Problemas Na Construção de Frases

28/02/2024, 09:33 Problemas na construção de frases
Problemas na construção de frases

Profª. Valéria Campos Muniz
Descrição
Identificação e correção de frases mal construídas, com foco em frases

fragmentada, siamesa e desconexa, e problemas de paralelismo e
ambiguidade.
Propósito
Compreender o processo de construção da frase em língua portuguesa

e a correção de seus problemas para ampliar a competência escritora.
Preparação
Tenha em mãos um dicionário de Linguística para consultar os termos

específicos da área. Na Internet, você pode acessar o Dicionário de
Termos Linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa.
Objetivos
Módulo 1
Frase Fragmentada, Siamesa e Desconexa
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02733/index.html?high-contrast=true# 1/61
Identificar problemas e formas de correção em frases fragmentada,

siamesa e desconexa.
Módulo 2
Paralelismo e ambiguidade
Identificar problemas e formas de correção em frases com
ambiguidade e ausência de paralelismo.
Introdução
Um dos grandes desafios da comunicação na vida acadêmica, na
vida profissional e em muitas outras áreas é desenvolver
competência para escrever de forma adequada e eficiente. Isso
implica, por exemplo, elaborar textos que não apresentem frases
malformadas.
Por isso mesmo, você vai estudar neste conteúdo alguns

problemas de construção de frases, a fim de identificar casos de
frases malformadas que comprometem a clareza, o sentido e o
objetivo do texto, trazendo prejuízos à comunicação.
Ao longo do nosso estudo, vamos distinguir aspectos estilísticos

da pontuação na construção da frase que contribuem para o
alcance de efeitos de sentido, de frases malformadas
gramaticalmente. Vamos, também, reconhecer a articulação das
ideias na construção do texto por intermédio da coesão e da
coerência. E, por fim, identificaremos procedimentos sintáticos e
semânticos na ordenação das ideias, que interferem na clareza do
texto.
Bons estudos!
1 - Frase Fragmentada, Siamesa e Desconexa

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar problemas e formas de correção em
frases fragmentada, siamesa e desconexa.
Discussão preliminar sobre a língua e

a gramática
A construção da frase na língua portuguesa obedece a fatores não só
gramaticais, mas também está relacionada com aspectos discursivos,
textuais e pragmáticos. Por mais que exista certa liberdade na
disposição dos elementos na frase, o sistema estrutural da língua
portuguesa obedece a regras que definem esse sistema, diferenciando-o
de outros. Ou seja, a forma de combinar as palavras junto com a
cadência melódica empreendida pela pronúncia imprimem uma marca
identitária a cada língua existente no mundo.
Nesse sentido, a gramática da língua, enquanto corolário de regras,

possibilita que cada usuário seja original na forma de construir a frase,
no modo de enunciar, mas não necessariamente no conteúdo. Ou seja,
temos a falsa impressão de sermos únicos quando tomamos a palavra
para expor nosso pensamento, quando, na verdade, nos inserimos numa
rede dialógica de enunciados, em que nossos discursos vão ao encontro
de outros, criando-se uma espécie de rede de interação entre diferentes
discursos.
As relações de sentidos, portanto, que emergem entre

os enunciados, deixam antever que os sentidos não se
originaram no exato momento em que foram

proferidos. Quando tomamos a palavra, o que fazemos
é reelaborar significados que já circulam na sociedade
e que, vez por outra, podem originar sentidos
inusitados.
Você já parou para pensar que nosso alfabeto, composto por apenas 26
letras, dá origem a mais ou menos 380 mil palavras diferentes?
Já percebeu que essas palavras estão submetidas a algumas poucas

regras, que conformam o sistema estrutural da língua portuguesa?
De certo modo, essas questões nos apontam para a seguinte situação:
As regras da gramática de uma língua impedem que as palavras sejam

organizadas por cada falante da maneira que ele bem entender,
impossibilitando a invenção de novas línguas.
Imagine a seguinte situação: se não houvesse as regras da gramática,

se cada um pudesse criar palavras e maneiras de organizar as frases, à
semelhança da língua do “P” (acréscimo de sílaba formada com a letra p
ao fim de cada sílaba – ca pa sa pa), que muitas crianças utilizavam
para tentar burlar a curiosidade alheia, como seria a comunicação?
Teríamos uma verdadeira torre de Babel.
Torre de Babel
Torre de Babel
Segundo a narrativa bíblica do livro de Gênesis, em seu capítulo 11,
houve uma torre construída na Babilônia pelos descendentes de Noé,
com a intenção de não serem espalhados pelo mundo e manterem
sua unidade linguística. A torre, em seu projeto, deveria ser tão alta a
ponto de alcançar os céus. Contudo, houve uma intervenção divina
para impedir tal intento, confundindo a língua das pessoas e
forçando sua dispersão por outras partes do mundo.
Essa reflexão propicia a percepção da imprescindibilidade das regras da

gramática para referendar e estruturar os discursos. Quando um aluno
pergunta o porquê de se estudar a gramática, o que ele de fato está
questionando é a serventia de se identificar e classificar palavras e
frases. Se ele não tiver como ofício o trabalho com a linguagem, qual o
sentido de se praticar intermináveis exercícios metalinguísticos,
direcionados para a classificação, sem praticamente nenhuma relação
com o uso?
Comentário
O objetivo de se estudar uma língua, que já utilizamos na modalidade

oral, é alcançar os efeitos de sentidos pretendidos e, para isso, é
necessário ter conhecimento de suas regras. Assim, neste módulo,
vamos estudar um pouco sobre a relação entre a pontuação e os efeitos
da gramaticalidade na construção da frase.
Pontuação e conectivos na
elaboração das frases
Ao redigirmos um texto, precisamos estar atentos à concatenação entre
as ideias, de modo a não ferir sua inteligibilidade. Para isso, utilizar os
elementos responsáveis pela coesão, sejam conectivos ou pontuação, é
fundamental.
No discurso oral, muitos exemplos e fatos aqui apresentados são

comuns, pois a organização do pensamento se realiza entre idas e
vindas, entre colocações e rearrumações, não interferindo demais na
compreensão, uma vez que o interlocutor pode interromper a fala e tirar
a dúvida a qualquer momento. Além disso, no discurso oral, quase não
são utilizados conectivos, como na escrita. Na oralidade, as frases, de
maneira geral, apresentam-se emparelhadas, curtas, dependendo da
organização da entonação proferida.
Já na escrita, como o autor escreve para um leitor, não presente no

momento do ato da escrita, é necessário se ater a certas regras, sob
pena de prejudicar a leitura, dizendo muitas vezes o inverso do que se
quer dizer.
Exemplo
Cláudia, a chefe do setor, está atrasada!
Cláudia, a chefe do setor está atrasada.
Essas duas frases têm sentidos diferentes.
Na primeira, a Cláudia é a chefe do setor, pois as duas vírgulas

estão identificando quem é a Cláudia.
Na segunda frase, a Cláudia está na posição de um vocativo, que é

uma espécie de chamamento, isto é, alguém está chamando a
Cláudia, para informar-lhe que a chefe do setor está atrasada.
Vejamos o ponto, sinal utilizado para demarcar o limite de uma frase,

oração ou período:
Exemplo
Tendo em vista a grande quantidade de reclamações dos alunos. A
secretaria terá que refazer a grade de horários.
Nessa frase, a primeira oração contém a causa do conteúdo da segunda

oração, logo, as duas frases não poderiam estar separadas por ponto,
mas por vírgula, constituindo as duas orações uma só frase. Veja como
deveria ser:
Tendo em vista a grande quantidade de

reclamações dos alunos, a secretaria terá que
refazer a grade de horários.
Por intermédio desse simples exemplo, você deve perceber o importante

papel que a pontuação tem na construção de frases.
Do mesmo modo, acontece com os conectivos, que desempenham

papéis semânticos quando interligam frases, orações e períodos,
exigindo do autor conhecimento de seus sentidos, de modo a não
interferir na coerência do texto.
Veja este caso:
extension
Ele chegou atrasado, mas perdeu o táxi.
Nessa frase, seria adequado usar o conectivo “porque”, pois a segunda

oração está fornecendo uma explicação para seu atraso. O conectivo
utilizado, o “mas”, expressa oposição entre as ideias, não sendo,
portanto, correto seu uso nesse contexto.
Percebeu a importância da compreensão dos sinais de pontuação e dos

