavam evoluinda as adapta. (es que permitiram 205 animals quadrope- des e viverem fora da ‘qua. 0 Tiktaa/ik pode ter vivide um poues antes ou um pouco depots das especies ancestrais que origina- ram todos 0s animals ‘com membros, inclu- sive of humans. Sua linhagem evolutiva pode ter sido extinta, como demonstrado neste esquema através dda paquena linha que se ramifica 2 partir da linhagem evolutiva principal, ou pode ter sido parte da linha ‘evolutiva que conduz ‘a todosos tetrapodes (Gnimais com qua- ‘10 patas). 0 ultimo ‘ancestral comum dos humanos e de todos ‘0s peixes modernos ‘tambem deu origem 25 linhagens evoluti- ‘vas que concuziram ‘20s pelses com bar- batanas lobadas (hoje representados pelo ‘colacanto). Nesta e nas proximas figuras, © tempo esta represen ‘tado pelos tamanhos das linhas @ 05 grupos. de orgenismos mo dernos estdolistados ra parte superior da figura, A evolucao biolégica é 0 principio central de organizacao da biologia moderna. [carster: Caracersticn {sca comportanental ‘de wy organism [DNA: Aci deso- simitonucleico, Une ‘nolcul ion com: conbecidas como nucleo- tideos unidos en: longs caudeis. As sequincins destes nucleotides con- 1m a informacio que as células mecesstam para crescer, divi em céluls ise pr ‘noo profs, [Proteina: Lina molécula grande que é composta por wna cadeia de moléculas smenores denominadas aminocidos. A sequen cia de aminadcidos estratura tridimensional dla moléula determinam «fungi especifca da proteina nas lus ow arganismes [Mutacio: Lima alte- ratio na sequéncia de rucleotideos no DNA. Tris alteragdes podem imudar a estruturn das proteinas outa regulagao 4a producio proteca, Efepiindin tix grupo de organismos da mesma especie que se encontram préximos 0 suficiente para realisar 0 crvzamento,. Ocstudo da evolugio biologica transformou nossa compreensdo da viela neste planeta. Aeevolugao fornece uma explicacao cientifica para a existéncia de tantos tipos diferentes de organismos na Terra e de como todos os organismos deste planeta fazem parte de uma linhagem evolutiva, demonstrando por que alguns organismos que parecem bem diferentes sao na realidade aparentados, enquanto outros que podem parecer semelhan- tes sao apenas parentes distantes. A evolucao é responsavel pelo surgimento dos seres humanos na Terra e revela 0s vinculos biolégicos da nossa espécie com outros seres vi vos. Ela também fornece detalhes de como diferentes grupos humanas esto relaciona- dos entre si e de como adquirimos muitos de nossos caracteres. Além disso, possibilita © desenvolvimento de novas maneiras efetivas de nos proteger contra bactérias e virus ‘em constante evolugio. Aeevolugio biolégica se refere as alteragdes nos caracteres dos organismos atra~ vés de miiltiplas geragoes. Até o desenvolvimento da ciéncia da genética no inicio do século 20, os biGlogos nao compreendiam os mecanismos responsavels pela heranga de caracteres dos genitores aos descendentes. O estudo da genética demonstrou que 0s ca- racteres herdados sio provenientes do DNA que é transmitido de uma geragao a outra ‘O DNA contém segmentos denominados genes que direcionam a produgio de protei- nas necessirias para o crescimento ¢ funcionamento das células. Os genes também con- duzem o desenvolvimento de um ovo unicelular dentro de um organismo multicelular. ODNA¢ portanto, responsavel pela continuidade da formagio e do funcionamento biolégico ao longo das geragies. Entretanto, os descendentes nem sempre so exatamente iguais aos seus genitores. Até certo ponto, a maioria dos organismos em qualquer espécie, incluindo a humana, € geneticamente varidvel. Nas espécies com reproducao sexuada, onde cada genitor fornece apenas metade da informagio genética a seu descendente (o descendente recebe a quantidade total de informago genética quando uma célula do esperma € uma célula do 6vulo se fundem), o DNA dos dois genitores se combina de novas maneiras no descendente. Além disso, o DNA pode sofrer alteragbes conhecidas ‘como mutagdes de uma geragao a outra em organismos com reproducio sexuada ¢ assexuada (como as bactérias) ‘Quando uma mutagio ocorre no DNA de um organismo, varias coisas podem acontecer. A mutagio pode originar um carster alterado que prejudica o organismo, fa- zendo com que sua probabilidade de sobreviver ou produzir descendentes