Você está na página 1de 11

UE E O PACTO VERDE IDENTIDADE E 2ª GUERRA MUNDIAL

ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO UMA CULTURA HISTÓRICA DA


ANO XI
EUROPEU DE 2024: UMA ELEIÇÃO DE HEROICIDADE: OS "FEBIANOS" PELAS Nº 2
‘SEGUNDA ORDEM’ DIANTE DA AGENDA PÁGINAS DE O FRANCANO Rio de Janeiro
CLIMÁTICA? 2º semestre de 2023
ISSN:2318-5767 (IMPRESSO)
POR LabRI POR KAIO LUCCAS CUSTÓDIO ARAÚJO ISSN:2318-6380 (DIGITAL)

Info
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA | VENDA PROIBIDA

JORNAL DO NÚCLEO DE ESTUDOS INTERNACIONAIS BRASIL -ARGENTINA

FROM CANCEL CULTURE TO RIGHT-WING NATIONALISM: A CALL FOR A NEW LEFT?


ENTREVISTA COM DR. UMUT ÖZKIRIMLI

PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO E OS PAÍSES CONSTITUIÇÃO E AUTORITARISMO


EMERGENTES
BRICS: MODERNIZAÇÃO AO ESTILO CHINÊS HERANÇA AUTORITÁRIA NO BRASIL E
COMO UMA NOVA ALTERNATIVA PARA O PROBLEMÁTICAS CONSTITUCIONAIS:
BRASIL E ARGENTINA ATRAVÉS DOS BRICS PERSPECTIVAS DE MUDANÇA
E DO NBD POR JÚLIA A. F. FRANCISCO E LUCAS B. DOS
POR ALFREDO MIRANDA SANTOS
Jornal Informativo do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina | 2º semestre de 2023

EDITORIAL
O JORNAL INFORMATIVO DO NÚCLEO DE ESTUDOS INTERNACIONAIS BRASIL-ARGENTINA é uma publicação do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-
Argentina, que se vincula ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI/UERJ) e ao Pro-
grama de Estudios Argentina-Brasil (PEAB), da Universidad Nacional de Rosario (UNR). É disponibilizado semestralmente, com o objetivo de congregar e
incentivar estudantes que pretendam divulgar seus estudos sobre as relações internacionais do Brasil e da Argentina.
Além disso, pretende disponibilizar reflexões sobre: os processos de integração regional; a dimensão histórica e cultural das relações internacionais dos
dois países; as relações comerciais, a articulação econômica e as relações econômicas com parceiros externos. Visa, também, divulgar os seminários, cursos
de extensão, workshops e congressos realizados pelo NEIBA/PPGRI/UERJ e pelo PEAB/UNR.
Os autores assumem inteira responsabilidade pelas opiniões expressadas nos artigos. O jornal é de acesso aberto, sendo permitida a reprodução total ou
parcial dos conteúdos publicados, desde que mencionada a fonte.

InfoNEIBA ISSN:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro 2318-5767 (versão impressa)
Rua São Francisco Xavier, 524, 9º andar, sala 9037 (bloco F) 2318-6380 (versão digital)
CEP: 20550-013 | Rio de Janeiro/RJ | Brasil

EXPEDIENTE
COORDENAÇÃO E DIREÇÃO GESTÃO EDITORIAL
Hugo Rogelio Suppo Renato T. Borges
Layla Dawood
Leandro Gavião EDIÇÃO GRÁFICA
David Souza Pinto
CONSELHO CONSULTIVO
Gladys T. Lechini ASSISTENTE EDITORIAL
Miriam Gomes Saraiva Stephanie Braun

REVISÃO
Rafael Sales Rosa

EQUIPE INTEGRANTE DO NEIBA


COORDENADORES PESQUISADORES ASSOCIADOS ASSISTENTES
HUGO ROGELIO SUPPO CARLA MORASSO JULIANY RAMOS DE OLIVEIRA SIMOES
Doutor em História das Relações Internacionais Prof.ª Dr.ª em Relações Internacionais, UNR. Graduanda em Relações Internacionais, UERJ, e
pela Universidade Paris III, França. lattes.cnpq.br/5484466803447177 bolsista do NEIBA.
Professor Titular, PPGRI/UERJ. lattes.cnpq.br/5123422630093804
hugorogeliosuppo@mac.com
CLARISA GIACCAGLIA
lattes.cnpq.br/6597292016894725 LAVÍNIA RAMOS RODRIGUES
Prof.ª Dr.ª em Relações Internacionais, UNR.
Graduanda em Relações Internacionais, UERJ, e
lattes.cnpq.br/6355594467867423 bolsista do NEIBA.
GLADYS T. LECHINI
lattes.cnpq.br/3425779128094388
Doutora em Sociologia pela Universidade de São GISELA PEREYRA DOVAL
Paulo. Prof.ª Dr.ª em Relações Internacionais, UNR.
Professora Titular da Cátedra de Relações Inter-
nacionais, UNR.
LEANDRO LOUREIRO COSTA
gladys.lechini@fcpolit.unr.edu.ar
Doutor em Relações Internacionais, UERJ.
lattes.cnpq.br/1767397262841218
lattes.cnpq.br/5733375793737027

LAYLA DAWOOD
ASTRID YANET AGUILERA CAZALBÓN
Doutora em Relações Internacionais pela PUC-
RJ. Doutoranda em Relações Internacionais, UERJ.
Professora Associada, PPGRI/UERJ. lattes.cnpq.br/3440101791594756
layladawood@hotmail.com
lattes.cnpq.br/5025278065343194 GUSTAVO ALVES SANTANA
Doutorando em Relações Internacionais, UERJ.
lattes.cnpq.br/5962226250315015

COORDENADOR ADJUNTO
STEPHANIE BRAUN CLEMENTE
LEANDRO GAVIÃO Doutoranda em Relações Internacionais, UERJ.
Doutor em História pela Universidade do Estado lattes.cnpq.br/8399297087812948
do Rio de Janeiro.
Professor da Universidade Católica de Petrópolis
(UCP) e do Curso Clio Damásio RAFAEL SALES ROSA
l.gaviao13@gmail.com Mestre em História, UERJ.
Especialista em História das Relações Internacio- CONTATO
lattes.cnpq.br/2102129458976796 infoneiba@gmail.com
nais, UERJ.
lattes.cnpq.br/8389792111984309

CAPA
Salon, 2021.
Fonte: www.salon.com

2º semestre de 2023 Info 2


LabRI—Laboratório de Ensino e Pesquisa em Relações Internacionais/UERJ
anapaulatostes@iesp.uerj.br