conectivos para a construção de um texto?
Frase siamesa
Vamos ver agora, de modo sucinto, as implicaturas da pontuação e do
uso de conectivos nas frases ditas siamesas.
O que vem a ser frase siamesa?
Primeiro, vamos entender o que significa esse termo. Chamamos de

siameses os gêmeos idênticos que, por não conseguirem se separar, no
ventre materno, nascem colados em uma ou mais regiões do corpo,
compartilhando membros ou até mesmo órgãos.
E qual é a relação desse termo com a construção de

frases?
As frases são denominadas siamesas quando duas ou mais orações

completas aparecem reunidas como se fossem uma só.
Acompanhe a seguinte situação:
extension
A deputada estava preparando seu projeto

hoje teria plenária na câmera seria um ótimo
momento para expor suas ideias.
Nessa frase, faltam pontuação e conectivos. À primeira vista, tem-se a

impressão de que se trata de uma frase, uma vez que os limites desta
são demarcados por uma letra maiúscula e um ponto. Ou seja, haveria
apenas uma ideia. Entretanto, ao olhar atentamente para sua
construção, verificamos que existe mais de uma ideia e que elas estão
emparelhadas.
extension
A deputada estava preparando seu projeto

hoje teria plenária na câmera seria um ótimo
momento para expor suas ideias.
Como organizar tal frase? Temos quatro orações (estava preparando,

teria, seria, expor). A oração, só para relembrar, se caracteriza como uma
unidade sintática, identificada pela presença de um verbo.
Uma opção de correção ou organização da frase seria a seguinte:
extension
A deputada estava preparando seu projeto.

Hoje teria plenária na câmera e seria um
ótimo momento para expor suas ideias.
Outra possibilidade:
extension
A deputada estava preparando seu projeto,

pois hoje teria plenária na câmera e seria um
ótimo momento para expor suas ideias.
Como apontamos anteriormente, a língua portuguesa oferece diferentes

formas de dizer a mesma coisa. A escolha se dá em razão de quem
escreve, do seu estilo, de sua intenção. Porém, vamos lembrar que essa
é uma liberdade “vigiada”.
O que isso significa? expand_more
Quer dizer que temos modos diferentes de dizer a mesma coisa,

mas devemos sempre nos submeter às regras da gramática.
Nesse sentido, em nosso exemplo da frase siamesa que

acabamos de examinar, a mensagem não está clara, dificultando
o entendimento do leitor, porque as ideias estão misturadas,
emparelhadas, exigindo que o leitor experiente leia a frase mais
de uma vez para recuperar o sentido. É preciso ajeitar a
pontuação e/ou inserir conectivos, a fim de estabelecer as
relações de sentido entre as frases, que demandaram de um

leitor experiente uma reorganização das ideias. Foi exatamente
isso que acabamos de fazer ao reescrever a frase do nosso
exemplo.
À diferença do discurso oral, que conta com a presença do

interlocutor no ato da fala, permitindo o esclarecimento no exato
momento em que o discurso é proferido, conforme dissemos
anteriormente, a escrita exige a organização dos elementos, uma
vez que o autor escreve para um leitor, que não conhece, não
está presente e que, por isso mesmo, vai demandar clareza na
organização das ideias, a fim de compreender o texto.
O texto deve dizer por si só, não se deve contar com a habilidade do
leitor para reconstruir o enunciado, para reelaborar sentidos, até porque
o sentido, quando reelaborado pelo leitor, pode não ser o almejado pelo
autor. A tarefa do leitor, portanto, é construir sentidos para o texto a
partir do seu conhecimento de mundo e não tentar dotar de significado
um texto que, em si mesmo, está incoerente, confuso.
Por isso, é tão importante reler o que foi escrito,

porque nosso pensamento se processa de modo mais
rápido do que conseguimos acompanhar na escrita. Ao
redigirmos, vamos colocando as ideias no papel, sem
nos preocupar muito com sua elaboração. Somente
quando relemos o que escrevemos é que poderemos
verificar se o texto tem sentido, se a forma como
redigimos está coerente, se as ideias estão claras etc.
Às vezes, podemos ter dificuldade de perceber as inconsistências

presentes no texto, principalmente, quando fazemos a releitura logo
após o término da escrita. Entretanto, isso só configura, de fato, um
problema quando o texto é extenso. Em textos curtos, como uma
redação, a releitura não fica prejudicada, é possível perceber erros e
inadequações, o que normalmente não ocorre com trabalhos mais
longos, como artigos, monografias, dissertações etc.
Vejamos outro exemplo:
extension
Jessé está sentindo dor no estômago não irá
trabalhar vai ao médico.
Temos três orações emparelhadas. Como ajeitá-las?
Confira as possibilidades de reescrita:
extension
Jessé não irá trabalhar porque está com dor

no estômago. Vai ao médico.
Jessé está sentindo dor no estômago e vai

ao médico. Não irá trabalhar.
Esteja atento, portanto, à pontuação e aos conectivos, que você pode

inserir na frase para alcançar sentido. Muitas vezes, um conectivo
inadequado prejudica o entendimento da frase, assim como pontuações
malfeitas podem atrapalhar, e muito, a compreensão de um texto.
Frase fragmentada
Um fragmento de frase, como o próprio nome já deixa transparecer, é
um pedaço de uma frase, ou seja, é uma frase incompleta.
Considere o seguinte texto:
extension
A professora, que havia saído de casa cedo,

deparou-se com um aluno seu, na calçada
da sua rua, chorando, porque acabara de ser
assaltado e tinham levado seu celular
novinho.
Nessa frase, existem cinco orações, que compõem um período

composto. Nenhuma dessas orações encerra um pensamento
completo, uma vez que elas estão interligadas. Ou seja, podemos dizer
que, isoladamente, cada uma delas constitui fragmentos de frase,
necessitando do conjunto para que o sentido seja estabelecido.
Mas isso não é um problema, uma vez que as orações adjetivas e

subordinadas referem-se a uma oração principal, constituindo um
período composto. Ou seja, a frase está organizada em torno de:
1. uma oração adjetiva explicativa (que havia saído de casa cedo);
2. uma oração adjetiva reduzida de gerúndio (chorando); e
3. duas orações explicativas (porque acabara de ser assaltado e

tinham levado seu celular novinho).
Você deve ter percebido que todas as orações estão adequadamente

articuladas, não se constituindo como uma situação de fragmentos de
frases.
A frase fragmentária se constitui em um problema quando não está

inserida no interior de um contexto maior. Uma das causas para a
produção de fragmentos é a pontuação inadequada, que pode romper
com a lógica entre as ideias.
Para ficar mais claro, vamos conferir quatro situações ou exemplos em

que ocorrem frases fragmentadas.
extension
Exemplo 1
Os pais têm papel fundamental na educação
dos filhos. São eles que sabem o que é
melhor para seus filhos. Fazendo um
acompanhamento de seu crescimento.
A frase iniciada pelo gerúndio (fazendo) não poderia ser separada por
ponto da oração complexa da qual faz parte. Ao se fazer isso, produziu-
se um fragmento de frase.
Eis duas possibilidades de correção:
extension

dos filhos. São eles que sabem o que é
melhor para seus filhos, fazendo um

dos filhos, são eles que sabem o que é
melhor para seus filhos, fazendo um
No exemplo 2, a oração em negrito, por exprimir a finalidade de se

estudar para a prova, não poderia ser separada por ponto, mas por
vírgula.
extension
Exemplo 2
Ele deveria estudar para prova, que seria
daqui a poucos dias. Para poder tirar nota
boa.
Confira como deve ser realizada a correção:
extension
Ele deveria estudar para prova, que seria

daqui a poucos dias, para poder tirar nota
boa.
A frase abaixo, iniciada pela locução conjuntiva “visto que”, ao indicar

uma explicação da oração anterior, não poderia ser separada por ponto.
extension
Exemplo 3
Impedir que as informações sejam
veiculadas, caracteriza-se um cerceamento
da liberdade do indivíduo. Visto que cada um
tem o direito de decidir o que quer saber.
Confira, então, a correção:
extension
Impedir que as informações sejam

veiculadas caracteriza-se como um
cerceamento da liberdade do indivíduo, visto
que cada um tem o direito de decidir o que
quer saber.
report_problem
Atenção
Há muitos casos de orações fragmentadas
decorrentes do mau uso da pontuação.
Sendo assim, fique atento aos usos dos
sinais de pontuação, de modo a não separar
ideias que sejam complementares.
Há muitos casos de orações fragmentadas na literatura que denotam

