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Perspectivas Formalistas
Perspectivas Formalistas
Descrição
Propósito
Preparação
Objetivos
Módulo 1
Formalismo Russo
Identificar os princípios teóricos do Formalismo Russo em relação ao
fenômeno literário.
Módulo 2
Nova Crítica
Identificar os princípios teóricos da Nova Crítica em relação ao
fenômeno literário.
Introdução
Você já notou que as perguntas essenciais são as mais difíceis de
responder?
Nos estudos literários, por exemplo, devemos nos perguntar: O que é
literatura?
Para esse tipo de indagação, temos diferentes abordagens e
respostas ao longo da história.
1 - Formalismo Russo
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os princípios teóricos do Formalismo
Russo em relação ao fenômeno literário.
Com efeito, temos aqui, nada mais nada menos, do que teorias
fundamentais e que contribuíram para a construção da área dos estudos
literários.
Filosofia
Psicologia
Jornalismo
Ciências sociais
Estudos sobre religião
Enfim, todos leem e falam sobre literatura.
Os formalistas russos
O escritor, crítico literário e cenógrafo Victor Chklovski (1893-1984), o
crítico literário Boris Eichenbaum (1886-1959) e o linguista Roman
Jakobson (1896-1982), entre vários autores, fundaram entre os anos de
1914 e 1915 o Círculo Linguístico de Moscou e o Opojaz (Sociedade para
o Estudo da Linguagem Poética).
calendar_today 1924-1925
calendar_today 1926
calendar_today 1940
T h l á i ó S d G M di l
Tchecoslováquia, após a Segunda Guerra Mundial
se inicia a extinção desses movimentos na antiga
União Soviética e na antiga Tchecoslováquia. Muito
intelectuais acabaram partindo para o resto da
Europa ou EUA em busca de situações políticas, de
vida e de produção acadêmica mais favoráveis. No
entanto, eles deixaram um legado importante para a
consolidação dos estudos sobre Linguística,
Poética, Semiótica e para os estudos literários de
um modo geral.
As teorias formalistas
Você já sabe que a atenção dos estudos formalistas está na forma, e
não no conteúdo. Porém, vários intelectuais, entre eles Todorov (2009),
concordam que a radicalização proposta pelos formalistas foi mal
compreendida pelos estudiosos posteriores.
Literariedade
Estranhamento
Singularização
São conceitos que conferiam, segundo os formalistas, traços distintivos
inerentes ao objeto literário.
Atenção
E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para
provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objetivo da arte é
dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o
procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objetos e
o procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a
dificuldade e a duração da percepção. O ato de percepção em arte é um
fim em si mesmo e deve ser prolongado; a arte é um meio de
experimentar o devir do objeto, o que já é “passado” não importa para a
arte.
(CHKLOVSKI, 1976, p. 45)
Ostranenie
Não há uma tradução muito exata apara o termo ostranenie, de
origem russa, até porque a palavra não existe dessa forma na língua
russa. Na língua portuguesa, a tradução ficou consolidada na Teoria
Literária como estranhamento, que pode ser entendido como
desautomatização, desalienação, desfamiliarização, isto é: a
instauração de ambientes, campos semânticos, objetos,
representações, figurações, longe dos olhares acostumados pela
língua e pela linguagem comunicativa, objetiva.
Comentário
Note como essa concepção está perfeitamente adequada a uma
concepção de arte, principalmente de arte de vanguarda, algo oposto ao
realismo das épocas anteriores.
CAMPOS, Augusto de. Rimbaud Livre. São Paulo: Perspectivas, 2002, p. 38.
Saiba mais
Essa é uma alusão externa ao mito grego, mas, internamente, todo este
universo se constrói de forma diferencial: a estrela chora, o choro é rosa,
a orelha tem céu, o infinito (algo abstrato) rola nos rins e na nuca (algo
concreto), os quadris têm altar.
Referencial
Centrada no contexto, naquilo aos qual as palavras se referem, muito
comum em textos objetivos, científicos, instrutivos etc.
Emotiva ou expressiva
Centrada no sujeito que emite a mensagem, ressaltando a subjetividade
ou as emoções de quem emite uma mensagem. Muito comum em textos
emotivos, cartas, diários etc.
Metalinguística
Centrada na explicação do próprio código. Presente, por exemplo, em
poemas que falam sobre poesia.
Fática ou de contato
Centrada no canal de comunicação. Muito comum em atos de fala que
dão ênfase na manutenção ou efetividade do canal comunicativo.