Eleições para o Parlamento Europeu de 2024: uma eleição de ‘segunda ordem’ diante da agenda
climática?
Estudos sobre correlação entre eleições nacionais dos Estados-membros da provada uma correlação necessária entre espectro político ideológico
União Europeia (UE) e eleições para o Parlamento Europeu (PE), bem como (senão o caso dos negacionistas absolutos) e suporte às medidas de enfren-
o impacto dos pleitos na mobilização dos votantes e dos partidos políticos tamento das mudanças climáticas e políticas ambientais no Parlamento,
nacionais são desenvolvidos em busca de uma aprendizagem sobre a prática uma análise realizada sobre a votação em legislações climáticas durante o
da cidadania europeia pela via da inédita representação popular em duas ano de 2022 revela apoio sólido no processo de aprovação de medidas
instâncias: nacional e regional. legislativas de suporte ao Pacto Verde europeu. No entanto, a expectativa
das eleições para o Parlamento de 2024 apontam, no contexto atual, uma
O PE é a única instituição eleita diretamente, dentre as instituições da Uni- perda de votos para partidos e agendas verdes, tradicionalmente defendi-
ão, com eleições na região a cada cinco anos desde 1979. Ou seja, o exercí- das não apenas pelos partidos verdes tradicionais, mas também pela centro
cio de voto para o Parlamento chegou aos cidadãos da UE antes da cidada- -direita europeia. Eventuais mudanças na agenda verde partidária em elei-
nia europeia, lançada com a entrada em vigor do Tratado de Maastricht, em ções europeias é um dos focos de atuais pesquisas do OEE.
1993.
O OEE segue com os grupos de trabalho partindo da hipótese de que o
Assim como foi realizado nos anos de 2018 e 2019, ao longo de cerca de 12- acompanhamento de uma combinação entre preferência do eleitor euro-
14 meses antes de haver eleições para o PE, o Laboratório de Ensino e Pes- peu por partidos da nova extrema direita e por partidos verdes, a partir do
quisa em Relações Internacionais (LabRI), associado ao Departamento de levantamento dos votos atribuídos em eleições nacionais, contribuirá para
Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (DRI- apresentar um panorama mais sustentável no desenho de um cenário de
UERJ), sob coordenação da professora Ana Paula Tostes, organiza um Ob- tendências na composição do PE de 2024-2029. E, por consequência, espe-
servatório Eleitoral para eleições europeias (OEE-LabRI). O objetivo do OEE ramos sistematizar impasses e expectativas da UE ser bem-sucedida na sua
é o de formar um grupo de trabalho que coleta dados e produz relatórios transição para uma economia neutra em 2050.
sobre eleições europeias nacionais e para o PE. Coletamos dados sobre
preferência de voto, especialmente com foco no aumento do populismo e
no fortalecimento de partidos da nova extrema direita anti-europeia na Referências:
região. No ano de 2023 iniciamos os trabalhos do OEE-LabRI em agosto, e BARTELS, Jan-Eric. Are European Elections Second-Order Elections for Everyone?
além dos partidos da nova extrema direita incluímos pesquisas e debates Swiss Political Science Review, v.29, n. 3, pp. 290-309, 2023.
para feitura de relatórios sobre os partidos verdes na região e o aumento no FREIRE, A. & SANTANA-PEREIRA, J. More Second-Order that Ever? The 2014
voto europeu que apoia a transição verde e o alcance das metas do Pacto European Election in Portugal. South European Society and Politics. V. 20, n. 3,
Verde da UE. pp. 381-401, 2015.
MARSH, M. Testing the Second-Order Election Model after Four European Elec-
tions. British Journal of Political Science, v. 28, n. 4, pp, 591-607, 1998.
O grupo de estudos já coletou, ao longo do ano de 2023, dados de eleições
europeias, atualizando a coleta que o LabRI já havia sistematizado desde
2019. Dentre os trabalhos em curso está a elaboração de relatórios de pes-
quisa de autoria dos/as coautores/as deste artigo. Os trabalhos em curso
incluem, além da análise dos votos e sistematização de dados eleitorais
sobre suporte aos partidos da nova extrema direita, partidos verdes, nos
quinze países (chamados ‘ocidentais’, ou seja, aqueles Estados membros de
democracia consolidada, já integrantes do modelo político europeu antes
dos alargamentos a partir de 2010), por apresentarem sistemas eleitorais
similares, com tradições partidárias e de alinhamento ideológico com po-
tencial comparativo.

Estudos das últimas décadas têm mostrado que eleitores (p. ex. Freire & ______________________________________________________
Santana-Pereira, 2015; Marsh, 1998) e os partidos políticos tradicionais (p. Ana Paula Tostes é professora no Departamento de Relações Internacionais
(DRI), e no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ. Jean Monnet
ex. Marsh, 1998) tratam as eleições europeias como eleições de “segunda
Chair da UE (EUgac/n.101127443) e coordenadora do grupo de pesquisa em
ordem” e, portanto, deixam aberta uma lacuna competitiva que resulta em
Estudos Europeus do LabRI e do OEPE-LabRI. Ana Luiza Rezende
alguns países europeus, em um padrão de votação que potencialmente (ana.r.souza.als@gmail.com), Lara Senfft (senfftlara@gmail.com), Luan Werneck
favorece partidos pequenos e de menor expressão nacional. Essa é uma (luanwerneck@gmail.com), Melina Elisabeth-Flora
realidade que tem mudado, na medida em que a percepção da relevância (melinatheodora@outlook.com), Melissa Pesconi (mxpesconi@gmail.com),
da UE passa a afetar a atitude dos cidadãos e mudar a estratégia de partidos Raíssa Souza (raissamrss@gmail.com), e Wallace Seciliano
políticos e sua ambição por espaços de poder na Europa. (canalwallaceseciliano@gmail.com) são graduandos de Relações Internacionais
da UERJ (DRI-UERJ) e pesquisadores no grupo de pesquisa em Estudos Europeus
Mudanças quanto ao tradicional baixo interesse pelas eleições europeias e à do LabRI e membros do OEE-LabRI.
baixa participação nas eleições para o PE foram percebidas em 2019. Em
2019 vimos um aumento significativo na presença nas urnas, tendo atingido
mais de 50% de participação (percentual não atingido desde 1994) de cida-
dãos europeus na eleição para compor o PE. A interpretação desse aumento
de participação pode ser atribuída a dois fatores que se comunicam: a forte
campanha apartidária promovida pelo próprio Parlamento para informar
eleitores sobre a relevância do pleito para a democracia na região, e uma
preocupação com o aumento da nova extrema direita europeia, que possui
uma plataforma anti-UE.