estilo do autor, como neste trecho retirado do conto de Rachel de
Queiroz publicado na revista O Cruzeiro em 28 de março de 1968:
Viver podia ser tão bom. Ou bom

não digo total, mas poderia ser
sofrível. Cada dia que amanhece.
Cada noite com suas estrelas. E os
matos e os bichos e suas flores... E
gente dos morros, igualmente com
seus passarinhos. Porque tem muita
gente de morro que, embora na
cidade, leva a sua existência natural,
como índios [...].
(QUEIROZ, 1968 apud GARCIA, 1995, p. 117, grifos

nossos)
Os trechos destacados, embora constituam fragmentos de frase, não

são obstáculos para a interpretação e traduzem-se em “recursos de
estilo, muitos, dignos de imitar” (GARCIA, 1995, p.117).
Já no último exemplo, logo abaixo, embora não haja problemas de

ordem sintática, como separação da oração principal da subordinada, a
sequência de frases fragmentadas traduz um estilo coloquial, que não
se ajusta a qualquer contexto escrito. Temos aqui uma sucessão de
frases curtas, que poderiam estar mais bem redigidas.
extension
Exemplo 4
Ele saiu de casa cedo. Disse que voltaria
logo. Apareceu no dia seguinte. Não deu
explicações para ninguém. Entrou em casa
como se nada tivesse acontecido. Foi ao
banheiro. Se lavou. Sentou-se à mesa para

almoçar.
Confira como pode ficar a reescrita dessas frases.
extension
Ele saiu de casa cedo, dizendo que voltaria

logo, mas só apareceu no dia seguinte. Não
deu explicações para ninguém e entrou em
casa como se nada tivesse acontecido. Foi
ao banheiro, lavou-se e sentou-se à mesa
para almoçar.
Após acompanhar essas quatro situações de frases fragmentadas,

perceba que é importante estar atento ao contexto no qual o texto se
insere. Muitas vezes, o que é tido como defeito em um texto, poderá ser
visto como recurso estilístico em outro. Há estilos de frases
fragmentadas que, se escritas em jornal, podem configurar efeito de
estilo, mas, se escritas num artigo acadêmico, podem interromper o
fluxo da leitura e a linha de raciocínio.
Assim, a compreensão de uma frase não reside no entendimento de

cada palavra isoladamente, mas na relação que se estabelece entre
elas. Às vezes, podem ocorrer rupturas no ato da leitura, provocadas
pela falta de coesão, por fragmentos de frases, por problemas
linguísticos, entre outros motivos.
Frase desconexa
Conforme o dicionário, a palavra desconexa significa algo que não está
conectado, o que, consequentemente, relaciona-se ao conceito de
coerência.
Imagine que um gestor público diga o seguinte:
extension
Exemplo
A população precisa obedecer à decisão da
obrigatoriedade de não jogar lixo nas ruas e
córregos também por uma decisão própria.
O cuidado para evitar as enchentes tem de
ser uma decisão pessoal de cada um, mas
uma obrigação e determinação do Estado.
Se a decisão é de cada um, como pode ser também uma obrigação e

determinação do Estado?
Neste caso, a incoerência reside no fato de se defender a liberdade de

cada um, ao mesmo tempo em que se se defende a sujeição de todos
às ordens do Estado. Por mais que esse tipo de incoerência pareça
difícil de ocorrer, é bem mais comum do que se imagina. Seja por uma
confusão, ao se colocar as ideias no papel, seja pelo fato de traçarmos
novos rumos em relação às ideias no momento da redação do texto.
Enfim, o processo de escrita exige uma organização de pensamento,

que nunca é a transposição de um texto pronto e acabado da nossa
mente para o papel.
De maneira geral, precisamos levar em conta alguns passos

importantes:
pesquisar sobre o assunto;
colher informações que façam com que o nosso texto saia do

senso comum;
escolher as ideias que vão ao encontro do nosso ponto de vista;
agrupar essas ideias conforme as afinidades de sentido; e
tecer um texto que progrida em conformidade com a junção das

ideias a serem defendidas.
Aparentemente, o que poderia ser uma tarefa bem simples, colocar

ideias e palavras no papel, revela-se um trabalho custoso, que demanda
tempo, revisão e, às vezes, muita pesquisa.
No ato da escrita, as ideias parecem se ordenar com

lógica e em conformidade com nosso objetivo, mas
somente quando for feita a primeira leitura é que
possíveis lacunas, inconsistências, incoerências,
problemas linguísticos, entre outros, surgirão. É aí que
devemos nos debruçar sobre nosso texto e verificar o
que está errado ou inadequado, o que podemos
melhorar ou suprimir, para que nossas ideias fiquem
claras.
Quando estamos escrevendo, portanto, devemos prestar atenção à

ordem das ideias no texto. É muito comum, quando escrevemos sobre
um assunto sobre o qual temos domínio, que ocorra um fluxo de
consciência, que faz com que as ideias se apresentem de um modo um
pouco caótico, ocorrendo rupturas nos encadeamentos sintáticos ou na
associação de ideias, produzindo uma espécie de frases aparentemente
desconexas.
Para isso, é fundamental a releitura, para podermos identificar se

fizemos associação de ideias contraditórias, ou se utilizamos
procedimentos sintáticos inadequados, que acabaram por romper com
a coerência da frase, necessitando a escrita de uma reorganização.
Reorganizar o texto ou reescrevê-lo pode envolver algumas ações,

como:
Separar as ideias em parágrafos distintos.
Inserir conectivos.
Suprimir alguns trechos que são contrários ao que

queremos dizer.
Dessa forma, escrever se constitui num laborioso fazer e desfazer,

repleto de ajustes, até se chegar a um produto ou resultado satisfatório.
Conforme podemos observar, o momento mais importante da escrita

não é o da colocação das ideias no papel, mas o instante em que vamos
ler o que escrevemos, para podermos aparar as arestas, a fim de

atingirmos o objetivo almejado.
Assim, além dizer ou escrever nossas ideias de forma clara, precisamos

ter conhecimento da gramática e dos aspectos linguísticos para
procedermos aos ajustes, a fim de não produzirmos enunciados
fragmentários, desconexos, ou mesmo frases siamesas, conforme já
vimos neste módulo.
Coesão e coerência na reorganização de frases

desconexas
No caso das frases desconexas, é muito importante sua relação com a
coesão e a coerência.
Você conhece bem esses dois conceitos?
Coesão
O termo diz respeito aos diferentes mecanismos linguísticos

responsáveis pela conexão sintático-semântica entre porções do texto,
seja nas articulações no interior das orações ou nas relações entre uma
oração e outra.
Vejamos algumas frases desconexas em virtude de procedimentos nos

quais não houve coesão adequada:
extension
Exemplo 1
Em outubro de 2021, o Facebook passou
pelo maior blackout da sua história até
aquele momento, deixando mais de dois
bilhões de usuários sem acesso. O pequeno
número de pessoas usuárias dessa rede
social estranhou o fato de o blackout ter
durado tantas horas.
Nesse exemplo, as frases estão desconexas, havendo uma incoerência

produzida pelo trecho “O pequeno número de pessoas usuárias dessa
rede social”, que não retoma a expressão “mais de dois bilhões de
usuários”. Dessa forma, há uma ruptura no encadeamento das frases,
tornando-as desconexas.
Uma maneira de reescrever o texto estabelecendo sua coesão e,

consequentemente, a coerência pode ser a seguinte:
extension
Em outubro de 2021, o Facebook passou

pelo maior blackout da sua história até
aquele momento, deixando mais de dois
bilhões de usuários sem acesso. O enorme
contingente de membros dessa rede social
estranhou o fato de o blackout ter durado
tantas horas.
No exemplo seguinte, temos duas frases desconexas, pois a segunda

oração deveria ser iniciada por um conectivo adversativo (mas, porém,
no entanto, todavia etc.), para exprimir uma oposição à oração anterior.
Se houve divulgação de cancelamento, não poderia haver uma
conclusão lógica de retorno às aulas na segunda.
extension
Exemplo 2
Foi divulgado o cancelamento das aulas por
causa da covid-19, portanto as aulas
começam nesta segunda.
Confira uma opção de reescrita estabelecendo a coesão:
extension
Foi divulgado o cancelamento das aulas por

causa da covid-19, portanto, as aulas não
começarão nesta segunda.
Coerência
refere-se à relação entre ideias de modo lógico e harmônico, conferindo

