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A China capitaneou a criação de instituições internacionais como o Banco Asiático de

Infraestrutura e Investimentos e o Fundo da Rota da Seda, que poderiam auxiliar a mitigar


estes riscos, além de projetar a criação de valores comuns. No que diz respeito à relevância da
atuação dos bancos multilaterais na construção de infraestrutura
Com 57 membros em sua criação, o Banco Asiático de Infraestrutura e Investimento
(AIIB) tem 37 países da Ásia e do Pacífico como membros, o que pode ser visto como um
sinal de que eles apoiam a ideia chinesa de construir infraestrutura regional. Além disso, o
AIIB também inclui países europeus, como a Polônia, e africanos, por causa do interesse
chinês no futuro da Iniciativa do Cinturão e Rota. Quanto à importância dos bancos
multilaterais na construção de infraestrutura, o AIIB tem mais de U$100 bilhões em capital,
com possibilidade de expansão através de linhas de crédito. Parte desse dinheiro já está sendo
utilizado em projetos de energia no Paquistão e de infraestrutura civil no leste asiático.
Já o Fundo da Rota da Seda é uma iniciativa em fase inicial para criar uma
organização de crédito, cuja origem remonta ao Primeiro Fórum para a Cooperação
Internacional na Nova Rota da Seda em 2016. Apesar de ainda não ter uma abrangência tão
grande quanto a do AIIB, o fundo já tem uma linha de capital de mais de U$40 bilhões, e essa
quantia deve crescer à medida que o projeto se expandir e mais países aderirem como
membros.
Ademais, o governo chinês busca aproximar o projeto da Iniciativa do Cinturão e
Rota (BRI) de importantes instituições multilaterais que já contam com ação chinesa. Nesse
sentido, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco dos
BRICS, deve atuar como catalisador para os projetos da BRI, uma vez que seu objetivo é
estimular o desenvolvimento de países emergentes. Com sede em Shanghai, na China, o NBD
lançou recentemente sua estratégia para o período de 2017-2021, onde a construção de
infraestrutura para o desenvolvimento sustentável é o principal foco, recebendo dois terços
dos fundos disponíveis. O plano envolve cinco áreas temáticas: energia limpa, gestão e
saneamento da água, transporte e logística, desenvolvimento urbano sustentável e cooperação
e integração entre seus membros. A instituição pretende gradualmente abrir sua estrutura para
a participação de novos membros, visando maior diversidade geográfica e cultural. Em suma,
a criação de uma comunidade com destino comum, evocando conceitos e ideias relativas à
cultura chinesa, se refere a um projeto inclusivo para a Eurásia, onde a China atua como
ponto central de articulação geoeconômica, provendo bens públicos para os países vizinhos.
Isso ocorre por meio da promoção do desenvolvimento por meio da construção de
infraestrutura e do aumento do comércio, buscando gerar benefícios mútuos para todas as
partes envolvidas.

Tianxia
Além disso, é importante ressaltar que a Tianxia desempenha um papel fundamental
na concepção da BRI, uma vez que representa uma construção cultural e política fundamental
para a estabilidade da China. A noção de Tianxia, que se refere a tudo o que existe sob os
céus, tem suas raízes na literatura chinesa antiga e está na base do sistema tributário
sinocêntrico. Esse sistema moldou a organização do trabalho e da vida social, bem como a
cultura regional, que valoriza a subordinação e a deferência dos povos vizinhos. Para a
Tianxia, é necessário estabelecer uma ordem hierárquica diretiva que represente
verdadeiramente a vontade geral do povo. Isso implica na necessidade de uma instituição
internacional que atue no sentido do maior para o menor (Tianxia, Estado e família), em
oposição às instituições ocidentais que atuam do menor para o maior (indivíduo, comunidade
e Estado-nação). É importante destacar que essa forma de pensamento contrasta com os
valores ocidentais..
Nesse cenário, o conceito de tianxia se tornou associado à ideia de soberania da China
e do seu papel central na organização do espaço regional, sem constituir a dominação sobre
os povos que participavam do comércio e da sua esfera de influência. Este processo era
legitimado internamente pela percepção de superioridade moral e cultural da China. Nessa
linha de pensamento, a BRI seria uma expansão da política externa com base na Tianxia, isto
ao passo que é justamente a noção de uma ascensão central chinesa como líder em um âmbito
regional asiático e global.

