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Sonetos Completos Antero de Quental - nota biografica Antero de Quental, poeta, fildsofo e politico, nasceu em Ponta Delgada, capital da iha de Sao Mig arquipélago dos Acores, em 18 de abril de 1842, com o nome de Antero Tarquinio de Quental. Desce de uma antiga familia de colonizadores micaelenses, recebeu da mae, Ana Guilhermina da Maia, muito, ca, uma educacao religiosa que ira contribuir para as suas preocupacées misticas. O pal, Fernando deQ foi um dos 7500 liberais que desembarcaram ao norte de Porto, no Mindelo, libertaram a cidade do do miguelista e implantaram, em 1834, 0 regime constitucional. 4 No ano letivo de 1852-1853, com dez anos, frequentou, em Lisboa, 0 colégio do Pértico, dirigido pelo ta Anténio Feliciano de Castilho, figura do romantismo portugués muito considerada na sociedade da Em setembro de 1858, com dezasseis anos, ingressou na Universidade de Coimbra como aluno de Dire curso que terminaré em 1864, Seguiu entao a agitacao intelectual da época, vibrando com as lutas euroy de emancipagio nacional (Italia, Pol6nia), participando em sociedades secretas, organizando manifesta greves contra 0 conservadorismo académico e tornando-se o lider da juventude coimbra. Publicou nu sos textos em prosa e verso em jornais académicos. Em 1861, viu publicada a prime colegao dos seus. tos, forma poética desprezada pelo Romantismo. Terd vivido nessa época intensas paixdes, de que ha ves nas poesias que selecionou para 0 livro Primaveras Roménticas. Em agosto de 1865, publicou, na Imprensa da Universidade, livro Odes Modernas, publicacao que ‘origem da mais importante polémica literdria portuguesa, conhecida por Questdo Coimbra ou Questa Bom Senso e Bom Gosto. Esta polémica opunha Antero de Quental e os que defendiam os mesmos ideais rev lucionérios, uma nova geracao de poetas e intelectuais, a Anténio Feliciano de Castilho, antigo prof ‘Antero, e aos que, como ele, defendiam uma literatura romantica mais conservadora, uma velha ge presentante da «literatura oficial» da época. Em 1866, Antero mudou-se para Lisboa, onde entrou como tipégrafo na Imprensa Nacional ese ligouat grupo de que faziam parte alguns dos antigos companhelros de Coimbra, o Cendculo, que se afrmow tum centro de renovacao e de difusdo cultural. Nesse mesmo ano, partiu para Paris com a intenc3o de eX mentar a vida e conhecer a organizacao do proletariado. Em 1867, regressou a Sao Miguel, numa fase de presséo moral. Em 1869, fez uma acidentada viagem de barco a Halifax e Nova lorque, nos Estados Unidos, entus com a constituicao federalista americana. Regressado a Lisboa, dirigiu o jornal periédico A Republica & 8 1871, 0 grupo de intelectuais em que se integrava, 0 Cenéculo, promoveu as Conferéncias Democ se. Coube a Antero proferir a conferéncia de abertura para apresentacao do prog intitulada Causas da Decadéncia dos Povos Peninsulares nos Ultimos Trés Séculos. nalismos politicos, religiosos € econét Casino Lisbonen: primeira conferéncia, conferéncias pretendiam promover a reflexao sobre 0s condi sociedade portuguesa no contexto europeu. No dia em que teria lugar a quarta conferéncia, o govern? oencerramento do Casino por portaria que alegava a ofensa a religido eas instituicdes do Estado. Em 1873, por morte do pai, Antero voltou a Séo Miguel e tornou-se proprietério rural. Porém, no ‘Quinte, entrou numa fase de mal-estar e grande pessimismo e regressou a Lisboa, onde Ihe foi ne nS ee One Oe a psicose Maniaco-depressiva, g; hi '™ 1877, acura droterépica numa esténeia nr Médico famoso que Ihe receitou gem suceS50 penovo em Lisboa, em 1880, idade politica e em Vila do Conde com a mais produtiva da sua vida. Coli- ‘As Faas». viu publicado o livro So- z , , @ EScTeVeU textos sah ‘0, Antero de Quental sui um jardim piblico. 0s Sonetos de Antero Se, na biografia de Antero, 0 homem revolucioné pessimista em que progressivamente se vai t. tornando, os s lardede. Anténio Sérgio, pensador, eitico e escritor da pri considerando a existéncia de um Antero solar, ses mais otimistas, € otimista contrasta com a pessoa desiludida e #eUs SOnetos sA0 0 testemunho poético dessa bipo- imeira metade do século XX, explica esse contraste, «apolineo», e de um Antero pessimista, cnoturno». Nas fa. 08 sonetos apresentam teméticas que versam o lirismo amoroso, 0 sonho e a fantasia como fuga as limitagées do mundo real, 0 primado da Razéo para aceder a Verdade a0 Transcendente, a ‘efesa de uma nova ordem social assente no Amor e na Justica, temas que revelam @ espirito combativo do » 05 Sonetos desenvolvem temas como 0 vazio universal, a solid, a evasao Pele nitvana’ e pela morte, a impossibilidade de alcancar 0 Absoluto (através da ciencia. © da Razo). Todos ‘tes temas revelam sempre, no entanto, o seu espirito inqui AANGUSTIA EXISTENCIAL A procura de um Ideal e a inquietaco metafisica si anglstia existencial que domina a sua obra. 0 drama religioso, a duivida sobre a existéncia de Deus e a sua incessante procura, Sus sonetos. No soneto «A Joao de Deus»? 