sentido ao texto. A coerência é a lógica da escrita para transmissão das
ideias.
Desse modo, fatores que normalmente rompem com a coesão, muitas

vezes, acabam por afetar a coerência do texto. Mas há também
incoerência motivada por outros fatores, quando, por exemplo,
relacionamos ideias contraditórias.
Veja um exemplo:
extension
Exemplo
As cadeiras voavam pela rua, enquanto as
nuvens, em que o pai e a mãe estavam,
deixavam os ônibus em fila na avenida.
Nesse exemplo, embora tenhamos os conectivos “enquanto” e “em que”,

que poderiam conferir coesão às informações, a frase, em si, é
totalmente desconexa, por não encadear ideias que possam ser
sequenciadas. Além de trazer um dado, “as nuvens, em que o pai e a
mãe estavam”, que, fora de um contexto de contos de fadas, ou do
universo maravilhoso, não faz sentido algum.
Sendo assim, as frases desconexas podem ser decorrentes de

mecanismos linguísticos ou de incoerências semânticas.
Antes de finalizarmos este módulo, leia essas curiosas e conhecidas

frases:
extension
“Não concordo, nem discordo, muito pelo

contrário!”
“Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra

coisa”
“Cada um com seu cada qual”
Você percebeu que se trata de frases um tanto recorrentes e que, por

serem justamente desconexas, ganharam notoriedade? Essas frases,
aparentemente carentes de lógica ou de nexo, acabam produzindo um
efeito de sentido no contexto em que são utilizadas, servindo para
enfatizar determinado argumento ou aspecto que se quer destacar de
forma inusitada.
video_library
Identificação e correção de frases
malformadas
Assista agora a um vídeo que apresenta um debate sobre problemas na
construção de frases, no qual são identificadas e propostas soluções
para frases fragmentadas, siamesas e desconexas.
playlist_play
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo

que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Frase siamesa
Frase fragmentada
Frase desconexa
Todos
keyboard_arrow_left Todos Módulo 1 Módulo 2

keyboard_arrow_right
Módulo 1 - Video

malformadas
Módulo 2 - Video
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Observe as frases a seguir:
I. A menina saiu. A mãe estava brigando com o pai. Ninguém viu

para onde ela foi.
II. Quando os pássaros estavam voando, os celulares pifaram.
III. O professor repreendeu o aluno ele estava colando.
Assinale a alternativa que classifica corretamente as frases a partir

de sua enumeração:
(I) frases siamesas; (II) frase fragmentária; (III) frase

A
desconexa.
(I) frases desconexas; (II) frase fragmentária; (III)

B
frase siamesa.
(I) frases fragmentárias; (II) frase siamesa; (III) frase

C
desconexa.
(I) frases fragmentárias; (II) frase desconexa; (III)

D
frase siamesa.
(I) frases siamesas; (II) frase desconexa; (III) frase

E
fragmentária.
Parabéns! A alternativa D está correta.
No item I ‒ A menina saiu. A mãe estava brigando com o pai.

Ninguém viu para onde ela foi; temos frases fragmentadas, em
virtude da ausência de conectivos. A correção ficaria assim: A
menina saiu, enquanto a mãe estava brigando com o pai e ninguém
viu para onde ela foi. No item II ‒ Quando os pássaros estavam
voando, os celulares pifaram; a frase é desconexa porque não tem
relação entre os pássaros voando e os celulares pifarem. No item III
‒ O professor repreendeu o aluno ele estava colando; a frase é
siamesa e poderia ser corrigida da seguinte forma: O professor
repreendeu o aluno porque ele estava colando.
Questão 2
Considere o seguinte texto: “As modificações são claras e

evidentes. Seus pontos positivos e negativos também. O indivíduo
tem a autonomia de escolher. O indivíduo tem a autonomia de
controlar o que ele ver.”.
Assinale a alternativa em que as frases desse texto estão redigidas

de forma adequada:
“As modificações dos pontos positivos e negativos

são claras e evidentes. Mas o indivíduo tem a
A
autonomia de escolher. O indivíduo tem a
autonomia de controlar o que ele ver.”
“As modificações são claras e evidentes, seus

pontos positivos e negativos também, indivíduo tem
B
a autonomia de escolher, O indivíduo tem a
autonomia de controlar o que ele ver.”
“As modificações são claras e evidentes, assim

como seus pontos positivos e negativos também.
C
Nesse sentido, o indivíduo tem a autonomia de
escolher e de controlar o que ele vê.”
“As modificações são claras e evidentes, no entanto

seus pontos positivos e negativos também. O
D
indivíduo tem a autonomia de escolher. O indivíduo
tem a autonomia de controlar o que ele ver.”
“As modificações são claras e evidentes, logo seus

pontos positivos e negativos também. O indivíduo
E
tem, portanto, a autonomia de escolher. O indivíduo
tem a autonomia de controlar o que ele ver.”
Parabéns! A alternativa C está correta.
A alternativa C apresenta uma redação mais adequada porque

corrige alguns problemas na construção das frases. Na primeira
frase, é feita uma comparação por intermédio do uso de “assim
como”. A segunda frase tem a coesão estabelecida usando o
conectivo “nesse sentido”, juntando-se ao que seria, originalmente,
a terceira frase, por meio da expressão “de escolher e de controlar”,

que restabelece a coesão e evita a fragmentação. Além disso,
temos a forma verbal “ver” corrigida para “vê”.
2 - Paralelismo e ambiguidade
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar problemas e formas de correção em
frases com ambiguidade e ausência de paralelismo.
Aprendendo a prática da escrita

Segundo Garcia (1995, p. 291), “aprender a escrever é, em grande parte,
se não principalmente, aprender a pensar”.
O que isso significa?
O sentido está relacionado com a necessidade de aprendermos a

pesquisar, encontrar as ideias e articulá-las.
Não é possível escrever sobre o que não se sabe, esse é um ponto

importante. Contudo, saber como estruturar o pensamento e colocá-lo
no papel é questão de treino, de leitura e de estudo. É fundamental ter
conhecimento das regras da gramática para podermos utilizá-las no
momento da escrita, para sabermos de que forma podemos redigir um
texto, da maneira A ou da maneira B, a fim de conseguirmos expressar
nossa opinião, nosso ponto de vista.
Entretanto, se desconhecemos as regras do sistema estrutural da língua

portuguesa, podemos sempre recorrer à gramática. Para tanto, é
necessário termos familiaridade com esse livro, sabermos consultá-lo,
para tirarmos nossas dúvidas.
Por outro lado, pouca serventia terá o conhecimento das regras se não
soubermos estruturar uma frase. Daí a importância da leitura, que, do
contato com a língua em uso, com os diversos tipos de construção das
frases e texto, possibilitará o aprendizado da dinâmica da relação entre
as palavras na frase.
Escrever exige, entre outros aspectos, clareza, objetividade,

informatividade, concisão, coesão e coerência. Conforme dissemos, a
escrita é um produto derivado de laborioso trabalho, de escrita, leitura e
reescrita.
Assim, neste módulo, vamos estudar dois aspectos estruturais, o

paralelismo e a ambiguidade, que contribuem não só para a clareza da
frase, como também para sua expressividade.
Paralelismo
Vamos abordar o paralelismo, inicialmente, a partir de dois elementos:
O mecanismo sintático
O aspecto semântico
O mecanismo sintático
A ideia do paralelismo está embutida na forma como correlacionamos

estruturas sintáticas. Diz respeito ao processo de coesão textual.
Basicamente, segundo Garcia (1995, p. 28), o paralelismo é um tipo de
simetria presente na construção, isto é, a progressão do texto deve
obedecer minimamente a uma estrutura já escolhida pelo autor do texto.
extension
Exemplo
O secretário da educação falava da falta de
merenda e do fechamento das escolas.
Conforme podemos observar, os dois complementos da forma verbal

falava estão regidos pela preposição de, constituindo um caso de
paralelismo. Esse procedimento simétrico zela pela coesão do texto:
O aspecto semântico
O paralelismo não diz respeito apenas a mecanismos sintáticos. Deve-

se estar atento, também, ao aspecto semântico da frase. Ou seja, para
se obedecer ao critério da coerência, as ideias a serem relacionadas
deverão ser similares, pertencendo a uma mesma esfera semântica, a
fim de que a frase esteja imbuída de sentido.
extension
Exemplo
José foi surpreendido por um assaltante e
por uma senhora que dormia no banco da
praça.
Nessa frase, as duas ideias não se complementam, não fazem sentido.

