Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Info
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA | VENDA PROIBIDA
EDITORIAL
O JORNAL INFORMATIVO DO NÚCLEO DE ESTUDOS INTERNACIONAIS BRASIL-ARGENTINA é uma publicação do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-
Argentina, que se vincula ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI/UERJ) e ao Pro-
grama de Estudios Argentina-Brasil (PEAB), da Universidad Nacional de Rosario (UNR). É disponibilizado semestralmente, com o objetivo de congregar e
incentivar estudantes que pretendam divulgar seus estudos sobre as relações internacionais do Brasil e da Argentina.
Além disso, pretende disponibilizar reflexões sobre: os processos de integração regional; a dimensão histórica e cultural das relações internacionais dos
dois países; as relações comerciais, a articulação econômica e as relações econômicas com parceiros externos. Visa, também, divulgar os seminários, cursos
de extensão, workshops e congressos realizados pelo NEIBA/PPGRI/UERJ e pelo PEAB/UNR.
Os autores assumem inteira responsabilidade pelas opiniões expressadas nos artigos. O jornal é de acesso aberto, sendo permitida a reprodução total ou
parcial dos conteúdos publicados, desde que mencionada a fonte.
InfoNEIBA ISSN:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro 2318-5767 (versão impressa)
Rua São Francisco Xavier, 524, 9º andar, sala 9037 (bloco F) 2318-6380 (versão digital)
CEP: 20550-013 | Rio de Janeiro/RJ | Brasil
EXPEDIENTE
COORDENAÇÃO E DIREÇÃO GESTÃO EDITORIAL
Hugo Rogelio Suppo Renato T. Borges
Layla Dawood
Leandro Gavião EDIÇÃO GRÁFICA
David Souza Pinto
CONSELHO CONSULTIVO
Gladys T. Lechini ASSISTENTE EDITORIAL
Miriam Gomes Saraiva Stephanie Braun
REVISÃO
Rafael Sales Rosa
LAYLA DAWOOD
ASTRID YANET AGUILERA CAZALBÓN
Doutora em Relações Internacionais pela PUC-
RJ. Doutoranda em Relações Internacionais, UERJ.
Professora Associada, PPGRI/UERJ. lattes.cnpq.br/3440101791594756
layladawood@hotmail.com
lattes.cnpq.br/5025278065343194 GUSTAVO ALVES SANTANA
Doutorando em Relações Internacionais, UERJ.
lattes.cnpq.br/5962226250315015
COORDENADOR ADJUNTO
STEPHANIE BRAUN CLEMENTE
LEANDRO GAVIÃO Doutoranda em Relações Internacionais, UERJ.
Doutor em História pela Universidade do Estado lattes.cnpq.br/8399297087812948
do Rio de Janeiro.
Professor da Universidade Católica de Petrópolis
(UCP) e do Curso Clio Damásio RAFAEL SALES ROSA
l.gaviao13@gmail.com Mestre em História, UERJ.
Especialista em História das Relações Internacio- CONTATO
lattes.cnpq.br/2102129458976796 infoneiba@gmail.com
nais, UERJ.
lattes.cnpq.br/8389792111984309
CAPA
Salon, 2021.
Fonte: www.salon.com
Eleições para o Parlamento Europeu de 2024: uma eleição de ‘segunda ordem’ diante da agenda
climática?
Estudos sobre correlação entre eleições nacionais dos Estados-membros da provada uma correlação necessária entre espectro político ideológico
União Europeia (UE) e eleições para o Parlamento Europeu (PE), bem como (senão o caso dos negacionistas absolutos) e suporte às medidas de enfren-
o impacto dos pleitos na mobilização dos votantes e dos partidos políticos tamento das mudanças climáticas e políticas ambientais no Parlamento,
nacionais são desenvolvidos em busca de uma aprendizagem sobre a prática uma análise realizada sobre a votação em legislações climáticas durante o
da cidadania europeia pela via da inédita representação popular em duas ano de 2022 revela apoio sólido no processo de aprovação de medidas
instâncias: nacional e regional. legislativas de suporte ao Pacto Verde europeu. No entanto, a expectativa
das eleições para o Parlamento de 2024 apontam, no contexto atual, uma
O PE é a única instituição eleita diretamente, dentre as instituições da Uni- perda de votos para partidos e agendas verdes, tradicionalmente defendi-
ão, com eleições na região a cada cinco anos desde 1979. Ou seja, o exercí- das não apenas pelos partidos verdes tradicionais, mas também pela centro
cio de voto para o Parlamento chegou aos cidadãos da UE antes da cidada- -direita europeia. Eventuais mudanças na agenda verde partidária em elei-
nia europeia, lançada com a entrada em vigor do Tratado de Maastricht, em ções europeias é um dos focos de atuais pesquisas do OEE.
