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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DISCIPLINA DE ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL

Primeiro Trabalho Economia Política Internacional

CARVALHO, Yasmim Iara Monteiro de


NASCIMENTO, Júlia Ferreira
OLIVEIRA, Laura Marques de
OLIVEIRA, Gabriel Marques
SANTOS,Gabriel Henrique Oliveira

Uberlândia-MG
2024
Questão: Tomando como base as contribuições de Luxemburgo, Kautsky, Hilferding, Lenin e
Marini, qual seria a melhor maneira de definirmos o imperialismo? Por quê?

Para Rosa Luxemburgo, o imperialismo é um fenômeno intrínseco ao capitalismo,


essencial para sua continuidade e sobrevivência. Ela o define como a “expressão política do
processo de acumulação de capital” (LUXEMBURGO, 1985, p. 292), onde a demanda por
mercadorias produzidas no mundo é impulsionada pelas regiões não-capitalistas afetadas pelo
domínio das grandes potências imperialistas. Essas regiões fornecem mercados externos
necessários para o consumo da mais-valia, uma vez que o mercado interno não é capaz de
absorver completamente a produção.
Nesse sentido, a expansão imperialista é vista como uma política de conquista
extraterritorial, que visa alcançar países não capitalistas para conquistar seus mercados. Esse
processo envolve a destruição de economias naturais e a coerção dos países mais fortes para
com os mais fracos. Luxemburgo destaca que a coerção e a força são mecanismos básicos
disponíveis aos países imperialistas para conquistar outros países e promover relações de
mercado necessárias à acumulação de capital.
Nesse contexto, as ações militares desempenham um papel importante, pois permitem
a alocação do excedente, possibilitando a maximização da mais-valia. O subconsumo
intensifica as disputas, levando vários atores a brigarem por regiões onde o capitalismo não se
estabeleceu completamente, buscando espaços para a realização do capital através da
comercialização de mercadorias excedentes. Destaca-se, na concepção de Luxemburgo, a
tendência à autodestruição promovida pela crise de subconsumo, que se dá no momento em
que o excedente de produzido que não pode ser consumido dentro do mercado interno de um
país ou região. Isso leva à necessidade de encontrar outros mercados externos para absorver
esse excedente. Para resolver essa situação, é exigida a implementação da reprodução em
escala ampliada, ou seja, aumentar a produção para atender à demanda externa.
Por outro lado, é possível observar que Kautsky, ao abordar o imperialismo, destaca a
interligação intrínseca entre o setor agrário e o industrial, ressaltando que a produção
industrial encontra-se vinculada à disponibilidade de matérias-primas provenientes do setor
agrícola. Em sua análise, ele enfatiza a rápida acumulação de capital na indústria em
comparação com os setores agrícolas, os quais, de maneira geral, demandam menos
trabalhadores. Nesse contexto, Kautsky argumenta que a anexação de territórios e a influência
sobre regiões agrárias pelos países industriais são imperativas.
A justificativa para essa busca por territórios agrários reside na tendência à exportação
de capitais para essas áreas, visando reduzi-las a um estado de dependência política.
Consequentemente, surge a necessidade não apenas de subjugar essas regiões, mas também de
impedir o desenvolvimento de indústrias locais, evitando assim a emergência de concorrentes
industriais, haja vista que “essa situação desenvolveu-se com a tendência para exportação de
capitais para as terras agrárias, esforçando-se para reduzir essas terras a um estado de
dependência política” (KAUTSKY, 1914).
Sinteticamente, a teoria de Kautsky reforça a ideia de que o investimento estatal em
outras regiões é um elemento constituinte do imperialismo. Ele destaca que tal investimento
não apenas implica uma dependência econômica, mas também estabelece uma interligação
política entre a potência industrial exploradora e a região agrícola explorada. Dessa maneira, o
imperialismo assume o papel de instrumento de dominação sobre a zona agrária, solidificando
a dependência política e econômica como parte integrante desse fenômeno complexo.
