Você está na página 1de 15
Boletim técnico N° 73 - Fevereiro/2022 rR Boletim técnico Ic. \\_ Estresse por temperatura em Daniela Silva Souza Cons. de Desenvolvimento de Mercado no Alto Paranaiba/MG Lucas de Avila Silva Gerente de Desenvolvimento de Mercado - Cerrados Leste Oe ECCT CN Lec rty “Dedicamos esse boletim ao Prof. Paulo de Tarso Alvim, pai Paes da fisiologia vegetal no Brasil, por seu legado na ciéncia” Se rt ety O cafeeiro arabica é nativo de florestas tropicais na Popo ece curs Etidpia, onde a temperatura média anual esté em CET torno de 20°C (Sylvain, 1955). Logo, a temperatura média dtima anual para a planta adulta esta entre 18 ee ed e 23°C (Ramalho et al., 2014). Apesar disso, regides WATNG EERE HOE OED com temperaturas anuais médias em torno de 24 - 25°C ainda permitem produtividades satisfatérias Ce eee Per (DaMatta, 2004). Por outro lado, médias anuais Aictonncrceaca mee abaixo de 17 a 18°C diminuem o crescimento das plantas (Camargo, 1985) Em algumas regides de cultivo 6 comum ocorrer 0 estresse por frio ou, ainda pior, congelamento. Cece Mesmo que esporddico, ambas situagdes levam (muda) - 20°C durante a perdas significativas de produtividade dia e 23°C e rentabilidade no cultivo do cafeeiro (Barros et CCR nee al., 1997). Nessas condiges, ha redugao da taxa de crescimento, desenvolvimento, fotossintese, metabolismo, absorcao de dgua e nutrientes (Partelli et al., 2011; Ramalho et al., 2014) Dee’ Seely) Crooner me ae Apesar da drastica queda na fotossintese sob COIS CCI BAe baixas temperaturas, algumas variedades sofrem poucos danos foliares até 4°C e se recuperam em eee Ceri) PEC Cece condigées de tempeturas adequadas (Bauer et al,, eran 1990; Ramalho et al., 2003; Campos et al., 2003), acima dos 18°C. Ainda mais intenso, temperaturas eee eae negativas levam a destruigao das folhas e frutos, ornare a ok comprometem safras futuras e muitas vezes levam See Ceo a morte da planta (Androcioli Filho et al., 1986; Feio, Comiaciolen 1991) desenvolvimento das flores aera CCL ae Por outro lado, diversas regies as quais se SR et cultivam o café arébica apresentam periodos de By seca, normalmente acompanhadas de elevadas temperaturas. Essa combinagao afeta severamente © crescimento, desenvolvimento e produtividade do cafeeiro (Melo, 2014; DaMatta et al., 2010). A ocorréncia de temperaturas acima de 23°C Dee ae etng mmperaturas do solo entre Nepean ICL Boletim técnico Ic. \\_ Estresse por temperatura em cafeciros 6 um dos fatores que mais limitam a planta de café, em decorréncia da menor fixagao de carbono por meio da fotossintese (Grisi, 2008; Santini et al., 2015). Em plantas de café, temperaturas acima de 23°C aceleram o desenvolvimento e maturagao dos frutos, podendo alterar em alguns casos, de forma negativa, a qualidade da bebida (DaMatta, 2006). O desequilibrio entre as condigdes ambientais afetam diretamente o processo fotossintético e consequente a produtividade do cafeeiro (DaMatta e Ramalho, 2006; Ramalho et al., 2014; Marias et al., 2017). O primeiro mecanismo de resposta da planta de café para minimizar a perda de agua em condicées de estresse hidrico e/ou temperaturas elevadas é o aumento da resisténcia estomatica (Ronchi et al., 2015), ou seja, o fechamento dos estématos (Figura 1). Figura 1. Os estématos sao estruturas constituidas por um conjunto de células localizadas principalmente na epiderme inferior (face abaxial) das folhas. Através deles ocorrem as trocas gasosas que permitem a transpiragao € resfriamento foliar, em como, a entrada de CO, utilizado na (foto)sintese de aguicares. Danos foliares de acordo com o estresse térmico aU Frio Sob condigées de temperaturas substimas ocorre redugdo em trés processos, sdo eles: i) fluxo de reagdes quimicas e enzimaticas celulares, ii) taxas de difusao de moléculas ¢ iii) fluidez da membrana (DaMatta & Ramalho, 2006). Além disso, baixas temperaturas diminuem as trocas gasosas do cafeeiro com redugées na condutancia estomatica e taxa fotossintética liquida, que atingem baixissimos valores na faixa entre 4 a 10°C (Bauer et al., 1985; Batista Santos et al., 2011) Outro