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A análise gramatical do texto grego tendo em vista a pregação

Pedro H. Vercelino*

A análise gramatical do texto é uma das etapas mais importantes da exegese que visa a pregação. Uma
vez que recebemos a Palavra de Deus em forma escrita, precisamos compreender o texto sagrado por
meio de compreender as relações que as palavras possuem entre si, isto é, a sintaxe do texto, isso se dá
por meio da análise sintática ou, gramatical.

Em termos ideais, o estudante deveria realizar decisões a respeito de todas as questões gramaticais da
sua passagem, porém, tendo em vista a dificuldade inicial que muitos estudantes de grego possuem com
a língua e da escassez de tempo no preparo das pregações e estudos bíblicos, o material a seguir tem
como objetivo propor alguns atalhos e dicas para a análise gramatical do texto grego que tem em vista
a pregação.

Bill Larkin, falecido professor de Grego e Exegese do NT da Universidade de Columbia resume essa
tensão: Embora você raramente mencione uma questão gramatical em um sermão ou lição, ainda assim
será grato à sua análise gramatical pela ajuda que ela fornece no desenvolvimento da estrutura geral,
dos principais argumentos e dos subpontos da sua mensagem.1 Por isso, o presente artigo visa oferecer
um método para (1) como identificar os termos centrais para uma análise gramatical detalhada; (2) os
passos para a realização de uma análise gramatical; (3) Um método para organizar os dados da análise
gramatical e por fim, (4) dicas para a comunicação eficiente e adequada das descobertas gramaticais na
pregação.

1. Como Identificar os termos que requerem uma análise detalhada:

O seu desejo primário deve ser isolar as questões gramaticais que afetam diretamente a interpretação
da passagem que você está estudando. Nesse momento do seu estudo você aprenderá muito mais do
que você terá condições e deverá comunicar aos seus ouvintes, porém, todo o conhecimento adquirido

* Bacharel em Teologia com Ênfase em Educação Cristã (SBPV), Pós-Graduado em Aconselhamento Bíblico (SBPV).
Coordenador Acadêmico do Curso de Liderança e Discipulado da Organização Palavra da Vida, onde também atua como
professor de Novo Testamento e Interpretação Bíblica. Professor de Grego no Seminário Bíblico Palavra da Vida. Pastor de
Juventude na Igreja Cristã Evangélica do Brasil em São Paulo. E-mail: pvercelino@gmail.com
1
LARKIN, William J. Greek is Great Gain: A Method for Exegesis and Exposition. Eugene, OR: Wipf & Stock, 2008,
p. 137
será útil para uma interpretação coerente e responsável, bem como uma apresentação clara e objetiva
do texto bíblico.2

Como afirma John Harvey, É teoreticamente possível fazer uma análise da gramática e sintaxe de cada
palavra ou expressão de uma passagem, mas limites de tempo dificilmente permitem que muita atenção
seja dada a cada detalhe",3porém, mesmo que uma análise gramatical de todos os termos fosse
possível, Alguns aspectos da gramática grega são mais exegéticos e teologicamente significativos do
que outros, e isso varia de oração para oração. Assim, parte de aprender a ser um bom exegeta é aprender
a identificar e analisar palavras, frases e cláusulas exegeticamente significativas 4

Por isso, ao invés de você realizar uma análise detalhada de todos os termos do texto, o que seria muito
trabalhoso e demorado, embora extremamente benéfico e enriquecedor, você deve desenvolver e
utilizar-se de critérios para encontrar e avaliar questões gramaticais que afetam direta ou indiretamente
a interpretação de uma passagem e assim, requerem uma análise gramatical mais detalhada.

1.1. Princípios e dicas para a identificação dos termos essenciais:

1.1.1. Termos que são aparentemente ambíguos e possivelmente identificados na tradução prévia
requerem uma análise gramatical mais detalhada.

