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DISCIPLINA

REVISTAS E
PERIÓDICOS
UNIDADE IV
CARO(A) ACADÊMICO(A)
Seja bem-vindo(a) à disciplina de Revistas e Periódicos!
Como futuro(a) bibliotecário(a), você já deve ter
percebido que a área da biblioteconomia é vasta,
multidisciplinar, e faz uso de ferramentas de outras áreas,
visando sempre encontrar as melhores formas de
administrar unidades de informação.
Nessa disciplina, o objetivo principal é compreender o
que são periódicos e revistas cientificas, como
administrar, e quais são as ferramentas apropriadas, com
enfase nos Estudos Métricos, que são a ferramenta-chave
para o controle desse tipo de acervo.

Para que o seu entendimento seja completo e claro, na


página seguinte existe um sumário que indicará quais
páginas/tópicos/capítulos devem ser lidos. Você pode ler
o material completo caso sinta necessidade, mas é o
conteúdo indicado no sumário que será cobrado nas
atividades e provas.
SUMÁRIO
PANORAMA DA REVISTA BRASILEIRA DE BIBLIOTECONOMIA
E DOCUMENTAÇÃO: análise de indicadores bibliométricos
................................................................................................................. Pág. 15 - 24.

ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA E CIENTOMÉTRICA: desafios para


especialistas que atuam no campo ................................. Pág. 111 - 126.
OBJETIVOS
Recapitulação do conteúdo.
Compreender as dificuldades do bibliotecário na aplicação dos
EM(estudos métricos).
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. esp. 45 anos, 2018 |

Ednéia Silva Santos Rocha RESUMO


Doutoranda em Política Científica e
Tecnológica pela Universidade
Analisar o estado da arte da Revista Brasileira de
Estadual de Campinas. Bibliotecária
da Faculdade de Direito de Ribeirão
Biblioteconomia e Documentação por meio de análise de
Preto da Universidade de São Paulo. indicadores bibliométricos foi o objetivo dessa pesquisa.
E-mail: edneia@usp.br Conhecer as características desse periódico torna-se
relevante pois trará contribuições para os estudos da área
Tamie Aline Lança e oferecerá subsídios tanto para os processos de avaliação
Mestranda em Ciência da Informação do periódico como também na orientação do corpo
pela Universidade Federal de São editorial, para implantar melhorias na revista. Como
Carlos. Bibliotecária da Faculdade de objetivos específicos descreve-se características sobre a
Direito de Ribeirão Preto da pontualidade e periodicidade, os tipos de publicação, os
Universidade de São Paulo principais temas identificados por meio das palavras-
E-mail: tamie@usp.br chaves, o idioma de publicação e tipos de autoria. O
recorte temporal dessa pesquisa contemplou as
publicações da revista a partir de 2006, considerando os
últimos 12 anos, perfazendo um corpus composto por 600
publicações. Observou-se a periodicidade da revista a
partir de 2006, publicando um volume e dois fascículos
anualmente; o idioma predominante é o português; e os
trabalhos de evento compõe o tipo mais frequente de
publicação, sendo em grande parte feitos em colaboração.
Os termos mais usados como descritores foram Biblioteca
Universitária, Competência Informacional e Biblioteca
Escolar. Observou-se que os descritores são, em sua
maioria, termos genéricos e pouco específicos, ponto que
sugere atenção. Essa investigação visou contribuir para o
melhor entendimento do estado da arte e fornecer uma
visão panorâmica do periódico RBBD, contribuindo com
processo de gestão e com a visibilidade desse periódico
que acompanha os estudos brasileiros da área há 45 anos.

Palavras-chaves: Periódicos científicos; Bibliometria;


Comunicação científica.

ABSTRACT
Analyzing the state of the art of the Brazilian Journal of
Library Science and Documentation through the analysis
of bibliometric indicators was the objective of this
4
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. esp. 45 anos, 2018 |

research. Knowing the characteristics of this journal


becomes relevant as it will contribute to the studies of the
area and will offer subsidies both for the evaluation
processes of the journal as well as in the orientation of the
editorial staff, to implement improvements in the journal.
Specific objectives are to describe characteristics about
punctuality and periodicity, types of publication, main
themes identified through keywords, the language of
publication and types of authorship. The temporal cut of
this research contemplated the publications of the
magazine from 2006, considering the last 12 years,
making up a corpus composed of 600 publications. It was
observed the periodicity of the magazine from 2006,
publishing a volume and two fascicles annually; the
predominant language is Portuguese; and the event work
forms the most frequent type of publication, being largely
done in collaboration. The most used as descriptors were
University Library, Informational Competence and School
Library. It was observed that the descriptors are, for the
most part, generic and not specific terms, a point that
suggests attention. This research aims to contribute to a
better understanding of the state of the art and provide a
panoramic view of the journal RBBD, contributing with
the management process and with the visibility of this
journal that accompanies the Brazilian studies of the area
for 45 years.

Keywords: Scientific journals; Bibliometria; Scientific


communication.

1 INTRODUÇÃO

A Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (RBBD) completou 45


anos em 2018, já que desde 1973 vem revelando sua importância para comunicação da
produção científica nas áreas da Biblioteconomia e Ciência da Informação. Ao completar
45 anos torna-se pertinente analisar os indicadores bibliométricos, para se levantar um
panorama, de modo a fornecer subsídios importantes para melhor conhecimento não
apenas do periódico, mas também da área, pois há ausência na literatura de uma análise
acerca das características do referido periódico.
Com a criação das primeiras sociedades científicas, os periódicos científicos
ganham destaque e tornam-se, a partir do século XVII, o principal meio de registro e
comunicação científica, sobrepondo o livro. O periódico científico, também chamado de
revista científica, é reconhecido como principal meio de comunicação científica. Destaca-
se por sua versatilidade, arquitetura dinâmica, por permitir flexibilidade da informação
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veiculada, atendendo as necessidades de informação da comunidade científica de forma


eficiente e diversificada. O artigo geralmente tem maior peso nos processos de avaliação
e planejamento das instituições, sendo cada vez mais cobrado dos membros das
comunidades científicas (MARICATO, 2010).
A aplicação de estudos métricos é uma forma reconhecida para a construção de
indicadores de ciência e tecnologia (C&T), sendo frequentemente empregados na
formulação e avaliação de políticas para o desenvolvimento científico e tecnológico. Os
estudos bibliométricos oferecem um indicativo do nível de conhecimentos que vem sendo
produzido pelos pesquisadores, assim como os temas mais abordados na variedade de
aspectos embutidos dentro do tema em questão, permitindo a visualização do cenário e
de como os cientistas da informação se inserem nesse contexto, a partir de sua produção
bibliográfica, bem como os principais veículos nos quais eles publicam.
De acordo com Maricato e Noronha (2012), os estudos métricos medem os
processos de produção, comunicação e uso da informação e são feitos através de
indicadores bibliométricos. Os estudos bibliométricos constituem um instrumento
metodológico que permitem a visualização do comportamento da ciência em determinada
área, com abordagem objetiva e confiável, que quando associado a análises do contexto,
evidenciam o referencial teórico-epistemológico da área (DANUELLO; OLIVEIRA, 2012).
Atualmente, os estudos bibliométricos têm sido desenvolvidos e largamente
aplicados, a um volume cada vez maior de dados, haja vista a importância que possuem
na efetiva mensuração da atividade científica. Faria et al. (2011) observam que a maior
disponibilidade de metodologias e recursos eletrônicos contribuem para o crescimento
do desenvolvimento e uso de indicadores de produção. Ainda de acordo com Faria et al.
(2011), a elaboração e uso de indicadores de produção científica tornaram-se tradicionais
e são cada vez mais usados como instrumentos para medir os resultados das atividades
científicas. Os indicadores podem ser utilizados para análises da infraestrutura, das
políticas de investimento em pesquisa, da dinâmica de diferentes áreas científicas,
identificando áreas emergentes ou consolidadas, entre outras aplicações.
Desse modo, o objetivo dessa pesquisa é analisar o estado da arte RBBD por meio
de análise de indicadores bibliométricos. Como objetivos específicos descreve-se
características sobre a pontualidade e periodicidade, os tipos de publicação encontrados
na revista, os principais temas evidenciados por meio das palavras-chaves, o idioma de
publicação e tipos de autoria.
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Conhecer as características desse periódico torna-se relevante pois trará


contribuições para a área oferecendo subsídios tanto para os processos de avaliação do
periódico como também na orientação do corpo editorial para implantar melhorias na
revista, além de contribuir com sua visibilidade na comunidade científica.
Assim, para realizar o panorama da RBBD apresenta-se uma breve revisão de
literatura sobre comunicação científica, ressaltando os periódicos científicos, o histórico
da revista, os procedimentos metodológicos e os resultados da análise dos indicadores
bibliométricos.