A competência linguística do falante rejeita esse tipo de construção,
uma vez se torna difícil perceber a relação entre o assaltante e a
senhora que dormia.
Para que a frase faça sentido, as ideias precisam compartilhar a mesma

área semântica, como em:
extension
José foi surpreendido por um assaltante e

por um bando de pivetes.
Com a nova redação, o equilíbrio entre as frases foi recuperado. A

ruptura semântica das ideias ocorreu em virtude de uma associação de
elementos desconexos, que não conferem inteligibilidade à frase.
Em se tratando de língua, porém, há casos e casos! Ou seja, cada

situação merece ser analisada.
Quando a falta de paralelismo é tolerável

Apesar de o paralelismo ser recomendável, por evitar construções
“incorretas ou inadequadas” (GARCIA, 1995, p. 28), há situações em que
o autor pode não obedecer à risca o conceito de paralelismo, não
interferindo no sentido da frase.
Veja um exemplo em que o paralelismo não é obedecido rigorosamente:
extension
Exemplo
Decidi viajar porque era feriado na quinta e
por não ter aula na sexta.
Embora a frase seja compreensível e os dois conectivos expressem

causa, não há dúvida de que seria preferível que as duas orações
estivessem regidas pelo mesmo conectivo e os verbos fossem
conjugados ou ficassem no infinitivo.
Veja duas possibilidades de reescrita:
extension
Pedro decidiu viajar porque era feriado na

quinta e porque não tinha aula na sexta.
Pedro decidiu viajar por ser feriado na quinta

e por não ter aula na sexta.
O desafio de estabelecer o paralelismo

Embora a frase seja compreensível e os dois conectivos expressem
causa, não há dúvida de que seria preferível que as duas orações
estivessem regidas pelo mesmo conectivo e os verbos fossem
conjugados ou ficassem no infinitivo.
Veja duas possibilidades de reescrita:
extension
Exemplo
O presidente negou estar o governo

insuflando fake news e que ele tem feito
tudo para combater essa prática.
Essa frase não está obedecendo ao princípio do paralelismo e está mal

redigida.
Confira algumas possibilidades de adequar a redação dessa frase:
extension
O presidente negou que o governo está

insuflando fake news e que ele tem feito
tudo para combater essa prática.
O presidente negou estar o governo

insuflando fake news e ter feito tudo para
combater essa prática.
Você já sabe que a construção de frases na língua portuguesa, apesar

de estar sujeita às regras da gramática, goza de certa liberdade na sua
construção, estando a redação dependente do estilo do autor e do seu
conhecimento do sistema da língua.
As construções correlatas, por exemplo, como “não só... mas também

(como também, como)”, “tanto... quanto”, estabelecem uma relação de
interdependência semântica, que exige obediência ao princípio do
paralelismo.
extension
Exemplo
Ele não só saiu atrasado, mas também
esqueceu a carteira.
ou
extension
Ele não só a xingou como a agrediu.
Observem agora que a não observância do paralelismo produz frases

malformadas. Vejamos:
extension
Seu discurso não só foi ovacionado pela

plateia, como também sua esposa lhe jogou
flores no palco. (GARCIA, 1995)
Houve quebra do paralelismo, que, se observado, daria a seguinte

redação à frase:
extension
Seu discurso não só foi ovacionado pela

plateia, como também pela sua esposa, que
lhe jogou flores no palco.
Os dois termos, “plateia” e “esposa”, agora estão regidos pela

preposição “por”, sendo estabelecido o paralelismo.
Há casos em que o termo correlato está distante e a quebra do

paralelismo passa despercebida.
Veja neste exemplo:
extension
Sentia-me desprezada pelo ex-marido, não

tanto pelo fato de ele estar com outra, uma
conhecida de longa data, mas também
porque ele mudou sua forma de me tratar
Temos aqui o cruzamento de duas expressões correlatas que ferem o

princípio da correlação: o par é “tanto... quanto” e não “tanto...mas
também”.
Assim, reestruturando a frase, teríamos:
extension
Sentia-me desprezada pelo ex-marido, não

tanto pelo fato de ele estar com outra, uma
conhecida de longa data, quanto por ele ter
mudado sua forma de me tratar.
Observe que, ao estabelecer o paralelismo, as preposições utilizadas

foram as mesmas “tanto por... quanto por”.
Paralelismo entre frases e parágrafos
Embora o paralelismo seja mais usual no interior de frases, também é

possível observá-lo entre frases.
Confira neste exemplo:
extension
Que eu saiba, a educação é a melhor forma

de contribuir para o desenvolvimento da
sociedade. Que eu saiba, a educação forma
indivíduos críticos. Que eu saiba, Paulo Freire

defendia que quem ensina aprende ao
ensinar.
Entre parágrafos, também podemos ter o estabelecimento do

paralelismo.
Confira este exemplo:
Dentre as questões que ainda

carecem de reformulação em língua
portuguesa estão aquelas
relacionadas à pletora de termos da
LSF e, ao passo que os estudos
avançam, novos termos vão
surgindo, gerando, por vezes,
controvérsias em seu uso em
português; mas tais questões
devem ser vistas como salutares
para a consolidação da área.
Outra questão de importância

crucial está no fato de a gramática
de Halliday ser uma teoria elaborada
para a língua inglesa, cujos
aspectos tipológicos, em alguns
casos, diferem significativamente do
português [...].
(VIAN, 2013, p.139)
No estabelecimento do paralelismo entra parágrafos, podemos, ainda,

lançar mão do recurso “Primeiro... Segundo... Depois...”, na organização
das ideias.
extension
Exemplo
É preciso especificar e descrever algumas
rupturas que caracterizam o ensino de
línguas no Brasil [...]
Primeiro, é preciso...
Segundo, não se pretende verificar

verdades...
Depois, vale a pena fazer uma revisão crítica

para...
Nas leis, também é comum o uso de paralelismos.
Geralmente, as frases que iniciam os incisos obedecem a uma estrutura

simétrica.
Observe este exemplo, retirado da LDB (Lei de Diretrizes e Bases), em

que cada inciso começa com um substantivo:
Art. 3º O ensino será ministrado

com base nos seguintes princípios:
I. igualdade de condições para o

acesso e permanência na
escola;
II. liberdade de aprender, ensinar,
pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber;
III. pluralismo de ideias e de
concepções pedagógicas; [...]
(BRASIL, 1996)
Confira outro trecho da mesma lei. Observe que os incisos do artigo

começam com verbos no infinitivo:
Art. 9º A União incumbir-se-á de:
I. elaborar o Plano Nacional de

Educação, em colaboração com
os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios;
II. organizar, manter e
desenvolver os órgãos e
instituições oficiais do sistema
federal de ensino e o dos
Territórios;
III. prestar assistência técnica e
financeira aos Estados, ao
Distrito Federal e aos
Municípios para o
desenvolvimento de seus
sistemas de ensino e o
atendimento prioritário à
escolaridade obrigatória,
exercendo sua função
redistributiva e supletiva; [...]
(BRASIL, 1996)
Nos textos em geral, há, ainda, casos de orações justapostas que,

iniciadas pela mesma estrutura, estabelecem construções simétricas:
extension
Exemplo
A professora ainda não viu a ementa da
disciplina, não conseguiu organizar os
conteúdos por atividades, não forneceu à

secretaria seu plano de ensino.
Perceba que há um encadeamento das orações, numa espécie de

enumeração, todas iniciadas por verbos, conjugados no mesmo tempo e
modo (pretérito perfeito do indicativo). Isso estabelece uma simetria de
construções linguísticas.
A enumeração com verbos em mesmo tempo e modo verbal é um

recurso importante nessas situações de frases justapostas.
Também temos situações em que ocorrem frases nominais justapostas,

como no exemplo a seguir:
extension
Furacão. Casas levantadas. Pessoas

escondidas. Vidas destroçadas. Rota de
destruição.
Nesse caso, as frases nominais fornecem ao leitor uma visão do

ocorrido de forma cinematográfica, em que a justaposição fornece uma
celeridade nas ações a representar a passagem de um furacão e seus
rastros de destruição.
Paralelismo como recurso estilístico
Até aqui, você pôde verificar que o paralelismo é um fenômeno

gramatical e, também, semântico. Além disso, o paralelismo pode se
constituir em fenômeno ou recurso estilístico.
Muitos autores, como a escritora Marina Colasanti,

usam e abusam do ritmo e das rimas, conferindo uma
espécie de paralelismo rítmico, transformando sua
escrita numa prosa poética.
Veja três exemplos de seu conto “A primeira só”:
extension
Uma sorriu e deu bom-dia. A outra deu bom

dia sorrindo”. “__Engraçado __ pensou uma
__, a outra é canhota”. “A brincadeira de uma
era a graça da outra”. (COLASSANTI, 2006, p.
46, grifos nossos)
extension
E em segredo mandou fazer o maior espelho

do reino. E em silêncio mandou colocar o
espelho ao pé da cama da filha que dormia.
(COLASSANTI, 2006, p.46, grifos nossos)
extension
[...] a Princesa viu o rosto que tanto amava.

