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Igumas respostas podem ser encontra- pretende ser assalariado numa empresa privada e 9,3%
das num estudo efetuadopela Deusto trabalhar na função pública. Relevante ainda o facto de
Business School (Madrid), em parceria 35 14%não saber a sua preferência.
com a Atrevia, que teve por base um ConsumidorZ
5 inquérito realizado a 381jovens portu- Os jovens da Geração Z tendem a ser fiéis às marcas,
gueses. Cidadãos Z, Talento Z e Consumidor Z são os mas as decisões finais podem depender de outros fatores:
três eixos da análise. 46,7% refere que as suas escolhas dependem muito do
Cidadãos Z 40 tipo de produto e 37%das marcas que lhes transmitem
O estudo descobriu que 62% dos jovens Z em Portugal mais confiança. Os Z dos 14 aos 18 anos são os que tendem
10 consideram que o país está num momento de aversão a fixar-semais num produto ou marca (40%).
política. Além disso, 56% mostra inquietação e preocu- Assim, preço acessível, repostas imediatas às suas
paçãopolítica. necessidades, marca responsável que respeita o ambien-
Quanto aos aspetos da sociedade atual que mais 45 te, imagem de marca de qualidade e marca que use lin-
preocupam esta geração, destaque para a pobreza, cor- guagem próxima à dos jovens são os fatores mais
- 15 rupção e desemprego juvenil. Para alterar a estagnação apontados relativamente à realização de uma compra.
que entendem estar a atravessar o país, consideram que Além disso, o mesmo estudo revela que a Internet e
é necessário investir na educação e apoiar empreende- as páginas websão as principais fontes de informação
dores e PMEs 1. 50 dos Z para as suas atividades diárias.
"Rompe-se o mito de que esta geração não se define, Conclusões
20 nem estudando nem trabalhando. Trata-se de uma gera- Em traços gerais, esta é uma geração irreverente,
ção que se preocupa com o seu futuro, valorizando exploradora, apaixonada, inovadora e, potencialmente,
muito significativamente no seu trabalho ideal a conci- mais focada em si própria. É também muito profissional
liação com outras facetas da vida", refere ainda o estudo. 55 e empreendedora,composta por cidadãos envolvidos e
TalentoZ informados. A par disso, trata-se de uma geração que
25 Resumindo, os Z não querem só trabalhar. Eles pre- aplica o seu pragmatismo e procura constante pela ino-
tendem viver uma experiência. Perante esta premissa, vação em todas as vertentes da sua vida. São como peixes
os jovens desta geração procuram empresas próximas na água na nova lógica digital e querem tirar partido
da sua forma de entender o mundo: conectado, transpa- 60 dela. Tambémvalorizam e preservam a sua individuali-
rente e audiovisual. Esperam também bom ambiente, dade, dão prioridade às suas paixões e não querem ape-
conciliação e desenvolvimento. nas estabilidade - querem sentir-se realizados.
Para 52,2%,o seu emprego ideal é montar a sua própria
in Marketeer online (adaptado e com supressões;
empresa ou trabalhar por conta própria. Somente 24,6% consultado em junho de 2021).
revela estar
D.C) paresem
política.
biental.
D. O revelam, maioritariamente, um espírito empreendedor.
Sabendo que a palavra "cidadãos" (1.6)provém do latim CIVIS,apresente três palavras por-
tuguesas que contenham constituintes que integrem o mesmo étimo.
Coluna A Coluna B
a. "desemprego" (l. 15)
b. "PME" (l. 18)
1. derivação por prefixação
c. "significativamente" (l. 22)
2. derivação por sufixação
d. "audiovisual" (1.29)
3. derivação por parassíntese
e. "desenvolvimento" (1.30)
4. composição (radical + palavra)
f. "assalariado" (1.33)
5. sigla
g. "Internet" (1.48) -4.
, i. "irreverente"(1.52)
O Explicite, justificando com elementos textuais, a razão que terá levado Artur a livrar-
-se do tio.
Coluna A Coluna B
a. "O tempo em S. Cristóvão anda devagar" (1.1)
b. "E as pessoas que lá moram [...] têm uma paciência de relojoeiro"(1.4)
c. "cheia de mil cálculos e de mil ponderações"(11.4-5) 1. metáfora
d. "Exatamente como nas leiras [...] assim nos homens" (11.5-7) 2. comparação
a
e. onde a gente vê semanas a fio o mesmo pé de milho parado,
3. personificação
meditativo, enigmático" (11.5-6)
f. "Tal é a perfeição dos artífices de S. Cristóvão!" (1.11) 4. adjetivação
1
LITERÁRIA
EDUCA Ão
auladigital
autoria de Camões.
Luís Leia o poema de
s Áudio: Eu canteijá, Faixa I
ESCRITA
O Faça uma apreciação crítica, entre 150 a 200 palavras, atendendo,entre outros,
aos seguintes aspetos:
• descrição da imagem;
• mensagem veiculada;
• pertinência da imagem em relação à atualidade;
• adequação da imagem à intencionalidade comunicativa.
