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LEITURA

Quem é a Geração Z em Portugal?


Portugal conta com cerca de 2,57 milhões de jovens pertencentes à Geração Z. Como se caracteriza este
grupo de cidadãos, nascidos entre 1994e 2009, quais são as suas preocupações e motivações?

Igumas respostas podem ser encontra- pretende ser assalariado numa empresa privada e 9,3%
das num estudo efetuadopela Deusto trabalhar na função pública. Relevante ainda o facto de
Business School (Madrid), em parceria 35 14%não saber a sua preferência.
com a Atrevia, que teve por base um ConsumidorZ
5 inquérito realizado a 381jovens portu- Os jovens da Geração Z tendem a ser fiéis às marcas,
gueses. Cidadãos Z, Talento Z e Consumidor Z são os mas as decisões finais podem depender de outros fatores:
três eixos da análise. 46,7% refere que as suas escolhas dependem muito do
Cidadãos Z 40 tipo de produto e 37%das marcas que lhes transmitem
O estudo descobriu que 62% dos jovens Z em Portugal mais confiança. Os Z dos 14 aos 18 anos são os que tendem
10 consideram que o país está num momento de aversão a fixar-semais num produto ou marca (40%).
política. Além disso, 56% mostra inquietação e preocu- Assim, preço acessível, repostas imediatas às suas
paçãopolítica. necessidades, marca responsável que respeita o ambien-
Quanto aos aspetos da sociedade atual que mais 45 te, imagem de marca de qualidade e marca que use lin-
preocupam esta geração, destaque para a pobreza, cor- guagem próxima à dos jovens são os fatores mais
- 15 rupção e desemprego juvenil. Para alterar a estagnação apontados relativamente à realização de uma compra.
que entendem estar a atravessar o país, consideram que Além disso, o mesmo estudo revela que a Internet e
é necessário investir na educação e apoiar empreende- as páginas websão as principais fontes de informação
dores e PMEs 1. 50 dos Z para as suas atividades diárias.
"Rompe-se o mito de que esta geração não se define, Conclusões
20 nem estudando nem trabalhando. Trata-se de uma gera- Em traços gerais, esta é uma geração irreverente,
ção que se preocupa com o seu futuro, valorizando exploradora, apaixonada, inovadora e, potencialmente,
muito significativamente no seu trabalho ideal a conci- mais focada em si própria. É também muito profissional
liação com outras facetas da vida", refere ainda o estudo. 55 e empreendedora,composta por cidadãos envolvidos e
TalentoZ informados. A par disso, trata-se de uma geração que
25 Resumindo, os Z não querem só trabalhar. Eles pre- aplica o seu pragmatismo e procura constante pela ino-
tendem viver uma experiência. Perante esta premissa, vação em todas as vertentes da sua vida. São como peixes
os jovens desta geração procuram empresas próximas na água na nova lógica digital e querem tirar partido
da sua forma de entender o mundo: conectado, transpa- 60 dela. Tambémvalorizam e preservam a sua individuali-
rente e audiovisual. Esperam também bom ambiente, dade, dão prioridade às suas paixões e não querem ape-
conciliação e desenvolvimento. nas estabilidade - querem sentir-se realizados.
Para 52,2%,o seu emprego ideal é montar a sua própria
in Marketeer online (adaptado e com supressões;
empresa ou trabalhar por conta própria. Somente 24,6% consultado em junho de 2021).

1 Pequenase médias empresas.


que completa adequadamente cada afirmação.
a opção
O Selecione realizado recentemente,
com o estudo mais de
1.1 De acordo metade
portugueses
política portuguesa.
mostra aversãoem relação à
A. C)
estar apreensiva com a situação política portuguesa
B. C) revela
positivamente a situação política do país.
avalia
preocupadacom a indiferença dos seus
c.

revela estar
D.C) paresem
política.

mesmo estudo, "rompe-se o mito de que esta


1.2 segundoo geração

aspetos da sociedade atual, tais como


A. se preocupamcom a pobreza
juvenil.
rupção ou o desemprego
investir cada vez mais na educação e no apoio
B. O têmvindoa a

perspetiva bem delineada do que anseiam


c. C) revelamter uma em

outras facetas da vida, tendo em


D.C) valorizamcada vez mais contaa
ção queentendemestar a atravessar o país.
os jovens Z
1.3 Relativamenteao emprego,
A. C) revelamnão querertrabalhar e viver apenas uma experiência.
B. C) rivilegiam,maioritariamente, os empregos em empresas privadas
função pública.
c.C) só aceitamtrabalhar em empresas que promovam a sustentabilidadeam.

biental.
D. O revelam, maioritariamente, um espírito empreendedor.

1.4 No que diz respeito ao consumo, os jovens


A. Oda faixa etária mais velha são os que demonstram ser mais fiéisàsmarcas,
são maioritariamente fiéis às marcas, independentemente de outrosfatores
têm em conta, no geral, um conjunto de requisitos prévios nas escolhasque
fazem.
não são, na generalidade, muito fiéis às marcas, porque valorizamoutros
fatores.

1.5 A expressão "são como peixes na águananova


lógica digital" (11.58-59)significa que a
Geraçãol

A. prioriza tudo o que é digital.


digital
domina intensamente o mundo
c.C) valoriza apenas o mundodigital.
aptidões
D. C) negligencia quem não tem
tais.
Bloco informativoI pp.
GRAMÁTICA auladigital
a Gramática: Processos
ocorridos na evolução das seguintes palavras.
O Identifiqueos processos fonológicos deinserção;
fonológicos
Processos fonológicos
a. STUDIU-> estudo (t. 2) de supressão; Processos
fonológicos de alteração:
b. FIDELE- > fiel (1.37) Etimologia: Formação
c. PRODUCTU-> produto (1.40) depalavras- Derivação;
Formação de palavras -
d. AQUA-> água (1.59) Composição
> estabilidade (1.62)
e. STABILITATE-

Sabendo que a palavra "cidadãos" (1.6)provém do latim CIVIS,apresente três palavras por-
tuguesas que contenham constituintes que integrem o mesmo étimo.

O Associe os elementos da coluna A aos da coluna B de forma a identificar os processos de


formação de palavras que ocorrem nos vocábulos apresentados.

Coluna A Coluna B
a. "desemprego" (l. 15)
b. "PME" (l. 18)
1. derivação por prefixação
c. "significativamente" (l. 22)
2. derivação por sufixação
d. "audiovisual" (1.29)
3. derivação por parassíntese
e. "desenvolvimento" (1.30)
4. composição (radical + palavra)
f. "assalariado" (1.33)
5. sigla
g. "Internet" (1.48) -4.

h. "web" (1.49) 6. empréstimo

, i. "irreverente"(1.52)

O Identifique as funções sintéticas desempenhadas pelos constituintes apresentados.


"pela Deusto Business School" (11.2-3)
b. "num momento de aversão política" (11.10-11)
c. "na educação" (l. 17)
d. "da sua forma de entender o mundo" (l. 28)
e. "às suas necessidades" (11.43-44)

O Classifique as seguintes orações.


a. "que o país está num momento de aversão política" (11.10-11)
b. "que mais preocupam esta geração" (II.13-14)
c. "os que tendem a fixar-se mais num produto ou marca" (II.41-42)

O Refira o valor modal expresso nas frases que se seguem.


a. "Portugal conta com cerca de 2,57 milhões de
jovens pertencentes à Geração Z" (lead)
b. "mas as decisões finais podem depender de
outros fatores" (l.38)
LITERÁRIA
Áo
EDUCA
o texto.
atentamente
Leia

de Aranha As terras são cascalho puro,


Teia anda devagar. de
Cristóvão 0 granito até fazerem de
em S. para roerem
uma areia
O tempo raízes
às trezentos e sessenta e cinco dias bem
precisodar prazo ano, ali, são medidos
defazer é Um paciência de relojoeiro,
1arteou
habilidade
de centeio. longas, têm uma
cevadaou a horas cheiade
ilusões
lá moram, afeitas como nas leiras, onde a gente vê
pessoasque Exatamente tllil
ponderações. enigmático, a aloirar
demil meditativo, encobertamente
a sua
5 cálculos milho parado, e mais metidos consigo,
lentos
mesmopé de pasmados,mais anda às
homens mais saem obras tão perfeitas destas
assimnos e a amadurecer. E meditações,
a criar providência, porque aponta
resoluçãosecreta que só 0 dedo da
do
e na forma, mesmo assim são
acabadas na fabrico. Mas às vezes precisos
evidenciar os defeitos de dos anos
paz de lhes cântaro. Tal é a perfeição artífices de S.
IO do
Deus descubraa fenda prestidigitaçãol. Na altura
para que
Artur, a façanha foi de pura exata emque
caso do tio do lameiro da ribeira, o
No sempre, murava 0 0 velho sumiu-se
e zelosocomo
rapaz,trabalhador ir buscar a jumenta
ao monte da relva e trazer-lhe
Viram-no à noitinha depoisfeno
porencanto. os seus passos apagaram-se sem deixar
rasto.
por diante
da Chã, mas daí Essanoite,
15 do palheiro comprida, a condizer com a manha e a perseverança do
escura e lugarejo.
emboradeagosto,foi suspeitos, nem uivo de cão, nem
E
gemidos, nem passos pio de coruja.Nada.
nelanem se ouviram havia no ambiente a mesma calma
quando a aldeia acordou, serenidadedo
Ao cantar do galo,
acenderamo lume e fizeram o caldo, os pedreiros, na obradoArtur
dia anterior.As mulheres à
assentaram os do novo troço de parede, e só tarde, quase hora do almoço,é quea
alicerces
20
em que o dono a deixara na loja, deu de lá um impacientesinal
jerica,cansadado esquecimento
aviso animal que S. Cristóvão compreendeu que o Bento Caniçq
de enfado.E foi através desse
ainda e que o melhor seria bater-lhe à porta.
habitualmentetãomadrugador,não acordara
Bateram,realmente,entraram,e não há dúvida que durante o sono lhe aconteceraqual.
25 quer desgraça. De que natureza, é que ninguém sabia.
Acasa nãoestavaroubada,não havia vestígios de luta nem de violência, reinava umatal
melancoliano sepulcrovazio, que o dono parecia ter subido ao céu.
De buscaem busca,de suspeita em suspeita, de interrogatório em interrogatório, o mis-
tériocadavez se adensavamais. O Caniço, nem mau nem bom, como era de regra nolugar,
30 se nãotinha amigos,tambémnão tinha inimigos. Solteirão, o que lhe pertencia, emborade
tentar,fizera-ode há muito por escritura ao Artur, seu único sobrinho. De forma quenin-
guém descortinavamaneira de encontrar o fio à meada
[...].
Os diaspassaram,as raízes de várias
sementeiras digeriram os carolos de várias colhei-
tas, e o problemacada vez mais
intrincado.
35 De todos os zelos pela claridade daquele sumiço, o maior
era, como de justiça, o do Artur. Honrado homem no con-
à
ceito da aldeia, bom cristão nos anais da igreja, dedicado
família, não houve passo que não desse, esforço a quese
passe, a ver se conseguia decifrar o enigma [...].
40 e
E foi assim, dignificada na diligência vã dos estranhos
no amor devotado Ca-
do sobrinho, que a memória do Bento
do
niço desbotou. a vida
Outras mortes vieram [...]e também
o tempo vai batendo à porta de todos em S. Cris-
Artur chegou ao fim. Apesar de moroso,
soou-lhe também a hora, e foi preciso prepará-lo
tóvão. E, quando o Artur menos esperava,
O defunto fora um homem, e urdira a sua
45 para a grande viagem com a extrema-unção
costumes de S. Cristóvão.
teia de mortal em tudo de acordo com os usos e
as malhas caídas, teve de
A prova disso é que o próprio Criador, se lhe quis descobrir
águas da ribeira como no dilú-
arranjar na serra uma trovoada desmedida e fazer crescer as
sob os alicerces o esqueleto
vio. Só assim a corrente pôde levar o muro do lameiro e mostrar
sobrinho ali enterrara na
50 branco do Bento Caniço - o que restava do corpo inteiro que o
pedras inocentes.
noite do crime, e sobre o qual os pedreiros, no dia seguinte, acamaram
e com supressões).
Miguel Torga, Novos contos da montanha, LeYa Bis, 2019, pp. 139-143 (adaptado

