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A Nova Rota da Seda: a fundamentação geopolítica e as consequências estratégicas do

projeto chinês.
Ricardo Lopes Kotz1

Resumo:
A Nova Roda da Seda, denominada como Belt and Road Initiative (BRI) consiste em um plano
de investimentos proposto pela China, englobando 65 países, compreendendo aproximadamente
62% da população e 30% do PIB global. A BRI é a principal iniciativa de política externa do
governo Xi Jinping, resultando em uma visão estratégica para a integração da Eurásia.
A pesquisa pretende identificar os interesses da China nesta região. A riqueza de recursos
energéticos, a importância geopolítica da Eurásia e a possibilidade de consolidação de uma
esfera de influência regional são os pontos mais relevantes. Portanto, embora seja consolidada
através de fluxos econômicos, a BRI possui uma fundamentação estratégica que deverá se tornar
importante para a manutenção do crescimento da economia chinesa no longo prazo.
Adicionalmente, o plano permitirá uma conexão terrestre direta entre a China e a Europa, através
da construção de infraestrutura.
Palavras-chave: China; Eurásia; Belt and Road.

Abstract:

The New Silk Road, called the Belt and Road Initiative (BRI), consists of an investment plan
proposed by China, encompassing 65 countries, comprising approximately 62% of the
population and 30% of global GDP. BRI is the main foreign policy initiative of the Xi Jinping
government, resulting in a strategic vision for the integration of Eurasia. The research aims to
identify China's interests in this region. The availability of energy resources, the geopolitical
importance of Eurasia and the possibility of consolidating a regional sphere of influence are the
most important points. Therefore, although it is consolidated through economic flows, BRI has a
strategic foundation that should become important for the long-term growth of the Chinese
economy. In addition, the plan will allow a direct land connection between China and Europe
through the construction of infrastructure.
Key Words: China; Eurasia; Belt and Road.

1 – Introdução:

No século XXI, a Ásia emerge como uma das regiões mais importantes da economia
mundo (ARRIGHI, 2009), compreendendo 29.7% do produto interno bruto global (WORLD
BANK DATABASE, 2017). A ascensão econômica da China se destaca neste cenário. O
processo foi impulsionado pelo período de reformas e abertura introduzido pelo governo de

1
Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), especialista em
Estratégia e Relações Internacionais Contemporâneas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e
mestrando do Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina.

1
Deng Xiaoping (1978-1989), resultando em um período de 30 anos onde o país alcançou uma
média de crescimento de 10% ao ano e retirou 500 milhões de pessoas da linha de pobreza
(BANCO MUNDIAL, 2013, p. 23). O acelerado desenvolvimento econômico e o aumento da
projeção internacional da China nas últimas décadas reforçam a importância de que sejam
produzidas análises críticas em relação à estratégia chinesa.
A Nova Roda da Seda, também denominada como Belt and Road Initiative (identificada
sob o acrônimo “BRI”) foi oficialmente anunciada pelo presidente chinês Xi Jinping no ano de
2013. O projeto compreende a Silk Economic Road (componente terrestre), passando pela Ásia
Central, pelo Oriente Médio, pela Rússia e chegando até a Europa, incluindo basicamente o
território da Eurásia. A rota terrestre é complementada pela Maritime Silk Road, uma rota
marítima que ligará os portos chineses no sudeste asiático com países da Costa Africana,
passando pelo Oceano Índico, pelo Canal de Suez e chegando até o Mediterrâneo (STATE
COUNCIL OF THE REPUBLIC OF CHINA, 2015).
A BRI consiste em um vasto plano de integração econômica e de infraestrutura que
engloba em torno de 65 países2, compreendendo aproximadamente 62% da população global e
30% do PIB mundial (CHIN & HE, 2016). Desde o ano de 2013, 900 projetos entraram em
negociação, com valores que chegam ao montante de US$ 890 bilhões. A China afirma que os
investimentos na iniciativa alcançarão o montante de aproximadamente US$ 4 trilhões
(ECONOMIST, 2016).
A iniciativa se divide em seis corredores econômicos: 1) a Nova Ponte Terrestre
Eurasiática (que chegará até o território europeu); 2) o eixo China-Mongólia-Rússia; 3) o eixo
central China-Ásia Ocidental (perpassando o Oriente Médio); 4) o eixo da Península China-
Indochina; 5) o eixo do Corredor Econômico China-Paquistão e, finalmente, 6) o Corredor
Econômico Bangladesh-China-Índia e Mianmar. Relatórios estratégicos elaborados pela
academia chinesa apontam que o projeto deverá se estender por um período de 30 a 40 anos
(HONG, 2016).
O presente artigo se situa no tema da inserção internacional da China com foco nos
interesses projetados por este país através da Belt and Road Initiative. O objeto desta pesquisa

2
Este número corresponde a uma estimativa advinda dos projetos atualmente em negociação. As declarações do
presidente Xi Jinping enfatizam o caráter aberto do plano, sendo que novos países podem se integrar a BRI em
qualquer momento (CHIN e HE, 2016). Para uma análise específica dos projetos, além de previsões quanto aos
possíveis riscos, ver The Economist (B), 2016.