19
CONTEXTUALIZAçÃ0
seguem.
que se
textos
e os 1656
crinologia da
Restauração
a Morte de D. João IV e Jesuf
altamente Independência
Analise regência de D. Luísa
Aclamação de Gusmão
IV
de D. João
1640-41
dinastia
Início da
filipina
1581
Nascimento 1633
de Padre António
Vieira Renúncia de Galileu
às suas teorias
1608 científicas imposta
pela Inquisição
23
Vieira
Padre António
ANTECIPAR SENTIDOS
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
2
Sermão de Santo António
Pregado na Cidade de São Luís do Maranhão,ano de 1654 Fixação de texto
Padre António Vieira,
Este Sermão (que todo é alegórico) pregou o Autor três dias antes de se embarcar oculta- Obra completa (dir. José
EduardoFranco e Pedro
mente para o Reino, a procurar o remédio da salvação dos Índios, pelas causas que se apontam
Calafate), Tomo II, Vol. X,
no 1.0Sermão do 1.0Tomo l . E nele tocou todos os pontos de doutrina (posto que perseguida) que Lisboa, Círculo de Leitores,
mais necessários eram ao bem espiritual, e temporal daquela terra, como facilmente se pode 2014, pp. 137-165.
Exórdio
"Vós", diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, "sois o sal da terra"; e chama-
-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a cor-
rupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela, que têm
ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga,
5 ou porque a terra se não deixa salgar.Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam
a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar,e os ouvintes, sendo verdadeira
a doutrina, que lhes dão, a não querem receber; ou é porque o sal não salga, e os Pregadores
dizem uma coisa, e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem
antes imitar o que eles fazem, que fazer o que eles dizem; ou é porque o sal não salga, e os Pre-
, 10 gadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em
vez de servir a Cristo, servem a seus apetites.Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Suposto pois que, ou o sal não salgue, ou a terra se não deixe salgar, que se há de fazer a este sal,
e que se há de fazer a esta terra? O que se há de fazer ao sal, que não salga, Cristo o disse logo: Quod si
sal evanuerit, in quo salietur?Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittaturforas, et conculcetur ab hominibus [Mateus
15 5,13].Se o sal oque se 1 0 "Sermão da Sexagésima";
lhe há de fazer é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal 2 "Vós sois o sal da terra";
29
Vieira pronunciara?Assim como não há
Padre António
coisa, se 0
no pensamentoque nas festas dos Santos é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto
@auladigital
mais, que o sa15da minha doutrina, qualquer que ele seja, tem tido nesta terra uma fortuna
a Síntese: Guia de estudo
'Sermão de Santo António': parecidaà de SantoAntónioem Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho
Exórdio
pregadonestaIgreja,e noutrasde manhã, e de tarde, de dia, e de noite, sempre com doutñna
45 muito clara,muito sólida,muito verdadeira, e a que mais necessária, e importante é a esta terra,
paraemenda,e reformados vícios,que a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina,
e se a terratem tomadoo sal,ou se tem tomado dele, vós o sabeis, e eu por vós o sinto.
Isto suposto,quero hoje à imitação de Santo António
voltar-me da terra ao mar, e já que os
mens se não aproveitam,pregar aos peixes.
O mar está tão perto, que bem me ouvirão. Os demais
podemdeixaro Sermão,pois não é
para eles. Maria quer dizer Domina mañs: "Senhora do maúe
postoqueo assuntosejatão
desusado,espero que me não falte com
a costumada graça. AveMau
O Identifique
os interlocutores
do Padre António Vieira.
1.1 Transcrevaa frase
que constitui o
conceito predicável.
conceitopredicávei
é um
fantásticadeum processo retórico da oratória barroca
passo que consiste na interpre-
próximasoudissemelhantes,das Sagradas Escrituras,
e devidamente com base em associações de ideias
confirmada.Os sermões
de António fundamentados por uma autoridade teológica
Vieira são o
melhor exemplo desta prática oratória•
Ceia.
O Explicite E-dicionáriode termos literários,Carlos
a
30 pela qual
Vieira atribui
aos Pregadores
a qualidade de "sal".
"Sermão de Santo António"
O Explique o sentido da expressão "Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não
tendo em conta o valor metafórico dos vocábulos "sal" e "salgar"
deixa salgar" (11.4-5),
3.1 Interprete o valor expressivo dessa repetição.
Causas da corrupção/degradação
Atribuídas aos Pregadores Atribuídas aos ouvintes
1. Não pregam a verdadeira doutrina.
2. B.
3. C.
NOTA BEM
31
Vieira
Padre António
I
OPINIÃO
ARTIGO DE
LEITURA
atentamente.
