Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
4 Planejamento Econômico No Brasil
4 Planejamento Econômico No Brasil
ECONÔMICO NO BRASIL
• Anita Kon
PALAVRAS-CHAVE:
Planejamento governamental,
polítíca econômíca, plano, de-
senvolvímento, estabílízação.
KEYWORDS:
Publíc planníng, economíc po-
lícy, plan, development, stabíli-
zation.
possibilitado pela entrada de capital es- vés de uma tarifa aduaneira altamente
trangeiro privado e oficial para o finan- protecionista e da política cambial, que
ciamento do desenvolvimento de setores controlava o mercado de câmbio e as ta-
selecionados. xas de câmbio diferenciadas, segundo
O plano, identificando setores, metas e um sistema de prioridades. Como visto, o
objetivos a serem impulsionados, procu- desenvolvimento industrial foi fomenta-
rava eliminar "pontos de estrangulamen- do nesse período pela ação do BNDE,
to", que eram barreiras ao d esen volvi- que se concentrou nas indústrias de base
mente. dando ênfase a atividades produ- (siderurgia) e na infra-estrutura (trans-
tivas selecionadas. Para o setor de ener- portes e energia). Por outro lado, foi con-
gia, era planejado 43,4% do total do in- sideravelmente ampliada nessa época a
vestimento, a ser aplicado na elevação da participação direta do Estado nos investi-
capacidade de geração de energia elétri- mentos em indústrias de base, que foram
ca, produção de carvão mineral e produ- em grande parte financiadas pelas políti-
ção e refinação de petróleo. O setor trans- cas monetária e fiscal expansionistas.
portes abrangeria 29,6% do total dos in- De um modo geral, os resultados da
vestimentos planejados, com vistas no implementação do plano podem ser vi-
reaparelhamento de ferrovias, dos servi- sualizados, não só através dos investi-
ços portuários e dragagens da marinha mentos maciços no setor industrial de
mercante e do transporte aeroviário. No ponta, como também pela transferência
setor alimentação, seriam alocados 3,2% do excedente gerado nesse setor para ou-
do investimento planejado, através do tras atividades terciárias de apoio, parti-
crescimento da capacidade estática da cularmente por meio de dispêndio do Es-
rede de armazenamento e de frigoríficos, tado ou do fornecimento de serviços
da ampliação de matadouros industriais complementares de infra-estrutura (em-
e da mecanização da agricultura, bem bora esses investimentos de longa matu-
como do aumento da produção de fertili- ração comecem a se refletir com maior in-
zantes. A indústria de base absorveria tensidade na década seguinte). Esta es-
20,4'/') do total de investimentos, particu- trutura, que formou a base de apoio ao
larmente na siderurgia, produção de alu- crescimento industrial dos últimos anos
mínio, metais não-ferrosos, cimento, álca- da década seguinte, já no final dos anos
lis, celulose e papel, borracha, exportação 50, havia incorporado parte da indústria
de minérios de ferro, indústria automobi- de bens de consumo duráveis, de bens de
lística, de construção naval, mecânica e capital e da indústria pesada, bem como
de material elétrico pesado. Finalmente o de indústrias em substituição a importa-
setor educação, contemplado com 3,4% ções de insumos básicos, máquinas e
dos investimentos, visava à formação de equipamentos, eletrodomésticos e auto-
pessoal técnico especializado, orientado móveis.
para as metas de desenvolvimento do
país. Estes investimentos tiveram reper- A DIFUSÃO E CRiSTALIZAÇÃO 00
cussões con std erá vei.s no crescimento OESENIIOUJlMENTO INDUSTRIAL
global da economia, através de seus efei-
tos multiplicadores. Saliente-se o fato de A década de 60 apresentou-se contur-
que contribuíram para esse desenvolvi- bada, do ponto de vista econômico, com
mento as taxas extremamente rápidas transforrnacóes institucionais relevantes.