2
será a Nova Rota da Seda, com foco em sua dimensão terrestre. Este projeto abrange
principalmente a Eurásia continental, sendo que esta região será apresentada através de sua
relevância geopolítica e estratégica. A metodologia utilizada consiste na revisão bibliográfica e
análise documental, buscando integrar a visão de teóricos ocidentais à visão de analistas chineses
sobre o tema. Utilizam-se igualmente pronunciamentos e discursos oficiais do governo da
República Popular da China. As conclusões preliminares permitem inferir que esta iniciativa
deverá se tornar importante para a manutenção do ritmo de crescimento da economia chinesa no
longo prazo, fator que está diretamente ligado à estabilidade política e à coesão social do país.
Pontualmente, a primeira seção tratará sobre a fundamentação geopolítica da iniciativa,
que está diretamente ligada à relevância da massa continental da Eurásia, abordando sua
importância estratégica e as suas reservas de hidrocarbonetos. A próxima seção trata da Belt and
Road Initiative, realizando uma discussão geral acerca dos seus princípios, da sua execução e de
suas implicações. A última seção aborda as consequências estratégicas da Iniciativa, que inclui
sobretudo o estabelecimento e a expansão da esfera de influência regional da China.

2. A fundamentação geopolítica:

Uma visão teórica através das lentes da geopolítica pode prover importantes explicações
acerca das grandes tendências estruturais do sistema internacional. Compreendemos a estrutura
histórica como a correlação de forças presentes em determinada região ou no sistema como um
todo, em determinado momento histórico, constrangendo e influenciando a capacidade de
agência estatal (COX, 1986; 1993). Portanto, a inter-relação entre as características geográficas e
os interesses que guiam as interações políticas e econômicas entre os Estados constitui uma das
bases analíticas deste artigo.
Em essência, a capacidade de agência estatal é limitada pelos parâmetros físicos impostos
pela geografia política, porém não se trata de um fatalismo determinista, como Kaplan (2012,
p.30, tradução nossa) se preocupa em demonstrar:
“A geografia informa, mas não determina. A
geografia, portanto, não é sinônimo de um
determinismo. Ela age como a distribuição
de poder econômico e poder militar,
constituindo um grande constrangimento

3
e/ou um grande instigador na ação dos
Estados”.
Assim, é possível perceber a importância da geografia e da geopolítica para as Relações
Internacionais, partindo de um ponto de vista analítico que trabalha com a longa duração,
conceito definido por Fernand Braudel, como lentos movimentos cumulativos, apresentando um
ritmo secular e gradual de transformações que agem sobre elas mesmas e, por sua vez,
influenciando a mudança da realidade social. Através deste arcabouço teórico e passando ao
largo de análises que habitam o ambiente do tempo curto, a história dos acontecimentos (histoire
événementielle) e as análises conjunturais - relativas a ciclos de décadas (BRAUDEL, 1985;
1998), fica mais clara a compreensão da importância geopolítica de um plano de investimentos
que se estende pela região da Eurásia, caso que se apresenta na Nova Rota da Seda idealizada
pela China (STATE COUNCIL OF THE REPUBLIC OF CHINA, 2015).
O nível mais amplo das estruturas geopolíticas que influenciam a ação humana consiste
na diferenciação que se estabelece entre regiões marítimas e plataformas continentais ou regiões
terrestres. Estas estruturas tendem a produzir civilizações, culturas, instituições e visões
geopolíticas fundamentalmente diferentes. Ambientes com acesso ao mar normalmente se
beneficiam de um aporte adequado de chuvas e clima moderado, muitas vezes tendo uma parcela
de suas fronteiras protegida pela água. O comércio e migração disponibilizados nestes ambientes
costumam levar a produção de ambientes culturalmente diversificados, favorecendo a
especialização produtiva na configuração econômica do território, ao passo que é possível formar
uma complementaridade com outras unidades políticas (COHEN, 2015).
Cenários continentais costumam apresentar variações climáticas maiores. Historicamente,
fatores geográficos como montanhas, desertos e a própria distância dos Oceanos produziu nestes
locais sociedades que viviam de forma mais isolada, com economias menos especializadas e
mais focadas na autossuficiência. O isolamento em relação a novas ideias tende a desenvolver
formas de organização da coletividade, ou regimes políticos mais fechados e, por vezes, mesmo
autocráticos (COHEN, 2015).