1.1.2. Substantivos e adjetivos no dativo e genitivo são sempre relevantes de serem analisados, assim
como os particípios de função adjetiva que estejam nos casos dativo ou genitivo. ]

1.1.3. Os particípios como um todo devem ter a sua atenção, porém, os particípios adverbiais sempre
devem ser analisados gramaticalmente.

1.1.4. As orações condicionais devem sempre ser analisadas, tanto na sua estrutura quanto na
sua semântica.

1.1.5. Dependendo do seu nível de familiaridade com a língua e facilidade de lidar com as
ferramentas, você trabalhará mais ou menos diretamente a partir do texto original, porém, uma
boa maneira de identificar questões gramaticais relevantes no texto estudado é comparar

2
FEE, Gordon D. New Testament exegesis: a handbook for students and pastors. 3rd ed. Louisville, KY: Westminster
John Knox Press, 2002, p. 141.
3
HARVEY, John. D. Interpretação das Cartas Paulinas: Um prático e indispensável manual de exegese. São Paulo,
SP: Cultura Cristã, 2007, p. 135.
4
Naselli, Andrew David. How to Understand and Apply the New Testament: Twelve Steps from Exegesis to Theology.
Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2017, p. 88.
versões em português e observar as diferenças que elas presentam. Quando encontrar uma
diferença de tradução, olhe para o texto original e pergunte:

• O que gerou essa diferença de tradução?

• Caso seja uma questão de Crítica Textual, você já terá resolvido previamente

• Algumas variações possíveis são: decisão entre o modo verbal (alguns verbos podem ser
tanto indicativos quanto imperativos na sua morfologia); decisão da função sintática de
um ptcp. adverbial (algumas versões mais dinâmicas como a NVI e NVT deixam claro a
opção do tradutor em relação aos ptcps. em alguns lugares); decisão da força de uma
conjunção ou da relação entre orações e parágrafos. (diferentes traduções, as traduzem as
conjunções de maneira distinta, revelando relações sintáticas distintas entre orações e
parágrafos)

1.1.6. Observe as gramáticas intermediárias e as discussões de textos específicos. É sempre relevante


pesquisar no índice de citações bíblicas das gramáticas se elas citam o seu texto estudado em
alguma discussão exegética importante ou se algum termo do seu texto é usado para ilustrar
uma categoria sintática.

1.1.7. Observe as discussões de sintaxe nos comentários bíblicos. Quando você encontrar
discordância entre os comentaristas a respeito da gramática de um termo ou oração específica,
então você encontrou algo que deve ser analisado com mais detalhes. Os comentários
exegéticos serão mais relevantes aqui, especialmente os que propõem uma tradução pessoal,
porém, eles são escassos em nossa língua e normalmente muito caros.

Você deve notar que estudiosos sérios não apenas argumentam a respeito do seu ponto de vista, mas
citam outros estudiosos que discordam de seu argumento. Quando questões assim envolvem gramática,
então você deve dedicar algum tempo para compreender a discussão por meio de um estudo pessoal da
sintaxe do termo ou oração.

Passos para uma análise adequada:


Gordon Fee sugere que o estudioso separe as frases e palavras que requerem análise mais detalhada
após a tradução inicial que ajudará a identificação.
1. O que o estudante deve focar em cada um dos termos:

1.1. Para substantivos e adjetivos: determine a função sintática que o caso desempenha na
frase/oração e qual a sua relação sintática com o termo que modifica.

1.2. Os substantivos e adjetivos no genitivo e no dativo são os termos que requerem mais atenção
aqui.

1.3. Possuir um resumo dos usos sintáticos de ambos os casos vai ser grande proveito para o
estudante

2. Para os Verbos: analise o aspecto verbal, o aktionsart, a voz e o modo do verbo estudado.

2.1. Tome cuidado aqui para não enxergar coisas demais. Fora do indicativo os verbos gregos não
têm noção temporal, apenas de aspecto, por isso, dê atenção especial a sintaxe dos modos verbais
nesses casos.