seja menor do que a de outros organismos na populacao a qual pertence. Outra possibilidade é de que a mutagao nao faca diferenca ao bem estar ou ao éxito reprodutivo de um organi ‘mo. Ou ainda, a nova mutagao pode resultar num cardter que permita a um organismo aproveitar os recursos de seu ambiente, o que consequentemente aumenta suia capaci dade de sobreviver e de produzir descendentes. Por exemplo, um peixe pode aparecer com uma pequena modificagio em suas barbatanas que o capacite de se mover mais facilmente por aguas rasas (como ocorreu com a linhagem que conduziu ao Tikiaalik); ‘um inseto pode adquirir uma tonalidade diferente de cor que impeca que seja visto CIENCIA. EVOLUGAO E CRIACIONISMO pelos predadores; ou uma mosca pode possuir uma diferenca nos padrdes de suas aasas oul em suas atitudes de modo a atrair a atencao do seu par, Se uma mutagdo aumenta a probabilidade de sobrevivéncia de um organismo, 6 provivel que este organismo produza mais descendentes do que os outros membros da populacao. Se a descendéncia herda a mutacio, a quantidade de organismos com o carater favordivel aumentara de uma geracdo a outra. Dessa forma, ao longo do tempo staré propenso o.cardter — e o material genético (DNA) responsdivel pelo carater a se tornar mais comum numa populacdo de organismos. Em contraposic0, 0s orga- nismos que possuem uma mutagao prejudicial ou deletéria esto menos propensos a fornecerem seu DNA as futuras geragoes, ¢ 0 cardter resultante da mutagao tende a se tornar menos frequente ow a ser eliminado numa pop: alteragdes nos caracteres herdados de uma populacio de organismos a medida que as geragdes sucessivas se substituem. So as populacdes de organismos que evoluem, no “30. A evolugio consiste em 0s organismos individuais. O diferencial no éxito reprociutivo de organismos com caracteres favorive nnhecido como selegio natural, pois a natureza “seleciona’ caracteres que aumentam a capecidade do organismo de sobreviver e se reproduzir. A selegao natural também pode reduzir a prevaléncia de caracteres que diminua a capacidade dos organismos de sobreviver e de se reproduzir. A selec artificial é um processo semelhante, mas nesse caso 6 0 homem e nio o ambiente que seleciona os caracteres desejacos a0 [setecio Natur Diferencial de sor vinci reproduio de organisms como snsequbncia das ct providenciar animais ou plantas com estes caracteres. A selecao artificial é 0 processo responsivel pelo desenvolvimento dos diversos animais domeésticos (como racas de cachorros, gatos cavalos) plantas (como rosas, tulipas, milo) cane eee Evolugao na Medicina: Combatendo Novas Doengas Infecciosas exames de sangue para identifica- (0 das pessoas com a doenca (para encaminhamento a quarentena), com tratamentos para a doenca e ‘com vacinas para a prevenco de infeccdes com o virus. A compreensio da evolucio foi essencial na identificacao do virus SARS. © material genético no virus era semelhante ao de outros virus, pois haviam evoluido do mesmo virus ancestral. Ademais, o conhecimento da histéria evoluti- Ao final de 2002, centenas de pessoas ne China adoeceram devido @ um gra~ ve tipe de pneumonia ocasionada por um agente infeccioso desconhecido. Intitulada como “sindrome respirato- ria eguda grave”, ou SARS, a doenca Jogo se espalhou pelo Vietnam, Hong Kong e Canada, levando centenas de pessoas & morte. Em marco de 2003 uma equipe de pesquisadores da Universidade de California, Sao Fran- cisco, recebeu amostras de um virus isolado de um paciente de SARS. Por meio de uma nova tecnologia conhecida cama biochips de DNA (microarray), em 24 horas o virus foi identifiea- do como membro de uma determinada familia de virus anteriormente desconhecida—um resultado confirmado or outros pesquisadores que utilizaram de técnicas diferentes. Imediatamente, comecou o trabalho com vva do virus SARS forneceu aos cientistas informacSes importantes sobre a doenga, como sua forma de ‘expans3o. O conhecimento das origens evolutivas da pategénese humana sera crucial no futuro, visto que 05 agentes infecciosos atuais evoluem para linhagens mais novas € perigosas. SS Evolugao na Agricultura: O Controle doTrigo Quando o homem compreende um fenomeno que estre para que as sementes permanecessem na plan- ocorre na natureza, geralmente conquista um crescente _ ta