2.1 A importância geopolítica da Eurásia.

A região da Eurásia destaca-se pela riqueza e abundância de recursos naturais e


energéticos, além da importância logística e estratégica. A Heartland, inicialmente denominada
por Mackinder (2004) como zona pivô, consiste na área central da Eurásia. De forma

4
aproximada, é possível afirmar que a Heartland se estende desde a Europa Oriental até os limites
da Ásia Oriental. De norte a sul seus limites compreendem desde a linha do Círculo Ártico até os
desertos e montanhas da Ásia Meridional. A Eurásia possui massas aquáticas de importância
estratégica e comercial, tais como o Mar Báltico, o Mar Negro, o Mar Cáspio e o Golfo Pérsico.
O território da Heartland torna-se quase que inteiramente coberto pela neve e gelo em sua parte
norte, sendo protegido por desertos e montanhas em sua parte austral e oriental, sendo
igualmente quase inacessível ao poder naval, exceto pela região do mar Báltico e do Mar Negro.
Os diversos estreitos compreendidos na Heartland podem ser protegidos através do poder
terrestre (PETERSEN, 2011).
A visão de Mackinder enfatiza a importância estratégica da Eurásia, e mais
especificamente da sua região central, denominada como Heartland, argumentando que a
potência que seja capaz de exercer influência sobre este território, teria a maior capacidade de
projeção de poder a nível global. O exercício de poder terrestre sobre a Eurásia tem um potencial
de produzir um repositório de recursos e bens que, se associado a um poder marítimo, acarretará
possibilidades de alteração da balança de poder do sistema internacional. Isto permitirá
desenvolver meios para tentar controlar as regiões que possuem áreas costeiras em seus
territórios, produzindo um poder anfíbio, capaz de enfrentar o poder marítimo das potências
insulares: nos primórdios a Grã-Bretanha e posteriormente os EUA. De acordo com esta visão, a
potência que conseguisse dominar a Heartland, teria capacidade de dominar a World-Island, que
se define como a região que engloba a Europa, a Ásia e a África, obtendo consequentemente uma
supremacia de recursos que poderiam ser convertidos em poder efetivo (MACKINDER, 2004).
A organização geopolítica do mundo segundo Mackinder:

5
Fonte: Mackinder (2004), p. 435.
Mackinder (2004) tratava de poder definido em termos duros, através de contingente
populacional, recursos militares e a eficiência do uso do poder militar. Entretanto, para os
propósitos desta pesquisa, utilizaremos o conceito de poder que deriva de bases weberianas,
como sendo a capacidade de maximização da própria vontade, independentemente da vontade de
terceiros. Ou seja, a capacidade de influenciar outros atores sociais de modo a atingir objetivos
particulares, resultando muitas vezes em um curso de ação que não seria tomado originalmente
pelos atores terceiros se não houvesse o exercício desta influência. Portanto, o conflito de
vontades leva ao exercício do poder (GUZZINI, 2007).
Devemos ressaltar que para o escopo desta análise, não trataremos de fatores como a
dominação territorial propriamente dita. Usaremos, por outro lado, o conceito de esfera de
influência regional, que não implica em dominação política ou econômica, mas sinaliza um
equilíbrio de forças no qual os Estados pertencentes à determinada região concedem deferências
aos interesses da potência dominante, no que diz respeito à formulação de suas próprias políticas
públicas (BRZEZINSKI, 1997, p. 164).
No que tange ao exercício de poder na Eurásia, Brzezinski (1997) define três frentes
estratégicas basilares que consolidam o domínio sobre este território, quais sejam: a primeira
frente é o território localizado a extremo oeste da Eurásia, precisamente na divisão entre a
Europa Oriental e a Europa Ocidental; a segunda frente basilar consiste no extremo leste da
Eurásia, sendo essencialmente a região da Ásia Oriental e a terceira frente estratégica
corresponde ao sudoeste da Eurásia, partindo dos limites entre o território Indiano e Chinês, se
estendendo pela Ásia Central e Meridional e chegando até o Irã (BRZEZINSKI, 1997, p. 51-61).
Cada frente estratégica possui Estados pinos, que devido aos seus recursos naturais, sua
influência política, ou mesmo a sua posição geoestratégica, consistem nos Estados chave para
que determinada potência consiga exercer sua influência naquela frente. Os Estados pinos
possuem concomitantemente certo grau de vulnerabilidade, normalmente de cunho militar ou
mesmo econômica, que os tornam mais suscetíveis de serem atraídos pela força gravitacional
emanada pela influência de potências maiores (BRZEZINSKI, 1997). Portanto, uma articulação
em relação a certos Estados pinos, poderia consolidar a esfera de influência regional da China.
Mackinder (2004) afirmava que a dominação da Eurásia não havia sido possível devido
ao fato de que anteriormente, os povos nômades desta região dispunham apenas de cavalos para

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realizar sua locomoção em tão vasto território. Na conjuntura contemporânea de sua obra (1904),
o autor afirmava que isto seria possível devido aos avanços tecnológicos e ao advento das
ferrovias (MACKINDER, 1919; 2004). Isto cria um vínculo com um dos principais eixos de
construção de infraestrutura promovidos pela China na BRI, que é justamente a construção de
ferrovias de alta velocidade (STATE COUNCIL OF THE REPUBLIC OF CHINA, 2016). A
construção de grandes projetos de infraestrutura que necessitam do uso intenso de mão de obra
pode ser vista como uma tradição política oriental, herdada das grandes obras hidráulicas da
China Imperial (FAIRBANK & MERLE, 2006).