Paquistão:
Uma nação chave para o sucesso da BRI no território asiático é o Paquistão, de forma
que a nação foi uma das primeiras contactadas pelo PCC em prol do projeto. Nesse viés, o
Paquistão é visto como um dos condutores para o acesso da China aos recursos naturais da
Ásia Central, tais como cobre, ferro, gás natural, ouro, urânio, entre outros (KAPLAN, 2012).
Um vínculo com Paquistão tem o potencial de conceder acesso ao Oceano Índico, zona que
não se encontra nos limites geográficos imediatos da China.
Nesse contexto, o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC) é o eixo mais
desenvolvido nos investimentos da BRI, sendo que foram acordados 176 projetos de
construção em diversas áreas, tais como usinas de energia, ferrovias, gasodutos, oleodutos e
redes de cabos de fibra ótica.

Going Global
A projeção global dos investimentos chineses, ou estratégia Going Global foi inicialmente
pensada como uma política visando o acesso a recursos energéticos necessários para o
desenvolvimento de sua economia nacional. A estratégia Going Global surgiu através do 10º
Plano Quinquenal correspondente ao período 2001-2005, sendo que a sua deliberação previa
a continuidade desta estratégia nos próximos planos quinquenais. O seu principal objetivo era
a internacionalização de empresas chinesas que fossem competitivas, de modo a propiciar o
aumento das exportações de produtos e serviços do país. A formulação do 11º Plano
Quinquenal correspondente ao período 2006-2010 menciona o aprofundamento da estratégia,
enfatizando o aspecto de promoção de relações econômicas com benefícios para ambas as
partes (win-win). O 11º Plano enfatiza ainda a necessidade de adoção e adaptação aos
princípios do ordenamento internacional e que a promoção do desenvolvimento deve ser o
norte da economia chinesa.

EUA
A China procura se inserir na Eurásia continental, em resposta à influência dos EUA na Ásia
e no Pacifico e visando se posicionar de forma mais favorável, ao passo que aumenta o seu
peso econômico e militar no sistema internacional. Isto ocorre através do estabelecimento
de hubs comerciais, através dos investimentos em infraestrutura e de esforços político-
diplomáticos no sentido de formar maiores vínculos com os países da Eurásia a BRI seria o
Plano Marshall chinês, fazendo alusão ao auxílio que os EUA ofereceram à Europa Ocidental
para a sua reconstrução no pós-Segunda Guerra Mundial.
Naturalmente, o projeto de integração da Eurásia, sob liderança da China, além de ilustrar a
redistribuição de poder mundial desde a década de 1970, gera tensões com os Estados Unidos
e seus aliados. Como evidência dessas disputas, os países do G7, em reunião de cúpula em
junho de 2021, anunciaram a criação de um projeto “rival” da BRI, conhecido como
Reconstruir um Mundo Melhor (Build Back Better World – 3BW), cujo objetivo é mobilizar
o setor privado para promover investimentos em infraestrutura no mundo em
desenvolvimento
Enquanto África, América Latina, Austrália e outros países asiáticos recebem a maioria dos
investimentos em energia e recursos naturais e infraestrutura relacionada, Europa e Estados
Unidos são o mercado prioritário para investimentos em serviços, mídias, telecomunicações,
manufatura avançada e outras tecnologias (Jaguaribe, 2018).