1993.
O OEE segue com os grupos de trabalho partindo da hipótese de que o
Assim como foi realizado nos anos de 2018 e 2019, ao longo de cerca de 12- acompanhamento de uma combinação entre preferência do eleitor euro-
14 meses antes de haver eleições para o PE, o Laboratório de Ensino e Pes- peu por partidos da nova extrema direita e por partidos verdes, a partir do
quisa em Relações Internacionais (LabRI), associado ao Departamento de levantamento dos votos atribuídos em eleições nacionais, contribuirá para
Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (DRI- apresentar um panorama mais sustentável no desenho de um cenário de
UERJ), sob coordenação da professora Ana Paula Tostes, organiza um Ob- tendências na composição do PE de 2024-2029. E, por consequência, espe-
servatório Eleitoral para eleições europeias (OEE-LabRI). O objetivo do OEE ramos sistematizar impasses e expectativas da UE ser bem-sucedida na sua
é o de formar um grupo de trabalho que coleta dados e produz relatórios transição para uma economia neutra em 2050.
sobre eleições europeias nacionais e para o PE. Coletamos dados sobre
preferência de voto, especialmente com foco no aumento do populismo e
no fortalecimento de partidos da nova extrema direita anti-europeia na Referências:
região. No ano de 2023 iniciamos os trabalhos do OEE-LabRI em agosto, e BARTELS, Jan-Eric. Are European Elections Second-Order Elections for Everyone?
além dos partidos da nova extrema direita incluímos pesquisas e debates Swiss Political Science Review, v.29, n. 3, pp. 290-309, 2023.
para feitura de relatórios sobre os partidos verdes na região e o aumento no FREIRE, A. & SANTANA-PEREIRA, J. More Second-Order that Ever? The 2014
voto europeu que apoia a transição verde e o alcance das metas do Pacto European Election in Portugal. South European Society and Politics. V. 20, n. 3,
Verde da UE. pp. 381-401, 2015.
MARSH, M. Testing the Second-Order Election Model after Four European Elec-
tions. British Journal of Political Science, v. 28, n. 4, pp, 591-607, 1998.
O grupo de estudos já coletou, ao longo do ano de 2023, dados de eleições
europeias, atualizando a coleta que o LabRI já havia sistematizado desde
2019. Dentre os trabalhos em curso está a elaboração de relatórios de pes-
quisa de autoria dos/as coautores/as deste artigo. Os trabalhos em curso
incluem, além da análise dos votos e sistematização de dados eleitorais
sobre suporte aos partidos da nova extrema direita, partidos verdes, nos
quinze países (chamados ‘ocidentais’, ou seja, aqueles Estados membros de
democracia consolidada, já integrantes do modelo político europeu antes
dos alargamentos a partir de 2010), por apresentarem sistemas eleitorais
similares, com tradições partidárias e de alinhamento ideológico com po-
tencial comparativo.