3. Para os Particípios: determine o uso do particípio, verbal ou adjetival. Caso seja verbal e
dependente, encontre o seu verbo controlador e determine seu uso (adverbial; circunstancial;
pleonástico; perifrástico etc.)

3.1. Particípios de uso adjetival são relativamente simples e não requerem um grande empenho para
a sua compreensão, porém, caso seja um particípio adjetival no genitivo ou dativo, realizar uma
análise sintática do caso é extremamente importante.

3.2. Preste muita atenção nos particípios adverbiais, e procure categorizá-los da maneira mais precisa
possível. (cf. WALLACE, p. 622-639, para as chaves de identificação de cada categoria
adverbial do particípio).

4. Para as conjunções e preposições:

4.1. As preposições: relembre o significado primário da preposição em si mesmo (i.e. a relação


local/espacial) e então a abrangência de significados possíveis quando um caso específico
está envolvido5

5
Para uma discussão mais completa sobre a relevância da exegese das preposições e suas implicações, veja: VERCELINO,
Pedro H. A Importância das Preposições Gregas para a Teologia. Disponível em:
https://www.academia.edu/38593721/A_Import%C3%A2ncia_das_Preposi%C3%A7%C3%B5es_Gregas_para_a_Teolog
ia
4.1.1. As preposições demonstram a relação existente entre dois termos, sejam eles um
substantivo e um adjetivo, um verbo e um substantivo etc. Por vezes demonstram a relação
existente entre frases inteiras, por isso, encontre a frase preposicional (palavra(s) que a
preposição modifica) que a preposição governa.

4.1.2. Confira em uma gramática ou livro de referência os possíveis significados da junção da


preposição com o caso que ela modifica.6

4.1.3. Observe como o contexto influencia e até determina o significado da locução


preposicional (prep. + subst./adj.)

4.2. As conjunções: observe como as conjunções conectam as frases, orações e parágrafos,


dando sequência e desenvolvendo a argumentação do autor.

4.2.1. A compreensão da intenção do autor só é possível quando se compreende a maneira


como ele desenvolve seu argumento, e as conjunções são chave para esse
desenvolvimento.

4.2.2. Diferencie as conjunções coordenadas (καί, δέ, γάρ, αλλά, οὖν, ἤ, τε, οὐδέ, οὐτέ e εἴτε
etc.) das conjunções subordinadas (ὅτι, εἰ, καθώς, ὡς, γάρ, ὅτε, ἵνα, ὅταν, ἐάν, ὅπως, ἕως,
μή, μήποτε) e determine a relação que elas estão estabelecendo.7

4.2.3. Algumas dessas relações são: contraste; progressão; alternância; propósito; causa;
progressão; comparação; negação; explicação; condição etc.

4.2.4. É interessante notar que normalmente a análise das conjunções é relegada a etapa da
análise estrutural e não da análise gramatical em alguns manuais de exegese 8, porém, a

6
Dois ótimos recursos para essa etapa são: PINTO, Carlos Osvaldo; DIAS, Marcelo. Fundamentos para a Exegese do
Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 2020; HARRIS, Murray J. “As Preposições e a Teologia do Novo
Testamento Grego” em BROWN, Colin & COENEN Lothar. (orgs.); trad. Gordon Chown. 2 ed. Dicionário Internacional
de Teologia do Novo Testamento. 2vol. São Paulo, SP: Vida Nova, 2000, p. 1748-1792.
7
O melhor material que encontrei até hoje nesse quesito se encontra em: SCHREINER, Thomas R. Interpreting the
Pauline Epistles, 2ªed. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2012 ebook Edition. Schreiner oferece uma análise completa de
todas as relações existentes entre as frases e orações gregas e as divide nas mais diversas categorias, demonstrando quais
conjunções são usadas para expressar que tipo de relação. O resumo que Schreiner oferece no final do capítulo é digno de
ser copiado e de se ter consigo sempre.
8
Cf. Gordon Fee, que lida com as conjunções na etapa da diagramação e estrutura, e Schreiner que lida com as conjunções
em um capítulo separado da análise gramatical chamado: “Tracing the Argument” [Traçando o Argumento]
estrutura de uma passagem e consequentemente o seu esboço deve ser derivado da análise
correta da gramática e, consequentemente, das conjunções.