O Assinale, no seu caderno, como verdadeiras ou falsas as afirmações que se seguem.


Corrija as falsas, justificando com expressões do texto.
a. No primeiro parágrafo do texto predomina a narração.
b. O segmento "Um ano, ali, são trezentos e sessenta e cinco dias bem medidos" (1.3)
configura-se como um exemplo de tempo psicológico.
c. A personagem principal é Bento Caniço, porque toda a história se centra nesta figura.
d. O segmento "Honradohomem no conceito da aldeia, bom cristão nos anais da igre-
representa um exemplo de caracterização direta.
ja, dedicado à família..." (11.36-38)
e. Neste conto, o espaço social representado é o citadino.
f. Em "Bateram, realmente, entraram, e não há dúvida que durante o sono lhe acontece-
configura-se como um exemplo de focalização interna.
ra qualquer desgraça" (11.24-25)

Esclareça a pertinência do primeiro parágrafo do texto, tendo em conta a conclusão do


conto.

O Explicite, justificando com elementos textuais, a razão que terá levado Artur a livrar-
-se do tio.

O Associe os segmentos presentes na coluna A aos respetivos recursos expressivos que


constam na coluna B.

Coluna A Coluna B
a. "O tempo em S. Cristóvão anda devagar" (1.1)
b. "E as pessoas que lá moram [...] têm uma paciência de relojoeiro"(1.4)
c. "cheia de mil cálculos e de mil ponderações"(11.4-5) 1. metáfora
d. "Exatamente como nas leiras [...] assim nos homens" (11.5-7) 2. comparação
a
e. onde a gente vê semanas a fio o mesmo pé de milho parado,
3. personificação
meditativo, enigmático" (11.5-6)
f. "Tal é a perfeição dos artífices de S. Cristóvão!" (1.11) 4. adjetivação

g. -o rapaz, trabalhador e zeloso como sempre" (11.12-13) 5. enumeração A auladigital


h. "E nela nem se ouviram gemidos, nem passos suspeitos, nem uivo 6. hipérbole a Animação: O que é a
de cão, nem pio de coruja" (11.16-17) metáfora?; O que é a
7. ironia comparação?; O que é a
i. "reinavauma tal melancolia no sepulcro vazio" (11.26-27) personificação?; O que
a enumeração?; O que
j. "fazer crescer as águas da ribeira como no dilúvio" (11.48-49) hipérbole?

1
LITERÁRIA
EDUCA Ão
auladigital
autoria de Camões.
Luís Leia o poema de
s Áudio: Eu canteijá, Faixa I

de Cambes agora vou chorando


Eu cantei já, e
tão confiado;
o tempo que cantei
já passado
parece que no canto
lágrimas criando.
se estavamminhas 27;'
pergunta: - Quando?
5 Cantei; mas se me alguém
nisso enganado.
- Não sei; que também fui
presente estado
É tão triste este meu
julgando.
que o passado, por ledo, estou

Fizeram-me cantar, manhosamente,


confianças;
10 contentamentos não, mas
cantava, mas já era ao som dos ferros.

De quem me queixarei, que tudo mente?


Júlio Pomar,
Mas eu que culpa ponho às esperanças camões
(1990).

onde a Fortuna injusta é mais que os erros?

Luís Vaz de Camões, Rimas (texto estabelecido,


revisto e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão),
Coimbra, Almedina, 2005, p. 171.

O Selecionea opçãoque completa adequadamente cada afirmação.

1.1 Esta composiçãode Camões insere-se


A. na correntede inspiração clássica, uma vez que se trata de
um soneto.
B. C) na lírica tradicional, dado tratar-se de um soneto.
na correntede inspiração clássica, uma vez que se trata de
um vilancete.
D.O na lírica tradicional,dadotratar-se de um vilancete.

1.2 Em termos temáticos, o poema versa


sobre
A. a experiênciaamorosa.
B. Oa reflexãosobre a vida pessoal.
C. O o desconcerto.
a mudança.

1.3 Ao longo do poema,


o sujeito lírico
A. prenunciaum futuro risonho,
depois de um passado aterrador.
evocaum passado
sombrio em contraste com o presente animador.
perspetivaum futuro
aterrador tal como foi o seu passado.
D. C) relembra
um passado de I

felicidade em contraste com o presente


aterrador
atribui a responsabilidade dos seus males
1.4 Em última instância, o sujeito lírico
A. (Da todos os que o rodearam.
B. O às esperanças ilusórias,
ao destino cruel.
D.O aos erros cometidos.

ESCRITA

Observe atentamente a imagem.

EGO John Holcroft (2021).

O Faça uma apreciação crítica, entre 150 a 200 palavras, atendendo,entre outros,
aos seguintes aspetos:
• descrição da imagem;
• mensagem veiculada;
• pertinência da imagem em relação à atualidade;
• adequação da imagem à intencionalidade comunicativa.

Planifique previamente o seu texto, considerando as seguintes orientações:


• estrutura tripartida (introdução, desenvolvimento e conclusão);
• seleção vocabular criteriosa, articulação coerente, correção linguística, sintética
e ortográfica.

19
CONTEXTUALIZAçÃ0
seguem.
que se
textos
e os 1656
crinologia da
Restauração
a Morte de D. João IV e Jesuf
altamente Independência
Analise regência de D. Luísa
Aclamação de Gusmão
IV
de D. João
1640-41
dinastia
Início da
filipina

1581

Nascimento 1633
de Padre António
Vieira Renúncia de Galileu
às suas teorias
1608 científicas imposta
pela Inquisição

0 barroco vê o universo na perspetiva da suaefeme-


está em constante mudança
0 barroco ridade.0 mundo e,dessa
designagenericamentea cultura forma, é visto como um lugar instável, inseguro, passível
A palavrabarroco
e intermitências. Essa ideia decorre
dos séculos XVII e XVIII. opostas
30 de transformações
de conciliar visões
Neste período,a tendência do contextoem que o homem seiscentista vivia.Asmu-
torna o barroco
entre teocentrismoe antropocentrismo danças económicas, sociais, religiosas e políticasquea
caracterizado, principalmente,
5 um movimento dualista, sociedade daquela época experimentou, em tão pouco
Assim sendo, a literatura barroca é mar-
pelas oposições. tempo,depois de um período tão longo de estagnação,
cada pelaexistênciade contradiçõesgeradas pela oposi-
35 deixaram-no tão perplexo, que ele sentia toda essa ins-
ção constante entre o espírito cristão (antiterreno, teocên-
tabilidaderefletidanas artes.
trico) e o espírito renascentista (racionalista, mundano).
10 O homem é visto em constante conflito com o mundo,
vindodaí o estilo irregular dessa estética. Para expressar Obarroco português
essa irregularidade,os escritores desse período usaram 0 barrocoportuguês corresponde a um períodode
os artifícios da linguagem figurada, tais como: oxímoros, obscuridadeda nação, depois do desaparecimentode
antíteses, metáforas, sinestesias e hipérboles.
D. Sebastiãoem 1578, marcando o fim de um período
15 Essa indefiniçãodo barroco
entre o divino e o ter- de glórias de Portugal, quando conquistou várias nações
renofaz refletirna literatura
os conflitos e o descon- 5 abrindocaminho para as grandes navegações, e o fa-
tentamentodo homem
perante a sua existência.
isso, os temas da Por lecimentode Luís Vaz de Camões, em 1580, quehavia
literatura barroca são
enfatizama dore a pessimistas, cantadoas glórias passadas e, intuitivamente, previra
vergonhae advertem
20vidadeda vida. sobre a bre- aquelasituação inglória e o início do domínio espanhol,
0 pessimismo
só é suavizado acerca da vida terrena
com a crença na
temas recorrentes vida celestial.
Um dos
no barroco é
a penitência,
da coroaportuguesa,anexa Portugal a seus domínios•
enfatiza martírio em que se
em confrontar,
da dor. Além
desse, há a Devidoà sua ligação político-administrativa coma
de forma tendência
violenta, os Espanha,o barroco do
25 tais
como: o
amore a dor, avida
temas opostos, português recebeu a influência
e a velhice, e a morte, barrocoespanhol.
o pecado
e o perdão.
a juventude Alguns escritores portugueses chega-
rama escrever
22 as suas obras em castelhano. Os primei-
15 ros escritores
do barroco em Portugal foram Francisco f;-
1706 1750-1751

Início do reinado de Subida de D. José I ao


D. João V, após a trono, depois da morte
morte de D. Pedro II de D. João V
1662 Abolição da escravatura
dos índios, no Brasil
Subida ao
trono de
D. Afonso VI
1755
Terramotoe
Encarceramento de
Padre António Vieira Morte de D. Afonso VI 1697 destruição da
e subida ao trono cidade de Lisboa
(até 1667) por ordem
da Inquisição de D. Pedro II Morte de Padre
António Vieira
1665 1683