Leia o texto 65
Dever de
solidariedade 70
atentadosdo II de Se-
s dramáticos manifestações de
tembro originaram mundial e
repúdio à escala 75
veemente
intensa coopera-
desencadearamuma se
internacional,na qual Portugal
ção primor-
5 hora, e cujo objetivo
primeira
integrou desde a a garantir
contra o terrorismo por forma
dial era a luta
internacional duradoura.
uma segurança ha-
aos ataques do II de Setembro,
Mas, subjacentes sejam o de ati-
políticos e ideológicos, como
10 via objetivos que, a
o Ocidentee o Islão,
çar a discórdia e o ódio entre
natureza não
milhões de pessoas, agravando as suas condições
de
resposta forte de
meu ver, exigiam uma
lançada vida e exacerbando a sua vulnerabilidade —especialmen-
Civilizações,
militar.A iniciativada Aliança das 40 te das crianças, mulheres e idosos —ou originandomo-
2006, era, a meu ver, a resposta
pelas Nações Unidas em cultu- vimentos maciços de populações que ficam à mercêde
diálogo de civilizações, uma
15 certa para promover o e redes criminosas de toda a espécie.
conhecimento e respeito mútuos
ra da tolerância, do As novas crises que surgem e que nos sãopresen-
os povos com base no
uma coexistência pacífica entre
dos direitos humanos. tes através de imagens avassaladoras queos media
direito internacional e na proteção
sublinhar é que 45 disponibilizam praticamente em tempo real nãopodem
De qualquer forma, o que pretendo
XXI nos trou- ter o efeito pernicioso de fazer esquecer crises mais
20as duas primeiras décadas deste século
xeram já matéria de sobra para reflexão urgente.
antigas e prolongadas ou conflitos enquistados,fre-
Há urgência em dar resposta aos desafios de longo quentementeapelidados de "congelados". Nãopode-
prazo que são comuns a toda a Humanidade, quer seja mos responder às crises humanitárias ao saborde
no plano das alterações climáticas, da revolução digi- 50 modas ou ignorá-las por razões de cansaço, enfadoou
25 tal, dos desequilíbrios mundiais, das desigualdades ou indiferença.A crise síria, no Iémen, no Haiti,noTigray,
da instabilidade e conflitualidade crescentes em cer- no Sudão, no Sudão do Sul, na Somália, em CaboDel-
ape-
tas regiõesque ameaçam a paz global. Há, pois, ur- gado ou a atual situação no Afeganistão, para citar
gência em forjar novos consensos para promover um nas alguns exemplos, atingem homens, mulheres,
processode desenvolvimentosustentável, mais equi-
55 jovense crianças com a mesma gravidade, igualforça
30tativo e mais solidário. Há ainda no
urgência em relançar e idêntica desesperança. Importa intervir sempre
a confiançana cooperação
multilateral, nos proces- humanidade,
sos de diálogo, mediação, completorespeito pelos princípios da
concertação e negociação, subja-
na diplomaciapreventiva. neutralidade,independência e imparcialidade,
Há depois urgência em
bilizar mais esforços para mo- centes à atuação humanitária, seja em que domínio,
uma atuação concertada, in-
sobretudo
emcontextohumanitário. 60 setor ou local se trate, sob pena de desacreditare
Nãopodemosignorar viabilizar os propósitos pretendidos.
que o século XXI e resultados
cadoporsucessivas tem sido mar-
crises humanitárias 0 programa de bolsas de estudo para estudantes
que atingem
rios, com o objetivode contribuir para dar respostaà
32
"Sermão de Santo António"
emergência académica que o conflito na Síria criara, conflitos e crises humanitárias que carecem de prote-
65 deixando milhares de jovens para trás sem acesso à ção e que só buscam poder seguir em frente no encalço
educação, foi lançado em 2013 pela Plataforma Global dos seus sonhos. A experiência que reunimos nos últi-
para os Estudantes Sírios, a que tenho a honra e o gosto 85 mos sete anos com a integração de estudantes sírios
de presidir, inscrevendo-se neste contexto humanitário. tem mostrado o quanto esta tem sido duplamente be-
Entretanto, a Plataforma foi alargando o seu âmbito de néfica, não só para os estudantes, que assim encon-
70 atuação para além da crise síria, e hoje trabalha na cria- tram um horizonte de futuro para as suas vidas, como
ção de um Mecanismo de Resposta Rápida para o Ensino para as comunidades de acolhimento que desta forma
Superior nas Emergências (RRM). Neste contexto, está 90 se renovam,dinamizame reforçamo seu potencial
agora a ser preparado, para além de um reforço do pro- criativo, produtivo e de inovação. E mesmo que assim
grama de bolsas para estudantes sírios, libaneses e ou- não fosse, nunca seria de mais recordar que a solida-
75 tros, um programa de emergência de bolsas de estudo riedade não é facultativa, mas um dever que resulta do
e de oportunidades académicas para jovens afegãs. artigo 1.0 da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Aproveito, assim, esta tribuna para lançar um apelo 95 —Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
a todos os parceiros da Plataforma para que colaborem dignidade e em direitos. Dotados de razão e de cons-
sempre mais connosco, e disponibilizem apoios, opor- ciência, devem agir uns para com os outros em espírito
80 tunidades académicas e profissionais, estágios e vagas de fraternidade. Façamos uma vez mais prova de que
para estes jovens oriundos de sociedades atingidas por sabemos estar à altura das nossas responsabilidades.