Por fim, no que se refere ao conceito de ultraimperialismo, Kautsky examina os ônus
associados à colonização para as potências imperialistas e explora alternativas para superar
essa prática dispendiosa vinculada ao imperialismo. Em sua análise, ele propõe uma solução
na forma de um entendimento implícito entre as potências, onde o exercício do domínio
ocorreria por meio de acordos comerciais, rompendo assim com a tradicional dinâmica entre
colônia e metrópole. Aqui, importa trazer o conceito de Hilferding do imperialismo enquanto
a cartelização – que para Kautsky é denominado ultraimperialismo, isto é, a junção entre os
imperialismos do mundo, o que findaria a guerra entre eles por domínio de territórios.
Hilferding tem em sua concepção uma distinção de Rosa Luxemburgo, visto que para
ele o capital financeiro é a matriz da política imperialista sendo ele criado pela junção do
capital bancário com o industrial. Nesse sentido, o autor entende que o aumento da
composição orgânica do capital resulta na centralização e concentração do mesmo, o que gera
uma tendência ao crescimento extraterritorial. Assim, deve-se à necessidade de direcionar
parte desse capital para outras regiões capazes de absorvê-lo, o que gera a exportação de
plantas capitalistas. Em consequência da dominação de tais organizações fabris e financeiras,
os Estados dominados ficam reféns e dependentes da estrutura imperialista e incapazes de
avançar sozinhos (HILFERDING, 1985).
Nessa linha lógica, a dependência também é criada pelo fato que a produtividade
industrial só pode ser alcançada com tecnologia, de forma que é necessário capital disponível
para tanto. Como consequência, o organismo financeiro, através dos bancos, centraliza os
recursos monetários e o acesso ao crédito, de forma que tais recursos ficam concentrados nas
mãos de poucos grandes capitalistas. Nesse cenário, a concorrência por capital ocorre entre
oligopolistas e monopolistas ao passo que a atuação deles supera o âmbito nacional para
adentrar nos territórios exteriores (HILFERDING, 1985).
Assim, há uma fusão na qual os banqueiros passam a integrar a direção dos capitais
produtivos. Isso ocorre porque o capital bancário tem interesse em que o capital industrial ao
qual está ligado supere a concorrência, porém não deseja que esta seja eliminada. É por meio
dessa competição que a mudança avança. Por consequência, no imperialismo financeirizado, a
exploração de capitais europeus para cá transformou as economias coloniais em economias
dependentes (HILFERDING, 1985).
Já para Vladimir Lénine (1917), o imperialismo corresponde à fase monopolista do
capitalismo, quando este se desenvolve a um determinado grau muito elevado. O monopólio
deriva da própria livre concorrência, existindo acima dela sem eliminá-lá por completo –
quando a grande produção passa a eliminar a pequena e a ser substituída por outra maior
ainda –, o que gera contradições no funcionamento do capitalista. É com o surgimento de
monopólios e da transformação de elementos do capitalismo em sua antítese (monopólios,
cartéis, trustes, etc) que o capitalismo se transformou em uma estrutura econômica e social
mais elevada: o imperialismo capitalista.
Nessa fase de desenvolvimento, haveria cinco elementos fundamentais constituintes
do imperialismo. Em primeiro, a concentração da produção e do capital a ponto de criar os
monopólios e, em segundo, a fusão entre capital bancário com o industrial pautada no capital
financeiro da oligarquia financeira. Ademais, em terceiro, a exportação de capitais se torna
mais importante que a de mercadorias, em quarto, associações internacionais partilham o
mundo entre si e, em quinto, as potências capitalistas que realizam a partilha territorial
(LÉNINE, 1917). Isto é:

“os grandes capitais monopolistas ditam as regras econômicas, políticas e culturais


da produção material da riqueza, estabelecendo um jogo em que a concorrência por
recursos e por apropriação privada da produção social da periferia apresenta-se
como parte indissociável da composição de seus capitais, cujas sedes estão nos
países centrais.” (TRASPADINI; BUENO, 2014, p. 196).