2.2) A riqueza de recursos energéticos.

No que tange aos recursos energéticos disponíveis na Eurásia, cabe apresentar os dados
acerca das reservas globais de hidrocarbonetos (gás natural e Petróleo):
Reservas globais de Gás natural 2005-2015 (trilhões de pés cúbicos):

Regiões 2005 2007 2009 2011 2013 2015


Eurásia 1.952.6 2.014.8 1.993.8 2.164.8 2.177.8 2000.5
Europa 194.0 180.3 169.1 153.8 145.5
Oriente 2.522.1 2.566.0 2.591.6 2.686.4 2.823.2 2826.5
Médio
Ásia e 386.4 419.6 430.5 537.6 521.8 552.6
Pacífico
América do 264.0 283.6 315.7 378.5 393.4 450.3
Norte
América 250.5 240.7 266.5 268.5 268.9 268.1
Central e
do Sul
África 477.0 485.8 495.1 518.5 514.8 496.7
Total - 6.046.6 6.190.9 6.262.4 6.708.2 6.845.2 6599.4
Mundo
Fontes: LINS (2016, p. 49); elaboração própria da coluna referente ao ano de 2015 com
dados provenientes de BP Global Energy Report (2016).

Reservas globais de Petróleo 2005-2015 (bilhões de barris):

Regiões 2005 2007 2009 2011 2013 2015


Eurásia 77.8 98.9 98.9 98.9 118.9 141.1
Europa 17.6 15.8 13.7 12.1 12.0 14.2
Oriente 729.3 739.2 746.0 725.9 802.2 803.5

7
Médio
Ásia e 36.3 33.4 34.0 40.2 45.4 42.6
Pacífico
América do 215.9 213.9 209.1 210.8 216.8 238.0
Norte
América 100.6 102.8 122.7 237.1 325.9 329.2
Central e
do Sul
África 100.8 114.1 117.1 123.6 127.7 129.1
Total - 1278.4 1.318.0 1.341.4 1.475.7 1.648.9 1697.6
Mundo
Fontes: LINS (2016, p. 48); elaboração própria da coluna referente ao ano de 2015 com
dados provenientes de BP Global Energy Report (2016).
Como é possível observar, a Eurásia possui relevantes reservas de hidrocarbonetos,
correspondendo a 32% do total mundial de gás natural e 7% do total global de petróleo. Estes
aspectos evidenciam a importância da visão analítica de Mackinder (2004), que compreendeu a
relevância deste território mesmo não dispondo dos meios necessários para auferir precisamente
fatores como os que estão representados nas tabelas acima. Além disto, uma rede eficiente de
infraestrutura e a projeção de influência sobre a Eurásia facilita o acesso aos recursos naturais
provenientes do Oriente Médio, compreendido na análise de Mackinder (2004) como parte do
crescente marginal interior. O Oriente Médio, por sua vez, representa 41% das reservas mundiais
de gás natural e 48% das reservas mundiais de petróleo.
Na ordem internacional, a posse de recursos energéticos constitui um fator de poder e de
influência (KLARE, 2013). Esse é o contexto da Nova Rota da Seda e também da crescente
presença da China na África. É um pensamento estratégico de longo prazo, executado através das
medidas geoeconômicas, tais como investimentos, ações diplomáticas, lançamento de iniciativas
e criação de instituições multilaterais, estabelecimento de joint ventures, fluxos financeiros de
ajuda para o desenvolvimento, acordos comerciais, entre outros instrumentos. Estas ferramentas
são necessárias para a obtenção do objetivo de assegurar o maior aporte possível de recursos
naturais e energéticos que permitam a continuidade do crescimento da economia chinesa
(BLACKWILL e HARRIS, 2016).

3. A Belt and Road Initiative (BRI):

A Nova Rota da Seda é um projeto estratégico que demonstra a maturidade da inserção


externa da China, sendo a maior iniciativa do país na construção de um modelo de governança

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global rumo à multipolaridade. A China enfatiza uma visão de ordem internacional que respeite a
soberania, as diferenças dos seus integrantes e que seja guiada por preceitos de cooperação para
o desenvolvimento e ganhos mútuos. Esta é a principal iniciativa de política externa do governo
Xi Jinping e resulta em uma visão estratégica para a integração da Eurásia (FERDINAND,
2016).
O presidente Xi Jinping visa promover a visão de uma ordem global com a China
liderando certos espaços, sem tentar substituir a ordem estabelecida pelos Estados Unidos, mas
procurando realizar reformas, sempre que houver conjunturas nas quais isto pareça ser possível.
Neste sentido, a BRI tem um caráter complementar em relação à ordem atual. Para os interesses
chineses, é melhor manter a iniciativa sob o sistema global de defesa dos EUA e a partir dessa
base expandir suas oportunidades econômicas e estratégicas (JI, 2015; SARVÁRI,
SZEIDOVICZ, 2016).
O mapa abaixo sintetiza os caminhos previstos pela iniciativa da Nova Rota da Seda:

Fonte: The Diplomat (2015).

