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Formação Inicial e
Continuada
+
IFMG
Gláucia do Carmo Xavier
Kelly Cesário de Oliveira
Gramática do Português
1ª Edição
Belo Horizonte
Instituto Federal de Minas Gerais
2021
© 2021 by Instituto Federal de Minas Gerais
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Sobre o material
Formulário de
Sugestões
1É possível constituir sintagmas com apenas uma palavra, que pode ser produzida com ou sem nenhum tipo
de representação sonora. Veremos isso mais adiante.
Figura 1: O verbo construir como predicador
Fonte: elaborada pelas autoras
O verbo em questão exige algo ou alguém para construir e algo para ser
construído, como nas frases:
a) A empreiteira construiu um prédio.
b) Bárbara construirá sua loja.
c) Bruno está construindo uma vida melhor.
Bárbara, por exemplo, constrói algo e algo é uma loja. Bárbara é o sujeito
da ação exigida pelo verbo enquanto sua loja é o complemento que conclui as
demandas impostas por construir. Isso é sintaxe. É desta forma que você irá
entender conosco que a frase somente é uma estrutura completa quando o
predicador tem suas exigências concretizadas, a partir de uma relação
estabelecida entre sintagmas.
Dando sequência à apresentação de nossa proposta para o ensino
simplificado de gramática, como objetivos específicos, esta apostila pretende
apresentar uma base para que estudantes compreendam:
(i) a diferença entre frases, orações, enunciados, períodos e sintagmas.
(ii) as regras de estruturas frasais;
(iii) a organização e a constituição das frases do Português Brasileiro.
Bons estudos!
Gláucia do Carmo Xavier
Kelly Cesário de Oliveira
Apresentação do curso
Este curso está dividido em três semanas, cujos objetivos de cada uma são
apresentados, sucintamente, a seguir.
Os ícones são elementos gráficos para facilitar os estudos, fique atento quando
eles aparecem no texto. Veja aqui o seu significado:
Objetivos
Neste módulo, você entenderá, formalmente, o que é: sintaxe,
sintagmas, frases (diferente de orações e enunciados),
predicação e, por fim, tipos de sujeito.
Como apontado na introdução desta apostila, existe uma imagem quase consensual
sobre a gramática do Português Brasileiro (PB) ser um pesadelo e, ainda pior, inacessível
para os próprios falantes da Língua Portuguesa. Neste módulo, trabalhamos com a Estrutura
Sintática do PB, ou seja, como uma frase é composta e estruturada por falantes da nossa
língua materna. Antes de trabalhar com questões específicas da sintaxe formal, como
predicados, predicadores e tipos de sujeito, vamos pensar nas noções de frases e
sintagmas, já anunciadas anteriormente.
e como aquelas construídas com um ou mais verbos - estruturas que contêm verbos
são também chamadas de orações:
Aquele presidente
equivocou-se
O Ministro da Educação não
Você comprou arroz hoje? publicamente ao falar sobre
compareceu ao evento.
um assunto que não
domina.
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Aqui, além de compreender que frases englobam estruturas construídas com ou sem
a presença de verbos, entendemos que orações são estruturas que contêm,
obrigatoriamente, pelo menos um verbo.
Nos resta, então, entender o que são os enunciados. Para tanto, recorremos a Bakhtin
(1997, p. 293), importante filósofo e estudioso sobre as questões sociais e identitárias da
língua, que define o enunciado como “a unidade real da comunicação verbal”. Araújo (2014,
p. 186), refletindo sobre esta definição, afirma que “todo o processo de interação e,
consequentemente, comunicação verbal, só se dará por enunciados. Sendo assim, só há
comunicação verbal se houver enunciados”.
Nesse sentido, o enunciado não é um termo utilizado nos estudos sintáticos, uma vez
que ele se trata de questões discursivas, interativas (pensemos, aqui, em comandos de
exercícios - há uma orientação por parte de algo/alguém e há alguém para realizar as
atividades) e comunicativas, enquanto a sintaxe busca compreender a relação estrutural
entre sintagmas dentro de uma frase.