33
Vieira
Padre António
exemplaridade
figurativo e
Discurso
de Santo António, não só
pregar seguindo o exemplo por ter sido
Vieirapropõe-se por ser um modelo do comportamento 2
sobretudo
pregação,mas queo
santona sua
ouvintes, constituindo-se, assim, como um argumento
aos de
pretendeapresentar aos peixes, Vieira denuncia os pecados da humanidade,
Simulandodirigir-se que estão ausentes nos homens
por possuírem qualidades quer
giandoos peixes defeitos dos homens.
com os
que coincidem
os seus vícios, para uma análise do 'Sermão
Susana Soares, "Contributos de
CristinaMacárioLopes e Científico-Pedagógicas de Português, ILLP,
Ana Jornadas FLUC,
Atas das 111
aos peixes'",in
EDUCAÇÃOLITERÁRIA
az SENTIDO
bem
0 sal foi sempre um
precioso:a palavra salário Capítulo II
35
surgiu a partir da porção
de sal que era dada como
pagamentoaos soldados
Louvoresaos peixes em geral
Fato 3
na Roma antiga. De facto, pior auditório. Ao menos
Nunca
Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? têm os
ao descobrirem que o
sal, além de ajudar na de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera descon.
peixes duas boas qualidades
cicatrização, servia para não há-de converter.
conservar e dar sabor solaro Pregador,que é serem gente os peixes que se
à comida,os romanos Vosestissalterrae.Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós,ten
passaram a considerá-lo
5 duaspropriedades,as quais em vós mesmos se experimentam: conservar o sãol, e
um alimento divino.
In https://ncultura.pt -Io, para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as pregações dovosso
(adaptado) PregadorSantoAntónio,como também as devem ter as de todos os Pregadores. Uma élouva:
o bem,outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar, e repreender o mal, parapre•
servar dele. [...]Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso
Sermãoem dois pontos:no primeiro louvar-vos-ei as vossas virtudes, no segundo repreen•
der-vos-eios vossos vícios. E desta maneira satisfaremos às obrigações do sal, que melhorvos
está ouvi-lasvivos, que experimentá-las depois
de mortos. [...]
Vindopois,irmãos,às vossas virtudes, que a
são as que só podem dar o verdadeiro louvor,
primeiraque se me ofereceaos olhos
hoje, é aquela obediência, com que chamados acudistes
15 todospelahonra de
vosso Criador e Senhor, e aquela
ordem, quietaçã02 e atenção comque
ouvistes a palavra de
Deus da boca do
seu servo António. Oh louvor verdadeiramente
para os peixes,e grande
grande afronta e
confusão para os
homens! Os homens perseguindo aAntóni0'
1 aquiloque
está em bom
estado, que é
saudável; 2 tranquilidade;
3 aos desejos.
Se Szto
querendo-o lançar da terra, e ainda do mundo, se pudessem, porque lhes repreendia seus vícios,
porque lhes não queria falar à vontade 3 e condescender com seus erros; e ao mesmo tempo
20 os peixes em inumerável concurso acudindo à sua voz, atentos, e suspensos às suas palavras,
frente aos
escutando com silêncio, e com sinais de admiração, e assenso (como se tivessem entendi-
mento) o que não entendiam. Quem olhasse neste passo para o mar, e para a terra,e visse na 08 32
terra os homens tão furiosos, e obstinados, e no mar os peixes tão quietos, e tão devotos, que
havia de dizer? Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e
25 oshomens não em peixes,mas em feras. Aos homens deu Deususoderazão,enàoaospeixes:
mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso sem a razão. Muito
louvor mereceis, peixes, por este respeito e devoção, que tivestes aos Pregadores da palavra
de Deus, e tanto mais não foi só esta a vez em que assim o fizestes. Ia Jonas, pregador do
mesmo Deus embarcado em um navio quando se levantou aquela grande tempestade; e como
30 0 trataram os homens, como o trataram os peixes? Os homens lançaram-no ao mar a ser
comido dos peixes, e o peixe, que o comeu, levou-o às praias de Nínive, para que lá pregasse,
e salvasse aqueles homens. É possível que os peixes ajudam à salvação dos homens, e os
homens lançam ao mar os ministros da salvação? Vede, peixes, e não vos venha vanglória,
quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para lançar Jonas ao
35 mar, e o peixe recolheu nas estranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.
O Explicite a crítica que Vieira dirige aos homens, a partir dos exemplos apresentados.
ORALIDADE COMPREENSÃO
Alegoria
construir 0 seu sermão como uma alegoria, constrói como
[...] Vieira,ao
20
auditório real é constituído por seres
que 0 seu
cio os peixes,sendo e se pretende alterar. Assim,
humanos,
exerce-se
auladigital se condena
cujocomportamento
Síntese: Guia de estudo Ao criar uma imagem positiva dos alocutáriosl
'Sermão de Santo António": crítica social contundente. alegóricos
Louvores aos peixes reforça a imagem negativa dos seus verdadeiros alocutários, uma vez '010,25
a Animação: O que é uma cutor que,apesar
os primeiros um conjunto de defeitos, expostos ao longo
metáfora? partilharemcom do sermão
Gramática/Atividade:
não são capazes de ouvir (nem de aceitar) a crítica desses
Orações subordinadas alocutáriosreais defeitos.