2 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Com a modernização da ciência, no século XVI, os cientistas começam a


comunicar seus estudos por meio de cartas, que são os prenúncios dos periódicos,
formalizando o processo de comunicação científica (PINHEIRO, 2002 apud QUEIROZ;
MOURA, 2015). Comunicação cientifica é considerado um termo amplo, que “refere-se ao
processo comportamental associado à criação e à comunicação de ideias entre os
cientistas, tanto no âmbito interno – comunidade científica – como no âmbito externo –
público em geral” (LIEVROUW, 1990 apud CARIBÉ, 2015, p. 90).
A comunicação é tão vital para a ciência quanto a própria pesquisa, pois só é
legitimada como tal a partir do momento que são avaliadas sua originalidade e
pertinência para área por membros de destaque da comunidade (TARGINO, 2003). A
comunicação do conhecimento científico, de acordo com Meadows (1999) é situada no
cerne da ciência, uma vez que o produto da prática científica apenas é legitimado quando
julgado e aceito pelos pares e em seguida tornado público através da publicação.
O sistema de comunicação da ciência diz muito sobre a dinâmica de produção de
conhecimento, sobretudo, mostra que as diversas áreas do conhecimento têm práticas
diferenciadas de publicação e citação, que devem ser levados em consideração na
avaliação da contribuição da área para o avanço científico (VELHO, 2008).
A publicação contribui para o reconhecimento das descobertas, confirmação das
competências e o estabelecimento de credibilidade e aceitação do pesquisador na
comunidade científica, atuando no processo de universalização e democratização da
ciência (OLIVEIRA; NORONHA, 2005). A publicação permite ainda ao pesquisador a

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acumulação de capital social e, de forma indireta, ele pode ser materialmente


recompensado (MERTON, 1973; VELHO, 2008).
Leite e Ramalho (2005) explicam que muitos autores consideram a comunicação
científica como uma etapa primordial do fazer científico, pois para a ciência existir é
necessário que os pesquisadores relatem e comuniquem suas descobertas para que todos
tenham conhecimento do que está sendo estudado e pesquisado. Price, por exemplo,
assim se posiciona: “Quando um homem trabalha, produz alguma coisa nova e o resultado
é uma publicação, então ele esteve fazendo o que eu chamo de ciência” (PRICE, 1969 apud
VELHO, 1997).
Packer e Meneghini (2006) consideram que o crescimento da pesquisa científica
em escala mundial, e a necessidade intrínseca da comunicação dos seus resultados,
provocaram um aumento radical das publicações científicas, fenômeno identificado como
‘explosão da informação’.

O fluxo da comunicação científica inclui a publicação formal de resultados


de pesquisa, a recuperação de informação, o acesso à literatura publicada
e a comunicação informal e de intercâmbio entre pesquisadores. É um
fluxo contínuo, pois conhecimentos publicados e assimilados dão origem
a novos conhecimentos, pesquisas e publicações, regido por uma
dinâmica específica e influenciado pelas relações com a sociedade
(CASTRO, 2006, p.57).

Nesse sentido, é indiscutível a importância das publicações científicas para o


desenvolvimento do conhecimento científico, uma vez que se constituem no resultado de
estudos e pesquisas realizados em centros de investigação científica e no meio acadêmico.

2.1 Periódicos científicos

Os periódicos científicos são essenciais no processo de comunicação da ciência,


sendo um dos principais canais de divulgação das comunidades científicas, contribuindo
assim para o desenvolvimento e avanço da ciência e tecnologia. Para Davarpanah e
Aslekia (2008), os periódicos científicos desempenham papel importante na comunicação
científica, pois através dos periódicos científicos podemos verificar os problemas que
exigem solução, o padrão de pesquisa para solucionar esses problemas, as práticas da
atividade científica para as diversas áreas do conhecimento, etc.

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Os periódicos constituem formas importantes da comunicação na ciência,


pois não servem apenas ou exclusivamente à disseminação de
informações, mas também à institucionalização dos conhecimentos, à
avaliação da produção científica e a consagração e legitimação dessa
produção. Além disso, eles vêm sendo objeto constante de instrumentos
de avaliação por parte dos gestores e financiadores das atividades
científicas em organizações e em diversos países. Estes estão
interessados em obter, mediante a avaliação das publicações, indicadores
sobre a produtividade que facilitem tanto a tomada de decisão quanto a
distribuição e a alocação de recompensas e recursos (SANTOS, 2010,
p.19).

De acordo com Valério (2005) as principais funções dos periódicos são:


disseminação do conhecimento; registro da propriedade intelectual ao autor; preservação
da memória; e como instituição social, pois atribui prestígio e reconhecimento a autores,
a instituições, a editores e avaliadores. Com a disseminação das novas tecnologias de
informação e comunicação surgem novas manifestações relacionadas as publicações
eletrônicas, principalmente por meio da edição de revistas eletrônicas. Segundo Mueller
(2000, p. 82) as revistas eletrônicas são “periódicos aos quais se tem acesso mediante o
uso de equipamentos eletrônicos”. Desta forma, a tecnologia oferece mais possibilidades
de acesso as publicações, dando maior visibilidade e possibilitando a recuperação.
A criação e evolução do ambiente digital também tornou possível o advento do
acesso aberto, que no Brasil e demais países da América Latina está associado
principalmente a um contexto de necessidade não satisfeita da comunidade científica
local de acessar e publicar informação científica (PACKER et al, 1998; TERRA-FIGARI,
2008). Alperin, Fischman e Willinsky (2008), ao discutirem a situação do acesso aberto
na América Latina, argumentam que na região há predominância de um pensamento
ligado à importância da “presença pública” da pesquisa científica. Associado a este
pensamento, há um interesse em dar maior visibilidade e impacto, local e internacional,
da ciência latino-americana, rompendo com a invisibilidade da produção científica dos
países da região.
Desde então as ações em seu âmbito veem se traduzindo em transformações
concretas no sistema de comunicação científica. Em grande medida, o desenvolvimento
do sistema de publicações nesses moldes também está relacionando ao contexto de
inexistência de um mercado editorial de publicações científicas, desse modo, os
periódicos surgiram vinculados às instituições públicas de ensino e pesquisa, sociedades

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e associações científicas, entre outros, e tendo o financiamento governamental como


principal fonte de recursos.
O sucesso do Brasil em políticas de acesso aberto é destaque em diferentes
documentos que abordam o Movimento Open Access. A experiência do Brasil é
considerada bem-sucedida principalmente porque o sistema de publicações científicas
nacionais é essencialmente de acesso aberto, possui sustentabilidade financeira e os
periódicos possuem relativa visibilidade e reconhecimento (GUÉDON, 2010;
ORTELLADO, 2008; WILLISKY, 2006).

2.2 Histórico da Revista Brasileira de Biblioteconomia e


Documentação (RBBD)

Nesse cenário se destaca a Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação


(RBBD). A Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da
Informação e Instituições (FEBAB) é responsável pelo periódico desde sua criação, em
1959, e tem como principal missão defender e incentivar o desenvolvimento dos
profissionais da informação. Desse modo, a partir de 1960 passou a publicar um Boletim
Informativo com o objetivo de registrar eventos e informações consideradas de relevância
para a Biblioteconomia naquela época. A coleção completa desse boletim é constituída de
78 fascículos, pois sua última edição data de dezembro de 1972. Posteriormente, a partir
de convênio efetivado em 1972 com o Instituto Nacional do Livro (INL), a FEBAB lançou,
em 1973, o primeiro fascículo da RBBD, que se destacou como um canal de divulgação
importante da produção técnico-científica para a área de informação.
Seguindo uma tendência mundial, a partir de 2006 passou a publicar em formato
digital de Acesso Aberto. O acesso aberto proporcionou novas possibilidades para
comunicação científica da RBBD que, além dos artigos científicos, a partir de 2014 passou
a publicar os anais dos eventos promovidos pela FEBAB, em números especiais.

2.3 Avaliação de periódicos por meio dos indicadores bibliométricos

A avaliação dos periódicos se tornou, nos últimos anos, um instrumento muito


utilizado, tanto pelas agências de fomento para definição de apoio às revistas como pelos
principais índices internacionais para a inclusão de títulos em seus bancos de dados. Neste

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contexto, os estudos bibliométricos aparecem como ferramentas no processo de avaliação


da ciência, de forma a sinalizar tendências, apontar grupos medianos ou que se destacam
de forma negativa ou positiva, já que considerando o grande e crescente volume de
informações disponíveis, não há como realizar uma análise minuciosa e individual de cada
produção científica.
Os estudos bibliométricos são feitos por meio de indicadores bibliométricos, e de
acordo com Grácio e Oliveira (2014) pode-se agrupá-los em indicadores de produção,
indicadores de citação e indicadores de ligação. Dentre os indicadores de produção, há o
indicador básico, que é constituído pela contagem do número de publicações do
pesquisador, e os indicadores de citação, que contam com uma maior variedade de
métricas. Os indicadores de ligação tornam possíveis a identificação das redes de
colaboração, e de acordo com Glänzel (2008), a co-autoria de trabalhos aumentou
consideravelmente nas últimas décadas, e além dos fatores econômicos e políticos,
mudanças nos padrões de comunicação e aumento da mobilidade de cientistas
influenciaram esse aumento. Ademais, devido a possíveis variações e diferentes naturezas
de análise, os pesquisadores tendem a criar outros variados indicadores.
De acordo com Durieux e Gevenois (2010), os indicadores bibliométricos são
importantes para os pesquisadores porque permitem medições objetivas da difusão e do
impacto dos artigos publicados em uma comunidade científica. Estes indicadores podem
ajudar os pesquisadores a selecionar as revistas às quais pretendem submeter suas
pesquisas. Para as organizações, indicadores bibliométricos são importantes porque
permitem que medidas objetivas sobre a qualidade de uma pesquisa particular, sobre
pesquisadores individuais, ou um grupo pesquisadores, sejam identificadas. Na prática,
estes indicadores podem ajudar as organizações a tomar decisões sobre nomeações,
promoções e financiamento.
O termo bibliometria foi definido por Pritchard, em 1969, como a aplicação de
métodos matemáticos e estatísticos a livros e outros meios de comunicação, sendo sua
utilização aconselhada a todos os estudos que visam quantificar o processo de
comunicação escrita (OKUBO, 1997; BUFREM; PRATES, 2005). Macias-Chapula (1998)
define a bibliometria como o estudo dos aspectos quantitativos da produção,
disseminação e uso da informação registrada, desenvolvendo padrões e modelos
matemáticos para medir esses processos, cujos resultados são utilizados para elaboração
de previsões e tomadas de decisão. No mesmo ano, Spinak (1998) define a bibliometria
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como o estudo que busca medir a produção científica impressa por meio de análises
estatísticas, que podem compreender a criação e o uso de documentos.
Pereira (2015) que discorre em sua pesquisa sobre os estudos métricos da
informação, apresentando seu histórico, panorama atual e desafios na avaliação da
ciência, aponta que a bibliometria é tida como o método mais antigo e utilizado nos
estudos métricos, com origem no século XVIII, quando eram desenvolvidas contagens de
publicações da área jurídica, publicadas como Raymond’s Report’s (1743) e Dougla’s
Report’s (1783). Tendo em vista o exposto, apresenta-se os procedimentos
metodológicos.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As técnicas bibliométricas foram aplicadas para demonstrar o fluxo da