A antiga Rota da Seda era um processo orgânico impulsionado pela demanda de seda e
especiarias produzidas pela China. Ou seja, a China possuía mercadorias e produtos desejados

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pelas demais unidades políticas do sistema internacional da época. Este fato levou ao
estabelecimento e à progressão de rotas comerciais, que, por sua vez, produziram efeitos
dinâmicos de disseminação de tecnologia e cultura (LIU, 2010).
A Nova Rota da Seda tem a característica de ser um processo conduzido pela oferta, ao
passo que agora a China oferece crédito e cooperação para a construção de obras de
infraestrutura nos países da Eurásia. Portanto, a BRI depende da aquiescência e da cooperação
dos demais Estados ao longo de suas rotas, o que deverá ser um desafio para a capacidade de
cooptação e de projeção de influência da China (SARVÁRI, SZEIDOVICZ, 2016).
A iniciativa tem como objetivos o aumento da conectividade do espaço euroasiático, a
alocação eficiente de recursos e a coordenação de políticas econômicas, de modo a promover
uma arquitetura regional de cooperação que seja aberta, inclusiva e que estimule o
desenvolvimento conjunto dos países envolvidos no processo. Estes objetivos serão alcançados
através da construção de capacidades, através da cooperação financeira, da liberalização do
comércio e de investimentos (STATE COUNCIL OF THE REPUBLIC OF CHINA, 2015). Para
isto, o projeto possui cinco principais eixos de atuação: 1) comunicação, 2) conectividade
(infraestrutura de transporte), 3) aumento dos fluxos monetários, 4) facilitação do comércio e 5)
migração, visando à criação de uma área de cooperação que se estende desde o Pacífico Oeste
indo até o mar Báltico (SARVÁRI & SZEIDOVICZ, 2016).
Destaca-se que a BRI não segue o padrão ocidental de estabelecimento de tratados
multilaterais entre todos os países membros da iniciativa. O modelo chinês enfatiza as relações
econômicas. Por esta razão, o plano é conduzido projeto por projeto e possui um caráter
essencialmente bilateral, que acabará por produzir impactos na esfera regional (CLARKE, 2016).
A China procura incentivar as empresas nacionais a acessar novos mercados, auxiliando com
apoio diplomático, com a facilitação de acesso ao crédito no ambiente doméstico, além de
simplificar as normas para a sua expansão internacional. O governo fornece ainda apoio técnico
para investimentos no setor de pesquisa e desenvolvimento no exterior (YEH & WHARTON,
2016).
A construção de ferrovias de alta velocidade parece ser o foco inicial da BRI. A China já
possui experiência neste setor, tendo construído internamente 16.000 km de ferrovias de alta
velocidade que passam pelos mais variados relevos e climas (JI, 2015 p. 506). A China possui
121.000 quilômetros de ferrovias, constituindo 60% do total global e possui o objetivo de

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estender a sua rede de ferrovias de alta velocidade para um total de 30.000 quilômetros,
incluindo os países situados em seu espaço regional imediato (STATE COUNCIL OF THE
REPUBLIC OF CHINA, 2016). A partir da província de Xinjiang, a China está construindo uma
intensa rede de ferrovias e oleodutos, gasodutos conectando ao Afeganistão, Paquistão,
Quirquistão, Tadjiquistão, de modo a consolidar sua esfera de influência regional (KAPLAN,
2012).
O volume de comércio da China com os países que integram a BRI cresceu em uma
média anual de 19% na última década, sendo que no ano de 2013, os aproximadamente 64 países
da BRI representaram 25% do volume total de comércio da China (em um valor de US$ 1.04
trilhões). Adicionalmente, os países ao longo da Rota da Seda já representaram no ano de 2015,
cerca de 20% dos Investimentos Diretos Externos da China. Estima-se que os países situados ao
longo da Nova Rota da Seda tenham uma necessidade de US$ 8 trilhões de investimentos em
infraestrutura para o período de 2010-2020 (JI, 2015, p. 504-505).
A Nova Rota da Seda pode ser vista como um projeto pacífico, porém pragmático de
aumento da zona de influência da China em uma região de grande relevância geopolítica e
econômica como a Eurásia. A BRI é baseada em princípios de ganhos mútuos e pretende
aumentar a contribuição da China em relação ao bem público global. A ascensão de uma nova
potência não depende exclusivamente do poder militar ou econômico, mas é influenciado pelos
interesses e pelo modo como o poder é exercido, constituindo fundamentalmente um processo de
barganhas e negociações. Neste caso, o conceito de potência em ascensão ou potência emergente
é definido como um ator que precisa ser consultado para que haja mudança no status quo, mas
que ainda não é capaz de determinar unilateralmente a sua própria agenda política para o âmbito
sistêmico (NARLIKAR, 2013).
Nesta perspectiva, a Nova Rota da Seda pode ser vista como a agenda política e a
principal contribuição da China para o bem público global durante o seu processo de ascensão. A
adesão dos países menos desenvolvidos da Ásia Central conferiria legitimidade, não visando
suplantar o ordenamento global já estabelecido, mas complementá-lo. O enquadramento e os
princípios da iniciativa servirão como base importante para que a BRI consiga efetivamente
consolidar sua legitimidade perante os países integrantes. Entre os princípios delineados pela
diplomacia chinesa, destaca-se a possibilidade de ganhos mútuos (win-win); o aumento da
conectividade entre as nações; o crescimento dos fluxos de comércio e de investimentos que, por