madura e fossem faciimente separadas de seus en- controle sobre ele ou pode edepté-lo pare novosusos. _voltorios. Durante 03 préximos milénios, es pessoas do ‘A domesticacao do trigo é um bom exemplo disso. mundo todo utilizaram processos de mudania evoluti- ‘Com a recuperacao de sementes provenien- va semelhantes para transforrar muitas outras. tes de diversos sitios arqueciogicos e com plantas e animaissitvestres em plantoes a observacao de mudancas em suas © enimais domesticados com os quais caracteristicas através dos seculos, 05, hole em dia podemos contar. Cientistas formularam hipoteses so- Nos aitimos anos, os cientstes bbre como o trigo ea alterado pelo ‘comecaram a produzir hibridos de homem ao longo do tempo. Ha trigo com alguns de seus parentes ‘cerca de 11.000 anos, as pessoas silvestres provenientes do Oriente no Oriente Médio comecaram a Médio e de outras localidades. cultivar plantas para alimentac8o Com a utilizacao destes hibridos, 20 invés de depender completa- ‘eles vam multiplicando variedades mente de plantas e animais silvestres de trigo que sao cada vez mais rsis- que conseguissem colher ou cacar. tentes a estiagem, 20 calor e as prages. Estes primeiros agricultores comecaram ‘Mais recentemente, os bidlogos molecula- a quardar as sementes origindrias de plantas res tém identificado 0s genes no DNA de plan- com caracteres particularmente fevordveis pare serem _tas que s8o responsdveis por seus caracteres favordvels: plantadas na estacdo seguinte. Através deste processo _para que estes genes possam ser incorporados em ou- de “selecSo artificial", eles criaram uma variedade de _—_tros grupos. Estes avangos se baseiam no entendimento safra com caracteristicas especificamente adequadas da evolugio para analisar a relacdo entre as plantas © para a agricultura, Por exemplo, durante varias gere- _—para buscar caracteres que possam ser utilizados para a ‘Goes 0s fazendeiros modificaram os caracteres do trigo __melhoria das safras. A evolugao pode resultar em grandes e pequenas alteracées em populagées de organismos. (Os bidlogos evolutivos descobriram estruturas, trajetérias e processos bioquimicos, bem como comportamentos, que parecem ser altamente conservados dentro de uma espécie ou entre varias delas. Algumas espécies sofreram pouca mudanca aparente em sta esirutura corporal por varios milhes de anos. Em telag30 a0 DNA, alguns genes que controlam a producao de reagdes quimicas e bioguimicas essenciais para o funcio- namento celular demonstram pouca variagao entre as espécies que so apenas parentes distantes. (Veja, por exemplo, a descricao nas paginas 30 ¢ 31 das sequéncias de DNA para dois genes diferentes, as quais sao conservadas em espécies com parentesco dis- tante ou muito proximo.) Entretanto, a selecao natural também pode apresentar efeitos evolutivos radicalmente diferentes em diversas escalas de tempo. Durante perfodos de apenas poucas geragies (ou, em alguns casos documentados, até mesmo uma 6 CIENCIA. EVOLUGAO E CRIACIONISMO linica geracdo), a evolugao produz alteragées mieroevolutivas nos organismos, Prairoevonigns: em escala relativamente pequena. Por exemplo, muitas bactérias que causam. Alera noe ers doengas tém evoluido crescente resisténcia a antibisticos. Quando uma bactéria teres de um grupo de passa por uma mudanca genética que aumenta a sua capacidade de resistir organisms que ni sultant em aos efeitos de um antibistico, ela pode sobreviver e produzir mais c6pias de ma nova mesma enquanto as bactérias nao resistentes estdo sendo eliminadas, Doengas espécie como tuberculose, meningite, infeccdes causadas por Staplrylococcus, doencas sexualmente transmiss{veis entre outras se tornaram problemas sérios a medida que os organismos transmissores desenvolveram tesisténcia a um crescente ntimero de antibisticos. Outro exemplo de mudanga microevolutiva vem de um expe- rimento realizado nos guppies que vivem no rio Aripo na ilha de Trinidad. Uma espécie grande de peixe come os guppies adultos e jovens que vivem no rio, enquanto uma espécie menor de peixe ¢ 0S guppies jovens que vivem nos riachos afluentes que alime m 0 rio. Os guppies do rio amadurecem mais rapidamen: te, si menores e produzem descendentes menores ¢ em maior ntimero do que os guppies dos riachos, pois com estes caracteres so mais