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COMUNICAÇÃO

NAS EMPRESAS

autor do original
DANIELA TINCANI
LUIS CLÁUDIO DALLIER SALDANHA
LUIZ ROBERTO WAGNER
ROZANGELA NOGUEIRA DE MORAES

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  magda maria ventura, lucia ferreira sasse e marina caprio

Autor do original  daniela tincani, luis cláudio dallier saldanha, luiz roberto
wagner, rozangela nogueira de moraes

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  fabrico

Revisão linguística  aderbal torres bezerra

Imagem de capa  shutterstock

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

M827c Moraes, Rozangela


Comunicação nas empresas / Rozangela Moraes.
Rio de Janeiro : SESES, 2014.
136 p. : il.

ISBN 978-85-60923-81-6

1. Comunicação organizacional. 2.Intertextualidade. 3. Documentos


empresariais. 4. Produção textual. I. SESES. II. Estácio.
CDD 658.45

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Produção textual e comunicação empresarial 10

Experiências com a escrita 11


Crendices e mitos sobre redação 15
Concepções ou princípios sobre redação 16
Algumas características da escrita 20
Diferenças entre a oralidade e a escrita 21
Elementos da comunicação oral 23
Usando recursos especiais para falar em público 30
Feedback e o valor de ser um bom ouvinte 31

2. Texto, discurso, coesão e coerência textuais 42

A produção de um texto 42
Texto e discurso 43
Coesão textual 44
Coesão textual e a articulação sintática do texto 51
Coerência textual 53
3. Crase e colocação pronominal 60

Origem da crase 60
Emprego atual da crase 61
Casos facultativos do uso do acento grave, indicador da crase 65
Crase 67
Pronome 70
Pronomes pessoais 71
Colocação pronominal 74
Próclise 75
Mesóclise 79
Relação entre pontuação e funções sintáticas 82

4. Dificuldades ortográficas e sintáticas 92

Ortografia 93
Emprego do hífen 99
Homônimos e parônimos 102
Concordância verbal 109
Concordância nominal 112
Regência verbal 113
Regência nominal 116
Uso dos “porquês” 117
Palavras e expressões parecidas, mas diferentes 119
Algumas observações sobre verbos 123
Pleonasmo, Ambiguidade, Cacofonia e Solecismos 126

5. Correspondência nas empresas 134

A linguagem das organizações 134


Qualidades do texto empresarial 135
Padronização de documentos empresariais 143
Dicas para redação de relatórios e cartas 145
Correspondência oficial 147
Prefácio
Prezados(as) alunos(as)

Uma boa comunicação contribui decisivamente para o sucesso profissional. Não


conseguiríamos imaginar alguém bem sucedido sem uma comunicação adequada,
portanto, a nossa proposta, neste livro, é a de aprofundarmos os conhecimentos
acerca deste tema, de grande relevância, seja na vida acadêmica, seja na vida profis-
sional, imprescindível para que alcancem esse sucesso.
Sabemos que para uma boa comunicação é preciso usar adequadamente a lín-
gua portuguesa. Por isso, nesta disciplina vamos tratar de aspectos teóricos da lín-
gua que estão relacionados com a comunicação no dia a dia.
O livro está organizado em cinco capítulos, dispostos da seguinte maneira: O ca-
pítulo 1, Produção textual e comunicação empresarial, apresenta algumas reflexões
acerca das dinâmicas da produção textual, assim como o desenvolvimento de estraté-
gias de comunicação. No capítulo 2, Texto, discurso, coesão e coerência textuais, são
apresentadas as noções básicas sobre texto e discurso, dicas para produzir textos bem
formados e orientações para aplicar os mecanismos de coesão e coerência textual.
Já o capitulo 3, Crase e colocação pronominal, aborda o tema crase, o emprego
dos pronomes pessoais e colocação pronominal.
No capítulo 4, Dificuldades ortográficas e sintáticas, são abordadas as questões
relacionadas com as dificuldades ortográficas e sintáticas da língua portuguesa, a
concordância verbal e nominal e o uso de algumas expressões semelhantes, mas
com diferentes significados e empregos. Encerramos com o capítulo 5, Correspon-
dência nas empresas, que apresenta uma aplicação da linguagem formal no texto
empresarial com a apresentação de algumas técnicas que contribuem para a con-
cisão, objetividade e clareza do texto, com a finalidade de utilização de uma lingua-
gem formal nas comunicações que ocorrem no ambiente organizacional.
Buscamos, com um olhar mais amplo, trabalhar aspectos práticos da comuni-
cação, como a expressão de nossas ideias ou intenções por meio da escrita, as técni-
cas e as normas de produção textual e dicas para evitar os desvios mais comuns em
relação à língua padrão. Será um prazer compartilharmos todo esse conhecimento.
Seja bem-vindo e junte a nós para essa ação em comum, que é a Comunicação.

Abraços
Rozangela Nogueira de Moraes

7
1
Produção textual
e comunicação
empresarial
1  Produção textual e comunicação
empresarial

Produzir bons textos, seja nas redações escolares ou em alguma situação co-
municativa do dia a dia, é realmente um desafio para muitos. Por isso mesmo,
queremos descomplicar um pouco essa questão. Apresentamos algumas re-
flexões neste capítulo que podem ajudá-lo a compreender melhor a dinâmica
da produção textual, desfazendo algumas crendices e mitos sobre a escrita.
Vamos comentar sobre algumas características da escrita e rever os tipos de
textos mais comuns.
No que diz respeito ao desenvolvimento de estratégias de comunicação,
serão abordados a comunicação oral e os principais elementos para uma boa
oratória. Vamos conhecer os componentes e as características da comunicação
oral. Estudaremos o uso da voz e do gestual na fala e, também, abordaremos
situações de comunicação oral no contexto profissional.

OBJETIVOS
•  Desenvolver habilidades de escrita.
•  Aperfeiçoar técnicas de produção textual.
•  Identificar dificuldades e limitações na produção de textos.
•  Reconhecer as particularidades da comunicação oral.
•  Identificar os principais desafios para falar em público adequadamente.
•  Aplicar as técnicas de uso da voz e do gestual nas situações de comunicação oral.
•  Desenvolver habilidades comunicacionais em situações de apresentação pública.

REFLEXÃO
Você se recorda da sua relação com o ensino-aprendizagem de língua portuguesa? Lembra
que uma experiência mal sucedida de aprendizado da língua pode nos afetar ao longo da
vida escolar? Pois é, tem muita gente que mesmo depois de ter passado pelo Ensino Fun-
damental e Médio ainda enfrenta enormes barreiras para escrever uma redação e produzir
um bom texto.

10 • capítulo 1
E qual foi a última vez em que você precisou falar em público, numa situação formal?
Você foi bem, apesar de alguma eventual ansiedade ou insegurança?
Aliás, você tem medo de falar em público? Para muita gente, isso é uma verdadeira tor-
tura. Em parte, o medo ou dificuldade de falar em público decorre de elementos relacionados
a aspectos fisiológicos e psicológicos envolvidos na comunicação oral.
Às vezes, o medo ou impedimento decorrem da falta de algumas habilidades específicas
ou de uma prática mais regular de oratória.
Por isso, é bom lembrar e avaliar nosso desempenho em situações nas quais precisamos
nos dirigir a outras pessoas usando a nossa voz.

1.1  Experiências com a escrita

Às vezes, podemos ser levados a pensar que todos os grandes escritores nunca
tiveram qualquer dificuldade para escrever. Admiramos aqueles que escrevem
livros maravilhosos ou mesmo os que são capazes de elaborar textos que pren-
dem nossa atenção e conseguem comunicar claramente suas ideias. Mas é pre-
ciso saber que nem todos os que vivem do ofício da escrita foram sempre bons
escritores. Alguns até tiveram experiências difíceis com a língua portuguesa.
Embora haja uma diversidade de experiências nessa questão, encontramos
aqueles que passaram a escrever depois de superar algum desafio.
Vamos conhecer algumas experiências para fazermos uma reflexão inicial
sobre o aprendizado da escrita e a atividade de escrever textos, seja profissio-
nalmente ou não.
Convido você a conhecer, primeiramente, a declaração de Lygia Fagundes
Telles, escritora que nasceu em 1923, em São Paulo, e escreveu, entre outras,
obras que foram adaptadas para a televisão, como Retratos de Mulher, de O moço
do saxofone; e para o cinema, As meninas, do romance homônimo.

“Eu sempre digo que comecei a escrever antes de saber escrever. Não é charminho de
escritor, não. Falo assim, porque antes de ser alfabetizada eu já contava histórias. Eram
histórias que ouvia das minhas pajens.
[…]

capítulo 1 • 11
Na verdade eu aprendi a escrever muito mais tarde do que a maioria das crianças. Nós
vivíamos mudando de cidade, por força do trabalho do meu pai, de maneira que eu não
parava nas escolas. De um certo modo, minha ignorância era legitimada pela situação:
filha de delegado, de promotor, podia estar atrasada. Minha mãe achava que eu era
retardada. Até mesmo a falar eu aprendi tarde; meu avô chegou a pensar que eu fosse
muda: eu só pedia as coisas através de gestos…”
Cadernos de Literatura Brasileira (5): 28. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

Você atentou para o fato de que na experiência dessa escritora podemos des-
tacar a importância de contar e imaginar histórias desde o começo da infância?
E, ainda, que há uma forte ligação entre o contar histórias e o desenvolvimento
da escrita? O interessante é que, na experiência de uma escritora de sucesso, a
oralidade teve um papel importante na aquisição e no desenvolvimento da es-
crita. Sua relação com a narração oral parece ter sido decisiva na aprendizagem
da escrita, mesmo em face de certo “atraso” nessa prática.
Vejamos outra experiência de uma escritora que tem o primeiro nome idênti-
co ao da primeira: Lygia Bojunga Nunes. Leia o que ela escreveu:

A redação e o dicionário
Lygia Bojunga Nunes

Se você fosse morar numa ilha deserta e distante e só pudes-


se levar um livro pra ler por lá, que livro você levaria?
Quando chegou a minha vez de responder a essa pergunta eu
disse que, mesmo não gostando de carregar peso em viagem,
eu levava um dicionário da minha língua.
Mas eu só senti o gosto do dicionário quando eu comecei a
escrever livro. E assim mesmo, foi um gosto que veio vindo
devagar.
Eu tive uma professora de português que achava impossível a
gente viver sem um dicionário perto. Eu não gostava da pro-
fessora; ela tinha unha cumprida e pintada de um vermelho
meio roxo, quando ela escrevia no quadro volta e meia a unha
raspava a pedra. Que aflição! Mas não era por isso que eu não

12 • capítulo 1
gostava dela não: eu tinha dois motivos muito mais emocio-
nais que a unha. O primeiro é que eu achava que ela tinha
tomado o lugar da professora anterior, que eu adorava; o se-
gundo é que ela corrigia tintim por tintim tudo que é redação
que eu fazia. Usando caneta. E, pelo jeito, eu cometia tanta
barbaridade gramatical, que ela se via obrigada a reescrever
a minha redação quase que todinha. Com tinta vermelha.
Quando eu relia a minha escrita, assim toda avermelhada
para um português correto, eu sempre sentia a impressão
esquisita que a minha redação tava fazendo careta pra mim.
Mas eu nunca parei pra pensar por que eu sentia assim. Me
lembro que eu ficava chateada e pronto: esquecia a careta. E
quando eu tinha de novo que fazer redação eu me aplicava
igualzinho: redação era o único dever que gostava de fazer.
A professora corrigia tintim por tintim outra vez. E a nota
que ela me dava ficava sempre em torno do 5. Ela justificava
a dádiva com a seguinte observação: composição imaginati-
va. Embaixo do FIM que eu botava sempre no fim da minha
redação, ela escrevia um lembrete (vermelho também):
“Habitue-se a consultar o dicionário.”
Não deu outra: me habituei a nunca abrir um dicionário.
Livro, um encontro com Lygia Bojunga Nunes. Rio de Janeiro:
Agir, 1998.

Você percebeu como uma prática inadequada do professor em sala de aula


pode levar a uma experiência desagradável com a escrita ou, no caso específico,
a uma resistência em relação ao uso de um recurso importante: o dicionário?
Sem deixar de refletir individualmente um pouco mais sobre cada experiên-
cia vista até aqui, passemos ao relato de outra vivência com a língua portugue-
sa. Agora vamos conhecer a história de um artista bem popular, o cantor de Rap
Gabriel O Pensador.

capítulo 1 • 13
Introdução
Sempre gostei de escrever, desde os tempos de escola. Adorava fazer reda-
ção, principalmente quando a professora já dizia o tema, porque várias vezes
sofria pra conseguir começar uma de “tema livre”. Mas depois que começava
aí eu embalava e escrevia com gosto. Viajava. Viajava com gosto também nas
histórias em quadrinho, ainda mais novo, quando não escrevia nada (eu acho),
mas gostava de desenhar e de parar na banca pra comprar revistinha da turma
da Mônica, do Walt Disney, Recruta Zero, Turma do Bolinha, Fantasma, Aste-
rix… Muitas vezes passava tardes inteiras de domingo lendo gibis na movimen-
tada mesa do bar Dauphine, em Copacabana, enquanto meu pai conversava
com os amigos parceiros de chope. Todo mundo rindo e falando alto e eu ali, na
minha, concentrado na leitura. Acho até que se eu tivesse continuado naquele
pique eu teria me tornado um rapaz muito culto.
Minha avó me contou que eu aprendi a ler sozinho, aos quatro anos, com
um livro ilustrado chamado Os mamíferos, que ela estava lendo pra mim. Um
dia, mostrei a ela uma foto e li o nome do bicho em voz alta: “Or-ni-tor-rin-co”.
Ela ainda não tinha chegado nessa página e eu nunca tinha ouvido falar na-
quele bicho estranho de nome idem. Nem sei por que é que eu tô falando dis-
so, mas é que eu soube há pouco tempo e achei interessante. Bem, este livro
também nasceu mais ou menos assim. Tivemos que esvaziar e arrumar uma
montanha de papéis no escritório lá de casa porque deu mofo. Mofo deu geral!
Atchim! Saúde! Obrigado... Ih! Olha só isso aqui! Deixa eu ver...
Comecei a encontrar vários textos, poemas e até redações de colégio que eu
nem me lembrava que tinha guardado, a maioria eu nem me lembrava de ter escri-
to! Que surpresa boa! Algumas coisas me fizeram voltar no tempo quando eu parei
de espirrar para ler. Outras pareciam totalmente novas. A memória já tinha apaga-
do, mas as folhas escritas à mão resistiram ao mofo e a várias viagens e mudanças.
Pô, eu também não sou tão velho assim!

Gabriel, O Pensador. Diário noturno.


Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Fragmento.

Na experiência de Gabriel O Pensador, a prática da escrita é algo quase “natu-


ral”, espontâneo, e relacionada com a leitura e a imaginação, inclusive de textos
mais recreativos ou sem tanta pretensão literária, como as histórias em quadrinho.
Cada relato apresentado parece apontar para um aspecto importante no de-

14 • capítulo 1
senvolvimento da escrita. Por isso, você deve refletir também sobre sua própria
experiência e avaliar quais fatores foram decisivos no aprendizado da escrita e
que desafios você ainda enfrenta nessa questão.

1.2  Crendices e mitos sobre redação

Todas essas experiências que reproduzimos aqui não têm a intenção de forne-
cer um receituário para escrever bem ou mesmo apontar os “10 segredos para
uma boa redação”! Aliás, há muito mito ou crendice em relação ao tema da re-
dação e “crenças sobre aprendizagem da escrita nos levam a formar preconcei-
tos que, de alguma forma, interferem no nosso dia a dia e no nosso fazer de sala
de aula” (GESTAR II, 2008, p. 159-160).
Vejamos alguns pontos de vista sobre a escrita que merecem uma aprecia-
ção mais cuidadosa.

1.2.1  A escrita é uma transcrição da fala

Na história da humanidade, a escrita foi utilizada com a função de transcrever a


fala. Também na nossa história pessoal, nas primeiras etapas da sua aprendiza-
gem, a escrita funciona como uma forma de transcrição da oralidade.
Com as transformações da sociedade, novas necessidades comunicativas
surgiram, fazendo que a escrita fosse usada com funções diferentes da fala.
À medida que o aluno vai experimentando novos usos, a relação entre os mo-
dos comunicativos, oral e escrito vão se transformando (GESTAR II, 2008, p. 167).

1.2.2  Só se escreve utilizando a norma padrão

Devem ser ensinados e praticados na escola os gêneros utilizados em situações


formais. Praticar a escrita torna-se apenas uma sequência de tarefas que se-
guem os modelos.
Aprender a escrever é uma questão de inserir o conteúdo apropriado na for-
ma adequada. E quando avaliamos os textos dos nossos alunos, priorizamos as
correções ortográficas, gramaticais e de léxico, perdendo de vista elementos de
coerência e coesão.

capítulo 1 • 15
Sabemos que, para aprender a escrever, temos que fazê-lo considerando as dimensões
das diferentes situações sócio-comunicativas e que, portanto, os usos sociais da escrita
estão intrinsecamente relacionados ao processo de significação. Além disso, sabemos
que as questões culturais que geram e são geradas pelas diferenças dialetais também
devem ser consideradas no aprendizado e na experiência escrita. Assim, também os
gêneros das tradições orais podem servir como mediadores no aprendizado da norma
padrão, cabendo à escola fazer esta aproximação. (GESTAR II, 2008, p. 168).

1.2.3  Todo bom leitor é um bom escritor

O aprendizado da escrita depende de uma boa orientação quanto às práticas de


leitura dos diferentes gêneros na escola e, sobretudo, da prática da escrita em
situações sócio-comunicativas diversificadas.
A leitura é uma prática necessária, mas não suficiente para o desenvolvi-
mento da escrita: aprende-se a escrever escrevendo.

1.2.4  Na escola escreve-se para produzir textos narrativos, descritivos e


dissertativos

Outros textos são importantes no nosso cotidiano; a documentação, por exem-


plo, tem função de possibilitar o registro e a permanência das informações
para as futuras gerações. No mundo moderno, a prática de diferentes gêneros
torna-se importante, pois temos o direito de praticar, além da escrita ficcional
e poética, a escrita de textos funcionais (descritivos, informativos etc.) e críticos
(argumentativos etc.) que certamente são utilizados em momentos diferentes
da vida diária (GESTAR II, 2008, p. 169).

1.3  Concepções ou princípios sobre redação

Para muita gente, redação é questão de criatividade ou de muita prática. Se temos


mitos sobre a produção textual, temos também concepções sobre redação, algu-
mas bem fundamentadas outras apenas crendices também. Chociay (2004, p. 38)
enumera, pelo menos, sete postulados na base teórica das concepções de redação
que aparecem em vários manuais sobre esse tema. Vejamos esses sete postulados.

16 • capítulo 1
1.3.1  O princípio do talento

De acordo com esse princípio, redigir é questão de talento: “quem nasce com
esse talento, sempre escreverá bem” (CHOCIAY, 2004, p. 39). Pode ser que em
alguns casos o talento explique uma boa escrita, mas isso nem sempre é assim.
Alguns estudantes realmente têm certa facilidade para escrever bem. A fa-
cilidade inata de certos indivíduos para aprender e executar determinadas ta-
refas deve ser considerado um fator, mas não absolutamente determinante do
aprendizado e execução.

1.3.2  O princípio da habilidade

Este postulado defende que “redigir é habilidade: qualquer pessoa pode apren-
der a redigir, desde que tenha uma boa formação escolar para tal”.
Nesse caso, “a capacidade de se produzir bons textos é algo que vai se desen-
volvendo ao longo da prática escolar e de acordo com a faixa etária do estudan-
te”. Assim, alguém aprende a redigir “como se aprende, também, a desenhar
ou a calcular. No entanto, se pode passar pela escola sem aprender a escreve
adequadamente” (CHOCIAY, 2004, p. 40).
Deve se levar em conta que o uso de métodos ideais não produz necessaria-
mente os mesmos resultados em todos os alunos.

1.3.3  O princípio da técnica

Este postulado defende que redigir é uma técnica que “pode ser aprendida em
qualquer época, para levar o indivíduo a bons desempenhos na produção de
textos” (CHOCIAY, 2004, p. 40).
Precisamos considerar, porém, que os aspetos técnicos não dão conta de
toda dimensão do processo de produção de um texto escrito.
Na verdade, “a técnica não constitui método de ensino, mas apenas um
conjunto de instruções de desempenho: se outros fatores não surgirem con-
jugados a ela no processo do aprender, não haverá aprendizado satisfatório”
(CHOCIAY, 2004, p. 41).

capítulo 1 • 17
1.3.4  O princípio da boa leitura

Defende que “para aprender a escrever, é preciso ler: um bom escritor nasce
de um bom leitor”. Entretanto, “não é absolutamente necessário que um bom
leitor seja ou se torne também um bom escritor”.
Temos de ter em mente que “embora o ler e o escrever tenham relação natu-
ral entre si, implicam estratégias e métodos de ensino distintos, simplesmente
porque são habilidades distintas” (CHOCIAY, 2004, p. 41).

1.3.5  O princípio da imitação

Entende que para aprender a escrever, é preciso começar imitando os textos


dos escritores, principalmente dos bons escritores.
No entanto, a leitura de bons textos pode produzir elementos e atitudes
para o bem escrever, mas a imitação não é suficiente.

1.3.6  O princípio da repetição

Este postulado defende que “para aprender a escrever, é preciso escrever, escre-
ver, escrever”.
Desse modo, “o resultado final do processo de repetições é a consolidação
dos desempenhos que caracterizam a habilidade” da escrita. Mas, além da re-
petição, deve ser acrescentado o espírito crítico e autocrítico: “a repetição do
processo de escrever textos não é algo mecânico e automático, mas crítico e
autocrítico” (CHOCIAY, 2004, p. 42-43).

1.3.7  O principio dos macetes

Esse princípio propõe que “para aprender a escrever, é preciso decorar certos
‘macetes’ de estrutura e de estilo”. Propõem-se diversos conselhos que, às ve-
zes, até são contraditórios. São tentativas precárias de atacar os efeitos, e não as
causas, das dificuldades na redação de um texto. Por isso mesmo, “os macetes
constituem uma ‘falsa técnica’, cujo único resultado é uma ornamentação fútil,
facilmente detectável” por um leitor mais atento e criterioso, pois “em vez de
um texto, produz um arremedo de texto”. É preciso reconhecer que “os proble-
mas inerentes à redação não se resolvem com macetes e estereótipos, mas com
reflexões, orientação e muito esforço pessoal” (CHOCIAY, 2004, p. 45).

18 • capítulo 1
1.3.8  O princípio da reescritura

De acordo com este princípio, “escrever não é um ato singular, único; ao contrá-
rio, um texto só por exceção é escrito de uma só vez. O ato de escrever um texto
implica certo número de reescrituras, até o limite do satisfatório”. Assim, “um
texto não nasce pronto, mas é “construído ao longo de tantas tentativas quan-
tas considere o escritor necessárias para conduzi-los a um resultado eficaz”.
Por isso mesmo, o “bom texto resulta de uma série de revisões da primeira ver-
são desse texto, ou seja, do rascunho. Redigir é, pois, operar desenvolvimentos
necessários em um rascunho para transformá-lo realmente em texto” (CHO-
CIAY, 2004, p. 42-43).
Este último princípio parece ser um dos mais pertinentes e interessantes.
Aliás, dois pesquisadores canadenses, Scardamalia e Bereiter, desenvolveram
estudos que mostram o escritor maduro como aquele que planeja e revisa o
texto, “durante e depois da escrita, considerando elementos como o assunto,
a audiência (os interlocutores, possíveis leitores do texto), o objetivo” (GESTAR
II, 2008, p. 178-179).
Outro aspecto que os estudiosos canadenses perceberam diz respeito ao fato
de bons escritores desenvolverem seus textos a partir de uma escrita comunica-
tiva, ou seja, usando uma linguagem adequada às situações de comunicação.

A escola e o professor podem ajudar bastante nesse aspecto, levando à produção de


textos mais adequados e melhor elaborados.
O primeiro ponto seria pensar que a escrita deve ser produzida como linguagem utiliza-
da em situações, em contextos específicos: escreve-se tendo em vista um ou mais in-
terlocutores em potencial; a escrita exerce funções (persuadir, informar etc.) e objetivos
que nos levam a tratar o assunto de certo modo e se estrutura em gêneros.
Apesar de a escrita ser um modo comunicativo bastante utilizado em nossa sociedade,
temos acesso diferenciado aos seus diversos usos sociais e aprendemos a escrever e a
desenvolver textos na escola. Então cabe à escola disponibilizar os meios, a experiência
e a prática com diferentes gêneros e ensinar, propondo estratégias e visando, mais do
que à simples correção da forma, a um retorno dialógico que negocie com os aspectos
relacionados à leitura comunicativa de seu texto.

capítulo 1 • 19
O professor pode provocar momentos em que os aspectos relacionados à escolha do
tema, pesquisa sobre o tema, se necessária, escrita e revisão possam ser discutidos
com todos, construindo com seus alunos andaimes, que facilitem a construção do co-
nhecimento, por exemplo, formulando perguntas, para que possam selecionar o tema, o
gênero, a audiência e os conhecimentos prévios. (GESTAR II, 2008, p. 181).

1.4  Algumas características da escrita

Uma observação que se faz nos textos de alunos que ainda encontram muita
dificuldade para escrever e acabam por elaborar textos com sérias limitações é
exatamente uma similaridade do texto escrito com o texto oral ou a oralidade.
Em alunos de séries iniciais do Ensino Fundamental, é muito comum a com-
posição de textos muito próximos da oralidade, textos que carecem de uma ela-
boração mais adequada e peculiar à escrita. Assim, é importante considerar que
a escrita tem algumas características próprias, apesar de apresentar também
elementos comuns à oralidade. Precisamos reconhecer que não falamos como
escrevemos e não escrevemos como falamos!
Uma primeira diferença entre a fala e a escrita está relacionada com o tem-
po: “o tempo do ato da fala é instantâneo; o do ato de escrita é elástico. Mesmo
que um indivíduo esteja preparado para determinado diálogo, toda a organiza-
ção de seu pensamento e a verbalização não dispõem mais que de um átimo no
ato de fala.” Assim, numa situação de comunicação oral, “o sujeito interpreta
o que disse seu interlocutor e organiza resposta imediata. Mui diferente é o ato
de escrita: as atividades em que a redação de textos é necessária implicam um
tempo relativamente elástico para tal” (CHOCIAY, 2004, p. 49).
Há outra diferença entre a fala e a escrita que diz respeito ao modo da comu-
nicação. Quando falamos estamos diante da pessoa que nos ouve ou conversa
conosco; quando escrevemos estamos na ausência do leitor ou leitores de nos-
so texto. Isso faz com que haja várias características próprias de cada modali-
dade de comunicação. Se alguém está falando diante de seus ouvintes, então é
possível que haja uma interação física e psicológica com aqueles que ouvem. É
possível analisar as reações dos ouvintes ou mesmo ser por eles influenciado ou
interrompido. Já quem escreve está a uma distância temporal e espacial de seus
possíveis leitores. Essa distância permite que o escritor tenha tempo para elabo-

20 • capítulo 1
rar melhor seu texto, relendo o que escreveu, fazendo revisões e reescrevendo o
texto até julgá-lo adequado. Além disso, há vários recursos que na escrita podem
ser utilizados para manter o texto bem organizado, claro e convincente.
Uma das implicações dessas diferenças entre a fala e a escrita pode ser
percebida no uso do vocabulário no texto escrito, pois se na fala alguém conta
apenas com seu acervo de palavras individual, no texto escrito é possível recor-
rer ao dicionário e a outras fontes de consulta. Isso leva a uma escolha mais
adequada do vocabulário do texto escrito. Do mesmo modo, a possibilidade de
recorrer à gramática para melhorar a construção das frases e corrigir possíveis
incorreções gramaticais é outra característica presente no ato de escrever.
Também devemos observar outra diferença entre a fala e a escrita. Trata-se
da concomitância de atos. A fala de alguém “implica a simultaneidade do falar
e do ouvir, pondo em funcionamento todas as habilidades dos comunicantes
nessas duas esferas. A complexidade se revela ainda maior quando verificamos
que um comunicante não apenas ouve o outro, mas se ouve enquanto fala”. Já
no ato de escrita, não há uma correspondência imediata do possível leitor do
texto, no entanto, “tem a leitura do próprio escritor, que se lê enquanto escreve,
concomitantemente ou consequentemente”. Assim, escrever “é também ler: o
escritor, enquanto escreve, está exercendo dois papéis, vale dizer, está envolvi-
do em dois atos e dispõe de um tempo relativamente elástico para alternar-se
nesses papéis” (CHOCIAY, 2004, p. 53).