2. Como realizar a análise sintática do texto:9

No seu processo de analisar a gramática do texto bíblico estudado, siga o mesmo caminho utilizado na
tradução, ou seja, comece pelos verbos, depois analise o predicado, os termos essenciais e por fim, os
termos acessórios da oração.10

I. Comece analisando os verbos selecionados, observando como seu aspecto colabora para a
compreensão do texto; determine que tipo de ação (aktionsart) o verbo retrata; analise a voz do
verbo em relação ao sujeito e, por último, lide com o modo do verbo; observando
possíveis partículas modificadoras que podem ter influência no significado do mesmo (como no
caso do subjuntivo).
II. Após os verbos, lide com os particípios adverbiais. muito daquilo que é empregado na análise dos
verbos será útil na análise dos particípios também, porém, lembre-se que no caso dos ptcps.
adverbiais, determinar o uso correto, de acordo com a estrutura e o contexto é o maior objetivo.
Junto com análise dos ptcps. realize a análise dos infinitivos, eles podem ser muito simples, como
os complementares ou de grande relevância exegética como os infinitivos adverbiais.
III. Lide com os substantivos e adjetivos, dando especificamente atenção a função sintática deles nas
orações e a maneira que eles modificam os termos com os quais se relacionam.
IV. Analise as frases preposicionais e a relação da preposição com o caso que ela acompanha, para
compreender o significado pretendido pelo autor na relação ‘frase prep. – verbo’ ou, ‘frase prep.
– adj. / subs. com a qual se relaciona’
V. Estude as conjunções do texto e procure determinar os tipos de relações que elas expressam. Os
léxicos podem ser um bom auxílio aqui para demonstrar a força e o campo semântico das
conjunções, bem como as gramáticas, para demonstrar os tipos de relações que elas expressam.

9
Caso o estudante queira uma apresentação mais completa do processo de análise gramatical, deve conferir: GRASSMICK,
John D. Exegese do Novo Testamento: Do Texto ao Púlpito. São Paulo, Vida Nova, 2009, p. 137-140
10
Parte desse ponto foi desenvolvido a partir do capítulo de J. William Johnson, Grammatical Analysis, em: BOCK,
Darrell L.; FANNING, Buist, M. Interpreting the New Testament Text: Introduction to the Art and Science of
Exegesis. WHEATON, IL: Crossway, 2007, p. 59-62.
Nos casos em que você precisa tomar uma decisão entre mais de uma opção, as sugestões dadas por
Gordon Fee11 para uma decisão consciente podem ser muito úteis sugere pelo menos 4 passos para
uma decisão consciente:
1. Esteja ciente das opções gramaticais possíveis
2. Consulte as gramáticas e outras ferramentas (chave linguística etc.)
3. Pesquise o uso que o autor faz em outros lugares.
4. Decida pela opção que faz mais sentido com os usos do autor e consequentemente com o contexto
imediato e fluxo de argumentação do autor.

Um lembrete essencial
Quando estamos lidando com análise gramatical de um texto, é sempre necessário lembrar que o
conhecimento da gramática não resolve todos os problemas interpretativos do texto bíblico estudado, e
que essa é somente uma das etapas de todo o processo exegético no qual o interprete deve estar
envolvido para descobrir o real significado pretendido pelo autor.

Ao se deparar com um dilema linguístico no seu texto, o estudante deve estar consciente que a análise
gramatical lhe fornecerá opções possíveis para a solução do mesmo, de acordo com as regras e
funcionamento da língua grega, porém, uma decisão sintática, por exemplo de um genitivo, ou do
sentido adverbial de um particípio nunca pode ser tomada simplesmente por questões puramente
gramaticais, mas sim contextuais. Como bem diz Moises Silva, "o contexto não apenas nos ajuda a
entender o significado; ele praticamente constrói o significado"12.