comunicação científica da RBBD assim como suas características. Como uma das
principais revistas na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, esse estudo pode
também ajudar a compreender as interações entre as disciplinas relacionadas à Ciência
da Informação, contribuindo com os estudos na área.
O recorte temporal dessa pesquisa contemplou a construção de indicadores
bibliométricos das publicações da RBBD a partir de 2006, considerando os últimos 12
anos, perfazendo um corpus composto por 600 publicações. A principal limitação do
estudo, na inclusão dos números anteriores, se refere a indisponibilidade de acesso aos
metadados dos trabalhos publicados de 1973 a 2005, pois até a data da coleta dos dados
somente as publicações a partir de 2006 estão indexadas com os metadados bibliográficos
de cada artigo, sendo as anteriores somente digitalizadas de forma integral. Sabe-se que
existe um projeto em andamento para indexação de todas as publicações, fato que
facilitará analises mais aprofundadas da revista. A Figura 1 traz os detalhes sobre as
etapas da pesquisa.

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Figura 1 – Procedimentos metodológicos

Fonte: Elaboração das autoras (2018).

Desse modo, realizou-se a coleta dos metadados por meio do site institucional da
RBBD1. Para auxiliar no tratamento bibliométrico, na elaboração da síntese e
apresentação gráfica das informações, foi utilizado o software Power View do Microsoft
Excel2, na geração de dados quantitativos e identificação de indicadores científicos, sendo
assim possível realizar o processo de análise bibliométrica. O software analisou dados
textuais extraídos da revista e realizou tratamento automatizado das informações.
Apresenta-se a seguir os indicadores do estado da arte do periódico analisado.

4 INDICADORES BIBLIOMÉTRICOS DA RBBD

Os indicadores bibliométricos identificados se caracterizam pela periodicidade


da publicação, pelo número de artigos publicados ao longo dos anos, tipos de publicação,
o idioma, dados sobre a autoria e temas mais abordados.

1Disponível em: <https://rbbd.febab.org.br/rbbd/index>. Acesso em: 02 a 07 de jan. 2018.


2O Power View é uma experiência interativa em exploração, visualização e apresentação de dados para
elaboração de relatórios ad-hoc intuitivo. É um recurso do Microsoft Excel 2013.
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4.1 Periodicidade e pontualidade

Em uma época de intensa pesquisa científica, a projeção e prestígio dos


pesquisadores dependem, em grande parte, da eficiência na divulgação de seus trabalhos.
Esta divulgação é feita, sobretudo, através de revistas científicas internacionais e
nacionais bem como através de congressos. Tratando-se de revistas científicas, fatores de
muita importância são a periodicidade e o tempo decorrido entre sua publicação e a
divulgação em índices especializados (CUNHA et al., 1978).
Para Segawa, Crema e Gava (2003, p. 125), periodicidade e pontualidade na
edição dos periódicos são pontos críticos nas publicações brasileiras. Com exceção das
revistas com amparo comercial de mercado (patrocínios publicitários, às vezes
institucionais), a maioria das revistas científicas padece de problemas crônicos de
financiamento que comprometem a regularidade da circulação. São raros os periódicos
não-comerciais brasileiros que não sofreram atrasos, interrupções ou alteraram a
periodicidade.
Uma característica essencial dos periódicos científicos é a determinação de
intervalo prefixado, ou seja, deve ser publicado de tempos em tempos previstos para
determinada audiência, isto é, seus leitores e autores têm uma expectativa da próxima
edição (BLATTMANN, 2013). Desse modo, o gráfico 1 demonstra a periodicidade da RBBD
desde seu lançamento até 2017.

Gráfico 1 - Periodicidade (1973-2017)

Fonte: Elaboração das autoras (2018).


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Desse modo, observa-se que a RBBD teve alguns problemas relacionados a


periodicidade das publicações. Entre 1973 a 1993, durante vinte e um anos, se manteve
ativa publicando cerca de um ou dois volumes anualmente e 47 fascículos no total. A
revista não publicou nos anos de 1994, 1995, 1996, 1998, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004
e 2005. A partir de 2006 a periodicidade e pontualidade são observadas, sendo que a
partir desse ano passou a publicar pontualmente um volume e dois fascículos anualmente,
com exceção do ano de 2009 em que publicou apenas um fascículo.

Gráfico 2 - Crescimento anual de publicações de 2006 a 2018

Fonte: Elaboração das autoras (2018).

A análise quantitativa da produção científica no período de 2006 a 2018,


demonstra que houve um crescimento expressivo das publicações a partir de 2014. Fato
atribuído a recente tendência de publicar os anais dos eventos da FEBAB. Em 2014
publicou em um fascículo especial dos trabalhos do VIII Seminário Nacional de Bibliotecas
Braille (SENABRAILLE), cujo objetivo foi formular, reunir e realizar troca de experiências
entre os profissionais que trabalham nas bibliotecas, sobretudo, para atender o público
com deficiência visual ou cegueira.
Em 2015, além dos artigos científicos, também publicou os anais do XXVI
Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD) que visava discutir o
estado da arte da Biblioteconomia e da Ciência da Informação e integrar os profissionais
das bibliotecas brasileiras de todas as tipologias: escolar, pública, comunitária,
universitária e especializada. Em 2016, contemplou também as publicações do 3º

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INTEGRAR - Congresso Internacional de Arquivos, Bibliotecas, Centros de Documentação


e Museus, que foi concebido como um evento multidisciplinar, focado nas áreas de
Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação e Museologia.
Em 2017, ano atípico, totalizou 241 publicações, sendo dois fascículos com os
artigos científicos e três fascículos especiais, sendo dois com os anais científicos dos
eventos CBBD 2017 e VI Seminário de Pesquisa em Ciência da Informação do
PPGCI/ECA/USP, além de um fascículo especial sobre Competência Informacional e
Midiática.
Assim, observa-se a consolidação da RBBD como uma das principais revistas da
comunidade científica das áreas da Ciência da Informação e Biblioteconomia. Merece
pleitear sua indexação na Coleção SciELO Brasil, porque dentre os critérios, política e
procedimentos para a admissão e a permanência de periódicos científicos no SciELO, a
periodicidade e o número de artigos publicados por ano são indicadores do fluxo da
produção editorial do periódico e da produção científica da área temática correspondente
(SCIELO, 2017). Apesar das dificuldades em relação periodicidade e pontualidade na
edição dos periódicos, nota-se que esses critérios na RBBD são satisfatórios pois mantem
regularidade a mais de uma década.

4.2 Tipos de publicação

A apresentação de comunicações ou papers, consiste em atividade comum aos


eventos científicos, praticamente em todas as áreas.

É a modalidade mais favorecida, por ser a que atrai o maior número de


profissionais e pesquisadores. Isto se justifica porque oferece
possibilidades para difundir, quase de imediato, resultados de pesquisas
recém-finalizadas ou ainda em andamento, assegurando autoria e
visibilidade acadêmica aos estudiosos, tanto em âmbito nacional como
internacional, uma das vantagens do sistema semiformal (TARGINO;
NEYRA, 2006, p.19).

Os eventos científicos são importantes meios para a divulgação dos resultados de


pesquisas científicas e intercâmbio de informações entre os pesquisadores participantes. É
uma modalidade de divulgação científica bem favorecida, devido ao fato de atrair maior
número de profissionais e pesquisadores.

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Outra vantagem dos eventos científicos é que geralmente aceitam pesquisas com
resultados preliminares, as normas de apresentação são mais flexíveis que em outros
meios de divulgação, têm espaço para publicação de um número maior de trabalhos se
comparado com os periódicos, por exemplo, aceitam resumos, resumos estendidos e
trabalhos completos. Estes eventos são oportunidades para se manter atualizado sobre o
estado da arte das pesquisas e são importantes para a materialização do conhecimento,
isto é, para o registro da produção científica do país em cada área (SANTOS, 2007).

Gráfico 3 - Tipos de publicação

Fonte: Elaboração das autoras (2018).

Observa-se o grande volume (57%) de trabalhos de eventos publicados na RBBD,


ressaltando-se que este tipo de publicação começou a ser inserido no periódico a partir
de 2014. Os números especiais dos eventos promovidos pela FEBAB contemplam grande
quantidade de trabalhos, o que justifica os dados representados no gráfico acima.
Destacamos, então, a importância dos eventos científicos para a divulgação dos resultados
de pesquisas científicas e o intercâmbio de informações. Geralmente eles são promovidos
por universidades, institutos de pesquisa ou sociedades científicas e associações de classe
são imprescindíveis para atualização profissional, contatos pessoais e avaliação de
trabalhos.
A segunda faixa mais representativa é composta pelos artigos (24%). Nesse
cenário se destaca a importância do periódico científico. Os periódicos científicos têm por
objetivo: proporcionar à comunidade científica um canal formal de comunicação e
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disseminação da produção técnico-científica nacional por meio da publicação de artigos


originais que sejam resultados de pesquisas e que contribuam para o avanço do
conhecimento.