Estudos das últimas décadas têm mostrado que eleitores (p. ex. Freire & ______________________________________________________
Santana-Pereira, 2015; Marsh, 1998) e os partidos políticos tradicionais (p. Ana Paula Tostes é professora no Departamento de Relações Internacionais
(DRI), e no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ. Jean Monnet
ex. Marsh, 1998) tratam as eleições europeias como eleições de “segunda
Chair da UE (EUgac/n.101127443) e coordenadora do grupo de pesquisa em
ordem” e, portanto, deixam aberta uma lacuna competitiva que resulta em
Estudos Europeus do LabRI e do OEPE-LabRI. Ana Luiza Rezende
alguns países europeus, em um padrão de votação que potencialmente (ana.r.souza.als@gmail.com), Lara Senfft (senfftlara@gmail.com), Luan Werneck
favorece partidos pequenos e de menor expressão nacional. Essa é uma (luanwerneck@gmail.com), Melina Elisabeth-Flora
realidade que tem mudado, na medida em que a percepção da relevância (melinatheodora@outlook.com), Melissa Pesconi (mxpesconi@gmail.com),
da UE passa a afetar a atitude dos cidadãos e mudar a estratégia de partidos Raíssa Souza (raissamrss@gmail.com), e Wallace Seciliano
políticos e sua ambição por espaços de poder na Europa. (canalwallaceseciliano@gmail.com) são graduandos de Relações Internacionais
da UERJ (DRI-UERJ) e pesquisadores no grupo de pesquisa em Estudos Europeus
Mudanças quanto ao tradicional baixo interesse pelas eleições europeias e à do LabRI e membros do OEE-LabRI.
baixa participação nas eleições para o PE foram percebidas em 2019. Em
2019 vimos um aumento significativo na presença nas urnas, tendo atingido
mais de 50% de participação (percentual não atingido desde 1994) de cida-
dãos europeus na eleição para compor o PE. A interpretação desse aumento
de participação pode ser atribuída a dois fatores que se comunicam: a forte
campanha apartidária promovida pelo próprio Parlamento para informar
eleitores sobre a relevância do pleito para a democracia na região, e uma
preocupação com o aumento da nova extrema direita europeia, que possui
uma plataforma anti-UE.
As temáticas sobre a Segunda Guerra Mundial são mundialmente debatidas em 50, os “febianos” foram anunciados no periódico como destemidos combatentes,
diversos setores: na cultura pop, na mídia, na academia e na imprensa. Quase 80 o que pode indicar que assim eram vistos pela maioria daqueles que liam as
anos após o término do conflito, há muito do que se discutir sobre o tema, princi- emotivas e rotineiras páginas do jornal.
palmente na questão identitária.
Por fim, é de se destacar a importância desse estudo, diante o fato que a concep-
Para isso, este estudo buscou um aprofundamento pelos periódicos de um popu- ção de preservação de memória e identidade se relacionam sob o papel da divul-
lar jornal do interior da cidade de Franca-SP que esteve em atividade entre os gação que o jornal O Francano fez com os soldados da FEB ao longo dos anos.
anos de 1945 até 1955 e que possibilitou encontrar relevantes publicações acer- Além de disso, é de se ressaltar é relevante para incentivar novos apontamentos
cas dos “praças” brasileiros que foram para o embate na Itália com pouco treina- para futuros estudos dentro desse campo historiográfico, que sem dúvidas muito
mento e difíceis condições militares. No entanto, o papel da imprensa francana tem a agregar à História do Brasil e ao entendimento da construção da identida-
foi cordialmente capaz de divulgar e construir uma imagem notável e gloriosa de.
aos veteranos e aos ex-combatentes em suas páginas, validando as característi-
cas patrióticas. Assim, suas identidades e suas memórias permanecem vivas nas Referências:
páginas deste jornal, que os valoriza como verdadeiros heróis da pátria e liberda- FERNANDES, Karina Ribeiro; ZANELLI, José Carlos. O processo de construção e recons-
de. trução das identidades dos indivíduos nas organizações. Revista de Administração
Contemporânea, vol. 10, n 1, 2006.
As identidades são construídas e compartilhadas pelas sociedades no tempo e LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla
espaço (FERNANDES; ZANELLI, 2006). Preocupada em compreender como se Bassanezi (org.). Fontes Históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
O Francano (1945-1955), CEDAPH - Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa
formam socialmente algumas identidades, essa pesquisa busca investigar de que
Histórica.
modo criou-se um processo de identificação da sociedade brasileira com os
“pracinhas” que atuaram na Segunda Guerra.