capazes de evitar seus predadores no rio do que 0s gu- ppies maiores. Quanclo guppies foram tir ados do rio e colocados num riacho sem a pré-existéncia de uma populacio de guppies, caracteres como os dos guppies de riachos foram desenvolvides depois de aproximadamente vinte 8; Em geral, ao longo de extensos periodos de tempo, altera- ‘GOes evolutivas regulares podem dar origem a novos tipos de almente Estudos realiz 108 por um perio: guppies em Trinidad organismos, incluindo novas espécies. A formacao de novas espécies ge ocorre quando um subgrupo de uma espécie realiza cruzamer do prolongado quase que completamente dentro do sul rupo. Por exemplo, um de evolucio. subgrupo pode ficar geograficamente separado do resto da espécie ou pode vit a usar os recursos de tal forma que 0 separe de outros membros da mesma espé cie. Conforme os membros do subgrupo se acasalam, eles acumulam diferencas genéticas em comparacao ao resto da espécie. Se esse isolamento reprodutivo continua por um periodo prolongado, os membros do sul rupo podem deixar de responder aos estimulos para acasalamento, ou a outros sinais dos membros da populagdo original. Com o tempo, as mudancas genéticas irdo se tornar tao Tu a eee tee eR er CT EUEe eee una ac eo eee Tgeragdo 1.000 geragdes Geracdes por 1 mithdo de anos Bacterias Thoreatdia 1,000 horas (42 ais) a 2,7 anos 8,7 bilhdes a 370,4 milhdes Animais domésticos: cdes/gatos 2anos 2.000 anos 500.000 Humanos 22anos 22,000 anos 45.000 ‘Quando os tetrépodes (como esta tartaruga marina pondo seus ‘ovos numa praia) evoluiram a capaci dade para botar ovos com casea dura, eles do precisaram mais retorner a agua para s2 reproduzirem. © Lltimo ancestral co- ‘mum dos animais que ripedes vivos deu corigem aos anfibios e fo) 0 antecessor dos, repteis. As avese os mamiferos evoluiram 2 partir de diferentes linhagens de réptels antigos. substanciais de modo que os membros de diferentes subgru- pos podem deixar de produzir descendentes vidveis me: mo que 0 acasalamento ocorra. Dessa forma, as espécies existente: podem continuamente “brotar” novas espécies. Durante longos periodos de tempo, exemplos continuos de especiagao podem produzir organismos que sao muito diferen: tes de seus ancestrais. Apesar de cada espécie se parecer com a espécie da qual 6 originaria, uma sucessio de novas espécies pode divergir cada vez mais de sua forma ancestral, Tal diver géncia de uma forma ancestral pode ser especialmente surpre endente quando uma alteracdo evolutiva capacita um grupo de organismos a ocupar um novo habitat ou a fazer uso dos recur sos de um modo diferente. Considere, por exemplo, a continua evolucio dos tetrépo- des depois que 0s animais providos de membros comegaram a viverno solo. Conforme as novas espéc 's de plantas evolusiam e cobriam a Terra, novas espécies de tetrpodes apareciam com caracteristicas que os capacitassem a se beneficiar destes novos ambientes. Os prime ros tetrapodes eram anfibios que passavam parte de suas vidas no solo, mas continu aram a botar seus ovos na égua ou em ambientes timidos. Ha cerca de 340 milhdes de anos, a evolucao dos ovos amniéticos, que apresentam estruturas como cascas duras ou coridceas, bem como membranas adicionais que permitem o desenvolvimento de embrides que sobrevivem em ambientes secos, foi um dos desenvolvimentos essen- ciais na evolugao dos répteis. ee Alle Le ‘time ancestral comum de todos os macacos e grandes simios mamiforos titime ancestral comum 4e todos 08 tetrapodes 8 CIENCIA. EVOLUGAO E CRIACIONISMO Evolugao na Industria: Colocando a Selegao Natural em Funcionamento O conceito da selegio natural tem sido apli- cado em varias areas além da biologia. Por exemplo, 05 quimicos aplicam os principios da selecdo natural para desenvolver novas molé- culas com fungdes especificas. Primeiro, criam variantes de uma molécula existente usando ‘técnicas quimicas, depois testam as variantes para a funcdo desejada, As variantes que fazem © melhor trabalho so utilizadas para gerar novas variantes. Ciclos repetidos deste processo de selecao resultam em moléculas com uma ca- pacidade amplamente aumentada para realizar uma determinada tarefa. Esta técnica tem sido utilizada para criar novas enzimas que podem converter com maior eficacia os pés de milho e outros residuos agricolas em