O cenário das eleições de 2024 não mudou estruturalmente, no entanto foi


acrescido o tema prioritário da transição verde e do sucesso do Pacto Verde
na agenda estratégica de instituições da UE e acompanhada por partidos
políticos do mainstream europeu, especialmente no contexto da Guerra na
Ucrânia e da busca da autonomia energética da Rússia. Apesar de não estar

2º semestre de 2023 Info 3


Kaio Luccas Custódio Araújo
kaio.araujo@unesp.br

Uma Cultura Histórica da Heroicidade: os "Febianos" pelas Páginas de O Francano

As temáticas sobre a Segunda Guerra Mundial são mundialmente debatidas em 50, os “febianos” foram anunciados no periódico como destemidos combatentes,
diversos setores: na cultura pop, na mídia, na academia e na imprensa. Quase 80 o que pode indicar que assim eram vistos pela maioria daqueles que liam as
anos após o término do conflito, há muito do que se discutir sobre o tema, princi- emotivas e rotineiras páginas do jornal.
palmente na questão identitária.
Por fim, é de se destacar a importância desse estudo, diante o fato que a concep-
Para isso, este estudo buscou um aprofundamento pelos periódicos de um popu- ção de preservação de memória e identidade se relacionam sob o papel da divul-
lar jornal do interior da cidade de Franca-SP que esteve em atividade entre os gação que o jornal O Francano fez com os soldados da FEB ao longo dos anos.
anos de 1945 até 1955 e que possibilitou encontrar relevantes publicações acer- Além de disso, é de se ressaltar é relevante para incentivar novos apontamentos
cas dos “praças” brasileiros que foram para o embate na Itália com pouco treina- para futuros estudos dentro desse campo historiográfico, que sem dúvidas muito
mento e difíceis condições militares. No entanto, o papel da imprensa francana tem a agregar à História do Brasil e ao entendimento da construção da identida-
foi cordialmente capaz de divulgar e construir uma imagem notável e gloriosa de.
aos veteranos e aos ex-combatentes em suas páginas, validando as característi-
cas patrióticas. Assim, suas identidades e suas memórias permanecem vivas nas Referências:
páginas deste jornal, que os valoriza como verdadeiros heróis da pátria e liberda- FERNANDES, Karina Ribeiro; ZANELLI, José Carlos. O processo de construção e recons-
de. trução das identidades dos indivíduos nas organizações. Revista de Administração
Contemporânea, vol. 10, n 1, 2006.
As identidades são construídas e compartilhadas pelas sociedades no tempo e LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla
espaço (FERNANDES; ZANELLI, 2006). Preocupada em compreender como se Bassanezi (org.). Fontes Históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
O Francano (1945-1955), CEDAPH - Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa
formam socialmente algumas identidades, essa pesquisa busca investigar de que
Histórica.
modo criou-se um processo de identificação da sociedade brasileira com os
“pracinhas” que atuaram na Segunda Guerra.

À vista do momento histórico do conflito, cabe-se ressaltar que a imprensa foi o


canal de comunicação principal para as grandes massas sobre cada acontecimen-
to que perdurou em matérias sobre o tema até depois da derrota do Eixo. Para
analisar este material, faz-se necessário considerar as contribuições da historia-
dora Tania Regina de Luca (2006), que no texto História dos, nos e por meio dos
periódicos destaca a importância de análise dos “contextos socioculturais especí-
ficos” nos quais se inserem os jornais, ou seja, é necessário analisar o lugar de
publicação e os seus produtores. Sendo assim, para analisar a construção heroica
da identidade dos “Febianos” na cidade de Franca, foram selecionadas por nós
116 periódicos de O Francano publicados na cidade de Franca. Em análise apro-
fundada dessa documentação, foi possível perceber a importância de se estender
o recorte temporal para além do conflito, como houve uma divulgação dos expe-
dicionários por meios da imprensa francana que vão desde a sua chegada triun-
fante no Rio de Janeiro, conforme a manchete de capa de 28 de julho de 1945:
Na qual, além de narrar de forma emotiva a volta dos soldados da FEB, o jornal
"clama" para a população da cidade de Franca, receber os seus veteranos com
festividade, e que a cidade os aguardavam religiosa e que iriam retribuir com
gratidão por tudo que tais homens fizeram pela pátria (O Francano, 1945). Fica
claro como o jornal local aproximava a figura do "soldado herói" para com a
população desde a sua chegada ao final da guerra. Assim, fica explícito como a
mídia local, já desde a chegada dos soldados brasileiros da FEB, já comportava
um valoroso prestígio àqueles que regressavam, e não só, transparecia como a
cidade aguardava os seus novos heróis.

Ademais, colocando em pauta todas as qualidades heroicas do “praça”, possuía


para a sua candidatura de um veterano ao cargo de vereador da cidade na publi-
cação de 28 de setembro de 1947: Nessa publicação, o Partido Social Democráti-
co se apoiou com figura de um conhecido veterano da cidade, o Sargento Castro
Garcia Botelho (Castrinho) que na publicação eleitoral dentro do jornal, remeteu
ao valor do soldado e divulgou a imagem heroica e os feitos do Sargento em sua
campanha na Itália, relacionando sua bravura e integridade para com o país em
relação ao cargo de vereador (O Francano, 1947). Nota-se como a construção da
heroicidade da FEB pelo jornal O Francano não se limitava apenas ao meio cultu-
ral, ele se estendia ao corpo político da cidade, cujo incentivo advinha pelo apelo
do partido do candidato e pela divulgação do periódico aos leitores.

Além disso, foram encontrados no jornal diversas outras matérias que relatavam
eventos que engrandeciam e traziam toda uma carga heroica e de bravura para
os soldados locais, como celebrações de condecorações com medalhas de San- ______________________________________________________
gue e Campanha para os veteranos francanos. Kaio Luccas Custódio Araújo é graduando em Licenciatura e Bacharelado em
História, pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho - Franca. Foi bolsis-
É importante notar como O Francano foi um importante veículo de comunicação ta do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) sob orien-
para divulgar a imagem gloriosa dos combatentes na cidade para a população tação da Profa. Dra. Karina Anhezini de Araújo.
por meio de variados tipos de mensagens que auxiliaram na construção de um
“bom soldado”. Postura essa percebida notoriamente em como as manchetes Nota do Autor: O seguinte artigo é uma partição de minha pesquisa intitulada
valorizavam o patriotismo e a bravura dos veteranos, além de criarem um laço “Uma cultura histórica da heroicidade: “Os pracinhas” pelos jornais francanos
entre a comunidade com a finalidade de se ver dentro da sua cultura um grupo (1945-1955), sob fomento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
que participou da maior guerra já ocorrida em prol da democracia e liberdade. Científica (PIBIC) concluído no ano de 2023 sob orientação Profa. Dra. Karina
Com isso, é possível dizer que, embora com o passar dos anos, até a década de Anhezini de Araujo.