1.5  Diferenças entre a oralidade e a escrita

Você já notou que a língua escrita é diferente da língua oral? Uma diferença
básica é que na linguagem oral a gente trabalha com os sons.
Quando falamos ou ouvimos uma mensagem, usamos sentidos que nor-
malmente não são utilizados na escrita.
Uma mensagem ou exposição oral pode ser acompanhada de gestos, expres-
sões fisionômicas, variação de tonalidade e timbre da voz, recursos visuais e outras
características que não encontramos num livro ou documento.
Por isso, precisamos conhecer um pouco melhor a natureza e a dinâmica
das comunicações orais.

capítulo 1 • 21
Esse conhecimento pode até mesmo ajudar a superar aquele medo ou in-
segurança que muitos experimentam quando participam de uma entrevista,
reunião, palestra ou situação na qual é preciso falar em público.
Vamos lá?

1.5.1  Características da comunicação oral

Quando precisamos falar em público parece que temos uma situação especial.
Muitas vezes ficamos até paralisados ou nervosos com a possibilidade de não
nos sairmos bem naquela entrevista para emprego ou na apresentação de uma
palestra ou mensagem.
Realmente, a comunicação oral em situações mais formais pode ser uma
experiência bastante diferente. Escrever uma carta ou um e-mail é um ato meio
solitário, geralmente ninguém está vendo ou ouvindo.
Na verdade, a comunicação oral se distingue da escrita porque as condições
físicas e psicológicas são diferentes.
O aspecto fisiológico da comunicação oral está relacionado com o uso da
nossa voz, com as variações de altura e intensidade dos sons que emitimos,
com o comprometimento de todo nosso corpo na postura que adotamos e nos
gestos que manifestamos e, ainda, com as condições de recepção ou audição
daquele que ouve nossa mensagem.
O aspecto psicológico da comunicação oral está vinculado às emoções e aos
sentimentos que experimentamos ao falar; está relacionado, também, com o
interesse, a disposição e a atenção de nosso ouvinte. Além disso, a personalida-
de de quem fala e de quem ouve também está presente na comunicação oral.
Se o nervosismo pode surgir quando precisarmos falar em público, talvez,
algumas dicas para lidar com essa dificuldade se tornem proveitosas. Vejamos
algumas delas:

a) Use o medo ou nervosismo a seu favor, preparando-se melhor para sua


apresentação e estando atento às circunstâncias que envolvem sua fala;

b) Desenvolva sua autoconfiança e se predisponha para uma boa apresen-


tação, não fique pensando nos erros que pode cometer, concentre-se
apenas no momento de preparação;

c) Tenha confiança no que você vai falar, esteja seguro sobre seu assunto;

22 • capítulo 1
d) Prepare cuidadosamente o que você vai falar;

e) Não tente falar sobre aquilo que você não domina ou desconhece;

f) Evite decorar seu discurso, ponto por ponto, pois isso pode representar
um risco desnecessário. Além disso, uma fala “decorada” pode soar me-
cânica e artificial;

g) Concentre-se nas principais ideias de sua apresentação. Procure tê-las


anotadas e organizadas, isso pode ajudá-lo a manter a visão geral do que
você vai falar;

h) Verifique se a sua fala ou o seu discurso estão bem articulados, se todas


as partes estão bem interligadas;

i) Treine sua apresentação, verifique o que precisa ser melhorado, peça a


opinião de algum amigo sobre seu desempenho.

CONEXÃO
Confira o excelente artigo “A expressividade da comunicação oral e sua influência no meio
corporativo”, de Marta Martins e Waldyr Fortes, publicado na Revista Communicare e disponí-
vel em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1144-1.pdf>

É claro que essas dicas não são infalíveis, nem dão conta de toda e qualquer
situação de comunicação oral, mas podem ser um bom começo.
Vamos avançar um pouco mais, abordando os elementos que estão presen-
tes na comunicação oral.

1.6  Elementos da comunicação oral

Você já imaginou alguém falando em público com a voz bem baixinha, os bra-
ços colados ao corpo, as mãos paradas e o rosto quase sem expressão alguma?
Fica difícil comunicar alguma mensagem assim, a não ser a mensagem de que
a situação não vai nada bem!
Não dá para falar em público sem usar adequadamente as mãos, a expres-
são fisionômica, o volume e a tonalidade correta da voz.
Pois é isso que vamos estudar agora. Conheça um pouco melhor os elemen-
tos da comunicação oral.

capítulo 1 • 23
1.6.1  Tonalidade

O bom uso da voz é fundamental na comunicação oral. Por isso, tenha bastante
cuidado com o volume da sua fala. Se você não pode falar baixinho, sem ser ou-
vido por todos, você também não deve falar num volume que incomode as pes-
soas ou que seja incompatível com o tamanho do ambiente no qual você está.
O volume da voz deve ser adequado e cumprir a função de tornar sua men-
sagem audível.
Mas não podemos nos limitar apenas ao aspecto da altura da nossa voz, se
alta ou baixa. É preciso expressividade, espontaneidade e dinamicidade na nos-
sa fala. Uma tonalidade adequada pode favorecer tudo isso.
O tom é um tipo de jogo de altura e força na emissão dos sons. Além da
nossa voz está ajustada ao ambiente ou à situação externa, ela deve servir
para expressar as variações de nosso pensamento e nossas emoções.
Quando estamos falando em público, a nossa voz deve servir para dar ênfase
a um determinado ponto, manifestar certa emoção, expressar alguma reação e
acompanhar a dinâmica de nossa mensagem ou exposição. Assim, o tom da voz
deve variar adequadamente.
Ao pronunciarmos uma palavra ou expressão que assume destaque ou im-
portância, nada mais adequado do que modular o tom, fazendo a tonalidade
crescer naquele momento. Uma pergunta instigante ou uma afirmação surpre-
endente pode também merecer uma tonalidade crescente.

Se mantivermos o mesmo tom durante uma exposição oral, nossa fala será monótona.
O uso de um único tom é extremamente inadequado e enfadonho, assim como uma
variação exagerada. Por isso:
1. Cuidado com uma fala mecânica e sem vibração, parecida com uma ladainha ou um
discurso recitado;
2. Evite um entusiasmo descabido e exagerado, muitas vezes parecido com um anima-
dor de auditório ou com a fala de um personagem de teatro;
3. Fuja de um estilo “descolado” ou muito à vontade construído artificialmente;
4. Não imprima um tom agudo ou uma tonalidade crescente em palavras que não de-
sempenham tanta importância em sua mensagem.

24 • capítulo 1
1.6.2  Gestual ou mímica

Os gestos e movimentos durante a fala são também muito importantes para a


expressividade das palavras.
O jogo fisionômico, o movimento dos braços, das mãos e a postura corporal po-
dem comunicar muita coisa. Podem até contradizer aquilo que estamos falando!
A mímica ou o conjunto de gestos e movimentos corporais são, na verdade,
o que chamamos de linguagem não verbal. Esse conjunto pode ser dividido em
três aspectos.
Primeiro, temos o jogo fisionômico, constituído pelo movimento dos olhos,
da elevação ou contração das sobrancelhas, do movimento dos lábios e da boca.
A maneira como olhamos as pessoas enquanto falamos, por exemplo, pode
ajudar a criar empatia e interesse por aquilo que abordamos. Alguns especialis-
tas no assunto sugerem, inclusive, que olhemos atentamente para cada pessoa
que nos ouve:

Quando falamos em público é necessário que cada membro da plateia confie no que
estamos dizendo, por isso precisamos olhar nos olhos de todos. Eles também precisam
ver nossos olhos, para que sintam segurança no que dizemos.
O olhar é um atrativo e não deixa que o público se desvie do assunto. Assim, você deve
olhar para todos como se estivesse namorando cada membro da plateia. Quando eu
digo “cada membro”, deixo claro que você jamais pode olhar para uma ou outra pessoa
apenas (BRASIL, 2003, p. 118).
GEORGE DOYLE / STOCKBYTE / GETTY IMAGES

Enquanto falamos, nosso gestual e nosso olhar podem demonstrar a atenção e a importância
que damos ao nosso ouvinte.
capítulo 1 • 25
É preciso atenção para ajustar nossa expressão fisionômica ao conteúdo do
que vamos falar. Pode não ser sensato falarmos de assuntos sérios e graves com
um semblante descontraído e um sorriso nos lábios. Também não é adequado
tratarmos de assuntos alegres ou apresentarmos informações positivas com
certo ar de tristeza e um semblante pesado.
Certa vez, uma secretária executiva saiu toda sorridente do gabinete do dire-
tor de um órgão público, depois de ouvir uma piada muito engraçada. Em segui-
da, entrou numa sala onde coordenaria uma reunião na qual o principal assunto
era comunicar medidas “impopulares” e que desagradariam parte dos presen-
tes. Seu semblante, ainda descontraído e com um sorriso no “canto da boca”,
não se harmonizava nem um pouco com as informações que ia passando. Não
precisa nem dizer que o mal-estar foi geral.

CONEXÃO
Além de usar adequadamente o gestual, é importante também saber o que falar ou o que não
falar no ambiente corporativo. Leia o artigo Como não falar na vida corporativa, disponível em:
<http://www.polito.com.br/portugues/artigo.php?id_nivel=12&id_nivel2=155&idTopico=1062>

Segundo, temos os movimentos das mãos, dos braços e da cabeça. Esses mo-
vimentos devem ser bem articulados e espontâneos. O exagero no movimento
dos braços e das mãos deve ser evitado, pois poderá chamar mais atenção do que
a nossa própria mensagem: “é bom lembrar que gestos exagerados como esmur-
rar a mesa ou outros sinais de fúria podem ser mal vistos pelas pessoas. E, claro,
bater numa mesa pode abafar o som de suas palavras” (HELLER, 2000, p. 12).

O gestual ou a linguagem não verbal podem variar de país para país. Por exemplo, “o OK
dos norte-americanos é ofensivo entre brasileiros e dinamarqueses. Não se aponta com
o dedo na China. Apertar as mãos com muito entusiasmo pode parecer excessivo para
os ingleses. Balançar a cabeça para dizer ‘não’significa ‘sim’para os indianos. E abraçar
alguém em Singapura está fora de questão” (HELLER, 2000, p. 12).

Em terceiro lugar, temos todo o restante do corpo. A nossa postura e loco-


moção enquanto falamos deve ser cuidadosa e planejada. Seja sentado, em pé,
parado ou em movimento, nosso corpo deve experimentar certo conforto e não

26 • capítulo 1
deve chamar mais atenção do que a própria mensagem. É preciso evitar tanto
uma postura rígida como uma postura curvada e vacilante.
Vamos a algumas dicas sobre o uso do gestual e da postura corporal durante
uma apresentação oral.
Para um bom gestual:

1. Evite falar com as mãos nos bolsos, atrás das costas ou de braços cruzados;

2. Não fale sem fazer gesto algum nem use gestos demais;

3. Não se debruce sobre a tribuna, nem se agarre no pedestal do microfone;

4. Não execute sua gesticulação abaixo da cintura nem acima da cabeça;

5. Não se apresente com uma postura humilde, de alguém derrotado, nem com pre-
potência ou arrogância;

6. Não execute sua gesticulação abaixo da cintura nem acima da cabeça;

7. Não se movimente desordenadamente, de um lado para o outro, diante do público,


nem fique completamente parado;

8. Não abra demais as pernas, nem as feche muito para não perder o equilíbrio;

9. Use a gesticulação de maneira natural, para acentuar ideias, palavras ou para mar-
car o ritmo de sua fala e procure sempre variar os gestos, evitando um padrão
repetitivo;

10. Mantenha sempre o contato visual com a plateia. Mesmo que você tenha que ler
seu discurso, ensaie e organize o texto no papel, de forma que você possa sempre
levantar o olhar. Assim, você estará demonstrando que valoriza seus ouvintes e ao
mesmo tempo, estará pronto para perceber as suas reações. Isto é importante, pois
lhe permitirá fazer os ajustes e as modificações necessários;

11. Ao falar sentado, evite esticar as pernas,cruzando os pés à frente da cadeira ou


encolher as pernas cruzando os pés sob a cadeira. Na primeira hipótese, você
transmitirá uma sugestão de negligência, enquanto na segunda dará a impressão
de que você se sente acuado. Sente-se confortavelmente, mantendo o corpo ereto,
porém relaxado. Deixe os pés apoiados no chão ou cruze as pernas.

Fonte: DVD Como falar em público, Suma Econômica

capítulo 1 • 27
O gestual não é importante apenas para quem está falando ou aquele que
usa a palavra em determinado momento de uma reunião. Os gestos também
têm sua relevância em relação a quem está ouvindo.

Gestos de apoio, como olhar nos olhos ou balançar a cabeça para quem está falando,
criam empatia – a menos que a outra pessoa possa perceber que você está esconden-
do sentimentos. Todo mundo pode controlar a linguagem corporal até certo ponto, mas
não totalmente. Escolha suas palavras com cuidado e seja o mais sincero possível para
não ser traído pelo próprio corpo (HELLER, 2000, p. 13).

1.6.3  Articulação

Para que nossa mensagem seja ouvida nitidamente, é preciso uma boa articulação.
As palavras devem ser pronunciadas claramente, sem dar margem para dúvidas ou
qualquer confusão.
Temos de ter cuidado ao pronunciarmos determinadas palavras, a fim de não
trocarmos certas letras ou omitirmos outras. Também é importante pronunciar-
mos as palavras com uma articulação adequada, sem frouxidão e falta de nitidez
nos movimentos bucais. Se falarmos com desleixo, muitas palavras poderão soar
de forma confusa.

REFLEXÃO
Mesmo emitindo corretamente suas falas, você precisa cuidar ainda da maneira como você
as pronuncia. O orador que pronuncia bem as palavras é melhor compreendido, pois os ou-
vintes não precisam fazer esforço para compreendê-lo. Quem pronuncia mal as palavras,
geralmente o faz por negligência. O orador que pronuncia mal as palavras é facilmente desa-
creditado; já o orador que pronuncia bem, imprime imediatamente a imagem de uma pessoa
bem preparada e com boa formação.

28 • capítulo 1
1.6.4  Ritmo e pausa

Nossa fala nunca é uma emissão contínua e frequente de sons. Precisamos res-
pirar e, por isso mesmo, fazemos as pausas. Aliás, uma boa respiração é funda-
mental para chegarmos bem até o final de nossas comunicações orais.
Sem respirar bem não é possível falar bem. Portanto, ao falar, faça as pausas
que forem necessárias para manter sempre uma boa reserva de ar em seus pul-
mões. A medida de ar correta é a que fizer você se sentir confortável, a que permitir
você lançar sua fala com um bom volume e articular corretamente as palavras (Fon-
te: DVD Como falar em público, Suma Econômica).
As pausas podem servir, também, para dar oportunidade de desenvolver-
mos um determinado pensamento que vamos formulando à medida que fala-
mos. Além disso, uma fala adequadamente pausada permite que os ouvintes
acompanhem nossa exposição sem muita dificuldade.
As pausas devem, ainda, servir como recurso para imprimir certo suspense
diante de algo que vamos enunciar ou para enfatizar uma palavra que pronun-
ciaremos logo depois.
A cadência e a velocidade de nossa fala estão relacionadas também com a
pausa. O balanço rítmico da nossa fala é importante para a clareza da mensagem
e a atenção dos ouvintes. Se falarmos com excessiva rapidez ou com uma sono-
lenta lentidão, certamente teremos ouvintes incomodados ou desinteressados.

Você deve eleger, antes ou durante a fala, onde você pode acelerar mais o seu discur-
so e onde você deve dizê-lo mais pausado. Esta opção deve estar relacionada com o
conteúdo do que você está falando em cada momento. De qualquer forma, a variação
de velocidade é uma maneira de dar mais dinâmica à sua fala, evitando que ela fique
monótona e previsível. Mais uma vez, deve-se ter cuidado na utilização desse recurso. A
rapidez excessiva pode gerar um tipo de monotonia. Falar pausadamente também não
é garantia de que a mensagem será melhor apreendida. O equilíbrio de tom, velocidade
e volume é que dará organicidade à sua fala, estabelecendo uma melhor comunicação
com a plateia (Fonte: DVD Como falar em público, Suma Econômica).

capítulo 1 • 29
1.7  Usando recursos especiais para falar em público

É importante que ao falarmos em público utilizemos adequadamente os re-


cursos que dão suporte a nossa mensagem. O uso de microfone, retroprojetor,
datashow, software de apresentação e outros recursos didáticos são muito va-
liosos.
Vamos a algumas recomendações sobre o uso de dois desses recursos.

1.7.1  O microfone

Um dos recursos usados quando falamos para grandes públicos é o microfone.


É importante a utilização adequada desse instrumento.
Vamos então a algumas observações sobre tipos e manuseio de microfones:

Os microfones de pé ou de mesa são geralmente colocados em pedestais. Os pedes-


tais têm diversos tipos de ajustes e é importante que você os regule corretamente. Se o
microfone estiver em suas mãos, o cuidado deve ser redobrado. O braço que o segura
deve permanecer imóvel, mantendo o microfone sempre na posição correta. Faça toda
a gesticulação necessária com o outro braço.
Um terceiro tipo de microfone é o de lapela, aqueles microfones pequenos, bastante
potentes, que geralmente ficam presos na sua roupa. Este sistema lhe dará muito mais
liberdade para gesticular e se deslocar. Contudo, esteja atento ao fato de que esta
liberdade pode fazê-lo esquecer que suas palavras estão sendo amplificadas. Tudo que
você disser estará sendo captado pelo microfone. (Fonte: DVD Como falar em público,
Suma Econômica).

1.7.2  Retroprojetor

Embora tenhamos cada vez mais projetores multimídia disponíveis para apre-
sentações, o retroprojetor ainda é bastante utilizado no contexto acadêmico e
profissional para apresentações.
Pelo fato de sua operação e transporte ser relativamente simples, o retropro-
jetor é um recurso bastante acessível e comum.

30 • capítulo 1
Vamos a algumas dicas para o seu uso.
a) Sempre se assegure de que o retroprojetor está preparado e funcionando.

b) use transparências adequadas, com mensagens e visuais interessantes


e atraentes.

c) lembre-se que quanto menos texto você utilizar por transparência, mais
chance de impacto haverá.

d) use ponteiras para facilitar a indicação do que você vai dizer a partir das
transparências.

e) Cuide da sua postura corporal, tendo cuidado de manter-se ereto e


olhando o público. Isso é importante porque você pode ficar tentado
a olhar somente para a transparência ou sua projeção.

Pensando em situações embaraçosas ou imprevistos relacionados com o


uso do retroprojetor, alguém sugeriu as seguintes dicas:

Você derruba suas transparências no chão: Faça uma piada sobre o quanto você é
desastrado. Pegue as transparências do chão e organize-as rapidamente, porém com
calma. Quando terminar, recomece a apresentação como se nada tivesse acontecido,
sem ficar falando no assunto por meia hora.
Uma providência que pode ajudá-lo, e muito, nessa situação é você numerar previamen-
te as transparências que for apresentar.
Você prepara as transparências e descobre que não tem um retroprojetor disponível:
transparências servem de roteiro para a plateia e para seu discurso. Sem um retroproje-
tor é impossível tentar usá-las para ajudar seu público, mas você pode colocá-las a seu
lado, sobre uma mesa, e lançar mão delas para saber o que tem de falar. O ideal é você
ter uma versão impressa em papel normal, em tamanho reduzido, de cada transparên-
cia, assim poderá utilizá-las como cartões de referência. (BRASIL, 20003, p. 148-149).

1.8  Feedback e o valor de ser um bom ouvinte

Além das sugestões e recomendações vistas até aqui, cabe acrescentar que é
importante mantermos sempre uma abertura para o feedback em nossas comu-

capítulo 1 • 31
nicações orais. Mesmo que este feedback não corresponda à participação direta
de alguém, falando ou perguntando alguma coisa, precisamos estar atento à
reação de nosso auditório ou ouvinte.
O comportamento, os gestos e as atitudes de nossos ouvintes podem reve-
lar a maneira como eles estão recebendo nossa mensagem. Se for convenien-
te fazer perguntas e ouvir o auditório ou nosso interlocutor, poderemos então
receber uma resposta ou medida de como está chegando nossa comunicação.
Uma das formas de feedback são as perguntas que um auditório faz durante
ou após uma apresentação. As perguntas do público, no entanto, podem causar
certo embaraço ou dificuldades. Por isso, além de dominar o assunto de sua
apresentação, outras dicas podem ser úteis:

1. Saiba que 99% das pessoas estão lá para ouvi-lo, e não para criticá-lo.
Uma pergunta difícil não é feita para derrubá-lo, mas sim porque real-
mente surgiu uma dúvida a respeito. Portanto, seja sempre educado e
prestativo.

2. Sempre agradeça por cada pergunta feita e procure destacar e valorizar


cada pessoa que perguntar. Sempre que for formulada uma pergunta in-
teligente diga coisas como: “sua pergunta é muito interessante”, ou “ex-
celente pergunta”.

3. Repita sempre as perguntas realizadas. Muitas vezes você consegue ouvir


a pergunta, mas alguns membros da plateia podem não ter a mesma sor-
te. Por isso repita, mesmo que com palavras diferentes, a fim de garantir
que todos entendam.

4. Para lidar com um público mais hostil, amenize perguntas agressivas


não as respondendo imediatamente. Ganhe alguns segundos, sorria,
respire fundo e agradeça. Seja sempre simpático e nunca parta para a
agressão verbal. A plateia não entenderá que você está sendo rude com
apenas uma pessoa. Para eles, você está ofendendo a todos.

5. Ninguém sabe absolutamente tudo sobre algum assunto, e você não é


exceção. Não tenha vergonha de assumir que não sabe responder com
certeza a alguma pergunta. Em alguns casos você pode dizer que não está
certo sobre a informação e que verificará com detalhes para responder
mais precisamente em uma próxima ocasião. Diga que você estará dis-

32 • capítulo 1
ponibilizando seu telefone ou e-mail e peça para que as pessoas interes-
sadas entrem em contato posteriormente. Em alguns casos não é pos-
sível simplesmente dizer: “não sei”, e quando isso acontecer você deve
dar referências sobre o assunto, mesmo sem saber a resposta exata. O
importante é não mentir nem inventar.

6. Não estenda demais o tempo para perguntas. Responda objetivamente e


passe para a pergunta seguinte. Veja se não há mais nenhuma pergunta e
quando ninguém se manifestar não fique insistindo; siga para o encerra-
mento. (BRASIL, 20003, p. 142-143).

E se abordamos ao longo deste capítulo a importância de falar bem em pú-


blico, isso não quer dizer que saber ouvir e, até mesmo, saber parar de falar não
sejam igualmente importantes.

Certa vez eu li que todo orador enfrenta três tipos de problema em uma apresentação:
o probleminha, o problema e o problemão.
O primeiro se refere a subir ao palco, a começar a falar. O segundo está relacionado ao
falar bem, a ter a habilidade de expressar suas ideias de maneira agradável e coerente.
Já o problemão é não saber a hora de parar de falar. (BRASIL, 2003, p. 99).

Quando não nos damos conta de que toda mensagem ou discurso tem seu
limite, poderemos incorrer no erro de cansarmos nosso ouvinte ou tornar nos-
sa comunicação ineficaz. Na dúvida sobre quanto tempo falar ou o tamanho do
nosso discurso, há quem aconselhe elaborar textos, discursos ou falas breves.

Já disseram que quem não faz nada nunca erra. Da mesma forma, se seu discurso é
pequeno, fica muito mais difícil de ele se transformar em um mau discurso.
Se seu público ficar cansado, ele perderá a concentração, irá se levantar e simples-
mente esquecer que você está ali falando. O segredo para evitar que isso aconteça é
sempre parar de falar antes que o público queira deixar de ouvir.
Para determinar o tempo de seu discurso leve em conta elementos como a extensão do
tema. Não adianta querer falar por cinco horas de um comercial de televisão de trinta
segundos. Vai ficar cansativo.

capítulo 1 • 33
Pense também no horário da apresentação. É muito cedo? Muito tarde? É depois ou
antes do almoço? Todas essas questões são relevantes para definir por quanto tempo
você pode falar.
Considere ainda se você será o único palestrante a se apresentar. Em alguns con-
gressos, os participantes chegam a assistir a mais de dez palestras em um mesmo dia.
Neste caso, não se estenda mais do que o estritamente necessário.
Como já dissemos antes, coloque-se no lugar do público que você saberá o que fazer.
(BRASIL, 2003, p. 146).

Assim como saber parar de falar é relevante, ouvir é tão importante que a ati-
tude de ouvir o outro com atenção pode inspirar confiança em relação a nossa
pessoa e ao que falamos. Por isso mesmo, vale a pena reproduzir aqui algumas
técnicas para ouvir sugeridas por Heller (2000, p. 14):

TÉCNICAS PARA OUVIR

TIPO COMO COLOCAR EM PRÁTICA


Criar empatia Busque empatia imaginando-se no lugar da outra pessoa.
Para encorajar quem Tente entender o que ela está pensando e deixe-a sentir-se
está falando e conse- confortável – em geral, apelando para o lado emocional. Fale
guir informações de pouco, preste muita atenção no que a pessoa está dizendo e
modo solidário. use gestos de apoio e palavras de estímulo.

Analisar Recorra a perguntas analíticas para descobrir razões por trás


Para buscar infor- do que é dito, principalmente se você procura entender uma
mações concretas, sequência de fatos ou pensamentos. Seja cuidadoso ao ques-
separando o que é fato tionar: assim você extrairá novas pistas das respostas e poderá
da emoção. usar o que ouviu para formular as próximas perguntas.

34 • capítulo 1
TÉCNICAS PARA OUVIR

TIPO COMO COLOCAR EM PRÁTICA

Se você quer chegar a um resultado desejado, faça declara-


Buscar uma síntese
ções a que os outros possam responder com ideias. Ouça e
Para promover a troca
responda de forma a sugerir quais ideias poderiam ser apro-
de informações na
veitadas e como implementá-las. Tenha também uma solução
direção de um objetivo.
alternativa engatilhada para em sua próxima pergunta.

ATIVIDADE
1. Para melhorar sua articulação, adquira o hábito de ler textos em voz alta, procurando
pronunciar corretamente cada palavra. Outro bom exercício é colocar um objeto entre os
dentes e procurar pronunciar as palavras. Ao remover o obstáculo, seus músculos faciais,
língua, alvéolos e maxilar estarão mais preparados para articular melhor as palavras (Fon-
te, DVD Como falar em público, Suma Econômica).

Os cuidados com a articulação ou dicção levam à pronúncia das palavras de modo


distinto, correto, expressivo e agradável. Distinto “quando é exposta com a maior
perfeição mecânica possível”. A dicção é correta “quando, na enunciação, vêm rigorosa-
mente cumpridas as normas que disciplinam, entre os brasileiros, a pronúncia nacional
julgada padrão”. Será expressiva quando exprimir, de modo absoluto, “a ideia ou o senti-
mento que se quer manifestar”. E teremos uma dicção agradável quando a palavra “soa
deleitando o ouvido” (ARAÚJO, 2003, p. 171).
2. Leia as palavras abaixo e procure identificar a diferença de cada uma quanto à pronúncia
e ao significado.