com que cresceu a demanda agregada. Até o ano de 1961, o processo de substi-
em virtude do aumento da renda real e tuição de importações no país propiciou
do excesso de demanda refletido na infla- taxas médias de crescimento anual do
ção, que naquela década, situou-se entre produto em torno de 6,8%. A partir de
10% e 20% ao ano. Além disso, a elastici- 1962, já se anunciava um período de es-
dade das condições de oferta interna per- tagnação, apresentando um crescimento
mitiu que parte desse aumento da de- menor em torno de 5%, e no período pos-
manda se transformasse em aumento do terior, até 1964, esse aumento cai para
produto real. 3,4% ao ano. De fato, o processo de subs-
As políticas econômicas do plano visa- tituição das importações vinha se esgo-
vam à proteção ao mercado interno, atra- tando e a economia entrou numa fase de
mentos e a realização de uma política damento externo bruto, que de US$ 21 bi-
de melhoria na distribuição pessoal e lhões em 1975 elevou-se para US$ 49,9 bi-
regional de renda. Foram formuladas lhões em 1979.
estratégias para o desenvolvimento in- Além do mais, o ano de 1980 caracteri-
dustrial e agropecuário, a integração na- zou-se pela expansão da demanda agre-
cional e internacional e o desenvolvi- gada, ocasionada pela promulgação da
mento social. lei salarial de setembro de 1979, que fi-
A crise econômica internacional sur- xou reajustes semestrais de salários ba-
gida com o "choque do petróleo" não seados no Índice Nacional de Preços ao
alterou os objetivos de desenvolvimento Consumidor - INPC e o prêmio de pro-
acelerado do plano. Em consonância a dutividade aos assalariados, situado em
estes objetivos, o Brasil recorreu ao en- 7% em média, em 1980.8 A continuada
dividamento externo, reagindo à nova taxa de crescimento do produto, que no
situação mundial. Para isto, contribuiu período se situou em média em 9,4% no
a adoção de políticas contracionistas em país, deveu-se em parte à continuidade
países desenvolvidos, o que favoreceu o das exportações, que não refletiram o de-
estado de liquidez no mercado financei- saquecimento da demanda internacional
ro internacional e possibilitou a conti- após 1974, chegando mesmo a apresentar
nuação do crescimento do produto a ta- crescimento. Isto se verificou em conse-
xas elevadas no país. Essa conjuntura qüência das medidas econômicas que
foi apoiada ainda por uma política de compuseram uma "mini-reforma cam-
preços internos do petróleo, que gerou bial", as quais estimularam as exporta-
aumentos pouco expressivos deste insu- ções, bem como da intensificação das
mo, o que retardou a queda da ativida- desvalorizações cambiais e da maxides-
de econômica no país, em relação à dos valorização no final de 1979, de maneira
outros países. Por outro lado, o segundo a alterar a paridade do poder de compra
choque do petróleo em 1979, represen- do cruzeiro. Ainda em 1980, a prefixação
tado por um aumento de 37,9% nos pre- cambial resultou em vantagens nos pre-
ços do produto em relação ao ano ante- ços das matérias-primas importadas, con-
rior e de 73,1 '/r) no ano de 1980, foi tribuindo para a taxa de crescimento des-
acompanhado ainda por políticas de sas importações.
ajustes, de modo a permitir que os re- As altas taxas de crescimento do PIB,
passes internos dos preços fossem infe- no período do II PND, refletiram, por um
riores aos externos, apresentando-se lado, o atendimento de grandes obras
abaixo da inflação americana, com de- públicas que continuaram a impulsionar
clínio do preço real do barril. Esta polí- a atividade industrial e financeira, tais
tica permitiu a persistência das taxas as- como a da Usina Hidroelétrica de Itaipu,
cendentes da utilização desse insumo da Ferrovia do Aço, do Metrô em São
na indústria e em grande parte dos Paulo, da Usina Nuclear de Angra dos
transportes. Reis e outras. Além do mais, a partir de
A incongruência da implementação do 1974, foram ampliadas as linhas de crédi-
plano original, sem as reformulações ne- to através de empresas subsidiárias do
cessárias para enfrentar as pressões exó- Banco Nacional de Desenvolvimento
genas surgidas com a nova situação Econômico - BNDE, representadas pelos
mundial, não apenas comprometeu as órgãos de Financiamento da Indústria de
metas definidas, como também ocasio- Base - FIBASE, Investimentos Brasileiros
nou o agravamento das contas externas e S.A.- EMBRAMEC e Agência Especial de
das tensões inflacionárias. A adoção de Financiamentos Industriais - FINAME.
uma política de stop and go, ao longo do Paralelamente, foram adotadas medidas
período do plano, manifestando-se por de restrições às importações de máquinas
anos de expansão e recrudescimento da e equipamentos, favorecendo as indús-
inflação (1976-78) e anos de contenção do trias nacionais de bens de capital. A im-
crescimento (1975 e 1977), não impediu a plementação acima mencionada dos pro-
8. MACEDO. R. B. M. Política
aceleração da inflação, o aumento do dé- jetos de obras governamentais foi respon- salarial e inflação: a expetiênci«
ficit público, do déficit em transações cor- sável pela demanda de parte da produ- brasileira recente. São Paulo:
rentes na balança comercial e do endivi- ção das outras indústrias de base, produ- IPE/USP, 1981.