Além disso, foram encontrados no jornal diversas outras matérias que relatavam
eventos que engrandeciam e traziam toda uma carga heroica e de bravura para
os soldados locais, como celebrações de condecorações com medalhas de San- ______________________________________________________
gue e Campanha para os veteranos francanos. Kaio Luccas Custódio Araújo é graduando em Licenciatura e Bacharelado em
História, pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho - Franca. Foi bolsis-
É importante notar como O Francano foi um importante veículo de comunicação ta do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) sob orien-
para divulgar a imagem gloriosa dos combatentes na cidade para a população tação da Profa. Dra. Karina Anhezini de Araújo.
por meio de variados tipos de mensagens que auxiliaram na construção de um
“bom soldado”. Postura essa percebida notoriamente em como as manchetes Nota do Autor: O seguinte artigo é uma partição de minha pesquisa intitulada
valorizavam o patriotismo e a bravura dos veteranos, além de criarem um laço “Uma cultura histórica da heroicidade: “Os pracinhas” pelos jornais francanos
entre a comunidade com a finalidade de se ver dentro da sua cultura um grupo (1945-1955), sob fomento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
que participou da maior guerra já ocorrida em prol da democracia e liberdade. Científica (PIBIC) concluído no ano de 2023 sob orientação Profa. Dra. Karina
Com isso, é possível dizer que, embora com o passar dos anos, até a década de Anhezini de Araujo.
BRICS: modernização ao estilo chinês como uma nova alternativa para o Brasil e Argentina
através dos BRICS e do NBD
O ano de 2023 começou com diversas mudanças nos BRICS, a ex-presidente Por isso, o NBD tem como objetivo aliviar os problemas de financiamento em
Dilma Rousseff assumiu a presidência do banco do Novo Banco de Desenvolvi- infraestrutura e desenvolvimento sustentável, além de proporcionar uma ajuda
mento (NBD) e foi aprovada a entrada de Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emira- mútua na hora de financiar projetos de desenvolvimento e com discussões de
dos Árabes, Etiópia e Irã no grupo, expandindo e ampliando a importância geo- linhas de crédito em moeda local, como uma alternativa ao uso do dólar.
política dos BRICS, até então composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do (ABDENUR, 2023. p. 97). Ideia que ajuda muito a Argentina que sofre com falta
Sul. de dólares, porém ele não é a única iniciativa elaborada por eles e existem mui-
tas outras a serem exploradas que não cabe discutir neste artigo.
Neste artigo, quero convidá-los a refletir sobre o nosso desenvolvimento, por
meio de novas alternativas ao modelo ocidental, como a modernização chinesa e Portanto, ao meu ver, cabe a nós, pesquisadores, buscar compreender as possibi-
aproveitar o momento de alta do BRICS e do NBD. Para isso, buscarei esclarecer lidades a serem exploradas. E a partir dessas possibilidades, usar os nossos meios
alguns aspectos da modernização ao estilo chinês e dos BRICS, juntamente com o para levar adiante uma ideia de modernização brasileira que vá muito além de
NBD. uma economia de plantation 2.0. Precisamos retomar um projeto de desenvolvi-
mento sustentável para o nosso país e de preferência que atenda a necessidade
Para falarmos sobre a modernização chinesa, primeiro precisamos entender o de todos, assim combatendo a desigualdade, pois o futuro é agora e o amanhã
pensamento atual do PCCh e os planos para a “Nova Era” que teve início no 19º talvez não chegue.
Congresso Nacional, celebrando os resultados do desenvolvimento do país, após
o triunfo da revolução sobre o colonialismo e imperialismo que haviam arrasado Referências:
o país e após anos de reconstrução, por meio de avanços tecnológicos, científicos CARVALHO, João. O pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características
e apoiados em relações ganha-ganha que possibilitam a cooperação em escala chinesas na nova era: O cerne do pensamento do presidente está em persistir no
global, a China iniciou o século XXI como uma liderança global (CARVALHO, 2021, desenvolvimento do socialismo com características chinesas. CHINA HOJE. São Paulo,
p.9). n. 36, p. 9-11, jun. 2021.