D
adjetivas relativas; Orações assumem uma superioridade moral relativamente aos
subordinadasadverbiais modo,os peixes homens, uma
este
EDUCAÇÃOLITERÁRIA
Capítulo III
1 um pouco de fel:
2 traje usado por um frade
Louvores aos peixes em particular
franciscano. O peixe de Tobias
Descendoao particular,infinita matéria fora, se houvera de discorrer pelas virtudes,deque
o Autor da Natureza a dotou, e fez admirável em cada um de vós. De alguns somentefarei
menção.E o que tem o primeiro lugar entre todos, como tão celebrado na Escritura, é aquele
Santo Peixe de Tobias, a quem o Texto Sagrado não dá outro nome, que de grande, comoverda•
5 deiramente o foi nas virtudes interiores, em que só consiste a verdadeira grandeza. IaTobias
caminhandocom o Anjo São Rafael, que o acompanhava, e descendo a lavar os pés dopódo
caminho nas margens de um rio: eis que o investe um grande Peixe com a boca aberta,emação
de que o queria tragar. Gritou Tobias assombrado, mas o Anjo lhe disse que pegasse no Peixe
pela barbatana, e o arrastasse para terra, que o abrisse, e lhe tirasse as entranhas, e as guardas•
10 se, porque lhe haviam de servir muito. Fê-lo assim Tobias, e perguntando que virtude finham
as entranhas daquele Peixe, que lhe mandara guardar, respondeu o Anjo que o fel era bompara
sarar da cegueira, e o coração para lançar e assim
fora os Demónios [...]. Assim o disse o Anjo,
o mostrou logo a experiência, porque Olhos
sendo o Pai de Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos
um pequenodo fel' , cobrou
inteiramente a vista; e tendo um Demónio chamado Asmodeu
15 morto sete maridos a do
Sara, casou com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte
ção, fugiu dali o a
Demónio, e nunca mais tornou. Peixe tirou
De sorte, que o fel daquele
ra a Tobias o velho, e tão
lançou fora os Demónios de
casa a Tobias o moço. Um Peixe de
coração,e de tão proveitoso peixe o
fel, quem o não louvará muito? Certo
que se a este
36
"Sermão de Santo António"
de burel,2e o ataram com uma corda, pareceria um retrato marítimo de Santo António. [...]Ah
20 homens, se houvesse um Anjo que vos revelasse qual é o coração desse homem, e esse fel, que
tanto vos amarga, quão proveitoso, e quão necessário vos é! Se vós lhe abrísseis esse peito, e lhe
vísseis as entranhas, como é certo que havíeis de achar, e conhecer claramente nelas que só
duas coisas pretende de vós, e convosco: uma é alumiar, e curar vossas cegueiras; e outra lan-
çar-vos os Demónios fora de casa. Pois a quem vos quer tirar as cegueiras, a quem vos quer livrar
25 dos Demónios, perseguis vós? Só uma diferença havia entre Santo António, e aquele Peixe: que
o Peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não
queriam lavar. Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! Abri,
abri estas entranhas; vede, vede este coração. Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não vos
prego a vós, prego aos peixes.
O Demonstre que a referência a Santo António contribui para uma leitura alegórica.
37
Vieira LITERÁRIA
António Ão
padre EDUCA
Capítulo III
auladigital Rémora
Gramática/Atividade:
g
quem haverá que não
História natural,
fala
Atos de
0 que é
uma
aos da louve,
g Animação: Oque é uma Escritura dia de um Santo Menor2,
da No os peixes
passandodos celebradada Rémora?
metáfora?;
comparação?
que não admire a virtude
virtudetão haverá, digo, daquele
Santo
•Sermá0 de
a Quiz: muitoa outros. Quem
no poder, que não sendo
António' 2 aos força, e maior de um
devempreferir e tão grande na e dos ventos,
no corpo, apesar das velas, e de seu
tãopequeno Nau da Índia,
de uma âncoras, sem se poder
se pegaao leme mais, que as mesmas mover,
5 se e amarra tivesse tanta força como
a prende, na terra, que a do
e grandeza, houvera uma Rémora
oh se naufrágios no mundo! se alguma Rémora,que
pordiante? vida, e que menos
haveria na como na Rémora se verifica 0
menosperigos santo António, na qual
a língua de
ve na terra,foi est, sed viribus omnia vincit3. O Apóstolo
Lingua quidemparva
Nazianzeno: a língua ao leme da Nau, e ao freio do
IO Gregório Epístola4 compara
eloquentíssima a virtude da
naquelasua declaram maravilhosamente Rémora, a qua]
comparação juntas
Uma, e outra do leme. E tal foi a virtude, e força da
Nau, e leme
ao leme da Nau é freio da o Piloto
pegada humana é o alvedrios, é a razão: mas
António. O leme da natureza quão
de Santo ímpetos precipitados do alvedrio? Neste leme porém
à razão os
poucasvezes obedecem
língua de António quanta força tinha, como Rémora,para
desobediente, e rebeldemostrou a
Fortuna na Nau Soberbacom
parara fúria das paixõeshumanas. Quantos correndo
T domar, e
também é vento) se iam desfazer nos
e da mesma soberba (que
as velas inchadas do vento,
se a língua de António como Rémora não tivessemão
baixos,quejá rebentavampor proa,
amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestadede
20 no leme, até que as velas se
Vingança com a artilharia
fora, e a de dentro?Quantos embarcados na Nau abocada,e os
bota-fogosacesos,corriamenfunados a dar-se batalha, onde se queimariam, ou deitariama
pique,se a Rémorada língua de António lhes não detivesse a fúria, até que compostaa ira,
e ódio, com bandeiras de paz se salvassem amigavelmente? Quantos navegando na Nau
25 Cobiçasobrecarregadaaté às gáveas, e aberta com o peso por todas as costuras, incapazde
fugir,nemse defender,dariam nas mãos dos Corsários com perda do que levavam, e doque
iam buscar,se a língua de António os não fizesse parar, como Rémora, até que, aliviadosda
cargainjusta,escapassemdo perigo, e tomassem porto?