ções, por sua vez, tiveram um controle Após três anos consecutivos de reces-
mais rígido, particularmente por meio de são, de 1981 a 1983, em que se expandiu
barreiras não-tarifárias, e a isto se asso- o atraso tecnológico brasileiro em relação
ciaram uma política monetária rígida e aos países industrializados, esperava-se
restrições ao crédito, como desestímulo em 1984 o aprofundamento da queda da
ao investimento privado. atividade. Porém, a economia brasileira
De um modo global, a economia brasi- retomou um novo ciclo de crescimento, a
leira apresentou uma evolução positiva partir da ocupação dos fatores de produ-
em alguns ramos dinâmicos da indústria, ção que se encontravam ociosos, verifi-
do setor financeiro e das comunicações cando-se naquele ano um crescimento da
em 1982, o que evitou uma queda mais ordem de 4,5% do PIB. Esta retomada
acentuada do produto nacional. Para isso das atividades continuou em 1985 com
colaborou, ainda, a política salarial refor- maior intensidade, permitindo o paga-
mulada. que naquele ano contribuiu para mento integral dos juros da dívida exter-
sustentar o nível do consumo agregado, na e a maior taxa de crescimento históri-
alimentado pelo crescimento dos emprés- co do país. Para isto contribuíram a que-
timos financeiros. No entanto, grande da dos preços do petróleo e a diminuição
parte do aumento da demanda interna, das taxas de juros internacionais, que,
em valores nominais, foi diluída pela in- concomitantes à melhoria do nível de
flação explosiva. No ano de 1983, obser- emprego interno, do aumento do déficit
vou-se sucessivas revisões da política sa- público e da remonetização acelerada da
larial, que redundaram em média na per- moeda, permitiram a intensificação do
da do poder de compra do assalariado nível de utilização da capacidade indus-
em cerca de 20%. Ao lado disto, o au- trial e a elevação dos salários reais.
mento da taxa de desemprego levou a A reversão da conjuntura recessiva
uma maior queda da demanda agregada. ocorreu principalmente como conseqüên-
Por outro lado, o nível de poupança in- cia da recuperação das economias ameri-
terna reduziu-se, diminuindo os recursos cana (principal mercado das exportações
para financiamento do setor privado, brasileiras), japonesa e dos países da
mantendo elevadas as taxas de juros. OECD - Organisation for Economic Co-
Com relação à balança comercial. as ex- Operation and Development, com refle-
portações ainda superaram as importa- xos no aumento das exportações brasilei-
ções, que foram consideravelmente redu- ras - facilitado pela maxidesvalorização
zidas no ano, diante da contenção da de- do cruzeiro em fevereiro de 1983 - que
manda pelas indústrias. Os setores mais redundou em um superávit comercial
afetados da indústria foram o de bens de acentuado. Porém, neste período, obser-
capital, com a queda drástica das enco- vou-se a ausência de uma política indus-
mendas e aumento da capacidade ociosa, trial vinculada a uma estratégia de de-
e o da construção civil com a diminuição senvolvimento científico e tecnológico a
do poder aquisitivo da população, por médio e curto prazos, tratando-se os pro-
um lado, e dos investimentos públicos blemas de competitividade internacional
por outro. da indústria através de medidas a curto
No tocante à inflação, sua aceleração prazo, que desfavoreceram o mercado in-
deveu-se em parte aos "choques de ofer- terno. Apenas o setor da indústria de in-
ta" devido às enchentes do sul, secas no formática recebeu apoio a partir da políti-
nordeste, maxidesvalorização e elevação ca de reserva de mercado, o que contri-
corretiva de preços administrados com a buiu para a implantação de empresas pri-
retirada de subsídios diretos. A par disto, vadas nacionais, voltadas para o segmen-
a política monetária permitia a expansão to de mini e microcomputadores, que, no
da moeda no sentido de ajustar a liqui- entanto, mostraram-se pouco competiti-
dez do sistema ao aumento dos preços. vas em nível internacional.