Rodrigues Lobo e Francisco Manoelde Melo. Além des- Características do barroco


ses, ocupam lugar de destaque na literatura portuguesa
O barroco deve ser estudado como um fenómeno
desse períodoFrei Luís de Souza, Antóniodas Chagas, histórico que se situa em determinadotempo e se en-
Sóror Mariana Alcoforado e António Vieira, considerado
contra relacionado com múltiplos problemas —estéti-
20 pela crítica como a figura mais destacada dessa estética
cos, espirituais, religiosos, sociológicos, etc. —de índo-
em Portugal e no Brasil.
5 le especificamente histórica.
A literatura barroca em Portugal, assim como nou-
—É uma arte acentuadamenterealista e popular,
tros países, sofreu a influência das circunstâncias em sensorial e naturalista;
que o mundo vivia. Foi, portanto,uma literatura empo- —Caracteriza-se pela ostentação, pelo esplendor e
25 brecida, no primeiro momento, sob vários aspetos, pela proliferação de elementos decorativos, pelo formalis-
pressão do clero, que tentava, de todas as formas, pro- 10 mo estético, pelo gosto dos contrastes, pela sobreva-
pagar as ideias da reforma tridentina, enfatizando uma lorização de um estilo denso, reflexo de uma estrutura
visão do mundo totalmente anacrónica. mental;
Mas os maiores expoentes do barroco lusitano que- —Trata temas como o engano e o desengano, a ilu-
30 bram esta regra e caminham numa direção de indepen- são e a efemeridade da vida, a transitoriedade das coi-
dência literária, como foi o caso de Padre António Vieira, sas humanas.
cujas obras são apreciadas até aos nossos dias pela be-
leza das suas construções e consistência das suas ideias. Elaborado a partir de Vítor Manuel de Aguiar e Silva,
Teoria da literatura, Coimbra, Almedina, in Maria Lucília
Na oratória, a influência do barroco determinou a super- Gonçalves Pires e José Adriano de Carvalho, História crítica
35 valorização do deleite em detrimento do ensino. A literatura da literatura portuguesa, Ed. Verbo, Vol. III, 2001.
também sentiu esse impacto. Nesse período,a ênfase está
em provocar sensação e emoção, mais do que o desenvol-
vimento da ideia que não é, no entanto, negligenciada.

Esdras Mendes Linhares, Padre António Vieira, o homem e o


discurso, Universidadede Maringá,2007, pp. 65-68 .com supressões O Apresente uma síntese das ideias-chave de cada um
e adaptações), consultado em julho de 2021
in http://repositorio.uem.br
dos textos.

23
Vieira
Padre António

Vieira, um homem que marcou uma


padreAntónio
Acontecimento
Ano Vieira, em Lisboa.
Nasce António
1608
família para o Brasil (Baía); frequenta o colégio
Partecom a
1614 Jesuítas.
na Companhia de Jesus, com 15 anos.
Iniciao noviciado
1623
Retórica em Olinda .com 18 anos). Anos mais tarde,
É professorde
Teologia.
1626 tuda Filosofia e
sacerdote.
1634 É ordenado
É nomeado pregador régio pelo rei D. João
Embarcapara Portugal. IV
político.
1641 inicia um percurso
a Paris e a Haia.
1646/1647
Efetuamissõesdiplomáticas
os judeus e de atacar a Inquisição, e pressionado
Padre António Viera. É acusadode defender
de Jesus. No entanto, é protegidopelorei.
1649 paraabandonara Companhia
missionário.
1652 Parte para o Maranhão, como

Pregao "Sermãode Santo António" e embarca de seguida para Lisboa,


1654 parapedirao rei o fim da jurisdição civil sobre os índios, colocando-os
sob proteção dos jesuítas.
Regressaao Brasil, depois de obter do rei uma nova lei de proteção
1655
dos índios.
Denunciaao futuro rei D. Afonso VI as injustiças e a tirania de queos
1657
índios são alvo.

1660 Participa,comomissionário,em expedições ao interior da Amazónia.


1661 É preso,expulsopelos colonos e enviado para Lisboa.
É nomeadoprecetordo príncipe D. Pedro. Prega o "Sermão da Epifania',
1662 emquedenunciao tráfico de escravos no Brasil. É afastado da Cortee
desterrado para o Porto.
É condenadopela Inquisição, proibido
1667 de pregar e detido. Um ano depois
é amnistiado,continuando,
no entanto, impedido de pregar.
Partepara Roma, procurando
FAZ SENTIDO 1669
justiça relativamente às acusações que re-
Vieira elaborou
caíam sobre ele.
catecismos em sete ParteparaLisboa,
dialetcs diferentes, 1675 depois de ter conseguido, da parte do papa Clemente
o X, a aboliçãoda
que demonstra
o seu Inquisiçãoem Portugal e a anulação do processo inqui-
empenhona sitorialque tinha levado
missionação à sua prisão.
mas também 1681
a sua
enormecultura Regressadefinitivamente
ao Brasil.
linguística,
que o rei
Conseguiu 1694 Defendea liberdade
D. João dos índios, quando os
ordenasseo
IV recrutá-losde moradores de S. Paulo tentan
fim do forma violenta
confiscodos 1697 para a exploração do ouro.
judeus,uma
bens dos Morre, com 89 anos
das maiores de idade
receitas da
Inquisição. O
que Padre
AntónioVieira
a sua época enquanto
"Sermão de Santo António"

ANTECIPAR SENTIDOS

Natureza argumentativa do sermão

0 sermão pressupõe um contexto de uso específico: ocorre num quadro institucional


auladigital
marcado, a igreja, cenário constritor1 quer ao nível da forma quer ao nível dos conteúdos
• Animação: 0 sermão
expressos. 0 pregador produz um discurso com o objetivo de convencer alguém (o auditório
da pregação) de algo (em último caso, da necessidade de alterar os comportamentosque
levam à corrupção moral do ser humano). Este discurso é pronunciadonum púlpito,local
carregado de forte simbolismo reconhecido e partilhadopor todos os presentes, convocan-
do assim uma base comum, um conjunto de crenças e conhecimentos, socialmente legiti-
mados. [...] 0 sermão de Vieira é claramente um texto de natureza argumentativa.
1 que constringe, que oprime.
Ana Cristina Macário Lopes e Susana Soares, "Contributos para uma análise do 'Sermão de Santo António
aos Peixes'", in Atas das III Jornadas Científico-Pedagógicas de Português, ILLP, FLUC, 2008 (adaptado).

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

2
Sermão de Santo António
Pregado na Cidade de São Luís do Maranhão,ano de 1654 Fixação de texto
Padre António Vieira,

Este Sermão (que todo é alegórico) pregou o Autor três dias antes de se embarcar oculta- Obra completa (dir. José
EduardoFranco e Pedro
mente para o Reino, a procurar o remédio da salvação dos Índios, pelas causas que se apontam
Calafate), Tomo II, Vol. X,
no 1.0Sermão do 1.0Tomo l . E nele tocou todos os pontos de doutrina (posto que perseguida) que Lisboa, Círculo de Leitores,
mais necessários eram ao bem espiritual, e temporal daquela terra, como facilmente se pode 2014, pp. 137-165.

entender das mesmas alegorias.


Capítulo I
2 (MATEUS,
Vosestissalterrae 5)

Exórdio
"Vós", diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, "sois o sal da terra"; e chama-
-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a cor-
rupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela, que têm

ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga,
5 ou porque a terra se não deixa salgar.Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam

a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar,e os ouvintes, sendo verdadeira

a doutrina, que lhes dão, a não querem receber; ou é porque o sal não salga, e os Pregadores
dizem uma coisa, e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem

antes imitar o que eles fazem, que fazer o que eles dizem; ou é porque o sal não salga, e os Pre-

, 10 gadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em
vez de servir a Cristo, servem a seus apetites.Não é tudo isto verdade? Ainda mal!

Suposto pois que, ou o sal não salgue, ou a terra se não deixe salgar, que se há de fazer a este sal,
e que se há de fazer a esta terra? O que se há de fazer ao sal, que não salga, Cristo o disse logo: Quod si
sal evanuerit, in quo salietur?Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittaturforas, et conculcetur ab hominibus [Mateus
15 5,13].Se o sal oque se 1 0 "Sermão da Sexagésima";
lhe há de fazer é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal 2 "Vós sois o sal da terra";

29
Vieira pronunciara?Assim como não há
Padre António
coisa, se 0

sal, que não salga. E à terra, que se não deixa


se deve fazer ao Senhor nosso no Evangelho;
Istoé 0 que não resolveu cristo mas temos
Esteponto António, que hoje celebramos',
fazer? Santo
há de grande e
do tomou. pregava Santo António
santo em Itália
que nenhum na
gloriosa
resolução,
eram muitos; e como erros de entendimento
e
os Hereges,que nela
Arimino,contra fazia fruto 0
Santo, mas chegou 0
levantar c
vida. Que faria neste caso o ânimo
25 tirassem a generoso
lhe não
para que
faltoupouco como cristo aconselha em outro lugar? Mas António
Sacudiria pó dos sapatos,
António? esta protestação,
e uns pés, a que se não pegou
nada da
não podia fazer
pés descalços Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo
que sacudir.Que faria logo?
tinham prudência, ou a covardia humana; mas o zelo da glóriadi .
porventura a
Isso ensinaria
30 po? a semelhantes paftidos. Pois que fez?
Mudou
não se rendeu
naquele peito, _
que ardia doutrina. Deixa as praças, vai-se às
mas não desistiu da praias, deixa
púlpito,e o auditório, vozes: "Já que me não querem ouvir os homens,
e começa a dizer a altas
vai-seao mar, criou o mar, e a terra!
alto Altíssimo! Oh poderes do que
3 em alto lugar, em maravilhas do Começam
os peixes".Oh os pequenos, e
conceito: 4 0 sermão foi os grandes, os maiores,
a concorrer os peixes, postos todos
celebrado no dia 13 de junho 35 ver as ondas, começam pregava, e eles ouviam.
cabeças de fora da água, António
de 1654: 5 'o são': o efeito porsua ordemcom as
salutar do sal contra a de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vosestissal
Se a Igreja querque preguemos
corrupção, portanto, o efeito Santos Doutores; mas para SantoAntóniovem-lhemuit0
terrae:émuitobomtexto para os outros
da doutrina.
Doutores da Igreja foram sal da terra, Santo António foi sal da terra,e foi
curto. Os outros Santos
eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido
40 saldo mar. Esteé o assunto,que

no pensamentoque nas festas dos Santos é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto
@auladigital
mais, que o sa15da minha doutrina, qualquer que ele seja, tem tido nesta terra uma fortuna
a Síntese: Guia de estudo
'Sermão de Santo António': parecidaà de SantoAntónioem Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho
Exórdio
pregadonestaIgreja,e noutrasde manhã, e de tarde, de dia, e de noite, sempre com doutñna
45 muito clara,muito sólida,muito verdadeira, e a que mais necessária, e importante é a esta terra,
paraemenda,e reformados vícios,que a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina,
e se a terratem tomadoo sal,ou se tem tomado dele, vós o sabeis, e eu por vós o sinto.
Isto suposto,quero hoje à imitação de Santo António
voltar-me da terra ao mar, e já que os
mens se não aproveitam,pregar aos peixes.
O mar está tão perto, que bem me ouvirão. Os demais
podemdeixaro Sermão,pois não é
para eles. Maria quer dizer Domina mañs: "Senhora do maúe
postoqueo assuntosejatão
desusado,espero que me não falte com
a costumada graça. AveMau