4.3 Idioma de publicação

A divulgação da produção científica no Brasil nas áreas de Ciências Humanas e


Sociais é predominantemente em português, sendo que os principais motivos são a
barreira linguística e os custos para a publicação em periódicos internacionais indexados
(VELHO, 1997). Verificou-se que RBBD tem quase a totalidade de suas publicações em
português conforme o Gráfico 4 abaixo.

Gráfico 4 - Idiomas de publicação

Fonte: Elaboração das autoras (2018).

Sendo a RBBD uma revista que tem como foco prioritariamente o contexto
nacional da área, verifica-se que 97,67% das publicações são em língua portuguesa, pode-
se inferir que isso deve-se ao fato de que nas diretrizes para os autores é explicito que os
originais serão publicados em português.

4.4 Autoria por publicação

As variáveis do número médio de autores por trabalho permitem observar se os


autores da revista estão mais propensos a publicarem individualmente ou em
18
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. esp. 45 anos, 2018 |

colaboração. Ganharam um importante significado como a própria receita para o sucesso,


como uma necessidade e quase condição suficiente para receber o financiamento,
obtenção de visibilidade e reforço da posição na comunidade científica. A colaboração é
muitas vezes considerada um critério de qualidade. A escolha adequada de parceiros de
cooperação ou co-autores desempenha um papel determinante na aplicação e revisão de
processo de avaliação de projetos de pesquisa (GLÄNZEL, 2008).
De acordo com Targino (2000, p. 9), nos dias atuais, autoria e co-autoria da
produção técnico-científica estão condicionadas à pressão social e profissional para que
se publique cada vez mais. É a vigência de um sistema de avaliação de desempenho
calcado na produção dos pesquisadores e professores. É uma prática usual no meio
acadêmico de ficarem no limbo ou terem a “morte profissional” todos os pesquisadores
que não publicarem, sem levar em conta as diferenças entre instituições, áreas,
departamentos, especialidades e temas. Silva (2004) acredita que a autoria múltipla é
mais expressiva nas Ciências Exatas e Naturais do que nas Humanas e Sociais. Talvez
porque nas Ciências Humanas e Sociais é necessário maior esforço para atingir
concordância em várias decisões e reflexões, tornando o processo difícil e o conflito
iminente.
Para se analisar o perfil da autoria, selecionamos os artigos e trabalhos de evento,
pois as demais publicações como resenhas e entrevistas possuem apenas um autor.

Gráfico 5 - Autorias por publicação

Fonte: Elaboração das autoras (2018).

A colaboração científica é evidente principalmente nas publicações de trabalhos


de eventos, visto que cerca de 71% das publicações foram elaboradas em parceria de dois,
19
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. esp. 45 anos, 2018 |

três ou quatro autores. Os artigos científicos apresentaram 40% de autoria individual e


os demais em colaboração, sendo 37% em publicadas por dois autores.

4.5 Principais temas das publicações

É indiscutível o papel das revistas científicas para comunicar e tornar públicos o


debate e o avanço da ciência, com a ruptura de antigos paradigmas e o estabelecimento
de novos, em um ciclo de renovação que é uma das bases do processo científico. (BRAILE;
BRANDAU; MONTEIRO, 2007, p. 341)
A figura 2 demonstra a frequência da incidência das principais palavras-chave
das publicações. Uma nuvem de palavras reúne um conjunto de termos utilizadas para
descrever o assunto das publicações, e a frequência de cada termo é representado
proporcionalmente pelo tamanho da fonte. Para essa elaboração dessa nuvem utilizou-se
o WordArt3, sendo selecionadas 30 palavras-chave, com ocorrência entre 57 e 7 vezes.

Figura 2 - Frequência das principais palavras-chaves

Fonte: Elaboração das autoras (2018).

Os principais temas abordados nas publicações se referem aos termos: Biblioteca


Universitária, Competência informacional, Biblioteca Escolar, Biblioteca,
Biblioteconomia, Bibliotecários, Biblioteca Pública, Ciência da Informação, Acessibilidade

3 Disponível em: <https://wordart.com>. Acesso em: 16 fev. 2018.


20
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. esp. 45 anos, 2018 |

e Arquivos. Observa-se que os temas retratados por meio das palavras-chave são
descritores genéricos e pouco específicos, o que sugere que seria relevante a adoção de
critérios exclusivos para atribuição dos descritores.
Sabe-se que as novas tecnologias de informação e comunicação facilitaram o
acesso as publicações, aumentando ainda mais a importância da indexação. Isso porque,
todo periódico científico, para garantir sua sobrevivência, precisa reunir algumas
características, entre elas visibilidade e acessibilidade, ambas facilitadas com a indexação
(BRAILE; BRANDAU; MONTEIRO, 2007). Ressalta-se assim a importância do uso de
vocabulários controlados ou tesauros para descrição temática, fato que facilitaria as
análises de conteúdo das publicações em decorrência de um padrão de indexação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo analisou o estado da arte da produção científica da Revista Brasileira


de Biblioteconomia e Documentação publicada a partir de 2006, compondo assim um
corpus de 600 artigos nos últimos 12 anos.
Observou-se alguns problemas relacionados a periodicidade da revista entre
1994 e 2005, porém a partir de 2006, quando a revista passou a ser publicada em formato
digital, manteve sua periodicidade, publicando pontualmente um volume e dois fascículos
anuais, com exceção do ano de 2009 em que publicou apenas um fascículo.
Os tipos de publicação mais frequentes são os trabalhos de evento, que ocorreram
principalmente a partir de 2014, quando passou a publicar os eventos promovidos pela
FEBAB, e o idioma de publicação é quase exclusivamente o português (97,67%), exigido
nas diretrizes para os autores. No que tange a colaboração, os trabalhos de eventos são
elaborados predominantemente em parceira (71%), que podem ser de dois, três ou
quatro autores, os artigos têm 40% de publicações com autoria individual e as demais em
colaboração, sendo que 37% publicada por dois autores.
Por fim, este estudo destacou os temais mais abordados nos últimos 12 anos da
RBBD, sendo que as palavras-chave mais usadas foram Biblioteca Universitária,
Competência informacional e Biblioteca Escolar. Observou-se que grande parte dos
descritores são termos genéricos, com pouca especificidade.
Sugere-se uma análise mais aprofundada quanto as palavras-chaves utilizadas
nas publicações, visando o desenvolvimento de uma sistemática que otimize a indexação
21
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. esp. 45 anos, 2018 |

dos artigos, ponto essencial para que o processo de busca e recuperação seja efetivo.
Sugere-se também que, após a disponibilização dos metadados dos artigos entre os anos
de 1973 e 2005, esta pesquisa seja reaplicada para fornecer uma visão de toda a história
da RBBD.

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Recebido em: 16 de fevereiro de 2018


Aceito em: 20 de março de 2018

26
110

Bibliometric and scientometric analyses: challenges for specialists working in the field

Márcia Regina da Silva


Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos.
Professora do curso de Ciências da Informação e Documentação da FFCL/RP – USP.
E-mail: marciaregina@usp.br
Carlos Roberto Massao Hayashi
Doutor em Educação pela Universidade Federal de São Carlos, UFSCar.
Professor adjunto do Departamento de Ciência da Informação e docente dos Programas de Pós-Graduação em
Ciência, Tecnologia e Sociedade e Educação da UFSCar.
E-mail: massao@power.ufscar.br
Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi
Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos, UFSCar.
Professora associada do Departamento de Ciência da Informação e docente dos Programas de Pós-Graduação em
Ciência, Tecnologia e Sociedade, Educação e Educação Especial da UFSCar.
E-mail: dmch@power.ufscar.br

Resumo

A bibliometria e a cientometria aplicam métodos quantitativos para análises estatísticas de publicações e


atividades científicas. Na atualidade, pesquisadores, especialistas em informação, bibliotecários e também
laboratórios, diretores de pesquisa, universidades e governos, utilizam técnicas e métodos bibliométricos e
cientométricos para avaliar as atividades científicas. Esse artigo discute a utilização da bibliometria e
cientometria por profissionais da informação e especialistas e tem o objetivo de refletir e propor um conjunto de
requisitos necessários para realização de análises bibliométricas e cientométricas. Do ponto de vista
metodológico, o estudo está baseado na literatura das áreas da Ciência da Informação e da Sociologia da Ciência,
que foram compulsadas em busca de teorias e modelos explicativos, bem como sobre as posições divergentes e
convergentes existentes no campo dos estudos métricos da informação. O texto está organizado em três partes e
inicia pela apresentação de um panorama histórico-conceitual da bibliometria e cientometria. Em seguida, são
focalizados os especialistas envolvidos na realização de análise bibliométricas e cientométricas: os bibliotecários
e os pesquisadores. Por fim, é apresentado um conjunto de requisitos para a realização de análises bibliométricas
e cientométricas, formulados a partir da perspectiva que relaciona os diferentes usuários dessa metodologia e os
procedimentos necessários para a sua realização. As conclusões apontam a necessidade de uma maior interação
entre os diferentes especialistas envolvidos na realização de análises bibliométricas tendo em vista a qualidade
dos estudos realizados.
Palavras-chave: bibliometria; cientometria; análise bibliométrica

Abstract

Bibliometrics and scientometrics apply quantitative methods for statistical publications and scientific activities.
Currently, researchers, information specialists and librarians as well as laboratories, directors of research,
universities, governments, utilize techniques and scientometric and bibliometric methods to evaluate the
scientific activities. This article discusses the use of bibliometrics and scientometrics by information
professionals and specialists and aims to devise and propose a set of requirements for analysis of bibliometric
and scientometric analysis. From the methodological point of view, the study is based on several areas of
Information Science and Sociology of Science, which were mandatory in search of theories and explanatory
models, as well as the convergent and divergent views existing within the study of the metric information. The
text is organized into three parts and begins by presenting a historical and conceptual overview of bibliometrics
and scientometrics. After that are focused in experts involved in conducting bibliometric and scientometric
analysis: librarians and researchers. Finally, we present a set of requirements to perform scientometric and
bibliometric analysis, formulated from the perspective that relates the different users of this methodology and
procedures necessary for its realization. The findings highlight the need for greater interaction between the
various specialists involved in conducting a bibliometric analysis in view of the quality of the studies.
Keyword: bibliometrics; scientometrics; bibliometric analysis

InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 2, n. 1, p. 110-129, jan./jun. 2011.