LINGLING, Liu. Chinese-style modernization and the measures for China's economic
growth with stability. Rio de Janeiro: Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, 2023 1 vídeo
Atualmente, o partido trabalha para alcançar a meta de prosperidade comum
(1h 39min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jqJ4Kmqg9wM. Aces-
para todo o povo até a metade do século XXI. Para atingir esse objetivo, foram
so em: 10 out. 2023
estabelecidas uma série de metas ambiciosas no 20º Congresso, incluindo o
ABDENUR, Adriana Erthal. O Novo Banco de Desenvolvimento e a Institucionalização
crescimento do PIB, que deverá atingir a marca dos US$37 trilhões até 2050, por do BRICS. In: BAUMANN, Renato et al (Org.). BRICS: ESTUDOS E DOCUMENTOS. Brasí-
meio de um crescimento constante na faixa de 5% a 6% ao ano. Com esse ritmo lia: Fundação Alexandre de Gusmão, 2015. p. 79-114.
de crescimento, a China se torna uma referência para qualquer país em desen-
volvimento (LINGLING, 2023). Nas últimas décadas, a China conseguiu superar
problemas como a fome e a extrema pobreza, além de desenvolver os setores de
infraestrutura, indústria e tecnologia, estabelecendo relações ganha-ganha. E
isso é algo pouco explorado por nós.
Além disso, como parte de seu projeto de modernização, a China tem ampliado e
intensificado sua iniciativa conhecida como “Cinturão e Rota”, com o objetivo de
consolidar parcerias comerciais, aumentar o volume comercial de mercadorias,
atrair investimentos estrangeiros para o país e liderar os investimentos no exteri-
or por meio de acordos mutuamente vantajosos. O Cinturão e Rota visa construir
uma rede de infraestrutura, especialmente nos países do Sul Global, buscando
ampliar e agilizar o comércio com a China, através de melhorias na infraestrutura
desses países (LINGLING, 2023). Dessa forma, ambos os países conseguem au-
mentar o fluxo de mercadorias e usufruir dos benefícios de um desenvolvimento
global. Diante disso, nós do Sul Global devemos aproveitar essa oportunidade
oferecida pela China como um excelente meio de se desenvolver a nossa infraes-
trutura para além de apenas exportar commodities.
Constituição é definida como um modo de organização interna, que estrutura os Portanto, é inegável a necessidade de reformula-
fundamentos da associação política. Em algumas perspectivas, a constituição é ção da atual Constituição vigente no Brasil, que
fruto de um fato social, sendo o resultado da realidade do país em conjuntura além de problemáticas inerentes à sua própria
histórica. Em outras, a constituição é fruto da visão política do momento em que formação, possui uma herança militar que se per-
é criada. O caso brasileiro está diretamente relacionado a ambas as visões e será petua até os dias de hoje, fundamentando atos
tratado nesse texto através de uma perspectiva própria das múltiplas problemá- políticos que parecem autoritários perante à popu-
ticas que envolvem a constituição de 1988, a partir das perspectivas dos autores lação civil. Entretanto, essa reformulação não pode
Gilberto Bercovici, José Canotilho e Konrad Hesse, abarcando ainda a incorpora- ocorrer de forma inconcebível às diversas realida-
ção política da mesma com resquícios do regime militar, a partir da visão de des do país, devendo ser elaborada abrangendo as
Conrado Hübner Mendes e por fim, comparando-a com o caso constitucional questões sociais de forma pragmática, objetivando
chileno e seus desmembramentos atuais. a “otimização” de Hesse e tendo como finalidade, acima de tudo, sua concretiza-
ção.
No artigo “A problemática da constituição dirigente: algumas considerações
sobre o caso brasileiro”, o autor Gilberto Bercovici faz um panorama geral sobre Referências:
a Constituição Brasileira de 1988 e os empecilhos de sua vigência. A primeira das BERCOVICI, Gilberto. A problemática da constituição dirigente: algumas considerações
problemáticas diz respeito as divergências entre uma constituição como instru- sobre o caso brasileiro. Brasília: a. 36 n. 142 abr./jun. 1999. Revista de Informação
mento do governo ou como plano global, ou como um instrumento pragmático, Legislativa; pp. 35 – 51.
que preze sobre a eficácia e obtenha um melhor planejamento. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador.