O Identifique
os interlocutores
do Padre António Vieira.
1.1 Transcrevaa frase
que constitui o
conceito predicável.

conceitopredicávei
é um
fantásticadeum processo retórico da oratória barroca
passo que consiste na interpre-
próximasoudissemelhantes,das Sagradas Escrituras,
e devidamente com base em associações de ideias
confirmada.Os sermões
de António fundamentados por uma autoridade teológica
Vieira são o
melhor exemplo desta prática oratória•
Ceia.
O Explicite E-dicionáriode termos literários,Carlos
a
30 pela qual
Vieira atribui
aos Pregadores
a qualidade de "sal".
"Sermão de Santo António"

O Explique o sentido da expressão "Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não
tendo em conta o valor metafórico dos vocábulos "sal" e "salgar"
deixa salgar" (11.4-5),
3.1 Interprete o valor expressivo dessa repetição.

O Preencha a tabela, indicandoas causas da corrupção e as soluções propostas, con-


siderando os Pregadores e os ouvintes.

Causas da corrupção/degradação
Atribuídas aos Pregadores Atribuídas aos ouvintes
1. Não pregam a verdadeira doutrina.

2. B.

3. C.

Soluções propostas pelo orador


Relativamente aos Pregadores Relativamente aos ouvintes
4. D.

O Releia os parágrafos 2 e 3 (11.12-36)


e esclareça a intenção do contraste estabelecido
entre os Pregadores e Santo António.

O Explicite o valor expressivo do recurso ao paralelismo/simetria sintética, morfológi-


ca e rítmica, no segmento "Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao
mar" (11.32-33).

NOTA BEM

Paralelismo é um recurso expressivo que consiste na repetição de um segmento frásico


de construção semelhante e de extensão similar, mas com variação lexical.

O Identifique o destinatário da apóstrofe presente no último parágrafo, interpretando o


seu sentido.

O Comprove a natureza argumentativa do texto, referindo a tese defendida, os argu-


mentos usados e a intenção do orador.

GRAMÁTICA Bloco informativo I p. 338,333,354.

O Classifique as orações sublinhadas:


1.1 aque hoie celebramos, e a mais galharda, e gloriosa resolução, que nenhum Santo
tomou" (IL 22-23)
1.2 -espero que me não falte com a costumada qraça " (1.51)

O Refira a função sintética desempenhada pelos elementos sublinhados:


2.1 -ouçam-me os peixes" (IL33-34)
2.2 "começam a concorrer os peixes, os qrandes, os maiores,
os pequenos" (1.35)
O Identifique o antecedente do pronome pessoal em "vós
g sabeis, e eu por vós o sinto"
(1.47).

31
Vieira
Padre António
I

OPINIÃO
ARTIGO DE
LEITURA

atentamente.
Leia o texto 65

Dever de
solidariedade 70

atentadosdo II de Se-
s dramáticos manifestações de
tembro originaram mundial e
repúdio à escala 75
veemente
intensa coopera-
desencadearamuma se
internacional,na qual Portugal
ção primor-
5 hora, e cujo objetivo
primeira
integrou desde a a garantir
contra o terrorismo por forma
dial era a luta
internacional duradoura.
uma segurança ha-
aos ataques do II de Setembro,
Mas, subjacentes sejam o de ati-
políticos e ideológicos, como
10 via objetivos que, a
o Ocidentee o Islão,
çar a discórdia e o ódio entre
natureza não
milhões de pessoas, agravando as suas condições
de
resposta forte de
meu ver, exigiam uma
lançada vida e exacerbando a sua vulnerabilidade —especialmen-
Civilizações,
militar.A iniciativada Aliança das 40 te das crianças, mulheres e idosos —ou originandomo-
2006, era, a meu ver, a resposta
pelas Nações Unidas em cultu- vimentos maciços de populações que ficam à mercêde
diálogo de civilizações, uma
15 certa para promover o e redes criminosas de toda a espécie.
conhecimento e respeito mútuos
ra da tolerância, do As novas crises que surgem e que nos sãopresen-
os povos com base no
uma coexistência pacífica entre
dos direitos humanos. tes através de imagens avassaladoras queos media
direito internacional e na proteção
sublinhar é que 45 disponibilizam praticamente em tempo real nãopodem
De qualquer forma, o que pretendo
XXI nos trou- ter o efeito pernicioso de fazer esquecer crises mais
20as duas primeiras décadas deste século
xeram já matéria de sobra para reflexão urgente.
antigas e prolongadas ou conflitos enquistados,fre-
Há urgência em dar resposta aos desafios de longo quentementeapelidados de "congelados". Nãopode-
prazo que são comuns a toda a Humanidade, quer seja mos responder às crises humanitárias ao saborde
no plano das alterações climáticas, da revolução digi- 50 modas ou ignorá-las por razões de cansaço, enfadoou
25 tal, dos desequilíbrios mundiais, das desigualdades ou indiferença.A crise síria, no Iémen, no Haiti,noTigray,
da instabilidade e conflitualidade crescentes em cer- no Sudão, no Sudão do Sul, na Somália, em CaboDel-
ape-
tas regiõesque ameaçam a paz global. Há, pois, ur- gado ou a atual situação no Afeganistão, para citar
gência em forjar novos consensos para promover um nas alguns exemplos, atingem homens, mulheres,
processode desenvolvimentosustentável, mais equi-
55 jovense crianças com a mesma gravidade, igualforça
30tativo e mais solidário. Há ainda no
urgência em relançar e idêntica desesperança. Importa intervir sempre
a confiançana cooperação
multilateral, nos proces- humanidade,
sos de diálogo, mediação, completorespeito pelos princípios da
concertação e negociação, subja-
na diplomaciapreventiva. neutralidade,independência e imparcialidade,
Há depois urgência em
bilizar mais esforços para mo- centes à atuação humanitária, seja em que domínio,
uma atuação concertada, in-
sobretudo
emcontextohumanitário. 60 setor ou local se trate, sob pena de desacreditare
Nãopodemosignorar viabilizar os propósitos pretendidos.
que o século XXI e resultados
cadoporsucessivas tem sido mar-
crises humanitárias 0 programa de bolsas de estudo para estudantes
que atingem
rios, com o objetivode contribuir para dar respostaà
32
"Sermão de Santo António"

emergência académica que o conflito na Síria criara, conflitos e crises humanitárias que carecem de prote-
65 deixando milhares de jovens para trás sem acesso à ção e que só buscam poder seguir em frente no encalço
educação, foi lançado em 2013 pela Plataforma Global dos seus sonhos. A experiência que reunimos nos últi-
para os Estudantes Sírios, a que tenho a honra e o gosto 85 mos sete anos com a integração de estudantes sírios
de presidir, inscrevendo-se neste contexto humanitário. tem mostrado o quanto esta tem sido duplamente be-
Entretanto, a Plataforma foi alargando o seu âmbito de néfica, não só para os estudantes, que assim encon-
70 atuação para além da crise síria, e hoje trabalha na cria- tram um horizonte de futuro para as suas vidas, como
ção de um Mecanismo de Resposta Rápida para o Ensino para as comunidades de acolhimento que desta forma
Superior nas Emergências (RRM). Neste contexto, está 90 se renovam,dinamizame reforçamo seu potencial
agora a ser preparado, para além de um reforço do pro- criativo, produtivo e de inovação. E mesmo que assim
grama de bolsas para estudantes sírios, libaneses e ou- não fosse, nunca seria de mais recordar que a solida-
75 tros, um programa de emergência de bolsas de estudo riedade não é facultativa, mas um dever que resulta do
e de oportunidades académicas para jovens afegãs. artigo 1.0 da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Aproveito, assim, esta tribuna para lançar um apelo 95 —Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
a todos os parceiros da Plataforma para que colaborem dignidade e em direitos. Dotados de razão e de cons-
sempre mais connosco, e disponibilizem apoios, opor- ciência, devem agir uns para com os outros em espírito
80 tunidades académicas e profissionais, estágios e vagas de fraternidade. Façamos uma vez mais prova de que
para estes jovens oriundos de sociedades atingidas por sabemos estar à altura das nossas responsabilidades.

Jorge Sampaio, in Público, 26 de agosto de 2021


.com supressões).

O Selecione a opção que completa adequadamente cada afirmação.


1.1 A referência aos ataques do 11 de setembro nos EUA justifica-se
A. por ser um acontecimento que mobilizou vários países na luta contra o terro-
rismo.
B. porque foi a primeira grande manifestação de ódio entre o Ocidente e o Islão.
c. O pela urgência de se refletir sobre questões que afetam toda a Humanidade.
D. O porque a partir daí colocaram-se questões de segurança internacional.
1.2 Jorge Sampaio considera que
A. a prioridade é dar resposta às novas crises humanitárias, mais do que aten-
tar nos problemas internacionais que vêm de há muito.
B. 00 aparecimento de novas crises não pode pôr em causa a resolução dos
conflitos antigos que permanecem sem resposta.
c. Ose deve priorizar a atuação humanitária no sentido de responder aos confli-
tos que atingem crianças e jovens.
D. 0a ausência de cooperação internacional tem originado vários conflitos em
diversas partes do mundo.
1.3 0 principal objetivo do presente artigo é
A. divulgar o programa de bolsas de estudo para estudantes sírios.
B. apelar à solidariedade dos colaboradores da Plataforma, lembrando-lhes a
sua responsabilidade cívica.
c. demonstrar os bons resultados de anos de trabalho, quer para os estudantes
quer para aqueles que os acolheram.
D. não deixar cair no esquecimento a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