Márcia Regina da Silva, Carlos Roberto Massao Hayashi, Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi 111

Introdução

A divulgação dos resultados de pesquisa, através dos canais formais (livros, capítulos
de livros e artigos científicos) e informais (teses e dissertações, comunicações em anais de
eventos científicos) comprova a necessidade latente da comunicação científica.

No Brasil, as universidades respondem quase que exclusivamente pela produção


científica nacional. Tais instituições, cada vez mais, incentivam os membros de sua
comunidade acadêmica a incrementarem sua produção científica, alicerçadas nas exigências
das agências de avaliação e fomento da pesquisa científica, como a Capes, FAPESP e CNPq.

O reconhecimento de que a atividade científica pode ser recuperada, estudada e


avaliada a partir de sua literatura sustenta a base teórica para a aplicação de métodos que
visam à construção de indicadores de produção e de desempenho científico. Por meio da
bibliometria e da cientometria é possível construir indicadores destinados a avaliar a produção
científica de indivíduos, áreas de conhecimento e países. Reunidos sob a égide de estudos
métricos da informação, tais indicadores tem sido largamente empregados na avaliação de
pesquisadores e áreas de conhecimento. No entanto, a avaliação da pesquisa produzida
exclusivamente por meio de análises bibliométricas e cientométricas é passível de críticas,
tendo em vista o caráter quantitativo dessas abordagens. Além de provocarem
questionamentos, uma vez que remetem à avaliação da própria ciência e da atividade
científica realizada pelos pesquisadores, a produção e interpretação de indicadores
bibliométricos é uma tarefa complexa que exige daqueles que os produzem, o domínio de
conhecimentos oriundos de diferentes áreas, tais como a Ciência da Informação e a Sociologia
da Ciência, entre outras.

Essas considerações introduzem as questões que se pretende discutir nesse artigo:


Como essas metodologias têm sido utilizadas por especialistas? Quais são os requisitos
necessários para realização de análises bibliométricas e cientométricas?

O texto está organizado em três partes, além dessa introdução e das conclusões. Em
primeiro lugar é apresentado um panorama histórico-conceitual da bibliometria e da
cientometria, visando descrever o desenvolvimento desse campo de estudos, bem como seus
usos e aplicações. Na segunda parte são focalizados os bibliotecários e os pesquisadores, os
principais profissionais e especialistas envolvidos na realização de análise bibliométricas e
cientométricas. Na terceira parte, é apresentado um conjunto de requisitos para a realização de

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Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo 112

análises bibliométricas e cientométricas, formulados a partir de uma mirada que relaciona os


diferentes usuários dessa metodologia e os procedimentos necessários para a sua realização.
Retomamos assim uma preocupação exteriorizada anteriormente (HAYASHI et al., 2005)
visando contribuir para práticas bem sucedidas na utilização dessas metodologias e
avançamos na discussão a respeito dos desafios colocados aos diferentes especialistas que
realizam análises bibliométricas.

Do ponto de vista metodológico, o estudo está baseado na literatura das áreas da


Ciência da Informação e da Sociologia da Ciência, que foram compulsadas em busca de
teorias e modelos explicativos, bem como sobre as posições divergentes e convergentes existentes
no campo dos estudos métricos da informação.

Panorama histórico-conceitual da bibliometria e da cientometria e suas aplicações

Historicamente, as premissas do conceito de bibliometria remontam ao início do


século XIX, evoluindo em termos de fundamentos, técnicas e aplicações dos métodos
bibliométricos. A prioridade em definir o termo bibliometria é pleiteada por duas correntes: 1)
a dos autores anglo-saxônicos que atribuem a invenção a Pritchard (1969) – o primeiro a
cunhar o termo “bibliometria” para significar aplicação das matemáticas e dos métodos
estatísticos aos livros e outros meios de comunicação – e; 2) a dos autores franceses, que a
concedem a Paul Otlet por ter utilizado o termo no seu Tratado da Documentação, publicado
em 1934. Tague-Sutcliffe (1994) cita outros autores, entre eles White e McCain (1989), por
limitar o alcance do conceito de bibliometria ao estudo quantitativo da literatura, conforme
esta se reflita nas referências bibliográficas, e Brookes (1990) por concebê-la mais
relacionada com os estudos da atividade bibliotecária. Por sua vez, Rostaing (1996) relembra
dois postulados implícitos em qualquer método de análise bibliométrica:

Primeiro postulado - um escrito científico é produto objetivo da atividade de um


pensamento, o que significa no contexto científico que a publicação é uma
representação da atividade de pesquisa de seu autor. Nesse sentido, o esforço maior
do autor é de persuadir os outros cientistas de que suas descobertas, seus métodos e
técnicas são particularmente pertinentes e o modo de comunicação escrita fornecerá
todos os elementos técnicos, conceituais, sociais e econômicos que o autor procura
afirmar ao longo de sua argumentação. Segundo postulado - a atividade de
publicação científica é uma perpétua confrontação entre as próprias reflexões do
autor e seus conhecimentos, adquiridos pela leitura dos trabalhos emanados de
outros autores. Conseqüentemente, a publicação científica torna-se o fruto de uma
comunicação de pensamentos individuais e coletivos. Os pesquisadores, para
consolidar sua argumentação, fazem freqüentemente referência aos trabalhos de
outros pesquisadores que são objeto de consenso na comunidade científica. Portanto,

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seja essa relação direta ou indireta, reconhecida ou dissimulada, consciente ou


inconsciente, concordante ou discordante, existe uma relação entre todos os
trabalhos científicos publicados. (ROSTAING, 1996, p.16).

A partir destes dois postulados, o princípio da bibliometria constitui em analisar a


atividade científica ou técnica pelos estudos quantitativos das publicações. Ou seja, os dados
quantitativos são calculados a partir de contagens estatísticas de publicações ou de elementos
que reúnem uma série de técnicas estatísticas, buscando quantificar os processos de
comunicação escrita. Essa concepção levou Rostaing (1996, p.17) a adotar uma abordagem
mais pragmática da bibliometria, considerando-a como “a aplicação dos métodos estatísticos
ou matemáticos sobre o conjunto de referências bibliográficas”.

A análise bibliométrica antecede o advento do Institute for Scientific Information (ISI)


– antes Thomson Scientific e atualmente Thomson Reuters. No entanto, na visão de Jacobs
(2010) a disponibilidade de acesso eletrônico online a essas bases de dados (Science Citation
Index, Social Sciences Citation Index) e seus indicadores de impacto (JIF) teve um efeito
catalisador sobre a popularidade, alcance e pretensão das pesquisas bibliométricas para além
da comunidade informacional. Esses aspectos já haviam sido sinalizados por pesquisadores
canadenses em um relatório sobre a utilização da análise bibliométrica nas ciências humanas e
sociais:

[...] a bibliometria tem sido amplamente utilizada até a chegada das ferramentas
desenvolvidas pelo Instituto para Informação Científica (Thomson ISI agora) e a
investigação de seu fundador, Eugene Garfield. As bases de dados da Thomson ISI,
por meio de seu arquivamento sistemático de artigos de periódicos selecionados
entre os mais citados ou de maior prestígio, reduziu significativamente o esforço
necessário para realizar análises bibliométricas. Esta especialidade, embora tenha
surgido a partir da Sociologia da Ciência e da Biblioteconomia e Ciência da
Informação, rapidamente encontrou o seu lugar na avaliação quantitativa da
pesquisa. (ARCHAMBAULT; VIGNOLA GAGNÉ, 2004, p.1).

Bremholm (2004, p. 91) chama a atenção para o fato de que os bibliotecários têm
usado uma variedade de métodos para “coletar e manipular dados bibliométricos, mas o
desenvolvimento e a disponibilidade generalizada de computadores e aplicativos de software
têm aumentado a possibilidade de tais estudos para muitos gestores de colecções”.

Entre as aplicações da bibliometria podem ser citadas: a seleção de livros e


publicações periódicas, a identificação das características temáticas da literatura, a evolução
de bibliografias e coleções, entre outros (OKUBO, 1997). A análise bibliométrica é um
método flexível para avaliar a tipologia, a quantidade e a qualidade das fontes de informação

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Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo 114

citadas em pesquisas. O produto da análise bibliométrica são os indicadores científicos dessa


produção.

Na visão de Araújo (2006, p. 25): “os estudos bibliométricos realizam uma leitura de
dados bibliométricos à luz de elementos do contexto sócio-histórico em que a atividade
científica é produzida”, o que vem demonstrar que as técnicas bibliométricas utilizadas
isoladamente não são suficientes para interpretar os indicadores produzidos, sendo necessária
a associação da bibliometria com outros métodos e referenciais teóricos. Nessa direção,

Não é objetivo da bibliometria em coordenar um sistema matemático disperso e


alheio à dinâmica da comunidade científica, no qual somente se registrem, em forma
de anuário, os tipos de documentos gerados em um sistema de informação (...), é por
isso que definir metodologicamente esses indicadores é complexo, sobretudo a sua
homogeneização internacional (...), pois requerem técnicas advindas das ciências
sociais que permitem reconhecer padrões, qualidades e características a partir de
dados quantitativos; é aqui que se localiza a importância e a complexidade desse
tipo de indicadores, destinados a avaliar resultados de pesquisa em que
implicitamente existem hábitos e comportamentos com sentidos éticos desiguais a
respeito de como, para que e por que se publica e se cita. (RODRÍGUES
SANCHEZ, 2008, p. 5).