2º semestre de 2023 Info 4


Alfredo Miranda
alfredo.miranda@unesp.br

BRICS: modernização ao estilo chinês como uma nova alternativa para o Brasil e Argentina
através dos BRICS e do NBD

O ano de 2023 começou com diversas mudanças nos BRICS, a ex-presidente Por isso, o NBD tem como objetivo aliviar os problemas de financiamento em
Dilma Rousseff assumiu a presidência do banco do Novo Banco de Desenvolvi- infraestrutura e desenvolvimento sustentável, além de proporcionar uma ajuda
mento (NBD) e foi aprovada a entrada de Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emira- mútua na hora de financiar projetos de desenvolvimento e com discussões de
dos Árabes, Etiópia e Irã no grupo, expandindo e ampliando a importância geo- linhas de crédito em moeda local, como uma alternativa ao uso do dólar.
política dos BRICS, até então composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do (ABDENUR, 2023. p. 97). Ideia que ajuda muito a Argentina que sofre com falta
Sul. de dólares, porém ele não é a única iniciativa elaborada por eles e existem mui-
tas outras a serem exploradas que não cabe discutir neste artigo.
Neste artigo, quero convidá-los a refletir sobre o nosso desenvolvimento, por
meio de novas alternativas ao modelo ocidental, como a modernização chinesa e Portanto, ao meu ver, cabe a nós, pesquisadores, buscar compreender as possibi-
aproveitar o momento de alta do BRICS e do NBD. Para isso, buscarei esclarecer lidades a serem exploradas. E a partir dessas possibilidades, usar os nossos meios
alguns aspectos da modernização ao estilo chinês e dos BRICS, juntamente com o para levar adiante uma ideia de modernização brasileira que vá muito além de
NBD. uma economia de plantation 2.0. Precisamos retomar um projeto de desenvolvi-
mento sustentável para o nosso país e de preferência que atenda a necessidade
Para falarmos sobre a modernização chinesa, primeiro precisamos entender o de todos, assim combatendo a desigualdade, pois o futuro é agora e o amanhã
pensamento atual do PCCh e os planos para a “Nova Era” que teve início no 19º talvez não chegue.
Congresso Nacional, celebrando os resultados do desenvolvimento do país, após
o triunfo da revolução sobre o colonialismo e imperialismo que haviam arrasado Referências:
o país e após anos de reconstrução, por meio de avanços tecnológicos, científicos CARVALHO, João. O pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características
e apoiados em relações ganha-ganha que possibilitam a cooperação em escala chinesas na nova era: O cerne do pensamento do presidente está em persistir no
global, a China iniciou o século XXI como uma liderança global (CARVALHO, 2021, desenvolvimento do socialismo com características chinesas. CHINA HOJE. São Paulo,
p.9). n. 36, p. 9-11, jun. 2021.
LINGLING, Liu. Chinese-style modernization and the measures for China's economic
growth with stability. Rio de Janeiro: Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, 2023 1 vídeo
Atualmente, o partido trabalha para alcançar a meta de prosperidade comum
(1h 39min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jqJ4Kmqg9wM. Aces-
para todo o povo até a metade do século XXI. Para atingir esse objetivo, foram
so em: 10 out. 2023
estabelecidas uma série de metas ambiciosas no 20º Congresso, incluindo o
ABDENUR, Adriana Erthal. O Novo Banco de Desenvolvimento e a Institucionalização
crescimento do PIB, que deverá atingir a marca dos US$37 trilhões até 2050, por do BRICS. In: BAUMANN, Renato et al (Org.). BRICS: ESTUDOS E DOCUMENTOS. Brasí-
meio de um crescimento constante na faixa de 5% a 6% ao ano. Com esse ritmo lia: Fundação Alexandre de Gusmão, 2015. p. 79-114.
de crescimento, a China se torna uma referência para qualquer país em desen-
volvimento (LINGLING, 2023). Nas últimas décadas, a China conseguiu superar
problemas como a fome e a extrema pobreza, além de desenvolver os setores de
infraestrutura, indústria e tecnologia, estabelecendo relações ganha-ganha. E
isso é algo pouco explorado por nós.

Além disso, como parte de seu projeto de modernização, a China tem ampliado e
intensificado sua iniciativa conhecida como “Cinturão e Rota”, com o objetivo de
consolidar parcerias comerciais, aumentar o volume comercial de mercadorias,
atrair investimentos estrangeiros para o país e liderar os investimentos no exteri-
or por meio de acordos mutuamente vantajosos. O Cinturão e Rota visa construir
uma rede de infraestrutura, especialmente nos países do Sul Global, buscando
ampliar e agilizar o comércio com a China, através de melhorias na infraestrutura
desses países (LINGLING, 2023). Dessa forma, ambos os países conseguem au-
mentar o fluxo de mercadorias e usufruir dos benefícios de um desenvolvimento
global. Diante disso, nós do Sul Global devemos aproveitar essa oportunidade
oferecida pela China como um excelente meio de se desenvolver a nossa infraes-
trutura para além de apenas exportar commodities.

Devemos ter em mente que a China é a principal parceira econômica do Brasil e


da Argentina e consideramos a conjuntura atual dos BRICS, com a adesão da
Argentina e a ex-presidente Dilma Rousseff que preside o NBD, como sendo uma
janela de oportunidade para nós, especialmente para a Argentina, que enfrenta
uma crise econômica. Como mencionado antes, não pretendo apresentar solu-
ções ou respostas para a crise argentina, nem para os problemas do Brasil. No
entanto, quero convidá-los a debater mais sobre esse tema, que não é exclusivo
dos economistas ou das relações internacionais.

Este momento histórico é importante e, para compreendermos melhor, é preciso


falar um pouco mais sobre os BRICS e o NBD. Acredito que o BRICS dispensa
apresentações, mas vale ressaltar que desde 2011 o grupo não se limita apenas
às cúpulas anuais. Ele também realiza reuniões ministeriais regulares com uma
agenda de cooperação cada vez mais ampla, incluindo temas diversos, como
desenvolvimento, segurança e educação, tornando-se uma alternativa às institui-
ções econômicas atuais (ABDENUR, 2023).