33
Vieira
Padre António
exemplaridade
figurativo e
Discurso
de Santo António, não só
pregar seguindo o exemplo por ter sido
Vieirapropõe-se por ser um modelo do comportamento 2
sobretudo
pregação,mas queo
santona sua
ouvintes, constituindo-se, assim, como um argumento
aos de
pretendeapresentar aos peixes, Vieira denuncia os pecados da humanidade,
Simulandodirigir-se que estão ausentes nos homens
por possuírem qualidades quer
giandoos peixes defeitos dos homens.
com os
que coincidem
os seus vícios, para uma análise do 'Sermão
Susana Soares, "Contributos de
CristinaMacárioLopes e Científico-Pedagógicas de Português, ILLP,
Ana Jornadas FLUC,
Atas das 111
aos peixes'",in

EDUCAÇÃOLITERÁRIA
az SENTIDO
bem
0 sal foi sempre um
precioso:a palavra salário Capítulo II
35
surgiu a partir da porção
de sal que era dada como
pagamentoaos soldados
Louvoresaos peixes em geral
Fato 3
na Roma antiga. De facto, pior auditório. Ao menos
Nunca
Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? têm os
ao descobrirem que o
sal, além de ajudar na de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera descon.
peixes duas boas qualidades
cicatrização, servia para não há-de converter.
conservar e dar sabor solaro Pregador,que é serem gente os peixes que se
à comida,os romanos Vosestissalterrae.Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós,ten
passaram a considerá-lo
5 duaspropriedades,as quais em vós mesmos se experimentam: conservar o sãol, e
um alimento divino.
In https://ncultura.pt -Io, para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as pregações dovosso
(adaptado) PregadorSantoAntónio,como também as devem ter as de todos os Pregadores. Uma élouva:
o bem,outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar, e repreender o mal, parapre•
servar dele. [...]Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso
Sermãoem dois pontos:no primeiro louvar-vos-ei as vossas virtudes, no segundo repreen•
der-vos-eios vossos vícios. E desta maneira satisfaremos às obrigações do sal, que melhorvos
está ouvi-lasvivos, que experimentá-las depois
de mortos. [...]
Vindopois,irmãos,às vossas virtudes, que a
são as que só podem dar o verdadeiro louvor,
primeiraque se me ofereceaos olhos
hoje, é aquela obediência, com que chamados acudistes
15 todospelahonra de
vosso Criador e Senhor, e aquela
ordem, quietaçã02 e atenção comque
ouvistes a palavra de
Deus da boca do
seu servo António. Oh louvor verdadeiramente
para os peixes,e grande
grande afronta e
confusão para os
homens! Os homens perseguindo aAntóni0'

1 aquiloque
está em bom
estado, que é
saudável; 2 tranquilidade;
3 aos desejos.
Se Szto

querendo-o lançar da terra, e ainda do mundo, se pudessem, porque lhes repreendia seus vícios,
porque lhes não queria falar à vontade 3 e condescender com seus erros; e ao mesmo tempo
20 os peixes em inumerável concurso acudindo à sua voz, atentos, e suspensos às suas palavras,
frente aos
escutando com silêncio, e com sinais de admiração, e assenso (como se tivessem entendi-
mento) o que não entendiam. Quem olhasse neste passo para o mar, e para a terra,e visse na 08 32
terra os homens tão furiosos, e obstinados, e no mar os peixes tão quietos, e tão devotos, que
havia de dizer? Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e
25 oshomens não em peixes,mas em feras. Aos homens deu Deususoderazão,enàoaospeixes:
mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso sem a razão. Muito
louvor mereceis, peixes, por este respeito e devoção, que tivestes aos Pregadores da palavra
de Deus, e tanto mais não foi só esta a vez em que assim o fizestes. Ia Jonas, pregador do
mesmo Deus embarcado em um navio quando se levantou aquela grande tempestade; e como
30 0 trataram os homens, como o trataram os peixes? Os homens lançaram-no ao mar a ser
comido dos peixes, e o peixe, que o comeu, levou-o às praias de Nínive, para que lá pregasse,
e salvasse aqueles homens. É possível que os peixes ajudam à salvação dos homens, e os
homens lançam ao mar os ministros da salvação? Vede, peixes, e não vos venha vanglória,
quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para lançar Jonas ao
35 mar, e o peixe recolheu nas estranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.

O Complete, no seu caderno, a seguinte tabela.

Propriedades do sal Características das Justificação da estrutura


pregações do Santo do sermão
a. c.
e.
b. d.

Enumere as virtudes dos peixes, enunciadas pelo orador.

O Explicite a crítica que Vieira dirige aos homens, a partir dos exemplos apresentados.

O Esclareça a intencionalidade do uso da interrogação retórica e do jogo de palavras,


no final do excerto.

ORALIDADE COMPREENSÃO

O Visione uma reportagem


que retrata exemplos de solidariedade, perante
a violação dos direitos humanos na atualidade.

Leia as afirmações e registe notas que lhe


permitam responder-lhes.
*Portugal na unha da frente do
apoio aos refugidos', LUSA
1.1 Problemas que levaram estes refugiados
a sair do seu país.
1.2 Aspetos positivos do acolhimento em Portugal.
1.3 Dificuldades que os refugiados enfrentam no nosso país.
1.4 Avanços de Portugal no acolhimento aos refugiados desde 2014.
1.5 Possíveis soluções para melhorar estes programas.
1.6 Evidências do empenhamento do país na integração e acolhimento dos refugiados.
Vieira
padre António
ANTECIPAR SENTIDOS

Alegoria
construir 0 seu sermão como uma alegoria, constrói como
[...] Vieira,ao
20
auditório real é constituído por seres
que 0 seu
cio os peixes,sendo e se pretende alterar. Assim,
humanos,
exerce-se
auladigital se condena
cujocomportamento
Síntese: Guia de estudo Ao criar uma imagem positiva dos alocutáriosl
'Sermão de Santo António": crítica social contundente. alegóricos
Louvores aos peixes reforça a imagem negativa dos seus verdadeiros alocutários, uma vez '010,25
a Animação: O que é uma cutor que,apesar
os primeiros um conjunto de defeitos, expostos ao longo
metáfora? partilharemcom do sermão
Gramática/Atividade:
não são capazes de ouvir (nem de aceitar) a crítica desses
Orações subordinadas alocutáriosreais defeitos.
D
adjetivas relativas; Orações assumem uma superioridade moral relativamente aos
subordinadasadverbiais modo,os peixes homens, uma
este

condicionais sabem ouvir e aceitam ser alvo de crítica. [...]


que
e Susana Soares, "Contributos para uma análise do 'Sermão de
Ana Cristina MacárioLopes Santo
1 destinatários; ouvintes. Jornadas Científico-Pedagógicas de Português, ILLP, FLUC, 2008
aos Peixes'",in Atas das III

EDUCAÇÃOLITERÁRIA

Capítulo III
1 um pouco de fel:
2 traje usado por um frade
Louvores aos peixes em particular
franciscano. O peixe de Tobias
Descendoao particular,infinita matéria fora, se houvera de discorrer pelas virtudes,deque
o Autor da Natureza a dotou, e fez admirável em cada um de vós. De alguns somentefarei
menção.E o que tem o primeiro lugar entre todos, como tão celebrado na Escritura, é aquele
Santo Peixe de Tobias, a quem o Texto Sagrado não dá outro nome, que de grande, comoverda•
5 deiramente o foi nas virtudes interiores, em que só consiste a verdadeira grandeza. IaTobias
caminhandocom o Anjo São Rafael, que o acompanhava, e descendo a lavar os pés dopódo
caminho nas margens de um rio: eis que o investe um grande Peixe com a boca aberta,emação
de que o queria tragar. Gritou Tobias assombrado, mas o Anjo lhe disse que pegasse no Peixe
pela barbatana, e o arrastasse para terra, que o abrisse, e lhe tirasse as entranhas, e as guardas•
10 se, porque lhe haviam de servir muito. Fê-lo assim Tobias, e perguntando que virtude finham
as entranhas daquele Peixe, que lhe mandara guardar, respondeu o Anjo que o fel era bompara
sarar da cegueira, e o coração para lançar e assim
fora os Demónios [...]. Assim o disse o Anjo,
o mostrou logo a experiência, porque Olhos
sendo o Pai de Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos
um pequenodo fel' , cobrou
inteiramente a vista; e tendo um Demónio chamado Asmodeu
15 morto sete maridos a do
Sara, casou com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte
ção, fugiu dali o a
Demónio, e nunca mais tornou. Peixe tirou
De sorte, que o fel daquele
ra a Tobias o velho, e tão
lançou fora os Demónios de
casa a Tobias o moço. Um Peixe de
coração,e de tão proveitoso peixe o
fel, quem o não louvará muito? Certo
que se a este

36
"Sermão de Santo António"

de burel,2e o ataram com uma corda, pareceria um retrato marítimo de Santo António. [...]Ah
20 homens, se houvesse um Anjo que vos revelasse qual é o coração desse homem, e esse fel, que
tanto vos amarga, quão proveitoso, e quão necessário vos é! Se vós lhe abrísseis esse peito, e lhe
vísseis as entranhas, como é certo que havíeis de achar, e conhecer claramente nelas que só
duas coisas pretende de vós, e convosco: uma é alumiar, e curar vossas cegueiras; e outra lan-
çar-vos os Demónios fora de casa. Pois a quem vos quer tirar as cegueiras, a quem vos quer livrar
25 dos Demónios, perseguis vós? Só uma diferença havia entre Santo António, e aquele Peixe: que
o Peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não

queriam lavar. Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! Abri,
abri estas entranhas; vede, vede este coração. Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não vos
prego a vós, prego aos peixes.

O Esclareça de que forma a progressão lógica do sermão se concretiza neste capítulo.

O Identifiqueas virtudes associadas ao peixe de Tobias.

O Explique a comparação com Santo António, explicitando a sua intencionalidade.

O Demonstre que a referência a Santo António contribui para uma leitura alegórica.

O Identifique os recursos expressivos que os exemplos ilustram, interpretandoo seu


valor.
a. "Pois a quem vos quer tirar as cegueiras, a quem vos quer livrar dos Demónios,
perseguis vós?" (11.24-25)
b. "Só uma diferença havia entre Santo António, e aquele Peixe: que o Peixe abriu
a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não
queriam lavar." (11.25-27)
c. "Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! Abri,
abri estas entranhas; vede, vede este coração. Mas ah sim, que me não lembrava!
Eu não vos prego a vós, prego aos peixes." (11.27-29)

GRAMÁTICA Bloco informativo I pp.338,357.

O Classifique as orações sublinhadas.


a. "Descendo ao particular, infinita matéria fora, se houvera de discorrer pelas virtu-
des, de que o Autor da Natureza a dotou" (11.1-2)
b. "Ia Tobias caminhando com o Anjo São Rafael, que o acompanhava, e descendo
a
lavar os pés do pó do caminho nas margens de um rio" (11.5-7)

O Indique o valor lógico dos conectores sublinhados, justificando a resposta.


a. "GritouTobias assombrado, mas o Anjo lhe disse Age pegasse no Peixe
pela barba-
tana" (11.8-9).