Fluir – fruir
Flagrante – fragrante
Franco – flanco
Infligir – infringir
Emergir – imergir
Arrear – arriar

capítulo 1 • 35
Despensa – dispensa
Fuzil – fusível
Vultoso – vultuoso

REFLEXÃO
A respeito da produção textual, há vários manuais, dicas e segredos sobre como escrever um
bom texto. Tudo isso pode até gerar certos mitos e ilusões sobre a escrita, como chegamos
a comentar neste capítulo. De qualquer modo, as sugestões sobre como fazer uma boa reda-
ção ou produzir bons textos podem conter algumas verdades ou até ajudarem parcialmente.
O importante é sabermos que não há um caminho fácil, é preciso bastante aplicação e con-
tinuidade no esforço para desenvolvermos nossa escrita.
Na Internet circula um texto bem humorado sobre dicas ou “mandamentos” para se es-
crever bem. Dê uma olhada e reflita sobre as sugestões que você considera mais pertinentes
e cabíveis no contexto organizacional.

1. Vc. deve evitar abrev. etc.

2. Desnecessário faz-se empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado, segundo


deve ser do conhecimento inexorável dos copidesques. Tal prática advém de esmero
excessivo que beira o exibicionismo narcisístico.

3. Anule aliterações altamente abusivas.

4. “não esqueça das maiúsculas”, como já dizia dona loreta, minha professora lá no colégio
alexandre de gusmão, no ipiranga.

5. Evite lugares-comuns assim como o diabo foge da cruz.

6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.

7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.

8. Chute o balde no emprego de gíria, mesmo que sejam maneiras, tá ligado?

9. Palavras de baixo calão podem transformar seu texto numa porcaria.

10. Nunca generalize: generalizar, em todas as situações, sempre é um erro.

11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repeti-
ção da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra
se encontra repetida.

36 • capítulo 1
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer meu amigo: “Quem cita os outros não tem
ideias próprias”.

13. Frases incompletas podem causar.

14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é,
basta mencionar cada argumento uma só vez. Em outras palavras, não fique repetindo a
mesma ideia.

15. Seja mais ou menos específico.

16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!

17. A voz passiva deve ser evitada.

18. Use a pontuação corretamente o ponto e a vírgula especialmente será que ninguém sabe
mais usar o sinal de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?

20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.

21. Exagerar é cem bilhões de vezes pior do que a moderação.

22. Evite mesóclises. Repita comigo: “mesóclises: evitá-las-ei!”

23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.

24. Não abuse das exclamações! Nunca! Seu texto fica horrível!

25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da ideia con-
tida nelas, e, concomitantemente, por conterem mais de uma ideia central, o que nem
sempre torna o seu conteúdo acessível, forçando, desta forma, o pobre leitor a separá-la
em seus componentes diversos, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria
ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através
do uso de frases mais curtas.

26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língua portuguêza.

27. Seja incisivo e coerente, ou não.

Autor desconhecido

capítulo 1 • 37
Com relação ao desenvolvimento de estratégias de comunicação empresarial, pondere se
vale a pena deixar que as limitações ou dificuldades para falar em público se tornem um im-
pedimento cabal para o seu sucesso profissional ou seu relacionamento mais efetivo com as
pessoas. Se para você o falar em público não é um segredo ou problema, avalie sua atitude
em relação aos outros no que diz respeito ao ouvir com atenção e cuidado.
Finalmente, nossa recomendação é que você aplique o que estudou aqui e tenha suces-
so em suas produções escritas e orais.

LEITURA RECOMENDADA
Você pode investir no aprendizado sobre produção textual lendo artigos que tratam do as-
sunto. Uma sugestão é o artigo “A dinâmica da redação criativa: as estratégias que preparam
o terreno para quem quer escrever textos mais dinâmicos e criativos”, de Luiz Costa Pereira
Junior, publicado na Revista Língua Portuguesa, disponível em: <http://revistalingua.uol.com.
br/textos.asp?codigo=11730> .
Um dos autores mais populares e recomendados na área da oratória é Reinaldo Polito. In-
formações sobre seus livros e artigos são facilmente encontradas na WEB, vale a pena dar
uma conferida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Paulo S. A arte de falar em público. Rio de Janeiro: Forense e Gryphus, 2003.

BRASIL, André. Fale bem, fale sempre. São Carlos: RiMa, 2003.

CÂMARA JR. J. Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. 14. ed. Petrópolis: Vozes,1997.

CHOCIAY, Rogério. Redação no vestibular da Unesp: a dissertação. São Paulo: Fundação


Vunesp, 2004.

CINTRA, José C. Técnica para apresentações com recursos audiovisuais. São Carlos: Rima,
2002.

Como falar em público. Rio de Janeiro: Suma Econômica, 1996. (DVD e material didático).

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto. 12. ed. São Paulo: Ática, 1996.

38 • capítulo 1
____. Lições de texto: leitura e redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2001.

MEDEIROS, J. B. Português instrumental. São Paulo: Atlas, 2000.

Programa Gestão da Aprendizagem Escolar – Gestar II. Língua Portuguesa: Caderno de


Teoria e Prática 4 – TP4: leitura e processos de escrita I. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2008.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Você tem dificuldades para escrever um bom texto? Quem não tem?
Pouca gente, não é mesmo? No próximo capitulo, vamos tratar dessa questão.
Trabalharemos alguns conceitos de texto e discurso, além de darmos indicações de como
elaborar textos com coesão e coerência.

capítulo 1 • 39
2
Texto, discurso,
coesão e coerência
textuais
2  Texto, discurso, coesão e coerência
textuais

Em diversas situações da vida profissional, percebemos a importância de pro-


duzirmos textos bem formados. Por isso mesmo, você terá neste capitulo, no-
ções básicas sobre texto e discurso, dicas para produzir textos bem formados e
orientações para aplicar os mecanismos de coesão e coerência textual.

OBJETIVOS
•  Compreender o que é um texto e quais características ele deve ter.
•  Conhecer os recursos para elaborar um texto bem escrito.
•  Aplicar os conhecimentos adquiridos nas práticas de escrita e de produção textual.

REFLEXÃO
Sobre qual tema foi a sua primeira redação? Você ainda se lembra?
Ao longo de nossa vida escolar, fazemos inúmeras redações. E talvez uma das exigên-
cias mais frequentes nas redações é exatamente a da coesão e coerência do texto. Por isso,
quero convidar você a rever seus apontamentos escolares ou livros da Educação Básica que
tratavam da elaboração do texto e da necessidade de coesão e coerência textuais.
Neste capitulo, é muito importante relembrar esses conceitos e avaliar nossas habilida-
des em relação à produção textual.

2.1  A produção de um texto

Imagine que alguém diga a um colega o seguinte:


“– Você sabe que horas são? Eu não posso me atrasar...”
Se a resposta for simplesmente: “sei”, provavelmente quem perguntou fica-
ria descontente com o tipo de resposta. Podemos afirmar isso porque a inten-
ção de quem pergunta não é obter uma informação sobre o conhecimento ou a
ignorância do colega a respeito do horário. A intenção é pedir uma informação
que traga orientação, referência e precisão numa situação na qual a pessoa per-

42 • capítulo 2
cebe que pode ficar atrasada em relação a algum compromisso. Essa intenção
de quem pergunta pode ser chamada de enunciação ou ato ilocucional.
A enunciação está presente na maioria dos textos. No caso acima, poderíamos
imaginar a presença explícita dessa enunciação do seguinte modo:
“– Fulano, me diz que horas são agora porque eu não posso me atrasar...”
Mas é possível que um texto ou uma fala não traga explicitadas as intenções
do autor, ou seja, a enunciação pode estar implícita. Nesse caso, será preciso
ouvir ou ler o texto, entendê-lo e, também, perceber as intenções do autor. Aí,
então, teremos uma decodificação desse texto.
Podemos dizer, a partir dessas observações, que na produção de um texto
está envolvida a intenção ou a enunciação, mesmo que esta não esteja explici-
tada ou clara no texto. O entendimento do texto implica, então, a decodificação
da intenção de quem o produziu. Por isso mesmo, às vezes, a gente pergunta:
“Mas o que é que você quis dizer com isso?”. Temos, aí, uma pergunta sobre a
enunciação (ABREU, 1999, p. 10).
A partir dessa noção inicial sobre enunciação, vamos procurar entender o
que é um texto e um discurso. Vamos observar qual é a diferença entre eles
e de que modo a noção de texto e de discurso pode ajudar-nos na elaboração
de textos adequados e eficientes. Vamos conhecer alguns mecanismos que
nos auxiliam na produção de textos sem repetições desnecessárias e com um
vocabulário adequado.

2.2  Texto e discurso

Considerando o que acabamos de apresentar sobre a noção de enunciação,


podemos dizer que “o texto é um produto da enunciação, estático, definitivo
e, muitas vezes, com algumas marcas da enunciação que nos ajudarão na tare-
fa de decodificá-lo” O discurso, por sua vez, “é dinâmico: principia quando o
emissor realiza o processo de codificação e só termina quando o destinatário
cumpre sua tarefa de decodificá-lo. Nesse sentido, podemos dizer, também,
que o discurso é histórico” (ABREU, 1999, p. 11). O discurso é o texto em ativi-
dade comunicativa; vindo a público e se realizando.
Assim, ao escrevermos um texto, temos de ter em mente que não escreve-
mos apenas para nós mesmos. Escrevemos para que outros leiam nosso tex-
to; texto que se transformará, então, em discurso. Por isso, deve haver cuida-
do com a elaboração do texto, com a forma pela qual nossas intenções estarão
marcadas ou presentes na mensagem.

capítulo 2 43
Além disso, não podemos descuidar quanto ao vocabulário, à adequação da
linguagem às situações e leitores que temos em vista e, ainda, temos de atentar
para a construção das frases e para a correção gramatical.
Voltando à noção de texto, vamos caracterizá-lo um pouco melhor.
Primeiramente, devemos considerar que um texto não é a soma de senten-
ças ou um aglomerado de frases. Ele deve ser um todo orgânico, com encade-
amentos que tornem suas partes interligadas. Isso implica, na leitura, que não
devemos tomar as frases ou as partes do texto isoladamente, sem considerar o
seu contexto. Se o texto é um todo orgânico, então, sua compreensão não pode
se basear apenas em um fragmento isolado do contexto.
Um texto precisa ser delimitado. Alguém já disse que um texto é “delimita-
do por dois espaços de não sentido, dois brancos, um antes de começar o texto
e outro depois”, ou seja, um texto tem início e fim, está delimitado num deter-
minado espaço. Isso implica uma organização textual. Se o texto é uma unida-
de, ele deve ter começo, meio e fim (PLATÃO & FIORIN, 2003, p. 17).
O texto deve ser, também, gerador de sentido. Caso isso não aconteça, não se
produzirá um discurso, o texto não se realizará. Os sentidos têm de ser marca-
dos pela coerência, devem ser, também, confirmados a partir de seu contexto.
A produção de um texto não está isolada de seu contexto histórico. O texto é o
produto de um sujeito que pertence “a um grupo social num tempo e num espaço”,
alguém que “expõe em seus textos as ideias, os anseios, os temores, as expectativas
de seu tempo e de seu grupo social” Assim, “é necessário entender as concepções
existentes na época e na sociedade em que o texto foi produzido para não correr o
risco de compreendê-lo de maneira distorcida” (PLATÃO & FIORIN, 2003, p. 17,18).

2.3  Coesão textual

Se um texto deve ser “um todo orgânico gerador de sentido”, é preciso estabelecer
correspondência e articulação entre as partes do texto. As frases não podem ser
soltas ou simplesmente amontoadas, numa sequência sem sentido e unidade.

CONCEITO
Você sabia que a palavra texto está relacionada, em sua origem, com a palavra tecido. Daí que
podemos falar na “tecitura de um texto”, em “tecer um texto”. É preciso tecer os fios, ou tecer
as palavras, de tal forma que o texto se apresente coeso e orgânico: uma unidade articulada.

44 • capítulo 2
Assim como antigamente os aprendizes em seus teares iam dominando a técnica de seu
trabalho, na prática constante da redação de textos poderemos também dominar as técnicas
de uma boa escrita.

WIKIMEDIA
Aprendizes em seus teares

O processo de articulação do texto é chamado de “encadeamento semântico”


(semântico = sentido). Ele é que produz a textualidade ou a “trama semântica”. A
coesão é exatamente esse processo de encadeamento que produz a textualidade,
que cuida da “estruturação da sequência superficial do texto” (ABREU, 1999, p. 12).
Podemos, então, dizer que a coesão textual é “a ligação, a relação, a conexão
entre as palavras, as expressões ou as frases do texto”, por meio de “elementos
formais que assinalam o vínculo entre os componentes do texto” (PLATÃO et
FIORIN, 2003, p. 370).
Vejamos, agora, os mecanismos de coesão que contribuem para a constru-
ção de um texto bem elaborado.

2.3.1  Coesão por referência

A repetição desnecessária de palavras, criando uma redundância indesejável, e


a quebra da sequência do texto, em função de problemas na retomada de uma
ideia ou de um termo, são problemas sérios.

capítulo 2 45
Observe:

(1) “Ele é meu genro preferido, casou-se com ela há cinco anos...”
(2) “Encontrei o amigo no bar.”
(3) “O diretor reuniu-se com a secretária em sua sala.”

No primeiro exemplo (1), temos o termo “ela” sem retomar nada explicita-
mente dito. Nesse caso, podemos até subentender que “ela” seja a “filha” ou
“uma filha” de quem fala, mas não se explicita nada.
No segundo caso (2), o artigo definido “o” traz um problema de coesão por-
que ficamos com a informação incompleta. Não sabemos quem é “o amigo”,
pois a palavra aparece pela primeira vez sem que antes tenha havido referência
a esse amigo.
No terceiro caso (3), temos um problema de coesão provocado pela ambi-
guidade do pronome “sua”, já que a reunião pode ter sido tanto na sala do dire-
tor quanto na sala da secretária.

Veja um outro caso:


“Reúna todas as informações e coloque-as no relatório.”
Nesse exemplo, temos duas sentenças articuladas entre si por meio da conjun-
ção “e”: a) “reúna todas as informações”; b) “coloque-as no relatório”. A segunda
sentença retoma o sentido do termo “as informações” usando o pronome “as”
(“coloque-as”). Temos aqui um exemplo de coesão textual por referência. O prono-
me “as” faz referência à expressão “as informações”.
Vamos, então, definir a coesão por referência como a retomada ou a recupe-
ração de um termo por meio de palavras que façam referência a este termo. Estas
palavras são, geralmente, pronomes, advérbios e artigos.

CONCEITO
A coesão por referência é o uso de pronomes, advérbios e artigos para retomar uma ideia ou
termos já expressados.

Atente para alguns exemplos que demonstram maneiras de realizarmos a


coesão textual por referência.

46 • capítulo 2
Primeiramente, uma situação que não apresenta uma retomada adequada
de determinados termos:
Fernando Haddad esteve, ontem, em Porto Alegre. Na referida cidade, o mes-
mo disse que o país tem investido mais na área educacional.

Observe, mais adiante, que há melhores opções para retomar ou fazer refe-
rência à cidade mencionada. Outra questão: o uso da palavra “mesmo” no lugar
de um pronome não é recomendável.

Vejamos uma opção para reescrevermos nosso texto estabelecendo a coe-


são adequadamente:
Fernando Haddad esteve, ontem, em Porto Alegre. Lá, ele disse que o país
tem investido mais na área educacional.

ATENÇÃO
Não convém usar a palavra “mesmo” (que pode ser advérbio, adjetivo ou substantivo) para
substituir um substantivo, pois ela é adequadamente empregada quando acompanha um
substantivo ou desempenha a função de substantivo (com o sentido de “a mesma coisa”).

Perceba que o advérbio de lugar “lá” e o pronome pessoal “ele” retomaram ade-
quadamente os termos que estão presentes na primeira sentença.
A mesma coisa acontece no exemplo abaixo:
“Comprei um livro. Um livro, entretanto, não me agradou.”
“Comprei um livro. O livro, entretanto, não me agradou.”

A inadequação do primeiro caso é corrigida pelo uso do pronome definido “o”,


que retoma o termo “um livro”.
Voltemos, antes de passar adiante, ao exemplo (3), a fim de reescrevê-lo:
“O diretor reuniu-se com a secretária em sua sala.”

Podemos resolver a ambiguidade do seguinte modo:


“O diretor reuniu-se com a secretária na sala dela.”
Ou:
“O diretor reuniu-se com a secretária na sala dele.”

capítulo 2 47
2.3.2  Coesão lexical

Uma outra maneira de retomar ou recuperar um termo presente numa sen-


tença anterior se dá por meio de sinônimos, hiperônimos, metonímias e ex-
pressões qualificativas.
Sinônimo é a palavra que mantém significado idêntico ou próximo à palavra
correspondente.
O hiperônimo é “um termo que mantém com outro uma relação do tipo
contém/está contido” (PLATÃO & FIORIN, 2003, p. 373). Os hiperônimos são
conhecidos, também, como “sinônimos superordenados”, são “palavras que
correspondem ao gênero do termo a ser retomado” (ABREU, 1999, p. 14).

CONCEITO
Hiperônimo: Quando uma palavra mantém com outra uma relação todo/parte ou classe/
elemento. Exemplo: Gosto muito de salgadinhos. Empada, então, adoro.

A metonímia é um recurso pelo qual se toma a parte pelo todo. As expres-


sões qualificativas, por sua vez, são termos “depreciativos” ou “apreciativos”
que retomam uma expressão ou ideia, revelando a atitude ou o juízo de valor de
quem escreve.
A coesão lexical se dá pelo uso de sinônimos, hiperônimos, metonímias, ex-
pressões apreciativas e depreciativas para retomar termos que serão utilizados
em sentenças subsequentes.

Voltemos ao nosso exemplo:


Fernando Haddad esteve, ontem, em Porto Alegre. Fernando Haddad disse em
Porto Alegre que o país tem investido mais na área educacional.

•  Vamos reescrevê-lo estabelecendo a coesão:

a) por meio de sinônimos ou hiperônimos


Fernando Haddad esteve, ontem, em Porto Alegre. Na capital gaúcha,
o ministro da educação disse que o país tem investido mais na área
educacional.

48 • capítulo 2
Veja, ainda, alguns exemplos com o uso de hiperônimos:

A empresa comprou vinte computadores novos, mas as máquinas de-


verão chegar somente no próximo mês porque os equipamentos ainda
estão retidos na alfândega.

Ele precisa de um armário novo, pois o móvel antigo está deteriorado.

b) por meio de expressões qualificativas


Termo apreciativo:
Fernando Haddad esteve, ontem, em Porto Alegre. Lá, o competente
ministro disse que o país tem investido mais na área educacional.

Termo depreciativo:
Fernando Haddad esteve, ontem, em Porto Alegre. Lá, o representan-
te da burocracia estatal alegou que o país tem investido mais na área
educacional.

c) uso de metonímias:
Vejamos, agora, um exemplo de coesão lexical com o uso de metonímias.

O presidente Bush reuniu-se, finalmente, com o presidente Lula. Al-


guns analistas internacionais, entretanto, não acreditam que a Casa
Branca cederá às pressões do Planalto na questão do etanol.

Note que “o presidente Bush”, que representa o governo americano,


foi retomado por uma parte desse governo, a Casa Branca. O governo
brasileiro, representado no texto pelo termo “o presidente Lula”, é reto-
mado também por uma parte, o Planalto.

2.3.3  Coesão por elipse

A simples omissão de um termo pode representar, também, um mecanismo de


coesão. Às vezes, temos a opção de omitir determinada palavra já mencionada,
sem que com isso haja prejuízo para o entendimento da sentença ou do texto.

capítulo 2 49
CONEXÃO
Veja mais sobre coesão referencial e lexical no link abaixo:
<http://vestibular.uol.com.br/ultnot/resumos/coesao-textual.jhtm>

ATENÇÃO
A coesão por elipse é a retomada de uma ideia ou referência na segunda sentença por meio
de uma ausência ou omissão.

Confira o nosso exemplo:


Fernando Haddad esteve, ontem, em Porto Alegre. Lá, disse que o país tem
investido mais na área educacional.

Na segunda sentença, “Fernando Haddad” foi simplesmente omitido. Ele


se acha retomado por ausência, ou seja, o leitor, ao ler a segunda frase, se depa-
ra com o verbo disse e, para interpretar o seu sujeito, tem de voltar à sentença
anterior e descobrir que quem disse foi Fernando Haddad (ABREU, 1999, p. 14).

2.3.4  Coesão por substituição

Muitas vezes, por questões de economia, a gente pode utilizar um único termo
para substituir uma expressão mais extensa ou uma sequência inteira. Desse
modo, deixamos o texto mais enxuto e mantemos sua coesão usando termos
como “tudo isso” para substituir outras partes mais extensas.
A coesão por substituição é aquela que substitui ou abrevia uma sequência
utilizando termos sintéticos ou predicados prontos.

Confira o exemplo:
O novo diretor pretende anunciar as novas regras para os processos de con-
tratação temporária, mas não deverá fazer isso neste mês.

Na segunda sentença, “fazer isso” retomou a sequência “pretende anunciar


as novas regras para os processos de contratação temporária”.

50 • capítulo 2
2.4  Coesão textual e a articulação sintática do texto

Vejamos, por último, alguns mecanismos que estabelecem a coesão textual por
meio de articulações sintáticas. As articulações sintáticas são processos que li-
gam, sintaticamente, as sentenças umas às outras. As articulações são feitas
por meio de conectivos ou termos articuladores.
Vamos, então, a alguns tipos de articulação sintática, chamando sua aten-
ção para os exemplos que serão dados.

2.4.1  Articulação sintática de oposição

Estabelece relações de oposição entre as sentenças de duas formas:

ARTICULAÇÃO SINTÁTICA DE OPOSIÇÃO POR MEIO DE COORDENAÇÃO ADVERSATIVA. USO DOS


ARTICULADORES: MAS, PORÉM, CONTUDO, TODAVIA, ENTRETANTO, NO ENTANTO.

Os alunos vieram à escola, mas não houve aula.


Encontrei dificuldades, porém consegui superá-las.
Encontrei dificuldades, todavia consegui superá-las.
Encontrei o livro que procurava, mas o alto valor do livro, entretanto, impediu-me de
comprá-lo.

Perceba que quando usamos os articuladores “mas” ou “porém”, estamos


nos valendo de expressões muito comuns e presentes na linguagem coloquial
ou cotidiana. Se usarmos, por exemplo, “todavia”, já estabelecemos certa for-
malidade. Você não imagina que alguém diga na mesa do bar: “Garçom, pedi
uma cerveja, todavia até o momento não fui atendido!”.

PORQUE, POIS, COMO, POR ISSO QUE, JÁ QUE, VISTO QUE, UMA VEZ QUE; POR,
POR CAUSA DE, EM VISTA DE, EM VIRTUDE DE, DEVIDO A, EM CONSEQUÊNCIA DE,
POR MOTIVO DE, POR RAZÕES DE

Embora os alunos tenham vindo à escola, não houve aula.


Apesar de ter encontrado dificuldades, consegui superá-las.
Ainda que tenha encontrado dificuldades, consegui superá-las.
Apesar de o diretor examinar seu pedido, não foi possível conceder o aumento salarial.

capítulo 2 51
2.4.2  Articulação sintática de causa

Estabelece relações de causa e efeito, por meio do uso dos articuladores.

ARTICULAÇÃO SINTÁTICA DE OPOSIÇÃO POR MEIO DE SUBORDINAÇÃO CONCESSIVA. USO DOS


ARTICULADORES: EMBORA, MUITO EMBORA, AINDA QUE, CONQUANTO, POSTO QUE;
APESAR DE, A DESPEITO DE, NÃO OBSTANTE.

Não fui à praia porque estava chovendo.


Porque estava chovendo, não fui à praia.
Como estava chovendo, não fui à praia.
Não fui à praia, pois estava chovendo.
Em virtude de estar chovendo, não fui à praia.

2.4.3  Articulação sintática de condição

Estabelece relação de condição entre as sentenças.

SE, CASO, CONTANTO QUE, DESDE QUE, A MENOS QUE, A NÃO SER QUE

Se você estudar, passará no concurso.


Caso você estude, passará no concurso.
Você passará no concurso, desde que estude.
Você não passará no concurso, a menos que estude.*
Você não passará no concurso, a não ser que estude.*
* ênfase no aspecto negativo, na possibilidade remota de se passar no concurso.

52 • capítulo 2
2.4.4  Articulação sintática de finalidade

Estabelece relação de finalidade ou propósito.

PARA, A FIM DE, COM O PROPÓSITO DE, COM A INTENÇÃO DE, COM O FITO DE, COM O INTUITO
DE, COM O OBJETIVO DE

Você precisa visitar o museu para comprovar o que estou falando.


O prefeito melhorou a infraestrutura a fim de receber mais turistas.
Estou trabalhando com o intuito de comprar uma casa.

2.4.5  Articulação sintática de conclusão

Estabelece relação de conclusão.

LOGO, PORTANTO, ENTÃO, ASSIM, POR ISSO, POR CONSEGUINTE, DE MODO QUE, EM VISTA DISSO,
POIS (APÓS O VERBO)

Estou doente, logo só poderei viajar na próxima semana.


Prestei muita atenção, portanto não estava distraído.
Ele não ultrapassou o limite de velocidade, assim, estava dirigindo com maior segurança.
Não vou ao cinema, ficarei, pois, em casa.

2.5  Coerência textual

Embora alguns autores cheguem até mesmo a não fazer distinção entre coesão
e coerência, vamos tomar a coerência como a interligação das ideias em um tex-
to de forma clara e lógica. A coerência textual está, assim, ligada à capacidade
de se estabelecer um sentido para o texto.

Alguns fatores contribuem para a coerência do texto. São eles:


a) Situacionalidade: diz respeito ao ambiente no qual o texto é construído,
produzido, recebido e lido.

capítulo 2 53
b) Informatividade: Um texto deve ter um grau adequado de informações
previsíveis e imprevisíveis. Isso significa que o texto deve apresentar in-
formações dadas ou já sabidas e informações novas, mas sem se tornar
redundante pela quantidade exagerada de informações conhecidas e
sem exagerar também nas informações novas.

c) Intertextualidade: o sentido de um texto pode depender, em grande


medida, da relação que ele estabelece com outros textos. Isso quer dizer
que na construção de um texto e na sua interpretação, nosso conhecimento
prévio ou repertório conta muito.

d) Intencionalidade: todo texto tem algum tipo de intencionalidade ou


objetivo. Devem se levar em conta na elaboração do texto as intenções
comunicativas.

e) Aceitabilidade: Parte da coerência de um texto é dada pela participação


do leitor ou receptor. Isso acontece porque o leitor interage com o texto
atribuindo-lhe sentido.

f) Conhecimento de mundo: um texto deve falar de coisas que o leitor


conhece ou deveria conhecer. Se o texto trata de assuntos que não fazem
parte do conhecimento de mundo ou bagagem cultural do leitor, o
sentido do texto fica comprometido.

g) Inferências: muitas vezes o texto traz informações implícitas, que


precisam ser deduzidas pelo leitor. As pressuposições e subentendidos
de um texto são exemplos de elementos que os receptores ou leitores de
um texto precisarão deduzir ou inferir.

h) Fatores de contextualização: os textos precisam estar relacionados com


determinadas situações comunicativas, como data, local, título, autoria etc.

i) Consistência e relevância: Os enunciados do texto não devem ser contra-


ditórios e devem estar, num mesmo tópico discursivo, relacionados a um
mesmo tema.

54 • capítulo 2
j) Focalização: é importante o foco ou a concentração do produtor e do leitor
do texto em determinada área de interesse, pois isso permite a apreensão do
significado do texto. Ao focar o texto em determinada área de seu interesse,
o leitor ou o produtor do texto fazem a leitura/produção de acordo com sua
visão, seu propósito, suas vivências, seu conhecimento de mundo etc.

ATIVIDADE
1. Como você resolveria a ambiguidade das frases abaixo?
a) O gerente conversou com o supervisor em sua sala.
b) Encontrei um funcionário entre o grupo que estava uniformizado.”