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sua vez, levariam maior desenvolvimento aos países envolvidos (STATE COUNCIL OF THE
REPUBLIC OF CHINA, 2016). Estes princípios possuem um fundo de incentivo a liberalização
e aprofundamento da globalização, porém, através de sua face material, nomeadamente marcada
pelos fluxos de comércio e de investimento estrangeiro direto.
A China estabeleceu instituições de cunho multilateral que poderiam auxiliar na projeção
política e na execução da BRI. Recentemente foram estabelecidos o Banco Asiático de
Infraestrutura e Investimentos (AIIB) com capital autorizado de US$ 100 bilhões e o Fundo da
Rota da Seda com capital autorizado de US$ 40 bilhões. A título de comparação, o Banco
Mundial possui um capital autorizado de cerca de US$ 260 bilhões. Sustenta-se que a ação destas
instituições multilaterais possa vir a ser um ponto importante para viabilizar uma maior aceitação
da Nova Rota da Seda (SARVÁRI & SZEIDOVICZ, 2016).
O AIIB contou com 57 membros no ato de sua criação, incluindo 37 países da região da
Ásia e do Pacífico, o que pode ser visto como uma forma de aquiescência em relação aos
desígnios chineses sobre a necessidade de construção de infraestrutura a nível regional. (CHAN,
2016, p. 8-9). No que diz respeito a relevância da atuação dos bancos multilaterais na construção
de infraestrutura, aponta-se que os investimentos globais neste setor alcançam o montante
aproximado de US$ 2,5 trilhões anualmente, sendo que seriam necessários US$ 3,3 trilhões
anuais para que o atual ritmo de crescimento da economia global seja mantido (MCKINSEY
INSTITUTE, 2016).
A BRI dependerá da aceitação pelos demais Estados participantes de que os preceitos
pretendidos pela China atendem aos seus interesses. A abundância de recursos materiais não
garante o exercício de influência ao longo da iniciativa. Assim, para ser bem sucedida, deve
haver uma noção geral de que os princípios promovidos pela China beneficiam os outros
componentes do complexo regional. A China deverá empregar um recursos materiais aliados ao
esforço político-diplomático para consolidar a BRI (BLACKWILL e HARRIS, 2016).
As principais incertezas acerca da viabilidade da BRI recaem principalmente sobre três
aspectos: 1) a magnitude dos investimentos anunciados; 2) a grande quantidade de países
envolvidos, implicando uma enorme necessidade de financiamento e articulação de cooperação
internacional para que o projeto se consolide; 3) a possibilidade de oposição de atores
importantes (Estados Unidos, Índia, Rússia, entre outros), que poderiam ver esta iniciativa como

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uma tentativa de alteração da balança de poder regional, através da projeção de influência. Este
último fator se exacerba devido a grande relevância geopolítica da massa continental da Eurásia.