Japão
A China viu o fim do período da tianxia e a imposição à entrada no sistema Westfaliano no
século XIX como uma competição com outros impérios. A questão do nacionalismo devido
ao pertencimento a um local geográfico e o orgulho nacional desvinculado da moral
constituíam fatores de difícil compreensão para os chineses. Foi apenas com a derrota contra
o Japão em 1894-1895 que a China percebeu, naquele contexto, que o seu poder havia
deixado de ser o de um grande império e que a ordem asiática estava se organizando em
novos termos, através de outros atores (GUNGWU & YONGIAN, 2008).
A partir do final do século XIX os diplomatas chineses tentaram promover a inserção da
China como um país poderoso e em posição de equidade no que diz respeito às outras
potências do sistema westfaliano. Entretanto, as turbulências internas na China dificultaram o
processo. A invasão do Japão sobre o território chinês e 37 anos de guerras civis internas, que
duraram de 1912-1949, impossibilitaram uma articulação internacional favorável.
Apenas com a Revolução Comunista de 1949 o país começa a reconquistar efetivamente sua
soberania interna e considera-se o marco paradigmático do fim do século das humilhações,
que havia começado nas Guerras do Ópio.

Rússia
O corredor econômico China-Mongólia-Rússia, surgiu no âmbito da Organização para
Cooperação de Xangai, ao passo que os chefes de Estado dos três países vinham realizando
consultas e negociações visando coordenar os seus planos geoestratégicos para a Eurásia.
Nomeadamente, a BRI é um projeto proveniente da China, a União Econômica Eurasiática
capitaneada pela Rússia e a Rota das Estepes, iniciativa da Mongólia. Foi assinado um
memorando de entendimento no ano de 2014, além de um tratado de cooperação trilateral no
ano de 2016, identificando 32 projetos nas áreas de transporte, energia, turismo, alimentos,
redução de barreiras ao comércio, agricultura, segurança alimentar, cooperação técnico-
científica, entre outros.
A estabilização dos países da Ásia Central e a construção de infraestrutura na região são
fatores positivos para a Rússia, visto que a promoção da conectividade e da infraestrutura
poderá dinamizar as atividades econômicas da região como um todo. Tensões entre estes
atores poderiam surgir se a BRI se consolide de forma mais incisiva nos domínios de defesa e
segurança, questões que motivaram a criação da União Econômica Eurasiática por parte da
Rússia

Índia

A Índia possui a percepção de liderança na Ásia Meridional, região que inclui o


Paquistão, o Nepal, o Butão, Bangladesh, o Sri Lanka, as Maldivas e o Afeganistão. A Índia
considera em sua visão estratégica que o Oceano Índico constitui parte importante do seu
espaço vital de inserção externa, cujos limites definem-se este território a partir do Golfo de
Hormuz, na Ásia Ocidental, indo até o estreito de Malacca no Leste Asiático (BAVA, 2007,
p.05; KHANNA, 2016, p. 164-166). Pelo estreito de Malacca passam anualmente
mercadorias que representam um valor de comércio de US$ 5 trilhões (AL JAZEERA, 2016).

No entanto, no que tange ao equilíbrio de poder e zona de influência na Eurásia,


existe certa tendência de balanceamento entre estes atores. A busca da China por alimentos e
recursos naturais na Eurásia fere desígnios de segurança alimentar e energética da Índia e
vice-versa. Os mesmos disputam influência e locais de investimento na Eurásia, visando
princípios de segurança energética e acesso a recursos que permitam a manutenção dos seus
respectivos processos de ascensão econômica (BAVA, 2007). O complexo panorama deste
movimento aponta para o fato de que a BRI poderia levar a escalada de tensões regionais.

Inicialmente a Índia se posicionou de forma evasiva em relação ao apoio à BRI.


Entretanto, em maio de 2017 o país se absteve de participar no Fórum da Nova Rota da Seda,
evento organizado em Pequim, indicando as suas reservas quanto à participação na Iniciativa,
devido aos conflitos territoriais que possui com o Paquistão na região da Caxemira.

A China e a Índia possuem o status de parceria estratégica em certas iniciativas, como os


BRICS e nos temas ligados a cooperação sul-sul e as mudanças climáticas.