2. A partir da lista de características abaixo, marque sim ou não conforme a pertinência para
o texto empresarial.
Vocabulário sofisticado ( ) sim ( ) não
Clareza ( ) sim ( ) não
Vocabulário simples e formal ( ) sim ( ) não
Objetividade ( ) sim ( ) não
Frases curtas ( ) sim ( ) não
Frases longas ( ) sim ( ) não
Frases rebuscadas ( ) sim ( ) não
Gramática correta ( ) sim ( ) não

Adaptado de GOLD, 2005, p. 6

3. (Prova Brasil/MEC) Leia o poema:


Eu tenho um sonho
Eu tenho um sonho
lutar pelos direitos dos homens
Eu tenho um sonho
tornar nosso mundo verde e limpinho
Eu tenho um sonho
de boa educação para as crianças
Eu tenho um sonho
de voar livre como um passarinho
Eu tenho um sonho
ter amigos de todas raças
capítulo 2 55
Eu tenho um sonho
que o mundo viva em paz
e em parte alguma haja guerra
Eu tenho um sonho
Acabar com a pobreza na Terra
Eu tenho um sonho
Eu tenho um monte de sonhos...
Quero que todos se realizem
Mas como?
Marchemos de mãos dadas
e ombro a ombro
Para que os sonhos de todos
se realizem!

SHRESTHA, Urjana. Eu tenho um sonho. In: Jovens do mundo inteiro. Todos temos direi-
tos: um livro de direitos humanos. 4a ed. São Paulo: Ática, 2000. p.10.

No verso “Quero que todos se realizem”, o termo destacado refere-se a

a) amigos
b) direitos
c) homens
d) sonhos
e) jovens

3. Estabeleça a relação ou a articulação de oposição entre as frases.

a) Inclusão social é uma das principais metas do turismo. O segmento de Aventura Es-
pecial ficou de fora do projeto.

b) Há uma pequena procura por profissionais especializados na gestão e na organiza-


ção de grandes eventos. Eventos como convenções, exposições e feiras, em especial
feiras agropecuárias, crescem cada vez mais no interior do Brasil.

c) Hoje estou muito cansado. Irei passear com as crianças.

d) O relatório foi entregue no prazo. O relatório não estava completo.

e) A escola abriu novas vagas no turno da tarde. Muitas crianças estão sem poder es-
tudar.

56 • capítulo 2
4. Reescreva o texto melhorando sua coesão textual.

“Diz-se que o macarrão era apenas um canudinho de massa que os chineses usavam
para tomar bebidas. Marco Polo não entendeu o uso do macarrão, ensinou seus compa-
triotas a cozinhar e a comer o macarrão e transformou o macarrão num sucesso culinário
definitivo.”

5. Reescreva as frases restabelecendo a coesão e a coerência.

a) A polícia não tem pistas dos culpados, mas a polícia vai empenhar-se para chegar
aos culpados.

b) Os alunos acharam a prova com um alto grau de dificuldade, mas os alunos pediram
ao professor que a próxima prova não tivesse um alto grau de dificuldade.

REFLEXÃO
Vimos, neste capítulo, que a coesão textual é responsável pelo encadeamento harmônico do
texto, constituindo-se em um processo que estabelece a relação entre as sentenças ou as
partes do texto. Se escrevermos adequadamente um texto, mantendo sua coesão, facilitare-
mos o trabalho de leitura, pois o leitor não terá de fazer um esforço excessivo para associar
as ideias ou as partes do texto que escrevemos.

LEITURA RECOMENDADA
Para aprofundar seus conhecimentos sobre cognição e texto, faça a leitura de Cognição e
texto: a coesão e a coerência textuais, de Carmen Elena das Chagas, um estudo sobre a im-
portância da coesão e da coerência na construção da progressividade do texto, o qual toma
como modelo o processo cognitivo que ambas necessitam para exercer o fundamental papel
de elementos linguísticos presentes na superfície textual, pois se interligam e se interconec-
tam, por meio de recursos também linguísticos, de modo a formar um “tecido” no contexto
em que estão inseridas.
Disponível em Ciências & Cognição 2007; Vol. 12: 214-218
<http://www.cienciasecognicao.org >

capítulo 2 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, A. S. Curso de redação. 3. ed. São Paulo: Ática, 1999.

FÁVERO, Leonor L. Coesão e coerência textuais. 5 ed. São Paulo: Ática, 1998.

GOLD, Miriam. Redação empresarial: escrevendo com sucesso na era da globalização. 3. ed.
São Paulo: Pearson Education, 2005.

HELLER, Robert. Como se comunicar bem. São Paulo: Publifolha, 2000. (Série Sucesso
Profissional).

RIBEIRO, Manuel P. Gramática aplicada da língua portuguesa. 15 ed. revisada e ampliada. Rio
de Janeiro: Metáfora, 2005.

SAVIOLI, F. P., FIORIN, J. Lições de texto: leitura e redação. 4. ed. São Paulo: Ática, 2003.

TEIXEIRA, Leonardo. Comunicação na empresa. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Após trabalharmos a noção de texto e apresentarmos mecanismos de coesão textual, vamos
desenvolver no capítulo seguinte, primeiramente, o tema crase, os casos em que há obriga-
toriedade do uso, os casos facultativos e as situações em que a crase não deve ser utilizada.
Vamos apresentar também uma introdução sobre pronomes, sobre o emprego adequado dos
pronomes pessoais e por fim, trataremos da colocação pronominal.

58 • capítulo 2
3
Crase e colocação
pronominal
3  Crase e colocação pronominal
Neste capítulo, iniciamos com explicações sobre a origem da crase, seu empre-
go, apresentando as situações em que seu uso é obrigatório, veremos também
os casos em que seu uso é facultativo e quando não devemos usar a crase, além
dos casos especiais. Na sequência, trataremos do papel fundamental exercido
pelos pronomes nas interações verbais, assim como da classificação e emprego
dos pronomes pessoais.
Finalizamos o capitulo com a posição dos pronomes oblíquos átonos em
relação aos verbos, apresentando deste modo a colocação pronominal.

OBJETIVOS
•  Compreender o que é a crase, saber empregá-la nas diferentes situações, sejam elas obri-
gatórias, facultativas ou nos casos em que não se usa a crase;
•  Compreender o papel exercido pelos pronomes nas interações verbais;
•  Classificar os pronomes pessoais e empregá-los de forma adequada;
•  Saber empregar os pronomes oblíquos átonos em relação aos verbos e de acordo com as
regras de colocação pronominal.

REFLEXÃO
Vou a Bahia? Ou vou à Bahia? Você já se deparou com muitas dúvidas a respeito do
uso da crase? Lembra-se de situações, seja na sua vida acadêmica ou profissional, em que
se perguntou se tem crase ou não tem crase em determinada oração? E nas situações de
emprego de pronome? Isto é pra mim fazer? Ou Isto é pra eu fazer? Pois bem, nesse capítulo
vamos fazer as pazes com esses dilemas, por meio de muito estudo, é claro!

3.1  Origem da crase

De acordo com a Gramática histórica, crase é um metaplasmo por subtração, ou


seja, ocorre quando se tiram ou diminuem fonemas à palavra.
A crase consiste na fusão de dois sons vocálicos contíguos. Ex.: pede > pee >
pé; aviolu > avoo (arc.) > avô; dolore > door > dor.

60 • capítulo 3
Atualmente, ocorre a crase apenas com dois aa: preposição + artigo definido
(à, às) ou preposição + pronome demonstrativo (àquele, àquela, àquilo etc.).

3.2  Emprego atual da crase

É o nome que se dá à fusão, à contração de dois aa.


Acento grave (`) é o sinal que indica a fusão de dois aa, ou seja, é o acento
indicador da crase, da contração de dois aa. Portanto, nenhum a tem crase, mas
acento grave.
Simplificaremos este assunto em dois casos apenas, tirante os casos facul-
tativos do uso do acento grave.

3.2.1  1º Caso

Ocorre a crase quando o termo regente (subordinante) exigir a preposição a e o


termo regido (subordinado) admitir o artigo definido a, ou quando este último
for representado por um pronome demonstrativo iniciado por a. Ex.:

3.2.1.1  Vou à praça. a + a


O termo regente ”Vou” exige a preposição a: quem vai, vai a algum lugar; o ter-
mo regido “praça” admite o artigo definido a (a praça é bonita.). Neste caso,
ocorreu a crase e este a recebe acento grave.
CREATAS / GETTY IMAGES

CONEXÃO
Crase e acento são conceitos distintos; entender essa distinção é fundamental para bem
compreender este assunto.

capítulo 3 • 61
3.2.1.2  Chegamos a Fortaleza. a + Ø
O termo regente “Chegamos” exige a preposição a: quem chega, chega a algum
lugar; o termo regido “Fortaleza” não admite o artigo definido a (Fortaleza é ca-
pital do Ceará.). Portanto, não ocorre a crase, sendo este a preposição essencial.

3.2.1.3  Entendi a questão. Ø + a


O termo regente “Entendi” não exige preposição a: quem entende, entende al-
guma coisa; o termo regido “questão” admite o artigo definido a (a questão está
correta.). Logo, não ocorre a crase e este a é simplesmente artigo definido.
O mesmo ocorre quando o termo regido for um pronome demonstrativo.
Ex.:
Ainda não assisti àquele filme.
a + aquele ou:

Ainda não assisti a esse filme.

Prefiro esta fruta àquela.


ou:
a + aquela

Prefiro esta fruta a essa.


POLKA DOT IMAGES / GETTY IMAGES

Entretanto, há este caso:


Não encontrei aquela resposta.

Ø + aquela ou:

62 • capítulo 3
Não encontrei (Ø) essa resposta.

Não há necessidade de o aluno decorar todos os casos de “crase proibida”,


conforme as gramáticas tradicionais apresentam, pois caímos sempre no 1º
caso (3.2.1), em que o termo regido não aceita o artigo definido a. Exemplifi-
cando:

Sua roupa está cheirando a suor. (suor = substantivo masculino)


“Tudo cheirava-me a asneiras.” (asneiras = substantivo em sentido genérico)
Está começando a esfriar. (esfriar = verbo)
Irei a uma festa. (uma = artigo indefinido)
Observe que na frase “Não assisto a filmes de guerra ou de violência”, em-
bora o termo regente exija preposição a, não ocorre a crase, porque o termo
regido, além de ser masculino, está no plural.

A crase ainda é motivo de dúvidas para muitas pessoas. Diacronicamente,


trata-se de um metaplasmo de subtração (coor > cor = ocorre a queda de uma
vogal). Modernamente, crase é a fusão de vogais idênticas (preposição a + artigo
a, ou preposição a + pronome demonstrativo a, aquele, aquilo etc.).
Ocorrerá a crase somente quando o termo regente (subordinante) exigir
preposição a e o termo regido (subordinado) admitir artigo a. Quando dizemos
“Vou à escola”, ocorre a crase porque o termo regente — verbo ir — exige a pre-
posição a (quem vai, vai a algum lugar), e o termo regido — escola — aceita o
artigo a (A escola é grande, por exemplo). Ao afirmar “Cheguei a Brasília de ma-
nhã”, o termo regente “chegar” exige preposição a, mas o termo regido “Brasí-
lia” não aceita o artigo a (Brasília é capital do Brasil), ocorrendo apenas a prepo-
sição. Já em “Encontramos a mensagem”, o termo regente encontrar não exige
preposição a, e o termo regido “mensagem” admite o artigo a. (A mensagem foi
recebida por todos), ocorrendo apenas o artigo definido.

ATENÇÃO
Em vez de usarmos as expressões “a craseado” e “a com crase”, devemos empregar mais
propriamente ocorre a crase; o a recebe, pois, acento grave. Ao dizer “Já assisti àquele filme”,
ocorre a crase e, consequentemente, o pronome demonstrativo recebe acento grave.

capítulo 3 • 63
Procure justificar a ocorrência da crase nestes versos do escritor José Paulo
Paes:
Sem a pequena morte
de toda noite
como sobreviver à vida
de cada dia?

ATENÇÃO
Ocorrerá a crase antes das palavras casa (lar), terra (antônima de bordo) e distância se
aparecerem com modificador ou forem delimitadas.
Ex.: Cheguei a casa de madrugada.
Mas: Voltei à casa de minha namorada cedo.
Retornamos a terra à noitinha.
Mas: Retornarei à terra de meus avós.
No zoológico, os animais ficam a distância.
Mas: Os guardas ficaram à distância de vinte metros.

3.2.2  2º Caso

Ocorre a crase em locuções (prepositivas, adverbiais ou conjuntivas) com pala-


vras femininas. Ex.:
Às vezes não a encontro à noite. (locuções adverbiais)
Os policiais estão à procura do ladrão. (locução prepositiva)
À proporção que chove, mais preocupados ficamos. (locução conjuntiva)
Fazer uma redação à Rui Barbosa. (está subentendida a locução à semelhança de).

ATENÇÃO
Ocorrendo a elipse da palavra moda ou maneira, das expressões à moda de, à maneira
de, ocorrerá a crase diante de nomes masculinos:
Calçados à Luís XV. (à moda de Luís XV).
Estilo à Coelho Neto.
Era um senhor atarracado, de grossos bigodes à Kaiser. (José Maria Belo)
Aliás, magníficas perucas à Luís XIV. (Mário Quintana)

64 • capítulo 3
Além da ocorrência da crase com termos regentes e regidos, há o caso de
locuções com palavras femininas: são as locuções adverbiais, prepositivas e
conjuntivas.
As locuções adverbiais mais frequentes são: às vezes, à noite, às claras, à toa.
Os escritores as empregam constantemente: Esses ficarão à direita da Mão (Jor-
ge de Lima). Santos cumpriu tudo à risca (Machado de Assis).
São bastante conhecidas as locuções prepositivas: à procura de, à custa de,
à volta com: À força de pensar, acabou adormecendo. Drummond escreveu: “O
noivo seguia para a casa da noiva, à frente de um cortejo”.
Apenas a relação de proporção forma as locuções conjuntivas proporcio-
nais: À medida que descia, tranquilizava-se. (Graciliano Ramos) E à proporção
que os dias iam passando, os registros eram cada vez mais sucintos. (Carlos Drum-
mond de Andrade)

Sempre ocorrerá crase nas locuções adverbiais com a palavra horas (mesmo
subentendida): Cheguei a casa às dez horas. Casou no sábado e logo na terça en-
trava em casa às três da manhã. (Dalton Trevisan)

3.3  Casos facultativos do uso do acento grave, indicador da crase

Nestes casos, o uso do acento grave é facultativo desde que o termo regente exi-
ja a preposição a. Caso contrário, não podemos pensar na ocorrência da crase.
Antes de pronome possessivo feminino
Ex. – Escrevi a / à minha professora. STOCKBYTE / GETTY IMAGES

(quem escreve, escreve a alguém)

3.3.1  Antes de nome próprio de pessoa (íntima,


familiar)
Ex.: Não fiz referência a / à Teresa.
(quem faz referência, faz referência a
alguém)

Com a locução até a, antes de palavra feminina


Ex.: Fui até a / até à esquina, mas não o encontrei.
(quem vai, vai a algum lugar)

capítulo 3 • 65
CONEXÃO
Você percebeu que a crase sempre foi assunto de muitas dúvidas entre os alunos. Você
poderá conhecer mais sobre o assunto, lendo o artigo Crase, disponível no link:
<http://www.portalsaofrancisco.com.br>.

Na língua portuguesa, há três casos de ocorrência de crase facultativa, des-


de que o termo regente exija preposição a.
O primeiro deles é com relação a nomes próprios femininos, pois, dependendo
do contexto, da intimidade que se tem com a pessoa, usa-se ou não o artigo definido
a. Em “Sempre faço referência à Rosinha”, esta é uma pessoa íntima, conhecida, o
que não acontece em “Sempre faço referência a Rosinha”.
Antes de pronome possessivo feminino, ocorre a mesma ideia. “Escrevi à mi-
nha diretora”, pois posso antepor o artigo em “A minha diretora é ótima”; ou sim-
plesmente usar a preposição: “Escrevi a minha diretora”.
A palavra até é sempre preposição essencial. Por isso, alguns autores não
empregam outra preposição após ela. Logo, podemos dizer “Vou até à padaria”
ou “Vou até a padaria”.
Em relação aos dois primeiros casos, não podemos pensar em acento grave
caso o termo regente não exija preposição a: “Constantemente encontro a Rosi-
nha”, “Vi a minha diretora no pátio”.
Talvez um dos erros mais vulgarizados entre nossos estudantes – e não ape-
nas entre eles – seja o decorrente da confusão entre os fonemas há, a, à, forma
verbal, preposição e contração, respectivamente. Além de outros sentidos, a
forma verbal há é empregada para designar tempo decorrido. Na maioria das
vezes, há pode ser substituído pela forma verbal faz, impessoal. Assim, há mui-
to tempo que não o encontro (= faz muito tempo), não a vejo há dois dias (= faz
dois dias).
Quando se faz referência a futuro, ou a tempo a decorrer, o que cabe é ape-
nas a preposição a. Dessa forma: daqui a duas semanas, estaremos a quatro
meses do fim do ano. Vale lembrar que nas referências a distância é normal-
mente a que se emprega: Moro a três quarteirões daqui, numa casa situada a
dois quilômetros do centro da cidade.
“Eu nasci há dez mil anos atrás...” é a letra de uma música composta pelo es-
critor Paulo Coelho e interpretada, com muita ênfase, por Raul Seixas. Trata-se

66 • capítulo 3
de uma redundância ou pleonasmo vicioso. Eles deveriam escrever e cantar “Eu
nasci há dez mil anos...” ou “Eu nasci dez mil anos atrás...”, restando apenas a
hipérbole – figura de linguagem –, mas o vício de linguagem não.
Antes de resolver as atividades, leia este artigo sobre crase, presente no site
<http://www.gramaticaonline.com.br/gramatica/janela.asp?cod=92>, onde você
encontrará outra forma de apresentação, com novos exemplos.

3.4  Crase

A palavra crase provém do grego (krâsis) e significa mistura. Na língua portu-


guesa, crase é a fusão de duas vogais idênticas, mas essa denominação visa a
especificar principalmente a contração ou fusão da preposição a com os artigos
definidos femininos (a, as) ou com os pronomes demonstrativos a, as, aquele,
aquela, aquilo, aqueloutro.

Para saber se ocorre ou não a crase, basta seguir três regras básicas:

1.  Só ocorre crase diante de palavras femininas, portanto nunca use o


acento grave indicativo de crase diante de palavras que não sejam fe-
mininas.
Ex. – O sol estava a pino.
Sem crase, pois pino não é palavra feminina.
Ex. – Ela recorreu a mim.
Sem crase, pois mim não é palavra feminina.
Ex.– Estou disposto a ajudar você.
Sem crase, pois ajudar não é palavra feminina.

2.  Se a preposição a vier de um verbo que indica destino (ir, vir, voltar, che-
gar, cair, comparecer, dirigir-se...), troque este verbo por outro que in-
dique procedência (vir, voltar, chegar...); se, diante do que indicar pro-
cedência, surgir da, diante do que indicar destino, ocorrerá crase; caso
contrário, não ocorrerá crase.
Ex. – Vou a Porto Alegre.
Sem crase, pois: Venho de Porto Alegre.
Ex. – Vou à Bahia.
Com crase, pois: Venho da Bahia.

capítulo 3 • 67
3.  Se não houver verbo indicando movimento, troca-se a palavra feminina
por outra masculina; se, diante da masculina, surgir ao, diante da femi-
nina, ocorrerá crase; caso contrário, não ocorrerá crase.
Ex. – Assisti à peça.
Com crase, pois: Assisti ao filme.
Ex. – Paguei à cabeleireira.
Com crase, pois: Paguei ao cabeleireiro.
Ex. – Respeito as regras.
Sem crase, pois: Respeito os regulamentos.

Casos especiais
1.  Diante das palavras moda e maneira, das expressões adverbiais à moda
de e à maneira de, mesmo que as palavras moda e maneira fiquem su-
bentendidas, ocorre crase.
Exs.:
Fizemos um churrasco à gaúcha.
Comemos bife à milanesa, frango à passarinho e espaguete à bolonhesa.
Joãozinho usa cabelos à Príncipe Valente.

2.  Nos adjuntos adverbiais de modo, de lugar e de tempo femininos, ocor-


re crase.
Ex.: – À tarde, à noite, às pressas, às escondidas, às escuras, às tontas, à direi-
ta, à esquerda, à vontade, à revelia ...

3.  Nas locuções prepositivas e conjuntivas femininas, ocorre crase.


Ex.: – À maneira de, à moda de, às custas de, à procura de, à espera de, à me-
dida que, à proporção que...

4.  Diante da palavra distância, só ocorrerá crase se houver a formação de


locução prepositiva, ou seja, se não houver a preposição de, não ocor-
rerá crase.
Exs.:
Reconheci-o a distância.
Reconheci-o à distância de duzentos metros.

68 • capítulo 3
5.  Diante do pronome relativo que ou da preposição de, quando for fusão
da preposição a com o pronome demonstrativo a, as (= aquela, aquelas).
Exs.:
Essa roupa é igual à que comprei ontem.
Sua voz é igual à de um primo meu.

6.  Diante dos pronomes relativos a qual, as quais, quando o verbo da ora-
ção subordinada adjetiva exigir a preposição a, ocorre crase.
Ex.: – A cena à qual assisti foi chocante. (quem assiste assiste a algo)

7.  Quando o a estiver no singular, diante de uma palavra no plural, não


ocorre crase.
Exs.:
Referi-me a todas as alunas, sem exceção.
Não gosto de ir a festas desacompanhado.

8.  Nos adjuntos adverbiais de meio ou instrumento, não ocorre crase, a


não ser que cause ambiguidade.
Exs.:
Preencheu o formulário a caneta.
Paguei a vista minhas compras.

Nota – Modernamente, alguns gramáticos estão admitindo crase diante de


adjuntos adverbiais de meio, mesmo não ocorrendo ambiguidade.

9.  Diante de pronomes possessivos femininos, é facultativo o uso do artigo;


então, quando houver a preposição a, será facultativa a ocorrência de crase.
Exs.:
Referi-me a sua professora.
Referi-me à sua professora.

10.  Após a preposição até, é facultativo o uso da preposição a, portanto,


caso haja substantivo feminino à frente, a ocorrência de crase será fa-
cultativa.
Exs.:
Fui até a secretaria.
Fui até à secretaria.

capítulo 3 • 69
11.  A palavra CASA
A palavra casa só terá artigo se estiver especificada, portanto só ocorrerá cra-
se diante da palavra casa nesse caso.
Exs.:
Cheguei a casa antes de todos.
Cheguei à casa de Ronaldo antes de todos.

12.  A palavra TERRA


Significando planeta, é substantivo próprio e tem artigo, consequentemen-
te, quando houver a preposição a, ocorrerá a crase; significando chão firme,
solo, só tem artigo, quando estiver especificada, portanto, só nesse caso, pode-
rá ocorrer a crase.
Exs.:
Os astronautas voltaram à Terra.
Os marinheiros voltaram a terra.
Irei à terra de meus avós.

3.5  Pronome

Pronomes são palavras que substituem ou acompanham outras palavras, prin-


cipalmente os substantivos. Podem também remeter a palavras, orações e frases
expressas anteriormente (CEREJA; MAGALHÃES, 2005).

ATENÇÃO
Os pronomes exercem papel fundamental nas interações verbais. São eles que indicam
as pessoas do discurso, expressam formas sociais de tratamento e substituem, acompanham
ou retomam palavras e orações já expressas. Contribuem, assim, para garantir a síntese, a
clareza, a coerência e a coesão do texto. (CEREJA; MAGALHÃES, 2005).

Os pronomes que funcionam como substantivos chamam-se pronomes


substantivos; e os que acompanham os substantivos, pronomes adjetivos.
Ex.: Esta casa é mais confortável que a outra. (esta – pron. adjetivo; outra –
pron. subst.)

70 • capítulo 3
3.6  Pronomes pessoais

Os pronomes pessoais designam diretamente uma das pessoas do discurso:


•  O locutor (quem fala): 1ª pessoa – eu (singular) ou nós (plural).
•  O interlocutor (com quem se fala): 2ª pessoa – tu (singular) ou vós (plu-
ral).
•  O assunto ou referente (do que se fala): 3ª pessoa – ele/ela (singular) ou
eles/elas (plural).

Pronomes pessoais são aqueles que indicam as três pessoas do discurso.


Classificam-se em retos e oblíquos.

PRONOMES PRONOMES
NÚMERO PESSOA RETOS OBLÍQUOS
Singular 1ª eu me, mim, comigo
2ª tu te, ti, contigo
se, si, consigo, o, a,
3ª ele/ela
lhe
Plural 1ª nós nos, conosco
2ª vós vos, convosco
se, si, consigo, os,
3ª eles/elas
as, lhes

A variação em pessoais retos e pessoais oblíquos está ligada à função que os


pronomes desempenham na frase. Se for a função de sujeito, usaremos os prono-
mes retos, se for a função de objeto direto, usam-se, normalmente, os pronomes
oblíquos átonos, e na função de objeto indireto, os pronomes oblíquos tônicos.

Emprego dos pronomes pessoais:


•  As formas oblíquas o, a, os e as completam verbos que não vêm regidos
de preposição; enquanto lhe e lhes completam verbos regidos das prepo-
sições a ou para (não expressas);
•  Em pouco uso, porém vigente, as formas mo, to, no-lo, vo-lo, lho e fle-
xões resultam da fusão de dois objetos, representados por pronomes
oblíquos (ninguém mo disse = ninguém o disse a mim).

capítulo 3 • 71
•  O, a, os e as viram lo(a/s) quando associados a verbos terminados em r, s
ou z e viram no (a/s), se a terminação verbal for em ditongo nasal.
•  O/a (s), me, te, se, nos, vos desempenham função se sujeitos de infinitivo
ou verbo no gerúndio, junto ao verbo fazer, deixar, mandar, ouvir e ver
(mandei-o entrar / eu o vi sair / deixei-as chorando).
•  Você hoje é usado no lugar das segundas pessoas (tu/vós), levando o ver-
bo para a 3ª pessoa.
•  As formas de tratamento serão precedidas de vossa quando nos dirigir-
mos diretamente à pessoa, e de sua quando fizermos referência a ela.
Troca-se na abreviatura o v. Pelo s.
•  Quando precedidos de preposição, os pronomes retos (exceto eu e tu)
passam a funcionar como oblíquos.
•  Eu e tu não podem vir precedidos de preposição, exceto se funcionarem
como sujeito de um verbo no infinitivo. (isto é para eu fazer.).
•  Pronomes acompanhados de só ou todos, ou seguido de numeral, assu-
mem forma reta e podem funcionar como objeto direto (estava só ele no
banco / encontramos todos eles).
•  Me, te, se, nos, vos podem ter valor reflexivo, enquanto se, nos, vos po-
dem ter valor reflexivo e recíproco.
•  Si e consigo têm valor, exclusivamente, reflexivo e são usados para a 3ª
pessoa.
•  Conosco e convosco devem aparecer na sua forma analítica (com nós e
com vós) quando vierem com modificadores (todos, outros, mesmos,
próprios, numeral ou oração adjetiva).
•  Os pronomes pessoais retos podem desempenhar função de sujeito, pre-
dicativo do sujeito ou vocativo, este último com tu e vós (nós temos uma
proposta. / Eu sou eu e pronto. / Ó, tu, senhor jesus.)
•  Não se pode contrair as preposições de e em com pronomes que sejam
sujeitos. (Em vez de ele continuar, desistiu).
•  Os pronomes átonos podem assumir valor possessivo (levaram-me o di-
nheiro / pesavam-lhe os olhos);
•  Alguns pronomes átonos são partes integrantes de verbos como suici-
dar-se, apiedar-se, condoer-se, ufanar-se, queixar-se, vangloriar-se etc.
•  Podemos usar alguns pronomes oblíquos como expressão expletiva.
(Não me venha com essa)

72 • capítulo 3
Observe o uso dos pronomes pessoais neste excerto da música Oração ao
tempo, de Caetano Veloso:
Oração ao tempo

(...) O que usaremos pra isso


Fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo

E quando eu tiver saído


Para fora do teu círculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Ainda assim acredito


Ser possível reunirmo-nos
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo Tempo Tempo Tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo Tempo Tempo Tempo (...)