4. As consequências estratégicas:

4.1 A consolidação de uma esfera de influência regional centrada na China.

Para compreender o estabelecimento da zona de influência da China, abordaremos


brevemente o processo histórico de formação do Estado chinês. Parte importante dos recursos
duros da China advém de sua população e das dimensões do seu território, que foi inicialmente
formado como civilização ao longo de grandes rios, o Rio Amarelo, o Rio Wei, o Rio Han e o
Rio Yangtze. Estes rios nascem no Tibete, surgindo no oeste do território chinês e direcionando
suas águas para as terras agricultáveis mais próximas do Oceano Pacífico, ao centro e ao sul do
país. Historicamente, as ameaças à unidade chinesa vieram dos povos nômades provenientes das
estepes da Ásia Central, localizados no norte e noroeste do seu território, em uma linha
semicircular anti-horária partindo da região da Manchúria até o Tibete (KAPLAN, 2012).
Argumenta-se que o senso de unidade e identidade da China enquanto civilização é
resultado de uma estrutura de socialização e diferenciação entre os povos localizados nas
planícies chinesas de agricultura irrigável (centro civilizacional) e os povos nômades da Ásia
Central, que constituíam a periferia do antigo sistema imperial chinês (FAIRBANK &
GOLDMAN, 2006). Este processo de contato e assimilação entre estruturas de centro-periferia
viria a constituir uma organização política manifesta através de vínculos tributários, suscitando
relações de influência e subordinação, à medida que avançava a centralização e formação do
aparato político administrativo da China Antiga, cuja influência veio a se estender através de
zonas concêntricas ao redor do Império Chinês (FOSSAERT, 2011).
O Estado chinês possui territórios desérticos no oeste e terras de solo fértil no centro-sul,
no leste e na região nordeste, demonstrando um processo histórico de longa duração que formou
as bases geográficas do poder chinês. Um dos exemplos mencionados acerca da ação humana
nesse processo é a construção do Grande Canal que liga os Rios Amarelo e Yangtze, ocorrida no
período entre os anos de 605 e 611, que foi importante para ligar a regiões norte - notadamente
sujeita a períodos de escassez de alimentos e fome; a região sul, que podia prover excedentes

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produtivos agrícolas (notadamente o arroz) de modo a possibilitar a formação de um Estado
chinês com maior dimensão territorial (KAPLAN, 2012, p. 117-119).
Sobre o processo de formação do Estado chinês e sua zona de influência, cabe mencionar
que em um período tão recente quanto o ano de 1840, o território da China e sua zona de
influência se estendiam até o estreito de Malacca, incluindo partes do que hoje se denomina
como Bangladesh, partes do Nepal, do Mianmar, do Vietnã (na época a Indochina) e do atual
Cazaquistão, todo o território da Mongólia, a ilha de Taiwan, e, igualmente os territórios
tributários da Coréia, das ilhas Sacalinas, além de territórios no extremo oriente da Rússia. Estes
territórios ou pertenciam inteiramente a China ou pagavam tributos ao Império chinês
(BRZEZINSKI, 1997, p. 164; KAPLAN, 2012, p. 120).
A partir desta perspectiva, a reação chinesa frente ao século das humilhações, período
que se estende dede 1839 até a Revolução Comunista de 1949, justifica o planejamento
estratégico e suas ações no cenário contemporâneo. O Sonho Chinês, conceito criado pelo atual
mandatário Xi Jinping consiste justamente no rejuvenescimento da nação chinesa, por meio da
continuidade do processo de desenvolvimento e ascensão pacífica do país, concomitantemente
com a maior projeção internacional e melhores condições de vida para sua população (JINPING,
2014). Trata-se de uma antiga potência reocupando a posição histórica que ela vê como natural
para si dentro do mundo contemporâneo, e fazendo isto não através da coerção, mas através do
comércio e mais recentemente dos investimentos feitos realizados com o capital acumulado
(ARRIGHI, 2009).
A vasta massa territorial da China ajudou no processo de formação do pensamento de
autossuficiência e isolamento em relação ao espaço externo, que o país adotou no período de seu
fechamento, entre os séculos XIV e XV, tendo influência sobre sua cultura, religião e mesmo no
estabelecimento do sistema burocrático autoritário da nação. Por mais de três milênios da história
da civilização chinesa, a sua orientação geopolítica foi predominantemente continental, na busca
por defesa e no estabelecimento de vínculos tributários em relação aos povos da Ásia Central
(Hunos, Mongóis, Machus, entre outros). Este é um percurso civilizacional marcado pelas
invasões a norte e a oeste em oposição à identidade chinesa surgindo das dinastias do Império do
Meio. Havendo o período de abertura forçada ao comércio marítimo, verificado no século das
humilhações (1839-1949). Adicionalmente, por quase metade do século XX a China focou sua
atenção geopolítica para o espaço da Heartland euroasiática (COHEN, 2015).