A insatisfação dos membros com a atual arquitetura da governança global ocorre


porque as instituições econômicas atuais não demonstram capacidade para
responder adequadamente aos desafios globais e não atendem às necessidades
dos países em desenvolvimento. Isso levou os países membros a buscar uma
alternativa ao Banco Mundial e ao FMI, resultando na criação do Novo Banco de ______________________________________________________
Desenvolvimento em 2014 e na expansão contínua das possibilidades de coope- Alfredo Miranda é graduando em História pela Universidade Estadual do Paulista
ração no desenvolvimento dos países membros (ABDENUR, 2023). buscando se especializar em história econômica e nas teorias de modernização.

2º semestre de 2023 Info 5


Júlia de Andrade Fernandes Francisco e Lucas Buzatto dos Santos
julia.af.francisco@unesp.br, lucas.buzatto@unesp.br

Herança autoritária no Brasil e problemáticas constitucionais: perspectivas de mudança

Constituição é definida como um modo de organização interna, que estrutura os Portanto, é inegável a necessidade de reformula-
fundamentos da associação política. Em algumas perspectivas, a constituição é ção da atual Constituição vigente no Brasil, que
fruto de um fato social, sendo o resultado da realidade do país em conjuntura além de problemáticas inerentes à sua própria
histórica. Em outras, a constituição é fruto da visão política do momento em que formação, possui uma herança militar que se per-
é criada. O caso brasileiro está diretamente relacionado a ambas as visões e será petua até os dias de hoje, fundamentando atos
tratado nesse texto através de uma perspectiva própria das múltiplas problemá- políticos que parecem autoritários perante à popu-
ticas que envolvem a constituição de 1988, a partir das perspectivas dos autores lação civil. Entretanto, essa reformulação não pode
Gilberto Bercovici, José Canotilho e Konrad Hesse, abarcando ainda a incorpora- ocorrer de forma inconcebível às diversas realida-
ção política da mesma com resquícios do regime militar, a partir da visão de des do país, devendo ser elaborada abrangendo as
Conrado Hübner Mendes e por fim, comparando-a com o caso constitucional questões sociais de forma pragmática, objetivando
chileno e seus desmembramentos atuais. a “otimização” de Hesse e tendo como finalidade, acima de tudo, sua concretiza-
ção.
No artigo “A problemática da constituição dirigente: algumas considerações
sobre o caso brasileiro”, o autor Gilberto Bercovici faz um panorama geral sobre Referências:
a Constituição Brasileira de 1988 e os empecilhos de sua vigência. A primeira das BERCOVICI, Gilberto. A problemática da constituição dirigente: algumas considerações
problemáticas diz respeito as divergências entre uma constituição como instru- sobre o caso brasileiro. Brasília: a. 36 n. 142 abr./jun. 1999. Revista de Informação
mento do governo ou como plano global, ou como um instrumento pragmático, Legislativa; pp. 35 – 51.
que preze sobre a eficácia e obtenha um melhor planejamento. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador.
Coimbra: Coimbra Editora, 2001; pp. 5 – 30.
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Porto Alegre: [s. n.], 1991.
Outro dos problemas é apresentado através de uma referência ao autor José
HÜBNER MENDES, Conrado. O entulho autoritário era estoque. Quatro cinco um, [s.
Canotilho e sua teoria da “crise de reflexividade”, a qual afirma que a sociedade
l.], 1 mar. 2020. Disponível em: https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/
contemporânea se tornou complexa demais para ser englobada por uma consti-
direito/o-entulho-autoritario-era-estoque. Acesso em: 4 dez. 2023.
tuição, adentrando assim, a ideia de “constituições simbólicas”. Outros autores
citados, como Konrad Hesse, propõe que a concretização constituinte só é possí-
vel quando observada através de uma perspectiva circunstancial, além de uma
“otimização”, que parte de uma busca por um equilíbrio constitucional. Ao con-
cluir seu texto, Bercovici afirma que a maior problemática da Constituição de
1988 é a ausência de uma concretização de suas propostas, que se reflete em
constantes crises políticas e perpetua um sentimento de ceticismo em relação ao
Estado.

No artigo “O entulho autoritário era estoque” de Conrado Hübner Mendes, é


abordado como mesmo depois da convocação de uma Assembleia Constituinte e
da promulgação de uma Constituição, considerada internacionalmente como
uma das mais abrangentes em direitos humanos, houve ainda a perpetuação de
um autoritarismo brasileiro, herdeiro da Ditadura Militar. Nas palavras do pró-
prio autor, o termo “entulho autoritário’ se firma no vocabulário político brasilei-
ro para designar um conjunto bastante heterogêneo de permanências jurídicas e
institucionais do passado” (MENDES, 2020).

O novo modelo autoritário que encontra amparo na Constituição pode ser perce-
bido durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (2019 – 2022). O presidente
demonstrou parcialidade ao conceder perdão ao deputado Daniel Silveira; trocou
quatro vezes o diretor da Polícia Federal, buscando consonância da instituição
com o seu governo; utilizou o aparato estatal para realizar políticas populistas
com fins eleitorais; e reduziu a transparência dos gastos governamentais ao
implementar o “Orçamento Secreto”. Todas essas, medidas previstas pela Consti-
tuição. Leis como as citadas, que permitem interferências diretas do Presidente
em órgãos de governo, e que parecem estar invulneráveis do principio da impes-
soalidade e imparcialidade prejudicam a concepção de um projeto verdadeira-
mente democrático à nação.

Tendo em vista as problemáticas na Constituição e a presença do denominado


“entulho autoritário”, o Chile, tendo como objetivo romper com essas questões,
iniciou um processo de formulação de uma nova constituição. A decisão se inici-
ou em 2019, através de uma onda manifestações, que teve como resultado uma
votação sobre a formulação de uma nova Assembleia Constituinte. A população
optou pelo sim, iniciando um processo de elaboração e que seria votado no dia 4
de setembro de 2022. Esse, por outro lado, teve como resultado um não. ______________________________________________________
Júlia de Andrade Fernandes Francisco é graduanda em Relações Internacionais,
Apesar dos esforços do governo e da população para iniciar um novo projeto de pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciên-
normas em consonância com a democracia contemporânea, é importante com- cias Humanas e Sociais, campus de Franca. Integrante do Núcleo de Pesquisa em
preender o que levou o projeto à rejeição. O texto apresenta algumas propostas Ética, Filosofia, Teoria Política e Social (NéFITs) e pesquisadora do Programa de
de viés radical que se relacionam diretamente ao conflito entre uma constituição Iniciação Científica Sem Bolsa (ICSB) - CNPQ, sob orientação do Professor Dr.
pragmática e constituição insustentavelmente social, apresentando anteriormen- Hélio Alexandre da Silva, com o tema “Pobreza e dever moral na Metafísica dos
te medidas como: despesas obrigatórias em saúde 100% destinadas ao sistema Costumes de Kant”.
público, o direito ao aborto, o reconhecimento dos sistemas jurídicos indígenas
com a ressalva de que os mesmos devem respeitar a Constituição, entre outros, Lucas Buzatto dos Santos é estudante de graduação no curso de Relações
parecem a alguns especialistas como muito extremas e mal planejadas, sendo Internacionais na FCHS - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - campus de
até mesmo abrangentes de forma confusa e sem estabelecer metas realmente Franca - Unesp e membro do grupo de pesquisa Filosofia Arte e Política (FIAPO).
eficientes.