CONEXÃO
Para acesso à letra da música na íntegra, acesse: <http://www.vagalume.com.br/caetano-
veloso/oracao-ao-tempo.html#ixzz2NElXf8k5>. Acesso em 11/3/2013.

capítulo 3 • 73
3.7  Colocação pronominal

Os pronomes pessoais oblíquos átonos (me, te, se, lhe(s), o(s), a(s), nos e vos)
formam, com o verbo, um todo fonético. São colocados, frequentemente, após
a forma verbal (ênclise); muitas vezes, antes (próclise); mais raramente, no
meio (mesóclise). Mas essa colocação não é indiferente, pois, com os pronomes
átonos, o verbo se alonga e o ritmo da frase modifica-se. A correta colocação do
pronome átono será sempre aquela que provocar um ritmo agradável, caracte-
rístico do Português.

“Deixem-me ser! Sentir-me-ei homem somente quando me deixarem usar uma cabeça
que pensa, uma boca não muda e mãos feitas para ação.”

Neste pensamento, ocorrem as três posições possíveis do pronome pessoal


oblíquo átono: o período começa com um verbo no imperativo, exigindo, por-
tanto, o pronome enclítico (“Deixem-me”); a segunda oração inicia-se com um
verbo no futuro do presente do indicativo, exigindo, assim, a mesóclise (“Sentir-
me-ei”); na terceira oração, temos a conjunção subordinativa quando que atrai o
pronome proclítico (“quando me deixarem”).
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Observe que, no segundo e quinto quadrinhos, a personagem utiliza duas


locuções verbais (“deve estar me reservando” e “estão me guardando”) com o
pronome oblíquo entre os verbos, caso mais frequente na fala brasileira; no ter-
ceiro quadrinho, o advérbio de negação atrai a próclise.

74 • capítulo 3
3.8  Próclise

Para colocarmos adequadamente os pronomes na frase, devemos, antes de tudo,


estar atentos ao que soa bem. Esse procedimento ajuda bastante, mesmo na lín-
gua escrita. Por exemplo, numa conversa ou num texto escrito, dificilmente o
falante diria ou escreveria “Você nunca disse-me isso”. Soa melhor aos nossos
ouvidos “Você nunca me disse isso”, o que coincide perfeitamente com as regras
da norma culta da língua portuguesa.
Apesar de a eufonia ser um critério importante, convém você conhecer as re-
gras do padrão culto da língua, para que possa usá-las com propriedade, quan-
do necessário.
Emprega-se a próclise quando há, antes do verbo, palavras que exercem
atração sobre o pronome; são chamados fatores de próclise.

3.8.1  Advérbios

Exs.:
Jamais os esquecerei.
Já me criticaram várias vezes.
Nunca se queixa nem se aborrece.

Observação – Todos os advérbios exigem próclise, mas quando se deseja


pausa respiratória depois do advérbio, por motivo de ênfase, o pronome apa-
rece enclítico. Exs.:
Aqui, trabalha-se.
Propositadamente, responderam-me todos.

3.8.2  Pronomes

Exs.:
Aquilo nos interessa muito. (demonstrativo)
Tudo se transforma neste mundo. (indefinido)
Quem te viu lá? (interrogativo)
... para assistir à cerimônia que se realizará... (relativo)
Só então Luísa adivinhou o que se teria passado. (Fernando Namora)

capítulo 3 • 75
Observe como David Hume, filósofo escocês, empregou a próclise com o
pronome relativo:
A beleza das coisas existe na mente de quem as contempla.
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3.8.3  Conjunções ou locuções subordinativas

Exs.:
Espero que me entendas!
Embora a reconhecesse, não a cumprimentei.
Sempre que nos encontrávamos, brigávamos muito.
Disse-me que não iria à festa, ainda que a convidassem.

3.8.4  Oração exclamativa, optativa e interrogativa direta

Exs.:
Como te iludes, ó alma humana!
Deus os abençoe!
Quando me pedirás perdão?
Que de coisas me disse a propósito da Vênus de Milo! (Machado de Assis)

ATENÇÃO
Com os pronomes pessoais retos ou com substantivos, vale a eufonia. Ex. – Eu te amo. / Eu
amo-te. – Os noivos se beijaram. / Os noivos beijaram-se.

76 • capítulo 3
3.8.5  Com formas verbais proparoxítonas

Exs.:
Nós a procurávamos sempre no mesmo lugar.
Nós lhe obedecíamos sempre.

3.8.6  Com a preposição em + gerúndio

Exs.:
Em se falando de educação,...
Em se tratando de um caso urgente, nada o retinha em casa.
Em se pondo o sol, vão-se os pássaros.

Explique, agora, por que o escritor Eça de Queirós empregou a próclise nes-
te pensamento:
Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua
terra; todas as outras as deve falar, orgulhosamente mal, com aquele acento chato
e falso que denuncia logo o estrangeiro.
Leia esta crônica de Millôr Fernandes e observe como ele emprega a coloca-
ção pronominal, tanto na norma culta, como na expressão coloquial da perso-
nagem infantil:

A morte da tartaruga
DAVID DE LOSSY / PHOTODISC / GETTY IMAGES
O menininho foi ao quintal e voltou
chorando: a tartaruga tinha morrido. A
mãe foi ao quintal com ele, mexeu na tar-
taruga com um pau (tinha nojo daquele
bicho) e constatou que a tartaruga tinha
morrido mesmo. Diante da confirmação
da mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda
com mais força. A mãe a princípio ficou
penalizada, mas logo começou a ficar
aborrecida com o choro do menino. “Cui-
dado, senão você acorda o seu pai”. Mas
o menino não se conformava. Pegou a tar-
taruga no colo e pôs-se a acariciar-lhe o

capítulo 3 • 77
casco duro. A mãe disse que comprava outra, mas ele respondeu que não queria,
queria aquela, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe prometeu
uma surra, mas o pobre menino parecia estar mesmo profundamente abalado com
a morte do seu animalzinho de estimação.
Afinal, com tanto choro, o pai acordou lá dentro e veio, estremunhado, ver de que
se tratava. O menino mostrou-lhe a tartaruga morta. A mãe disse: — “Está aí assim
há meia hora, chorando que nem maluco. Não sei mais o que faço. Já lhe prometi tudo,
mas ele continua berrando desse jeito”. O pai examinou a situação e propôs: — “Olha,
Henriquinho. Se a tartaruga está morta não adianta mesmo você chorar. Deixa ela
aí e vem cá com o pai”. O garoto depôs cuidadosamente a tartaruga junto do tanque
e seguiu o pai, pela mão. O pai sentou-se na poltrona, botou o garoto no colo e disse:
— “Eu sei que você sente muito a morte da tartaruguinha. Eu também gostava mui-
to dela. Mas nós vamos fazer para ela um grande funeral”. (Empregou de propósito
a palavra difícil.) O menininho parou imediatamente de chorar. “Que é funeral?” O
pai lhe explicou que era um enterro. “Olha, nós vamos à rua, compramos uma caixa
bem bonita, bastantes balas, bombons, doces e voltamos para casa. Depois botamos
a tartaruga na caixa em cima da mesa da cozinha e rodeamos de velinhas de aniver-
sário. Aí convidamos os meninos da vizinhança, acendemos as velinhas, cantamos o
‘Happy-Birth-Day-To-You’ pra tartaruguinha morta e você assopra as velas. Depois
pegamos a caixa, abrimos um buraco no fundo do quintal, enterramos a tartarugui-
nha e botamos uma pedra em cima com o nome dela e o dia em que ela morreu. Isso é
que é funeral! Vamos fazer isso?” O garotinho estava com outra cara. “Vamos, papai,
vamos! A tartaruguinha vai ficar contente lá no céu, não vai? Olha, eu vou apanhar
ela”. Saiu correndo. Enquanto o pai se vestia, ouviu um grito no quintal. “Papai, pa-
pai, vem cá, ela está viva!” O pai correu pro quintal e constatou que era verdade. A
tartaruga estava andando de novo normalmente. “Que bom, hein?” — disse — “Ela
está viva! Não vamos ter que fazer o funeral!” “Vamos sim, papai” — disse o menino
ansioso, pegando uma pedra bem grande — “Eu mato ela”.

MORAL: “O importante não é a morte, é o que ela nos tira.”

78 • capítulo 3
3.9  Mesóclise

Emprega-se o pronome no meio do verbo. Ocorre a mesóclise somente quando


a oração começar com verbo no:

3.9.1  Futuro do presente do indicativo (-RE)

Exs.:
Entregaremos a encomenda amanhã.
Entregá-la-emos amanhã.
Eu derrocarei o templo de Jeová e edificá-lo-ei em três dias! (Eça de Queirós)

3.9.2  Futuro do pretérito do indicativo (-RIA)

Exs.:
Daria a resposta ao aluno se a tivesse.
Dar-lhe-ia a resposta se a tivesse.
Dar-lha-ia se a tivesse.

Sua atitude é serena, poder-se-ia dizer hierática, quase ritual. (Raquel de Queirós)
Não obedeci logo, mas não pude negar nada. Continuei a tremer muito. Policar-
po bradou de novo que lhe desse a moeda, e eu não resisti mais, meti a mão no bolso,
vagarosamente, saquei-a e entreguei-lha. (Machado de Assis, Conto de Escola).

ATENÇÃO
Se o pronome começar por vogal (o, a, os, as), o verbo perderá a consoante –R, e o pronome
ganhará a consoante –L, por questão de eufonia. Ex. – Substituiremos o jogador. = Substi-
tuí-lo-emos.
O pronome que começar por consoante (me, te, se, lhe, nos, vos), será encaixado sempre
após o –R, sem perda de fonema. Ex. – Perdoaremos ao prefeito. = Perdoar-lhe-emo.

Observe que o autor não repete o termo moeda; inicialmente a substitui


simplesmente pelo pronome pessoal oblíquo a em “saquei-a”, na função de ob-
jeto direto e, posteriormente, funde o objeto indireto “lhe” (a ele) com o objeto
direto “a” (a moeda), em “entreguei-lha”. Esse procedimento é muito explorado

capítulo 3 • 79
pelos literatos que dominam a norma culta e, por uma questão de estilo, usam
a pró-forma pronominal, visando à coesão (anáfora) e, principalmente, à corre-
ção gramatical.
Os brasileiros não empregam corretamente a mesóclise (pronome no meio
do verbo) porque não aprenderam nos bancos escolares ou porque pensam que
compete apenas aos escritores usar os pronomes mesoclíticos.
Dir-se-ia que estavam na Índia, escreveu Vinícius de Moraes. Assim como o
poeta, utilizamos a mesóclise somente quando a oração começar com forma
verbal no futuro do presente (cujo morfema modo-temporal é –RE): Dir-te-ei a
verdade. Encontrá-lo-á no parque; ou com forma verbal no futuro do pretérito
(cujo morfema modo-temporal é –RIA): Far-me-ias um favor? Se você quisesse,
trá-la-ia amanhã.

CONEXÃO
Embora na linguagem falada a colocação dos pronomes não seja rigorosamente seguida, algu-
mas normas devem ser observadas, sobretudo na linguagem escrita. Veja no link abaixo, o que
preceitua a gramática normativa para a colocação pronominal: <http://www.portugues.com.br>

A mesóclise é pouquíssimo utilizada na língua escrita e falada no Brasil


hoje. Evita-se, muitas vezes, o seu emprego para não tornar o texto excessiva-
mente formal.
RESERVED / DIST. BY ATLANTIC SYNDICATION / UNIVER
GARFIELD, JIM DAVIS © 1991 PAWS, INC. ALL RIGHTS

Leia atentamente esta crônica jornalística de Frei Betto.

Zilda Arns, a mãe do Brasil


Se milhares de brasileiros sobreviveram às condições de pobreza em que nas-
ceram, devem isso em especial à dra. Zilda Arns.

80 • capítulo 3
Pode-se repetir que ninguém é insubstituível, mas a dra. Zilda Arns, vítima do ter-
remoto que arruinou o Haiti, era, sim, uma pessoa imprescindível. Nela mostrava-se
imperceptível a distância entre intenções e ações. Formada em medicina e movida
por profundo espírito evangélico – era irmã do cardeal dom Paulo Evaristo Arns,
arcebispo emérito de São Paulo –, fundou a Pastoral da Criança, alarmada com o
alto índice de mortalidade infantil no Brasil.
Em iniciativas de voluntariado, podem-se mapear dois tipos de pessoas: as
que, primeiro, agem, põem o bloco na rua e depois buscam os recursos, e as que
se enredam no cipoal das fontes financiadoras e jamais passam da utopia à to-
pia. Zilda Arns arregaçou as mangas e, inspirada na pedagogia de Paulo Freire,
encontrou, primeiro, recursos humanos capazes de mobilizar milhares de pessoas
em prol da drástica redução da mortalidade infantil: mães e pais das crianças de
0 a seis anos atendidas pela pastoral transformados em agentes multiplicadores.
Ela, sim, fez o milagre da multiplicação dos pães, ou seja, da vida. Aonde chega a
Pastoral da Criança, o índice de mortalidade infantil cai, no primeiro ano, no mí-
nimo 20%. Seu método de atenção às gestantes pobres e às crianças desnutridas
tornou-se paradigma mundial, adotado hoje em vários países da América Latina
e da África. Por essa razão, ela estava no Haiti, onde pagou com a morte sua dedi-
cação em salvar vidas. Trabalhamos juntos no Fome Zero.
No lançamento do programa, em 2003, ela discordou de exigir dos beneficiá-
rios comprovantes de gastos em alimentos, de modo a garantir que o dinheiro não
se destinasse a outras compras. Oded Grajew e eu a apoiamos: ressaltamos que
apresentar comprovantes não era relevante, valia como forma de verificar resul-
tados. Haveria que confiar na palavra dos beneficiários.
Em março de 2004, no momento em que o governo trocava o Fome Zero pelo
Bolsa Família, ela me convocou a Curitiba, sede da Pastoral da Criança. Em reu-
nião com José Tubino, da FAO, e dom Aloysio Penna, arcebispo de Botucatu (SP),
que representava a CNBB, debatemos as mudanças na área social do governo.
Expus as tensões internas na área social, sobretudo a decisão de acabar com os
comitês gestores, pelos quais a sociedade civil atuava na gestão pública.
Zilda Arns temia que o Bolsa Família priorizasse a mera transferência de ren-
da, submetendo-se à orientação que propõe tratar a pobreza com políticas com-
pensatórias, sem tocar nas estruturas que promovem e asseguram a desigualdade
social. Acreditava que as políticas sociais do governo só teriam êxito consolidado
se combinassem políticas de transferência de renda e mudanças estruturantes,
ações emergenciais e educativas, como qualificação profissional.

capítulo 3 • 81
Dias após a reunião, ela publicou, neste espaço da Folha, o artigo “Fôlego para
o Fome Zero”, no qual frisava que a política social “não deve estar sujeita à políti-
ca econômica. É hora de mudar esse paradigma. É a política econômica que deve
estar sujeita ao combate à fome e à miséria”.
E alertava: “Erradicar os comitês gestores seria um grave erro, por destruir
uma capilaridade popular que fortalece o empoderamento da sociedade civil; (...)
por reforçar o poder de prefeitos e vereadores que nem sempre primam pela ética e
pela lisura no trato com os recursos públicos. O governo não deve temer a parceria
da sociedade civil, representada pelos comitês gestores”.
O apelo da mãe da Pastoral da Criança não foi ouvido. Os comitês gestores
foram erradicados e, assim, a participação da sociedade civil nas políticas so-
ciais do governo. Apesar de tudo, o ministro Patrus Ananias logrou aprimorar o
Bolsa Família e o índice de redução da miséria absoluta no país, conforme dados
recentes do Ipea. Falta encontrar a porta de saída aos beneficiários, de modo a
produzirem a própria renda. Zilda Arns nos deixa, de herança, o exemplo de que
é possível mudar o perfil de uma sociedade com ações comunitárias, voluntárias,
da sociedade civil, ainda que o poder público e a iniciativa privada permaneçam
indiferentes ou adotem simulacros de responsabilidade social.
Se milhares de jovens e adultos brasileiros sobreviveram às condições de po-
breza em que nasceram, devem isso em especial à dra. Zilda Arns, que merece, sem
exagero, o título perene de mãe da pátria.
Escritor Frei Betto.

3.10  Relação entre pontuação e funções sintáticas

Entende-se por pontuação, um sistema de reforço da escrita, constituído de si-


nais sintáticos, destinados a organizar as relações e a proporção das partes do
discurso e das pausas orais e escritas. Ess-es sinais também participam de to-
das as funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas, de acordo
com Bechara (2009).
Embora não consigam reproduzir toda a riqueza melódica da linguagem
oral, eles estruturam os textos e procuram estabelecer as pausas e as entona-
ções da fala. Basicamente, têm como finalidade:
1.  Assinalar as pausas e as inflexões de voz (entoação) na leitura;
2.  Separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas;
3.  Esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.

82 • capítulo 3
Esses sinais, segundo Bechara (2009) não se aplicam igualmente a todas as
atividades linguísticas, portanto devem ser distribuídos em três domínios de
função de pontuação:
a) a pontuação de palavras
b) a pontuação sintática e comunicativa
c) a pontuação do texto.
Esses sinais podem ser essencialmente separadores, como é o caso da vír-
gula, ponto e vírgula, ponto final, ponto de exclamação e reticências ou são de
comunicação ou mensagem como dos dois pontos, as aspas simples e duplas,
o travessão, os parênteses, colchetes e a chave.
Vejamos alguns exemplos em que os sinais de pontuação auxiliam nossa
compreensão sobre a língua, conferindo, desse modo, uma maior clareza e
simplicidade à escrita:

Exemplo 1
Embora a conjunção “e” seja aditiva, há três casos em que se usa a vírgula
antes de sua ocorrência:
a) Quando as orações coordenadas tiverem sujeitos diferentes.

Por Exemplo:
João Pedro vendeu a casa, e a mulher protestou.
Nesse caso, “João Pedro” é sujeito de “vendeu”, e “A mulher” é sujeito de
“protestou”.

Exemplo 2
Quando a conjunção “e” vier repetida com a finalidade de dar ênfase (po-
lissíndeto).
E canta, e dança, e rodopia, e pula de alegria.

Exemplo 3
Quando a conjunção “e” assumir valores distintos que não seja da adição
(adversidade, consequência, por exemplo)
Coitada! Estudou muito, e ainda assim não foi aprovada.

Para um maior domínio sobre os sinais de pontuação e exemplos acerca


uso de cada um deles, acesse <http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/

capítulo 3 • 83
fono30.php> ou consulte uma das gramáticas sugeridas na bibliografia de cada
capitulo deste livro.

ATIVIDADE
1.  Agora, teste o que você aprendeu e explique se ocorre ou não a crase nesta frase:
Ontem, na festa, muita gente fez referência a Vossa Senhoria.

2.  Complete com à, às, a ou as:


a) Minha casa é igual ___ que você comprou.
b) Em julho, pretendo ir ___ Belo Horizonte e, se possível, ___ Grande São Paulo.
c) Tenho um amigo que só usa cabelo e óculos ___ John Lennon.
d) Aqueles presentes foram doados ___ crianças pobres, ___ ninguém mais.
e) Fomos visitá-la ___ quinze horas, mas não ___ encontramos.
f) Indo ___ casa, cheguei ___ Baía de Guanabara ___ cinco horas.

3.  Observe as construções seguintes:


I. Às cinco horas, fui à missa e assisti ao sermão do vigário.
II. Ando à procura de quem foi à escola procurar o diploma.
III. Seus móveis eram todos a Luís XV.
IV. Fomos passear à cavalo.
V. Dirijo-me agora à Vossa Excelência.
VI. Vou, ainda esta semana, aquele bairro de que você me falou.
VII. A falta de dinheiro leva-nos à circunstâncias vexatórias.
VIII. Não revelei à ela o segredo.
Apresenta(m) erro quanto à omissão ou presença do sinal indicativo da crase:
a) somente uma das frases.
b) todas as frases, excetuando-se as de número I e II.
c) todas as frases de número ímpar.
d) nenhuma das frases.
e) todas as frases, excetuando-se as de número I, VII e VIII.

84 • capítulo 3
4.  Reescreva as frases classificando-as em três grupos de acordo com a classificação da
palavra a(s), conforme indicação abaixo; em seguida, acentue a única contração que
ocorre em uma dessas frases:
( 1 ) artigo definido ( 2 ) preposição ( 3 ) contração
( ) Fui e voltei a pé.
( ) Socorreu a vítima?
( ) Vendo TV a cores.
( ) Estávamos a sós.
( ) Não ligue a boatos.
( ) O diretor atendeu as alunas.
( ) Não atendem a reclamações.
( ) O álcool é nocivo a saúde.
( ) O carro era movido a álcool.
( ) Eu levo o estudo a sério.

5.  Leia o texto seguinte:


Antes de começar a aula – matéria e exercícios no quadro, como muita gente
entende –, o mestre sempre declamava um poema e fazia vibrar sua alma de tanta
empolgação e os alunos ficavam admirados. Com a sutileza de um sábio, foi nos en-
sinando a linguagem poética mesclada ao ritmo, à melodia e a própria sensibilidade
artística. Um verdadeiro deleite para o espírito, uma sensação de paz, harmonia.

Osório, T. Meu querido professor. Jornal Vale Paraibano, 15/10/1999.

a) Qual a interpretação que pode ser dada à ausência do acento grave no trecho “a
própria sensibilidade artística”?
A ausência do acento grave faz que o termo “a própria sensibilidade artística”
funcione como objeto direto de “ensinando”, coordenado sindeticamente ao outro
objeto do mesmo verbo, “a linguagem poética”.

b) Qual seria a interpretação caso ocorresse a crase?


A crase faria com que o termo em questão tivesse a função de complemento
nominal do adjetivo “mesclada”, particípio passado do verbo mesclar. Nesse caso, ele
se coordenaria sindeticamente aos dois complementos que o antecedem, “ao ritmo,
à melodia”.

capítulo 3 • 85
6.  Complete os espaços com a forma apropriada entre parênteses.
a) Paciência é ________ quando se está no meio de uma crise. (necessário/neces-
sária)
b) A aluna se limitou a dizer: muito ________. (obrigado/obrigada)
c) Já ________ duas e ________. (é/são; meio/meia)
d) Já ________ dois dias e ________ que estamos trabalhando sem energia elétrica.
(faz/fazem; meio/meia)
e) Aquela escola é ________ distante de minha casa. (meio/meia)
f) Os alunos que não estiverem ________ com as mensalidades poderão fazer as
provas. (quite/quites)
g) No final do semestre, estamos todos ________ ocupados. (bastante/bastantes)

7.  Assinale a alternativa incorreta quanto à colocação pronominal:


a) Apesar de se contrariarem, não me fariam mudar de ideia.
b) Que Deus te acompanhe por toda a parte.
c) Isso não me admira: eu também contrariei-me com o caso.
d) Conforme foi decidido, espero que todos se compenetrem em seu dever.
e) Os documentos não têm validade, por se referirem a acontecimentos já encerrados.

8.  Preencha convenientemente as lacunas com os pronomes indicados:


a) Os guias não _______ disseram _______ em que firma trabalhavam. (nos)
b) Eis o que _______ falaram _______ aqueles que _______ acusaram ___. (me – te)
c) Quando _______ ofereceram _______ o cargo, por que você não _______ aceitou
_______? (lhe – o)
d) Seria preciso que _______ excluísse _______ aquele mau elemento. (se)
e) Muitos _______ foram _______ para o estrangeiro em busca de emprego. (se)
f) “Teríamos a impressão de que _______ banhávamos _______ juntos.” (G. Ramos)
(nos)
g) “Santo Deus! _______ valha _______ Nossa Senhora do Amparo!” (G. Ramos) (me)

9.  Justifique a próclise, reescrevendo e numerando as frases adequadamente, confor-


me as palavras que apareçam antes do verbo:
( 1 ) palavras de sentido negativo
( 2 ) pronomes relativos
( 3 ) conjunções subordinativas
( ) Ninguém lhe resiste.

86 • capítulo 3
( ) Pedi que se afastassem.
( ) Quando me lembrei, já era tarde.
( ) Não se nega um copo d’água.
( ) Preciso de alguém que me oriente.
( ) São pessoas com quem nos identificamos.

REFLEXÃO
Usar ou não a crase, dominar as situações em que seu uso é obrigatório ou facultativo, com-
preender o que é que colocação pronominal e por que em determinados casos, esses prono-
mes oblíquos átonos devem vir antes, depois, ou entre os verbos, estão relacionados com o
uso padrão da nossa língua. Alguns podem até pensar que tudo isso é em vão, que podemos
nos comunicar muito bem sem esses conhecimentos, essas regras que transformam a língua
num engessado contínuo e sem sentido de tantas normas. Sobre isso também nos faz refletir,
em seu poema Pronominais, Oswald de Andrade:

PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
http://pensador.uol.com.br/frase/NTU4NjA3/ (acesso em 18 de abril de 2014)
A que conclusão chegarmos, portanto? Pois bem, deixo para vocês essa reflexão, que deve ser o
tema para muitas das discussões que ainda teremos.

capítulo 3 • 87
LEITURA RECOMENDADA
Como se comunicar bem é o título de um livro da Série Sucesso Profissional, da Publifolha.
Encontrado em livrarias ou bancas de jornal, esse pequeno livro é muito valioso, pois trata de
forma prática e direta de como se comunicar de modo eficiente em diversas situações. O livro
traz fotos, ilustrações e gráficos que ajudam na compreensão dos conceitos apresentados.

MACHADO, Josué. A crase fora da lei. Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br >.


A gramática é uma fonte de consulta interessante para adequarmos nossa linguagem à
norma padrão.
Uma primeira recomendação que faço é em relação à Moderna gramática portuguesa, de
Evanildo Bechara. Essa gramática saiu em nova edição, atualizada e revisada, pela Editora Lu-
cerna. É uma gramática mais no estilo antigo, gramática escolar convencional, sem ilustrações
gráficas, “tirinhas”, exemplos de textos contemporâneos ou da linguagem publicitária. É uma gra-
mática elaborada por um dos mais respeitados gramáticos da atualidade.
Outra dica é a Nova gramática aplicada da língua portuguesa: uma comunicação interativa,
de Manoel Ribeiro, Editora Metáfora. Trata-se de uma gramática que compreende a descrição
da língua acomodada ao uso da norma culta. Traz tanto as regras ou o padrão culto, como
também posicionamentos de linguistas e aspectos de descrição da língua. Essa gramática se
destaca por apresentar opiniões e tendências distintas ou conflitantes sobre um mesmo as-
sunto, dando a oportunidade de não somente conhecer uma determinada regra, mas, também,
de ter contato de forma resumida com alguns posicionamentos linguísticos sobre aquela regra
gramatical.

Se você quiser ver outros exemplos e fazer vários exercícios, um livro interessante é a
Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla, da Editora
IBEP Nacional.
Outra gramática muito boa é a de Ulisses Infante e Pasquale Cipro Neto, Gramática da
Língua Portuguesa, publicada pela Editora Scipione.

SACCONI, L. A. Língua (Usos culto, coloquial e popular – gíria). São Paulo: Atual,
1994.

88 • capítulo 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEZERRA, M. A.; SOUTO MAIOR, A. C.; BARROS, A. C. S. A gíria: do registro coloquial ao
registro formal. In: IV Congresso Nacional de Linguística e Filologia, Rio de Janeiro, v. I, nº 3,
p. 37, 2000.

CAGLIARI, Luiz Carlos. A história do alfabeto. São Paulo: Paulistana, 2009.

CAMARGO, Thaís Nicoleti. A metalinguagem. In: Folhaonline, 05 de dezembro de 2000.