Coimbra: Coimbra Editora, 2001; pp. 5 – 30.
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Porto Alegre: [s. n.], 1991.
Outro dos problemas é apresentado através de uma referência ao autor José
HÜBNER MENDES, Conrado. O entulho autoritário era estoque. Quatro cinco um, [s.
Canotilho e sua teoria da “crise de reflexividade”, a qual afirma que a sociedade
l.], 1 mar. 2020. Disponível em: https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/
contemporânea se tornou complexa demais para ser englobada por uma consti-
direito/o-entulho-autoritario-era-estoque. Acesso em: 4 dez. 2023.
tuição, adentrando assim, a ideia de “constituições simbólicas”. Outros autores
citados, como Konrad Hesse, propõe que a concretização constituinte só é possí-
vel quando observada através de uma perspectiva circunstancial, além de uma
“otimização”, que parte de uma busca por um equilíbrio constitucional. Ao con-
cluir seu texto, Bercovici afirma que a maior problemática da Constituição de
1988 é a ausência de uma concretização de suas propostas, que se reflete em
constantes crises políticas e perpetua um sentimento de ceticismo em relação ao
Estado.
O novo modelo autoritário que encontra amparo na Constituição pode ser perce-
bido durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (2019 – 2022). O presidente
demonstrou parcialidade ao conceder perdão ao deputado Daniel Silveira; trocou
quatro vezes o diretor da Polícia Federal, buscando consonância da instituição
com o seu governo; utilizou o aparato estatal para realizar políticas populistas
com fins eleitorais; e reduziu a transparência dos gastos governamentais ao
implementar o “Orçamento Secreto”. Todas essas, medidas previstas pela Consti-
tuição. Leis como as citadas, que permitem interferências diretas do Presidente
em órgãos de governo, e que parecem estar invulneráveis do principio da impes-
soalidade e imparcialidade prejudicam a concepção de um projeto verdadeira-
mente democrático à nação.
InfoNEIBA - Nationalism has been your main research topic for many ye- when we use nationalism to justify it.
ars. We are currently witnessing the resurgence of nationalism, for exam-
ple, Brexit, separatist referendums, the rise of populist leaders and the In short, nationalism should again be rooted on common values, shared
policies adopted by various governments around the world during the human dignity, as it was when it first emerged during the French Revoluti-
pandemic. What is the cause of this resilience? Is this a new nationalism? on.
Umut Özkırımlı - I have actually written about this on many different occasi- InfoNEIBA - In the last decade, the debate about the so-called culture wars
ons, especially when I was dealing with case studies. I think the whole ap- has also intensified. In this context, your new book (Cancelled: The Left
proach to nationalism as something that is rising or surging, coming, and Way Back from Woke, Polity, 2023) takes a very critical perspective. How
going – the wave approach – is not helpful at all and is in many ways mislea- do you see the influence of so-called identity politics in the current politi-
ding. For one, there is the issue of banal or everyday nationalism which cal context?
continues to exist at all times. Whenever something surges, it’s actually Umut Özkırımlı - It is affecting everything. I mean, I was thinking that at
nutured by these pre-existing ideas that never disappear. So, I don’t think some point those culture wars would come to an end and the reactionary
that what we see today is a resurgence of nationalism, and I don’t believe right would win but Gaza actually acted as catalyst and accelerated this
that we are getting more and more nationalists. On the contrary, nationa- process. Now we are going through a very reactionary era where the right
lism has become so mainstream, an integral of the international state sys- dominates everything: antisemitism is in the rise, Islamophobia as well, and
tem that we shouldn’t talk about it as something that is new or completely identity politics has paved the way to this. It’s important for the readers to
different from what it once was. understand that by identity politics I don’t mean only the left-wing identity
What I mean by this is that there has been a tectonic global shift towards politics or what has been referred as “woke” identity politics, because right
the right, and the nationalism we have today is a much more right-wing wing nationalism – the nationalism of the likes of Trump or Milei – is also
reactionary phenomenon than it was 10 or 20 years ago. This is why we had identity politics, the identity politics of the majority, of white people, of
Brexit, Trump, etc. They are not exceptions; they are actually the result of a reactionaries, etc. They are all identity politics, it’s just whose identity we
kind of larger shift to the right. What has become mainstream is not natio- are talking about.