Por sua vez, a cientometria é considerada como o estudo dos aspectos quantitativos da
ciência como disciplina ou atividade econômica. Faz parte da Sociologia da Ciência e tem
aplicação na formulação de políticas científicas. Envolve estudos quantitativos das atividades
científicas, incluindo entre outros, a publicação, e em certa medida sobrepõe-se a bibliometria
(JACOBS, 2010).

Patra, Bhattacharya e Verma (2006, p. 27) assinalam que “a cientometria é a medição


da comunicação científica, enquanto que a bibliometria lida com processos de informações
mais gerais”. Na visão dos autores, apesar das leis de dispersão de Bradford (1934) e de
produtividade científica de Lotka (1926) serem consideradas como marcos na bibliometria, na
verdade a pesquisa bibliométrica e cientométrica começou em finais dos anos 1960. Mais
tarde, nos anos setenta e oitenta do século passado, a pesquisa bibliométrica surgiu como uma
disciplina proeminente. A partir década de 1990, a bibliometria se tornou uma ferramenta
padrão da política científica.

Glänzel (2003) comenta que atualmente a pesquisa bibliométrica visa três principais
grupos-alvo que determinam claramente temas e subáreas da bibliometria contemporânea:

(1) Bibliometria para bibliometristas (Metodologia) - Este é o domínio da pesquisa


bibliométrica básica. (2) Bibliometria para disciplinas científicas (Informação
Científica) - Os pesquisadores em disciplinas científicas formam o maior, mas
também o mais diversificado grupo de interesse em bibliometria. Devido à sua
formação científica, os seus interesses estão fortemente relacionados a sua

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especialidade. Este domínio pode ser considerado uma extensão da Ciência da


Informação. Aqui também encontramos uma fronteira comum com a pesquisa
quantitativa em recuperação da informação. (3) Bibliometria para a política e gestão
(Política Científica). Este é o domínio de avaliação de pesquisa, atualmente o tópico
mais importante no campo. Aqui as estruturas nacionais, regionais e institucionais
da ciência e da sua apresentação comparativa estão em primeiro plano. (GLÄNZEL,
2003, p. 9)

Dessa perspectiva a bibliometria e a cientometria estão relacionadas a campos de


pesquisa e serviços aplicados, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1 – Ligações da Bibliometria com outros campos de pesquisa e serviços.


Fonte: Glänzel (2003, p.10)

Com relação à tecnometria, mencionada na Figura 1, Chiu (2005, p. 30) esclarece que
esta abordagem é aplicada para a produção de “indicadores multidimensionais úteis para
avaliar os níveis de desempenho tecnológico, a sofisticação e a complexidade dos produtos,
processos e serviços”. De acordo com o autor, perfis tecnométricos permitem “comparações
quantitativas da qualidade de produtos entre empresas, indústrias e nações, e têm sido úteis na
construção de estratégias de inovação empresarial e política tecnológica” (CHIU, 2005, p.30).

Por sua vez, Naseer e Mahmood (2009) mencionam que a bibliometria inclui dois
tipos de estudos: descritivos e avaliativos. Os estudos descritivos referem-se à produtividade
obtida pela contagem de livros, periódicos e outros formatos de comunicação, enquanto que
os estudos avaliativos estão relacionados ao uso da literatura por meio da contagem de
referências e citações em trabalhos de pesquisa.

Thelwall (2008) relaciona tais estudos à Sociologia da Ciência mertoniana, que vê nas
citações feitas pelos pesquisadores o reconhecimento da influência de trabalhos prévios. Em
vista disso, a contagem de citações é utilizada como indicador de valor científico da pesquisa.

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Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo 116

No entanto, essa perspectiva simplifica a realidade, uma vez que existem outras razões pelas
quais artigos e autores são citados. Price (1976, p. 292) mostrou que

[...] um processo de vantagens cumulativas pode funcionar para os documentos mais


citados quando documentos que são inicialmente bem citados tendem a continuar a
ser citados em parte porque eles foram citados, e não pelo seu valor intrínseco. Isso
é semelhante ao “efeito Mateus” na ciência (Merton), segundo o qual estudiosos
reconhecidos tendem a ser premiados com um crédito desproporcional para suas
pesquisas. Apesar disso, os indicadores baseados em contagens de citações têm sido
amplamente adotados.

De acordo com o Efeito Mateus, dentre dois cientistas com igual quantidade de
publicações, o que atua em uma universidade de maior prestígio será mais reconhecido, ou
reconhecido mais prontamente. Merton (1968) referia-se ao fenômeno de que o êxito gera
mais êxito e com essa teoria queria assinalar que o sistema de recompensas influi na
“estrutura de classe” da ciência fornecendo uma distribuição estratificada de chances entre os
cientistas ao ampliar seus papéis como pesquisadores. O sistema de comunicação da ciência
também é afetado pelo Efeito Mateus, uma vez que uma contribuição inovadora terá maior
visibilidade e aceitação quando for introduzida por um cientista de prestígio do que por um
que ainda não se fez conhecer. No plano sociológico, Price (1976) apresenta uma tese
cognitiva acentuada que conduz a uma teoria elitista da ciência, transportando este fenômeno
social e cultural, que tem sua contrapartida em outras esferas da vida social, para o campo das
leis bibliométricas, de tal maneira que as distribuições hiperbólicas que caracterizam as leis
bibliométricas seriam a expressão de um processo de vantagens acumuladas, que os
sociólogos da chamada escola funcionalista identificaram como o princípio subjacente da
estratificação social.

Porém, além da bibliometria descritiva e avaliativa, Thelwall (2008, p. 606) ainda


menciona a bibliometria relacional, que “busca iluminar as relações no âmbito da
investigação, como a estrutura cognitiva dos campos de pesquisa, o surgimento de novas
frentes de pesquisa, nacionais ou internacionais e os padrões de co-autoria”.

Campbell et al. (2010) comentam que os governos estão reconhecendo cada vez mais a
importância da responsabilidade dos gastos públicos em pesquisa, o que tem aumentado a
necessidade de equilibrar a avaliação mais tradicional de revisão por pares com métodos
objetivos, tais como a bibliometria. Essa perspectiva é corroborada por Rosas et al. (2011), ao
argumentarem que as análises bibliométricas avaliativas podem ser usadas para explicar e
descrever padrões de desempenho e impacto da pesquisa científica. Na visão dos autores,
qualquer pesquisa financiada por fundos públicos deve ser responsabilizada por sua

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produtividade e análises bibliométricas avançadas podem oferecer um conjunto de


ferramentas sofisticadas para fornecer evidências importantes durante a avaliação.

Outro aspecto importante, e que incrementou a realização de análises bibliométricas,


foi o desenvolvimento de softwares – alguns deles são livres (Bibexcel, por exemplo) e outros
proprietários (entre eles, Vantage Point) - especializados no processamento de indicadores
bibliométricos e cientométricos que permitem a visualização de redes de colaboração
científica traçadas, por exemplo, a partir das citações entre autores, periódicos e artigos
científicos.

Como se viu até agora, a bibliometria e a cientometria, por serem métodos de análise
da produção científica e tecnológica, são dinâmicas. Na atualidade, Thelwall (2008) comenta
que a maior mudança na bibliometria decorre da disponibilidade de novas fontes de
informação sobre comunicação – páginas web, por exemplo – e de estatísticas de uso de
bibliotecas digitais. Na visão do autor, o campo mais amplo de cientometria nunca se
interessou exclusivamente por trabalhos acadêmicos e também tem usado outros dados, tais
como financiamentos, bem como

[...] os indicadores qualitativos, tais como revisão pelos pares. Existem talvez três
principais tendências na história recente da bibliometria e análise de citação em
particular. Estas são utilizados para melhorar a qualidade dos resultados através de
métricas de qualidade e cuidadosa limpeza de dados, para desenvolver métricas para
novas tarefas, e para aplicar bibliometria para uma gama crescente de problemas,
particularmente em contextos descritivos e relacionais. (THELWALL, 2008, p. 608)

Nesse breve panorama histórico-conceitual da bibliometria e cientometria foram


apresentados seus principais aspectos teóricos e aplicados. A seguir, são problematizadas
algumas questões relacionadas com a utilização da abordagem bibliométrica.

A realização de análises bibliométricas por especialistas: em foco os bibliotecários e os


pesquisadores

A literatura cientifica tem revelado que pesquisadores com formação em diversas


áreas do conhecimento têm utilizado a bibliometria e a cientometria para realizar “estados da
arte” de suas áreas de conhecimento, mapear campos de pesquisa, produzir indicadores de
produção científica, analisar padrões de comunicação científica, entre outros.

Glänzel (2003) assinala que na atualidade a bibliometria é um dos raros campos de


pesquisa verdadeiramente interdisciplinar, estendendo-se a quase todos os domínios
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Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo 118

científicos, incluindo elementos da Matemática, Ciências Sociais, Ciências Naturais,


Engenharia e Ciências da Vida.

Isso é mais evidente quando se relaciona a bibliometria e a cientometria aos Estudos


Sociais da Ciência e verifica-se que esses campos de conhecimento se nutrem de aportes da
Sociologia da Ciência, das Teorias da Informação e da Comunicação, demonstrando assim
que as fronteiras das pesquisas estão sendo impulsionadas pela fertilização cruzada de idéias,
colaborações interdisciplinares, e uma maior integração das disciplinas científicas.