CATARINO, Dílson. Dicas de português: teoria da comunicação. In: Fovest Online. Disponí-
vel em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/fovest/teoria_comunicacao.shtml>. Acessado
em: 10 de dezembro de 2009.

CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.

CEREJA, W. R.; & MAGALHÃES, T. C. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação. São
Paulo: Atual, 1999.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação. São


Paulo: Atual, 2005.

DA SILVA, Josué Cândido. Da torre de Babel a Chomsky. In: Página 3 Pedagogia & Comuni-
cação. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u52.jhtm> . Acessado
em: 08 de dezembro de 2009.

FÁVERO, Leonor L. Coesão e coerência textuais. 5 ed. São Paulo: Ática, 1998.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI. 3. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999.

GOLD, Miriam. Redação empresarial: escrevendo com sucesso na era da globalização. 2. ed.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2002.

MEDEIROS, J. B. Português Instrumental para cursos de Economia, Contabilidade e Admi-


nistração. São Paulo: Atlas, 2000.

capítulo 3 • 89
MESQUITA. Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1998.

PALOMO, Sandra M. S. Linguagem e linguagens. In: Eccos Revista Científica. São Paulo, vol.
3, nº 2.

PASQUALE & INFANTE. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1999.

RIBEIRO, Manuel P. Gramática aplicada da língua portuguesa. 15 ed. revisada e ampliada. Rio
de Janeiro: Metáfora, 2005.

SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.

_________. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.

SAVIOLI, F. P., FIORIN, J. Lições de texto: leitura e redação. 4. ed. São Paulo: Ática, 2003.

TEIXEIRA, Leonardo. Comunicação na empresa. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed.
rev. São Paulo: Cortez, 2003.

WAGNER. L. R. Use o português adequado: aspectos gramaticais e análise de textos. 3. ed.


São Paulo: All Print, 2008.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, abordaremos especificamente questões relacionadas com as dificulda-
des ortográficas e sintáticas da língua portuguesa. Destacaremos a homonímia e paronímia,
uso dos porquês, pleonasmo, solecismos e ambiguidade. Vamos, portanto, tratar da forma
adequada ou correta do uso da língua, no que diz respeito à norma culta ou padrão.

90 • capítulo 3
4
Dificuldades
ortográficas e
sintáticas
4  Dificuldades ortográficas e sintáticas
Neste capítulo, abordaremos especificamente questões relacionadas com as
dificuldades ortográficas e sintáticas da língua portuguesa. Destacaremos a
homonímia e paronímia, uso dos porquês, pleonasmo, solecismos e ambigui-
dade. Será também abordado, no que diz respeito às dificuldades sintáticas,
a concordância verbal e nominal, assim como o uso de algumas expressões
semelhantes, mas com diferentes significados e empregos. Vamos, portanto,
tratar da forma adequada ou correta do uso da língua, no que diz respeito à
norma culta ou padrão.

OBJETIVOS
•  Empregar corretamente a grafia das palavras;
•  Distinguir e classificar os homônimos e os parônimos;
•  Empregar corretamente os porquês da língua portuguesa.
•  Empregar adequadamente a concordância verbal e nominal;
•  Distinguir expressões semelhantes, mas com significados e usos diferentes.

REFLEXÃO
Desde o início de nossos estudos, houve sempre uma preocupação com a escrita das pa-
lavras. Quantas vezes, a professora mandava-nos escrever dez vezes (ou mais) uma mesma
palavra, como se isso resolvesse o problema!
Existem várias regras para a grafia das palavras, mas em muitos casos não há uma
explicação plausível, uma vez que algumas palavras dependem da sua etimologia. Por que,
perguntaríamos, o termo homem possui o h inicial? Trata-se da origem latina homine, que
mantém esse sinal etimológico até os nossos dias.
Muitas vezes, também, tivemos dúvidas ao escrever palavras parecidas tanto na escrita
como na pronúncia; por isso devemos reconhecer os homônimos e os parônimos, a fim de
escrevermos clara e corretamente.

92 • capítulo 4
4.1  Ortografia

A grafia das palavras em português segue, hoje, o sistema etimológico, ou seja,


as palavras são escritas seguindo sua origem latina; antes do século XVI, porém,
as palavras eram escritas pelo sistema fonético, isto é, como elas eram pronun-
ciadas, o que gerou inúmeras confusões que perduram até os nossos dias.
GERAKTV / DREAMSTIME.COM

Assim, com a ortografia, a letra s passou a representar variados fonemas:


sala (/s/), mesa (/z/), basta (/x/), mesmo (/x/), estes últimos na fala carioca.
A maneira mais simples, prática e objetiva de aprender ortografia é fazer
exercícios, muitos exercícios, ver as palavras, familiarizar-se com elas quanto
possível, tendo sempre à mão um bom dicionário.

4.1.1  Principais usos do S e do Z

Uso do S
1. Sufixos -ES, -ESA
Usamos S nos sufixos acima quando indicarem nacionalidade ou procedência.
Ex.: holandês > holandesa, japonês > japonesa, camponês > camponesa.

2. Sufixo -ISA
Usamos S no sufixo -ISA quando indicar feminino.
Ex.: poeta > poetisa, profeta > profetisa, sacerdote > sacerdotisa.

capítulo 4 • 93
3. Após ditongos
Usamos S após ditongos (V + SV na mesma sílaba).
Ex.: coisa, pousada, faisão.

4. Nas formas verbais de querer e pôr (e derivados)


Ex.: quis, quisemos, pus, puseste, repuser, compusesse.

5. Verbos com S na palavra primitiva


São escritos com S os verbos formados com palavras primitivas grafadas
com S.
Ex.: análise > analisar, paralisia > paralisar, liso > alisar.

6. Escrevem-se com S:
aliás, ananás, apesar, Ásia, atrás, através, bis,
brasão, burguesia, casimira, coliseu, coser (cos-
turar), crisálida, frisar, fusível, grisalho, invés,
náusea, mosaico, retrós, sósia, trás (prep.), tra-
seira, vaselina, viés.

Uso do Z
1. Em substantivos abstratos derivados de adjetivo
Ex.: altivo > altivez, ácido > acidez, grávida > gravidez, pobre > pobreza.

2. Nos sufixos -izar e –ização


Ex.: amenizar, atualizar, civilizar, urbanização.

3. Escrevem-se com Z:
alteza, azia, baliza, batizar, bissetriz, buzina, capaz, capuz, cicatriz, coalizão,
correnteza, cozer (cozinhar), cuscuz, deslize, gaze, granizo, guizo, noz (fru-
to), ojeriza, ratazana, revezar, rijeza, trapézio, vazar.

Observe, no artigo a seguir, o uso do Z:

Emprego do “zê”: uma lição para crianças


(Walter Rossignoli )

94 • capítulo 4
Estou escrevendo esta coluna imaginando que meu leitor esteja cursando
aí pela sétima série do ensino fundamental e tenha lá suas dificuldades na
hora de grafar muitas palavras de nossa língua portuguesa. Saibam que isso é
normal. Nós, professores, e (acreditem!) até mesmo os autores de dicionários
consultam esses livros fantásticos, que eles produziram ou coordenaram. Sim,
porque o dicionário costuma ser obra de muita gente. Portanto, nada de aca-
nhamento quando errarem e nem desistam de escrever seus textos só porque o
professor assinalou alguns erros de grafia. Isso acontece com todos nós.
Gentilmente, o professor Consolaro publicou neste “site” o nosso “No mun-
do dos ditongos”, também endereçado às crianças. Acabou motivando-me a
desengavetar a presente coluna, que pretende desembaraçar um pouquinho o
uso da letra “zê”. Vamos estudar apenas uma situação. Certo?
Creio que vocês já ouviram falar de substantivos e adjetivos. Até aqui nosso
texto está repleto de substantivos. Empregamos, entre outros, “coluna”, “lei-
tor”, “série”, “dificuldades”, “hora”, “palavras” etc. Os gramáticos ensinam que
os substantivos nomeiam os seres em geral. É bem possível que essa ferramen-
ta não resolva totalmente o seu problema de identificar os substantivos, sobre-
tudo quando eles vêm no texto. Os mesmos gramáticos dizem, também, que
os adjetivos expressam uma qualidade ou propriedade dos seres. Vocês pode-
riam, então, no meu entendimento, trabalhar com a dupla substantivo/adjetivo
e procurar encaixar o segundo em função do primeiro. Acho que é um artifício
que tem alguma utilidade.
Assim, uma prova de que “coluna” é substantivo é que essa palavra acei-
ta um adjetivo para modificá-la. Poderíamos dizer “pequena coluna” (adj. +
subst.). No caso de “leitor”, segundo substantivo de nosso texto, poderíamos
ter “pequeno leitor”; ao substantivo “dificuldades” poderíamos agregar o ad-
jetivo “grandes”, e assim por diante. Vocês me perguntariam: mas no caso de
“série”? Eu diria que a situação fica um pouco mais complexa. Ocorre, entre-
tanto, que “sétima” faz uma referência ao substantivo, e é essa palavra – um nu-
meral segundo as gramáticas – que está ocupando no grupo “sétima série” um
valor aproximado do que cabe ao adjetivo. Se isolarmos “série”, veremos que a
palavra admite, por exemplo, “fácil” ou “difícil”, que são adjetivos; uma prova
de que estamos diante de um substantivo. Assim, pelo menos, conseguimos a
classificação que o dicionário registra.

capítulo 4 • 95
Seria, possível, por exemplo, uma palavra como “claro” ser empregada
como substantivo? Claro que sim. Imagine que você apagou grande parte de
sua redação e não teve tempo de reescrever o que apagou. O professor poderá
dizer assim: “Ficou um claro em seu texto, menino”. Veja que “claro” está em-
pregado como substantivo. Uma prova disso é que admite um adjetivo que o
modifique, como em “Ficou um enorme claro em seu texto, menino”.
Vocês devem estar se perguntando o que essa conversa toda tem a ver com o
uso do “zê”. Calma, que chegamos lá!.
A rigor, nem precisávamos de todo esse papo, pois para o nosso propósito bas-
taria a classificação da palavra em estado de dicionário, fora do texto.
Se forem ao minidicionário do Aurélio, certamente vão encontrar que “claro”,
“belo”, “estranho”, “escasso”, “rico”, “certo”, “tímido” e “sensato”, entre tantas
outras palavras, são adjetivos. Concordam? Se duvidarem, confiram... Saibam,
então, que os substantivos que fizermos a partir desses adjetivos serão todos gra-
fados com a letra “zê”. Assim, observem:

•  Um discurso claro (subst. + adj.) revela clareza (subst.) de seu autor. Uma
pessoa bela (subst. + adj.) pode não ter beleza (subst.) interior.

•  Aquele homem estranho (subst. + adj.) provocou enorme estranheza


(subst.).

•  O petróleo é um combustível escasso (subst. + adj.), e a escassez (subst.) preo-


cupa.

•  Era um homem rico (subst. + adj.) mas de uma riqueza (subst.) egoísta.

•  Continuaríamos, fazendo de “certo”, “certeza”; de “tímido”, “timidez” e


de “sensato”, “sensatez”.

Ainda não dissemos que os substantivos que retiramos dos adjeti-


vos são classificados como abstratos, pois expressam nomes dependen-
tes de outros. Assim, “clareza” não existe sozinha, mas apenas em algo que
é “claro”. O mesmo raciocínio se aplica aos demais exemplos anteriores.
A lição que fica é a seguinte: grafam-se com “zê” os substantivos abstratos que
se formam a partir de adjetivos. Vale lembrar que a terminação “ez” em pala-
vras como “escassez”, “timidez” e “sensatez” não é acentuada.

96 • capítulo 4
Para terminar, uma pequena quadrinha que resume a lição de hoje:

Já que tenho um adjetivo


e um substantivo a fazer,
cumpro bem meu objetivo
se grafar com a letra “zê”.
Disponível em: <www.portrasdasletras.com.br>

4.1.2  Principais usos do G e J

Uso do G
1. Nas terminações em -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio
Ex.: adágio, régio, litígio, relógio, refúgio.

2. Nas terminações -agem, -igem, -ugem, -ege, -oge


Ex.: folhagem, viagem (subst.), vertigem, penugem, herege, paragoge.

3. Nas palavras de origem estrangeira: latina ou grega


Ex.: álgebra, agiotagem.

4. Escrevem-se com G:
agiota, algema, angélico, angico, bege, bugiganga, megera, monge, mugir,
rigidez, tangente, tangerina, vargem.

Uso do J
5. Nas palavras de origem tupi, africana e árabe
Ex.: jê, jenipapo, pajé.

6. Nas formas verbais dos verbos terminados em -jar


Ex.: arranje, despeje, trajem, viajem.

7. Nas palavras formadas de outras que terminam com -ja


Ex.: canja – canjica, loja – lojista.

capítulo 4 • 97
8. Escrevem-se com J:
alfanje, berinjela, cafajeste, gorjeta, jeito, jenipapo, jiboia, jiló, jirau, laje,
majestade, manjedoura, ojeriza, rijeza, sarjeta, traje, trajetória.

4.1.3  Principais usos do X e CH

Uso do X
1. Depois de ditongo
Ex.: caixa, peixe, queixa, trouxe.

2. Depois da sílaba inicial en- (desde que a palavra não seja derivada de outra
com ch)
Ex.: enxada, enxergar, enxoval, enxugar.
Nota: encher (< cheio), encharcar (< charco).

3. Em palavras de origem árabe, tupi ou africana


Ex.: almoxarife, muxoxo, xadrez, xavante, xingar.
Nota: Ou a palavra é grafada com x e x, ou com ch e ch.
Ex.: xaxim, maxixe, chuchu, pechinchar.

4. Aportuguesamento de alguns termos, substituindo o sh inglês e o j espanhol


Ex.: xampu, xortes, Hiroxima, lagartixa.

5. Após a inicial me- (exceto mecha e derivados)


Ex.: mexer, mexicano, mexilhão.

6. Escrevem-se com X:
bexiga, broxa (pincel grande), bruxa, caxumba, desleixado, faxina, graxa,
haxixe, laxante, luxúria, mexerico, rixa, taxa (imposto), xará, xícara, xingar.

Uso do CH
1. Palavras provenientes do latim, francês, italiano, espanhol, inglês, alemão,
árabe e russo
Ex.: azeviche, babucha, bolchevique, brocha, chão, charlatão, chave, chefe,
chope, chucrute, chuva, deboche, mochila, salsicha, sanduíche.

98 • capítulo 4
2. Escrevem-se com CH:
arrocho, bicha, brecha, brocha (prego curto), bucha, capacho, chalé, chicó-
ria, chique, chuchu, chulé, cochichar, esguicho, flecha, mochila, piche, pi-
char, rachar, rinchar, tacha (prego), tocha.

4.1.4  Principais usos de -SÃO, -ÇÃO, -SSÃO

1. Quando o verbo apresenta -nd-, a terminação é -são


Ex.: suspender > suspensão, expandir > expansão.

2. Quando o verbo é formado a partir do verbo ter, o substantivo é grafado com -ção
Ex.: deter > detenção, conter > contenção.

3. Quando o verbo apresentar -ced, -gred ou -prim, a terminação do substanti-


vo será grafada com -ssão
Ex.: suceder > sucessão, agredir > agressão, exprimir > expressão.

4.2  Emprego do hífen

1. Nas palavras compostas em que os ele-


mentos da composição têm acentuação Bom

SURISURI / DREAMSTIME.COM
Céu
própria e formam uma unidade signifi-
cativa: couve-flor, guarda-chuva, pé de
moleque. Água

2. Com a partícula denotativa eis, seguida de


Dia
pronome pessoal átono: eis-me, eis-nos,
eis-vos, ei-lo (com a queda do -s).

3. Nos adjetivos compostos: rubro-negro, azul-


claro, luso-brasileiro, sino-nipo-germânico.

capítulo 4 • 99
4.2.1  Usa-se o hífen

O PREFIXO OU FALSO PREFIXO anti-ibérico, arqui-inimigo, auto-observação,


TERMINA EM VOGAL, E O SEGUNDO
contra-atacar, micro-ondas.
ELEMENTO COMEÇA POR VOGAL IGUAL.

O PREFIXO TERMINA EM CONSOANTE,


E O SEGUNDO ELEMENTO COMEÇA POR inter-regional, hiper-rancoroso, super-romântico.
CONSOANTE IGUAL.

COM PREFIXO ANTES DE H. anti-herói, anti-higiênico, sobre-humano,


(ATENÇÃO: SUBUMANO) super-homem.

COM O PREFIXO SUB-, NAS PALAVRAS


sub-raça, sub-região.
INICIADAS POR R.

COM OS PREFIXOS CIRCUM- E PAN-,


NAS PALAVRAS INICIADAS POR VOGAL, circum-navegação, pan-americano.
M OU N.

COM OS PREFIXOS EX-, VICE-, SOTO-. ex-marido, vice-presidente, soto-mestre.

além-mar, aquém-oceano, pós-graduação,


COM OS ELEMENTOS ALÉM, AQUÉM,
pré-natal, pró-desarmamento, recém-casados,
PÓS-, PRÉ-, PRÓ-, RECÉM, SEM.
sem-teto.

COM SUFIXOS DE ORIGEM TUPI- capim-açu, jacaré-açu, amoré-guaçu, Ceará-


GUARANI: -AÇU, -GUAÇU, -MIRIM. mirim.

EM LOCUÇÕES JÁ CONSAGRADAS água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa,


PELO USO. mais-que-perfeito, ao-deus-dará, à queima-roupa.

NAS PALAVRAS COM ENCADEAMENTO


ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.
VOCABULAR.

100 • capítulo 4
4.2.2  Não se usa o hífen

O PREFIXO OU FALSO PREFIXO TERMINA EM


antiaéreo, autoajuda, coautor, contraordem,
VOGAL, E O SEGUNDO ELEMENTO COMEÇA
infraestrutura, semiárido, ultraelevado.
POR VOGAL DIFERENTE.

O PREFIXO TERMINA EM VOGAL, E O


anteprojeto, geopolítica, microcomputador,
SEGUNDO ELEMENTO COMEÇA POR
semicírculo.
CONSOANTE DIFERENTE DE -R OU -S.

SE O SEGUNDO ELEMENTO COMEÇAR POR -R antessala, antissocial, antirrugas, autorretra-


OU -S, DUPLICAM-SE ESSAS CONSOANTES. to, infrassom, minissaia, semirreta.

O PREFIXO TERMINA EM CONSOANTE, E O


hiperativo, interescolar, superamigo.
SEGUNDO ELEMENTO COMEÇA POR VOGAL.

EM CERTOS COMPOSTOS, PERDEU-SE A mandachuva, paraquedas, paralama, parabri-


NOÇÃO DE COMPOSIÇÃO. sa, parachoque.

fim de semana, café com leite, sala de jantar,


NAS LOCUÇÕES
à vontade, acerca de, a fim de que.

capítulo 4 • 101
a) A palavra extraordinário escreve-se sem hífen.

b) Nos compostos com o prefixo bem-, usa-se o hífen quando o segundo elemento
é autônomo, ou quando a pronúncia assim o exigir: bem-vindo, bem-estar, bem-a-
venturado.

c) O prefixo sobre- apresenta algumas exceções: sobressair, sobressalto, sobressalente.

d) O prefixo co- é seguido de hífen quando tem o sentido de “a par” ou “juntamente” e


o segundo elemento tem vida autônoma: co-aluno, co-autor, co-proprietário.

e) Nenhum elemento prefixo-radical exige hífen: aeroclube, agropecuária, bicam-


peão, cardiovascular, eletrodoméstico, macroeconomia, morfossintaxe, radiopatru-
lha, socioeconômico.

4.3  Homônimos e parônimos

Ao lado das regras ortográficas e semânticas, há homônimos e parônimos, que


são palavras de sentidos diferentes que apresentam semelhanças na grafia ou
na pronúncia.
Além dos homônimos perfeitos, temos os homônimos homógrafos e os ho-
mônimos homófonos. Os homógrafos são palavras que têm a mesma grafia,
mas a pronúncia diferente.
Ex.: olho (subst.) / olho (v.), governo (subst.) / governo (v.).

Já os homófonos caracterizam-se por terem pronúncia idêntica, mas grafia


diferente.
Ex.: censo / senso, sessão / seção / cessão.

Os parônimos, por sua vez, são palavras que se apresentam muito parecidas
na pronúncia e na grafia. Ex.: cavaleiro / cavalheiro, descrição / discrição.
A seguir, veremos uma lista com os principais homônimos e parônimos.

102 • capítulo 4
4.3.1  Homônimos

PALAVRA OU SIGNIFICADO
EXPRESSÃO
ACENDER pôr fogo, alumiar

ASCENDER subir, elevar-se

ACENTO sinal gráfico, tom de voz

ASSENTO lugar de sentar-se

ACERCA DE sobre, a respeito de

HÁ CERCA DE faz aproximadamente

ACESSÓRIO adicional, secundário

ASSESSÓRIO assessorial, relativo a assessores

AFIM DE que tem afinidade, semelhante a

A FIM DE para, com a finalidade de

ALTO de grande dimensão vertical

AUTO ato público, registro escrito de uma ocorrência

APREÇAR perguntar o preço

APRESSAR dar pressa

CAÇAR apanhar animais ou aves

CASSAR anular, revogar

CALDA xarope

CAUDA rabo

CELA pequeno quarto de dormir

SELA arreio

capítulo 4 • 103
PALAVRA OU SIGNIFICADO
EXPRESSÃO
CENSO recenseamento

SENSO raciocínio, juízo claro

CERRAR fechar

SERRAR cortar com serra ou serrote

CESSÃO ato de ceder

SEÇÃO corte, divisão

SESSÃO reunião, agrupamento

CHEQUE ordem de pagamento

XEQUE lance do jogo de xadrez

CONCERTO sessão musical, acordo

CONSERTO reparo

COSER costurar

COZER cozinhar

EMPOÇAR formar poça

EMPOSSAR dar ou tomar posse

ESPECTADOR aquele que assiste a um espetáculo

EXPECTADOR aquele que permanece na expectativa

ESPERTO atento, inteligente, vivo

EXPERTO especialista, perito

INCIPIENTE principiante

INSIPIENTE ignorante

104 • capítulo 4
PALAVRA OU SIGNIFICADO
EXPRESSÃO
LAÇO nó

LASSO frouxo, gasto, cansado

PAÇO palácio

PASSO passada

SALDAR pagar o saldo de, liquidar

SAUDAR cumprimentar, aclamar

SEGMENTO porção de um todo

SEGUIMENTO continuação

SEXTA numeral correspondente a seis

CESTA utensílio de transporte

TACHA pequeno prego

TAXA imposto

4.3.2  Parônimos

PALAVRA OU SIGNIFICADO
EXPRESSÃO
ABJEÇÃO baixeza, degradação

OBJEÇÃO réplica, contestação

ABSOLVER inocentar, perdoar

ABSORVER consumir, esgotar

AMORAL indiferente à moral

capítulo 4 • 105
PALAVRA OU SIGNIFICADO
EXPRESSÃO
IMORAL contrário à moral, libertino

AO ENCONTRO DE para junto de

DE ENCONTRO A contra, em prejuízo de

APRENDER instruir-se

APREENDER Assimilar

BUCHO Estômago

BUXO Arbusto

CAVALEIRO que anda a cavalo

CAVALHEIRO homem educado, gentil

COMPRIMENTO Extensão

CUMPRIMENTO saudação, execução

CONJETURA suposição, hipótese

CONJUNTURA situação, circunstância

DEFERIR atender, conceder

DIFERIR adiar, ser diferente

DELATAR Denunciar

DILATAR alargar, ampliar

DESCRIÇÃO ato de descrever, expor

106 • capítulo 4
PALAVRA OU SIGNIFICADO
EXPRESSÃO
DISCRIÇÃO qualidade de discreto, reserva

DESCRIMINAR Inocentar

DISCRIMINAR diferenciar, distinguir

DESPENSA lugar de guardar mantimentos

DISPENSA isenção, licença

DESPERCEBIDO não notado

DESAPERCEBIDO desprovido, despreparado

EMENDA correção de falta ou defeito, alteração

EMENTA resumo, síntese

EMERGIR vir à tona, surgir

IMERGIR mergulhar, afundar

EMINENTE célebre, notável

IMINENTE próximo, prestes a acontecer

ESBAFORIDO ofegante, cansado

ESPAVORIDO apavorado, assustado

ESTADA permanência da pessoa

ESTADIA permanência de veículo

ESTRATO tipo de nuvem

capítulo 4 • 107
PALAVRA OU SIGNIFICADO
EXPRESSÃO
EXTRATO resumo, essência

FLAGRANTE Evidente

FRAGRANTE Perfumado

HISTÓRIA narrativa de fatos reais

ESTÓRIA narrativa de ficção

INFLIGIR aplicar pena ou castigo

INFRINGIR transgredir, não respeitar

INTEMERATO puro, íntegro

INTIMORATO destemido, corajoso

LISTA relação, rol

LISTRA linha, risco

MANDADO ordem judicial

MANDATO período de missão política

PEÃO aquele que anda a pé

PIÃO Brinquedo

PLEITO disputa, eleição

PREITO homenagem, respeito

PRESCREVER preceituar, receitar

PROSCREVER eliminar, expulsar

108 • capítulo 4
PALAVRA OU SIGNIFICADO
EXPRESSÃO
PROEMINENTE Saliente

PREEMINENTE nobre, distinto

RATIFICAR confirmar, validar

RETIFICAR Corrigir

REBOCO Argamassa

REBOQUE ato ou efeito de rebocar

SORTIR prover, abastecer

SURTIR dar como resultado

TRÁFEGO movimento, trânsito

TRÁFICO comércio lícito ou não

VULTOSO volumoso, enorme

VULTUOSO vermelho, inchado

4.4  Concordância verbal

Parte das inadequações gramaticais que encontramos por aí diz respeito à con-
cordância verbal. Por isso mesmo, vamos tratar de alguns casos aqui.

CONEXÃO
Leia mais sobre homônimos e parônimos em <http://www.mundovestibular.com.br/arti-
cles/6029/1/Paronimos-e-Homonimos/Paacutegina1.htm>

capítulo 4 • 109
4.4.1  Verbo haver e fazer

O verbo haver, quando indica existência ou acontecimento, é impessoal, deven-


do permanecer sempre na terceira pessoa do singular. Haver e fazer são impes-
soais quando indicam ideia de tempo, nesse caso, devem também permanecer
na terceira pessoa do singular.

Há informações que não podemos desprezar.


Havia três pessoas na reunião.
Deve ter havido sérios problemas com o computador.
Há anos não o procuro.
Faz anos que não o procuro.
Fazia dez anos que não encontrava aquele amigo.

4.4.2  Verbo ser indicando horas

O verbo ser, nas expressões que indicam tempo, concorda com a expressão nu-
mérica mais próxima.

É uma hora.
São três horas.
Já é meio-dia.
São dez para o meio-dia.
Hoje são vinte de fevereiro.
Hoje é dia vinte de fevereiro.

4.4.3  Verbo e a partícula se

Quando o “se” indica indeterminação do sujeito, o verbo fica na terceira pessoa


do singular. Quando o “se” é pronome apassivador, o verbo concorda com o
sujeito da oração.

Aos sábados, assiste-se a um movimento enorme no comércio.


Precisa-se de gerentes.

110 • capítulo 4
Confia-se, equivocadamente, em pessoas que impressionam apenas pela
aparência.
Construiu-se um novo centro de tecnologia.
Construíram-se dois centros tecnológicos na cidade.
Alugam-se casas.
Aluga-se casa.

4.4.4  Sujeitos formados por expressões partitivas

Quando o sujeito é constituído por “a maioria de”, “grande parte de”, “a maior
parte de” ou “grande número de” mais o nome no plural, teremos a possibilida-
de de colocar o verbo no singular ou plural.

A maior parte dos trabalhadores aceitou a orientação do sindicato.


A maior parte dos trabalhadores aceitaram a orientação do sindicato.

4.4.5  Expressão mais de um

O verbo deve ficar no singular. Apenas quando a expressão “mais de um” vier repeti-
da ou houver o sentido de reciprocidade é que o verbo irá ao plural.