nalism itself, but a very right-wing populist form of nationalism. Since they are the majority and people are overall more conservative than
This also affects in some cases left-wing movements too. Even those coun- change-oriented, the means of production – if we use a Marxist language –
tries that have a left-wing politician in power – like Lula, Boric or Danish or the economic resources and political power are concentrated mostly in
social democrats, etc – still have nationalism as a common denominator the hands of the right. So, the only place that the left could fight against this
with far-right politicians – like Bolsonaro or Milei. This is a specific form of was the cultural arena, and they made a big mess of it. That’s why we’ve
nationalism – some prefer to call it “nativism”, in the sense of a “citizens- seen this outrageous responses by some students and on the left to what
first approach”, which can include anti-immigration or anti-minorities polici- happened on October 7. None of this justifies the current genocidal war, but
es. In Latin America, for instance, there’s the issue of indigenous people, the point is that everyone with a sense of humanity should be able to critici-
and colorism is an important dividing mark in Brazil, as I learned from my ze violence on both sides. Now, because the left has embraced such extre-
good friend Jean Wyllys. mes positions, the right is going back to its factory settings. In the last deca-
de, during the culture wars, they were acting as if they were the free-speech
So, what we are seeing is not a resurgence of nationalism: what we are absolutists, fighting against what they described as an authoritarian woke
seeing is ratification of nationalism which is becoming a more right-wing movement. But like most political actors, they wanted free speech only for
and reactionary phenomenon. We take this for granted. For a self-defined themselves, for their own use. With the war, many people lost their jobs for
progressive or liberal like me, this means that we shouldn’t be looking for supporting Palestine – not Hamas, but Palestine.
political solutions which discard nationalism completely – cosmopolitanism,
internationalism, whatever you call it. What we need is to accept that natio- Identity politics, both on the right and the left, has restricted our options
nalism is a fact of life with huge appeal among the masses, and we need to and narrowed down the space for critical thinking and proper discussion.
find ways to control it, keeping that reactionary nationalism in check, and We are pushed towards the polar opposites; if you are trying to find a mid-
come to terms with nationalism to salvage it from the right and make it dle ground, nobody would want you on their side. The good thing is that it’s
“normal” again. I mean, being a patriot, loving your culture, loving your coming to an end, but the bad thing is that it’s not coming to an end in a
language etc. are fine, unless it leads to exclusion and in extreme cases to good way. Argentina is just the beginning; the next step will be Trump’s
the extermination of the other. election in 2024 and this will take years to end.
To summarize, what we see is not a resurgence of nationalism, but an exclu- InfoNEIBA - Capitalism has been appropriating social agendas related to
sionary notion of nationalism becoming more common and more mainstre- the inclusion of minorities. How does this affect the original meaning of
am. It’s a not a new nationalism, it’s the same old right-wing reactionary these issues? How can we mitigate this distortion and preserve the integri-
nationalism which has now become much more acceptable. We shouldn’t ty of movements seeking the inclusion of minorities?