Quantos na Nau Sensualidade, que
semprenavegacom cerraçã06,sem Sol de
dia, nem Estrela de noite, enganados do cantodas
30 Sereias,e deixando-selevar
da corrente, se iriam perder cegamente, ou em Cila, ou em
Caríbdis7,onde não
aparecesse Navio, nem
navegante,
se a Rémora da língua de António os
nãocontivesse,até que
esclarecessea luz, e se
vossograndePregador, pusessem em via? Esta é a língua, peixes,do
que tambémfoi Rémora
estámuda(posto vossa, enquanto o ouvistes; e porqueagora
queainda se conserva
inteira)8 se veem, e choram na terra tantos naufrágios
I peixecujas
estranhas propriedades
quefuncionou aparecemrelatadas livro
comouma na História Natural de Plínio, o velho (séc. I d.
3S. Gregório enciclopédia,no mundo
antigo; 2 a Ordem de menor;
4 Epístolade (notadoautor), S. Francisco era uma ordem
S. Tiago,3, trad.: "Na força
verdade a língua é
e canbdis 3-5B; 5 resolução
e pequena, mas vence tudo em
Itália: existe personificam,corno determinação da
vontade, arbítrio; 6 nevoeiro; 7 na mitologia em
como relíquia monstros
marinhos, os Messina,
0 estreito de
na Basílica promontórios que delimitam
-e de santo
António de
Pádua.
38
O Explique a intenção de Vieira ao evocar a Rémora.
explicando a
O Identifiqueos argumentos de autoridade de que o Pregador se socorre,
sua funcionalidade no discurso.
NOTA BEM
alguém re-
Argumento de autoridade é o recurso a citações ou a exemplos de ações de
bíblicas) de forma
conhecido social ou religiosamente (citando-se, por vezes, passagens
a conseguir a adesão do auditório.
[...]?
• Quantos,correndo [...] na Nau Soberba [...] se a língua de António, como Rémora,
[...]?
• Quantos, embarcados na Nau Vingança, [...] se a Rémora da línqua de António
• Quantos, navegando na Nau Cobiça, [...] se a língua de António como Rémora [...]?
b. c. d.
segmento "se se
O Distinga, quantoà classe de palavras, os vocábulos sublinhadosno
pega ao leme de uma Nau da índia"(1.5).
O Refira o ato ilocutório configurado em "O Apóstolo Santiago naquela sua eloquentís-
sima Epístola compara a língua ao leme da Nau, e ao freio do cavalo." (11.10-11).
Vieira LITERÁRIA
António Ã0 III
padre EDUCA Capítulo
e Quatro-olhos
Torpedo
virtude vossa passemos ao louvor,
grande
tão
de uma qualidade daqueloutro peixezinho
4'. admiração a
igualmente
que da
para admirável
é
com a cana na mão, o anzol no
fundo
Mas pescador
menor, Está o a lhe tremer o braço. %
começa Pode
de outra Torpedol.
o
Torpedo,
chamaram na isca momento passa a
tinos picando
maneira
que num
em lhe De
água, efeito?
sobrea admirável à cana e da cana, ao braço do
mais linha, da linha
breve,e anzol à referir com inveja. Quem
5 mais anzol,do havia de dera aos
louvor o
zinho, este vosso tremente, em tudo o
disseque esta qualidade que
pusera
quem lhe
muita ou muito: o que me espanta é que pesquem
nosso
elemento,
me espanto do
resdo mas não No mar
pescam, pouco tremer? pescam as
Muitos pescar, e tão
terra'. Tanto ginetas, pescam as bengalas,
varas), pescam as
pouco.
que
tremam sorte de
IO e (e tanta
as varas mais que todos, porque pescam Cidades,
terrapescam, pescam, e pescam
e atéos cetros os homens
coisas de tanto peso lhes não trema
os pescando
possívelque António,
inteiros.Poisé de Santo eu os fizera
a língua
homens, e tivera
pregara aos
se eu e virtudes dos peixes com um, que não sei
o braço?
discurso dos louvores,
15 Queroacabareste a pregar.
dele
[...]Navegando daqui para o Pará
e aprendeu
Santo António,
ouvinte de correr pela tona da água de quando
nossa costa),vi
de foraos peixesda
bem não fiquem que não conhecia; e como me dissessem
cardume de peixinhos,
um
quando a saltos
quis averiguar ocularmente a razão deste
lhechamavam "Quatro-olhos",
Portugueses
em tudo cabais, e perfeitos.
verdadeiramente têm quatro olhos,
20 acheique
Providência, notei que aqueles quatro olhos
causa natural desta
Filosofandopois sobre a
unidos como os dois vidros de un
lugar ordinário,e cada par deles
lançadosum pouco forado
olham direitamente para cima, e osà
em talforma, que os da parte superior
de areia,
relógio
[E] como têm inimigos no mar, e inimigos no ar,
parte inferiordireitamente para baixo.
vigiaremdas aves,e outrosdois,que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dospé
xes.