2º semestre de 2023 Info 6


Entrevista - Prof Umut Özkırımlı
Internationally renowned for his works on nationalism, Professor Umut Özkırımlı engaged in a discussion with NEIBA resear-
cher Gustavo Alves Santana about the new far-right nationalist movements and their origins.

InfoNEIBA - Nationalism has been your main research topic for many ye- when we use nationalism to justify it.
ars. We are currently witnessing the resurgence of nationalism, for exam-
ple, Brexit, separatist referendums, the rise of populist leaders and the In short, nationalism should again be rooted on common values, shared
policies adopted by various governments around the world during the human dignity, as it was when it first emerged during the French Revoluti-
pandemic. What is the cause of this resilience? Is this a new nationalism? on.

Umut Özkırımlı - I have actually written about this on many different occasi- InfoNEIBA - In the last decade, the debate about the so-called culture wars
ons, especially when I was dealing with case studies. I think the whole ap- has also intensified. In this context, your new book (Cancelled: The Left
proach to nationalism as something that is rising or surging, coming, and Way Back from Woke, Polity, 2023) takes a very critical perspective. How
going – the wave approach – is not helpful at all and is in many ways mislea- do you see the influence of so-called identity politics in the current politi-
ding. For one, there is the issue of banal or everyday nationalism which cal context?
continues to exist at all times. Whenever something surges, it’s actually Umut Özkırımlı - It is affecting everything. I mean, I was thinking that at
nutured by these pre-existing ideas that never disappear. So, I don’t think some point those culture wars would come to an end and the reactionary
that what we see today is a resurgence of nationalism, and I don’t believe right would win but Gaza actually acted as catalyst and accelerated this
that we are getting more and more nationalists. On the contrary, nationa- process. Now we are going through a very reactionary era where the right
lism has become so mainstream, an integral of the international state sys- dominates everything: antisemitism is in the rise, Islamophobia as well, and
tem that we shouldn’t talk about it as something that is new or completely identity politics has paved the way to this. It’s important for the readers to
different from what it once was. understand that by identity politics I don’t mean only the left-wing identity
What I mean by this is that there has been a tectonic global shift towards politics or what has been referred as “woke” identity politics, because right
the right, and the nationalism we have today is a much more right-wing wing nationalism – the nationalism of the likes of Trump or Milei – is also
reactionary phenomenon than it was 10 or 20 years ago. This is why we had identity politics, the identity politics of the majority, of white people, of
Brexit, Trump, etc. They are not exceptions; they are actually the result of a reactionaries, etc. They are all identity politics, it’s just whose identity we
kind of larger shift to the right. What has become mainstream is not natio- are talking about.
nalism itself, but a very right-wing populist form of nationalism. Since they are the majority and people are overall more conservative than
This also affects in some cases left-wing movements too. Even those coun- change-oriented, the means of production – if we use a Marxist language –
tries that have a left-wing politician in power – like Lula, Boric or Danish or the economic resources and political power are concentrated mostly in
social democrats, etc – still have nationalism as a common denominator the hands of the right. So, the only place that the left could fight against this
with far-right politicians – like Bolsonaro or Milei. This is a specific form of was the cultural arena, and they made a big mess of it. That’s why we’ve
nationalism – some prefer to call it “nativism”, in the sense of a “citizens- seen this outrageous responses by some students and on the left to what
first approach”, which can include anti-immigration or anti-minorities polici- happened on October 7. None of this justifies the current genocidal war, but
es. In Latin America, for instance, there’s the issue of indigenous people, the point is that everyone with a sense of humanity should be able to critici-
and colorism is an important dividing mark in Brazil, as I learned from my ze violence on both sides. Now, because the left has embraced such extre-
good friend Jean Wyllys. mes positions, the right is going back to its factory settings. In the last deca-
de, during the culture wars, they were acting as if they were the free-speech
So, what we are seeing is not a resurgence of nationalism: what we are absolutists, fighting against what they described as an authoritarian woke
seeing is ratification of nationalism which is becoming a more right-wing movement. But like most political actors, they wanted free speech only for
and reactionary phenomenon. We take this for granted. For a self-defined themselves, for their own use. With the war, many people lost their jobs for
progressive or liberal like me, this means that we shouldn’t be looking for supporting Palestine – not Hamas, but Palestine.
political solutions which discard nationalism completely – cosmopolitanism,
internationalism, whatever you call it. What we need is to accept that natio- Identity politics, both on the right and the left, has restricted our options
nalism is a fact of life with huge appeal among the masses, and we need to and narrowed down the space for critical thinking and proper discussion.
find ways to control it, keeping that reactionary nationalism in check, and We are pushed towards the polar opposites; if you are trying to find a mid-
come to terms with nationalism to salvage it from the right and make it dle ground, nobody would want you on their side. The good thing is that it’s
“normal” again. I mean, being a patriot, loving your culture, loving your coming to an end, but the bad thing is that it’s not coming to an end in a
language etc. are fine, unless it leads to exclusion and in extreme cases to good way. Argentina is just the beginning; the next step will be Trump’s
the extermination of the other. election in 2024 and this will take years to end.

