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4207-Texto Do Artigo-10401-1-10-20100707
4207-Texto Do Artigo-10401-1-10-20100707
Resumo
A busca pela preservação da vitalidade pulpar, através da realização de procedimentos mais conservadores, representa um
importante campo de estudo na odontologia. O tratamento expectante representa um procedimento restaurador, basea-
do em conhecimentos biológicos sobre o processo de progressão da lesão de cárie, através do estudo da natureza e
características das respostas dos tecidos dentários a esse processo destrutivo. Trata-se de uma forma de terapia que é prática
e segura e que pode ser indicada na odontologia restauradora moderna. A proposta deste estudo é realizar uma sucinta
revisão de literatura sobre aspectos biológicos do complexo dentina-polpa, envolvidos no processo de reparo do dente
submetido ao tratamento expectante.
INTRODUÇÃO
Polpa e dentina são tecidos integralmen- dentina fisiológica ou secundária (que é conti-
te conectados, no sentido de que reações fisioló- nuamente produzida durante toda a vida) quanto
gica e patológica de um tecido poderão afetar o pelo mecanismo biológico que busca o bloqueio
outro (MJÖR; HEYIRAAS, 2001). Dos com- da evolução da cárie (HEYIRAAS; MJÖR,
ponentes estruturais que compõem o complexo 2001).
dentina-polpa, atenção especial deve ser dada
Sempre que a polpa dental sofre algum
aos odontoblastos, células que estão localizadas
tipo de injuria, direta ou indiretamente, o sis-
na periferia da polpa, conectando-a à pré-
tema imune desencadeia uma resposta inflama-
dentina. Cada célula tem uma extensão dentro
do túbulo dentinário, o chamado processo tória para limitar os danos causados, através da
odontoblástico. Essas células são responsáveis eliminação dos organismos invasores.
tanto pela formação de dentina primária e de (HEYIRAAS; MJÖR, 2001)
1
Professor de Dentistica. Departamento de Saúde. UEFS. Feira de Santana - BA
2
Cirurgião-dentista. Especialista em Periodontia. Prefeitura Municipal de Salvador. Salvador - BA
3
Professor Titular. Departamento de Odontologia Restauradora. Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - USP. Ribeirão Preto - SP
terial selador, mas também para eliminar possí- da dentina cariada (EIDELMAN; FINN;
veis microorganismos sobreviventes e erradicar KOULOURIDES, 1965).
possíveis focos de crescimento bacteriano que Estudo baseado em exame histológico de
podem eventualmente injuriar a polpa dental dentes humanos cariados, através de medidas
(BESIC, 1943). da distância entre a penetração mais profunda
Diversas pesquisas que investigam o es- das bactérias e o tecido pulpar, mostrou que a
tado bacteriológico da dentina cariada, após patologia pulpar foi gradual, de acordo com o
determinado período de tempo de realização do tipo de lesão e a quantidade de dentina repa-
tratamento expectante, constataram que o nú- radora formada. Espécimes em que a distância
mero de microrganismos pode ser bastante re- entre a bactéria penetrada e a polpa, incluindo
duzido, o que pode ser explicado pela redução a espessura da dentina reparadora, tiveram me-
ou ausência de atividade metabólica (KING et didas de 1,11mm ou mais revelaram lesões pa-
al., 1965; APONTE; HARTSOOK; CROWLEY, tológicas insignificantes. Quando a dentina re-
1966; WEERHEIJM et al., 1997; MALTZ et paradora tinha sido invadida pela bactéria, en-
al., 2002). tretanto, patologia de conseqüência real e de
natureza irreversível foi encontrada (STANLEY,
1968).
DISCUSSÃO Sarnat e Massler (1965), avaliando a
microestrutura de lesões de cáries ativas e para-
Estudos realizados através de eletromicro- lisadas, constataram importantes diferenças en-
grafias evidenciaram que diferentes zonas de tre elas. Assim, nas lesões ativas, a zona infectada
degeneração do dente, na progressão da cárie, (rica em bactérias) está colocada dentro da por-
baseiam-se na diminuição da invasão bacteriana. ção profunda da camada necrótica e sobre a por-
A zona mais superficial é caracterizada pela com- ção da camada descalcificada. A porção mais
pleta descalcificação e decomposição da dentina profunda da camada descalcificada encontra-se
(zona infectada). Uma área de descalcificação livre de bactérias e contém muitos cristais gran-
incipiente, em que a bactéria tenha invadido os des, presumivelmente formados pela precipita-
ção de apatita dissolvida pelos ácidos bacterianos.
túbulos, é a segunda zona. Nessa região, túbulos
A esclerose começa inicialmente na junção en-
esclerosados são encontrados com seu lúmem
tre a camada descalcificada e a dentina normal.
obliterado por material calcificado. Fibras
As camadas mais profundas estavam livres de
colágenas são também evidentes nessa região.
bactérias. Nas lesões paralisadas, na zona super-
Na camada mais profunda da área de
ficial rica em bactérias, a maioria dos corpos das
descalcificação, uma pequena quantidade de bactérias intratubulares foi desintegrada e
túbulos contém microorganismos (zona conta- coalesceu. A zona intertubular parece ter se tor-
minada) (BERNICK; WARREN; BAKER, nado mais mineralizada. Nas camadas mais pro-
1954). fundas, o conteúdo intratubular foi
Avaliando diferenças entre cáries ativas e hipermineralizado e obliterado (esclerosado). A
paralisadas, constatou-se que as primeiras são calcificação parece ser contínua com a zona
mais permeáveis que as segundas. A coloração peritubular, sendo que essa área estava livre de
por corantes das camadas dos dentes revelou bactérias.
diferenças entre as partes mais profundas e as O tratamento expectante é um procedi-
superficiais da camada destruída, em que a le- mento simples, que possui suma importância
são não é uniformemente ácida (MILLER; no que se refere à preservação da vitalidade den-
MASSLER, 1962). tal. Representa um procedimento conservador,
Cálcio e fósforo são os principais consti- dentro da filosofia preventiva, na qual a preser-
tuintes da fase mineral da dentina. O estudo vação da estrutura dentária constitui-se em fa-
desses minerais em dentina cariada tratada com tor essencial para garantia de sucesso do proce-
hidróxido de cálcio evidenciou mudanças quí- dimento restaurador (FRANCO; FREITAS;
micas que provam ser possível a remineralização D’ALPINO, 2000).
REFERÊNCIAS