Agora, podemos passar para a noção de sintagma. Vejamos, pois, as frases a seguir:
(1) O Ministro da Economia vendeu nossas estatais. Ao encontrar asterisco no início de uma frase,
(2) Nossas estatais o Ministro da Economia vendeu. entenda-o como:
(3) *Ministro da Economia vendeu estatais o nossas. - agramaticalidade;
- frase mal formada na Língua Portuguesa;
- pouco comum para os falantes.
Na tríade acima, com o exemplo (1), observamos uma frase cuja ordem é o que
chamamos de estrutura canônica da Língua Portuguesa, ou ordem Sujeito - Verbo - Objeto
(complemento), construção mais recorrente em nossa língua: o sujeito [o ministro da
economia] aparece na primeira posição da frase, seguido do verbo [vendeu] e do
complemento [nossas estatais]. Em (2), percebemos que o verbo (predicador da oração em
pauta) ainda mantém suas exigências satisfeitas mesmo com a estrutura elaborada na
ordem OSV (objeto - sujeito - verbo). Já na letra C, com a construção de uma estrutura
desordenada, temos uma frase mal formada. Aqui, é importante observar que a ordem da
estrutura não é o suficiente para construirmos uma frase gramatical. Vejamos mais um
exemplo:
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Observe que a palavra [ontem], nas posições em (5) e (6), está causando a
agramaticalidade das frases. Isso acontece porque [ontem] não pertence aos sintagmas
[nossas estatais] ou [o ministro da economia]. [ontem], na verdade, é um sintagma de uma
única palavra. Aqui, estamos começando a entender a noção de sintagma como um grupo
de palavras afins que não podem ser separadas.
Então, com esses exemplos, podemos definir sintagma como um grupo indivisível de
palavras. Um sintagma pode ser movido para mais de uma posição na frase, desde que ele
esteja completo, como nos exemplos (7), (8) e (9). Quando um sintagma, ou até mesmo uma
palavra, invade o sintagma a qual não pertence, como na frase (10), temos uma má formação
frasal que resulta numa agramaticalidade estrutural. Podemos, então, compreender que
frases não são compostas por palavras aleatórias, mas, são compostas por sintagmas
organizados de forma coerente entre si.
O exercício que fizemos até o momento, de mover os sintagmas para mais de uma
possibilidade de posição na frase, recebe o nome de deslocamento sintático. Esse
exercício é uma forma bastante útil para que sejamos capazes de identificar um sintagma,
pois, se um determinado grupo se move junto e a frase não se torna agramatical,
encontramos um sintagma. No entanto, se um conjunto se move com um intruso em sua
composição, sabemos que aquela organização não pode ser considerada um sintagma.
2 [comprou muitos pacotes de arroz ontem] e [de arroz] também são sintagmas.
Pronominalização Topicalização
3Há, ainda, outros testes que podem ser realizados para a identificação de sintagmas, como a clivagem, a
apassivação e a elipse. Para tanto, conferir Kenedy e Othero (2018).
S = sentença
SN = sintagma nominal
N = nome
SV = sintagma verbal
V = verbo
O verbo comprar é o predicador da frase. Ele seleciona [arroz] como seu argumento
interno (repare em como comprar e arroz estão no mesmo “ramo” do sintagma verbal).
Assim, temos o sintagma nominal [arroz], dentro do sintagma verbal [comprou arroz]. O
verbo comprar, além disso, seleciona [Ele] como argumento externo (observe, novamente,
o sintagma verbal). Dessa forma, na frase [ele comprou arroz], o verbo comprar seleciona
dois argumentos, um interno [arroz - objeto direto] e um externo [ele - sujeito].
Verbos monoargumentais
Preposição -
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Verbos biargumentais
Preposição +/-
Verbos de Ligação
Em relação aos verbos de ligação, entendemos que estes não predicam. Os verbos
de ligação selecionam o que chamamos de minioração, um sintagma composto pelo sujeito
e pelo predicativo do sujeito (KATO; NASCIMENTO, 2015). Essa tipologia verbal, então,
aparece para (i) ligar o sujeito e o predicativo e, principalmente, (ii) para atribuir traços
(características) semânticas ao sujeito. Para Castilho (2014), ser e estar, assumem a carga
de denotar certas propriedades ao sujeito, propriedades como [+] ou [-] dinâmicas, [+] ou [-]
transitórias e [+] ou [-] permanente, por exemplo (XAVIER; OLIVEIRA, 2020). Vejamos como
essas características podem ser vistas nos exemplos a seguir:
Observamos, primeiro, que o sujeito e o predicativo do sujeito são repetidos nas duas
frases, mas as características atribuídas, pelos verbos, ao sujeito, são diferentes. Em (11),
as características [-] dinâmico e [+] permanente são atribuídas, pelo verbo ser, ao sujeito
[Guilherme], revelando peculiaridades fixas do sujeito. Já em (12), as características [+]
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dinâmico e [+] transitório são atribuídas ao sujeito, revelando outros tipos de peculiaridades
do sujeito. Ademais, o predicativo do sujeito é um predicador nominal, pois é este elemento
que que diz algo sobre o sujeito.