Russell e Rousseau (2002) assinalam que com o advento da “Big Science” as técnicas
bibliométricas encontraram uma nova aplicação nas esferas da administração da ciência como
uma ferramenta de gestão da pesquisa e da política científica. Os autores mostram que
anteriormente a bibliometria era uma área pouco conhecida por bibliotecários, sociólogos e
historiadores de ciência, mas assinalam que

[...] a necessidade de uma alternativa relativamente rápida, fácil e barata de revisão


por pares para avaliar os resultados da pesquisa levou à “descoberta” da bibliometria
por especialistas em política científica, o que conduziu a emergência de um novo
campo de estudo dedicado ao estudo quantitativo de todos os aspectos de atividade
científica. Esta nova área de cientometria atraiu especialistas de diferentes origens,
como os matemáticos, os profissionais da informação, cientistas da computação,
psicólogos, bem como pesquisadores das ciências naturais e medicina, com especial
interesse no estudo de suas próprias disciplinas. (RUSSELL; ROUSSEAU, 2002, p.
4).

No Brasil, Mattos e Job (2008) investigaram a visibilidade em âmbito internacional da


produção científica brasileira de pesquisadores ligados à Ciência da Informação que
publicaram artigos científicos no periódico Scientometrics. As autoras verificaram que no
período entre 1978 e 2006 os autores mais produtivos são das áreas das Ciências Biológicas e
da Saúde e entre eles, não há pesquisadores cientistas da informação. Os achados da pesquisa
levaram as autoras a questionar:

[...] apesar do primeiro Mestrado em CI ter introduzido a Bibliometria no Brasil


(URBIZAGÁSTEGUI ALVARADO, 1984), porque a produção científica neste
importante periódico internacional é mais destacada entre pesquisadores brasileiros
de outras áreas que não a CI? Seria pelo tímido relacionamento dos pesquisadores
brasileiros do campo com pesquisadores extramuros? Ou seria pelo não domínio da
língua inglesa? Eventualmente o idioma pode se tornar um obstáculo. (...) haveria
pouco interesse dos pesquisadores em CI na Bibliometria? Seria comparável a
produção sobre o tema em periódicos nacionais e internacionais? (MATTOS; JOB,
2008, p. 59).

Por sua vez, o estudo realizado por Meneghini e Packer (2010) mostrou que a presença
de publicações em cientometria e bibliometria com autores brasileiros cresceu
exponencialmente nos anos entre 1996 e 2006 na base de dados Web of Science e no Google

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Scholar. No entanto, o estudo revelou que essa abordagem tem sido utilizada por
pesquisadores de outras áreas de conhecimento diversas da Ciência da Informação, entre elas
as Humanidades/Administração, Biologia/Biomedicina, Saúde e Ciências Exatas.

Os achados dessas pesquisas sinalizam o espraiamento da realização de análises


bibliométricas para além do campo da Ciência da Informação. Pesquisadores de diferentes
áreas de conhecimento têm utilizado essa metodologia para medir a produção científica, uma
das mais importantes atividades de disseminação da pesquisa, sob a forma de publicações e
muitas vezes essas análises ultrapassam as dimensões quantitativas, associando os resultados
da pesquisa aos pesquisadores e aos conhecimentos e inovações que eles produzem, e com
isso sendo objeto de interesse de governos e países para orientar suas políticas científicas e
tecnológicas.

Nesse aspecto, Ball (2006) considera que ainda é pouco clara a questão de quem tem a
competência para análises bibliométricas. Em sua visão,

[...] existem apenas alguns peritos especializados em bibliometria que têm o


conhecimento necessário da comunidade científica e que ao mesmo tempo podem
significativamente lidar com a quantidade de dados à sua disposição. (...) Os
cientistas da informação em si não tem sido ativos neste campo e no máximo
fornecem um comentário científico. Portanto, não é incomum que assistentes e
secretárias dos gestores de ciência sejam encarregados de tais tarefas. Um cientista
que quer ou tem que fazer uma análise bibliométrica raramente tem o know-how
necessário ou os instrumentos adequados disponíveis para tal empreitada. (BALL,
2006, p. 539).

No entanto, frente ao enorme volume de dados disponibilizados atualmente no mundo


da ciência, Ball (2006) questiona sobre quem no ambiente científico é capaz e está disposto a
fornecer dados bibliométricos como um serviço para os gestores de ciência de forma
interdisciplinar e independente de seus próprios interesses científicos. Na visão do autor, os
profissionais da informação se encontram em uma posição favorável para lidar com estes
volumes de dados e filtrar informações confiáveis a partir deles.

Butler (2010) comenta que o uso de ferramentas de pesquisa quantitativa de avaliação,


muitas dos quais podem ser caracterizadas como “bibliometria”, está se tornando cada vez
mais generalizada no ensino superior – rankings de universidade, fatores de impacto dos
periódicos, índice h, para citar apenas alguns.

Nesse contexto, é interessante mencionar um estudo encomendado pela Research


Libraries (RLUK) e Research Information Network (RIN) do Reino Unido que visou
identificar as principais características do apoio que as bibliotecas desses países fornecem aos

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Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo 120

pesquisadores e à pesquisa nas universidades a partir de uma ampla gama de oferta de


serviços para o melhor desempenho de pesquisa institucional. Entre as recomendações do
relatório, uma delas diz respeito ao papel do bibliometrista, ao qual se atribui o
desenvolvimento de:

[...] novas formas de apoio e relações mais estreitas com os departamentos


acadêmicos, para identificar capacidades de investigação, e auxilar a instituição a
melhorar o impacto de suas pesquisas. Isso inclui ajudar os pesquisadores a entender
a bibliometria e suas limitações e a empregar métodos específicos de análise
bibliométrica visando, entre outros aspectos, a otimizar suas citações. As instituições
precisam ser mais estratégicas a respeito dos nichos onde as pesquisas podem ser
concentradas, e nesse aspecto a designação do bibliometrista para acompanhar o
pesquisador faz parte do compromisso da instituição para tal abordagem. (RLUK
RIN 2011, p. 33).

Por sua vez, Pérez (2010, p. 157) chama a atenção para o fato de que em um mundo
centrado na informação digital, a biblioteca especializada em ciência e tecnologia precisa
avançar para um cenário de interação pessoal presencial e virtual com a criação de serviços e
que facilitem os pesquisadores a lidar com a grande quantidade de informação atual. A autora
sustenta que essas novas necessidades dos usuários requerem do bibliotecário especializado
habilidades e competências, cada vez mais diversas, e entre elas está a de realizar análises
bibliométricas. Tais competências e habilidades envolvem:

[...] criar listas da produção científica da instituição e seus pesquisadores e com elas
confeccionar os indicadores bibliométricos básicos baseados na informação revelada
pelas bases de dados especializadas Scopus, Web of Science, Journal Citation
Report ou qualquer outra acessível e pertinente. Para obter dados confiáveis, o
bibliotecário deve conhecer os alcances, fortalezas e fraquezas de cada base,
completar informação faltante e corrigir erros em geral vinculados a problemas de
identidade de autores e instituições. (PÉREZ, 2010, p. 164).

As bases de dados bibliográficas são amostras representativas da atividade de


publicação em qualquer campo do conhecimento. No entanto, na era atual os estudos
bibliométricos e cientométricos não estão limitados a fontes tradicionais de informação, mas
abrangem os recursos digitais e a web. O estudo da produção de publicações em um
determinado campo científico é um bom indicador do estado dos trabalhos de pesquisa nesse
domínio de conhecimento (KUMAR et al., 2009).

Dávila-Rodriguez et al. (2009) chamam a atenção para o fato de que na atualidade é


mais fácil a realização de análises bibliométricas na América Latina e no Caribe, pois se pode
contar com bases de dados hispanoamericanas, como por exemplo:

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[...] Scielo, LILACS, Redalyc e Publindex, onde são encontradas informações de


indicadores bibliométricos que nos permitem capturar dados e processá-los; como
exemplo, ao entrar na interface Scielo há uma opção que se chama “indicadores
bibliométricos”, cuja informação atual refere-se ao período de 2000 a 2007, e
podemos escolher os indicadores de publicação, coleção e citação, e cada um destes
índices oferece informação mais detalhada por autor, idade dos artigos, periódico,
assunto, tipo de documento, etc. (DÁVILA-RODRIGUEZ et al., 2009, p. 326)

Requisitos para o desenvolvimento de análises bibliométricas: uma proposta baseada no


conceito de “competência informacional”

Como já mencionado anteriormente, são várias as áreas de conhecimento que têm


lançado mão de métodos e técnicas bibliométricas, resultando em trabalhos que incidem
sobre: a literatura de campos científicos ou de assuntos específicos dentro de uma área de
conhecimento; a produtividade de autores; a obsolescência da literatura, as frentes de pesquisa
e a análise de periódicos de um campo científico; a produção de indicadores baseados em
contagem de publicações e patentes, por exemplo, para avaliação e planejamento das
atividades de pesquisa científica e tecnológica. Outros trabalhos aliam a bibliometria a outros
referenciais e métodos para “realizar uma leitura desses dados à luz de elementos do contexto
sócio-histórico em que a atividade científica é produzida”, conforme menciona Araújo (2006,
p. 25).

Ainda que possamos encontrar na literatura trabalhos que destacam os procedimentos


e etapas para a construção de indicadores bibliométricos, observamos que essas iniciativas
não mencionam os requisitos exigidos necessários para a realização de análises
bibliométricas.

Entre os possíveis caminhos para abordar essa questão e pela ligação intrínseca da
bibliometria com a Ciência da Informação, recorremos ao conceito de “competência em
informação” (information literacy) para associar os procedimentos e etapas da análise
bibliométrica realizadas por bibliotecários e especialistas e daí derivar um conjunto de
competências, habilidades e atitudes.