37
Vieira LITERÁRIA
António Ão
padre EDUCA
Capítulo III
auladigital Rémora
Gramática/Atividade:
g
quem haverá que não
História natural,
fala
Atos de
0 que é
uma
aos da louve,
g Animação: Oque é uma Escritura dia de um Santo Menor2,
da No os peixes
passandodos celebradada Rémora?
metáfora?;
comparação?
que não admire a virtude
virtudetão haverá, digo, daquele
Santo
•Sermá0 de
a Quiz: muitoa outros. Quem
no poder, que não sendo
António' 2 aos força, e maior de um
devempreferir e tão grande na e dos ventos,
no corpo, apesar das velas, e de seu
tãopequeno Nau da Índia,
de uma âncoras, sem se poder
se pegaao leme mais, que as mesmas mover,
5 se e amarra tivesse tanta força como
a prende, na terra, que a do
e grandeza, houvera uma Rémora
oh se naufrágios no mundo! se alguma Rémora,que
pordiante? vida, e que menos
haveria na como na Rémora se verifica 0
menosperigos santo António, na qual
a língua de
ve na terra,foi est, sed viribus omnia vincit3. O Apóstolo
Lingua quidemparva
Nazianzeno: a língua ao leme da Nau, e ao freio do
IO Gregório Epístola4 compara
eloquentíssima a virtude da
naquelasua declaram maravilhosamente Rémora, a qua]
comparação juntas
Uma, e outra do leme. E tal foi a virtude, e força da
Nau, e leme
ao leme da Nau é freio da o Piloto
pegada humana é o alvedrios, é a razão: mas
António. O leme da natureza quão
de Santo ímpetos precipitados do alvedrio? Neste leme porém
à razão os
poucasvezes obedecem
língua de António quanta força tinha, como Rémora,para
desobediente, e rebeldemostrou a
Fortuna na Nau Soberbacom
parara fúria das paixõeshumanas. Quantos correndo
T domar, e
também é vento) se iam desfazer nos
e da mesma soberba (que
as velas inchadas do vento,
se a língua de António como Rémora não tivessemão
baixos,quejá rebentavampor proa,
amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestadede
20 no leme, até que as velas se
Vingança com a artilharia
fora, e a de dentro?Quantos embarcados na Nau abocada,e os
bota-fogosacesos,corriamenfunados a dar-se batalha, onde se queimariam, ou deitariama
pique,se a Rémorada língua de António lhes não detivesse a fúria, até que compostaa ira,
e ódio, com bandeiras de paz se salvassem amigavelmente? Quantos navegando na Nau
25 Cobiçasobrecarregadaaté às gáveas, e aberta com o peso por todas as costuras, incapazde
fugir,nemse defender,dariam nas mãos dos Corsários com perda do que levavam, e doque
iam buscar,se a língua de António os não fizesse parar, como Rémora, até que, aliviadosda
cargainjusta,escapassemdo perigo, e tomassem porto?
Quantos na Nau Sensualidade, que
semprenavegacom cerraçã06,sem Sol de
dia, nem Estrela de noite, enganados do cantodas
30 Sereias,e deixando-selevar
da corrente, se iriam perder cegamente, ou em Cila, ou em
Caríbdis7,onde não
aparecesse Navio, nem
navegante,
se a Rémora da língua de António os
nãocontivesse,até que
esclarecessea luz, e se
vossograndePregador, pusessem em via? Esta é a língua, peixes,do
que tambémfoi Rémora
estámuda(posto vossa, enquanto o ouvistes; e porqueagora
queainda se conserva
inteira)8 se veem, e choram na terra tantos naufrágios

I peixecujas
estranhas propriedades
quefuncionou aparecemrelatadas livro
comouma na História Natural de Plínio, o velho (séc. I d.
3S. Gregório enciclopédia,no mundo
antigo; 2 a Ordem de menor;
4 Epístolade (notadoautor), S. Francisco era uma ordem
S. Tiago,3, trad.: "Na força
verdade a língua é
e canbdis 3-5B; 5 resolução
e pequena, mas vence tudo em
Itália: existe personificam,corno determinação da
vontade, arbítrio; 6 nevoeiro; 7 na mitologia em
como relíquia monstros
marinhos, os Messina,
0 estreito de
na Basílica promontórios que delimitam
-e de santo
António de
Pádua.
38
O Explique a intenção de Vieira ao evocar a Rémora.
explicando a
O Identifiqueos argumentos de autoridade de que o Pregador se socorre,
sua funcionalidade no discurso.

NOTA BEM
alguém re-
Argumento de autoridade é o recurso a citações ou a exemplos de ações de
bíblicas) de forma
conhecido social ou religiosamente (citando-se, por vezes, passagens
a conseguir a adesão do auditório.

O Justifique a referência a Santo António,neste momentoespecífico.

O Complete o esquema, identificandoos recursos expressivos.


4.1 Explicite o valor de cada um deles.

[...]?
• Quantos,correndo [...] na Nau Soberba [...] se a língua de António, como Rémora,
[...]?
• Quantos, embarcados na Nau Vingança, [...] se a Rémora da línqua de António

• Quantos, navegando na Nau Cobiça, [...] se a língua de António como Rémora [...]?

línqua de António [...]?"


• Quantos, na Nau Sensualidade, [...] enganados [...] se a Rémora da

"Nau Soberba... "a Rémora da


"Quantos... "como Rémora..."
Nau Vingança..." língua de António"
Quantos..."

b. c. d.

GRAMÁTICA Bloco informativo I pp. 324, 333, 338, 352.

segmento "se se
O Distinga, quantoà classe de palavras, os vocábulos sublinhadosno
pega ao leme de uma Nau da índia"(1.5).

Refira as funções sintéticas desempenhadaspelos constituintes sublinhados:


"Uma, e outra comparação juntas declaram maravilhosamente a virtude da Rémora,
a qual pegada ao leme da Nau é freio da Nau, e leme do leme." (II.12-13)

O Classifique as orações sublinhadas:


a. "Se alquma Rémora houve na terra, foi a língua de Santo António"(11.8-9)
b. "Esta é a língua, peixes, do vosso grande Pregador, que também foi Rémora vossa,
enquanto o ouvistes" (11.32-33)

O Refira o ato ilocutório configurado em "O Apóstolo Santiago naquela sua eloquentís-
sima Epístola compara a língua ao leme da Nau, e ao freio do cavalo." (11.10-11).
Vieira LITERÁRIA
António Ã0 III
padre EDUCA Capítulo

e Quatro-olhos
Torpedo
virtude vossa passemos ao louvor,
grande
tão
de uma qualidade daqueloutro peixezinho
4'. admiração a
igualmente
que da
para admirável
é
com a cana na mão, o anzol no
fundo
Mas pescador
menor, Está o a lhe tremer o braço. %
começa Pode
de outra Torpedol.
o
Torpedo,
chamaram na isca momento passa a
tinos picando
maneira
que num
em lhe De
água, efeito?
sobrea admirável à cana e da cana, ao braço do
mais linha, da linha
breve,e anzol à referir com inveja. Quem
5 mais anzol,do havia de dera aos
louvor o
zinho, este vosso tremente, em tudo o
disseque esta qualidade que
pusera
quem lhe
muita ou muito: o que me espanta é que pesquem
nosso
elemento,
me espanto do
resdo mas não No mar
pescam, pouco tremer? pescam as
Muitos pescar, e tão
terra'. Tanto ginetas, pescam as bengalas,
varas), pescam as
pouco.
que
tremam sorte de
IO e (e tanta
as varas mais que todos, porque pescam Cidades,
terrapescam, pescam, e pescam
e atéos cetros os homens
coisas de tanto peso lhes não trema
os pescando
possívelque António,
inteiros.Poisé de Santo eu os fizera
a língua
homens, e tivera
pregara aos
se eu e virtudes dos peixes com um, que não sei
o braço?
discurso dos louvores,
15 Queroacabareste a pregar.
dele
[...]Navegando daqui para o Pará
e aprendeu
Santo António,
ouvinte de correr pela tona da água de quando
nossa costa),vi
de foraos peixesda
bem não fiquem que não conhecia; e como me dissessem
cardume de peixinhos,
um
quando a saltos
quis averiguar ocularmente a razão deste
lhechamavam "Quatro-olhos",
Portugueses
em tudo cabais, e perfeitos.
verdadeiramente têm quatro olhos,
20 acheique
Providência, notei que aqueles quatro olhos
causa natural desta
Filosofandopois sobre a
unidos como os dois vidros de un
lugar ordinário,e cada par deles
lançadosum pouco forado
olham direitamente para cima, e osà
em talforma, que os da parte superior
de areia,
relógio
[E] como têm inimigos no mar, e inimigos no ar,
parte inferiordireitamente para baixo.

e deu-lhes dois olhos, que


25 -lhesa Natureza as sentinelas, direitamente olhassem para cima, para*

vigiaremdas aves,e outrosdois,que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dospé

xes.
0h que bem informaraestesquatro olhos uma Alma racional, e que bem empregada foraneles

melhor que em muitos homens! Esta é a pregação, peixezinho, ensinando•me


que me fez aquele
que se tenho Fé,e uso da razão, só parabaiiü
devo olhar direitamente para cima, e só direitamente
30 para cima,
considerando que há Céu, e para baixo,
lembrando-me que há Inferno.

1hojeditotremelga,
peixequeproduzdescargas
basteseramas insígnias, elétricas com as quais se defende; 2 varas, ginetas, bengalas?
respetivamente,
dos cargos de juiz, capitão, mestre de campo e do posto designado

O complete
a tabela,
identificandoos
elementos solicitados.
Peixe
Virtudes atribuídas
Torpedo Sentido da alegoria
a.
Quatro-olhos 1.
b.
-i 40
2.
"Sermão de Santo António"

O Esclareça o sentido da reflexão "Muitos pescam, mas não me espanto do muito: o que
me espanta é que pesquem tanto, e que tremam tão pouco. Tanto pescar, e tão pouco A auladigital
tremer?" (11.9-10). a Áudio: Posto Emissor, "Da
paixão pela palavra à defesa
dos direitos humanos", Blitz
—Expresso (11min 22 s)
ORALIDADE COMPREENSÃO BLITZ a Teste interativo: "Sermãode
Stereo Santo António": Os louvores

O Ouça um excerto do podcast Posto Emissor, Blitz —Ex-


presso: "Da paixão pela palavra à defesa dos direitos
humanos". Tome notas que lhe permitam responder às
questões.