Antes de passarmos para uma análise mais detalhada de cada uma dessas tipologias
verbais, falemos sobre os predicados verbo-nominal. Essa tipologia é significativa quando,
na frase, temos mais de um núcleo predicador, justamente um verbo e um nome, como na
frase [Dulce estudou despreocupada]. Estudar é o predicador que seleciona os argumentos
da frase e [despreocupada] predica, isto é, atribui uma característica à Dulce.
Embora não tenhamos um argumento externo especificado para cada uma das frases
anteriores, sabemos que os verbos em pauta precisam ter essa posição preenchida por um
sintagma condizente com a ação verbal. Pescar é um verbo que pede um argumento
externo, como um ser com habilidades específicas. Viajar é um verbo que pede algo ou
alguém capaz de exercer tal ação, como um estudante brasileiro participante de um
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intercâmbio no Canadá. Dançar é um verbo que pede alguém para realizar uma ação.
Acordar é um verbo que pede um ser, literalmente, para realizar tal ação, ou algo inanimado
para realizar construções metafóricas, como em [o céu acordou triste]. Esses são alguns
exemplos, mas poderíamos acrescentar uma série de possibilidades condizentes para o
preenchimento da posição do argumento externo.
Nas frases (17), (18) e (19), os itens destacados fazem parte do que chamamos de
termos acessórios. De forma mais específica, estes são adjuntos adverbiais de tempo, modo
e lugar, respectivamente. Compreenderemos melhor os termos acessórios na seção
seguinte, mas, aqui, é importante enfatizar que adjuntos adverbiais (e adnominais!) não são
selecionados pelo predicador, ou seja, a presença de um em frases não é sintaticamente
obrigatória, é opcional. Em (20), a situação é um pouco diferente. O sintagma “pensativo”
caracteriza o argumento externo. Nesse caso, não temos mais uma frase de predicação
verbal, temos uma frase de predicação verbo-nominal, em que o verbo seleciona os
argumentos e um deles é uma característica a respeito de X.
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Em (22), o verbo dizer seleciona [asneiras] como seu argumento interno e, também,
seleciona [aquele ministro] como argumento externo. Vejamos na imagem.
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Aqui, é indispensável pensar em [aquele], o Como postulado por Kenedy e Othero (2018),
determinante da frase, ou seja, o termo que postula a classe dos determinantes é de extrema
importância para marcar o plural em
que há um Ministro específico falando asneiras. Não sintagmas nominais na oralidade: "Os
é UM Ministro ou O Ministro, é AQUELE menino", por exemplo, são produções
Ministro. Vejamos, agora, a representação arbórea recorrentes enquanto "O meninos" não.
deste exemplo.
Por fim, na frase (23), o predicador, encontrar, ainda que venha acompanhado da
negativa, seleciona [bom senso] como seu argumento interno e [Paulo] como seu argumento
externo, completando o sentido do verbo e deixando a frase gramatical.
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O argumento externo encontra-se fora do sintagma verbal. Por haver uma preposição
na frase, o argumento interno tem uma preposição como núcleo, ou seja, há um sintagma
preposicional pertencendo ao sintagma verbal. Dentro do sintagma preposicionado, há um
sintagma nominal para finalizar nossa árvore sintática. Exemplificando essa tipologia verbal,
consideremos os verbos assistir, concordar e confiar.
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Em (26), uma frase não muito diferente das últimas, o verbo confiar seleciona [em
você] como argumento interno, cujo sintagma é formado pela preposição [em] e o nome
[você].