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A desintegração da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas (URSS) no ano de
1992 permitiu o acesso e exercício de poder da China sobre a Eurásia. O país permanece sendo
fundamentalmente uma potencia terrestre no que diz respeito ao poder militar. Não obstante, o
seu poderio marítimo vem crescendo. O espaço euroasiático deverá ser influenciado por alguma
combinação do triangulo estratégico formado por China, Rússia e Estados Unidos. (KLIEMAN,
2015; BRZEZINSKI, 2016). Portanto, uma grande mudança geoestratégica ocorreu com o fim da
Guerra Fria e a queda da URSS. A interação entre o triângulo geoestratégico entre China, Rússia
e EUA na Eurásia é oriunda deste movimento e do vácuo de poder deixado pela URSS (COHEN,
2015).
Adicionalmente, as rotas comerciais em vias de construção ligariam diretamente a China
ao território da Europa, diminuindo a dependência estratégica do Mar do Sul da China (zona
sujeita a disputas territoriais a nível internacional), como zona de escoamento dos produtos
chineses. Ressalta-se que passam anualmente mercadorias que representam um valor de
comércio de US$ 5 trilhões pelo estreito de Malacca, localizado no Mar do Sul da China (AL
JAZEERA, 2016).
Neste sentido, a Nova Rota da Seda deve ser compreendida simultaneamente como um
plano econômico, com fundamentação em interesses geopolíticos. A legitimidade do governo
centralizado da China reside na capacidade de manter o crescimento e desenvolvimento
econômico, assim, a BRI pode ser essencial para o projeto de manutenção da estrutura política
chinesa sob o comando do partido comunista. A emergência chinesa deverá continuar de forma
pacífica, a depender da resposta das potências ocidentais aos seus movimentos e também da sua
capacidade de manter o rumo de desenvolvimento, que confere estabilidade política para o
governo (BEESON & LI, 2016).
Além disto, a BRI deverá beneficiar o acesso da China a recursos naturais que são
necessários para a manutenção do crescimento de sua economia no médio e no longo prazo, tais
como alimentos, petróleo e gás natural, além de outros minerais estratégicos. Finalmente, se bem
sucedido, o projeto tem o potencial de alterar a correlação de forças presente na Eurásia, situando
a China de forma mais favorável não apenas nesta região, mas no sistema internacional (JI, 2015;
SARVÁRI & SZEIDOVICZ, 2016).

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Considerações Finais:

Ao final do seu artigo seminal e em obras posteriores, Mackinder (1919; 2004) cita a
possibilidade de a China exercer influência preponderante sobre a Heartland, na ocasião deste
país ser capaz de conquistar a influência na Ásia Central. Conforme afirma o autor, a eventual
dominação chinesa sobre a Heartland teria grandes potencialidades devido ao fato de que a
China possui amplo acesso ao Oceano Pacífico e a partir disto poderia converter de forma mais
eficaz o seu potencial terrestre em conjunto com o poderio marítimo (MACKINDER, 1943;
2004).
O crescimento econômico e tecnológico da China a tornaram um poder global com
impacto geopolítico em toda a Eurásia. O país faz fronteira com 14 Estados e possui fronteira
marítima direta com outros três (Japão, Filipinas, Coréia do Sul e Taiwan – não reconhecido
como um Estado independente). A população dos vizinhos gira em torno de dois bilhões de
pessoas e a população da China é atualmente de 1.4 bilhões, fazendo com que cerca de metade
da população global seja diretamente afetada pelas ações deste país (COHEN, 2015). No que diz
respeito ao exercício de influência nos diversos cenários regionais, destaca-se:
“Os meios para a influência
internacional hoje são mais
diversificados e sofisticados, mas
muitos dos objetivos continuam os
bons e velhos de sempre: segurança
nacional, projeção de poder, controle
do espaço e a busca por
superioridade ou igualdade
estratégica”. (LO, 2008, p. 132, apud
EDER, 2014, p. 33, tradução nossa).
Permanecem questões a serem avaliadas por pesquisas futuras: a Nova Rota da Seda
poderia levar ao aumento do comércio regional e ao adensamento de cadeias produtivas locais no
espaço da Ásia Central e da Ásia Meridional? Aponta-se que os investimentos globais em
infraestrutura alcançam o montante aproximado de US$ 2,5 trilhões anualmente, sendo que
seriam necessários US$ 3,3 trilhões anuais para que o atual ritmo de crescimento da economia
mundial seja mantido (MCKINSEY INSTITUTE, 2016).
Assim, se mostra necessário realizar uma análise acerca das ações dos Bancos
Multilaterais envolvidos na BRI, no que diz respeito ao financiamento de infraestrutura e os

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possíveis impactos para o comércio regional. Novas pesquisas poderão abordar ainda as
implicações dos corredores econômicos compreendidos pela Nova Rota da Seda para as relações
estratégicas entre os grandes atores em cada tabuleiro regional. Outro possível rumo de pesquisa
seria uma análise dos impactos da BRI no que diz respeito ao Oriente Médio, região que detém
reservas de petróleo que equivalem a 802.2 bilhões de barris e reservas de gás natural que
chegam ao montante de 2.823,2 trilhões de pés cúbicos (LINS, 2016, p. 48-49), demonstrando
sua importância econômica e estratégica.
A geopolítica e a economia costumam andar lado a lado, materializando-se na expansão
militar que anda em conjunto com a expansão econômica, um caminho traçado por todas as
potências surgidas no sistema Westfaliano (FIORI, 2008). Neste sentido, a Belt and Road
Initiative não é apenas um plano para construção de infraestrutura, mas consiste em uma ampla
visão para o futuro da integração da Eurásia. Esta visão estratégica compreende elementos
geoeconômicos e fundamenta-se em fatores geopolíticos. A capacidade de avançar com os
valores e os ideais que envolvem a iniciativa será essencial para a sua consolidação.

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