Exemplo: “estão me ouvindo?”
Conativa ou apelativa
Centrada no receptor, envolvendo, demandando ou ordenando o
interlocutor. Muito comum em propagandas, proselitismo políticos ou
religiosos.
Poética
Ênfase na mensagem, centrada no potencial da linguagem simbólica,
estética, geralmente acompanhada de vocábulos deslocados ou
transmudados propositalmente, garantindo maior impacto no conteúdo
a ser dito.
BARROS, Manuel de. O livro das ignorãças. In: Poesia completa: Manoel de Barros. São Paulo:
Leya, 2010, p. 12-13.
Em vez de dizer que os peixes nascem no rio, o poeta nos dá: “quando o
rio está começando um peixe”. É totalmente inusual, não convencional,
não familiar, não automatizado, dizer que um rio começa um peixe. O
estranhamento, pois, de que falam os formalistas, está completamente
de acordo com a concepção de função poética de Jakobson, pois centrar
o discurso na mensagem é dizer o mundo de forma que ele só exista
daquela maneira específica, no interior das próprias palavras ditas, bem
como em sua organização interna. Como afirmava Jakobson, a função
poética intensifica a ambiguidade da mensagem por intermédio da
exploração das potencialidades do significante.
O método formalista
Para elaborar a perspectiva formalista, os estudiosos desenvolveram
alguns métodos de abordagem do texto literário. Como a atenção está
para a forma, foi preciso descrever o objeto literário estudado em suas
minúcias, em seus meandros mais sutis, levando em conta o que
chamamos de materialidade do signo, isto é, a forma como o signo
linguístico materializa efetivamente em linguagem uma ideia abstrata.
Descritivismo expand_more
Comentário
Portanto, quando falamos de formalistas russos, devemos levar em
conta que eles abriram um caminho objetivo de leitura da obra literária,
que leva em conta as formas da composição e saberes específicos dos
estudos de linguagem, mas nunca devemos esquecer que, desde
primeiros textos, houve a preocupação com a história literária e com a
história social, já que seria preciso conhecer os referenciais “externos” de
uma obra para que fosse possível verificar o grau de transformações
inscritas em cada fato literário.
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Formalismo Russo
O professor Daniel Abrão explica e exemplifica os principais conceitos do
Formalismo Russo.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
Questão 2
2 - A Nova Crítica
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os princípios teóricos da Nova Crítica
em relação ao fenômeno literário.
O viés teórico foi engendrado por uma gama muito grande de teóricos,
nem sempre afinados teoricamente entre si, já que não se constituíam
exatamente como uma escola. No projeto, a necessidade de afastar as
leituras psicologizantes, biográficas ou subjetivas em relação ao texto
literário.
Eles compreendiam que o texto literário deve ser lido como uma
totalidade orgânica, coerente em suas partes internas, isto é, para os
teóricos da Nova Crítica, a leitura teórica da literatura não deve focar a
descrição dos efeitos estéticos ou psicológicos causados no leitor,
tampouco a literatura deveria ser o instrumento de confissão pessoal, já
que compreendiam que o texto literário possui realidade própria, pois
todo conteúdo literário dependeria da linguagem e de suas formas
internas de organização na literatura.
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leitura imanente
não transcendente, ou seja, que não vai além, não transcende, não vai
para “fora” do objeto analisado
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leitura fechada
ou em inglês close reading. Tem foco no texto literário
T. S. Eliot.
O título “New Criticism” (Nova Crítica) foi retirado da obra New Criticism,
de John Crowe Ranson, em que o teórico analisa a obra crítica do poeta
T. S. Eliot.
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Criticism, Inc., de J. Ranson, e Miss Emily and
the Bibliographer, de Allen Tate
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A falácia intencional, de Willian Wimsatt e
Monroe Beardsley
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Entendendo Poesia e Entendendo a Ficção, de
Brooks e Warren, The New Criticism: Pro and
Contra, de René Wellek, Principles of Literaty
Criticism and Practical Criticism, de Ivors
Richards
A influência de T. E. Hulme
A obra de T. E. Hulme, Speculations, foi publicada em 1924, por Herbert
Read, já que Hulme havia falecido em 1917.
Para Hulme, a arte deveria ser rigorosa, exata, construída a partir de uma
totalidade orgânica, de modo que cada elemento deve estar em acordo
com os outros, a ponto de que em qualquer modificação de um elemento
representa a mudança do todo.