impacto na fotossintese ¢ devido aos danos nos cloroplastos (Batista-Santos et al., 2011). A fotossintese ocorre em duas etapas: fotoquimica e ciclo de Calvin (Figura 2). Na etapa fotoquimica a luz energiza os elétrons oriundos do complexo de evolugao do oxigénio para a produgao de NADPH e ATP (além de O,). No entanto, eventualmente, os elétrons Pesai 1s Desenvolvidas Nepean AICL 2 Boletim técnico Ic. \\_ Estresse por temperatura em cafeciros eC eC ET de oxigénio (EROs) Na fotossintese Barer Sen) Bec es ROSEN Cee eee oy Beet enc emer Pee eC Peocusre ceria cs Ce ere eter ncn cece hie (cree creer lipidios, DNA, etc.), sen Aree Oe ea naar a lular. Pe CREE) Peace iat eee ec een ie acs eS ees eee ene CMeueiat ts Peter CORO Coes Nea ee eee Pe ecu Ere cic 2015) energizados podem ser doados ao gas O, resultante da quebra da molécula de gua, produzindo espécies reativas de oxigénio (ERs). E comum que 10 a 30% dos elétrons transportados levem a fotorredugao de O, (Logan, 2005) e formem EROs. Para isso, as plantas de café possuem mecanismos capazes de evitar e/ou eliminar essas EROs (Batista-Santos et al., 2011). Entretanto, quando nao hd equilibrio entre a demanda dos produtos da fotoquimica (principalmente NADPH e ATP) ea quantidade de luz capturada, ha produéo de EROs em maior quantidade que os mecanismos antioxidativos so capazes de eliminar. Esse excedente causa danos nas estruturas e componentes celulares (fotossistemas, enzimas, lipidios, DNA, entre outros), sendo considerado um estresse secundério @. Figura 2. Esquema simplificado da fotossintese a) em condigées ambientais favordveis com equillbrio entre as etapas fotoquimica’ e fixacdo e redugao do CO, (Ciclo de Calvin); com produgao de acticares. No entanto, b) quando hé desequilibrio entre as etapas — normalmente desfavorece 0 Ciclo de Calvin (ex.: fechamento estomatico) - ocorre actimulo de produtos da fotoquimica (ATP, NADPH e O,) devido ao menor consumo de ATP e NADPH. Assim, elétrons energizados so doados para o O,,, formando espécies reativas de oxigénio (EROS). Pesquisas Desenvolvidas N° 73 - Fevereiro/2022 AICL 3 Boletim técnico Ic. \\_ Estresse por temperatura em cafeciros Condigées de estresse oxidativo foram observadas em plantas de café expostas ao frio devido a redugao no uso dos produtos da fotoquimica (NADPH e ATP) (Batista-Santos et al., 2011) Essa reducao é, provavelmente, pela combinacao de alguns fatores nao estomaticos (Ramalho et al,, 2014), como: perda de eficiéncia da etapa fotoquimica (danos e menor reparo dos componentes dessa etapa que restringem o transporte de elétrons), limitagao da atividade enzimatica e do metabolismo de carboidratos, bem como, perda da integridade da membrana (DaMatta & Ramalho, 2006). A peroxidacao lipidica também foi observada em raizes de Coffea arabica expostas a baixas temperaturas (10°C) além de danos no tecido radicular (Queiroz et al, 1998). OD Congelamento Em temperaturas abaixo de 0°C os efeitos sao drasticos para as plantas de café, sendo 0 limite letal foliar atingido entre -3°C e -5°C (Sentellhas et al., 1995; DaMatta & Ramalho, 2006). Nessas condicées ha formagao de gelo no espaco intercelular, intensa desidratagao das células e ruptura irreversivel das membranas celulares (DaMatta & Ramalho, 2006) Baixas temperaturas, caracterizadas pelo frio, atrapalham os processos de expansao da membranas das células pela reducdo da sua elasticidade e pode causar lesées, 0 que potencializa os efeitos negativos do frio (Willing & Leopold 1983). A condugao do café arabica a nivel de exploragao econémica em temperaturas médias anuais abaixo de 18°C é limitado devido a possibilidade de geadas (Camargo, 1985). Nessa temperatura ha baixa diferenciagdo floral e, portanto, baixa produtividade, além de sintomas na plantas relacionados aos frio (Camargo et al., 2007; Zacharias, 2007) (Figura 3) pois o café é pouco tolerante a essa condigao (Camargo & Salati, 1966). Figura 3. Diferentes intensidades de sintomas causados pelo frio nas folhas de C. arabica. Fotos por Lucas de Avila Silva Pesai 1s Desenvolvidas Nepean AICL 4

Você também pode gostar