Mais de um aluno faltou à aula.


As autoridades afirmaram que mais de um quarteirão está interditado.
Mais de um policial, mais de um bandido, foram mortos.

4.4.6  Títulos ou nomes de lugares precedidos de artigo no plural:


o verbo irá ao plural.

Os Lusíadas representam a grandeza da literatura portuguesa.


Os Estados Unidos enviaram mais soldados ao Afeganistão.
As Minas Gerais se destacam por cidades repletas de arte barroca.

capítulo 4 • 111
4.4.7  Sujeitos formados por expressões que indicam porcentagem: o verbo deve
concordar com o substantivo.

O gerente afirmou que 20% das mercadorias não foram remarcadas.


A oposição insiste em afirmar que 5% do orçamento sofreu alterações de últi-
ma hora.
A secretaria afirmou que 1% dos alunos faltaram à prova.
1% da população do município não tem acesso à água tratada.

ATENÇÃO
Se a expressão que indica porcentagem não for seguida de substantivo, o verbo deve con-
cordar com o número.

10% reprovam o governo.


1% aceitou a proposta.

4.5  Concordância nominal

Trata da concordância ou relação entre os nomes, ou seja, entre classes de pala-


vras como substantivos, adjetivos, pronomes, artigos e numerais.

4.5.1  Próprio, mesmo, incluso, quite e obrigado

Essas palavras concordam em gênero e número com o substantivo ou pronome


a que se referem.

Os arquivos seguem anexos.


A fatura segue anexa.
Os sócios não estavam quites com o clube.
Ela própria vistoriou o local do acidente.
A aluna disse: – Muito obrigada!
O aluno disse: – Muito obrigado!

112 • capítulo 4
4.5.2  Meio e bastante: não variam quando atuam como advérbios.

A secretária estava meio nervosa.


As passageiras ficaram meio perdidas.
Ficamos meio decepcionados.
Todos estavam bastante preocupados.
Muitas clientes ficaram bastante insatisfeitas com a demora no atendimento.

Quando meio e bastante se referirem a substantivos, então, poderão variar. Veja:

O almoço foi servido exatamente ao meio-dia e meia.


Meia porção de batatas fritas é suficiente.
Não há bastantes razões para eu desistir do projeto.
Existem bastantes pessoas na sala de reunião.
Enviei bastantes fotos pelo correio eletrônico.

4.5.3  É proibido, é necessário, é bom

Se essas expressões vierem desacompanhadas de um termo que as determine,


ficarão no singular.

Sopa é bom.
A sopa é boa fonte de vitaminas e nutrientes.
É proibido entrada sem permissão escrita da diretoria.
É proibida a entrada de pessoas estranhas ao setor.
É necessário liberdade de expressão.
É necessária a liberdade de expressão.

4.6  Regência verbal

Refere-se à relação entre os verbos e os termos que os complementam ou ca-


racterizam.

4.6.1  Verbos ir e chegar

Quando são usados para indicar direção ou destino, devem ser regidos pelas
preposições “a” e “para”.

capítulo 4 • 113
Vou ao mercado.
Fui à feira.
Devo chegar a Brasília no próximo mês.
Nosso gerente foi para a nova filial em Salvador.

4.6.2  Obedecer e desobedecer

Devem ser complementados pela preposição “a”.


Obedeça à sinalização.
Obedecer aos pais sempre foi recomendado.
Cada vez mais vemos empresas desobedecendo ao código do consumidor.

4.6.3  Aspirar:

Quando é usado com o sentido de “respirar”, emprega-se sem preposição;


quando significar “ter por objetivo”, usa-se com a preposição “a”.

Gostávamos de aspirar o ar excelente daquelas montanhas.


Em nossa empresa, admiramos aqueles que aspiram a uma melhor colocação.

4.6.4  Assistir:
Quando é usado com o sentido de “ser espectador”, emprega-se a preposição “a”.

Assistíamos ao filme comendo pipoca e bebendo guaraná.


Não quero que os funcionários assistam à programação da TV durante o expediente.

4.6.5  Emprestar

Deve ser usado somente no sentido de ceder por empréstimo.

Emprestei os livros à diretora da empresa.


Devo emprestar o dinheiro a você somente na próxima semana.

114 • capítulo 4
ATENÇÃO
No sentido de obter por empréstimo, diz-se pedir ou tomar emprestado: Pedi emprestadas
algumas folhas a meu colega.

4.6.6  Implicar: Deve ser usado sem preposição.

Os juros que os bancos praticam implicarão diminuição das vendas a prazo.


A demissão dos funcionários implicou dificuldades para a empresa.

4.6.7  Morar e residir: Devem ser empregados com a preposição “em”, antes do
local de moradia ou residência.

Moro na Avenida Marechal Rondom.


O diretor reside na Avenida Independência.

ATENÇÃO
Expressões como residente e situado(a) devem ser seguidas da preposição “em”:
Amando Franco, residente na Avenida Central.
Casa Silva, situada na Avenida Quintino de Abreu.

4.6.8  Preferir: sempre usado com a preposição a e nunca acrescido da palavra mais.

Prefiro estudar a ter de repetir o módulo.


As companhias preferem promoções relâmpagos a campanhas longas na mídia.

4.6.9  Visar

No sentido de apontar para um alvo ou de carimbar um documento, deve ser


usado sem preposição. No sentido de ter por objetivo, usa-se a preposição “a”,
a menos que haja um verbo depois do próprio verbo visar.

capítulo 4 • 115
Os Estados Unidos não visaram o passaporte do exilado iraquiano.
O exército inimigo visou o arsenal nuclear no ataque.
O nosso programa de formação continuada visa ao aperfeiçoamento dos agen-
tes de viagem.
Tudo isso visa à vitória na concorrência pública do próximo mês.

4.7  Regência nominal

Refere-se à relação entre o substantivo, o adjetivo ou o advérbio e as preposi-


ções que os regem.

4.7.1  Substantivos

Admiração a, por Devoção a, para com, por Obediência a


Aversão a, para, por Doutor em Ojeriza a, por
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Proeminência sobre
Bacharel em Horror a Respeito a, com, para
Capacidade de, para Impaciência com com, por
Medo a, de
Fonte: PASQUALE & ULISSES, 1999, P. 526

4.7.2  Adjetivos

Acessível a Curioso de, por Impróprio para


Acostumado a, com Descontente com Insensível a
Agradável a Desejoso de Natural de
Alheio a Diferente de Necessário a
Análogo a Entendido em Paralelo a
Ansioso de, para, por Equivalente a Passível de
Apto a, para Essencial a, para Preferível a
Benéfico a Fácil de Prejudicial a
Capaz de, para Favorável a Prestes a
Compatível com Grato a, por Próximo a, de
Contemporâneo a, de Hábil em Relacionado com
Contíguo a Habituado a Semelhante a
Contrário a Idêntico a Sito em

Fonte: PASQUALE & ULISSES, 1999, p. 526-527

116 • capítulo 4
4.7.3  Advérbios

Longe de Paralelamente a
Perto de Relativamente a

Fonte: PASQUALE & ULISSES, 1999, P. 527

4.8  Uso dos “porquês”

Vamos conferir agora como resolver uma dúvida muito comum: o uso dos
“porquês”.

4.8.1  Por que

Equivale à “por qual razão”, “por qual motivo”. Em alguns casos, equivale a
“pelo qual”.
Por que você não experimenta novos roteiros turísticos?
Por qual razão você não experimenta novos roteiros turísticos?

Não me informaram por que o relatório foi parcial.


Não me informaram por qual motivo o relatório foi imparcial.

Procuramos saber por que a situação da empresa não melhorou.


Procuramos saber por qual razão a situação da empresa não melhorou.

Estas são as causas por que lutamos todo esse tempo.


Estas são as causas pelas quais lutamos todo esse tempo.

O baixo investimento em infraestrutura é um problema por que muitos estão


passando.
O baixo investimento em infraestrutura é um problema pelo qual muitos estão
passando.

capítulo 4 • 117
4.8.2  Por quê

Usado no final da frase ou antes de alguma pausa.

Você não contratou um novo contabilista por quê?


Se a agência sonegou alguma informação, eu queria saber por quê.
Você não veio por quê?

4.8.3  Porque

Equivale a “pois”, “já que”, “uma vez que”, “como”. Pode também indicar fina-
lidade, equivalendo a “para que”, “a fim de”.

A moeda desvalorizou-se porque o cenário mundial mostrou-se instável.


A moeda desvalorizou-se já que o cenário mundial mostrou-se instável.
Imagino que receberemos a indenização porque ninguém contestou nosso pedido.
Imagino que receberemos a indenização uma vez que ninguém contestou nos-
so pedido.
Não julgues porque não te julguem.
Não julgues para que não te julguem.

4.8.4  Porquê

Representa um substantivo, significando “causa”, “razão”, “motivo”.


Não me deu pelo menos um porquê de sua ausência.
Não me deu pelo menos um motivo de sua ausência.

Sempre descubro o porquê de suas reclamações.


Sempre descubro a razão de suas reclamações.

Todos os porquês da demissão do funcionário foram revelados um a um.


Todas as causas da demissão do funcionário foram reveladas uma a uma.

118 • capítulo 4
4.9  Palavras e expressões parecidas, mas diferentes

Você já ficou em dúvida quanto ao uso de uma palavra em determinada frase ou


situação? Se o certo é onde ou aonde? Ou quando usar “este” e “esse”?
Vamos conferir essas questões e outras dúvidas!

4.9.1  Onde/Aonde

Aonde: usado quando há indicação de ideia de movimento ou aproximação.

Aonde ele foi?


Sempre vou aonde sou bem recebido.
O diretor vai aonde amanhã?
Aonde você quer chegar com essa argumentação?

Onde: indica permanência, o lugar em que se está ou se passa algo.

Onde você fica nas férias?


Mostre ao cliente o local onde a bagagem deve ser deixada
Alguém sabe onde está o funcionário responsável pelo chek-in?

4.9.2  Mal/Mau

Mal: opõe-se a bem.

Sabia que ele se comportaria mal.


O diretor julgou mal a atitude da assessoria.
O mal da nossa empresa está nas estruturas arcaicas.

Mau: é adjetivo e opõe-se a bom.

Ele era um mau administrador.


Ela tem um caráter mau.
Todos os destinos neste verão são atraentes desde que não faça mau tempo.

capítulo 4 • 119
4.9.3  Ao encontro de / De encontro a

Ao encontro de: indica “ser favorável”, “aproximar-se”, concordância.

Sua exposição vem ao encontro de minhas ideias, por isso poderemos trabalhar
juntos.
O diretor foi ao encontro da nova secretária e a cumprimentou.
O programa governamental veio ao encontro das expectativas dos agentes de
viagem e, por isso mesmo, gerou euforia no mercado.

De encontro a: indica oposição, choque.

Sempre discordei de você, por isso suas ações vêm de encontro ao que penso.
O carro foi de encontro ao muro.
O balanço revelou números que vieram de encontro ao que o diretor havia afir-
mado em seu relatório anterior, por isso as discrepâncias deram margem a des-
confianças.

4.9.4  Acerda de / A cerca de / Há cerca de

Acerca de: significa “sobre”, “a respeito de”.


Temos o documento que traz orientações acerca das novas orientações do mercado.
A negociação tem que ser acerca dos novos números apresentados pelo concorrente.

A cerca de: marca distância no espaço e no tempo futuro.


Estávamos a cerca de duzentos quilômetros de nosso destino.
A reunião começa daqui a pouco, a cerca de 30 minutos.

Há cerca de: período aproximado de tempo.


A nossa indústria começou a operar no Brasil há cerca de dois anos.
A companhia aérea está operando novos destinos para a Europa há cerca de
seis meses.

120 • capítulo 4
4.9.5  A fim de / Afim

A fim de: usado com o sentido de finalidade.


Estamos mudando o horário de funcionamento a fim de atender melhor o
cliente.
Uma outra sondagem foi realizada a fim de descobrir novas possibilidades de
investimento.

Afim: usado com o sentido de afinidade.


Temos ideias afins.
Nossa ideia de gestão é afim.

A expressão “estar a fim” é comumente usada com o sentido de “estar com vontade”,
“estar disposto a algo”, “ter interesse”. Essa expressão pertence mais à linguagem colo-
quial, ou seja, é geralmente usada em situações informais. Por isso, ela deve ser evitada
em textos formais.

4.9.6  Abaixo / A baixo

Abaixo: indica posição fixa.


Os funcionários não estão abaixo de mim, eles são cooperadores.
Vendemos produtos e serviços que estavam abaixo do valor de mercado.

A baixo: ideia de movimento.


Precisamos reformar o prédio de alto a baixo.
Aquele senhor sempre me olha de alto a baixo.

4.9.7  Acima / A cima

Acima: posição fixa


Ele se considera acima de mim.
A meta de inflação nunca ficara tão acima do esperado naqueles anos de insta-
bilidade econômica.

capítulo 4 • 121
A cima: ideia de movimento
Precisamos arrumar esta prateleira de baixo a cima.
Seu percurso foi de baixo a cima nesta empresa.

4.9.8  Este / Esse

Este: refere-se ao próximo e ao emissor.

Hoje é meu aniversário, por isso este dia é especial.


Este relatório que tenho em minhas mãos é meio extenso.
Esta próxima hora será decisiva para o desfecho das negociações.
O diretor confirmou a decisão, mas esta somente entrará em vigor no próxi-
mo mês.
Este departamento comunica que as novas regras serão implantadas imedia-
tamente.

Esse: refere-se ao mais distante e ao destinatário.

Esse relatório que você está lendo não me parece apropriado.


Precisamos melhorar o setor de encomendas. Esse setor é vital para nossa em-
presa.
Esse seu colega é muito competente, apresente-o amanhã ao novo diretor.

4.9.9  Se não / Senão

Se não: indica uma hipótese negativa, equivalendo à expressão “caso não”.

A programação do evento será pouco atraente se não alterarmos alguns itens


relacionados com o lazer das crianças.
Se não forem investidos mais recursos em infraestrutura portuária, perdere-
mos outras oportunidades de exportação de nossos produtos.

122 • capítulo 4
Senão: Equivale às expressões “a não ser que”, “do contrário”, “mas sim”, “mais
do que” etc.

Esperamos a aprovação do orçamento, senão ficaremos impedidos de desen-


volver os projetos de expansão.
Os funcionários responderam satisfatoriamente à política de incentivo da em-
presa, não com mero agradecimento, senão com atitudes mais construtivas e
adequadas.
Alguns diretores aprovaram com contrariedade a proposta da presidência. Se-
não, como explicar a resistência que ainda existe em relação ao novo projeto?

4.10  Algumas observações sobre verbos

Algumas formas verbais podem oferecer certa dificuldade, pois se comportam


de forma irregular ou “anormal”. Acompanhe as observações:

4.10.1  Verbo adequar:

Não use frases como: “Eu me adequo às exigências da empresa”! O verbo ade-
quar, no presente, só deve ser conjugado na 1ª e 2ª pessoas do plural. Veja:
“Nós adequamos o relatório às exigências da diretoria”. Imaginemos que você
precise dizer algo parecido com: “A diretoria solicitou que eu adeque o rela-
tório”. A forma verbal “adeque” está empregada incorretamente. Veja como a
frase poderia ser mudada: “A diretoria solicitou que eu corrija o relatório” ou “A
diretoria solicitou que eu adequasse o relatório”.

CONEXÃO
Você sabia que existem alguns sites na Internet que oferecem um “conjugador” de verbos? É
possível tirar dúvidas sobre a conjugação de verbos na língua portuguesa. Confira:
<http://www.conjuga-me.net/ e http://linguistica.insite.com.br/cgi-bin/conjugue>

capítulo 4 • 123
4.10.2  Verbo aderir

Atenção para a forma desse verbo no presente: eu adiro, tu aderes, ele adere,
nós aderimos, vós aderis, eles aderem.

4.10.3  Verbo colorir:

Não use “Eu coloro”. O verbo colorir não tem a 1ª pessoa do singular do presen-
te do indicativo e no subjuntivo ele não deve ser conjugado no presente.

4.10.4  Verbo dizer

Atente para o presente do subjuntivo desse verbo. Veja os exemplos: seu eu dis-
ser, se ele disser, se nós dissermos, se vós disserdes, se eles disserem.

4.10.5  Verbo intervir

Não diga: “Ele interviu”! O correto é: “Ele interveio”. Veja mais exemplos de
conjugação correta desse verbo: “Eles intervieram”, “Se eu interviesse”, “Quan-
do eles intervierem”, “Ontem eu intervim”. Você percebeu que esse verbo é de-
rivado de vir? Por isso não o conjugue como se fosse um verbo derivado de ver!

4.10.6  Verbo manter

Cuidado para não dizer ou escrever: “Se eu mantesse”! O correto é: “Se eu man-
tivesse”. Veja ainda: “Se eles mantiverem”, “Quando nós mantivermos”.

4.10.7  Verbo pôr

Tenha bastante cuidado com esse verbo e seus derivados. Não fale: “Se eu pôr”
nem escreva “Se eu puzer”! O correto é: “Se eu puser”. Veja mais: “Se tu puse-
res”, “Se nós pusermos”, “Quando eles puserem”. Os verbos compor, depor,

124 • capítulo 4
propor e repor também têm comportamento semelhante. Confira: “Se o réu
depuser amanhã”, “Se o funcionário repuser a mercadoria”, “Ele compusera
lindas canções”, “Se eu propusesse novas medidas, eles não concordariam”.

4.10.8  Verbo precaver

Não diga: “Eu me precavenho” ou “Eu me precavejo”! No presente do indicati-


vo, somente é correto “precavemos” e “precaveis”. No presente do subjuntivo
não se conjuga esse verbo. Nos casos em que não há forma verbal adequada
para o verbo precaver, você poderá substituí-lo pelos verbos prevenir ou acaute-
lar. Veja: “Eu me previno”, “Mesmo que eu me acautele”, “Ele se previne”.

4.10.9  Particípio regular e irregular

O particípio é uma forma nominal do verbo. Muitos particípios apresentam uma


forma regular e outra irregular. A forma regular do particípio é usada com os ver-
bos auxiliares ter e haver (“eu teria libertado o refém”, “depois de haver salvado
o arquivo, ele imprimiu o documento”). A forma irregular é usada com os verbos
auxiliares ser, estar e ficar (“o refém foi liberto”, “o arquivo está salvo”).

ATENÇÃO
A forma “chego” usada como particípio não é aceita na linguagem formal. Por isso, não
use “Eu havia chego mais tarde” ou “Ele tinha chego mais tarde”. O correto é “Eu havia che-
gado mais tarde”.

Confira a lista com o particípio regular e irregular de alguns verbos:

VERBO NO INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR


aceitar aceitado aceito, aceite

assentar assentado assento, assente

entregar entregado entregue

capítulo 4 • 125
VERBO NO INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR
enxugar enxugado enxuto

ganhar ganhado ganho

gastar gastado gasto

isentar isentado isento

juntar juntado junto

limpar limpado limpo

matar matado morto

pagar pagado pago

pegar pegado pego

salvar salvado salvo

desenvolver desenvolvido desenvolto

prender prendido preso

suspender suspendido suspenso

imprimir imprimido impresso

inserir inserido inserto

tingir tingido tinto

4.11  Pleonasmo, Ambiguidade, Cacofonia e Solecismos

4.11.1  Pleonasmo

É a repetição de um termo já expresso ou de uma ideia já sugerida, para fins de


clareza ou ênfase, segundo Bechara (2009).
Pleonasmo é uma figura de linguagem usada para intensificar o significado
de um termo através da repetição da própria palavra ou da ideia contida nela.
De acordo com o dicionário Priberam, a palavra pleonasmo tem origem no gre-
go pleonasmós, -o, significando superabundância, excesso.

126 • capítulo 4
Vejamos o excerto abaixo, extraído do poema de Manuel Bandeira:

POEMA SÓ PARA JAIME OVALLE

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro


(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação (...)

Podemos observar que ao usar a palavra chuva, o autor repete a ideia já contida
no verbo chover (chovia chuva). Neste caso, essa repetição foi usada para reforçar
a expressividade do verbo chover. Temos, neste caso, o pleonasmo intencional.
Já o pleonasmo vicioso é a repetição supérflua da palavra ou da ideia contida
nela, constituindo, portanto, um vício de linguagem. Vejamos alguns exemplos
de pleonasmo vicioso:
“Entrar para dentro.”
“Sair para fora.”
“A brisa matinal da manhã.”

4.11.2  Ambiguidade

A ambiguidade ocorre quando, por falta de clareza, há duplicidade de sentido


da oração.

Exemplos:
Maria disse à amiga que seu namorado havia chegado. (O namorado é de Maria
ou da amiga?)
O pai falou com o filho caído no chão. (Quem estava caído no chão? Pai ou filho?)

4.11.3  Cacofonia

A cacofonia ocorre quando a junção de duas ou mais palavras na frase provoca


som desagradável ou palavra inconveniente.

capítulo 4 • 127
Vejamos alguns exemplos:

Uma mão lava outra. (mamão)


Vi ela na esquina. (viela)
Dei um beijo na boca dela. (cadela)

4.11.4  Solecismo

Ao falar e ao escrever, as pessoas cometem inadequações de linguagem: al-


gumas por falta de conhecimento; outras, propositadamente. Para Bechara
(2009), solecismo é o erro de sintaxe (que abrange a concordância, a regência, a
colocação e a má estruturação dos termos da oração) que a torna incompreen-
sível ou imprecisa, ou a inadequação de se levar para uma variedade de língua
a norma de outra variedade; em geral, da norma coloquial ou popular para a
norma exemplar:

Eu lhe abracei (por o)


A gente vamos (por vai)
Tu fostes ( por foste)
Aluga-se casas (por alugam-se)
Vendas à prazo (por a)
Queremos fazermos tudo certo (por queremos fazer)

ATIVIDADE
1. Complete os espaços com a forma apropriada entre parênteses.

a) Paciência é ________ quando se está no meio de uma crise. (necessário/necessária)

b) A aluna se limitou a dizer: muito ________. (obrigado/obrigada)

c) Já ________ duas e ________. (é/são; meio/meia)

d) Já ________ dois dias e ________ que estamos trabalhando sem energia elétrica. (faz/

128 • capítulo 4
fazem; meio/meia)

e) Aquela escola é ____________ distante de minha casa. (meio/meia)

f) Os alunos que não estiverem ____________ com as mensalidades poderão fazer as


provas. (quite/quites)

g) No final do semestre, estamos todos ____________ ocupados. (bastante/bastantes)

h) Empregue corretamente as palavras ou expressões indicadas entre parênteses.

i) Nossa escola fica ________ três quilômetros do centro da cidade. (acerca de/ há cerca
de/a cerca de)

j) A escola está sem água _____ de três dias. (acerca de/há cerca de/a cerca de)

k) A escola mais próxima fica __________ dois dias de barco. (acerca de/há cerca de/a
cerca de)

l) As propostas da direção vão ________ dos anseios dos professores, por isso todos os
docentes aplaudiram a iniciativa da diretora. (ao encontro/de encontro)

m) A greve foi anunciada assim que os funcionários perceberam que as propostas da


direção vêm ____________ reivindicações. (ao encontro das/de encontro às)

n) Não sei ________ ele mora. (onde/aonde)

o) Não sei ______ ele quer chegar com toda essa argumentação. (onde/aonde)

p) ________ você está? (onde/aonde)

REFLEXÃO
Nesse capítulo, estudamos as principais regras de ortografia; aprendemos a distinguir os
homônimos dos parônimos e como usá-los num contexto. Vimos, também, o emprego dos
porquês e sua importância no estudo e domínio da norma culta.

capítulo 4 • 129
Vimos aqui as indicações para o uso de diversas palavras e expressões, além das orienta-
ções gramaticais. Outras dúvidas e dificuldades podem ainda surgir, por isso não deixe de con-
sultar as gramáticas indicadas ou mesmo dicionários e outras gramáticas que você já possua.
Use todos os recursos disponíveis e desenvolva um aprendizado contínuo da nossa lín-
gua portuguesa. Lembre-se que as normas da língua padrão são úteis para o uso em situ-
ações de comunicação nas quais é importante e indispensável à correção gramatical. Con-
sidere que na vida profissional estamos sujeitos a diversas normas, padrões operacionais,
códigos de ética e conduta, legislações e outras formas de regulamentação de atividades e
procedimentos. A língua também tem suas normas e elas devem ser respeitadas principal-
mente naqueles contextos nos quais se requer o uso da língua culta ou padrão.

REFLEXÃO
Para estudar mais sobre ortografia, veja estes livros:

CEGALA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional,


2005.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação.


São Paulo: Atual, 2005.

A gramática é uma fonte de consulta interessante para adequarmos nossa linguagem à


norma padrão.
Uma primeira recomendação que faço é em relação à Moderna gramática portuguesa, de
Evanildo Bechara. Essa gramática saiu em nova edição, atualizada e revisada, pela Editora Lu-
cerna. É uma gramática mais no estilo antigo, gramática escolar convencional, sem ilustrações
gráficas, “tirinhas”, exemplos de textos contemporâneos ou da linguagem publicitária. É uma gra-
mática elaborada por um dos mais respeitados gramáticos da atualidade.
Outra dica é a Nova gramática aplicada da língua portuguesa: uma comunicação interativa,
de Manoel Ribeiro, Editora Metáfora. Trata-se de uma gramática que compreende a descrição da
língua acomodada ao uso da norma culta. Traz tanto as regras ou o padrão culto, como também
posicionamentos de linguistas e aspectos de descrição da língua. Essa gramática se destaca por
apresentar opiniões e tendências distintas ou conflitantes sobre um mesmo assunto, dando a
oportunidade de não somente conhecer uma determinada regra, mas, também, de ter contato de
forma resumida com alguns posicionamentos linguísticos sobre aquela regra gramatical.

130 • capítulo 4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CÂMARA JUNIOR, J. M. História e estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Padrão Literário, 1976.

CEGALA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional,


2005.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação.


São Paulo: Atual, 2005.

COUTINHO, I. de L. Gramática Histórica. 6. ed. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1968.

CUNHA, C. F.; CINTRA, L. F. L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

GOLD, Miriam. Redação empresarial: escrevendo com sucesso na era da globalização. 2.


ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2002.

GOULART, A. T.; SILVA, O. V. Estudo dirigido da gramática histórica e teoria da lite-


ratura. São Paulo: Ed. do Brasil, 1975.

MESQUITA. Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1998.

MEDEIROS, J. B. Português Instrumental para cursos de Economia, Contabilidade e


Administração. São Paulo: Atlas, 2000.

PASQUALE & INFANTE. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1999.

SACCONI, L. A. Nossa Gramática: teoria e prática. São Paulo, Atual, 1999.

SILVA NETO, S. da. Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil. Rio de


Janeiro: Presença, 1976.

TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

capítulo 4 • 131
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo serão desenvolvidas, por meio do estudo da aplicação da linguagem
formal no moderno texto empresarial, algumas habilidades que irão contribuir para uma boa
comunicação escrita no contexto das organizações. Além de identificar as características da
linguagem empresarial moderna; serão apresentadas algumas técnicas que contribuem para
a concisão, objetividade e clareza do texto com a finalidade de utilização de uma linguagem
formal nas comunicações que ocorrem no ambiente organizacional.

132 • capítulo 4
5
Correspondência
nas empresas
5  Correspondência nas empresas
Neste capítulo, você terá a oportunidade de aprender e desenvolver habilida-
des que poderão contribuir para uma boa comunicação escrita no contexto das
organizações. Vamos identificar as características da linguagem empresarial
moderna; conhecer técnicas que contribuem para a concisão, objetividade e
clareza do texto; estudar a aplicação da linguagem formal no texto empresarial
e, finalmente, conhecer normas de padronização de textos.

OBJETIVOS
•  Reconhecer os defeitos e os vícios de linguagem nos textos empresariais.
•  Seguir as recomendações sobre as qualidades do texto empresarial
•  Aplicar as técnicas para uma boa produção textual.
•  Desenvolver habilidades de escrita para produzir textos eficazes.

