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2
Definições, conceitos, regras e exceções
2.1
Caracterização básica do pronome lhe
Para verificar e entender de forma mais pontual o que se fala a respeito do lhe,
faremos uma pequena e rápida viagem em torno destas obras que tratam das questões
gramaticais de nossa língua. Para facilitar a identificação e leitura utilizaremos a
legenda a seguir:
senhor, a V.S.ª, etc.), nele, nela, etc." Deste modo, o lhe vale por uma pessoa do
discurso, (Neves, 1987, p.197-8), sendo um termo regido por preposição e
pertencente ao segundo grupo de pronomes o qual reúne os pronomes pessoais de
terceira pessoa (Basílio & Castilho, 1996, p-151). Além disto, a maioria das
gramáticas de língua portuguesa entendem o lhe em dois estágios distintos (ou pelo
menos didaticamente distintos): o morfológico e o sintático.
Desta forma, geralmente os LD, GP e GT afirmam que o lhe pertence à
categoria de pronome oblíquo, representando uma pessoa do discurso. No entanto,
como exemplo de divergência teórica, verificamos facilmente que nem todas as GP e
LD são categóricos em afirmar que a função sintática do lhe é objeto indireto e que
ele pode desempenhar, também, a função de complemento nominal ou adjunto
adnominal. Portanto, podemos perceber, inicialmente, que não há uma plena
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2.2
Os Livros didáticos (LD) e as gramáticas pedagógicas (GP):
divergências e questionamentos
Provavelmente, começam por este ponto, por questões práticas e teóricas óbvias, no
entanto, em vários LD e GP o lhe é meramente citado, ou aparece num "quadro de
pronomes oblíquos", bastante recorrente, visualmente claro, porém, pouco funcional,
por aparecer descontextualizado. Vejamos um exemplo deste quadro (Sarmento,
1995, p.162):
PRONOMES
PRONO- PRONOMES PESSOAIS
MES OBLÍQUOS
PESSOAIS
RETOS
NÚMERO PESSOA FORMAS FORMAS TÔNICAS
ÁTONAS
SINGULAR 1ª Eu Me Mim, comigo
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2ª Tu Te Ti, contigo
3ª Ele, Ela Se, o, a, lhe Si, consigo, ele, ela
PLURAL 1ª Nós Nos Conosco
2ª Vós Vos Convosco
3ª Eles, Elas Se, os, as, lhes Si, consigo, eles , elas
Assim, esta "descoberta" fica por conta do professor ou, quem sabe, do próprio aluno.
Tal lacuna causou-nos muita estranheza, pois, afinal, a presença da preposição é
decisiva para que possamos compreender a interação eficiente que o lhe desenvolve
com os termos aos quais se relaciona, assunto de que falaremos um pouco mais no
próximo capítulo.
Ainda sobre a preposição, consideramos válido reproduzir o que está no LD
de Giacomozzi (2001, p.97): "Os pronomes pessoais oblíquos tônicos vêm
acompanhados de preposição. Exemplo: não diga a ela que cheguei." Depois de
vermos afirmações acompanhadas de exemplos como este, fica-nos uma pergunta:
por que a frase não vem com o lhe, mas com "a ela" , se em nenhum momento fez-se
a relação de sinonímia entre estas duas expressões? Ou seja, não é explícita a
equivalência do lhe a "a ela", pois o livro apresenta este fato como um detalhe, como
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Gráfico:
Nestas frases recorrentes nos LD e GP, o lhe é chamado por uns de objeto
indireto, por outros de adjunto adnominal e, às vezes, não recebe nome algum, como
se nestas frases não fosse possível classificá-lo. Observe-se que este fato não
representa apenas uma questão de problema na classificação dos termos, mas a
efetiva prova de que os LD e GP, de um modo geral, não consideram o papel
funcional da estrutura.
Não é uma tarefa muito difícil identificar incoerências dentro de um mesmo
LD ou GP no que diz respeito ao lhe. Ocasiões há em que um conjunto de afirmações
são feitas e logo depois, sem que o próprio autor perceba - é o que nos parece - tais
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2.3
Algumas considerações preliminares
Terminamos este capítulo com uma certeza e várias interrogações. É certo que
não há unanimidade a respeito do pronome lhe e que infelizmente as abordagens por
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mais claras e objetivas que possam parecer nem sempre são eficientes se
considerarmos o aspecto funcional deste item lexical nos textos, no enunciado e no
discurso dos falantes de nossa língua.
Certo também é que o excesso de LD e GP não representa um ponto positivo,
antes servem para ampliar ainda mais a quantidade de considerações, oposições e
divergências, já que a tendência normativa e particular sobrepuja sempre a tendência
descritiva e global.
Sobram-nos, então, muitas interrogações. Afinal, o que fazer para entender
esta combinação de três letras, tão útil, eficiente e coesiva ? Que funções realmente o
lhe "pode" exercer? Que princípios e procedimentos devemos seguir para
compreendermos este elemento?
As respostas destas e de outras perguntas a respeito do lhe, tentaremos dar ao
longo de nosso trabalho, tendo a consciência de que esta é um meta difícil de ser
atingida.