Figura 10: estrutura argumental do verbo biargumental com mais de um argumento interno
Fonte: elaborada pelas autoras
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Em (27), o verbo informar seleciona [os riscos do remédio] como argumento interno
sem preposição e [aos pacientes] como outro argumento interno, no entanto, este está
preposicionado. O predicador ainda seleciona [a comunidade médica] como seu argumento
externo.
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(31) *Guilherme é
(32) *Guilherme está
Em (31) e (32), mesmo com a presença dos verbos ser ou estar, a agramaticalidade
das frases é causada pela ausência do predicativo do sujeito, ou seja, pela ausência do
núcleo predicador dessas estruturas.
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Nas frases (35) e (36), temos, ainda, exemplos de sujeitos simples, isto é, com um
único núcleo no sintagma nominal, mas flexionados no plural. Nesse segmento, os verbos
devem acompanhar o sujeito e concordar em gênero e número. Os determinantes [os],
explícito em (35) e oculto em (36) (Ø), designam a relação de plural entre sujeito e verbo.
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pessoa do plural; (ii) com o verbo na terceira pessoa do singular acompanhado pelo pronome
“se” e (iii) com o verbo no infinitivo impessoal.
Verbos no infinitivo impessoal, isto é, verbos sem nenhum tipo de flexão, porém em
um estado genérico, também são responsáveis pela indeterminação do sujeito, como
atestado pelas seguintes frases:
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sujeito são importantes para ilustrar a composição de frases apenas com o sintagma verbal,
considerando o verbo impessoal. Isso pode ser feito de duas formas: (i) quando o verbo
exprime fenômenos da natureza ou (ii) quando os verbos ser, estar, fazer e haver indicam
tempo ou fenômenos meteorológicos. Vejamos um exemplo para cada.
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Semana 2 – Uma visão sobre Termos Essenciais e Termos
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Acessórios
Objetivos
Neste módulo, você avançará nos estudos sobre os termos
essenciais (selecionados pelo predicador), sobre os termos
acessórios (estão nas frases, mas não são selecionados pelo
predicador) e sobre o papel das vírgulas na estrutura sintática.
Neste módulo, você irá estudar os chamados termos essenciais e acessórios de uma
frase. É verdade que já trabalhamos com os termos essenciais anteriormente, no entanto,
neste módulo, trabalharemos com estes em contraste com os termos acessórios, o que nos
permitirá uma visão mais crítica e, principalmente, mais simplista desses termos.
Vamos lá?
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(54) Nesta manhã, a comunidade médica informou aos pacientes sobre os riscos da COVID-
19.
(55) O bolo do aluno estava delicioso.
(56) Guilherme, um grande amigo, considera o remédio inapropriado para o tratamento.
(57) Paulo, invista mais em sua saúde.
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da COVID-19] para completar o sentido da frase. No entanto, o que temos a dizer sobre o
item em negrito, [nesta manhã]?
Podemos dizer que [nesta manhã] é um adjunto adverbial de tempo, termo que
modifica e especifica a ação verbal, informando que foi em uma manhã específica que houve
um pronunciamento informativo da comunidade médica, sobre os riscos trazidos pela
COVID-19. Sabemos, ademais, que [nesta manhã] não é selecionado pelo verbo informar,
portanto, ele só pode ser um termo acessório.
Em (55), [do aluno] está apontando uma característica acessória para o sintagma [o
bolo]. A frase não perderia o sentido caso [do aluno] seja retirado da estrutura. Nesse
sentido, entendemos que o adjunto adnominal, termo capaz de caracterizar outro, não é
selecionado como pelo predicativo do sujeito, mas aparece, mesmo assim, para dizer algo
sobre o argumento externo, nesse caso.
Em (57), [Paulo] está em posição de tópico (como vimos por meio dos testes de
topicalização) e é acompanhado, mesmo que separado por vírgula, do verbo investir no
imperativo. A ideia de que uma ordem está sendo dada a Paulo, melhor, a ideia de que
chamamos a atenção de Paulo para que ele se cuide, coloca [Paulo] como o vocativo da
frase. Outro termo acessório, já que não é selecionado por nenhum predicador.
Nesta seção, trabalharemos com dois termos que entram em conflito em exercícios
classificatórios: o complemento nominal, termo essencial, é constantemente confundido
com o adjunto adnominal, termo acessório. Os nomes destes termos parecem mais
complexos do que sua caracterização.