O estudante que se aventura então na análise gramatical de um verbo, substantivo, preposição ou


qualquer outro termo em uma oração deve estar consciente que "o significado de uma palavra depende
não apenas do que ela é em si mesma, mas de sua relação com outras palavras e outras frases que são
formadas em seu contexto."13. A análise gramatical bem feita apresentará possibilidades interpretativas
e protegerá dos abusos14, porém, a decisão final é sempre contextual. A melhor opção gramatical é
sempre a que se encaixa melhor no contexto e não a que é apenas ‘gramaticalmente possível’.

11
FEE, Gordon D. New Testament exegesis: a handbook for students and pastors. 3rd ed. Louisville, KY: Westminster
John Knox Press, 2002, p. 75-78
12
SILVA, Moisés. Biblical Words and Their Meaning. Grand Rapids: Michigan: Academie Books (Zondervan), 1983,
p.139.
13
THISELTON, Anthony. Semantics and New Testament Interpretation. In New Testament Interpretation. Ed I.
Howard Marshall. Grand Rapids: Erdmans, 1977, p. 78-79
14
Veja por exemplo o famoso artigo de Frank Stagg, “The Abused Aorist,” JBL (1972) 222-31, e o artigo mais recente
de David Mathewson, “The Abused Present”. Bulletin for Biblical Research 23, no 1–4 (2013).
3. Organize suas descobertas:
John D. Harvey sugere que a melhor maneira de organizar a análise gramatical de um texto é por meio
de um procedimento de três passos, são esses, coletar, classificar, comentar. Comece coletando os
termos que são essenciais para um estudo detalhado (realizado anteriormente). Classifique cada um dos
termos de acordo com as categorias sintáticas padrão da maneira mais precisa possível (de acordo com
os passos sugeridos por Fee) e, por fim, comente a importância dessa classificação para a interpretação
correta da passagem.15

Observe a análise gramatical de Gl 5.16 abaixo:

Texto grego:

Λέγω δέ, πνεύματι περιπατεῖτε καὶ ἐπιθυμίαν σαρκὸς οὐ μὴ τελέσητε.

Tradução: “Mas eu digo, andem por meio do Espírito e assim, de maneira nenhuma satisfarão o desejo
carnal”

Diagramação:

15
HARVEY, John. D. Interpretação das Cartas Paulinas: Um prático e indispensável manual de exegese. São Paulo,
SP: Cultura Cristã, 2007, p. 136.
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Expressão idiomática que conecta por Ao introduzir o parágrafo com essa


meio de um contraste a declaração expressão, Paulo contrasta a realidade que os
anterior com a declaração que introduz. gálatas estavam vivendo de conflito oriundo
Λέγω δέ (1Co 1.12, 7.8; Gl 4.1) da carnalidade (v.13, 15) com a alternativa
correta a esse estilo de vida, a vida espiritual
que é contrária aos desejos carnais do v. 16.

Dat. instrumental: "por meio do espírito" O dat. πνεύματι é o instrumento pelo qual a
// dativo de esfera, enfatizando a estrutura ordem expressa pelo verbo principal deve ser
πνεύματι dentro da qual a ação do verbo é feita. a cumprida. Os gálatas deveriam viver um novo
nuança desse dativo é muito difícil de estilo de vida que é possível por meio da ação
decidir. Ele é prov. ambiguo. e capacitação do Espírito.

Verbo pres. impv. expressando ordem: a ordem para os cristãos da Galácia é que eles
"andem continuamente" tenham um estilo de vida que
é interruptamente vivido sob o poder e
O sentido léxico de περιπατέω, o aspecto direção do Espírito.
περιπατεῖτε do tempo presente e a ausência de uma
interrupção para a ordem de andar
colaboram para a compreensão de que
aqui o que se pretende comunicar é uma
ação continua.