No mercado financeiro várias medidas Entre 1985 e 1987, a política governa-
foram tomadas com o intuito de reduzir mental procurou formular estratégias
o volume de recursos do sistema finan- para o desenvolvimento industrial, que
ceiro, provocando retração na oferta de no entanto não foram devidamente im-
crédito. plementadas. Além do mais, as metas de
quando ocorressem leilões de privatiza- por ano, em janeiro e julho, para todas as
ção. A tributação indicava um aumento categorias profissionais), a conversão
do IPI de vários produtos, taxação mais pela média real dos últimos doze meses,
pesada sobre o lucro do setor agrícola e a o fim do BTN e do BTNF (visando a de-
instituição do Imposto sobre Operações sindexar a economia), o fim do ooernight
Financeiras (IOF) sobre aplicações como e a criação de um fundo de títulos fede-
ouro, ações, títulos em geral e caderneta rais e estaduais, a criação da Taxa Refe-
de poupança. Seriam extintos os benefí- rencial de Juros (TR), a aplicação de uma
cios fiscais de redução de Imposto de tablita para contratos anteriores ao plano,
Renda das pessoas jurídicas e os incenti- o aprofundamento do aperto monetário e
vos à exportação. fiscal e finalmente um tarifaço para atua-
O congelamento dos preços públicos lização das tarifas e preços públicos (tari-
agravou a situação das estatais e a recu-
peração das tarifas acabou pressionando
a inflação. Por sua vez, a necessidade de
socorrer o caixa dos bancos impediu um
controle eficiente da moeda. O bloqueio
da dívida pública possibilitou a adminis-
tração do orçamento federal, porém os
cortes dos gastos foram limitados e, a
partir do início de 1991, observaram-se
dificuldades no controle das contas pú-
blicas, devido à recessão, à continuação
da alta da inflação e à perspectiva da pos-
terior devolução do dinheiro bloqueado.
A política industrial, delineada no início
do novo governo, não tomou o fôlego ne-
cessário. O anunciado pacote de medi-
das, sob o nome de Programa de Apoio à
Capacitação Tecnológica da Indústria,
previa um crescimento nos investimentos
em pesquisa tecnológica, que passariam fas portuárias, nafta, gás de cozinha, ga-
de 0,5% do PIB, em 1990, para 1,3% até solina, álcool e energia elétrica). No en-
1994, embora ainda se situando aquém tanto, a inflação volta a crescer rapida-
dos parâmetros dos países desenvolvidos mente já a partir de abril, situando-se no
(em torno de 2,5')';,). A nova e tímida polí- final da gestão presidencial em um pata-
tica industrial recorreu ao fim dos subsí- mar de 23% ao mês. Neste período, a eco-
dios governamentais e a uma política de nomia apresentava uma situação de
liberalização das importações para esti- aprofundamento da recessão econômica,
mular a capacidade real de moderniza- aumento do desemprego, queda dos salá-
ção industrial brasileira e atender os obje- rios e da massa salarial. Por outro lado, a
tivos de elevação da competitividade e recessão interna levou as empresas ao
da produtividade. No entanto, a restrição mercado externo e inibiu as importações,
da atividade econômica, subproduto das o que resultou em saldos superavitários
medidas de ajustes fiscal e monetário, a na balança comercial e no aumento de re-
carência de recursos e o clima de incerte- servas cambiais. Por outro lado, as eleva-
zas quanto à condução da política econô- das taxas de juros do mercado interno,
mica pelo governo bloquearam o avanço consideravelmente superiores às interna-
de investimentos consideráveis por parte cionais, favoreceram um movimento de
de empresas privadas e estatais. entrada de capitais especulativos no país.
O Plano Collor Il, em janeiro de 1991, A contrapartida foi a necessidade de
objetivava refrear a corrida da inflação. emissão de cruzeiros, que provocou ex-
As medidas previam o congelamento de pansão dos meios de pagamento e pres-
preços e salários, a unificação das datas- sões nas áreas fiscal e monetária.
base de reajustes salariais (os salários Na gestão presidencial seguinte, a bus-
passariam a ser corrigidos duas vezes ca da organização da economia priorizou
Artigo recebido pela Redação da RAE em abril/94, avaliado e aprovado para publicação em maio/94. 61