REFLEXÃO
Quantas correspondências de empresas ou de instituições você já recebeu ao longo de sua
vida? Talvez não dê nem para contar, não é mesmo? Você já reparou que a linguagem do
texto dessas correspondências tem determinadas características? Pois é, geralmente encon-
tramos uma linguagem mais formal e impessoal em muitas correspondências institucionais.
Há certas normas e padrões que orientam os textos produzidos pelas empresas.
Nesse capítulo, você terá a oportunidade de estudar a linguagem que predomina nas
mensagens e textos que circulam no meio empresarial.

5.1  A linguagem das organizações

No contexto organizacional, o estilo e a linguagem do texto devem seguir pa-


drões de modernidade, otimizando-se o uso do tempo e do espaço na troca de
mensagens.
Sabe-se que um texto bem escrito, adequado às normas gramaticais e aos
padrões da moderna redação empresarial, pode reforçar a credibilidade e a
qualidade de uma organização.

134 • capítulo 5
Por isso, o texto comercial ou empresarial deve ser caracterizado pela sua
eficácia. O destinatário desse texto, o cliente ou parceiro, deve responder à
mensagem que recebeu da forma que o destinador espera. Quanto mais a res-
posta do receptor estiver próxima da intenção ou objetivo do emissor, mas efi-
caz será o texto.
O texto deverá conter recursos persuasivos que levem à obtenção de uma
resposta desejada. São os mecanismos de persuasão que garantirão a eficácia
do texto ou da mensagem (GOLD, 2002, p. 4-5).
Como alcançar a eficácia do texto no mundo organizacional será, portanto,
um dos nossos assuntos neste capítulo, além das características da linguagem
empresarial e da padronização das comunicações oficiais e comerciais.

5.2  Qualidades do texto empresarial

Os textos que cumprem a função de promover e facilitar a comunicação no con-


texto organizacional devem conter qualidades que garantam uma decodifica-
ção e apreensão da mensagem sem grandes esforços e perda de tempo.

CONCEITO
O que é uma comunicação eficiente?
A comunicação eficiente consiste em fazer as pessoas entenderem sua mensagem e
responder de forma a provocar novas trocas – de preferência na direção que você gostaria.
A comunicação sempre é uma via de duas mãos. Profissionalmente, você se comunica para
fazer com que as coisas aconteçam, obter e passar informação, tomar decisões, chegar a
consensos e se relacionar com as pessoas (HELLER, 2000).

Deve-se evitar a linguagem prolixa e difícil, pois “tanto o vocabulário sofisti-


cado quanto as frases longas e rebuscadas não contribuem para um rápido en-
tendimento da mensagem, levando o leitor a um desperdício de tempo, quan-
do não a uma desmotivação progressiva que acarretará, inconscientemente, a
rejeição da mensagem” (GOLD, 2002, p. 6).
Isso quer dizer que um texto mal escrito pode até acarretar perda de prestí-
gio para uma empresa. Várias são as consequências que podem ser listadas no
caso de documentos mal escritos no contexto organizacional.
Vejamos:

capítulo 5 • 135
As pessoas tornam-se desmotivadas para prestar atenção ao que estão lendo.
Há o privilégio da troca oral de informações. Na palavra falada, o sábio ditado popular
já diz que “quem conta um conto aumenta um ponto”. Assim, não há garantia de que a
informação será transmitida com fidedignidade.
As lideranças têm sua credibilidade enfraquecida, pois a ideia que se forma é a de que
“querem nos enrolar”.
As mensagens deformadas causam retrabalho para todos os envolvidos, seja àqueles
a quem a mensagem está dirigida, seja ao setor ou departamento emissor da informa-
ção. Há caso de empresas que precisaram de seis meses para operar um recadastra-
mento, quando o tempo inicial previsto era de apenas um mês. E tudo isso ocasionado
por um memorando inadequado. Neste caso, como pela lei da física, dois corpos não
podem ocupar o mesmo lugar no espaço, o recadastramento ocupou cinco meses de
vários outros trabalhos.
Há conflitos internos constantes que, por sua vez, ocasionarão uma cultura interna
de desagregação, em vez da sinergia positiva necessária à sobrevivência de qualquer
grupo socialmente constituído.
As mensagens externas não funcionarão como geratrizes de novos negócios, seja por
falta de persuasão no texto expresso, seja por equívocos e ambigüidades ocasionado-
res de perdas lucrativas (GOLD, 2005, p. 3-4).

Diante desses efeitos negativos que um texto mal escrito pode produzir no con-
texto organizacional, vamos então conhecer o contraponto a isso tudo.
Vejamos as qualidades do texto empresarial.

5.2.1  Concisão

A concisão pode ser entendida como a capacidade de comunicar o máximo de


informação com o mínimo de palavras, evitando-se subterfúgios e clichês que
tornam o texto antiquado e rebuscado. O texto conciso se caracteriza, também,
como “aquele em que todas as palavras e informações utilizadas tenham uma
função significativa” (GOLD, 2005, p. 7).
A retórica empresarial moderna tem privilegiado técnicas de comuni-
cação que favoreçam a compreensão imediata da mensagem. As palavras
devem estar impregnadas de sentido, dispensando-se os elementos que são
desnecessários, e a técnica da redução precisa ser aplicada eficazmente.

136 • capítulo 5
Por isso, é importante observar que a concisão do texto está relacionada
com uma ideia utilitarista da mensagem, mas, ainda assim, a concisão não
deve significar um empobrecimento. Ela deve ser entendida como “uma forma
mais enxuta e condensada de apresentação, em que se valoriza cada informa-
ção” (GOLD, 2005, p. 51-52).
Vejamos um exemplo de texto inadequado quanto à necessidade de concisão.

Temos a satisfação de levar ao conhecimento de V. S.ª que, nesta data, pela Trans-
portadora Transnorte e, em atendimento ao seu prezado pedido nº 432/99, de 18 de
setembro de 1999, demos encaminhamento, pela Nota Fiscal nº 167, às mercadorias
solicitadas pelo Departamento de Comprar de sua conceituada empresa.
(Extraído de GOLD, 2005, p. 53)

Corrigindo e reescrevendo o texto, teríamos:

Informamos que as mercadorias constantes de seu pedido nº 432/99 foram encami-


nhadas, na data de hoje, pela Transportadora Transnorte, junto à nota Fiscal nº 167.
Extraído de GOLD, 2005, p. 53

Para atingir a concisão, Gold (2005, p. 52-57) faz algumas recomendações


que apresentaremos a se seguir:

Maximizar a informação com um mínimo de palavras


Exemplo:
Esta tem o objetivo de comunicar → Comunicamos
Vimos por meio desta informar → Informamos

Eliminar os clichês
Exemplo: Nada mais havendo a declarar, subscrevemo-nos → Atenciosamente

Cortar redundâncias
Exemplo: Em resposta ao ofício enviado por V. Sª. → Em resposta ao seu ofício

Retirar ideias excessivas


Exemplo: Informamos que a entrada, a frequência e a permanência nas dependências
deste clube é terminantemente proibida, seja qual for o pretexto, a pessoas que não
fazem parte de seu quadro de sócios.
→ É proibida a entrada de não sócios.

capítulo 5 • 137
Algumas técnicas de redução podem auxiliar no enxugamento do texto.
A primeira técnica diz respeito à redução de excesso de quês ou “queísmo”.
A redução pode ser obtida substituindo uma oração introduzida pelo “que”.
Podemos substituí-la com substantivos abstratos, verbo no infinitivo e particí-
pios. Veja:
Espero que me telefone a fim de que se esclareçam as questões que dizem
respeito ao tema que foi debatido na reunião.

CONCEITO
Queísmo um termo que designa o exagero no uso do pronome relativo “que”.
Vejamos como fica a redução do excesso de quês:
“Espero que me telefone” → telefonema → “Espero seu telefonema”
“A fim de que se esclareçam” → esclarecer → “a fim de esclarecer”
“As questões que dizem respeito” → a respeito de → “as questões a respeito do”
“Tema que foi debatido” → discutido → “tema discutido na reunião.”

Confira outras formas de substituição que eliminam o excesso de “quês”.

SUBSTITUIÇÃO DA ORAÇÃO ADJETIVA USANDO UM ADJETIVO EQUIVALENTE.

O profissional que não se prepara será facilmente superado.


O profissional despreparado será facilmente superado.

SUBSTITUIÇÃO DA ORAÇÃO ADJETIVA USANDO UM SUBSTANTIVO E


COMPLEMENTO.

Um diretor, que comprava muitas ações, obteve grandes lucros.


Um diretor, comprador de muitas ações, obteve grandes lucros.

138 • capítulo 5
SUBSTITUIÇÃO DA ORAÇÃO DESENVOLVIDA POR SUBSTANTIVO ABSTRATO OU
VERBO NO INFINITIVO

Espero que saibam que sairei na próxima semana.


Espero que saibam da minha saída na próxima semana.
É preciso que se estabeleça um novo marco regulatório.
É preciso estabelecer um novo marco regulatório.

SUBSTITUIÇÃO DE FORMA COMPOSTA PELO VERBO NO PARTICÍPIO.

O Departamento Financeiro já enviou o relatório que foi solicitado pela diretoria.


O Departamento Financeiro já enviou o relatório solicitado pela diretoria.

A transformação de orações na voz passiva para a voz ativa, em atas e relatórios


que apresentam excesso de frases na voz passiva, é outra técnica interessante.
A compra das novas impressoras foi aprovada pela diretoria. → voz passiva
A diretoria aprovou a compra das novas impressoras. → voz ativa

Quando estudamos os verbos aprendemos o conceito de “voz verbal”, ou seja, a flexão


verbal que diz respeito à forma pela qual o sujeito se relaciona com o verbo e os com-
plementos verbais. A voz ativa indica que o sujeito participa ou pratica a ação denotada
pelo verbo. A voz passiva indica que a ação ou processo expressado pelo verbo é
recebida pelo sujeito.

Essa técnica não será recomendada, entretanto, quando houver a intenção


de enfatizar um dos termos da sentença. Observe que, no exemplo, a voz passi-
va destaca “a compra das novas impressoras” e a voz ativa enfatiza “a aprovação
da diretoria”.
Outra técnica de redução consiste em substituir as locuções adjetivas por
um adjetivo. Veja o exemplo:
As áreas das cidades não devem receber o mesmo tratamento conferido às
regiões do campo.
As áreas urbanas não devem receber o mesmo tratamento conferido às re-
giões rurais.

capítulo 5 • 139
Será que em toda e qualquer situação um texto deve ser conciso? É preciso
cuidado para que o texto não acabe ficando denso e duro, tornado-se excessiva-
mente direto e perdendo sua elegância e cordialidade.

5.2.2  Objetividade

A objetividade das comunicações no contexto organizacional deve se caracteri-


zar pela centralidade das informações que realmente são importantes, não se
acrescentando detalhes ou palavras que distraiam o leitor. Por isso, a objetivi-
dade será alcançada quando o leitor for conduzido mais diretamente ao assun-
to que se quer tratar.
Um texto objetivo não apresenta excesso de palavras ou de ideias. É um tex-
to sem redundâncias.
Vejamos um exemplo de texto antiquado, que peca pela falta de objetividade.

Prezados Senhores,
Pedimos gentilmente, por meio desta, a fineza de nos fornecer informações relativas
à idoneidade moral e a capacidade profissional do Sr. Péricles Gordinho, candidato a
fazer parte do nosso quadro de funcionários e que forneceu a sua empresa como fonte
de referências, por já haver sido funcionário dessa tradicional organização.
Sendo só o que se apresenta para o momento, renovamos nossos votos de estima e
consideração.
Extraído de GOLD, 2005, p. 35

Corrigindo e adequando a carta anterior, teríamos:

Prezados Senhores,
Em virtude de o Sr. Péricles Gordinho nos ter fornecido a sua empresa como referên-
cia, solicitamos a gentileza de nos remeter informações quanto à idoneidade moral e à
capacidade profissional de seu ex-funcionário.
Esclarecemos ainda que, obviamente, sua informação será revestida do mais absoluto
cuidado e sigilo.
Extraído de GOLD, 2005, p. 35

140 • capítulo 5
ALGUMAS DICAS PARA ELABORAR UM TEXTO OBJETIVO:

Identifique a ideia principal.


O que eu quero dizer ao meu leitor?
Focar na informação ou ideia central mais importante.

Identifique as ideias secundárias.


Há outras informações que ajudam na assimilação de minha mensagem?
Levantar as ideias ou as informações que podem ser úteis, mas que se não forem
usadas não comprometerão o resultado esperado.

Identifique as ideias que devem ser descartadas e as que serão aproveitadas.


O que atrapalha na assimilação da ideia principal?
Aproveitar informações que possam ser interessantes e agregam valor à minha mensa-
gem, mas descartar as ideias e os detalhes que não atendem ao propósito da mensagem.

Adaptado de GOLD, 2005.

5.2.3  Clareza

Às vezes, temos muito claro, para nós mesmos, o que queremos dizer, mas na
hora de escrever...
Pois é, não basta ter clareza ou organização mental sobre o que precisa-
mos comunicar. Além disso, precisamos organizar adequadamente o que
temos em mente, considerando que outra pessoa lerá o que escrevemos.
A clareza de um texto está no fato de que um leitor não familiarizado com o
tema tratado seja capaz de compreender as ideias do texto sem grandes problemas.

ALGUMAS DICAS PARA ELABORAR UM TEXTO COM CLAREZA:


Evite uma linguagem excessivamente técnica.
Lembre-se de que escrevemos para pessoas que podem ser de áreas ou departa-
mentos diferentes.

capítulo 5 • 141
ALGUMAS DICAS PARA ELABORAR UM TEXTO COM CLAREZA:
Cuidado com o uso excessivo de substantivos abstratos
Algumas palavras podem dificultar a compreensão, pois têm sentidos menos objetivos
e concretos, dando margem para obscuridade ou interpretações equivocadas.

Cuidado com o lugar das palavras nas frases


Lembre-se do que vimos na parte sobre coesão textual. As palavras devem estar articula-
das e vinculadas corretamente.

Evite o parágrafo longo.


Cada parágrafo deve corresponder a uma ideia ou informação principal. Não coloque
várias ideias principais em um mesmo parágrafo.

Cuidado com as ambiguidades


O pronome relativo “que”, referindo-se a dois substantivos e o pronome possessivo
podem provocar ambiguidades.

Adaptado de GOLD, 2005.

5.2.4  Linguagem formal

A linguagem formal deve ser privilegiada nas comunicações escritas dentro do


contexto organizacional. Diferentemente da linguagem coloquial e mais infor-
mal, a linguagem formal possibilita a compreensão dos termos utilizados de
modo mais universal. A padronização da linguagem harmoniza-se com o cará-
ter mais impessoal das relações profissionais, favorecendo a imparcialidade e
evitando uma linguagem mais emotiva.
Além disso, a linguagem formal está mais adequada às normas gramaticais
e pode fortalecer uma imagem de credibilidade e competência.
No entanto, há situações e espaços na vida organizacional em que a lingua-
gem não precisará de tanta formalidade.
Mais adiante, você terá a oportunidade de conhecer algumas recomenda-
ções e normas que fazem parte desta linguagem formal.

142 • capítulo 5
5.3  Padronização de documentos empresariais

Você já imaginou se escrevêssemos cartas e documentos como se fazia há oi-


tenta ou cem anos? Pois é, se o mundo das empresas e das instituições mudou,
também mudaram as formas de se comunicar tanto nas empresas quanto nas
instituições.
Na verdade, a correspondência empresarial vem passando por várias modi-
ficações ao longo do tempo. Hoje em dia, as comunicações ou correspondên-
cias são mais do que documentos, muitas vezes são veículos ou instrumentos
de marketing, revelando a imagem de uma organização.
Por isso, se antigamente os textos eram mais prolixos, hoje, eles são mais
objetivos e atualizados no seu estilo e linguagem.
Acompanhe algumas dicas que daremos sobre aspectos formais da corres-
pondência empresarial.

DATA
Escreva o dia sem o zero à esquerda.
O nome do mês em letra minúscula.
O ano sem ponto ou espaço depois do milhar.
Coloque ponto final depois da data.
→ São Paulo, 7 de janeiro de 2008.
No meio do texto, a data pode ser escrita com dois dígitos
→ 07-01-2008

DESTINATÁRIO
Não coloque o endereço do destinatário no corpo da carta, a menos que você utilize
“envelope janelado”;
À → facultativo;
Petróleo Brasileiro S.A.
O a com crase decorre de a palavra empresa estar subentendida
Ao → facultativo
Banco do Brasil S.A.
At. → abreviatura que significa atenção (não use att.)
Somente use A/C no envelope.

capítulo 5 • 143
ASSUNTO E REFERÊNCIA
Referência é o número do documento que mencionamos numa determinada corres-
pondência;
Assunto é o tema que será tratado na correspondência.
Veja:
Referência: Sua Carta-Proposta no 11
Assunto: Compra de novas impressoras

VOCATIVO
O vocativo deve concordar com o destinatário em gênero e número.
Veja:

Ao Ao
Banco do Brasil S.A. Banco do Brasil S.A.
Assessoria Jurídica Assessoria Jurídica
At.: Sr. João da Silva Prezados Senhores,
Prezado Senhor,

Vamos verificar como fica uma carta que segue essas recomendações e ou-
tras que você vai descobrir com o nosso exemplo.
Veja:

Ct 23 – DIVIRH
Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2004.
À
Empresa Tal S. A.
At.: Sra. Adélia Prado
Assunto: Padrão datilográfico
Prezada Senhora,
Esta carta ilustra o preenchimento das novas correspondências das empresas. As ins-
truções que se seguem devem ser repassadas a todos os funcionários, responsáveis
pela manutenção da imagem de modernidade da Empresa.
A única margem aceita, a partir dos anos 1990, é a da esquerda, começando-se com

144 • capítulo 5
a data e só terminando com a assinatura. Não deve haver nenhum elemento do lado
direito, à exceção da padronização recomendada para o ofício e para o memorando
das repartições públicas.
Observe-se que não se usa mais colocar o endereço do destinatário no corpo da car-
ta, a menos que o envelope seja janelado. Entretanto, pode ser discriminado o setor
ao qual a carta está sendo enviada.
Em relação à margem direita, ela pode, conforme Instrução de 1982, não estar
alinhada. Porém, com o uso do computador cada vez mais disseminado, a tendência é
manter o alinhamento, clicando-se o ícone “justificar”.
Registre-se que a entrada de cada parágrafo já deixou de existir e a separação entre
parágrafos é feita por uma linha em branco. Essa orientação é válida inclusive para o
último parágrafo, cuja tendência é resumir-se na palavra “atenciosamente”.
Esperando que as novas normas reflitam o espírito de modernidade da Empresa,
desejamos sucesso.
Atenciosamente,
Carlos Lira
adaptado de GOLD, 2005

5.4  Dicas para redação de relatórios e cartas

A redação de um relatório deve levar em conta que outras pessoas lerão aquilo
que você produziu. Por isso, é sempre bom se colocar no lugar dos que vão ler
ou ouvir a leitura de seu relatório.
Considere, ao fazer seu relatório, a necessidade de uma boa pesquisa para
que todos os elementos necessários estejam presentes no texto.

E você vai relatar suas atividades, verifique cada fato para assegurar sua precisão. Se
você foi chamado para fazer um relatório sobre um assunto específico – um produto
novo, por exemplo –, liste o que necessita saber em uma série de pontos. Procure as
fontes ao seu alcance e confira se está cobrindo todos os aspectos. Antes de finalizar,
faça com que as informações obtidas em uma fonte sejam confirmadas por no mínimo
mais uma autoridade (HELLER, 2000, p. 48).

capítulo 5 • 145
Na elaboração do relatório, tenha cuidado com sua estrutura, pois isso po-
derá contribuir para a clareza e objetividade na apresentação das informações.

Escreva o objetivo do relatório e resuma as conclusões principais no parágrafo de


abertura. No corpo do relatório, apresente os fatos que comprovam suas conclusões;
apresente-os em uma sequência lógica, em parágrafos numerados. Também use títu-
los e subtítulos, pois ajudam na hora de procurar as informações-chave. Use negrito
ou sublinhe palavras para enfatizar certos aspectos. Termine o relatório com breves
recomendações de ação (HELLER, 2000, p. 48).

Essas dicas não devem ser vistas como regras rígidas e infalíveis, mas como
sugestões que devem ser contextualizadas e adaptadas de acordo com as neces-
sidades e realidade de cada situação.

Nesse sentido, veja mais algumas dicas:


Torne interessante cada informação.
Enfatize os fatos e descobertas mais importantes.
Não enrole nem escreva parágrafos longos e sem pausa.
Não abuse do pronome pessoal “eu” nem deixe seus preconceitos aparecer.
Não se desvie do assunto e não saia pela tangente.
Não tire conclusões a partir de dados insuficientes.
Não apresente seu relatório sem checar as fontes de informação (HELLER, 2000, p. 48).

CONEXÃO
Outras recomendações e sugestões sobre a linguagem empresarial, especificamente nas
correspondências, podem ser conferidas no link: <http://www.bestreader.com/port/txco-
moescrever.htm>

Vamos agora a algumas dicas sobre a redação de cartas.


Além de ir direto ao ponto e escrever com clareza, dicas importantes quan-
do se trata de redação de carta comercial, alguns autores sugerem estruturar

146 • capítulo 5
a carta a partir de um princípio que eles denominam de “mala direta”. Veja as
sugestões extraídas de Heller (2000, p. 33):

Chame a atenção do leitor dizendo por que você está escrevendo. Use humor quando
apropriado.
Desperte o interesse do leitor alimentando sua curiosidade sobre o que você está
dizendo.
Provoque o desejo do leitor fazendo o seu produto ou proposta soar atraente.
Convença o leitor de que sua carta é autêntica oferecendo referências ou garantias.
Estimule a iniciativa do leitor explicando o que você espera que ele faça.

5.5  Correspondência oficial

Destacaremos brevemente algumas correspondências oficiais: o memorando,


o ofício, o requerimento e a ata.

5.5.1  O ofício

É um tipo de correspondência oficial muito comum, servindo para comunica-


ção entre autoridades, instituições e empresas. Geralmente, suas característi-
cas são:

a) Papel formato ofício, sem pauta, timbrado, de 22 cm por 33 cm;


b) epígrafe (local e data, número e ementa);
c) invocação (indicação da autoridade a quem é dirigido);
d) contexto (mensagem);
e) fecho (expressão de cortesia, assinatura e cargo do remetente);
f) direção (nome, cargo e endereço do destinatário).
Os parágrafos de um ofício costumam ser numerados a partir do segundo
(RIBEIRO, 2005, p. 414).

capítulo 5 • 147
5.5.2  O requerimento

É uma solicitação dirigida a determinada autoridade. Suas principais caracte-


rísticas, de acordo com Ribeiro (2005, p. 415), são:
a) papel ofício, com margem à esquerda de 5 cm e de 1 cm à direita;
b) vocativo – título funcional do destinatário, precedido de Ilmo. Sr. Ou
Exmo., de acordo com a autoridade a que é dirigido.
c) espaço de oito a dez linhas para o despacho da autoridade;
d) preâmbulo – após o espaço relativo ao parágrafo, faz-se a qualificação do
requerente (nome, nacionalidade ou naturalidade, profissão, estado civil,
residência, local de exercício da função etc.);
e) contexto – parte em que o requerente expõe resumidamente o seu pedi-
do, justificando sempre que necessário;
f) fecho – com as expressões “Nestes termos” (na primeira linha logo abai-
xo do contexto) e “Pede deferimento” na linha seguinte. Nas petições em
juízo há outras fórmulas;
g) localidade e data – imediatamente após o fecho;
h) assinatura – na linha logo abaixo.

5.5.3  Ata

É um resumo dos fatos, resoluções e ocorrências de reuniões e assembleias em


geral. Obedece a algumas normas, como escrever tudo seguidamente, sem ra-
suras, nem entrelinhas. Geralmente, há um livro próprio para atas (RIBEIRO,
2005, p. 415).

ATIVIDADE
1.  Como você resolveria a ambiguidade das frases abaixo?
a) O gerente conversou com o supervisor em sua sala.
b) Encontrei um funcionário entre o grupo que estava uniformizado.”

148 • capítulo 5
2.  A partir da lista de características abaixo, marque sim ou não conforme a pertinência
para o texto empresarial.
Vocabulário sofisticado ( ) sim ( ) não
Clareza ( ) sim ( ) não
Vocabulário simples e formal ( ) sim ( ) não
Objetividade ( ) sim ( ) não
Frases curtas ( ) sim ( ) não
Frases longas ( ) sim ( ) não
Frases rebuscadas ( ) sim ( ) não
Gramática correta ( ) sim ( ) não
adaptado de GOLD, 2005, p. 6

REFLEXÃO
Considere que as correspondências oficiais, comerciais ou empresariais não deixam de ser
documentos, por isso, é importante usar a língua adequadamente nesses textos e seguir as
normas ou padrões estabelecidos. A forma como tratamos a língua portuguesa nas corres-
pondências e nos documentos profissionais revelará, em parte, a qualidade e o cuidado de
uma empresa ou instituição.

LEITURA RECOMENDADA
Se você deseja saber mais sobre normas de correspondência e a respeito de padronização
de documentos oficiais, consulte e leia atenciosamente a Instrução normativa nº 4, de 6
de março de 1992, da Secretaria da Administração Federal. Você também pode conferir o
Manual de Redação da Presidência da República na Internet: <https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/manual/ManualRedPR2aEd.doc>
Você pode investir no aprendizado sobre produção textual lendo artigos que tratam do
assunto. Uma sugestão é o artigo “A dinâmica da redação criativa: as estratégias que prepa-
ram o terreno para quem quer escrever textos mais dinâmicos e criativos”, de Luiz Costa Pe-
reira Junior, publicado na Revista Língua Portuguesa, disponível em: <http://revistalingua.
uol.com.br/textos.asp?codigo=11730> .

capítulo 5 • 149
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAGLIARI, Luiz Carlos. A história do alfabeto. São Paulo: Paulistana, 2009.

CHOCIAY, Rogério. Redação no vestibular da Unesp: a dissertação. São Paulo: Fundação


Vunesp, 2004.

DA SILVA, Josué Cândido. Da torre de Babel a Chomsky. In: Página 3 Pedagogia & Comuni-
cação. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u52.jhtm>. Acessado
em: 08 de dezembro de 2009.

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto. 12. ed. São Paulo: Ática, 1996.

____. Lições de texto: leitura e redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2001.

GOLD, Miriam. Redação empresarial: escrevendo com sucesso na era da globalização. 3. ed.
São Paulo: Pearson Education, 2005.

HELLER, Robert. Como se comunicar bem. São Paulo: Publifolha, 2000. (Série Sucesso
Profissional).

MEDEIROS, J. B. Português instrumental. São Paulo: Atlas, 2000.

PALOMO, Sandra M. S. Linguagem e linguagens. In: Eccos Revista Científica. São Paulo, vol.
3, nº 2.

Programa Gestão da Aprendizagem Escolar – Gestar II. Língua Portuguesa: Caderno de


Teoria e Prática 4 – TP4: leitura e processos de escrita I. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2008.

RIBEIRO, Manuel P. Gramática aplicada da língua portuguesa. 15 ed. revisada e ampliada. Rio
de Janeiro: Metáfora, 2005.

150 • capítulo 5
SILVA FILHO, José Tavares. Da evolução da escrita ao livro: de Ebla na Mesopotâmia à virtu-
alidade: uma trajetória para a preservação da imagem do mundo. Apresentado no VI Ciclo de
Estudos em Ciência da Informação/CECI. Rio de Janeiro, 1998.

TEIXEIRA, Leonardo. Comunicação na empresa. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed.
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TRIGUEIRO, Osvaldo. O estudo científico da comunicação: avanços teóricos e metodológi-


cos ensejados pela escola latino-americana. Pensamento Comunicacional Latino Americano.
PCLA. – Vol. 2, nº 2, jan./fev.mar. 2001.

capítulo 5 • 151

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