To summarize, what we see is not a resurgence of nationalism, but an exclu- InfoNEIBA - Capitalism has been appropriating social agendas related to
sionary notion of nationalism becoming more common and more mainstre- the inclusion of minorities. How does this affect the original meaning of
am. It’s a not a new nationalism, it’s the same old right-wing reactionary these issues? How can we mitigate this distortion and preserve the integri-
nationalism which has now become much more acceptable. We shouldn’t ty of movements seeking the inclusion of minorities?
be talking about this as a new form of nationalism. Umut Özkırımlı - That is one of the main ideas of the book. The reason why
In the past, academics were trying to distinguish between good and bad these identitarianism has become so dominant is partly because capitalism
nationalisms, and that was wrong. Lots of people, including me, Roger Bru- has coopted it. They saw a window of opportunity there, a way of making
baker, Craig Calhoun have argued that there aren’t two types of nationa- profit, so they appropriated these topics, such as transgender identity, ideas
lism. All nationalisms bring culture and politics together, and combine reac- of the fluidity of gender and sexuality, as a means to make money. Diversity
tionary and progressive features. The same nationalism can be reactionary and inclusion have become a new billion-dollar industry. It’s represented
when it’s targeting minorities or other countries, and become a progressive mostly in the culture industry, from the traditional media to the new strea-
force when targeting a colonial power. Even though it would be doing the ming services and all of that. So you shoot Cleopatra again, but you make
same thing, the power dynamics are different, and that matters. her black. You spend millions and millions recruiting people to become
diversity trainers or antiracism trainers, and the reason is to have the appe-
For instance, both Hamas and Israel claim to be acting to allegedly protect arance – not a reality – that you are becoming more progressive, that mino-
the interests of their own people. One is the colonizer and the other is the rities are being heard. But they aren’t actually speaking, they are being used
colonized. We’ve seen very clearly that both are ready to use violence. I’m and exploited by neoliberalism or late-stage capitalism to make money and
not saying that Hamas represents the whole population of Palestine, of profit.
course, but when it comes to using violence, they don’t hesitate doing it.
You cannot start talking about any of these issues without first coming to
Since even the colonized and the oppressed are using violence in the name terms with this. We shouldn’t ignore the problems these initiatives claim to
of national interest, then what we need as progressives is to find a way of address, but incorporate class and economy into our politics, and then see
fighting against the colonizer and the oppressor in a non-violent way. Even them together. There is no point of talking about race, if you don’t ackno-

2º semestre de 2023 Info 7


wledge not only the economic difference between whites and people of It’s not a fight between a particular form of the left and the right. They are
color – which is one to five in the United States: a white family makes 5 both right-wing. What is the core ideas of the left? Fighting for equality,
times the average income of a black family – but also that 70% of black freedoms, justice, etc. and that requires as a starting point self-critique and
wealth is controlled by a small group of people: just consider the Obamas, being open to discussion, to learn. If you don’t have any of these, what’s the
Oprah Winfrey and Beyoncé. Inequality is within in the movement itself. difference? The right-wing capitalists also believe that they are fighting for
Yes, it does cut across, but intersectionality is not what they are using, and their own understanding of justice, which is individualistic. They are both
this is where you need intersectionality, the class analysis. That’s what ne- right-wing, there is no left. There are a few pockets of individuals and move-
eds to be done first. ments in the world that have this internationalist and humanitarian pers-
pective, and that’s it. We don’t have a political movement, we don’t have a
InfoNEIBA - In Brazil, cultural polarization, especially on the internet, was leader, we’re very weak and that’s why they will keep on winning.
a central political marketing strategy in Bolsonaro's campaigns, both in
2018 and 2022. Are culture wars also taking center stage in the political
debate in the so-called global South?
InfoNEIBA - Finally, what are future prospects? Is there a way back from
Umut Özkırımlı - These movements are using the internet polarization very “woke”?
efficiently. In the case of Spain, for instance, Vox was the first political party
to use Instagram efficiently, and then the movements for independence and Umut Özkırımlı - The culture wars are pretty much over. It will take a little
democrats started using Telegram. That’s how they are using social media: bit of time, but they are over, and the right is going to win. Yes, there might
in very efficient and clever way. All reactionaries are doing the same and be a way back from woke, but not at the moment, not soon. Someone
they are all in relationship with each other: Orban, Putin, Erdogan etc. I should write about this, and I’m an ambitious person so that is going to be
heard that this was also used by Lula because there’s no other way of figh- my next project. I’m going to write about a new left.
ting back, you have to adapt to survive. If anybody has the chance to read my latest book, I would like them to read
I think that the problem here is that more than the method. The left needs a the final chapter of it, where I suggest an alternative. It’s a semi-academic
credible story to convince the masses. They got too leader-oriented and book, which is good since it’s for a general audience, everyone can read and
that’s why the fate of these movements is tied to one person. Lula went to find something in it. But the less beneficial part is that since it’s not an aca-
prison, Rousseff got impeached and then the right wing came to power. I’m demic and theoretical book, I didn’t have the chance to develop these ideas
not saying that the leader is not important, it’s really important, you need a in a more detailed way, because then it would be too specific and for ex-
leader, a charismatic figure, etc, but if everything about that movement perts.
becomes that person, then it’s very difficult to sustain it. The person might So that’s what I will be trying to do in my next project. I’ll try to come up
be corrupted at some point – maybe Lula wasn’t, but there are cases like with a political program for a new left, which will focus on identity, econo-
Chavez, who became a dictator. So we need a movement, and we don’t my, immigration, and security. I’m still in the beginning phase of it, but
have it. Even in the cases where the elections are won, they are won by the that’s the idea. So yes, there may be a way back from woke, but that’s not
charisma of a particular leader and perhaps efficient use of these technolo- by inventing something new, but by remembering what we forgot.
gies, but not on a positive political platform and that’s why they are not
consolidated and they don’t survive. _____________________________________
InfoNEIBA - Do you think that “cancel culture” is part of the political stra- Umut Özkırımlı is a Senior Research Fellow at IBEI. He is also a Professor at Blanquerna
tegy nowadays? (Universitat Ramon Llull) and a Senior Research Associate at CIDOB (Barcelona Centre
for International Affairs).
Umut Özkırımlı - Yes, maybe we don’t need a new term, it has always been
Before relocating to Barcelona, he was a Professor at the Center for Middle Eastern
like that, but it relates to what I said earlier. The starting point of my book Studies (CMES), Lund University. He is the author of Theories of Nationalism: A Critical
was a simple question, whether there is a crisis of liberal democracy. The Introduction (Palgrave Macmillan, 2000; second revised and extended edition 2010.
answer is yes, but I didn’t want to write something conventional on this. Translated into Turkish, Greek, Arabic, Persian, Albanian); Contemporary Debates on
Everything points to the global democracy backsliding, etc. But what Nationalism: A Critical Engagement (Palgrave Macmillan, 2005. Translated into Turkish
matters is: what is the nature of this crisis? I think that the most important and Chinese); Tormented by History: Nationalism in Greece and Turkey (with Spyros A.
aspect of it is the rise of illiberalism and intolerance for dissent. That’s why Sofos, Hurst & Co. and Oxford University Press, 2008. Translated into Turkish and
Greek). His latest books are The Making of a Protest Movement in Turkey:
the only thing that we hear is people who believe in moral absolutes, “I’m
#occupygezi (edited collection, Palgrave Pivot, 2014) and Theories of Nationalism: A
right, you’re wrong” type of polarization and tribal politics that kills politics. Critical Introduction (third revised and extended edition, Palgrave Macmil-
lan, 2017). His latest book is Cancelled: The Left Way Back from Woke, published by
I used a concept that was used by several people – one of them is the pro-
Polity in 2023.
gressive journalist Chris Hedges, he has a very popular YouTube channel –
and that’s the term “anti-politics”. What is happening right now is more
than “cancel culture” or “culture wars”. They are, of course, useful terms,
but what they do is to kill politics, the space of politics, disagreement. Of
course, not everybody will agree with you on every policy issue, but rather
than arguing about that, we end up trying to shut down whoever disagrees
with us, and if we can’t shut them all – and there are many ways to do it,
killing this person socially, boycotting, etc. – the naming and shaming: “he’s
a useful idiot”, “a covert fascist” or “helping the far right” etc.
In a way the world is back to the 1930’s, when nazism, communism and
fascism were reigning supreme. And then on the 1940’s on one side we had
the nazis and the fascists and on the other side we had Stalinism which was
equally intolerant to criticism. I mean, so many people died in the gulags. So
that’s how I’m trying to reconceptualize all these things, as some form of
neostalinism in many ways. This is Stalinism in 21st century. It’s not progres-
sive, it’s not left.
I recently wrote about the academics’ trade union movement in Britain and
there I used the term. “You are actually more than a trade union, you are
working as a neostalinist organization with the principal of democratic cen-
tralism”. It’s a Leninist’s principle that masses need a political leader until
they are fully conscious of their interests. This is what’s happening now. The
woke people are trying to lead the masses as if they are the only ones that
know the truth. When I’m talking to my older and more experienced friends
who’ve lived through the 1960’s and the 1970’s they say, “we don’t unders-
tand any of this woke stuff, for us it’s the good old Stalinism”, and I say “yes,
but the new generation don’t know Stalinism”.