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Os políticos do Rio de Janeiro faltaram à sessão. ___ políticos ___ faltaram à sessão.
Tabela 7: o adjunto adnominal
Fonte: elaborada pelas autoras
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Os adjuntos são termos acessórios com o poder de modificar muitos aspectos de uma
frase. Por exemplo, um adjunto adverbial pode modificar, intensificar, especificar, entre
outros, o sentido de um verbo, um adjetivo, um advérbio e, também, uma frase inteira. Um
adjunto adnominal acompanha um nome para exercer funções semelhantes ao adjunto
adverbial. A ideia central destes dois termos é que eles vêm juntos, acoplados, a outro
termo.
Muitas (intensidade) queimadas criminosas ocorreram no pantanal (lugar) nesta semana (tempo).
A partir dos exemplos, compreendemos que o mesmo adjunto adverbial pode abarcar
uma série de classificações, bem como uma mesma frase acolher diversos adjuntos e
demais termos não selecionados pelo predicador. Nesse sentido, defendemos que não
existe a necessidade de decorar as classificações assumidas pelos adjuntos: além de ser
um exercício cansativo e demorado, é, acima de tudo, um exercício inútil.
Com a frase [como o arroz está caro, não o compraremos hoje], muito antes de
compreender que [como o arroz está caro] é um adjunto de classificação X, entendemos,
intuitivamente, que essa é uma condição para a não obtenção de um produto. Formalmente,
a frase conta com um adjunto adverbial dando uma condição para a ação verbal, isto é, um
adjunto adverbial de condição.
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Ao olhar para alguns advérbios, como muito, pouco, aqui, ali, ontem, hoje, etc., é
possível, intuitivamente, eleger o seu sentido. Muito pode indicar quantidade e/ou
intensidade - possivelmente outro significado também - e, então, temos um adjunto adverbial
de quantidade e/ou intensidade na frase. Se temos uma locução adverbial de modo
modificando, justamente, o modo de um verbo… Vocês entenderam a ideia, certo?
Em frases, o aposto, como veremos de forma mais detalhada na seção seguinte, vem
para explicar algum outro termo. O adjunto adnominal, ao contrário, acompanha e qualifica,
por meio da adjetivação, algum nome. Mesmo com características tão distintas, estes dois
termos são, comumente, confundidos quando o aposto aparece preposicionado em certas
sentenças. Para dissociar estes termos, convém ilustrarmos suas diferenças nos exemplos
a seguir:
Em (58), [de Marajó], adjunto adnominal, acompanha o nome [Ilha] para qualificar e
especificar o tema do assunto, por exemplo. Em (59), no entanto, temos um aposto
preposicionado, [do Pedro]. Embora este aposto não apareça separado por pontuação -
característica elementar do termo em questão -, expandir a frase pode ser um exercício
esclarecedor:
2.4.1 Aposto
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A partir dos exemplos, é possível observar que muitos apostos parecem exercer o
mesmo sentido, embora nossa intenção tenha sido acompanhar a lista de especificações
apontada anteriormente. Dessa forma, para realizar a classificação de um aposto, é preciso
considerar o contexto da frase inteira.
2.4.2 Vocativo
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Uma importante característica desses dois termos é que verbos não fazem parte de
sua composição. Ao inserir verbo em um aposto, temos, então, uma oração apositiva. Este
será o tópico do Módulo III de nossa apostila: períodos compostos, isto é, frases com mais
de um verbo, e como eles são formados.
A vírgula é um sinal de pontuação que pode assumir uma série de funções dentro de
frases. Inicialmente, convém mencionar que há três funções que merecem destaque:
- Nunca devemos considerar a pausa feita ao respirar para inserir vírgulas em frases. Esse
costume não passa de uma representação no imaginário das pessoas.
- Não devemos separar, por vírgulas, argumento externo do verbo predicador. Essa função
pode ser “quebrada” por termos acessórios que se encontram intercalados. Vejamos:
2.5.1 Inversão
• Dos objetos pleonásticos antepostos: À ciência, todo respeito lhe deve ser
oferecido.