etanol Os primeiros répteis se dividiram em vérias linhagens importantes. Uma linhags jo os dinossauros, e também as aves e outra deu o conduziu aos répteis, incluin igem aos mamiferos entre 200 a 250 milhdes de anos atris A transicdo evolutiva dos répteis para os mamiferos é bem documentada, principalmente no registro fossil. Formas fosseis sucessivas tendem a apresentar cérebros maiores, érgaos sensitivos mais especializados, maxilares e dentes adaptados para mastigagSes mais eficazes, um movimento gradual dos membros da posigao lateral para a posigdo inferior do corpo, além de um aparelho reprodutivo feminino cada vez mais capaz de sustentar o desenvolvimento interno ¢ a nutrigao da prole. Muitas das inovagdes biologicas observadas nos mamiferos podem estar associadas 40 dos homeotérmicos, o que possibilitou um estilo de vida mais ativo em temperaturas bem mais variadas do que seus ancestrais, os répteis heterotérmicos. Depois, entre 60 a 80 milhoes nos atras, um grupo de mamiferos conhecidos como 05 primatas apareceram pela tes mamiferos possuiam maos e pés preensores, alhos frontalmente maiores ¢ mais complexos. Esta ¢a linhagem a partir da q nos evoluiram Cientistas buscam explicagées para os fendmenos naturais baseados em evidéncias empiricas. Os avangos na compreensio da evolugio ao longo dos dois tiltimos séculos fornecem uum exemplo magnifico de como a ciéncia trabalha, A compreensao e o conhecimento cientifico se acumulam a partir da interacio entre a observacao € a explicacao. Os cien- tistas coletam informacdes através da abservacao do mundo natural e da condugaa de experimentos. Depois, propdem como os sistemas em estudo se comportam de manei- 1a geral, baseando suas explicagdes nos dados adquiridos através dos experimentos ¢ outras observagdes. Entio, eles testam suas explicagdes realizando observagies e ex- perimentos adicionais em condigdes diferentes. Outros cientistas confirmam as obser- vages de forma independente ¢ realizam estudos que podem levar a explicacdes mais sofisticadas, assim como a previsdes sobre futuros experimentos e observacoes. Desta forma, 0s cientistas chegam continuamente a explicagSes mais precisas e abrangentes de aspectos especificos da natureza. Na ciéncia, as explicagdes dever ser baseadas em fendmenos que ocorrem naturalmente. As causas naturais podem, em principio, ser reproduzidas e, portanto, podem ser conferidas de forma independente por outros. Se as explicacdes sdo baseadas em forcas com teor fora da natureza, os cientistas nao tém como confirma-las ou refuté-las. Qualquer explicacdo cientifica deve ser testavel — deve haver consequéncias observacionais possiveis que sustentem a ‘deia, mas também deve haver as que a refutem. Se uma explicacéo propasta no for elaborada de tal forma que a evidéncia observacional possa potencialmente ir ccontra ela, tal explicagio ndo pode ser testada cientificamente. eM Rea e) E 0 uso de evidéncias para se construir explicagées e previsées testaveis de fenémenos naturais, bem como Cee ee ieee Coe ietcres Como a observacio e a explicacao se baseiam uma na outra ao serem elaboradas, a ciéncia é uma atividade cumulativa, Observacées e experimentos que podem ser repetidos do origem a explicagdes que deserevem a natureza de maneira mais precisa e abrangente, 0 que por sua vez revela novas observagdes ¢ experimentos que podem ser utilizados para testar e expandir a explicacao. Dessa forma, a Sofisticagao e o alcance das explicacdes cientificas, geralmente com a utilizagao de inovagies tecnol6gicas, servem para corrigir, refinar e expandir o trabalho realizada por seus antecessores. Na ciéncia, nio é possivel provar com absoluta certeza que uma determinada explicagio seja a completa e definitiva. Algumas das explicagdes antecipadas pelos cientistas se revelam incorretas quando testadas por observacdes ou experimentos adicionais. Novos instrumentos podem possibilitar observagdes que demonstrem a 10 CIENCIA, EVOLUCAO E CRIACIONISMO Evolugao é Teoria ou Fato? ‘Ambos. Mas esta resposta exige um aprofundamento no significado das palavras "teoria” e “fat No emprego usual, “tecria® geralmente se refere 2 palpite ou especulagao. Quando as pessoas dizem "Eu tenho ume teoria sobre o porque daquilo ter acontecido”, normalmente esto concluindo com base em evidéncias