Lénine (1917), entretanto, critica dois entendimentos elaborados por Kautsky


previamente expostos: da formação do ultraimperialismo e da dominação do imperialismo
com a anexação de zonas rurais/agrárias. Quanto ao primeiro, a existência de um monopólio
único não se concretiza porque o capital financeiro e os cartéis e trusts internacionais
acentuam a diferença do ritmo e do crescimento das regiões distintas da economia mundial,
em vez de atenuar as suas contradições e desigualdades. Assim, a redivisão da partilha do
mundo decorre do emprego da força e não de maneira pacífica. Quanto ao segundo, a nação
imperialista se apoderou dos territórios tanto rurais quanto industriais da potência rival não
para si, mas com o intuito de enfraquecer a sua hegemonia (LÉNINE, 1917).
Por fim, a crítica geral de Lénine (1917) a Kautsky reside no enfoque político do
segundo autor na definição de imperialismo, rejeitando uma correlação com as bases
econômicas capitalistas. Desse modo, a teoria kautskyana não seria marxista e, sim, proporia
um reformismo burguês no qual deve-se lutar contra a política do imperialismo sem objetar à
política internacional dos trusts e dos bancos. Para o autor russo, a guerra configura o único
meio de eliminar a diferença entre o desenvolvimento de forças produtivas e a acumulação de
capital e a partilha das colônias e dos locus de influência do capital financeiro.
Ruy Mauro Marini, por sua vez, aborda os estudos da dependência na América Latina
e o imperialismo a partir de uma perspectiva marxista. O autor afirma que os países
latinoamericanos estão inseridos no contexto global do capitalismo, o que, inevitavelmente,
faz com que a dependência seja a realidade da região. Tal dependência, segundo Marini,
resulta em uma subordinação a entidades externas. Além disso, é destacado o papel do
imperialismo na exploração econômica e na dominação dos países latinoamericanos pelos
países centrais imperialistas. Nesse sentido, um cenário que é contemplado por relações
políticas e comerciais desiguais contribui para a manutenção dessa dependência e do
subdesenvolvimento da região (MARINI, 1973).
Marini, aponta também as peculiaridades do capitalismo dependente da América
Latina, como: a superexploração da força de trabalho - que influencia nos futuros processos
de industrialização desses países; dependência econômica externa; sistema salarial e
circulação financeira específicas. Com isso, o autor busca enfatizar como essas
especificidades devem ser analisadas previamente para que se entenda o contexto histórico e
social da região. Ademais, o autor aborda o conceito do “subimperialismo”, que se refere a
dualidade da posição de certos países periféricos - inclusive os da América Latina. Esse termo
é atribuído a esses países que, ainda que permaneçam subordinados às potências imperialistas
centrais, são desenvolvidas dominâncias regionais a partir da utilização de ferramentas
utilizadas por imperialistas. Dessa forma, é possível que esses países periféricos que exercem
um “subimperialismo” possuam um nível de poder regional, ainda que sofram uma
subordinação aos países centrais (MARINI, 1973).
Em resumo, a visão de Ruy Mauro Marini sobre o imperialismo na América Latina
está fundamentada na análise crítica da dependência econômica, subordinação e exploração
que definem a interação entre os países latino-americanos e as potências imperiais dentro do
sistema capitalista global. É evidenciada a complexidade dessas relações e a adição do
conceito do “subimperialismo” na discussão, demonstra ainda mais a grande escala de
peculiaridades na análise desse “quadro de dependências” dos países da América Latina.

Referências
HILFERDING, Rudolf. O capital financeiro. São Paulo: Nova Cultural, 1985

KAUTSKY, Karl. O imperialismo. In: TEIXEIRA, Aloísio (Org.). Utópicos, heréticos e


malditos: os precursores do pensamento social de nossa época. Rio de Janeiro: Record,
2009.

LENINE, V. I. O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo. In: _____. O Imperialismo,


fase superior do capitalismo. Edições Avante: 1917.

MARINI, R. M. Dialética da Dependência. Vozes, 1 jan. 2000

TRASPADINI, Roberta; BUENO, Fábio Marvulle. Lenin e a interpretação do imperialismo


nos séculos XX e XXI. Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos, v. 4, n. 2,
mai./ago. 2014, pp. 186-204.

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