Inclusão
A criação de bancos visando a providenciação de infraestrutura em diversas
localidades do mundo é o plano da Nova Rota da Seda, com isso, houve a criação do Banco
Asiático de Investimento e Infraestrutura (AIIB). Esse banco contou com 57 países membros
na sua criação, dentre eles 37 eram da região asiática, mostrando a relevância da ação
integrativa chinesa na região.
Entre os responsáveis pelo investimento em infraestrutura, também foi criado o Fundo
da Rota da Seda, que tinha como função desenvolver valores comuns entre os beneficiários e
os promotores de tal ação, além de mitigar os riscos. De mesmo modo, o Novo Banco de
Desenvolvimento (NBD), ou Banco dos BRICS, deve atuar como incentivador do projeto da
Nova Rota, estimulando o desenvolvimento dos países emergentes. Sua sede está localizada
em território chinês, e tem como pilares principais o desenvolvimento de transporte e
logística, e integração dos países membros, com o intuito de ampliação da participação de
novos membros, com maior diversidade geográfica.

O desenvolvimento de um pensamento da necessidade de integração e centralização


da soberania concentrada na China, se baseia no conceito de Tianxia, elaborado pelo autor
Zhao Tingyang. Esse conceito é importante para compreender a política externa atualmente
empreendida pela China e qual a visão da ordem internacional que o país asiático tem. A
Tianxia exige que haja uma ordem hierárquica diretiva que realmente expresse a vontade
geral do povo. Sendo assim, cabe uma instituição internacional que seria elaborada e agiria
no sentido do maior para o menor (Tianxia, Estado e família) e não do menor para o maior
(indivíduo, comunidade e Estado-nação) como as instituições ocidentais, ou seja, é uma
forma de pensamento que se contrapõe ao Ocidente.

O Paquistão é um importante pólo para a China, devido ao acesso aos recursos


naturais, como o cobre, ferro, gás natural, ouro, urânio, entre outros (KOTZ, 2018), além de
abrir caminho para o Oceano Índico. Com isso, foi desenvolvido um Corredor Econômico
China-Paquistão, sendo esse o eixo mais desenvolvido dos investimentos da Nova Rota da
Seda, com a criação de ferrovias, usinas de energia e redes de cabos de fibra óptica.

O projeto do Belt and Road Initiative, gerou inquietação no Ocidente, principalmente


na maior potência e representante desse, os Estados Unidos. Essa tensão ficou explicitada na
reunião do G7, grupo dos países mais industrializados do mundo, composto por: Alemanha,
Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, em 2021. Onde anunciaram a
criação de um projeto que atuaria como contraponto ao BRI, conhecido como 3BW (Build
Back Better World), que tem como objetivo principal promover infraestrutura para países em
desenvolvimento até 2035, com investimento privado.

O nacionalismo chinês se estabeleceu de fato ao final da Primeira Guerra Sino-


Japonesa, em 1894-95, onde a China perdeu, e com isso, houve a realização de que o império
havia deixado de ser um grande poder asiático, que agora havia ganhado novos atores. Dessa
forma, os chineses foram atrás de se inserir novamente no sistema internacional, como um
país poderoso e com equidade em relação aos demais agentes do sistema westfaliano adotado
à época. Entretanto, apenas com a Revolução Comunista, que ocorreu em 49, o país consegue
se posicionar efetivamente com sua soberania interna e angariar uma relevância, não só no
continente asiático, como no mundo como um todo.

a Índia aparece em algumas questões relacionadas a China, como a relação que exerce na
Ásia, principalmente no que tange o Oceano Índico, região alcançada pelos chineses através
da parceria estabelecida com o Paquistão, considerado parte importante do espaço vital de
inserção externa, com fluxo de mercadorias muito grande. Além disso, os dois países são
parte de uma parceria estratégica: os BRICS, composta por Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul, que versa sobre cooperação sul-sul. Todavia, no que tange a Eurásia, e
consequentemente, o poder de influência na região, existem certos impasses, como a disputa
pelo domínio de princípios sobre segurança energética e acesso a recursos que permitam
ascensão econômica. Tendo isso em vista, o BRI escalou as tensões regionais, contando com
a abstenção do país indiano no Fórum da Nova Rota da Seda, realizado em Pequim, com a
justificativa de sua não participação devido aos conflitos que possui com a China e o
Paquistão na região da Caxemira.

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