fragmentadas ou inconclusivas. A definicdo cientifica formal de teoria é bem dife- rente do significado usual da palavra. Refere-se a uma ‘elucidagéo completa de algum aspecto da natureza, sustentada por um amplo contexto de evidéncias. Muitas teorias cientficas S20 tao bem fundamenta- das que provavelmente nenhuma evidéncia nove pode alteré-las substancialmente, Por exemplo, nenhuma evidencia nova ira demonstrar que a Terra no gira 20 redor do Sol (teoria heliocéntrica), ou que 0s seres Vivos nao s80 constituidos de células (teoria celular), que a matéria nao se compbe de tomas, ou que a superficie da Terra nBo esta dividide em placas solidas. {que se moveram ao longo da escala geolégica de tem- o (a teoria das placas tect®nicas), Assim como essas ‘eorias clentificas fundamentals, a teoria da evoludo @ sustentada por tantas observacbes e experimentos confirmados que os cientistas estao certos de que os ‘componentes basicos da teoria nao serao derruba- dos por novas evidencias. Entretanto, como todas as outras teoriascientificas, a teoria da evolucdo passa por um continuo aperfeicoamento conforme surgem roves reas da ciéncia ou & medida que novas tecnolo- gies possibilitam observacées e experimentos que nao ram anteriormente possives. LUma das mais Gtals propriedaces 62: taorias cientificas consiste na possibilidade de serem {eitas previsbes sobre ocorréncias ou fenémenos naturais que ainda nBo tenham sido observados. Por exemplo, @ teoria da gravidade previa o comportamento dos objetos na Lua e em outros planetas muito antes de serem confirmades pelas atividades de naves espacias e pelos astronautas. (0s bidlogos evolutivos que descobriram 0 Tiktaalik (veja pagina 2) haviam previsto que encontrariam fos- seis intermedidrios providos de membros entre 0s pei x@5 € 05 animais terrestres em sediments que tinham aproximadamente 375 milhdes de anos. Esta desco- berta confirmou a previo feita com base na teori evolutiva. Por sua vez, a confirmagao de uma previsso aumenta a seguranca numa determinada teoria. Na ciéncia, um “fato" se refere tipicamente a uma observagao mensurada ou @ outra forma de evidénci ue se posse esperar que ocorre da mesma forma, em condigdes semelhantes. Entretanto, 05 cientistas também usam o termo “fato” ao se referirem a uma explicacao cientifica que fol testada e confirmada tantas vezes que no ha uma raz8o para a continu- agdo de testes ou a busca por exemplos adicionais. CConsiderando isso, @ evolugdo que ocorreu no passa~ do e que ainda continua ocorrendo ¢ um fato cienti- fico, Devido a0 fato de as evidéncias que a sustentam serem tio fortes, 0s cientistas no questionam mais, se a evolucio biolégica ocorreu e continua ocorren- do, Em vez disto, eles investigam os mecanismos da evolusdo, sua ropidez e questbes afin. inadequagio de uma explicacdo existente. Novas ideias podem conduzir a explicagoes que demonstrem a nao totalidade ou a det aplicaveis apenas dentro de um campo limitado. cia de explicagées anteriores. Muitas cientificas que antes eram accitas, agora sdo consideradas imprecisas, ou Entretanto, muitas explicagées cientificas tm sido tio intensamente testadas que muito provavelmente nao serio alteradas de forma substancial & medida que novas observagoes forem realizadas, ou conforme novos experimentos forem analisados. Ts explicagses sdo aceitas pelos cientistas como sendo deserigies CIENCIA, EVOLUGAO E CRIACIONISMO u verdadeiras e factuais do mundo natural. A estrutura atomica da matéria, a base genética de hereditariedade, a circulagao do sangue, a gravidade e 0 movimento planetario, assim como 0 proceso de evolugao biol6gica através da selegdo natural sao apenas alguns exemplos de uma grande quantidade de explicagdes cientificas que foram comprovadas. ‘Aciéncia nao é apenas a tinica forma de conhecimento e compreensio. Entretanto, a ciéncia é uma forma de conhecimento que difere das outras em relagio a sua depen- déncia de evidéncias empiricas e de explicagées testaveis. Como a evolugao biolégica éresponsivel por ocotréncias que também sdo de interesse central para a religiao — incluindo a origem da diversidade biolégica e particularmente a origem dos seres humanos — a evolucdo tem sido uma ideia poleémica para a sociedad desde quando foi proposta pola primeira vez por Charles Darwin e