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Liza leu terror e João, drama. (Aqui, a vírgula evitou a repetição do verbo)
O professor, preocupado com a situação do país, falou sobre a importância das matas
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Semana 3 – Período Composto: Coordenação e Subordinação
Objetivos
Neste módulo, retomaremos alguns conceitos tratados
anteriormente para estudarmos, especificamente, o período
composto e o que esta classificação comporta: orações
coordenadas e orações subordinadas.
No primeiro módulo desta apostila, vimos que frases são toda e qualquer estrutura
produzida na língua, e agora as tomamos como uma ideia completa finalizada com ponto,
que pode ser estruturada, por exemplo, da seguinte maneira:
(77) Olá!
(78) O presidente equivocou-se publicamente ao falar sobre um assunto que não domina.
Assim, entendemos que frases podem ser estruturas produzidas sem a presença de
verbo (frases nominais) e podem ser estruturas produzidas com um ou mais verbos (período
simples e período composto). No entanto, ao lidarmos com o termo orações, entendemos
que (78) pode ser considerada uma, mas (77) não. Orações, nesse sentido, são toda e
qualquer estrutura produzida na língua com a presença de pelo menos um verbo. Se há
apenas um verbo na estrutura, temos um período simples, conforme já estudamos. Se há
dois verbos na estrutura, temos um período composto.
3.2.1 Coordenação
Agora, veremos mais sobre a estrutura das orações coordenadas, que se dividem em
dois grupos: orações assindéticas, que não contam com a presença de uma conjunção para
ligar as orações, e orações sindéticas, marcadas pela união das orações por meio da
conjunção. Basta pensarmos na palavra sindetos, que significa, grosso modo, presença de
conjunções, e no prefixo de negação "a". Assindéticas, então, são orações que negam a
presença de conjunções. Comecemos por elas.
• Orações Assindéticas
Orações assindéticas são orações coordenadas que não são combinadas por meio
de um elemento de ligação, como conjunções. Observe, agora, algumas orações
assindéticas:
Em (79), a oração [eu corri pela manhã] é equivalente a [ele correu pela tarde]. Se
tivéssemos apenas uma das orações, teríamos, de toda forma, um contexto completo. No
caso de (79), o que pode causar estranhamento é o mesmo verbo repetido nas duas
orações, ainda que com flexões distintas. Uma estratégia para evitar esse estranhamento
seria lançar mão da elipse, que, como já sabemos, é uma artimanha para que o verbo não
seja repetido, como ocorre em (80). Em (81), temos uma oração com dois verbos distintos,
defender e ter, coordenados no período.
Apostos, advérbios e locuções adverbiais devem ganhar mais espaço no ensino como
possíveis colaboradores de uma compreensão mais intuitiva e menos “decorável”. De fato,
como todos esses termos, as conjunções, itens de ligação em orações sindéticas, também
podem assumir mais de uma função a depender do contexto. No entanto, se observamos,
de forma atenta, ao que as conjunções estão ligando, conseguimos entender o sentido da
oração sindética sem decorar termos como orações sindéticas adversativas. Observe as
frases a seguir para comprar nossa posição anti-memorização.
Em (82), o período composto foi formado por dois verbos unidos pela conjunção [e].
Correr e cansar são dois eventos independentes naturalmente não conectados. No entanto,
a conjunção contabiliza a ação de cansar como efeito de correr e, então, temos uma soma
de eventos.
Em (87), a conjunção [pois] não está justificando ou explicando algum contexto, mas,
sim, exercendo a função de chamar a atenção do leitor para o que será tratado em seguida.
Então, estudante, agora que temos sua atenção: invista em entender o sentido da conjunção
que está ligando as orações e busque compreender como ela auxilia, de modo geral, a
construir o processo de significação do período inteiro.
Aqui, seguimos defendendo que não é preciso memorizar títulos para compreender
um período. Evidentemente, provas e muitos exercícios classificatórios cobram que
saibamos todas as nomenclaturas e que saibamos, imediatamente, como fornecer exemplos
para explicá-las. Nossa proposta para esta seção é que a partir dos períodos compostos e
da retomada da compreensão de termos que aprendemos, seja possível inferir e classificar
a função sintática da oração subordinada. Então, à luz de Bechara (2009), trataremos a
oração subordinada como aquela que
Ainda, a subordinação exerce uma função sintática dentro do período composto, isto
é, uma oração subordinada substantiva, por exemplo, assume uma das funções que já
conhecemos: sujeito, objeto direto, objeto indireto, aposto, complemento nominal e
predicativo do sujeito. A oração subordinada adjetiva assume a função de adjunto
adnominal ao restringir, caracterizar e reduzir termos. Por fim, a oração subordinada
adverbial acomoda advérbios de causa, comparação, concessão, entre outros, para explicar
o sentido dos verbos presentes no período.