0h que bem informaraestesquatro olhos uma Alma racional, e que bem empregada foraneles
1hojeditotremelga,
peixequeproduzdescargas
basteseramas insígnias, elétricas com as quais se defende; 2 varas, ginetas, bengalas?
respetivamente,
dos cargos de juiz, capitão, mestre de campo e do posto designado
O complete
a tabela,
identificandoos
elementos solicitados.
Peixe
Virtudes atribuídas
Torpedo Sentido da alegoria
a.
Quatro-olhos 1.
b.
-i 40
2.
"Sermão de Santo António"
O Esclareça o sentido da reflexão "Muitos pescam, mas não me espanto do muito: o que
me espanta é que pesquem tanto, e que tremam tão pouco. Tanto pescar, e tão pouco A auladigital
tremer?" (11.9-10). a Áudio: Posto Emissor, "Da
paixão pela palavra à defesa
dos direitos humanos", Blitz
—Expresso (11min 22 s)
ORALIDADE COMPREENSÃO BLITZ a Teste interativo: "Sermãode
Stereo Santo António": Os louvores
ORALIDADE EXPRESSÃO
j/
lii
111
velázquez,
As
meninas
(1656)
A arte do retrato
quadro "Asmeninas", talvez o primeiro exemplo de pintura realista 1.0 parágrafo
de sempre, representa um retrato de família, donde sobressaem a Introdução
• descrição sucinta do objeto e
Infanta Margarida que ocupa o centro da composição, ladeada por justificação do título da obra:
duas damas de honor que são "As meninas". "As meninas"; "sobressaem
5 A princesa parece levitar sob a aura dum feixe intenso de luz que a Infanta Margarida... duas
damas de honor".
transpõe uma portada lateral. Ao iluminar todo o espaço cénico anterior, recria com os
vários degradésde sombras e cor um verdadeiro trompe-l'@il1, dando a sensação para- 2.0 e 3.0 parágrafos
doxal de movimento pendente. A tela impõe-se ao olhar do observador pela sua energia Progressão textual
intrínseca, aliada à atmosfera de meia-luz e pouca luminosidade. As feições do rei e da • Apreciação crítica positiva/
discurso valorativo/ ponto
10 rainha de Espanha surgem refletidas num espelho, produzindo um efeito invulgar
de vista pessoal: ("os vários
ilusório da realidade. degradés de sombras e cor
Velázquez, ao utilizaros vários castanhos da Andaluzia, mais os ocres e magentas
da um verdadeiro trompe-lail,"•,
meseta ibéñca, com os azuis venezianos e o claro-escuro de Caravaggio, produz uma rela- "sua energia intrínseca",
"efeito invulgar ilusório da
ção simbiótica2entre as tintas e a tela, com uma utilização peculiar dos pincéis, sem esque-
realidade"; "utilização peculiar
15 ceropredomíniodagamalarga dos eternos cinzentos. É esta marca demestrequetornaa dos pincéis"; "pintura tão
sua pintura tão intemporal como eterna. A pincelada rápida e solta, aparentemente impre- intemporal como eterna".
cisa, à base de manchas e pequenos toques de cor e de luz domina a composição.
4.0 parágrafo
"As meninas" é considerada uma das maiores obras-primas de todos os tempos, e Conclusão
Velázquez um dos representantes máximos da pintura. Ao aplicar o óleo através de • Reconhecimento do valor e
20 retoques de cor, é considerado como precursor do impressionismo de Degas, Claude mérito da pintura e do seu
autor.
Monet, Auguste Renoir, Vincent van Gogh e outros,da segunda metade do século XIX.
Objetivos da eloquência
arte de convencer, deleitando; as suas tradicionais
A oratóriaé a funções
do ouvinte). Assim, o Sermão,
fluenciar 0 comportamento transmite uma
enquanto
na Oratória, mensagem di
religioso que se insere prazer, didática/moral
e despertando pelo gozo
sensibilidadedos ouvintes, intelectual ,
do apela
EDUCAÇÃOLITERÁRIA
Capítulo IV
10 para o Sertão? Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuiaslseo
mem uns aos outros;muito maior açougue2 é o de cá, muito mais se comem os brancos.Vedesvé
1 indígenas que habitavam no
interiore em algumas regiões
aquele subir, e descer as calçadas, vedes aquele entrar, e sair sem quietação, nem
do Nordeste do Brasil;
2 matança: 3 litígio. questão aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer.
judicial; 4 atraiu e enganou. 15 Morreu algum deles,vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo, e a
enfim, ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.Jáse
mens se comeram somente depois de mortos, parece que era menos horror, e menosmatéi
de sentimento.Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai,peixes*
tambémos homens se comem vivos assim como vós. [...] Vede um homem desses,que
20 perseguidosde pleitos3,ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo.Come•ou
o Advogado,come-oo Inquiridor, come-o
a Testemunha, come-o o Julgador, e ainda
sentenciado, e já está comido. [...]