Posto Emissor, Blitz -


Expresso

O Assinale comoverdadeiras ou falsas as afirmações. Corrija as falsas.


2.1 Rodrigo Guedes de Carvalho é da opinião que
A. a música é uma linguagem universal, o que não acontece com a escrita,
pois
esta pode ser uma barreira linguística.
B. O a escrita e a música têm uma característica comum, o imediatismo
—é possí-
vel abrir um livro em qualquer página e saber se vai ou não agradar, tal como
acontece com os primeiros acordes de uma música.
c. O "há demasiados ditos artistas, mas poucas obras de arte",
porque nem todos
veem o seu talento reconhecido.
D. C) a base do trabalho que desenvolve como escritor é a língua; já como
jornalista,
mais importante do que escrever bem é improvisar bem.
E. o jornalismo tem como função alertar, denunciar situações de
violência, de
injustiça, de violação dos direitos humanos, por isso, o jornalista
não deve ser
independente.

ORALIDADE EXPRESSÃO

Numa breve exposição oral, reflita sobre a ação do Padre António


em prol da defesa dos direitos humanos e estabeleça Vieira
um paralelismo com o papel que vem
sendo desempenhado por alguns jomalistas e meios de
comunicação social na atualidade.
Planifique a sua apresentação, contemplando os
seguintes momentos:
• Introdução: explicitação da ação do Padre António
Vieira na defesa dos índios e na
oposição à Inquisição.
• Desenvolvimento:referência a programas
ou conteúdos explorados pelos meios
de comunicação social atuais na defesa dos
direitos humanos e na denúncia de
injustiças.
• Conclusão: síntese adequada ao
raciocínio desenvolvido.
Preste atenção:
—à utilização de uma linguagem correta,
clara e objetiva;
—ao encadeamento lógico dos tópicos
tratados;
- à postura, tom de voz, articulação
das palavras, ritmo, entoação
e expressividade
ESCRITA

texto de APRECIAÇÃO CRÍTICA


FAZ SENTIDO como escrever um
Velázqueztinha crítica é um género textual que
ascendênciaportuguesa 0 textode apreciação apresenta
comentáriocrítico sobre o objeto
pelo lado paterno (pai e sucintadoobjetoe um em causa
avô nascidos na cidade
do porto), daí que tenha Este género textual:
batizado esta pintura
como Las Meninas e não
• apresentaum conteúdoinformativo e inclui apreciações
pessoais •
"Las Chicas" ou *Las • recorreà argumentaçãoe respetiva exemplificação para
Niñas".
e influenciaro público leitor: fundamentar
-
• utilizauma linguagemvalorativa (de polaridade ne
gativa ou
• apresentauma estrutura tripartida: positiva)
Introdução:
apresentasucintamente o objeto
Desenvolvimento
- ostentainformaçõessobre o
conteúdo, s obre
tras do objeto em análise) as
características
- apresentacomentário(s)
crítico(s) (físicas
auladigital - incluiargumentos valorativo(s)
que sustentam
a Animação: a opinião
critica
A apreciação Conclusão crítica
- sintetiza
a informaçãomais
importante,
reforçando a
O Atentena opinião
pinturaAs me- evidenciada
ninas, do
pintor espanhol
Velázquez,
pertencente ao
período
barroco. De
da, leia a segui-
apreciação
proposta. crítica

j/
lii

111

velázquez,
As
meninas
(1656)
A arte do retrato
quadro "Asmeninas", talvez o primeiro exemplo de pintura realista 1.0 parágrafo
de sempre, representa um retrato de família, donde sobressaem a Introdução
• descrição sucinta do objeto e
Infanta Margarida que ocupa o centro da composição, ladeada por justificação do título da obra:
duas damas de honor que são "As meninas". "As meninas"; "sobressaem
5 A princesa parece levitar sob a aura dum feixe intenso de luz que a Infanta Margarida... duas
damas de honor".
transpõe uma portada lateral. Ao iluminar todo o espaço cénico anterior, recria com os
vários degradésde sombras e cor um verdadeiro trompe-l'@il1, dando a sensação para- 2.0 e 3.0 parágrafos
doxal de movimento pendente. A tela impõe-se ao olhar do observador pela sua energia Progressão textual
intrínseca, aliada à atmosfera de meia-luz e pouca luminosidade. As feições do rei e da • Apreciação crítica positiva/
discurso valorativo/ ponto
10 rainha de Espanha surgem refletidas num espelho, produzindo um efeito invulgar
de vista pessoal: ("os vários
ilusório da realidade. degradés de sombras e cor
Velázquez, ao utilizaros vários castanhos da Andaluzia, mais os ocres e magentas
da um verdadeiro trompe-lail,"•,
meseta ibéñca, com os azuis venezianos e o claro-escuro de Caravaggio, produz uma rela- "sua energia intrínseca",
"efeito invulgar ilusório da
ção simbiótica2entre as tintas e a tela, com uma utilização peculiar dos pincéis, sem esque-
realidade"; "utilização peculiar
15 ceropredomíniodagamalarga dos eternos cinzentos. É esta marca demestrequetornaa dos pincéis"; "pintura tão
sua pintura tão intemporal como eterna. A pincelada rápida e solta, aparentemente impre- intemporal como eterna".
cisa, à base de manchas e pequenos toques de cor e de luz domina a composição.
4.0 parágrafo
"As meninas" é considerada uma das maiores obras-primas de todos os tempos, e Conclusão
Velázquez um dos representantes máximos da pintura. Ao aplicar o óleo através de • Reconhecimento do valor e
20 retoques de cor, é considerado como precursor do impressionismo de Degas, Claude mérito da pintura e do seu
autor.
Monet, Auguste Renoir, Vincent van Gogh e outros,da segunda metade do século XIX.

In "A arte do retrato n'As meninas de Velázquez", João-Maria Nabais,


Revista da Faculdade de Letras Ciências e Técnicas do Património, I Série, Vol. V-VI,
Porto, 2007,
pp. 363-389, adaptado e com supressões (consultado in https://tv.up.pt, em
outubro de 2021). 1 pintura que dá a ilusão da
realidade; 2 íntima.

Redija um texto de apreciação crítica de um filme ou de uma peça de


teatro, com 150
a 200 palavras, atentando nas seguintes orientações.
• Planifique o seu texto, atendendo aos seguintes tópicos:
- refira o título e o realizador/encenador do objeto em análise;
- destaquea intriga/enredo,as personagens/atores,temas
abordados,luzes/
cenário/...,
- revele os sentimentos que a obra lhe suscitou;
- exponha o seu ponto de vista através de
argumentos/exemplos e recorrendo a
um discurso valorativo.
• Escreva o texto, contemplando uma
estrutura tripartida (introdução, desenvolvi-
mento e conclusão):
- apresente uma descrição da obra em
análise;
- efetue um comentário crítico pessoal
sobre a observação realizada.
• Reveja o texto que escreveu,
assegurando:
- o encadeamento lógico e coerente
dos tópicos tratados;
a diversidade do vocabulário;
- a correção da acentuação,
pontuação, sintaxe e ortografia;
- o recurso a mecanismos de
coesão textual.
Padre António Vieira
SENTIDOS
ANTECIPAR

Objetivos da eloquência
arte de convencer, deleitando; as suas tradicionais
A oratóriaé a funções
do ouvinte). Assim, o Sermão,
fluenciar 0 comportamento transmite uma
enquanto
na Oratória, mensagem di
religioso que se insere prazer, didática/moral
e despertando pelo gozo
sensibilidadedos ouvintes, intelectual ,
do apela

Vieira Mendes, "O estilo culto", in Padre António Vieira,


Baseado em Margarida Sermão de
Sexagésima (apresentação crítica de Margarida Vieira Mendes),
peixes) e Sermão da Lisboa

EDUCAÇÃOLITERÁRIA

Capítulo IV

Repreensões aos peixes em geral


Fixa
como ouvistes os vossos louvores, ouvi
Antes porém que vos vades, assim também
Servir-vos-ão
repreensões. de confusão, já que não seja de emenda. A
vossas primeira
comeis uns aos outros. Grande escândalo
me desedifica,peixes, de vós, é que vos é este;
cunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes
mal. Se os pequenos comeram os
5 pequenos.Se fora pelo contrário, era menos grandes,bastara
grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam
nos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho [...]"Oshomensco:
suas más, e perversas cobiças vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros"
peixes, lá do mar para a terra.Não, não; não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os

10 para o Sertão? Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuiaslseo
mem uns aos outros;muito maior açougue2 é o de cá, muito mais se comem os brancos.Vedesvé
1 indígenas que habitavam no
interiore em algumas regiões
aquele subir, e descer as calçadas, vedes aquele entrar, e sair sem quietação, nem
do Nordeste do Brasil;
2 matança: 3 litígio. questão aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer.
judicial; 4 atraiu e enganou. 15 Morreu algum deles,vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo, e a
enfim, ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.Jáse
mens se comeram somente depois de mortos, parece que era menos horror, e menosmatéi
de sentimento.Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai,peixes*
tambémos homens se comem vivos assim como vós. [...] Vede um homem desses,que
20 perseguidosde pleitos3,ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo.Come•ou
o Advogado,come-oo Inquiridor, come-o
a Testemunha, come-o o Julgador, e ainda
sentenciado, e já está comido. [...]

44
"Sermão de Santo António"

Outra coisa muito geral,que não tanto me desedifica,quanto me lastima em muitos de vós, é
aquela tão notável ignorância, e cegueira, que em todas as viagens experimentam os que navegam

5 para estaspartes.Toma um homem domarumanzol, ata-lheumpedaçodepano cortado,eaberto


em duas, ou três pontas, lança-o por um cabo delgado até tocar na água, e em o vendo o peixe,

arremete cego a ele,e ficapreso, e boqueando até que assim suspenso no ar,ou lançado no convés,

acaba de morrer. Pode haver maior ignorância e mais rematada cegueira que esta? Enganados por

um retalho de pano, perder a vida? Dir-me-eis que o mesmo fazem os homens. Não vo-lo nego. Dá

um exército batalha contra outro exército, metem-se os homens pelas pontas dos piques, dos chu-
ços, e das espadas, e porquê? Porque houve quem os engodou4, e lhes fez isca com dois retalhos de

pano. A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto,e que mais facilmente engana os homens.
(aos

O Identifiqueas críticas dirigidas aos peixes neste momento do discurso.


Explicite a intencionalidade do orador em "muito maior açougue é o de cá" (1.11).
O Refira a ideia que o recurso ao paralelismo de construção permite inferir em: "Vedes vós
todo aquele bulir, [...] vedes aquele entrar, e sair sem quietação nem sossego?" (11.11-13).