2º semestre de 2023 Info 8


NOTÍCIAS
CHAMADA: DOSSIÊ ESPECIAL CADERNOS NEIBA
É com grande prazer que viemos anunciar que a Revista Neiba, Cadernos Argentina-Brasil está aberta para o envio de artigos para o novo dossiê do
ano de 2024: “O Regionalismo no mundo hoje, caminhos e desafios”.

O dossiê tem como objetivo compilar pesquisas que analisem o estado atual da integração regional; como os diferentes processos de integração
regional se ajustam - ou não - às transformações políticas, econômicas, tecnológicas e ambientais do sistema internacional; e quais são os riscos e
oportunidades que esse cenário em constante mudança apresenta para a integração regional como mecanismo de coordenação intergovernamental
e como meio para a inserção no mundo.

O dossiê é organizado por Paulo Velasco Júnior (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e Julieta Zelicovich (Universidad Nacional de Rosario). A
chamada destina-se a estimular uma discussão sobre as novas perspectivas e possibilidades do regionalismo no mundo contemporâneo, marcando
por crescentes divisões e antagonismos.

O prazo para a recepção de artigos vai até o dia 31 de março de 2024. Os/as interessados/as deverão enviar os artigos inéditos pelo portal da revista
seguindo as diretrizes para autores/as. Basta logar na página e submeter o artigo na categoria "O Regionalismo no mundo hoje, caminhos e desafi-
os".

Link para submissão: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/neiba. Diretrizes para autores e link para submissões: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/neiba/about/submissions.

2º semestre de 2023 Info 9


NOTÍCIAS
CHAMADA: CADERNOS NEIBA
A Revista Neiba, Cadernos Argentina-Brasil, convoca a submissão de artigos inéditos para a revista e gostaríamos de convidá-los a publicar sua pes-
quisa acadêmica em nosso periódico. Nossa Revista tem como objetivo congregar e incentivar novos pesquisadores que pretendam orientar seus
trabalhos prioritariamente para os estudos sobre as relações internacionais do Brasil e da Argentina. Contudo, é importante lembrar que aceitamos
todos os temas referentes às Relações Internacionais.

Também gostaríamos de reforçar que a Revista Neiba, Cadernos Argentina-Brasil, agora está classificada como Qualis B1. Estamos trabalhando para
conquistar um Qualis ainda melhor na próxima avaliação e sua colaboração é fundamental para alcançarmos esse objetivo.

Para publicar em nossa revista, você precisa ser, no mínimo, um estudante de mestrado. Os artigos podem ser enviados em português, espanhol,
francês ou inglês. Diretrizes para autores e link para submissões: https://www.e-publicacoes.uerj.br/neiba/about/submissions.

2º semestre de 2023 Info 10


NOTÍCIAS
DECÊNIO DA GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A graduação em Relações Internacionais da UERJ, que temos o privilégio de poder afirmar que é uma das melhores do país segundo dados oficiais,
completa, neste ano de 2023, dez anos de sucesso. Desta forma, nada melhor do que celebrar essa data com uma foto recente do corpo docente
que tem contribuído para a excelência do departamento e, consequentemente, da instituição fluminense.

COMO CITAR O INFONEIBA


ARAÚJO, Kaio Luccas Custódio. Uma Cultura Histórica da Heroicidade: os "Febianos" pelas Páginas de O Francano. InfoNEIBA: Jornal Informativo do
Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 2, p.4 , jul.-dez. 2023.

FRANCISCO, Júlia de Andrade Fernandes; SANTOS, Lucas Buzatto dos. Herança autoritária no Brasil e problemáticas constitucionais: perspectivas de
mudança. InfoNEIBA: Jornal Informativo do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 2, p.6 , jul.-dez. 2023.

MIRANDA, Alfredo. BRICS: modernização ao estilo chinês como uma nova alternativa para o Brasil e Argentina através dos BRICS e do
NBD. InfoNEIBA: Jornal Informativo do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 2, p.5 , jul.-dez. 2023.

TOSTES, Ana Paula et al. Eleições para o Parlamento Europeu de 2024: uma eleição de ‘segunda ordem’ diante da agenda climática? InfoNEIBA:
Jornal Informativo do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 2, p.3 , jul.-dez. 2023.

Obs.: o destaque é para o título do periódico, o subtítulo não é destacado.


ISSN: 2318-5767 (impresso) e 2318-6380 (digital)

O InfoNEIBA recebe em fluxo contínuo: artigos, resenhas e materiais de cunho acadêmico para divulgação.
Maiores informações no site: www.neiba.com.br

2º semestre de 2023 Info 11

Você também pode gostar