Não um só rosto de amiga, mas tantos
rostos de tantas amigas. (COLASSANTI,
2006, p.48, grifos nossos)
Observe como os jogos de palavras destacados fornecem ao texto uma

cadência rítmica, semelhante ao que se obtém em poemas. O texto
torna-se uma verdadeira poesia. Nesse caso, os paralelismos semântico
e rítmico constituem a marca do estilo da autora.
Vejamos, agora, outra situação, encontrada num fragmento do Sermão

da Sexagésima, de Padre Antônio Vieira.
Para uma alma se converter por

meio de um sermão, há-de haver
três concursos: há-de concorrer o
pregador com a doutrina,
persuadindo; há-de concorrer o
ouvinte com o entendimento,
percebendo; há-de concorrer Deus
com a graça, alumiando. Para um
homem
se ver a si mesmo, são necessárias

três coisas: olhos, espelho e luz. Se
tem espelho e é cego, não se pode
ver por falta de olhos; se tem
espelho e olhos, e é de noite, não se
pode ver por falta de luz. Logo, há
mister luz, há mister espelho e há
mister olhos.
(VIEIRA, 1993, p. 78, grifos nossos)
Você deve ter notado várias estruturas paralelas, como a repetição da

estrutura verbal e condicional (há-de concorrer e se tem espelho e é...).
Esse paralelismo confere ritmo ao texto, atraindo a atenção do leitor.
O paralelismo, portanto, por intermédio da construção

sintática, contribui para a harmonia, coerência e
expressividade da frase.
Perceber as implicações decorrentes desse procedimento sintático é

um importante recurso no processo de escrita, pois, além de tornar o
texto bem escrito, com uma leitura agradável, possibilita identificar
construções malformadas.
Ausência de paralelismo e sua correção

Como a coerência é responsável pela clareza e lógica das ideias, ela
constitui-se em peça-chave na redação de um texto. As ideias dispostas
no interior de um texto precisam estar ajustadas, para que o texto
alcance unidade de sentido. Todas as palavras, cada qual com sua

função, contribuem com a organização textual.
Assim, é fundamental a releitura de nossos textos, a

fim de que identifiquemos problemas (erros ou
inadequações) decorrentes da ausência de conectivos
ou de seu emprego indevido, de pontuação, “da ordem
e da transição” de ideias, entre outros (GARCIA, 1995,
p. 274).
Vamos ver agora alguns casos de ausência de paralelismo e como

devemos proceder para tornar as estruturas paralelas:
extension
Exemplo
A aluna sofria com o bullying na escola e a
falta da percepção dos professores a fazia
se fechar.
Como a conjunção aditiva “e” está relacionando os dois complementos

do verbo sofrer, esses termos deveriam estar precedidos da mesma
preposição – “com”.
Reescrevendo a frase, teríamos:
extension
A aluna sofria com o bullying na escola e

com a falta de percepção dos professores,
que a fazia se fechar.
Observe como, no caso abaixo, a expressão “isto é” – uma expressão

retificadora – exige que o paralelismo seja estabelecido.
extension
Exemplo
A mulher estava preocupada com seu futuro,
isto é, sobre sua sobrevivência.
Podemos dar uma nova redação a essa frase da seguinte maneira:
extension
A mulher estava preocupada com seu futuro,

isto é, com sua sobrevivência.
Já no caso a seguir, o predicativo do sujeito, “chateada”, solicita

complemento nominal iniciado com a preposição “com”.
extension
Exemplo
Não estou chateada com seu egoísmo, mas
por sua indiferença.
A correção da frase pode ficar assim:
extension
Não estou chateada com seu egoísmo, mas

com sua indiferença.
Perceba que, no próximo exemplo, a expressão “não só” pede a

contrapartida “mas também” ou “como também”.
extension
Exemplo
Para enfrentar a crise, é necessário não só
manter o emprego dos trabalhadores, que
têm famílias para sustentar, nem reduzir a
carga de trabalho semanal.
Desse modo, uma possibilidade de correção é a seguinte:
extension
Para enfrentar a crise, é necessário não só

manter o emprego dos trabalhadores, que
têm famílias para sustentar, como também
reduzir a carga de trabalho semanal.
Em outra situação, apresentada abaixo, temos dois problemas. Embora

não seja nosso foco, a construção do verbo preferir se realiza como:
“prefiro x a Y” e não “prefiro X do que Y”. Quanto ao paralelismo, houve
ruptura em relação aos complementos do verbo preferir, uma vez que os
dois complementos teriam de ser de mesma base morfológica, ou seja,
ou dois verbos, ou dois substantivos, e não verbo e substantivo.
extension
Exemplo
Prefiro fazer aula de ginástica do que corrida.
Assim, estabelecendo o paralelismo, teríamos, pelo menos, duas

possibilidades:
extension
Prefiro fazer aula de ginástica a corrida.
Prefiro aula de ginástica à corrida.
No caso seguinte, a expressão “não só” pode ter duas contrapartidas:

“mas também” e “como também”.
extension
Exemplo
Os problemas no Ministério da Educação

não só se agravavam em virtude da
inabilidade do seu ministro e dos desmandos
do presidente.
Para estabelecer o paralelismo, uma possibilidade é a seguinte:
extension
Os problemas no Ministério da Educação não

só se agravavam em virtude da inabilidade
do seu ministro, como também dos
desmandos do presidente.
Relembrando o que aprendemos sobre

paralelismo
Embora possamos analisar inúmeros exemplos, o importante é você
perceber o quanto o paralelismo é um valioso recurso coesivo, que
contribui para a estrutura da frase, ao repetir determinadas estruturas
sintáticas no interior do texto.
Alguns mecanismos responsáveis pelo paralelismo são:
Conjunções
e, nem, porque etc.;
Expressões Correlativas
não só... mas também, tanto...quanto, ora... ora etc.
Expressões Retificadoras
“isto é, “ou seja” etc.
Além disso, determinadas formas de construção também contribuem

para a estruturação e expressividade do texto. Algumas dessas formas
são:
Frases nominais
Enumerações com verbos em mesmo tempo e modo

verbal
Lembre-se de que os paralelismos se estruturam tanto gramaticalmente

quanto semanticamente.
Ressaltando o aspecto semântico mais uma vez, tenha

sempre em mente que não podemos reunir
informações, em um mesmo segmento, que não
pertençam à mesma esfera semântica, como, por
exemplo, “corrupção e aulas infantis”.
Claro que, se desenvolvermos um texto, podemos até congregar essas

informações no mesmo texto, mas não na mesma frase, como em:
A corrupção grassa no cenário político brasileiro e as aulas nas escolas

cada vez mais se desenvolvem a partir de metodologias ativas.
Nessa frase, a lacuna entre as informações é tão grande que o leitor se

pergunta qual é a relação entre a corrupção e a adoção de metodologias
ativas nas aulas.
Esteja atento, portanto, à simetria estabelecida pelo paralelismo em seu

texto, a fim de perceber quando a sua ausência pode, ou não, prejudicar
a sua correção, e quando pode, ou não, afetar a sua expressividade.
Ambiguidade
Para tratarmos da ambiguidade, vamos também examinar brevemente o
conceito de polissemia.
Os conceitos da ambiguidade e da polissemia estão em estreita relação,

sendo muito importante entendermos de que forma eles estão
interligados.
Entendendo a polissemia
A polissemia diz respeito à faculdade que algumas palavras têm de

apresentar mais de um sentido.
Vejamos a palavra “cabeça”. Entre os seus vários sentidos, destacamos

alguns:
Parte superior do corpo de uma pessoa, onde se encontram olhos,

orelhas, cabelo etc.
Extremidade de um objeto: “cabeça do alfinete”.
Termo para designar parte de planta comestível: cabeça de alho.
Forma de designar uma pessoa que se destaca por sua inteligência:

“Ele é o cabeça do grupo.”
Forma de expressar algo guardado na memória: “Não consigo me

lembrar disso de cabeça.”
Termo para se referir à vontade própria: Agir conforme sua própria

cabeça.
Expressões diversas: O dinheiro virou sua cabeça!; O carro ficou de

ponta cabeça; O funcionário perdeu a cabeça!
Como você pode perceber, em virtude do aspecto polissêmico da

palavra “cabeça”, para a especificação de seu significado, é necessário
que ela seja inserida dentro de um contexto. Somente no interior do
contexto frasal é que um de seus possíveis sentidos se sobressairá.
Se observarmos qualquer dicionário, perceberemos, pelos inúmeros

verbetes, que a maioria das palavras apresenta mais de um significado.
Conforme o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (ACADEMIA

BRASILEIRA DE LETRAS, 2021), há, na língua portuguesa, mais de 380
mil entradas, e, para cada uma delas, pode haver várias acepções, vários
sentidos.
Agora imagine se para cada palavra correspondesse apenas um sentido.