be talking about this as a new form of nationalism. Umut Özkırımlı - That is one of the main ideas of the book. The reason why
In the past, academics were trying to distinguish between good and bad these identitarianism has become so dominant is partly because capitalism
nationalisms, and that was wrong. Lots of people, including me, Roger Bru- has coopted it. They saw a window of opportunity there, a way of making
baker, Craig Calhoun have argued that there aren’t two types of nationa- profit, so they appropriated these topics, such as transgender identity, ideas
lism. All nationalisms bring culture and politics together, and combine reac- of the fluidity of gender and sexuality, as a means to make money. Diversity
tionary and progressive features. The same nationalism can be reactionary and inclusion have become a new billion-dollar industry. It’s represented
when it’s targeting minorities or other countries, and become a progressive mostly in the culture industry, from the traditional media to the new strea-
force when targeting a colonial power. Even though it would be doing the ming services and all of that. So you shoot Cleopatra again, but you make
same thing, the power dynamics are different, and that matters. her black. You spend millions and millions recruiting people to become
diversity trainers or antiracism trainers, and the reason is to have the appe-
For instance, both Hamas and Israel claim to be acting to allegedly protect arance – not a reality – that you are becoming more progressive, that mino-
the interests of their own people. One is the colonizer and the other is the rities are being heard. But they aren’t actually speaking, they are being used
colonized. We’ve seen very clearly that both are ready to use violence. I’m and exploited by neoliberalism or late-stage capitalism to make money and
not saying that Hamas represents the whole population of Palestine, of profit.
course, but when it comes to using violence, they don’t hesitate doing it.
You cannot start talking about any of these issues without first coming to
Since even the colonized and the oppressed are using violence in the name terms with this. We shouldn’t ignore the problems these initiatives claim to
of national interest, then what we need as progressives is to find a way of address, but incorporate class and economy into our politics, and then see
fighting against the colonizer and the oppressor in a non-violent way. Even them together. There is no point of talking about race, if you don’t ackno-
O dossiê tem como objetivo compilar pesquisas que analisem o estado atual da integração regional; como os diferentes processos de integração
regional se ajustam - ou não - às transformações políticas, econômicas, tecnológicas e ambientais do sistema internacional; e quais são os riscos e
oportunidades que esse cenário em constante mudança apresenta para a integração regional como mecanismo de coordenação intergovernamental
e como meio para a inserção no mundo.
O dossiê é organizado por Paulo Velasco Júnior (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e Julieta Zelicovich (Universidad Nacional de Rosario). A
chamada destina-se a estimular uma discussão sobre as novas perspectivas e possibilidades do regionalismo no mundo contemporâneo, marcando
por crescentes divisões e antagonismos.
O prazo para a recepção de artigos vai até o dia 31 de março de 2024. Os/as interessados/as deverão enviar os artigos inéditos pelo portal da revista
seguindo as diretrizes para autores/as. Basta logar na página e submeter o artigo na categoria "O Regionalismo no mundo hoje, caminhos e desafi-
os".
Link para submissão: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/neiba. Diretrizes para autores e link para submissões: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/neiba/about/submissions.
Também gostaríamos de reforçar que a Revista Neiba, Cadernos Argentina-Brasil, agora está classificada como Qualis B1. Estamos trabalhando para
conquistar um Qualis ainda melhor na próxima avaliação e sua colaboração é fundamental para alcançarmos esse objetivo.
Para publicar em nossa revista, você precisa ser, no mínimo, um estudante de mestrado. Os artigos podem ser enviados em português, espanhol,
francês ou inglês. Diretrizes para autores e link para submissões: https://www.e-publicacoes.uerj.br/neiba/about/submissions.
FRANCISCO, Júlia de Andrade Fernandes; SANTOS, Lucas Buzatto dos. Herança autoritária no Brasil e problemáticas constitucionais: perspectivas de
mudança. InfoNEIBA: Jornal Informativo do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 2, p.6 , jul.-dez. 2023.
MIRANDA, Alfredo. BRICS: modernização ao estilo chinês como uma nova alternativa para o Brasil e Argentina através dos BRICS e do
NBD. InfoNEIBA: Jornal Informativo do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 2, p.5 , jul.-dez. 2023.
TOSTES, Ana Paula et al. Eleições para o Parlamento Europeu de 2024: uma eleição de ‘segunda ordem’ diante da agenda climática? InfoNEIBA:
Jornal Informativo do Núcleo de Estudos Internacionais Brasil-Argentina, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 2, p.3 , jul.-dez. 2023.
O InfoNEIBA recebe em fluxo contínuo: artigos, resenhas e materiais de cunho acadêmico para divulgação.
Maiores informações no site: www.neiba.com.br