Alfred Russe! Wallace em 1858. Aaceitagao da evidéncia da evolugio pode ser compativel com a fé religiosa. Hoje em dia, muitas denominagGes religiosas aceitam que a evolugao biolégica produziu a diversidade dos seres vivos ao longo dos bilhdes de anos da historia da Terra, Muitas tém declarado que a evolugao e os dogmas de suas crencas so com- pativeis. Cientistas e tedlogos tém escrito sobre sua admiracio e curiosidade com relacdo a historia do universo e da vida neste planeta, justificando que nao veem conflito entre a fé em Deus e a evidéncia da evolucao. As denominagdes religiosas gue nao aceitam a ocorréncia da evolugio tendem a ser aquelas que acreditam em interpretagoes literais de textos religiosos. A ciéncia e religido estao fundamentadas em diferentes aspectos da experiéncia humana. Na ciéncia, as explicagdes devem ser baseadas em evidéncias extraidas da analise minuciosa do mundo natural. Observacées ou experimentos com base cient fica que apresentem divergéncia com uma explicagdo deve necessariamente conduzir a uma modificagdio ou até mesmo ao abandono de tal explicagao. A crenga religiosa, ao contratio, nao depende apenas de evidéncias empiricas, nio é necessariamente modifi- cada diante de evidéncias conflituosas e, em geral, envolve forcas ou entidades sobre- naturais, Por nao fazerem parte da natureza, as entidades sobrenaturais no podem ser investigadas pela ciéncia. Desse modo, ciéncia e religiao estio separadas ¢ abordam de forma distinta os aspectos do conhecimento humano. Tentativas de competicao entre as duas criam controversias onde nao hé necessidade. R CIENCIA. EVOLUGAO E CRIACIONISMO Trechos de DeclaragGes Feitas por Lideres sear Muitas denominagies religiosas e lideres religiosos tém emitido declaracdes admitindo a ocorréncia da evolugao e salientando que nao existe conflito entre fé e evolugio. “A a concent do alun com -telacao a evolucéo abala seri els com: -_preenséo deles sobre o mu we sobre as leis i is que o governam, e a introducao de ‘outras explicacdes chamadas ers. “irg0 ne ia an 0: “Em sua enciclica Humani Generis (1950), meu antecessor Pio XII jé havia afirma- do que nao hé conflito entre a evolucao e a doutrina da fé, no que se refere a0 homem e sua vocacao, contanto que no nos esquecamos de certos pontos fixos... Hoje em dia, mais de meio século apés o surgimento daquela enciclica, algumas novas descobertas nos conduzem para o reconhecimento da evolucdo como sendo ‘mais do que uma hipétese. Na realidade é extraordinario como esta teoria tem tido uma influéncia cada vez maior na determinacao dos pesquisadores, 0 que conduz ‘a uma série de descobertas em diferentes Sreas de estudo. A convergéncia nos resultados destes estudos independentes—o que no foi nem predeterminado e nem pretendido—constitui um argumento significativo a favor da teoria,” —Papa Joo Paulo I, Mensagem para a Pontificia Academia de Ciéncias, 22 de Outubro de 1996, CIENCIA, EVOLUGAO E CRIACIONISMO. B Trechos de Declaragoes Feitas por Lideres Religiosos Que Nao Veem Conflitos Entre as Suas Crencas e a Ciéncia "Nés, do clero cristéo de varias tradi¢Ges, acreditamos que as incontes- taveis verdades da Biblia e as descobertas da ciéncia moderna podem coexistir tranquilamente. Acreditamos que a teoria da evolugao é uma verdade cientifica fundamental, uma verdade que resistiu 4s mais rigo- rosas investigacdes e sobre a qual reside grande parte das conquistas e do conhecimento humanos. Refutar esta verdade ou traté-la como ‘uma ‘tworia entre tantas outras’ é aceltar deliberadamente a falta de conhe- cimento cientifico e transmitir este desconhecimento a nossas criangas. Acreditamos que uma das dadivas de Deus consiste na faculdade mental do ser humano em pensar criticamente, e 0 no emprego desta dadiva por inteiro é uma rejeicdo da vontade do Criadot... Solicitamos reiteradamente aos membros do Conselho de Educagao que preservem @ integridade do curriculo de ciéncias, declarando que o ensino da te- ria da evolugdo constitui um componente essencial do conhecimento humano. € necessario que a ciéncia continue sendo ciéncia e que a reli- ido continue sendo religiao, duas formas da verdade, muito diferentes, mas complementares.” _—“*Projeto de Cartas do Clero” assinado por mais de 10.000 membros do clero cristio, Para informagies