O número de vocábulos seria muito maior e a mente humana não daria
conta de tantos vocábulos.
Assim, o aspecto polissêmico inerente a muitas

palavras permite aos interlocutores alcançar uma
gama de sentidos, por intermédio de algumas poucas
palavras. É um princípio conhecido por economia
linguística. Daí a importância de pesquisarmos o
significado das palavras, para termos certeza de que
ela se encaixa no nosso propósito comunicativo.
Quando alguém diz: “Estou no banco”, o interlocutor pode entender que

essa pessoa está numa instituição financeira ou sentada num banco de
uma praça. O entendimento, entretanto, pode ocorrer se os dois
interlocutores, de algum modo, partilharem do mesmo conhecimento
prévio sobre a situação. Contudo, para um interlocutor que não tem
acesso ao contexto extralinguístico, a frase será ambígua, uma vez que
não será possível precisar seu sentido. E isso será considerado um
defeito, uma vez que a falta de clareza prejudicará a compreensão do

enunciado.
A polissemia, no entanto, constitui-se, quando bem explorado, num

recurso potente de significação da língua. Esse é o caso das
propagandas e das tirinhas.
Esse recurso, entre outros resultados, permite ao autor alcançar efeitos

expressivos que fazem com que muitas propagandas sejam
inesquecíveis.
Um exemplo é a peça publicitária de uma marca de sandálias que trazia,

junto à imagem de uma sandália amarela com um fundo verde, a
seguinte frase: “O pé direito é nosso”.
Nessa propaganda, lançada no contexto da Copa do Mundo de 2014, a

empresa explorou os dois sentidos da expressão “pé direito”:
Sentido Metafórico
A ideia de sorte.
Sentido Literal
O pé direito do chinelo.
Esses sentidos duplos tornaram a propaganda bastante criativa, na

medida em que se expandiu o sentido dentro de um mesmo contexto.
A ocorrência da ambiguidade decorrente da

polissemia
Há situações em que teremos a ambiguidade a partir da polissemia.
Em uma tirinha do personagem Armandinho, o uso da frase “Vendo pôr

sol” é explorada exatamente pela sua ambiguidade. Enquanto
Armandinho segura uma placa trazendo essa frase, alguém lhe pergunta
quanto ele quer pelo pôr do sol, ao que ele replica, enfaticamente,
dizendo que o pôr do sol não está à venda, já que ele está simplesmente
observando o pôr do sol (BECK, 2014).
Nesse caso, podemos dizer que houve ambiguidade, decorrente do fato

de as duas palavras, “ver e vender”, embora diferentes quanto ao
significado, serem escritas de modo idêntico quando conjugadas.
O verbo “vender”, quando conjugado na primeira pessoa do presente do

indicativo, tem a forma “vendo”, e o verbo “ver”, quando em sua forma
nominal, no gerúndio, também tem a mesma forma, “vendo”. Nesse
caso, ao explorar o aspecto homógrafo (mesma escrita) dos vocábulos,
o autor alcançou a graça na tirinha.
text_snippet
Resumindo
A ambiguidade, entretanto, de modo geral,

em vez de concorrer para o efeito de sentido,
dificulta a compreensão justamente por
apresentar mais de uma interpretação. Já a
polissemia, ao explorar os vários sentidos de
uma palavra, pode contribuir para tornar o
enunciado múltiplo em sua significação.
Ambiguidade decorrente da homonímia
Além dos casos de ambiguidade decorrentes da polissemia, há casos

de ambiguidade resultantes da homonímia, que são palavras com
significados totalmente diferentes, mas com a mesma grafia.
extension
Exemplo
A palavra manga pode se referir tanto à

manga da camisa quanto à fruta.
A palavra grama pode estar relacionada

tanto a uma gramínea quanto pode designar
uma unidade de medir massa.
Nesse caso, a diferença entre a homonímia e a polissemia vai residir na

etimologia da palavra, ou seja, qual é a procedência da palavra, é de
origem grega? Latina? Enfim, qual é a sua origem?
No entanto, isso não é o mais importante para o

objetivo do nosso módulo. O importante é você saber
quando o aspecto polissêmico da palavra poderá ser
explorado intencionalmente, como recurso estilístico,
em seu texto, e quando será decorrente da inabilidade
do autor, causando imprecisão de sentido, tornando o
texto ambíguo, sendo considerado um defeito, um vício
de linguagem, podendo se tornar um problema, ao
prejudicar a leitura.
Como já dissemos, para podermos discernir o que constitui defeito ou

recurso, é preciso avaliar o contexto, o gênero textual em questão.
Por exemplo, enquanto em textos acadêmicos, sentenças judiciais,

contratos de compra e venda, testamentos e outros documentos, ou
textos mais formais, a ambiguidade não é bem-vinda, é algo a ser
evitado; já em textos literários, em piadas, propagandas e tirinhas, a
ambiguidade decorrente da polissemia é um recurso legítimo para o
alcance da expressividade.
Ambiguidade como vício de linguagem
Vejamos, agora, alguns casos em que a ambiguidade prejudica a

compreensão, sendo considerada um vício de linguagem.
Ambiguidade estrutural
Ocorre em virtude do posicionamento de certas palavras no interior da

frase, gerando indefinição no sentido.
Confira algumas situações de ambiguidade estrutural e as

possibilidades de correção:
extension
Exemplo
Quando Marcelo chegou em casa, viu Pedro

com sua namorada.
Nessa frase, o pronome possessivo “sua” está relacionado à palavra

“namorada”. Mas namorada de quem? Pode ser tanto a namorada de
Marcelo quanto a namorada de Pedro.
Temos, pelo menos, duas formas de resolver essa ambiguidade:
extension
Quando Marcelo chegou em casa, viu sua

namorada em companhia de Pedro.
Quando Marcelo chegou em casa, Pedro

estava com a namorada, esperando-o.
No caso abaixo, o ataque dos bandidos ocorreu no parque, ou João

estava no parque e assistiu ao ataque dos bandidos?
extension
Exemplo
João viu o ataque dos bandidos no parque.
Podemos resolver a ambiguidade de duas formas:
extension
Quando João estava no parque, ele viu o

ataque dos bandidos na rua.
João estava passando e viu os bandidos

atacarem no parque.
Já no caso seguinte, o adjetivo depressivo é uma qualidade do marido

ou um estado de espírito circunstancial?
extension
Exemplo
O marido depressivo reclamava de sua vida.
Confira duas possibilidades de se desfazer a ambiguidade:
extension
O marido, que estava depressivo, reclamava

de sua vida.
O marido, que era depressivo, reclamava de

sua vida.
Observe a ambiguidade na próxima situação: as pessoas morrem mais

de uma vez ou, por causa da covid, há mortes frequentes?
extension
Exemplo
As pessoas morrem frequentemente de

covid.
Reestruturando a frase, podemos escrevê-la da seguinte maneira:
extension
Frequentemente, pessoas morrem por causa

da covid.
O exemplo seguinte suscita questionamento: quando recebi os

documentos, estes vieram do Brasil ou recebi documentos brasileiros?
extension
Exemplo
Recebi os documentos do Brasil.
A ambiguidade pode ser resolvida de duas formas:
extension
Estava no Brasil quando recebi os

documentos.
Recebi os documentos brasileiros.
O próximo exemplo também levanta dúvida: quem estava doente? A

mãe ou a filha?
extension
Exemplo
A mãe disse à filha que estava doente.
A ambiguidade se desfaz da seguinte forma:
extension
A mãe disse à filha que esta estava doente.
A mãe, que estava doente, informou a filha

disso.
O último caso, igualmente, deixa-nos sem saber: quem estava correndo?