Conj. coordenada introduzindo o A segunda oração, introduzida por και deve


resultado daquilo que precede. funciona ser entendida semanticamente como o
καὶ como o conectivo entre a prótase e a resultado da oração anterior.
apódose.

Funciona como objeto direto do verbo O gn. σαρκὸς definiu o subst. ἐπιθυμία como
ἐπιθυμίαν τελ́εω. σαρκὸς é um gn atributivo: algo pecaminoso, fazendo uma conexão com
σαρκὸς "desejo carnal" v.13 e sintetizando a descrição do
comportamento dos Gálatas no v. 15.

A constr. οὐ μὴ + Ao. subj. expressa uma A promessa expressa na apódose da oração é
negação enfática. a expressão não deve a de que a vida a parte da satisfação dos
ser entendida como uma ordem, mas, desejos carnais na comunidade é possibilitada
como a primeira oração possui um por meio da longa obediência na mesma
οὐ μὴ imperativo e essa uma negação enfática, direção, na direção ditada pelo Espírito.
τελέσητε. sendo ambas são conectadas por um και,
essa expressão deve ser entendida
funcionando semanticamente como a
apódose de uma oração condicional de 3ª
classe.
4. Como comunicar decisões gramaticais importantes na pregação:

4.1. Procure por traduções em português que possuam sua opção sintática e use essa tradução como
texto base, ou, como comentário a sua pregação (Ex.: Rm 12.2 e a trad. da BJ)

4.2. Nunca cite termos técnicos da língua (casos, modos, construções e tempos verbais) no púlpito, a
não ser que essa informação seja de extrema importância (até hoje eu não encontrei um texto em
que esse tipo de informação fosse de extrema importância)

4.3. Quando existe algo relevante da gramática a ser comunicado, procure explicar, primeiro, a partir
da gramática da língua portuguesa.

4.4. Quando estiver lidando com expressões idiomáticas da língua grega, procure por expressões
equivalentes na língua portuguesa que façam sentido para seu público ouvinte.

4.5. Cuidado com frases do tipo: “poderia ter sido mais bem traduzido por”; “essa frase na verdade
significa”; “a melhor tradução dessa palavra/expressão é”; “essa é a maneira como está em
português, porém, em grego está da seguinte forma”; “uma tradução mais literal seria” etc. Ao
invés de propor uma explicação acurada do texto, na verdade, você desacreditará a tradução bíblica
que sua comunidade possui em mãos, minando a confiança deles no texto traduzido, o que, se
acontecer, será extremamente prejudicial para a fé e para o discipulado.

A melhor maneira de apresentar suas conclusões exegéticas a respeito da sintaxe é de uma maneira que
não diminua a qualidade e autoridade das traduções consagradas (NVI, ARA, NAA, NVT) que temos
em português, nem sugerir que você está propondo correções a elas, mas simplesmente que você está
explicando com detalhes aquilo que não é possível de ser transportado por meio de uma tradução 16. Em
suma a regra geral para o pregador versado nas línguas originais é: tire todo o proveito possível delas,
mas tome sempre cuidado com a maneira que comunicará aquilo que encontrou.

Lembre-se sempre, na sua análise gramatical você sempre descobrirá mais do que terá condições e
deverá comunicar ao seu público. 80% daquilo que estudamos não irá conosco para a frente do púlpito

16
Um texto incrível a respeito desse assunto é o capitulo 10 Do livro: “The Practical Use of the Greek New Testament”
[O Uso prático do Novo Testamento Grego] de Kenneth Wuest. O capítulo 10, “The practical method of presenting the
Added Light From the Greek Text” [O método prático de apresentar a a luz adicionada do texto em grego], onde ele ensina
como o expositor/pregador comunica suas descobertas exegéticas de uma maneira humilde e que leva sua audiência em
consideração, é incrível e totalmente desafiador.
e decidir quais serão esses 20%17 é uma das tarefas mais difíceis no processo de estudo e preparo do
sermão, por isso, esteja sempre procurando discernir aquilo que é periférico e aquilo que é central na
mensagem do texto, aquilo que é essencial para sua compreensão do texto daquilo que é essencial para
que os seus ouvintes compreendam aquilo que você pretende ensinar, a partir do texto.