T. E. Hulme
Atenção
Rousseau defendia que o homem nasce bom, mas é corrompido pela
sociedade. Rousseau foi um dos teóricos influentes nas ideias
românticas do século XVIII, pois suas ideias conduziram os românticos a
realizar críticas à corrupção moral da sociedade.
A influência de I. A. Richards
I. A. Richards
Tais concepções não estão muito próximas das teorias dos demais
pensadores da Nova Crítica, pois são, no fundo, teorias psicologizantes.
A influência de T. S. Eliot
O poeta e crítico norte-americano T. S. Eliot (1888-1965) escreveu um
importante ensaio intitulado A tradição e talento individual, muito
próximo dos pensadores Hulme e Ezra Pound. Para Eliot (1989), é o
poema que tem vida própria, independentemente da vontade do autor.
Atenção
A estrutura da obra
Portanto, para esses dois teóricos, deve-se estudar o texto e sua tecitura,
apreendendo o que ele é, e não o que ele provoca, verificando como o
texto se estrutura, não as suas consequências e origens históricas ou
subjetivas.
Comentário
[...] a arte literária, como qualquer outra arte, implica um material que
possui uma capacidade inerente de organização, intencionalmente
trabalhada pelo artista com o fim de apreender uma combinação de
valores estéticos. Esses valores, por conseguinte, existem no objeto
artístico, são qualidades desse objeto e não de uma experiência, estão
ancorados na estrutura da obra e são por ela controlados. Desse modo, o
juízo sobre os valores estéticos é objetivo, porque incide sobre uma
qualidade que está presente num objeto e não sobre uma qualidade
subjetiva que pode resultar da compreensão desse objeto.
É claro que, junto com uma concepção da análise literária, a Nova Crítica
também trouxe uma proposta de papel do crítico, o que traz também a
ideia de sua formação intelectual. Nesse sentido, a formação do crítico
deveria ser especializada para que fosse possível a análise rigorosa e
minuciosa do texto literário. Seria preciso, pois, uma formação como
estudioso da linguagem, da estética, da linguística etc., o que colocava
em segundo plano, nesse projeto de leitura formal, qualquer
sensibilidade aguda do leitor como veículo para apreensão da
especificidade do fato literário.
Extensão
Elemento denotativo, literal (que se refere a si mesmo).
Intensão
Elemento conotativo, metafórico (que faz referência a algo externo).
Tensão
Elemento que unificaria os dois fatores anteriores.
Nesse caso, Tate ainda admite que o texto literário pode ser
parafraseável, isto é, admite a instância da intensão, em que podemos
traduzir o significado de uma poema ou de um texto em prosa a partir de
uma leitura que não leve em conta a própria realidade linguística a que
um texto literário está assentada.
GULLAR, Ferreira. Muitas vozes. In: Toda poesia. 16. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2008, p. 486.
Como explicar, traduzir esse poema sem levar em conta sua forma? É o
que defendiam os teóricos da Nova Crítica. Poderíamos parafrasear seu
tema, mas nunca estabelecer em outras palavras aquilo que o poema é.
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A Nova Crítica
O professor Daniel Abrão explica e e exemplifica os principais conceitos
da Nova Crítica.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
Questão 2
Considerações finais
O Formalismo Russo e a Nova Crítica podem ser considerados
perspectivas formalistas para a compreensão do fato literário. São
escolas que privilegiaram o estudo intrínseco da literatura, focando nas
estruturas de composição as suas análises. Não desprezaram, com
efeito, as relações históricas e as leituras literárias efetuadas por outras
áreas do conhecimento, mas certamente privilegiaram um estudo
constitutivo de uma nova área do saber: a Teoria da Literatura.
Antes do Formalismo Russo e da Nova Crítica, as análises literárias
estavam centradas em fatores ditos externos: a intenção do autor e sua
dimensão biográfica, as relações com a história e com a cultura ou os
aspectos temáticos que o texto literário suscitava, mas não havia análise
da composição em seus elementos mínimos.
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Podcast
Neste podcast, falaremos sobre perspectivas formalistas na Teoria da
Literatura. O professor Daniel Abrão comenta as principais contribuições
das perspectivas formalistas na Teoria Literária, destacando os
conceitos e o método do Formalismo Russo, os conceitos da Nova
Crítica e as implicações das abordagens formalistas na área de Letras.
Explore +
Assista ao vídeo do Professor Paul Fry, da Universidade de Yale, sobre o
Formalismo Russo, disponível no canal da Univesp no YouTube.
Referências
SILVA, V. M. A. Teoria da Literatura. Coimbra: Almedina, 1979.
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