0 sujeito poético apresenta a sua luta interi Menente em relacio a everdade», a é em Deus, ea crenca de que s6 através de Deus, aicontrar resposta para este «desatino», queas Seta «va tox t io constantes na poesia de Antero e expressam a 6 tema de alguns dos ior entre a divida per- na «outra vida», podera Para esta insaciedade. Nas duas quadras, o sujeito poético considera do «pensamento» e do «entendimento», isto é, da razdo, nao esclarecerao o espitito inquieto. ‘Antes da a pesquisa da verdade» e «uma queda nova cada invento». No entanto, apesar do cruel sofrimen- que provoca no sujeito, a razio obriga a que este deva «Buscar, sempre buscar a claridade». Pear Aproximando-se de Camées, quer formal quer conceptualmente, Antero termina 0 pases, a “tera degredo, o céu destino», expressando uma religiosidade cristé e uma influéncia platnica. A verdade, °*h2>a que aspira, s6 seré encontrada nouitra dimensso ou «vidas celestial ipionaaa moana aimee pean pee R EEE. ames ir ivan soreponde emerhumano staves dpsed witli ean ‘it pet bas dle crime ean pans ia ee Ne “Tein peter que Cone ovoneiosa fon super eMsmon a M1 EDUCACAG LITERARIA 11.° ANO . Esta procura angustiada do Absolute, do Transcendente, vai encontrando, por constr ao intelectual, solucdes diversificadas. Sonetos hd em que o sujeito parece obter paz de espirito situando 0 Absoluto numa (soneto «lgnotus»). Esta an- gtistia especulativa chega a reducao da idela de Absoluto a ideia de Liberdade e a transposi¢ao do Absoluto para o interior do individuo, para a sua consciéncia: «Almas no limbo ainda da exis- téncia, / Acordareis um dia na Consciéncia, /[...] Vereis as Formas, filhas da lluso, / Cair desfeitas, como um sonho véo.... / Eacabara por fim vosso tormento. (soneto «Redencéo»). O conflito entre o Real e 0 Ideal, o contraste entre 0s limites da realidade e o ideal absoluto que deseja conhecer, constitui outra faceta da angiistia existencial de Antero. Esta aspiracao, ir- realizével, origina o desejo de evasao. Varios so- netos tratam o tema da evasdo: pelo sonho, pela noite, pelo nirvana, ou outras formas de fuga. No soneto «O Palacio da Ventura», Antero desenvol- ve 0 tema da evasao pelo sonho, construindo a alegoria do cavaleiro andante que busca ansioso © «palcio encantado da Ventura», mas, tendo-o alcancado, s6 encontra desolacao. O sujeito poético opta pelo sonho para resol- ver a sui \quietaco de demanda do Ideal, da felicidade. A ideia do movimento, da procura incessant dada através da enumeragao «Por desertos, por séis, por noite escura» e corroborada, na segunda quad expressividade da forma verbal e da adjetivacio, nos versos «Mas ja desmaio, exausto e rr i espada jé, rota a armadura...», que revelam a ideia do sofrimento que essa procura exige. A recomp esforco e sofrimento, a visdo do «palacio encantado da ventura» surge «fulgurante / Na a omy ‘mosural», numa imagem de gléria e beleza, contrastando com a imagem de errancia e de ie 4 A Joao de Deus Se 6 lei, que rege 0 escuro pensamento, Ser va toda a pesquisa da verdade, Em vez da luz achar a escuridade, Ser uma queda nova cada inventor £ lei também, embora cru tormento, Buscar, sempre buscar a claridade, E s6 ter como certa realidade , © que nos mostra claro o entendimento, © que hé dea alma escolher, em tanto Se uma hora cré de £6, logo duvidi Se procura, s6 acha... 0 desatino! $6 Deus pode acudir em tanto dano: Esperemos a luz duma outra vida, Seja a terra degredo, 0 céu destino. O Palacio da Ventura Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante palacio encantado da Ventura! Mas ja desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada jé, rota a armadura.. E eis que stbito 0 avisto, fulgurante Na sua pompa e aérea formosura! Com grandes golpes bato a porta e brado Eu sou o Vagabundo, o Deserdado... Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais! “ Abrem-se as portas d’ouro, com fragora. Mas dentro encontro s6, cheio de dor, Siléncio e escuridéo—e nada mais! {Kea Rober Eduard von Haromann (1842:1906 dso alee que publcoua obra Flwofa doh _Natureza na tese de um inconsciente crlador do mundo. O incor on ee Incnscenteciadr do mond. lnconsente ea oimcandilont,ogue Mio nec ete aN HO BoE ANTERO DE QUENTAL - SONETOS COMPLETOS colitério, «EU SOU OVagabundo, op, sos SlUG30 para angst enter Nea join dor /Slénco escutdie—enaga ware utros sonetos tratam o tema da mM ¢ 2 lorte, am : a dade es2NVa680. E, possivelmente, o inieg rte que pord fim ao softimento e que se apresenta como tinica "elo de comunicagéo com o Absoluto, como Transcendente. esetdado, imo terceto, a chave do soneto, aquilo que 8, traicoeiramente, o adensar do desconhecimento e da coNFIGURACOES DO IDEAL o ideal apresenta-se de diferentes forma ol 'S Nos ode as etema de alguns sonetos. Amada ed Sonetos de Antero de Quental. A mulher, como figura idealiza- les mm oSujeito postico, Num dos yan Jada, a imagem da mulher aparece numa telacdo de amor espiritua- fzado cO! ona Aas Ritlaisdos

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