Esteja preparado para responder possíveis dúvidas, a respeito do seu sermão, ensine da maneira mais
clara possível, para que elas não surjam, porém, não ofereça aos seus ouvintes informações que eles
não têm condições de lidar.

Quero repetir aqui o conselho de Kenneth S. Wuest registrado em seu Livro, The Practical Use of the
Greek New Testament, que serve de encorajamento para todos os estudantes e pastores que conhecem
a língua grega:
“O pastor não deve hesitar em usar o grego no púlpito. Quando seu povo sabe que ele é um estudante
diligente da Palavra, e passa seu tempo em estudos intensivos em sua preparação para suas
mensagens. [...] Não existe prêmio para a ignorância. Um ministro [academicamente] educado que é
espiritual, é uma das coisas mais bonitas do mundo. Um pastor, treinado até as pontas dos dedos, cheio
do Espírito Santo, apresenta a combinação ideal para um serviço eficaz.”18

Sugestões Bibliográficas
Aqui o estudante encontrará uma lista de diversas obras de referência tanto na área de sintaxe do
Novo Testamento Grego quanto de Metodologia de Exegese e do relacionamento entre a Exegese e a
Exposição.

Manuais de Exegese
BATEMAN IV, Herbert W. Interpretação das Cartas Gerais: Um manual Exegético. São Paulo,
SP: Cultura Cristã, 2017.
BOCK, Darrell L.; FANNING, Buist, M. Interpreting the New Testament Text: Introduction to
the Art and Science of Exegesis. WHEATON, IL: Crossway, 2007
FEE, Gordon D. New Testament exegesis: a handbook for students and pastors. 3rd ed. Louisville,
KY: Westminster John Knox Press, 2002.
GRASSMICK, John D. Exegese do Novo Testamento: Do Texto ao Púlpito. São Paulo, Vida Nova,
2009

17
Devo a Marcelo Berti essa porcentagem.
18
WUEST, Kenneth S. The Practical Use of the Greek New Testament. Chicago, IL: Moody Press, 1982, p. 141.
GUTHRIE, George H., e J. Scott Duvall. Biblical Greek Exegesis: A Graded Approach to Learning
Intermediate and Advanced Greek. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1998.
HARVEY, John. D. Interpretação das Cartas Paulinas: Um prático e indispensável manual de
exegese. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2007.
KAISER, Walter C., Jr. Toward an exegetical theology: Biblical exegesis for preaching and
teaching. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 1981.
LARKIN, William J. Greek is Great Gain: A Method for Exegesis and Exposition. Eugene, OR:
Wipf & Stock, 2008.
NASELLI, Andrew David. How to Understand and Apply the New Testament: Twelve Steps from
Exegesis to Theology. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2017.
SCHREINER, Thomas R. Interpreting the Pauline Epistles, 2ªed. Grand Rapids, MI: Zondervan,
2011.

Gramáticas Intermediárias
Lingua portuguesa
PINTO, Carlos Osvaldo C.; DIAS, Marcelo. Fundamentos para a Exegese do Novo Testamento. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2020
WALLACE, Daniel B. Gramática Grega: Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento. Primeira
edição em português. ed. São Paulo, SP: Editora Batista Regular, 2009.

Lingua inglesa
MATHEWSON, David L.; EMIG, Elodie B. Intermediate Greek Grammar: Syntax for students of
the New Testament. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2016.
MOULE, C. F. D. An Idiom Book of New Testament Greek. 2ª ed. Cambridge: University Press,
1959.
PORTER, Stanley E. Idioms of the Greek New Testament. Sheffield: JSOT, 1999.

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