adicionais, veja: http://www-butleredu /clergyproject/clergy_project htm. (continuagao) I CIENCIA, EVOLUGAO E CRIACIONISMO Rue CMP ace ee Que Nao Veem Conflitos Entre as Suas Crencas e a Ciéncia Assim como as pessoas de outras profissdes, os cientistas demonstram uma ampla va- riedade de posicdes sobre a religiao e o papel das forcas ou enticades sobrenaturais do universo. Alguns aderem a posigdo conhecida como cientismo, que sustenta que s6 03. meétodos cientificos jé sao o suficiente para se descobrir tudo que ha para se saber sobre © universo, Outros aderem a uma ideia conhecida como deismo, que postula que Deus criou todas as coisas e colocou o universo em movimento, mas que nio determina mais 08 fenémenos fisicos. Outros sio tefstas, que acreditam que Deus intervém ativamente no mundo. Muitos cientistas que creem em Deus, tanto como o primeiro autor dos movimen- tos como uma forca ativa no universo, escreveram de forma eloquente sobre suas crengas. “Inevitavelmente, os criacionistas buscam Deus onde ainda nao ha explicacao cientifca, ou no que eles alegam que a ciéncia nao pode explicar. A maioria dos cientistas que so religiosos busca Deus onde a compre- ensdo cientifica existe e explica.” — Kenneth Miller, professor de biologia na Univer sidade Brown e autor de Finding Darwin's God: A Scientist's Search for Common Ground Between God and Religion, Trecho extraido de uma entrevista & disposicio em: http:/ /www.actionbioscience.org/ evolution miller html “Em minha opinio, ser um rigoroso cientista | euma pessoa que cré em um Deus que se | interessa particularmente em cada um de nds no & conflituoso. 0 dominio da dncia & ex- | plorar a natureza. 0 dominio de Deus est no mundo espiritual, um reino que nao pode ser | explorado com as ferramentas e a linguagem da ciéncia. Deve ser analisado com a coracéo, | coma mente e com a alma." “Nossa compreensao cientifica do universo... fornece pata aqueles que acreditam em Deus uma oportunida~ de maravilhosa para refletir sobre suas crencas.” — Padre George Coyne, padre catélico e ex-diretor ‘do Observaisrio do Vaticano: Trecho de uma ppalestra, “Science Does Not Need God, or Does 1 A Catholic Scientist Looks at Evolution”, na. Universidade de Palm Beach Atlantic, 31 de ja- neiro de 2006. Disponivel em: http:/ /chem.tufts, eclu/ AnswersinScience /Coyne-Evolution-htm. —Francis Collins, diretor do Projeto de Genoma Humano e do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano nos Institutos Nacionais de Saiide. Extraido de seu livro, The Language of Got: A Scientist Presents Evidence for Belief (p.6) CIENCIA, EVOLUGAO E CRIACIONISMO 1s CAPITULO DOIS EVIDENCIAS PARA A EVOLUCAO BIOLOGICA Muitas dreas da ciéncia tém apresentado evidéncias para a evolucao bioldgica. ‘Muitos tipos de evidéncias tem contribuido para a compreensio cientifica da evolu- ao biol6gica. Aigumas delas — como os {ésseis de animais extintos h4 muito tempo e a distribuigdo geografica das espécies — ji eram conhecidas pelos cientistas no século 19 ou até antes. Outras evidéncias — como as comparacdes de sequéncias de DNA — se tomaram acessiveis somente nos séculos 20 ¢ 21. Aevidéncia para a evolugao nao € decorrente apenas das ciéncias bioligicas, mas também de pesquisas hist6ricas e modernas no campo da antropologia, astro- fisica, quimica, geologia, fisica, matematica e de outras 4reas cientificas, incluindo as ciéncias sociais comportamentais. A astrofisica e a geologia demonstraram que a ‘Terra 6 suficientemente antiga para que a evolugao bioldgica resultasse nas espécies existentes hoje. A fisica e a quimica nos conduziram aos métodos de datago que cro- nometraram as principais ocorréncias evolutivas, ¢ estudos de outras espécies nao s6 revelaram continuidades fisicas como também comportamentais entre as espécies. A antropologia forneceu novas percepedes quanto as origens do ser humano, e quanto a interagées entre a biologia e os fatores culturais que moldam os comportamentos humanos e sistemas sociais. Como em qualquer érea ativa da ciéncia, muitas questies permanecem sem respostas. Os bidlogos continuam estudando es relagdes evolutivas entre os onganismos, as alteracoes genéticas que afetam a forma e o funcionamento clos CIENCIA. EVOLUGAO E CRIACIONISMO, 7

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