Neste período, a oração subordinada [que ele assuma o poder novamente] atua como
o sujeito da oração matriz [não é possível], isto é, como termo essencial. Há, nesse
segmento, uma relação de dependência entre as orações para que o todo o período faça
sentido e complete as exigências dos predicadores.
Oração Subordinada
(90) O povo necessita de que Guilherme mude a cidade.
Substantiva Objetiva Indireta
Em (90), o verbo necessitar exige algo. Neste caso, a oração subordinada [de que
Guilherme mude a cidade] atende a exigência do predicador na condição de objeto indireto.
Veja bem: [de que guilherme mude a cidade] é o algo que o povo necessita. Então, temos
uma oração com preposição completando o sentido do verbo predicador da oração matriz.
Aqui, não preciso saber que esta é uma oração subordinada substantiva objetiva indireta.
Precisamos, de fato, entender que há uma oração completando o sentido da outra ao exercer
a função de objeto indireto.
O homem revelou à
que lutassem pelo mesmo coletivo Oração Subordinada
(91) sua namorada seu
socialista. Substantiva Apositiva
maior sonho:
Oração Subordinada
Este livro despertou que nós pesquisemos sobre
(92) Substantiva Completiva
interesse para sensibilidade à violência doméstica
Nominal
Em (92), [este livro despertou interesse para] é a oração matriz e [que nós
pesquisemos sobre a sensibilidade à violência doméstica] é a oração subordinada que
complementa o nome [interesse].
Oração Subordinada
(93) O problema é que a paciência do povo acabou.
Substantiva Predicativa
Neste exemplo, o verbo de ligação [é] compõe a oração matriz com o sujeito [o
problema]. A oração subordinada, [que a paciência do povo acabou], exerce a função
sintática de predicativo do sujeito (com o acréscimo do verbo acabar), completando o sentido
do período.
Para finalizar esta subseção, trazemos um quadro com o tratamento da NGB para
com as orações subordinadas substantivas seguido do que consideramos necessário
durante uma análise sintática: perceber a função sintática de uma oração e como essa
função contribui para o sentido do período é compreender as exigências feitas pelo
predicador. Esse exercício auxilia no entendimento e caracterização da oração subordinada
substantiva sem que haja a necessidade de memorizar extensas nomenclaturas.
Repare, aqui, na diferença entre os exemplos (94) e (95). [que têm leito], na primeira,
delimita um grupo “somente os hospitais que têm leito”. Na segunda, a mesma expressão,
isolada por vírgulas, caracteriza/explica a condição de um grupo. Temos, dessa forma, uma
oração adjetiva restritiva e uma oração explicativa, respectivamente.
Uma outra forma para entender essas orações é fazer uma descrição do que estamos
observando:
Em (100), um pouco diferente do que vimos até então, temos uma oração
subordinada no início da frase. Nela, o advérbio [se] aponta para uma condição da ação de
[ficar em casa]. No período estipulado em (101), o par [tão] e [como] atuam, paralelamente,
para apontar uma comparação entre os sujeitos das ações verbais.
CASTILHO, Ataliba de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto,
2014.
KATO, Mary A.; NASCIMENTO, Milton do. Gramática do Português Culto Falado no
Brasil: a Construção da Sentença. São Paulo: Contexto, 2015.
KENEDY, Eduardo; OTHERO, Gabriel de Ávila. Para Conhecer Sintaxe. São Paulo:
Contexto, 2018
XAVIER, Gláucia do Carmo; OLIVEIRA, Kelly Cesário de. Marcação de aspecto gramatical
nos verbos de ligação: uma análise morfológica. Scripta, v. 24, n. 51, p. 210-237, 23 set.
2020.
53
54
Currículo das autoras
55
56
Glossário de códigos QR (Quick Response)
Mídia digital
Aula 3 / Semana 3
57
58
Plataforma +IFMG
Formação Inicial e Continuada EaD