Destaque os elementos linguísticos que comprovam a presença dos interlocutores do


discurso, explicitando a sua funcionalidade.
Explique o jogo de sentidos construído em torno do vocábulo "comer".
as Complete a tabela, demonstrando a natureza argumentativa do discurso a partir da linha
ue 23, transcrevendo segmentos que ilustrem os elementos indicados.

Natureza argumentativa do excerto Exemplificação


"ouvi também agora as vossas
Tese repreensões"

Argumento

Exemplo

Contra-argumento

Exemplo

Conclusão

O Esclareça de que forma este capítulo cumpre os objetivos do sermão, tendo em conta
p.44).
os princípios da oratória: delectare, docere, movere (consultar
Bloco informativo 352,333.
GRAMÁTICA

O Classifique as orações sublinhadas nos segmentos frásicos seguintes:


a. "Grandeescândalo é este; mas a circunstância o faz ainda maior" (11.3-4)
b. "Se fora pelo contrário, era menos mal" (l.5)
auladigital
Identifique o ato ilocutório configurado em "olhai quantos o estão comendo" (1.20). Gramática/Atividade:
Orações coordenadas; Ora
subordinadas adverbiais;
O Refira as funções sintéticas desempenhadas pelos elementos sublinhados em condicionais; Atos ilocutó
"A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto, e que mais facilmente engana a Quiz: Atos ilocutórios
os homens" (1.32).

45
palavras ou expressões
GRAMATICA conjunto de (deíticos)
designa o utiliza para
construir 0 fenómeno de
que
um termo enunciador seu referente depende sempre
Deixis é enunciação,
da é variável,
enunciação, isto é,
das coordenadas
enunciativas
auladigital ato de está associado ao
de cada palavra "dêixis" gesto de
o significado
Déixis

g GG
mática/Atividade:
temporal/ específicoetimológicoda
pessoal?
DétxiS
fixa; a sua interpretação está
espacial O referência
referenciais. referenciação só pode ser identificada
Déixis espacial
pessoal, portanto,
s auiz: têm, sua
I não Isto é, a vez que é o contexto situacional
e temporal
os deíticos enunciação. verbal, uma
de
circunstâncias na interaçãodados para essa mesma referenciação. Só ,
participantes os conhecimento do contexto
conta os fornece houver um
; "agora"que deíticos se
de
"tu","aqui", enunciadocom produziu o enunciado, a pessoa a quem se dirige
interpretar um quem
identificar
quepermita referenciados.
espaço e o tempo
aquelas cujo sentido só se preenche com o contexto
são
as palavrasdeíticas
Assim,
Exemplificando: ser interpretada se tivermos
irei aí visitar-te" só poderá
como"Amanhã é proferida, isto é, se soubermos
Umafrase em que
docontexto
partilhado interlocutor que se chama sara
conhecimento (irei), que se dirige a um
o António e que a visitará em sua casa (ao.
toré,porexemplo, domingo(amanhã),
seguinte,
' se refereaodia proferida por outro locutor, dirigida a um outro
diferente,
situacional
Numcontexto referenciação diferente também.
uma
a mesmafrase terá
' terlocutor,

Definição Marcas e exemplos


Dêixis
Pronomes pessoais, determinantes
e pronomes possessivos (de l. a e 2.a
pessoas); pronomes de tratamentoque
Indicaos participantes na se interpretam em relação às pessoasda
interação comunicativa e enunciação e marcas de flexãoverbais
Dêixis pessoal identificaos seus papéis (amamos; amais).
(o 'eu" que fala, o "tu" que
• Eu aconselhei-te, mas a decisãoé tua-
escuta).
disse a Joana à amiga.
• Tem calma, Luísa! Tudo vai correr bem!
—disse-lhe a mãe. (vocativo)

Demarca o espaço do Advérbios e locuções adverbiaisde


seu campo de visão ou lugar (aqui, ali, cá, lá, além...); alguns
mostração, referindo maior verbos que pressupõem movimento
Dêixis espacial
ou menor proximidade (trazer, levar, ire vir...); pronomese
relativamenteao local determinantes demonstrativos (este,
ondese encontram esse, aquele).
os
ondeé
intervenientes. • Vemê_ggi!Leva os livros para ali,
o lugar deles! ordenou o pai à
Maria.

46
Dêixis Definição Marcas e exemplos

Aponta para o momento Advérbios e locuções adverbiais temporais (ontem, hoje, amanhã,
de enunciação, criando neste momento, na próxima semana, no mês passado...), alguns
um ponto de referência adjetivos (atual, futuro...), alguns nomes (véspera) e marcas de flexão
que permite identificar o verbais (são tempos verbais deíticos o presente, o pretérito perfeito e
momento de enunciação, o o futuro do indicativo).
Dêixis temporal
que ocorreu antes ou depois • Estudo: o tempo verbal indica simultaneidade com o ato de
e os intervalos de tempo enunciação.
anteriores (passado) ou • Estudei: anterioridade relativamente ao momento de enunciação.
posteriores (futuro).
• Estudarei: posterioridade em relação ao momento de enunciação.

APLICAÇÃO

O Atente nos seguintes excertos do "Sermão de Santo António" e identifique as referên-


cias deíticas.

a. Pessoais:
"Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós, tem duas pro-
"
priedades, as quais em vós mesmos se experimentam: [...]
b. Espaciais:
"Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade
é que haveis de olhar."
c. Temporais:
"Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi tam-
bém agora as vossas repreensões."

Refira os elementos textuais que ilustram a dêixis pessoal, espacial e temporal nos
segmentos apresentados.

a. "Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja." (Cap.l)


b. "Este é, peixes, em comum o natural que em todos vós louvo." (Cap.III)
c."Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso!" (Cap.III)
d. "Navegando de aqui para o Pará! (Cap.III)
e. "Outracousa muito geral, que não tanto me desedifica" (Cap.IV)
f. "Olhai, peixes, lá do mar para a terra" (Cap.IV)
g. "Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de olhar." (Cap.IV)
h. "Parece-vos bem isto, peixes?" (Cap.IV)
. "a vós sem fisga nem anzol, mata-vos a vossa presunção e o vosso capricho." (Cap.V)
j. "tomai todos na memória esta sentença: Quem quer mais do que lhe convém, perde
o que quer e o que tem." (Cap.v)
k. "Dizei-me, Voadores, não vos fez Deus para peixes?" (Cap.v)
l. "MandouCristo a S. Pedro que fosse pescar" (Cap.v)
m. "Ah peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural irregularidade!" (Cap.VI)

47
Vieira
Padre ,António
SENTIDOS
ANTECIPAR

auladigital Crítica social


a Síntese: Guia
de estudo em geral, Vieira aponta
Sermão de Santo
António":
apresentaras repreensões de seguida
Repreensões aos
peixes Depoisde à luz dos valores do catolicismo,
Santo condenáveis como a CO
mentoshumanos
"Sermão de
Quiz:
ambição desmedida, as injustiças sociais. 10

António" 3
Orações
a
oportunismo, Partindo
Gramática/Atividade: berba,o maltratados e escravizados pelos colonos,
substantivas Maranhão, a
dos índiosdo
subordinadas mensagem
completivas; Orações abrange não só questões religiosas
finais; deixaaos ouvintes mas
subordinadasadverbiais
ta queVieira também
Orações subordinadas
substantivas relativas sociais e políticos.
e Susana Soares, "Contributos
Animação: 0 texto Cristina Macário Lopes para uma
expositivo
Baseadoem Ana Atas das Illjornadas cientifico-pedagógicas de
espacial aos Peixes'", in Português,
Quiz: Déixis pessoal, de santo António
e temporal 2

EDUCAÇÃOLITERÁRIA
0

Capítulo V

Repreensõesaos peixes em particular 5


Roncadores e Pegadores S
peixes, o que tenho contra alguns de
Descendoao particular,direi agora, vós.
nossa costa: no mesmo dia em que cheguei a ela, ouvindo os
çandoaqui pela
moveram o riso como a ira. É possível que
e vendoo seu tamanho,tanto me q
peixinhostãopequenoshaveis de ser as roncas do mar? Se com uma linha de
5 alfinetetorcidovos podepescar um aleijado, porque haveis de roncar tanto? Mas v
mesmoroncais.Dizei-me, o Espadarte porque não ronca? Porque ordinariamente quemte:
> muitaespadatempouca língua. Isto não é regra geral; mas é regra geral que Deus nãoque
Roncadores,e quetemparticular cuidado de abater, e humilhar aos que muito roncam*
, Pedro,a quem muito bem conheceram vossos antepassados, tinha tão boa espada,
10 só avançoucontraum exército inteiro de Soldados Romanos; e se Cristo lha nãomandan
meterna bainha, eu vos prometo que havia de cortar mais orelhas que a de Malc02.
do, que lhe sucedeu naquela mesma noite? Tinha roncado, e barbateado Pedro que setoà
fraqueassem3 só ele havia de ser constante até morrer, se fosse necessário: e foi tantopek
contrário,quesó ele fraqueoumais que todos, e bastou a voz de uma mulherzinha parac
15 fazertremer,e negar.Antes disso já tinha fraqueado na mesma hora, em que prometeutant
de si. Disse-lheCristo no Horto que vigiasse, e vindo daí a pouco a ver se o fazia, achou±
dormindocom tal descuido,que não só o
acordou do sono, senão também do que tinha
sonad04:Sic nonpotuistiuna hora
vigilare mecum? [Marcos 14, 37] "Vós, Pedro, sois o valeff
quehavíeisde morrerpor mim,
e não pudestes uma hora vigiar comigo?" Poucohátanto
20 roncar,e agoratanto
1 peixe cujo ruído se parece dormir?Mas assim sucedeu. O muito roncar antes da ocasião
com o de um porco; 2
João, de dormir nela. Pois que pescadon
vos parece, irmãos Roncadores?
18, 10 - alusão biblica ao
quepodeacontecer Se isto sucedeu ao maior
ao menor peixe? tendes
seno do sumo sacerdote
de brasonar, Medi-vos, e logo vereis quão pouco fundamento
Caifás, ao qual São Pedro nem roncar.
decepou a orelha direita, Se as Baleias
em roncaram,tinha mais Mas
resistência à prisão de
Jesus; 25 danasmesmas desculpa a sua arrogância na sua grandeza. g;
Baleiasnão seria
3 fraquejassem:4 do
que se oGiganteGolias essa arrogância segura. O que é a Baleia entre os peixes
tinha vangloriado; entreos homens.
oOceano,como Se o rio Jordão, e o mar Tiberíades têm comunicaÇã0CÚ
devemter,pois
dele manam este Giganteo
48 todos; bem deveis de saber que

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