44
"Sermão de Santo António"
Outra coisa muito geral,que não tanto me desedifica,quanto me lastima em muitos de vós, é
aquela tão notável ignorância, e cegueira, que em todas as viagens experimentam os que navegam
arremete cego a ele,e ficapreso, e boqueando até que assim suspenso no ar,ou lançado no convés,
acaba de morrer. Pode haver maior ignorância e mais rematada cegueira que esta? Enganados por
um retalho de pano, perder a vida? Dir-me-eis que o mesmo fazem os homens. Não vo-lo nego. Dá
um exército batalha contra outro exército, metem-se os homens pelas pontas dos piques, dos chu-
ços, e das espadas, e porquê? Porque houve quem os engodou4, e lhes fez isca com dois retalhos de
pano. A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto,e que mais facilmente engana os homens.
(aos
Argumento
Exemplo
Contra-argumento
Exemplo
Conclusão
O Esclareça de que forma este capítulo cumpre os objetivos do sermão, tendo em conta
p.44).
os princípios da oratória: delectare, docere, movere (consultar
Bloco informativo 352,333.
GRAMÁTICA
45
palavras ou expressões
GRAMATICA conjunto de (deíticos)
designa o utiliza para
construir 0 fenómeno de
que
um termo enunciador seu referente depende sempre
Deixis é enunciação,
da é variável,
enunciação, isto é,
das coordenadas
enunciativas
auladigital ato de está associado ao
de cada palavra "dêixis" gesto de
o significado
Déixis
g GG
mática/Atividade:
temporal/ específicoetimológicoda
pessoal?
DétxiS
fixa; a sua interpretação está
espacial O referência
referenciais. referenciação só pode ser identificada
Déixis espacial
pessoal, portanto,
s auiz: têm, sua
I não Isto é, a vez que é o contexto situacional
e temporal
os deíticos enunciação. verbal, uma
de
circunstâncias na interaçãodados para essa mesma referenciação. Só ,
participantes os conhecimento do contexto
conta os fornece houver um
; "agora"que deíticos se
de
"tu","aqui", enunciadocom produziu o enunciado, a pessoa a quem se dirige
interpretar um quem
identificar
quepermita referenciados.
espaço e o tempo
aquelas cujo sentido só se preenche com o contexto
são
as palavrasdeíticas
Assim,
Exemplificando: ser interpretada se tivermos
irei aí visitar-te" só poderá
como"Amanhã é proferida, isto é, se soubermos
Umafrase em que
docontexto
partilhado interlocutor que se chama sara
conhecimento (irei), que se dirige a um
o António e que a visitará em sua casa (ao.
toré,porexemplo, domingo(amanhã),
seguinte,
' se refereaodia proferida por outro locutor, dirigida a um outro
diferente,
situacional
Numcontexto referenciação diferente também.
uma
a mesmafrase terá
' terlocutor,
46
Dêixis Definição Marcas e exemplos
Aponta para o momento Advérbios e locuções adverbiais temporais (ontem, hoje, amanhã,
de enunciação, criando neste momento, na próxima semana, no mês passado...), alguns
um ponto de referência adjetivos (atual, futuro...), alguns nomes (véspera) e marcas de flexão
que permite identificar o verbais (são tempos verbais deíticos o presente, o pretérito perfeito e
momento de enunciação, o o futuro do indicativo).
Dêixis temporal
que ocorreu antes ou depois • Estudo: o tempo verbal indica simultaneidade com o ato de
e os intervalos de tempo enunciação.
anteriores (passado) ou • Estudei: anterioridade relativamente ao momento de enunciação.
posteriores (futuro).
• Estudarei: posterioridade em relação ao momento de enunciação.
APLICAÇÃO
a. Pessoais:
"Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós, tem duas pro-
"
priedades, as quais em vós mesmos se experimentam: [...]
b. Espaciais:
"Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade
é que haveis de olhar."
c. Temporais:
"Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi tam-
bém agora as vossas repreensões."
Refira os elementos textuais que ilustram a dêixis pessoal, espacial e temporal nos
segmentos apresentados.
47
Vieira
Padre ,António
SENTIDOS
ANTECIPAR
António" 3
Orações
a
oportunismo, Partindo
Gramática/Atividade: berba,o maltratados e escravizados pelos colonos,
substantivas Maranhão, a
dos índiosdo
subordinadas mensagem
completivas; Orações abrange não só questões religiosas
finais; deixaaos ouvintes mas
subordinadasadverbiais
ta queVieira também
Orações subordinadas
substantivas relativas sociais e políticos.
e Susana Soares, "Contributos
Animação: 0 texto Cristina Macário Lopes para uma
expositivo
Baseadoem Ana Atas das Illjornadas cientifico-pedagógicas de
espacial aos Peixes'", in Português,
Quiz: Déixis pessoal, de santo António
e temporal 2
EDUCAÇÃOLITERÁRIA
0
Capítulo V