O porteiro ou o bandido?
extension
Exemplo
O porteiro viu o bandido correndo.
A ambiguidade pode ser resolvida reescrevendo a frase de duas formas:
extension
O porteiro, que estava correndo, viu o

bandido.
O bandido foi visto correndo pelo porteiro.
Ambiguidade lexical
Ocorre quando o enunciado apresenta mais de um sentido, em virtude

do aspecto polissêmico da palavra.
Quem foi à Bahia, provavelmente, já passou pela experiência de comer

um acarajé (bolinho de feijão-fradinho) muito apimentado. Lá, a palavra
“quente”, além do sentido usual de produção de calor, tem seu sentido
expandido para a produção de calor decorrente da ingestão de pimenta.
Assim, quando uma baiana pergunta se o acarajé é quente ou frio, na

verdade, ela quer saber se o cliente quer pimenta ou não. Esse é um
caso de ambiguidade derivado do aspecto polissêmico da palavra
“quente”.
text_snippet
Resumindo
Podemos dizer que a ambiguidade constitui
um vício de linguagem quando obstrui o
entendimento do texto, quando prejudica sua
compreensão. Em textos acadêmicos, é bom
lembrar, devemos primar, entre outras
questões, pela clareza e objetividade. Desse

modo, é imprescindível que o texto esteja
bem organizado para ser compreensível.
video_library
Paralelismo e ambiguidade
Assista agora a um debate sobre problemas relacionados com a falta de
paralelismo e com a ocorrência de ambiguidade nas frases.
playlist_play
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
O desafio de estabelecer o paralelismo
Ausência de paralelismo e sua correção
Ambiguidade como vício de linguagem
Todos
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Módulo 1 - Video

malformadas
Módulo 2 - Video
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O jornalista, ao redigir a notícia a respeito dos atos do governador,

escreveu:
“O governador negou estar a polícia de sobreaviso e que a visita

oficial da PM do Estado tivesse qualquer sentido político.”
Fonte: GARCIA, O.M. Comunicação em prosa moderna. 16.ed. Rio

de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1995, p. 31.
Como reescrever essa frase de modo que sua estrutura esteja

estilística e gramaticalmente bem formada?
O governador negou que a polícia está de

A sobreaviso e que a visita oficial da PM do Estado
tivesse qualquer sentido político.
O governador negou estar a polícia de sobreaviso e

B que a PM do Estado visitar de forma oficial tivesse
qualquer sentido.
O governador negou estar a polícia de sobreaviso e

C ter a visita oficial da PM do Estado qualquer sentido
político.
O governador negava que a polícia estava de

D sobreaviso e ter a visita oficial da PM do Estado
sentido político qualquer.
O governador negou que a polícia estava de

E sobreaviso e ter a visita oficial da PM do Estado
qualquer sentido político.
Parabéns! A alternativa C está correta.
O exemplo apresentado no enunciado apresenta frase malformada

porque lhe falta paralelismo. O paralelismo é estabelecido na
versão da alternativa C porque foram colocados os dois
complementos do verbo negar no infinitivo: “estar e “ter”.
Questão 2
A ambiguidade é o fenômeno que ocorre quando um enunciado

apresenta mais de um sentido. Conforme vimos neste módulo, a
clareza das informações é fundamental para determinados textos.
Sendo assim, leia as frases das alternativas a seguir e identifique
qual delas apresenta ocorrência de ambiguidade em sua
construção.
Um bom funcionário é aquele que informa o chefe a

A
respeito de tudo o que acontece no serviço.
B Os meios de comunicação aparecem rotineiramente
em nossa vida, seja por meio de jornais, revistas,
televisão, seja pela Internet, com variados tipos de
informações.
Durante o período do governo militar, assim como

C ocorreu com os artistas, a mídia sofreu
absurdamente com a censura.
A censura privou a população de tomar

D conhecimento de informações relevantes e de
formar opinião adequadamente.
Marcela era a personagem principal da trama e tinha

E nove anos de idade quando o pai, desequilibrado
mental, matou sua mãe.
Parabéns! A alternativa E está correta.
A ambiguidade da alternativa E se manifesta na seguinte dúvida ou

falta de clareza: quem foi a mãe assassinada, a de Marcela ou a de
seu pai? A ambiguidade pode ser resolvida pelo menos de algumas
formas: Marcela, personagem principal da trama, tinha nove anos
quando seu pai, desequilibrado mental, matou a mãe dele. Marcela,
personagem principal da trama, tinha nove anos de idade quando o
pai, desequilibrado mental, mantou a própria mãe.
Considerações finais
Você teve a oportunidade de estudar alguns dos principais problemas
que são comuns na elaboração do texto, particularmente na construção
das frases.
Você pôde verificar que frases malformadas apresentam falta de

coesão e coerência textuais, o que é muito recorrente nas frases
siamesas, fragmentadas e desconexas. Ao identificar esses problemas,
você também teve a oportunidade de aprender sobre algumas formas

de correção dessas inadequações na construção das frases.
A importância do paralelismo no interior das frases, entre as frases e,

até mesmo, entre parágrafos foi outro assunto que você estudou dentro
da temática relacionada com a construção das frases. Foi possível
perceber que a ausência de paralelismo é um dos problemas na
elaboração de muitos textos.
Finalmente, a ambiguidade foi vista como um importante problema na

construção das frases, sendo responsável pela falta de clareza e pelo
surgimento de dúvidas desnecessárias em várias frases ou textos. Ao
aprender algumas maneiras de corrigir este e outros problemas
trabalhados ao longo do conteúdo, você, certamente, ampliou e
continuará desenvolvendo sua competência para escrever ainda melhor.
headset
Explicações e Exemplos
Ouça agora a um podcast que apresenta explicações e
exemplos sobre problemas na construção de frases, como
frases siamesas, fragmentadas, desconexas, com falta de
paralelismo e ambiguidade.
Explore +
Estude mais sobre problemas de construção de frases lendo o artigo
“Frases siamesas: uma alternativa de abordagem”, de Isabel Pressanto e
Samira Agnol, publicado pela Revista Linguagem & Ensino.
Aprofunde seus estudos sobre polissemia e ambiguidade lendo o artigo

Ambiguidade gerada pela homonímia: revisitação teórica, linhas limítrofes
com a polissemia e proposta de critérios distintivos, de Cláudia Zavaglia,
disponível na plataforma Scielo Brasil.
Para uma abordagem gramatical da construção das frases, você

também pode explorar as diversas gramáticas on-line disponíveis para
consulta na Internet. Prefira sempre gramáticas que estejam
hospedadas em sites institucionais. Um exemplo é a Minigramática
disponível no site do Núcleo Interinstitucional de Linguística
Computacional (NILC) da USP de São Carlos.
Assista ao vídeo Leitura e Produção de textos ‒ A coerência textual,

disponibilizado no canal da Univesp, no YouTube, para ampliar seu
conhecimento sobre as relações de sentido do texto.
Referências
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa (VOLP). 6. ed. Rio de Janeiro, 2006. [on-line]
BECK, A. Armandinho: três. São Paulo: Matrix, 2014.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.
COLASANTI, M. A primeira só. In: Uma ideia toda azul. São Paulo:
Global, 2006.
GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 16. ed. Rio de Janeiro:

Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1995.
VIAN JR., O. Linguística sistêmico-funcional, linguística aplicada e

linguística educacional. In: LOPES, L.P.M. (org.). Linguística aplicada na
modernidade recente: Festschrift para Antonieta Celani, São Paulo:
Parábola Editorial, 2013.
VIEIRA, A. Sermões: Obras completas do Padre Antônio Vieira, Vol. 1.

Porto: Artes Gráficas, 1993.
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Problemas Na Construção de Frases

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28/02/2024, 09:33 Problemas na construção de frases

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Por isso, é tão importante reler o que foi escrito,

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Vejamos outro exemplo:

Jessé está sentindo dor no estômago não irá

trabalhar vai ao médico.

Temos três orações emparelhadas. Como ajeitá-las?

Confira as possibilidades de reescrita:

Jessé não irá trabalhar porque está com dor

Jessé está sentindo dor no estômago e vai

Esteja atento, portanto, à pontuação e aos conectivos, que você pode