Ao compulsarmos a literatura nacional sobre Ciência da Informação verificamos que o


conceito de “competência em informação” tem sido adotado em diversos estudos que visam à
formação de competências informacionais relacionadas a diferentes ambientes profissionais e
áreas de atuação dos bibliotecários – órgãos públicos, bibliotecas escolares, organizações,
instituições de ensino superior, na área da saúde, na educação à distância, entre outros. Além
disso, vários estudos abordam a competência em informação a partir do ponto de vista do

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Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo 122

usuário da informação, relacionando necessidades e usos da informação. Uma breve consulta


ao Banco de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação
(BRAPCI), por meio de busca em todos os campos com a palavra-chave “competência em
informação”, revelou a existência de 199 trabalhos, com os mais variados enfoques. No
entanto, verificamos uma lacuna desses estudos, pois nenhum deles aplicou esse conceito no
campo da bibliometria e cientometria, o que estimulou a presente proposta.

Como refere Dudziak (2010, p.2), apesar das controvérsias e da relutância por parte de
alguns profissionais quanto à adoção do conceito de competência em informação e sua
aplicação, “observa-se, além do espalhamento geográfico, a diversidade de campos de
aplicações e práticas ligadas ao tema, em distintas áreas de conhecimento”.

Diversos autores abordaram o conceito de “competência em informação” sendo que o


estudo de Dudziak (2010) oferece um amplo panorama sobre a sua evolução, que surgiu na
literatura em 1974 com o estudo seminal de Zurkowski – um relatório destinado a estabelecer
as diretrizes para um programa nacional de preparação e acesso universal à Information
Literacy, concluído em 1984 e baseado em observações realizadas por ele em seu próprio
ambiente de trabalho. Entre outros aspectos o relatório sugere que:

[...] a disseminação de bancos de dados informacionais e a adoção de indicadores,


identifica questões políticas relacionadas à informação [...] e menciona ainda a
importância dos indicadores de produtividade científica obtidos no Science Citation
Index e no Social Science Citation Index, consideradas importantes fontes de
informação desde aquela época. (DUDZIAK, 2010, p. 5)

Desde então, Dudziak (2010, p. 6) mostra que outros autores retomam o tema da
competência em informação e cita como um estudo de referência na área aquele realizado por
Kulthau (1987) que lançou as bases da information literacy education, segundo dois eixos
fundamentais: “a integração ao currículo, a partir da proficiência em investigação, [...]; e o
amplo acesso aos recursos informacionais, [...] a partir da apropriação das tecnologias de
informação e das ferramentas de busca”. Dudziak (2010) também mostra que passados mais
de dez anos do trabalho de Kulthau, em 1989, a American Library Association (ALA)
publicou um relatório produzido por um grupo de bibliotecários e educadores que definiram
as bases da competência informacional, ao estabelecerem que

Para ser competente em informação, uma pessoa deve ser capaz de reconhecer
quando uma informação é necessária e deve ter a habilidade de localizar, avaliar e
usar efetivamente a informação [....] as pessoas competentes em informação são
aquelas que [...] sabem como o conhecimento é organizado, como encontrar a
informação e como usá-la de modo que outras pessoas aprendam a partir dela.
(ALA, 1989, p.1)

InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 2, n. 1, p. 110-129, jan./jun. 2011.


Márcia Regina da Silva, Carlos Roberto Massao Hayashi, Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi 123

Por sua vez, a Association of College & Research Libraries (ACRL), uma divisão da
ALA, define a competência informacional como sendo “o conjunto de habilidades necessárias
para localizar, recuperar, analisar e utilizar informações” (ACRL, 2011).

Ainda no plano internacional, Lau (2008) propôs um conjunto de padrões


internacionais em desenvolvimento de habilidades informacionais para a comunidade
internacional de bibliotecas da Federação Internacional de Associações e Instituições
Bibliotecárias (IFLA), que resultou nas Diretrizes sobre Desenvolvimento de Habilidades em
Informação. O relatório está organizado em dez capítulos, que compreendem o espectro
organizacional do trabalho com habilidades em informação.

No Brasil, além dos estudos de Dudziak (2003, 2010), outros trabalhos enfocaram as
competências informacionais, dentre os quais os de Beluzzo (2004), Belluzzo et al. (2004),
Campello e Abreu (2005) e Miranda (2004, 2006).

O estudo de Caregnato (2000) discute a educação de usuários como forma de


desenvolver habilidades informacionais nas bibliotecas universitárias. A autora recupera os
conceitos de treinamento de usuários, de instrução de usuários, de instrução bibliográfica, e de
educação de usuários para mostrar que a designação de desenvolvimento de habilidades
informacionais e alfabetização informacional vieram substituir essa gama de expressões
vigentes até então.

Apoiada em literatura internacional, Caregnato (2000, p. 50) incluiu no rol das


habilidades informacionais, as “habilidades no uso da biblioteca, de estudo, cognitivas
necessárias para a manipulação e uso da informação e adicionais”, enquanto que a
alfabetização informacional compreende três classes de habilidades: acessar, avaliar e
sintetizar informação. Na visão da autora, a mudança na terminologia da área não foi apenas
retórica, mas motivada pela crescente complexidade do mundo informacional.

Por sua vez, o estudo de Miranda (2006) discute uma conexão teórica entre os temas
necessidades de informação e competência informacional não somente por meio de suas
dimensões teóricas constitutivas, mas também de um ponto de vista prático. Na visão da
autora, o reconhecimento das necessidades informacionais não é suficiente para satisfazer as
competências informacionais. Miranda (2006, p. 108) define competência como “o conjunto
de recursos e capacidades colocado em ação nas situações práticas do trabalho: saber
(conhecimentos), saber-fazer (habilidades) e saber-ser/ agir (atitudes)” e competência

InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 2, n. 1, p. 110-129, jan./jun. 2011.


Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo 124

informacional como “como um conjunto de competências individuais que possa ser colocado
em ação nas situações práticas do trabalho com a informação [...] e que pode ser expressa pela
expertise com as tecnologias da informação e com os contextos informacionais” (MIRANDA,
2006, p. 109).

Com base nesses construtos teóricos sobre “competência informacional”,


consideramos que é possível relacioná-los com as etapas e procedimentos desenvolvidos por
bibliotecários e pesquisadores para a realização de análise bibliométrica.

Inicialmente, é importante mencionar que o desenvolvimento da análise bibliométrica


envolve variáveis independentes e dependentes, conforme mostra a Figura 2.

Figura 2. Variáveis dependentes e independentes presentes nas análises bibliométricas

As variáveis dependentes compreendem aqueles fatores que estão fora do controle do


pesquisador, tais como: inconsistências das bases de dados – estrutura, atualização e
incoerências no registro dos dados -; recursos disponíveis nos diversos softwares específicos
para a aplicação da bibliometria e falta de informações importantes em documentos.

Já as variáveis independentes relacionam-se aos conhecimentos e experiências do


pesquisador ou profissional sobre os fundamentos teóricos da Bibliometria e do campo de
estudo em que esta será aplicada e precisam ser controladas, isto é, este controle é possível
por meio de procedimentos bem delineados. As variáveis independentes dependerão
exclusivamente do próprio pesquisador, o que exige interesse e conhecimento prévio para o
desenvolvimento de estudos bibliométricos.

InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 2, n. 1, p. 110-129, jan./jun. 2011.


Márcia Regina da Silva, Carlos Roberto Massao Hayashi, Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi 125

Uma vez estabelecidas às variáveis dependentes e independentes, e considerando as


diversas etapas e procedimentos envolvidos na análise bibliométricas, propõe-se um conjunto
de requisitos que constituem as “competências informacionais” para a realização de análises
bibliométricas, tal como expostos na Figura 3.

Figura 3. Competências informacionais para realizar análises bibliométricas.

A construção desse conjunto de requisitos considerados como “competências


informacionais” para a realização de análises bibliométricas foi orientada pelo pressuposto de
que deve existir uma integração entre bibliotecários e pesquisadores envolvidos nessa
atividade, uma vez que ambos estão aptos a contribuir para o desenvolvimento de indicadores
mais consistentes.

As competências, as habilidades e as atitudes relacionadas na Figura 3 também exigem


que os bibliotecários e os pesquisadores envolvidos estejam preparados para realizar todas as
etapas da análise bibliométrica, a saber: definição do objetivo da análise bibliométrica;
identificação, localização e acesso às fontes de informação; estabelecer estratégias de busca

InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 2, n. 1, p. 110-129, jan./jun. 2011.


Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo 126

de informação para coleta de dados; estabelecer relacionamentos entre os dados obtidos;


recorrer ao referencial teórico para elaborar categorias de análise e construir indicadores; e
elaborar trabalhos científicos para divulgação e submissão dos resultados obtidos com análise
bibliométrica à crítica externa.

Conclusões

Ao finalizarmos esse artigo esperamos ter explicitado os desafios que estão envolvidos
na realização de análises bibliométricas. A trajetória histórica e conceitual da bibliometria e
cientometria, seus usos e aplicações por profissionais de diversas áreas de conhecimento
foram enfocados a partir dos desafios que estão postos para esse campo de conhecimento. A
literatura compulsada nesse estudo mostrou que a presença dos profissionais da área de
Ciência da Informação na realização de análises bibliométricas ainda é tímida quando
comparada com a de especialistas de outras áreas de conhecimento.

Assim, a proposta de requisitos consolidados em “competência informacional” para o


desenvolvimento de análises bibliométricas apresentados nesse estudo apontam para a
necessidade de uma maior integração entre os especialistas que realizam essas atividades,
num verdadeiro esforço de união de expertises, de modo a contribuir para o avanço do
conhecimento nesse campo.

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Os autores agradecem aos pareceristas pelas contribuições.

Artigo submetido em: 29 mar. 2011


Artigo aceito em: 15 abr. 2011

InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 2, n. 1, p. 110-129, jan./jun. 2011.

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